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As psicoses
Isto muitas vezes começa de forma vaga e imprecisa: a pessoa sente que há algo
diferente no mundo, que diz respeito a ela própria, sem que saiba dizer do que se
trata. É como se nada acontecesse por acaso; cada acontecimento adquire um
significado novo, muito diverso daquele que parece ter.
● Tornam o paciente perplexo, pois são estranhas também para ele: não sabe
por que é assim, só sabe que é assim.
b) Elaboração Delirante
O sujeito tenta reunir esses fragmentos de vivências delirantes num conjunto mais ou
menos coerente de explicação. Surge então o delírio propriamente dito, ou seja: uma
história que o sujeito tenta montar para dar sentido a certas coisas incompreensíveis
e absurdas que lhe estão acontecendo. Pode-se recorrer a uma metáfora: é como se o
sujeito vivesse num edifício que se rachou pelo abalo de seus alicerces, para restaurar
o edifício, ele tem de construir sobre alicerces muito instáveis, fazendo-o de forma
muito peculiar.
● Inventividade de cada um: quanto mais inventivo, melhor conseguirá dar uma
forma própria a estas vivências informes.
● O apoio da família, a receptividade da cultura, a qualidade do tratamento
recebido, também influem fortemente nesta produção.
Estas vozes costumam dizer ao sujeito coisas hostis e injuriosas, comentam seu
comportamento, geralmente com ironia e malignidade, dialogam entre si, dão-lhes
ordens, por vezes contraditórias. Muitas vezes, dizem coisas pueris e ridículas; ou,
ainda, frases absurdas e sem sentido.
Nos momentos de crise, estas vozes perturbam profundamente o paciente, tanto pelas
coisas atormentadoras que dizem, como por invadirem o seu psiquismo: impedem-no
de organizar suas idéias, tornam-no inquieto, não o deixam dormir. Pode chegar a
obedecer a ordens recebidas. Passada a crise, as vozes muitas vezes desaparecem;
mas o sujeito sempre se lembra delas como ocorrências que possuíam todas as
características de uma ocorrência real. Uma outra possibilidade: o paciente continua a
escutar as vozes depois da crise, mas aprende de certa forma a conviver com elas.
d) Alterações da consciência do Eu (Vivências de Influência)
Exaltação vital: manifestação oposta à tristeza vital, que ocorre na mania. O sujeito é
tomado por uma animação extraordinária, que o faz achar que pode tudo; acelera seu
ritmo vital, sua fala, seu andar, seus apetites.
Inquietude ou agitação psicomotora: embora não seja específico das psicoses, nelas
também se manifestam, sobretudo nas crises: o paciente anda de um lado para o
outro, mexe nas coisas, anda pelas ruas, não pára quieto nem consegue tranquilizar-se.
● Alterações graves dos sentimentos vitais: também dão testemunho desta invasão
do Outro, mas de uma outra maneira.
Diante de um primeiro episódio psicótico, deve-se esperar algum tempo para verificar a
evolução: irá repetir-se? Irá deixar marcas na vida psíquica do paciente? Se este episódio
ocorreu uma única vez, e não ressurgiu até o momento da observação, é mais prudente
dizer que o paciente apresentou um transtorno psicótico agudo e transitório. Caso esse
transtorno venha a repetir-se ou agravar-se, tomará uma forma mais ou menos
aproximada das três principais formas de transtorno mental grave e persistente:
Esquizofrenia, Paranóia, Transtornos severos de humor.
As várias formas das psicoses, justamente por terem sempre um núcleo comum – a
estranheza e a incompreensibilidade dos sintomas – não têm fronteiras muito nítidas entre
si, podendo apresentar formas mistas ou compostas. Assim, por exemplo, pode ser muito
difícil, e até mesmo desnecessário, diferenciar uma esquizofrenia paranóide de uma
paranóia, a tal ponto que podem aparentar-se entre si.
IV.I Esquizofrenia
Seja pela profunda estranheza destas vivências, seja pela sua intensidade, é muito difícil
para o paciente esquizofrênico lidar com elas. Assim, as tentativas de dar lhes um sentido
esbarram em muitos problemas. A inteligência dos pacientes permanece preservada;
contudo, o curso de seu pensamento é dificultado ou quase impossibilitado pelas
dificuldades do seu grave sofrimento mental.
Além disso, ocorrem na esquizofrenia, além dos delírios e das alucinações, os chamados
sintomas negativos: a apatia, o desinteresse, o alheamento, o crescente isolamento do
paciente num mundo próprio (o autismo esquizofrênico), um empobrecimento da
afetividade e da linguagem, um esvaziamento e uma desorganização da vida psíquica –
tudo isso dificultando o estabelecimento de laços sociais.
a) Esquizofrenia paranóide
Mais grave, e de início mais precoce, apresenta uma proporção bem maior de
sintomas negativos.
Podem acabar por extraviar-se numa vida psíquica caótica ou pobre, não mais
“falando coisa com coisa”, ou tendo muito pouco a dizer.
c) Esquizofrenia catatônica
d) Esquizofrenia residual
IV.II Paranóia
Os paranóicos são figuras que apelam com frequência para a lei e seus representantes:
procuram a polícia, a promotoria pública, deputados e outras autoridades, buscando uma
reparação para um direito seu que teria sido lesado.
Esse delírio bem estruturado coexiste com uma personalidade preservada. É possível a
esses pacientes, mais do que aos esquizofrênicos, manter um nível de funcionamento
psíquico, social e profissional semelhante ao anterior ao desencadeamento da psicose.
Contudo, a rigidez e a desconfiança podem tornar difícil o seu contato afetivo e social.