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Funções Psíquicas II:


Sensopercepção, Memória
e Linguagem.
Sensopercepção
Pag 1-5

Memória
Pag 6-9

Linguagem
Pag 10-15
Sensopercepção
Sensopercepção é a capacidade de captação e codificação de
estímulos sensoriais. Os diferentes estímulos agem nos nossos
órgãos sensoriais produzindo sensações. Após, vem a percepção,
que é a tomada da consciência de uma determinada sensação.

A sensação é um fenômeno passivo, físico e objetivo, já a


percepção é ativa, psíquica e subjetiva.

A ferramenta essencial da sensopercepção é a imagem


perceptiva ou imagem real. Segundo Jaspers, as imagens
perceptivas são caracterizadas por corporeidade, nitidez,
estabilidade, influenciabilidade e extrojeção. A imagem real
possui características bem definidas e é compartilhada por
diferentes pessoas.

Já a imagem representativa não é real, sendo portanto criação


individual. Há pouca nitidez, pouca corporeidade, imprecisão e
instabilidade, além disso é influenciada pela vontade e ocorre na
mente, em introjeção. É uma imagem não compartilhada.

As alterações da sensopercepção são classificadas em


quantitativas e qualitativas. Iniciaremos pelas quantitativas.

Hiperestesia é a condição em que as percepções encontram-se


aumentadas anormalmente. A atividade sensorial fica mais
intensa, duradoura e/ou nítida. Ocorre, por exemplo, no autismo.

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Sensopercepção
Hipoestesia é a diminuição da capacidade perceptiva. Típica de
quadros depressivos e na esquizofrenia.

Anestesia é a ausência de sensibilidade. Ocorre no coma e em


intoxicações.

Podem existir alterações na forma ou dimensão das imagens.


Macropsia é a percepção que os objetos são maiores do que
realmente são, ou o contrário, na micropsia o sujeito percebe o
objeto menor do que ele é. Há também a dismegalopsia, quando
os objetos são percebidos com formas anômalas, deformadas.

Alterações qualitativas são de maior importância psicopatológica


e apresentam maior peso para os diagnósticos.

Ilusão tem como conceito uma percepção deformada de um


objeto real e presente. O estímulo sensorial é interpretado de
forma incorreta. Ilusões visuais são as mais comuns, mas também
podem existir em outras modalidades, como auditivas ou
olfatórias.

A ilusão é classificada de acordo com sua origem. Onírica se


refere a ilusões que acontecem por rebaixamento do nível de
consciência. Ilusão catatímica é relacionada a um estado afetivo
intenso. Por último, as ilusões podem ocorrer por desatenção.

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Sensopercepção
Alucinação, diferente da ilusão, é uma percepção formada sem
qualquer objeto ou estímulo sensorial externo. É a percepção
clara e definida de um objeto (seja voz, ruído, imagem) sem a
presença de um estímulo real.

A modalidade mais comum de alucinações é a auditiva. Ela pode


ser simples, quando o paciente refere apenas um ruído/zumbido,
ou complexas, como as audioverbais.

As alucinações podem ser classificadas como humor-congruente


ou humor-incongruente.

As alucinações visuais podem ser simples, chamadas de fotopsia,


quando se enxerga por exemplo pontos brilhantes ou cores, e
complexas, quando mais elaboradas.

As alucinações visuais são mais características de quadros


orgânicos, neurológicos e neuropsicológicos, como no delirium e
nas demências.

As alucinações olfativas e gustativas são raras. Também


devemos suspeitar de causas orgânicas quando diante dessas
modalidades. Na psiquiatria encontramos essas alucinações na
esquizofrenia e em quadros depressivos graves.

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Sensopercepção
Nas alucinações táteis o paciente costuma sentir choques,
incômodos, sensação de insetos no corpo, sendo restrito quase
na totalidade à esquizofrenia, delirium tremens e intoxicações por
substâncias. Dentro da alucinação tátil, destacamos a síndrome
de Ekbom ou delírio de infestação. O paciente queixa-se sentir
sua pele infestada por insetos ou pequenos animais.

Por último, existem as alucinações cenestésicas e cinestésicas. A


alucinação cenestésica é caracterizada pela sensação anormal
em partes e órgãos do corpo. Pode ser vista em depressões
graves, como na síndrome de Cotard e na esquizofrenia. As
cinestésicas são associadas a sensações anormais de
movimentos do corpo. São típicas da esquizofrenia.

Existem vivências alucinatórias com importância psicopatológica


e nomenclatura próprias. As descrições pormenorizadas se
tornam mais importantes que o nome em si.

Nas alucinação Liliputianas o sujeito enxerga objetos minúsculos,


geralmente pequenas pessoas ao seu redor. Já na Gulliveriana as
alucinações visuais são vistas como enormes.

Na alucinação extracampina o objeto é percebido fora do campo


perceptivo.

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Sensopercepção
Alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas são geralmente
visuais e associadas respectivamente ao adormecer e ao
despertar. Não são características de nenhum transtorno em si,
sendo comum em pacientes saudáveis.

A pseudoalucinação não possui as características que conferem


solidez a uma alucinação. Não tem corporeidade, não são nítidas
e não parecem se localizar externamente. Muitas vezes
observamos pseudoalucinações em estados afetivos intensos ou
transtornos de personalidade.

Nas alucinoses, diferente das pseudoalucinações, o objeto é


apreendido como uma experiência externa, porém o paciente
quase sempre tem crítica quanto a natureza inadequada da
situação. Geralmente ocorre em quadros orgânicos, como
traumas, lesões expansivas e uso de substância – alucinógenos e
uso crônico de álcool.

A investigação da sensopercepção deve ocorrer de forma sutil.


Uma vez que você chegou na alteração, explore e descreva bem o
que viu.

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Memória
Através da memória somos capazes de densificar nossa biografia
e acumular aprendizados. Podemos dividir o processo de
memorizar em três atos: Fixação, conservação e evocação.

A fixação permite o aprendizado de novas informações. Ela


depende de um bom nível de consciência e uma boa capacidade
de manter a atenção.

Conservação refere-se a capacidade de armazenamento.

Evocação é a tomada de consciência de uma determinada


lembrança. Pode ocorrer de forma espontânea ou voluntária.

A memória é dividida em sensorial ou imediata, memória de curto


prazo ou recente e memória de longo prazo ou remota.

A memória sensorial tem pouca importância psicopatológica.

A memória de curto prazo dura de segundos a minutos e tem


como função realizar uma atividade naquele momento. Muitas
memórias de curto prazo podem se tornar de longo prazo.

A memória de longo prazo existe por tempo indefinido.

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Memória
A memória de longa prazo divide-se em explícita - Podem ser
evocadas voluntariamente, como eventos autobiográficos ou
conhecimentos gerais, e memória implícita - Automática e
reflexa, como o ato de dirigir.

Vamos iniciar pelas altreações quantitativas.

Amnésia ou hipomnésia anterógrada é a impossibilidade ou


incapacidade de formar novas lembranças remotas. Pode ocorrer
nos quadros demenciais, alterações do nível da consciência,
ansiedade, mania, depressão, déficits intelectuais, etc

A amnésia ou hipomnésia retrógrada pura, sem alterações


anterógradas, é um evento raro. Consiste na dificuldade ou
incapacidade de recordar eventos que são anteriores ao
transtorno. Geralmente restrita a dissociações ou organicidades.

A amnésia ou hipomnésia retroanterógrada é a forma mais


comum. Característica dos quadros demenciais e delirium..

As alterações ocorrem também quanto a extensão da memória. A


Amnésia ou hipomnésia lacunar representa déficit na extensão
de uma lembrança devido prejuízo de fixação em um determinado
momento. Pode ocorrer em episódios de pânico, estados
crepusculares, delirium, traumas e pacientes agitados.

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Memória
A forma generalizada ocorre em acometimentos graves. O
paciente não recorda de um grande intervalo de tempo. É muito
raro. Na prática pode ocorrer em quadros finais de demência ou
em um TCE grave.

Por último, a amnésia ou hipomnésia seletiva, quando o déficit


mnêmico é associado a conteúdos afetivos intensos. Típico das
dissociações histéricas.

As hipermnésias tem menor importância psicopatológica.


Hipermnésia anterógrada é a aptidão de reter mais informações
que o normal, como ocorrem em alguns savants. Hipermnésia
lacunar é a capacidade de rememorar com maior intensidade uma
lembrança, via de regra marcada por estados afetivos intensos,
como no TEPT.

Existem também alterações qualitativas.

Alomnésia é a ilusão da memória. A memória existe, mas é


alterada de forma involuntária pelo paciente. Ex: O depressivo
pode tornar uma lembrança mais lamuriosa do que de fato é.

Paramnésia é a alucinação da memória. O sujeito cria uma


lembrança. É mais comum nas psicoses, mas pode ocorrer em
quadros demenciais, ganhando o nome de fabulação.

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Memória
Para finalizar, há o déjà vu, quando alguém diante do novo tem a
impressão que já viveu aquilo em outro momento, e o jamais vu,
quando alguém que já tem familiaridade com uma determinada
experiência tem a impressão de não a reconhecer.

Dentro do tema, cabe ressaltar as agnosias, déficits no


reconhecimento de estímulos sensoriais. Muitas vezes a agnosia
é fruto de alterações orgânicas, mas vale destacar as alterações
no reconhecimento associados aos transtornos da mente.

Alguns falsos reconhecimentos apresentam nomenclatura


própria devido sua importância na psicopatologia, como a
síndrome de Capgras - O paciente reconhece alguém próximo
como um sósia, um impostor.

Outro falso reconhecimento de maior importância é a síndrome


de Fregoli. O paciente reconhece uma pessoa estranha como
alguém próximo a ele

Não é difícil identificar alterações mnêmicas em seu paciente.


Indivíduos com prejuízo na memória não vão ordenar bem
cronologicamente os fatos da vida, não conseguem entrar em
detalhes, muitas vezes apresentam perplexidade, podem não se
orientar em tempo e espaço, apresentam déficits de execução no
cotidiano, etc

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Linguagem
A linguagem é nossa ferramenta de comunicação e socialização.

Destacamos 04 funções da linguagem:


1. Cognitiva: É a função mais comum. A qualidade de informar,
nomear, atribuir significado.
2. Conativa: Visa persuadir ou influenciar alguém.
3. Emotiva: Tem como pretensão expressar estados emocionais.
4. Poética: Há maior preocupação com a estética, sonoridade, ritmo.

As funções não acontecem de forma isolada. Em um diálogo ou


escrita podem acontecer várias funções atuando em conjunto.

Linguaguem é um campo comum entre a neurologia e a


psiquiatria. Iremos iniciar pelas alterações causadas por danos
orgânicos.

A área responsável pela linguagem situa-se no hemisfério


esquerdo cerebral. Temos duas estruturas famosas nessa região,
a área de Broca – relacionada à produção da linguagem, e a área
de Wernicke - relacionada à compreensão da linguagem.

Lesões nessas áreas podem levar às afasias, ou seja, a perda da


capacidade de linguagem previamente adquirida.

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Linguagem
Afasia de Broca ou motora leva à dificuldade ou impossibilidade
da fala. O discurso se torna monótono, curto, fragmentado, sem
estrutura gramatical. É classificada como afasia não fluente.

Afasia de Wernicke ou afasia sensorial leva a dificuldade de


compreensão da linguagem. O discurso ocorre de forma irregular,
com erro na escolha das palavras, podendo até perder a lógica. É
uma afasia fluente.

Lesões extensas podem levar ao acometimento das duas áreas


destacas. Chamamos de afasia global. É uma forma de afasia não
fluente.

Agrafia é a incapacidade para escrever mesmo sem déficit motor


ou perda cognitiva grave. Na maioria das vezes ocorre associada
às afasias.

Alexia é a perda da habilidade da leitura. Muitas vezes associada


às afasias e agrafias.

Disartrias ocorrem por lesões no aparelho fonador, como


paralisia, fraqueza ou qualquer outro comprometimento da
musculatura da fonação. A fala pode se apresentar cansada,
pastosa, lenta e com aspecto de embriaguez. Pode ser vista em
várias condições como traumas, avcs, paralisias cerebrais e
demências.

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Linguagem
A disartria ocorre também em pacientes da psiquiatria sob a
forma de intoxicações exógenas (Ex: Lítio, Valproato) e na
impregnação por neuroléptico.

Disfonia é a popular rouquidão - Perturbação da vocalização que


promove contenção verbal ou entonação diferente da habitual.

Vamos partir para as alterações mais comuns na psiquiatria.

Mutismo é a falta de verbalização. É chamado também de


negativismo verbal. Pode acontecer de forma ativa ou passiva. Na
forma ativa basicamente o paciente faz o contrário do que se
pede. Na forma passiva ele simplesmente deixa de fazer.
Costuma ocorrer em esquizofrenias e quadros depressivos
graves.

Bradifasia é caracterizada pelo discurso lentificado, com aumento


da latência para a resposta. Costuma ocorrer na depressão grave,
melancolia, esquizofrenia e nas demências.

O discurso lacônico ocorre geralmente associado à bradifasia. Ele


é caracterizado pelo empobrecimento da produção da linguagem.

Logorreia é a produção aumentada e acelerada da linguagem.


Dependendo da intensidade, pode levar a perda ou dificuldade da
comunicação lógica.

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Linguagem
Loquacidade é caracterizada pelo aumento da fluência verbal,
sem necessariamente ocorrer com aceleração do discurso.
Loquacidade é associado à eloquência. Aqui não há prejuízo à
lógica do que é dito.

Hiperfonia e hipofonia caracterizam o volume do discurso.

Prosódia é um conceito de grande importância na psicopatologia


da linguagem. Caracteriza a entonação do que é dito - o
“gesticular” da fala. Pela prosódia consegue-se imprimir um
tônus afetivo ao discurso.

Hipoprosódia é o discurso monótono, sem entonação, plano.


Típico da esquizofrenia e depressões graves.

Hiperprosódia é o discurso com grande expressividade. Típico da


mania e pacientes com atitude dramática.

Palilalia é a repetição involuntária da última ou últimas palavras


que o próprio paciente falou. Logoclonia é semelhante à palilalia,
só que o paciente repete apenas as últimas sílabas. São
alterações típicas das demências.

Estereotipia verbal é a repetição inadequada de palavras ou


frases sem um significado claro. Típico das demências e
esquizofrenias hebefrênicas.

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Linguagem
Algumas alterações são associadas majoritariamente à
esquizofrenia. A mussitação é caracterizada pela repetição de
palavras em voz muito baixa, sussurrada, sem qualquer
significado comunicativo. A verbigeração é um conceito
semelhante, porém o paciente fala com maior entonação.

Nos solilóquios o paciente parece conversar consigo mesmo,


porém com alguma aparente intencionalidade.

Neologismos são criações de palavras autênticas com


significação para o paciente. São alterações típicas da mania e
esquizofrenia. Podem ocorrer por:
1. Assonância - Proximidade dos sons.
2. Contiguidade - Grupo de palavras afins – Ex: metrô, trem, vagão.
3. Ativo - Produções que não seguem lógica e formam palavras por
vezes bizarras. Típico das esquizofrenias.

Gagueira ou tartamudez é caracterizada pelo comprometimento


da fluência, com repetições de sílabas e descontinuidade do fluxo
do discurso. Cerca de 70-80% das gagueiras vão melhorar na vida
adulta.

Tiques verbais são produções incontidas e desagradáveis de sons


inespecíficos. Pode-se observar tiques na síndrome de Tourette.

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Linguagem
Coprolalia é a expressão de palavras chulas ou obscenas de
forma incontrolável. Também típica do Tourette.

Maneirismo é marcado pelo discurso pouco natural, com a


estética afetada por algum tema. Ex: Paciente esquizofrênico que
adota linguajar de séculos anteriores.

Pararresposta ocorre quando o paciente responde algo sem


associação com a pergunta. Ex: “Você nasceu em qual cidade? O
paciente responde - Vai fazer calor hoje”.

Pedolalia é o discurso com características pueris.

Linguagem é uma das principais funções psíquicas. É de suma


importância nos diagnósticos diferenciais, pois os transtornos
podem adotar marcas próprias em seus discursos.

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