Você está na página 1de 5

1.

DEPRESSÃO

A. NA PERSPECTIVA DA PSIQUIATRIA

A partir de Bayle, a psiquiatria se utiliza do método anátomo-clínico para fortalecer suas


bases, e, por muito tempo, voltou seu foco para os casos de demência, deficiência mental e
psicoses orgânicas e somáticas, prevalecendo o método clínico. No final do século XVIII, Pinel
funda a psiquiatria a fim de colocar em prática o método clínico. Diferentemente da
medicina, a psiquiatria se baseia na norma social ou cultural para definir o normal e o
patológico, que pode ser abordado a partir das classificações das doenças mentais.

Depressão: doença biológica, sendo que o principal tratamento seria a medicalização


associada, em alguns casos, à psicoterapia cognitivista. Esta é uma das poucas, quando não
a única forma de tratamento terapêutico, que a literatura médica avalia como eficaz no
tratamento da depressão. Frequentemente, a psicanálise é considerada contra-indicada
para o tratamento da depressão, já que o engajamento na busca de um sentido conduziria
o paciente a responsabilizar-se por uma "doença" da qual não teria responsabilidade
alguma e, assim, sintomas da depressão tal como a culpabilidade tenderiam a agravar-se.

Na psiquiatria a depressão é tratada como transtorno, sendo diagnosticada a partir da


presença de sintomas que se manifestam com uma determinada duração, frequência e
intensidade. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV (1995); e a
Classificação Internacional de Doenças - CID-10 (1993), descrevem minuciosamente esses
sintomas, tais como: humor deprimido, alterações no sono, alterações no apetite, agitação
ou retardo psicomotor, fadiga, culpa excessiva, pensamentos de morte, ideação suicida,
tentativa de suicídio, etc.

É reservado um item dentro da nosografia – os "Transtornos do Humor", no DSM-IV, ou


"Transtornos Afetivos" na CID-10 – para designar aquilo que se costuma chamar de
'depressão' ou 'doenças depressivas'. Nesta perspectiva, o diagnóstico de depressão
abrange qualquer queixa de tristeza , na medida em que toda manifestação de tristeza é
considerada uma manifestação patológica e esta, por sua vez, deve ser devidamente
medicada.

Para Quinet (1997), esta tristeza vai contra o capitalismo e contra o imperativo do bom
humor e da saúde que caracterizam nossa sociedade consumista. Isso traz como
consequência o crescente número de pessoas que fazem o uso de antidepressivos e de
médicos que os receitam.
B. NA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA

Rodrigues (2000) aponta que, apesar de Freud ter identificado e descrito fenômenos
depressivos nas diversas estruturas, não os reuniu à melancolia como os atuais manuais
psiquiátricos, mas os concebeu como inerentes aos sujeitos.

Em oposição à psiquiatria, Fédida (2000) afirma que a depressão não deve ser
caracterizada enquanto estrutura psíquica, mas, sim, como um estado próprio à
constituição do aparelho psíquico, que caracteriza o humano e pode se manifestar em
qualquer estrutura.

Segundo Quinet (1997) a depressão no singular não existe, o que se encontra são estados
depressivos, sintomas que ocorrem em algum momento na vida de um sujeito e que podem
ser descritos, mas seus graus e variações desafiam a unificação do conceito.

De acordo com Dias (2006) os sintomas podem ser uma satisfação de algum desejo sexual
ou medidas para impedir tal satisfação, buscando a conciliação entre as duas forças que
entraram em conflito: a libido insatisfeita, que representa o que foi recalcado, e a força
repressora, que compartilhou de sua origem.

Siqueira (2007) enfatiza que ela surge quando o sujeito se acovarda frente ao seu desejo.
Este fica inibido, evitando seu próprio desejo e, por conseguinte, a sua determinação
inconsciente. Para Soler (1997) a depressão é produzida pelas soluções singulares que cada
sujeito encontra para lidar com a castração, com a falta, e que variam em razão das
contingências.

Na depressão, o eu, para não correr o risco de se deparar com a falta, se entristece. Há
uma perda da libido, que implica em perda de prazer, de investimento libidinal. Entretanto,
lidar com a falta deveria ter como efeito o entusiasmo e não a tristeza, tendo em vista que
o desejo pode emergir. Sem falta, não há desejo possível, e, certamente, sem desejo, não há
sujeito (SIQUEIRA, 2007).

A depressão não pode ser considerada uma das estruturas freudianas, como a psicose e a
neurose. Porém, a sintomatologia depressiva que atualmente induz psiquiatras e
psicanalistas a diagnosticar assim casos específicos, era frequentemente identificada nos
pacientes de Freud. Entretanto, essa sintomatologia, por mais intensa que fosse não o
levava a esse diagnóstico e, muitas vezes, nem ao de melancolia (COSER, 2003).
2. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

Atualmente, não se usa mais a expressão psicose maníaco-depressiva, mas transtorno


afetivo bipolar com sintomas psicóticos. Porém, se os sintomas psicóticos forem
persistentes e associados ao transtorno de humor, denomina-se transtorno esquizoafetivo.

A psiquiatria divide o transtorno afetivo bipolar em quatro formas:

Transtorno Bipolar Tipo I – Períodos de mania com humor elevado e expansivo, o


suficiente para causar prejuízo no trabalho e nas relações sociais. O estado
maníaco dura dias ou pelo menos uma semana. O período de depressão pode durar
semanas a meses, podendo requerer hospitalização.

Transtorno Bipolar Tipo II – Períodos de hipomania em que também ocorre estado de


humor elevado e agressivo, mas de forma mais suave. Um episódio de tipo
hipomania, ao contrário da mania, não chega a ser suficientemente grave para
causar prejuízo em atividades sociais e laborativas.

Transtorno Bipolar Misto – Períodos mistos, em que em um mesmo dia haveria


alternâncias entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode ficar
deprimida, chorar, se entristecer, ter baixa auto-estima e desprazer e, no momento
seguinte, estar eufórica, sentindo-se capaz de tudo, loquaz e agressiva.

Transtornos Ciclotímicos – Períodos em que há alteração crônica e flutuante do


humor, marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e numerosos
sintomas depressivos que se alternariam. Contudo, não seriam suficientemente
graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza de tratar-se
de depressão ou mania. Podem ser facilmente confundidos com uma personalidade
instável, agressiva e com baixo limiar à frustração.

O curso é extremamente variado de pessoa para pessoa, mas obedece a um tipo de


padrão na mesma pessoa. Foram descritos os seguintes tipos:

A. crises isoladas de mania ou de melancolia, tanto mais freqüentes quanto mais


jovem for o paciente;

B. crises de mania remitente, sem intervalos lúcidos;

C. crises de mania intermitente separadas por períodos longos de lucidez;

D. crise de melancolia remitente com evolução subcontínua;

E. crise de melancolia intermitente;

F. dupla forma circular sem retorno à normalidade;


G. dupla forma intermitente com intervalos longos de retorno à normalidade;

H. evolução periódica alternada entre a mania e a melancolia com retorno à


normalidade por períodos longos.

A duração dos episódios varia de semanas, meses e anos. A duração das remissões
apresenta variação ainda maior do que a das crises. Porém, elas tendem a se encurtar na
medida em que as crises se repetem. A primeira remissão pode ter duração de até dez
anos; a remissão da segunda crise de quatro anos; a terceira de dois, e assim
sucessivamente.

3. PERVERSÃO

No DSM IV, o que era “perversão” foi renomeado para “parafilia” (APA, 2000), essa
modificação teve como objetivo excluir a referência a Deus, bem e mal, lei e transgressão,
gozo e desejo. Além do nome modificado, acrescentaram-se as fantasias como parafilias e
outras práticas diferentes das citadas numa categoria de “parafilias não especificadas”.
Trata-se de um conjunto de sintomas que podem ser observados e encaixados nas
classificações deste manual. Difunde-se, assim, uma cultura da lógica do fenômeno para se
diagnosticar a perversão.

Podem ser apontados dois elementos imaginários em jogo na construção perversa. Tais
elementos estão relacionados com a castração da mãe e com a problemática do desejo da
mãe pelo pai. O primeiro deles é que o pai é considerado responsável por uma castração,
supostamente real, da mãe: se ela não tem pênis, é porque foi castrada pelo pai. Por outro
lado, a mãe é culpada por ter-se comprometido com o pai ao desejar seu desejo, portanto,
ela é cúmplice da castração (Lacan, 1957-1958/1999).

Como saída para este impasse, o perverso imporia uma construção imaginária de
compromisso na qual a mãe onipotente neutralizaria a incidência paterna, permitindo a ele
comportar-se como substituto do único objeto de desejo que a fizesse gozar. O que
ocorreria na perversão é que o sujeito ficaria preso entre a mãe enquanto delegada da
palavra do pai e a mãe sedutora e permissiva que deprecia a significação estruturante da
lei do pai.

Portanto, na medida em que a complacência silenciosa do pai autoriza a fala materna a se


fazer representante da interdição, a criança é aprisionada em uma situação insolúvel.
Situação entre uma mãe ameaçadora e proibidora, leva-e-traz da fala simbólica do pai, e
uma mãe sedutora, que encoraja o gozo transformando em derrisão a significação
estruturante da lei do pai.
A perversão é também descrita como uma defesa contra a psicose, a fragmentação do eu.
Mais comumente, porém, é afirmada como o negativo da neurose, ou seja, como aquilo que
a neurose suprime para se constituir enquanto tal. Portanto, se é definida pelo
recalcamento da castração como estratégia de defesa formativa do modo estrutural, a
perversão é pela negação, a recusa de reconhecer a falta (já captada) do outro,
representada pelo corpo da mãe em que faltaria um elemento, o falo. É o desmentido da
experiência, ainda registrada a nível perceptivo.

A sexualidade do perverso é formada através da fixação em um estágio infantil, pré-genital


da organização libidinal, como o oral, anal, acústico ou visual. Assim, em vez desse gozo ser
parte da experiência, é a própria. O resultado disso pode ser o exagero em um modo de
satisfação, a dissociação de fins e meios que negam o encontro genital (desafiando à norma
sexual, ainda que não necessariamente a jurídica) e o prazer com a destruição do caráter
da lei, com o qual a negociação depende da plasticidade do sujeito.

São as modalidades resultantes:

A. Fetiches: São os substitutos imaginário-simbólicos da castração, podendo ser os


objetos presentes na cena do descobrimento dela, como partes do corpo ou peças
de roupa. Uma característica dele é ser o pelo que há atração, e não um
componente dela, levando ao gozo com esta especificidade e não como um todo.
Assim, pode-se dizer que neurótico, o que é produzido com a relação com a
castração são os sintomas. No do psicótico, os delírios. E no do perverso, os fetiches.

B. Sadismo: é o processo baseado em empurrar a castração para o outro, como se


este fosse castrado e o perverso quem tampona a falta, sutura a divisão subjetiva.
Consiste em produzir angústia, dividir o outro.

C. Masoquismo: é a outra face do processo, mas, do lado da identificação com o objeto.


Consiste em sentir a dor.

Você também pode gostar