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-Estudar esquizofrenia é estudar psicopatologia. Estudar psicopatologia é
estudar esquizofrenia. Certamente é o transtorno com o maior número de
descrições e estudos na psiquiatria. Além disso, ela é, ao lado da mania e da
melancolia, uma das três principais psicoses ou patologias estruturais que
o clínico do campo psi precisa saber.
-Em psiquiatria, estudar um conceito sem saber de onde ele vem sempre vai
gerar erros. Porém, não entenda a história como algo linear, ou seja, que um
conceito acontece necessariamente após o outro. A história da
esquizofrenia é marcada por ideias sobre essa estrutura que aconteceram
de forma simultâneas, concorrentes, às vezes em oposição, um conceito
não é aqui necessariamente uma versão mais atualizada e “ melhor” em
relação a um outro. Estudar isso ajuda a nos situar no contexto atual.
-Morel ( 1851) cunhou o termo demence precoce , ele se referia a jovens que
evoluíram progressivamente com um quadro de deterioração mental,
atingindo fase terminal com dissolução psíquica , alterações nos
sentimentos , atos extravagantes e fases alternadas de agitação e torpor.
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-Hecker (1871) com o termo hebefrenia definia uma psicose de início no
final da puberdade que era marcada por uma puerilidade (que é um certo
comportamento infantil), frivolidade, alterações marcadas do discurso e
desagregação da personalidade.
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-Krapelin estudou esses pacientes ao longo de toda as suas vidas, ou seja,
longitudinalmente. Ele via que os quadros à longo prazo se deterioraram
(lembrem que estamos falando de uma época que ainda não existiam os
antipsicóticos), ele focou mais no desfecho do que nos sintomas, com isso
ele reuniu três diferentes descrições dentro de uma única e também foi o
primeiro a separar os 3 grandes quadros psicóticos: demência precoce,
constituída de pacientes que evoluíam para deterioração, da doença
maníaco-depressiva e da paranóia, que tinham evoluções mais benignas
(claro que hoje sabemos que TAB podem evoluir com um prognóstico muito
ruim, mas na época, esses quadros de má evolução provavelmente seria
chamados por Kraepelin de demência precoce).
-Blueler tem uma forte influência de Freud e de Jung , por isso , a chave de
sentido que ele vai dar a esquizofrenia é aos seus mecanismos
psicológicos, notem aqui um sotaque psicanalítico.
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-Kraepelin dá destaque a evolução do quadro para diagnosticar sua
demência precoce, já Blueler conceitua que o desfecho não é
necessariamente demencial, entretanto ele fala que o curso crônico da
doença nunca levará a uma restituição completa da pessoa, ou seja, ela não
volta ao normal. Além disso, o foco de Bleuler passa do curso da doença
para a psicologia dos sintomas. Os sintomas organizados por Bleuler
podem ser descritos como os 6As e eles ajudam bastante na identificação
de uma esquizofrenia.
1- Autismo: Isso significa uma vida interior mais rica e mais importante do
que a do mundo exterior, dessa forma haveria um distanciamento e um
desligamento da realidade. Por exemplo: um paciente que fala que está
apaixonado pelo seu médico, o médico lhe dá dados de realidade que isso
não é possível e mesmo assim o paciente continua na sua “fantasia interior”
de paquera com o médico ignorando a realidade. Lembrem-se que o
autismo se refere justamente a essa preponderância do mundo interior que
é mais importante que o externo, ou seja , que não é modificado por dados
da realidade, é diferente do transtorno do autismo. Em graus leves o
paciente tem um distanciamento mais em um plano afetivo ou lógico e,
muitas vezes, pode transitar entre o seu mundo e o mundo real. Em casos
mais graves pode ocorrer um isolamento total, o paciente transitaria no
“mundo real” mais para garantir suas necessidades básicas de
alimentação, sono , etc.
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Alogia: aqui diz respeito a um distúrbio das associações do pensamento ou
das ideias. O encadeamento das ideias fica frouxo , dessa forma, o discurso
do paciente ficaria sem sentido. Em casos graves o discurso do paciente
pode ficar incoerente. Quando você conversa com um paciente que tem
uma certa alogia você ficará com dificuldade de entendê-lo, é difícil dizer
sobre o que aquele paciente está falando, além disso, ele pode responder
aos seus questionamentos de forma confusa.
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-Ambivalência: O paciente pode expressar tendências paradoxais na
afetividade, vontade ou no campo lógico. Por exemplo, um paciente que tem
esquizofrenia, não quer tomar a medicação porque fala que não está
doente, porém quando você dá o remédio ele toma. Veremos que esse
conceito é explorado na fenomenologia e tem semelhanças como o
fenômeno do duplo pertencimento ou doublebookeeping. Atenção: Para
Bleuler, a esquizofrenia poderia levar a prejuízos atencionais tanto no
componente ativo ( que é voluntário, onde indivíduo direciona o foco da
consciência) quanto no passivo ( que é espontâneo, onde um evento
externo invade o foco da consciência). Um prejuízo atencional se relaciona
bastante com o autismo esquizofrenico e também influencia o próximo
item que é a Avolição. Além disso, ter déficits atencionais pode provocar
também prejuízos na memória do paciente.
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-Para Bleuler, o paciente esquizofrênico não precisa ter necessariamente
um delírio, apesar disso, ter um delírio facilitaria o diagnóstico. Para ele, o
delírio ocorre como uma tentativa de compensar ou restituir um psiquismo
que perdeu a sua unidade, ou seja, um psiquismo que foi quebrado ou
cindido. “Por uma parte, o relaxamento das associações tem por resultado
a abertura de vias errôneas de pensamento, que se apartam da experiência;
e por outra, o paciente se vê obrigado a operar com fragmentos de idéias”
Bleuler.
-O que seria então o primário para ele? Seria o processo pelo qual a
enfermidade se instala, esses processos não são compreensíveis pela
psicologia, estariam mais ligados ao campo do orgânico ou ao endógeno.
Para Bleuler, os sintomas primários aparecem sobretudo na dissociação
psíquica, nas perturbações da afetividade e no autismo.
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-Ao falarmos de psicopatologia clínica estamos nos referindo a um recorte
da psicopatologia na qual o principal interesse é dar um diagnóstico.Para
Schneider o diagnóstico da esquizofrenia é psicopatológico, porém não só
ossintomas devem ser levados em conta, mas também a partir da
verificação dos comportamentos do paciente e da impressão clínica do
avaliador. Ele é o responsável por elaborar os “sintomas de primeira ordem”
da esquizofrenia em 1948.
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-Um paciente por exemplo sentia seu intestino vibrando e ele atribuía que
estava sendo controlado por uma macumba dos seus vizinhos. Note que,
nessa vivência, um movimento que pode ser “normal” do corpo é sentido
como se não fosse pertencente a própria pessoa, ele não está integrado e,
como a pessoa não sabe explicar como isso é possível, ela atribui isso a
uma força oculta externa, no caso aqui a macumba dos vizinhos. Ele pode
atribuir também a ondas, fluidos, lasers, rádios, etc.
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-Veja que a pessoa não percebe errado, o que ela percebe se manifesta com
um significado inteiramente diferente. Aqui é por exemplo a pessoa olhar
para um caneca e descobrir que dessa caneca ele extraiu um sentido que
deu para ele a chave para as respostas do universo.
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-Esquizofrenia é um processo, o que significa dizer que a pessoa nunca irá
voltar a ser a mesma, sua linha biográfica foi alterada, não há uma
restituição ao ponto de partida de como era antes da doença, nem mesmo
com medicação.
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-Afinal, o que é esquizofrenia? Segundo a psicopatologia clínica de um
grande psiquiatra chamado Henri Ey: "A psicose esquizofrênica é um
conjunto de distúrbios onde predomina a discordância, a incoerência
ideoverbal, a ambivalência, o autismo, as ideias delirantes, as alucinações
mal sistematizadas e profundas perturbações afetivas no sentido do
desinteresse e da estranheza de sentimentos - esse distúrbio tende a
evoluir para um déficit e uma dissociação da personalidade"
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-Dessa forma podemos caracterizar a psicopatologia clínica e descritiva da
esquizofrenia através da divisão do seu quadro evolutivo em 5 fases: pré-
mórbida, prodrômica, primeiro episódio psicótico, relapsos (novos surtos) e
fases tardias (ou crônicas).
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-Ter uma personalidade assim desde criança torna mais comum o
isolamento. O isolamento e a introversão aumentam as chances de
discriminação social, de bullying, de serem chamadas de esquisitas, de
alienação, de abusos, de conflitos em uma idade menor, de dificuldades na
escola. Isso tudo só acentua esses sentimentos de solidão e
estranhamento. Lembrem-se que os pacientes não irão chegar dizendo que
estão na fase pré-mórbida da esquizofrenia, é mais comum eles serem
trazidos pelos seus pais em quadros semelhantes a fobias sociais, medos
recorrentes, humor deprimido ou pensamentos obsessivos, por isso, é de
fundamental importância o acompanhamento longitudinal desses
casos.
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-No pródromo podem aparecer alterações na estrutura do pensamento, na
sensopercepção e no comportamento, porém os pacientes tendem a
manter a crítica sobre os sintomas, diferente do mais comum em uma
psicose. Essa fase pode durar anos e nem todos os pacientes irão
necessariamente desenvolver esquizofrenia . A grande marca da vivência
do paciente no período prodrômico é o sentimento de que "algo de
importante irá acontecer" e que o indivíduo está prestes a descobrir algo
fundamental em relação ao mundo, uma verdade por exemplo. A isso,
chamamos de TREMA.
-Quem primeiro cunhou esse termo foi Klaus Conrad (1905-1961) e ele
descreveu as fases de abertura e de evolução de um quadro esquizofrênico,
sendo a primeira delas o trema. Trema significa (medo de palco, é um nome
bonito para descrever a sensação que atores sentiam antes de se
apresentar em um teatro. Olhem a cultura da época! Certamente você já
voltou para casa a noite passando por um bairro perigoso, é esperado que
fique em alerta, todos os componentes do ambiente que você naturalmente
não presta atenção ganham relevância, tudo pode ser uma ameaça, tudo
ganha sentido, qualquer barulho, luz ou vulto.
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-Certa vez uma paciente no pronto socorro chegou em TREMA, achava tudo
estranho, ela falava que estava muito ansiosa e de fato estava, ficava com
os olhos arregalados, prestava atenção em todos os detalhes da sala e
qualquer coisa assustava ela. Sensação de antecipação , de " frio na
barriga", de algo desconhecido que ainda será revelado, de tensão."Tem
algo acontecendo, está tudo estranho, alguém me diz o que é por favor "
pode ser uma frase de um paciente passando por um Trema.
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-O plano de fundo da vida, do cotidiano, que normalmente não prestamos
atenção, começa aqui a passar para primeiro plano, ganhar significado.
Essa
experiência pode sobrecarregar o paciente. É comum eles começarem a
recorrer a novos temas e interesses mudando os seus comportamentos e
crenças, como uma forma de significar ou buscar explicações para o que
está ocorrendo, muitos começam a buscar ideias religiosas, científicas ,
paranormais , metafísicas. A temática do delírio começa a nascer aqui.
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-Não é de se espantar que com toda essa experiência o paciente fique com
o
sentimento de perplexidade no estado prodrômico, perplexidade significa
um estado de alienação ou mesmo de não estar entendendo o que está
acontecendo, isso vira uma sensação de ameaça ou de perseguição muito
rápido. Pode chegar como um ataque de pânico ou um episódio de irritação.
Pode se apresentar também como um sentimento "positivo", apesar de ser
mais raro, um estado de júbilo por exemplo.
Certamente é muito difícil lidar com isso tudo, é difícil inclusive de transmitir
para outra pessoa, dizer o que está sentindo, por isso, não é incomum o
paciente se isolar muito aqui, ficar retraído, esconder da sua família ou de
amigos o que está sentindo, eles inclusive possuem medo de serem
taxados de loucos. Usar substâncias para manejar a situação por conta
própria pode ser um caminho também. O contato com o mundo fica ainda
mais prejudicado na fase prodrômica, as habilidades sociais pioram, as
sutilezas que estão presentes no contato com outras pessoas ficam cada
vez mais opacas : um gesto, uma comunicação ambígua, um significado
diferente, se tornam mais difíceis de compreensão, pois o mundo está
ficando cada vez mais cheio de significados. A exclusão em relação aos
outros fica mais presente, fazemos um link aqui com os sintomas
negativos, com o autismo presente em Blueler , uma fuga para vida "interna"
vai aumentando aqui.
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-O mundo do TREMA, que é estranho, em crise, que não é mais familiar ao
paciente, que anuncia que algo vai acontecer é substituído por uma
revelação, uma "EUREKA". Aquilo que é estranho, se organiza em um
sistema racional que dá um sentido absoluto para as vivências, é nesse
momento que nascem os delírios ou mesmo as percepções delirantes. O
paciente descobre " A VERDADE" ou " A essência das coisas". Essa
revelação é acompanhada com a sensação de alívio, de que alguma coisa
foi descoberta, que finalmente aquilo que era estranho fez sentido. Quem dá
esse sentido é a psicose.
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-A essa alteração global, damos o nome de Experiência delirante primária
(Wahnstimmung) e é dela que o paciente elabora o seu delírio. Na
psicopatologia descritiva os delírios são identificados por alterações do
juízo de realidade e nos processos de pensamento. Na prática é possível
percebê-lo através de suas características: ele é exprimido através de uma
linguagem abstrata e que pode ser muitas vezes simbólica, o que gera
dificuldades do clínico de entender ou reconstruir as vivências do paciente,
o paciente utiliza conhecimentos ou pensamentos mágicos. O delírio aqui
funciona como um sarcófago, no qual o paciente fica isolado e fechado das
trocas com o mundo e com a realidade, por isso, vem o fato que é impossível
convencer uma pessoa delirante de que seu delírio não é real, pois para ele
aquilo ali que ele está experienciando é a sua nova realidade.
-Para o examinador fica muito difícil acessar essa realidade do paciente, ela
é obscura, labiríntica. Como o mundo do paciente fica progressivamente
separado e desconectado do nosso ele vai ficando cada vez mais separado
da realidade compartilhada e se fechado em si mesmo, ou seja , em um
mundo autístico. À medida que a doença evolui, as formulações delirantes
podem ir se empobrecendo até ficarem incomunicáveis, o que corresponde
à noção máxima de autismo.
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-Ao quebrar esse contato, o paciente se fragmenta, enquanto pessoa,
enquanto corpo e enquanto unidade, pois para para termos um senso de
unidade, precisamos estar afinados com a realidade em um sentimento de
continuidade desta. O que o paciente conseguirá comunicar serão apenas
estes fragmentos e isso , para quem está de fora, fica muito difícil de
compreender.
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pode se referir a ele, casando bem com sistemas delirantes paranoicos, de
repente mensagens de televisão, whatsapp, algoritmos se referem ao
paciente, assim como gestos, pessoas, movimentos de carros,
virtualmente tudo. Outras pessoas podem estar ali para observá-lo,
espioná-lo ou esconder algo dele.
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sonorização dos pensamentos, alucinações visuais, alucinações táteis.
Como vimos na psicopatologia descritiva, alucinações se encaixam em
alterações da sensopercepção onde há percepção falsa de um objeto sem o
estímulo sensorial real correspondente.
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Dessa forma, você verá pacientes que costumam experienciar alucinações
auditivas ( únicas ou múltiplas vozes) com conteúdo de ordens, insultos ,
avisos, narrações, sons distorcidos, sonorização dos pensamentos,
alucinações visuais, alucinações táteis.
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-Para Jaspers um dano na atividade do EGO. Quando o paciente perde a
noção que é dono das próprias ações e do próprio corpo podem surgir
delírios de influência sendo possível o paciente acoplar a temáticas
religiosas ou espirituais - ( "meus braços estão sendo controlados por uma
macumba).
-Se você possui um corpo que é estranho a você mesmo é mais fácil de
realizar essas ações ou mesmo se submeter a experiências que seriam
muito mais difíceis para um corpo íntegro como sair vagando pela rua ou
morar nela.
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muito mais difíceis para um corpo íntegro como sair vagando pela rua ou
morar nela. Sentir tudo isso certamente é difícil para o paciente, é , portanto,
muito fácil perder a confiança em si, no mundo e nos outros. Portanto, não é
tão estranho que os pacientes se sintam perseguidos, ou achem que o
mundo está em um complô contra eles.
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-4. Fase de Relapso: o primeiro episódio psicótico costuma ser quente,
florido, inflamado, há uma riqueza de manifestações que chegam para o
clínico como uma exuberância de sintomas positivos. Os antipsicóticos
atuam principalmente nestes sintomas positivos, promovendo uma
organização doprocesso, aqui está a explicação para o fato dos estudos
seguirem cada vez mais fazendo recomendações sobre o uso precoce
desta medicações, que inclusive, são as responsáveis por atualmente não
ser mais tão comum formas muito graves da esquizofrenia.
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pacientes mais descrevem os delírios e alucinações do que sentem na pele,
ou seja, vivenciam. Porém, após um episódio psicótico, o mais comum é
que o paciente tenha novos episódios e remissões e para , ter esquizofrenia,
que esse processo continue.
-O período mais crítico será por volta de 2 anos, a doença tem uma
plasticidade nessa etapa e é aqui que iremos priorizar o uso de
antipsicóticos. Você pode se perguntar, como os pacientes se sentem ou o
que eles relatam após o primeiro episódio psicótico? Pacientes que ficam
mais preservados e que conseguem organizar e relatar a experiência que
passaram podem perceber a perda que tiveram se compararem a como
eles eram antes da psicose. Isto pode ter um impacto na autoestima e na
autoconfiança. Eles podem se sentir diferentes comparados a outros, uma
perda nas suas individualidades.
-Um importante destaque vai para a ideia que , por mais que os quadros
melhorem, sempre haverá algum dano no psiquismo, mesmo com a
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medicação. Os pacientes sentem isso e inclusive relatam a experiência de
estarem divididos, de um lado o mundo externo, do outro um mundo privado
delirante.
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-Todas podem evoluir para uma fase mais crônica da doença com
estabilização em torno de um resíduo ou mesmo para uma evolução
catastrófica. Por exemplo, um paciente que tem esquizofrenia paranoide
pode evoluir passando por pontos catatonicos ou de desagregação que
lembram um hebefrenico.
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-E a cisão em si ? Qual é a marca deste dano no psiquismo? Bom, cada autor
vai propor o que ele acha que seja o fundamental, porém a forma mais fácil
de visualizar esse dano seria a esquizofrenia simples, uma forma marcada
pelos sintomas negativos na nossa nosologia atual (nestes reside a marca
da esquizofrenia), essa forma seria a base para todas as outras e também
pode ser correspondente a um resíduo comum em fases mais crônicas.
-Os sintomas ditos positivos são secundários, ou seja, quem está base
desse processo é a desagregação da vida psíquica ou mesmo a ideia da
perda de unidade. Dessa forma, delírios e alucinações são uma espécie de
preenchimento a um dano ou a um vazio causado no psíquico.
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-Você pode fazer uma pergunta sobre o tema e ele pode lhe dar uma
resposta muito prolixa ou tangencial àquilo que você perguntou, isso é visto
como respostas vagas a um tema. Por exemplo: Por que você está
internado aqui? R- Eu estava em casa tranquilo, minha família não me
compreende, eles me tratam assim, quando vi tinha várias pessoas do
Samu…. e o paciente continua para um tema que não é a resposta da sua
pergunta, ou seja, ele foge.
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como a causalidade, a dedução, identidades ou contradições. Isso por
vezes pode vir sobre a forma de um pensamento mais concreto e pode
inclusive dar alterações em testagens mais formais da capacidade de
abstração: Ao perguntar a um paciente a semelhança entre um trem e um
bicicleta, seus processos de categorização podem não agrupá-los como
meios de transporte.
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daí o prefixo hebe que significa juventude. Os pacientes costumam ter
evoluções ruins para fases ainda mais desorganizadas, essa evolução é a
que possivelmente foi a mais capturada por Kraepelin para criar a
demencia preoce.
-O terceiro tipo que encontramos é a catatônica . Essa é uma forma rara nos
dias de hoje, sobretudo pelo acesso ao tratamento. A catatonia é uma
entidade que não é exclusiva da esquizofrenia, aparece em outros
transtornos como TAB e também de bases orgânicas. Porém a descrição
dela aqui faz sentido do ponto de vista que estamos considerando: uma
cisão que leva ao máximo de fragmentação e com quase nenhuma
reorganização. A grande marca da catatonia são os sintomas motores e
uma grande ambivalência afetiva.
-Para avaliar isso basta pedir para o paciente realizar comandos simples
como apertar a sua mão ou levantar um dos braços. Ao mesmo tempo que
isso pode existir, a catatonia é marcada por uma ambivalência, ou seja,
pode coexistir também o contrário do negativismo que é a
sugestionabilidade, o paciente pode obedecer de forma passiva o que você
solicita, mesmo que seja um absurdo, "você pode dizer me dê a sua mão
que eu vou furar ela com uma agulha" , o paciente pode ir lá e estender a sua
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mão para você. A sugestionabilidade também pode assumir formas do
paciente imitar o que você está fazendo, tanto de gestos quanto de
palavras, para avaliar isso comece a coçar a sua própria cabeça, o paciente
pode lhe imitar, o que seria uma ecomimia ou ecopraxia, além disso, o
aciente pode ficar repetindo o que você fala ou o que ele mesmo fala , que é
uma ecopraxia.
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-O paciente que está catatônico pode alternar períodos no qual ele não se
move com períodos no qual há o movimento, o que dificulta ainda mais a
avaliação. Algumas catatonias podem durar horas, outras semanas e
meses, pode ser um quadro que remite e entra em recorrência após.
-Os pacientes são marcados por uma inércia ou uma apatia invencíveis, na
prática isso é visto através de pacientes que exerciam antes suas
atividades e vão largando tudo: emprego, vida social, planos, projetos.
Dessa forma vão se tornando cada vez mais isolados e restritos a um
mundo que vai progressivamente encolhendo. É como se fosse uma
esclerose da biografia, ou uma seca existencial.
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-Mais comum em uma esquizofrenia simples do que em uma depressão, a
doença tem um curso de um processo, ou seja, uma alteração definitiva na
pessoa que vai agravando ao longo do tempo, por isso, a importância de
sempre analisar a sua evolução.
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-Por isso, a importância de estudar tão bem a psicopatologia desta
doença. A detecção em fases precoces é essencial para uma possibilidade
de prevenir isso. A longo prazo é possível que o paciente aprenda a conviver
com os sintomas e se adeque ao mundo com adaptações, é possível por
exemplo que ele ganhe um certo senso de controle e agenciamento sobre
delírios e alucinações, que estes fiquem mais encapsulados nos seus
psiquismos e que, muitas vezes, o paciente consiga ignorá-los.
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Henry, EY; Bernard, P.; Brisset, C. Manual de Psiquiatria. 5. ed. São Paulo:
Masson, 1978.
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