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FMU

APOSTILA

PSICOPATOLOGIA II

Profa. Ms. Maria da Conceição A. Ferreira

2017-1
(Revisada e Modificada)
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FMU
PSICOPATOLOGIA II
Profa. MS. Maria da Conceição Albano Ferreira

Transformações do sofrimento psíquico


Café filosófico Christian Dunker 2012

Ao longo do tempo percebem-se formas diferentes de sofrimento psíquico que se articulam entre o corpo e seus
sintomas e a configuração social.

No início do séc. XX Freud analisou pacientes histéricas e fundou uma clínica para tratamento de sofrimentos
psíquicos não determinados por uma causa orgânica, mas constituídos por uma amarração simbólica entre
linguagem e reminiscências. Não podia se afirmar que fossem, então, doenças de fato como as já conhecidas, com
começo, meio e fim e com tratamento específico visando à remissão da causa ou origem do mal. Havia sim,
sintomas que se referiam, no entanto, a estados afetivos. O entendimento de Freud sobre a histeria conjugava
espaços de realização do ser nos campos do trabalho, da família e do desejo, ou seja, a vida interior com a
experiência da vida social.

Nesse momento histórico, a histeria alastrou-se e diversas outras pessoas se reconheceram no mesmo tipo de
sofrimento.

Em outro momento da história, percebeu-se a identificação de muitas pessoas a um quadro de sofrimento chamado
de Anorexia. Um apelo de reconhecimento por essa forma de sofrer desencadeou-se. Ex.: Lady Diane, em
entrevista pública à mídia televisiva, relatou sofrer de problemas relacionados à vida pessoal e social que se
expressavam através de uma síndrome chamada anorexia. “Em Hong Kong, local protegido pela princesa e onde
havia grande admiração à sua figura, aparece concomitantemente um surto de anorexia que foi batizado de “Me
too”, ou seja, “eu também”“. Na sequência, outras formas de sofrimento vão se configurando e angariando adeptos
ou pessoas que se reconhecem no quadro clínico, como a Síndrome do Pânico, que encontra eco em grande
número de pessoas de um mesmo tempo social.

Notem a formação de ciclos de sofrimento psíquico.

Outro tipo de neurose surgiu após a II Guerra, chamada de neuroses de caráter, em que o sujeito não reconhece o
próprio sofrimento, mas todos a sua volta sofrem. O indivíduo acredita que está tudo bem com ele, no entanto seu
modo de vida não se coaduna harmoniosamente com familiares e companheiros de trabalho e época. Ele está
perfeitamente bem, o mundo é que vai mal.

Outro tipo de ciclo, mais atual, é o sofrimento do tipo Neuroses Narcísicas. As pessoas não conseguem nomear
exatamente de quê sofrem, apenas não encontram sentido para viver. Sentem-se inadequadas ao seu tempo.
Christopher Lasch propôs a ligação desse sofrimento como expressão maior do laço social. Guy Debord (Sociedade
do Espetáculo), Baumann (Modernidade Líquida) e outros estudiosos relataram as personalidades narcísicas como
reflexos e seu tempo, o tempo do individualismo e do avanço da sociedade capitalista.

Consecutivamente aos narcísicos, aparece o crescimento das personalidades borderline, ou os pacientes em caso
limite, pessoas que desafiam os laços sociais em passagens ao ato em que atacam exatamente relações sociais, os
vínculos afetivos que as unem aos outros.

Lacan é um autor que pensa essas manifestações psíquicas e nos ajuda a realizar tratamentos ou cuidados
voltados para a minimização do sofrimento dessas pessoas. Ele, como psiquiatra, opõe-se à conceituação desse
sofrimento como doença. Para ele, tais afecções não são doenças, no entanto, ele não nega o quantum de
sofrimento vivenciado pelos seus portadores. Lacan não as considera nem doenças, tampouco mentais. Para ele
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não há provas biológicas suficientes que se liguem, como fonte ou origem desses sofrimentos, a lesões cerebrais.
Para Lacan, existem, sim, sintomas e ele os considera como tudo o que se repete, no comportamento de indivíduos,
de formas imperativas frente a determinadas situações. Também o que não é possível para o sujeito evitar,
ocasionando repetições pela privação de atos, são sintomas. Os sintomas podem ser positivos como
comportamentos que precisam ser feitos (lavar diversas vezes a mão, revisar cinco vezes se os trincos estão
fechados, etc.), ou, por outro lado, outros que não podem ser feitos: eu não posso sair à rua, eu não consigo mais
fazer tal coisa. Lacan entende que a liberdade dessas pessoas está tolhida, pois as pessoas não tem controle e
perdem fragmentos de liberdade própria.

Lacan entende o sofrimento como uma experiência universal. De um jeito ou de outro, todos sofrem em algum
momento a perda de um fragmento de sua liberdade. O que o sujeito perde quando ele “tem que” ou quando ele
“não pode” é um fragmento da sua liberdade. O sofrimento tem uma dimensão que nos toca a todos.

O que seriam então os normais? Entendidos como normalopatas, escapam das classificações dos livros de
diagnósticos psiquiátricos. Os componentes dos grupos de normais encontrados pelos pesquisadores foram
descritos como pessoas absolutamente insossas, chatas, sem aventuras, sem riscos. São pessoas que estão
excessivamente adaptadas à realidade. Qualquer coisa em suas vidas pode ser aceita e compreendida.

Em relação às pessoas que sofrem Lacan, a partir de Freud, percebe que os sintomas são reações, ou formas de
atuação, grupais em meio à experiência de certas vivências. Todo sofrimento está ligado à sua forma de expressão.
A forma como descrevemos e falamos do que sentimos muda o próprio sentimento. Para Lacan, a neurose é, assim,
um mito individual. Um neurótico, diferente da compreensão coletiva de mito, vive o seu próprio mito. O mito
individual não serve mais como mediador de trocas sociais. A psicanálise, então, atua no campo das diferentes
formas de narrativas das histórias pessoais. Freud falava em romance familiar, logo uma narrativa codificada.

Lacan, por sua vez, fundamenta na linguagem a origem do sofrimento. Lacan, em sua última fase, toma como
modelo o escritor irlandês James Joyce, autor que desmonta a forma do romance através da reinvenção da
linguagem, para pensar o sofrimento. É o estudo de outra forma de discurso.
Assim, vemos que o sofrimento se relaciona com reconhecimento, liberdade e universalização, coletiva e individual,
com narrativas, romance, mito, tragédia, teoria sexual infantil, o colapso do romance (Joyce, neologismos, narrador
flutuante). Cada forma de narrativa gera um tipo de sofrimento e, ainda, se relaciona com a permanência, com a
continuidade no indivíduo. O mesmo indivíduo permanece e se identifica com o sofrimento em sua história de vida.
Freud usa o termo mal-estar, do alemão unbehaggen – sem lugar, sem clareira. O sofrimento percorre o ser
humano através desse mal-estar, desse estado desnorteado ou desbussolado de ser.

As novas formas de sofrimento da atualidade começaram a ser descritas por Walter Benjamin. Ele observou uma
coisa simples e tremendamente nova. Ele acompanhou as pessoas que foram e voltaram da I Grande Guerra.
Essas pessoas voltavam mudas, ao contrário de outros aventureiros que contavam as histórias de seus sofrimentos
(Texto “O Narrador” Walter Benjamin). A experiência de lutar sempre foi como um tipo particular de viagem e era
contada como aventura. As formas atuais, após a I Grande Guerra, são de tal ordem traumática e sem sentido que
já não inspiram mais o relato ou a composição de narrativas. Catherine Malabu fala de uma subjetividade pós-
traumática. Freud, em seu tempo, encontrava traumas que ainda conseguiam moldar expressões verbais. O
sofrimento atual não consegue se articular em uma história contável. O paradigma desse sofrimento seria a perda
da capacidade narrativa, como a que acontece no Mal de Alzheimer. O sofredor perde laços com a memória. Os
portadores de Alzheimer perdem a capacidade de reconhecer, no próprio sofrimento, um grau de VERDADE. Assim
como o amor se faz através da linguagem e do seu relato, a narrativa molda o tipo de amor, o sofrimento atual, sem
narrativa ou história, não encontra uma hipótese de reconhecimento, um grão de verdade.

No Japão, atualmente tem sido descrita uma síndrome, oriunda da solidão e da vida tecnológica, em que a
linguagem está muito diminuída. Não é preciso falar. Poucas palavras dão conta que precisa ser comunicado.
Descrições mínimas. Não há uma elaboração da linguagem. Mutismos seletivos, alexitimia são nomes de afecções
que se aproximam do grão de verdade incontornável de cada um, e que encontram suas expressões através da
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sexualidade de cada um. O mal-estar de Freud (pulsão de morte), e o seu equivalente Real em Lacan, molda tipos
de sofrimentos que podem ser minimizados através da transformação de formas narrativas na produção de um
discurso destinado a um ouvinte específico. Por isso é importante o encontro com um ouvinte ou leitor capaz de
compreender o mito individual e estabelece uma forma de laço social que dê sentido a uma nova organização. Essa
é a função da análise.

Uma nova tribo de jovens reúne-se, em outra tribo ou grupo da atualidade, em torno da figura de zumbis. Filme: A
volta dos mortos vivos. Os zumbis não sabem que morreram, perderam sua alma e não sabem disso, eles não se
queixam, andam e tentam devorar outra pessoa (comer). Se eles devorarem a pessoas, talvez eles se salvem. Eles
procuram carne viva. Zumbi representa o que pode ser morto impunemente – walkingdeath – e assumem paralelos
com os muçulmanos em suas lutas religiosas. Esses indivíduos perderam a articulação de reconhecimento
narrativo. Primo Levy, outro autor da psicanálise, estuda pessoas que escaparam de um campo de concentração e,
depois de todo o sofrimento e luta pela sobrevivência, essas pessoas se suicidam. Muitos falam de sonhos
recorrentes.
Caso clínico: indivíduo que, em sonho, reúne a família para contar coisas que aconteceram com ele e as pessoas
começam a levantar, bocejar, sair de perto. O indivíduo perdeu o reconhecimento pela sua própria história de vida.

Atualmente sofremos como zumbis, mas também como Frankenstein. Esse outro modelo de narrativa representa
alguém que sente a vida em um corpo entalhado, que não é seu, e procura saber sua própria história. Ele tem uma
errância, é um sofrimento ligado com a insuficiência de palavras. Nada é suficiente para qualificar o tamanho do seu
sofrimento. A pessoa se sente fora do lugar em que está. Despersonificação. Filme de Woody Allen – Descontruindo
Harry – Harry sai do foco, o personagem fica nublado pela ótica da lente que o filma – este tipo de sensação chama-
se psicastenia legendária, sensação de estar fora do corpo. Tem uma coisa profundamente errada nesse corpo.
Certa vez ouvi alguém dizendo para seu irmão, depois de uma atitude diferente, incomum: “quem é você e o que
você fez com meu irmão”, essa fala mostra um não reconhecimento e evoca uma sensação de que o sistema em
que se vive está fora da ordem. Os lugares não se encaixam, os corpos não se encaixam nas almas. O Real deixa
de ser uma ordem e passa a ser uma anomia, uma desordem (Clarice Lispector, Virgínia Woolf). Uma
indeterminação que a habita a pessoa.

Outras duas formas de sofrimento estão ligadas à verdade e associadas à Baudelaire, que como poeta percebe as
coisas e os sofrimentos adiante de seu tempo. Baudelaire descreve um tipo clínico que se compraz em se
atormentar. No Brasil, um autor chamado Jessé de Souza, ao falar da classe trabalhadora, que saiu da miséria e
agora atinge outro status, aborda essa tipificação. São pessoas com senso de auto aperfeiçoamento, uma
religiosidade nova e tipo de produção nova. Essas pessoas têm novo tipo de sofrimento. O sujeito chegou lá, saiu
de uma condição extremamente adversa. Ele conseguiu isso a partir de um extremo senso de comunidade. Ele se
salvou os outros não. E o que ele faz agora com o passado? Há uma dívida tremenda em relação a um pacto que
foi quebrado e uma divisão subjetiva. São pessoas que se interditam. Toda forma de satisfação que ele puder
experimentar dói porque ele pensa nos que sofrem e não estão com eles. Há um conjunto de incertezas que
provocam uma narrativa do tipo, porque eu e os outros não? Nessas pessoas, permanece uma mística em busca
da verdade. Correlatos disso aparecem em famílias europeias que sofrem por 3 gerações com a falta de empregos
e vivem de auxílio do governo de seus países. Nas famílias americanas atuais, o medo do empobrecimento pode
provocar também a mesma sensação. O que há de mágico na riqueza? Aqui, o sofrimento é como o de Hamlet, um
fantasma que volta para cobrar a verdade. Relações de pertinência e sociabilidade precisam ser produzidas e para
isso é preciso o auto atormentamento. Qual é a minha história? Onde está o meu grão de verdade. Há um traço de
exagero “hybris” que revela um limite ultrapassado, esse tipo de sofrimento pode ser entendido como um neo-
masoquismo, a busca de uma dor que produz uma experiência de verdade.

Outro tipo de sofrimento pode ser entendido como paranoia sistêmica. Pessoas que vivem uma instituição – escola,
trabalho, clube. Foucault descreveu isso como biopolítica – Você S/A – uma relação amorosa, nesses casos, passa
a ser cálculo, benefícios e custos, quem gerar mais lucro, leva. É uma paranoia que aflora na vida em forma de
condomínio. Ambiente artificial em que tudo foi pacificado e vigoram normas próprias, faz-se um micro mundo e tudo
gira em torno das próprias leis. Boas barreiras de contenção são erguidas. Todo condomínio precisa de um síndico.
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O síndico, no entanto, tem que fazer dar certo. Há um filme da Nouvelle Vague (Godard) em que as pessoas não
podem ter sentimentos – o condomínio de Godard chama-se Alfaville, o mesmo nome, pasmem!, com que foi
batizado um condomínio conhecido em São Paulo, homenageando essa ideia. Gera-se compulsão para criar
normas e mais normas, para vigiar e controlar. O que devia ser um paraíso se torna uma prisão. Os sofrimentos
articulados com essa lógica (gramática) produzem situações como: ou vc persegue alguém ou vc é perseguido. O
Bullying é efeito da vigilância estrita a como se deve comer, vestir, perfumar, maquiar, exercitar, ler, etc. A diferença
representada pelo outro ataca minha forma de vida. A estrutura desse sofrimento estabelece que os habitantes do
condomínio tenham que ser felizes. O outro é uma ameaça à identidade completa daquele que sabe exatamente o
que é. O modelo desse sofrimento é o do Vampiro. O vampiro suga, aniquila, destrói o outro.

Pergunta: como pensar as redes sociais e o discurso que se produz nesse espaço como forma de sofrimento?
Com o surgimento das redes imaginou-se que haveria uma grande polifonia. Acreditou-se que novas vozes teriam
lugar, mas não houve isso. Ocorre ainda a solidão no espaço social em que entre 5.000 amigos não há ninguém
que queira de fato ouvir o que você tem a dizer.
Há uma perda importante de privacidade o que sufoca a possibilidade de haver intimidade. Nada mais é íntimo.
Há formações de grupos que se juntam para o mal. A possibilidade de identificação de sintomas e lógica do
condomínio propiciam segregação, bullying.

Pergunta: Winnicott: o brincar. Quem não brinca revela um sofrimento.


Com Lacan temos dois modelos para pensar saúde, ou dois caminhos clínicos: sofremos de excesso de
experiências de determinação. O neurótico cria mais identidades do que ele precisa. Ele cria mais pais, mais mães.
Muita determinação. A saúde é a diminuição disso. Propor que felicidade não é esse excesso de determinação.
Outro ponto: Falta de experiências produtivas de indeterminação. Experiências que ensinem a conviver com marcas
geradas pela fragmentação, pela perda de integridade. Saber habitar o espaço da perda de sentido, experiência do
inumano, uma vivência do laço social que não se baseia nas perspectivas de identidade (experiência de tribos
indígenas).

TEXTO 1
ESQUIZOFRENIA

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA A ESQUIZOFRENIA


A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de
tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um
deles deve ser (1), (2) ou (3):
1. Delírios
2. Alucinações
3. Discurso desorganizado
4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico
5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia)
B. Por período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação, o nível de
funcionamento em uma ou mais áreas importantes do funcionamento, como trabalho,
relações interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente abaixo do nível alcançado
antes do início (ou quando o início se dá na infância ou na adolescência, incapacidade de
atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou profissional).
C. Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse
período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados
com sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode
incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos prodrômicos
ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas
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negativos ou por dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em uma forma
atenuada (p. ex., crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns).
D. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com
características psicóticas são descartados porque 1) não ocorrem episódios depressivos
maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas na fase ativa, 2) se episódios de
humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em relação
aos períodos ativo e residual da doença.
E. A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex.,
droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica.
F. Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno de comunicação
iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios
ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão
também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso).

O termo esquizofrenia refere-se a um conjunto de transtornos que abrange o que


são, sem dúvida, os mais complexos e assustadores sintomas que jamais encontraremos.
Estima-se que 1 a 2% da população sofre de esquizofrenia; portanto, este é um transtorno
sério em termos tanto da natureza dos sintomas como do número de pessoas que sofrem
dele.
A esquizofrenia é sobremaneira complexa e assustadora porque os sintomas
ultrapassam totalmente o domínio da experiência da maioria das pessoas. Muitos de nós
podemos entender os transtornos envolvendo ansiedade e depressão porque
experimentamos tais sintomas. No entanto, poucos de nós tiveram alucinações e delírios,
portanto, sentimos grande dificuldade de entendê-los e muitas vezes reagimos a eles com
medo. Até recentemente, nosso medo da esquizofrenia era intensificado pelo fato de que
ela era considerada incurável e um diagnóstico de esquizofrenia significava uma sentença
de vida de miséria e desesperança em uma ala dos fundos de um hospital psiquiátrico.
Antes de prosseguir discutindo os sintomas da esquizofrenia devo fazer um breve
comentário sobre os rótulos e frases que são usados ao falar sobre indivíduos que sofrem
de esquizofrenia. Comumente nos referimos a estas pessoas como “esquizofrênicos”, mas
isto não é apropriado. Assim como não falamos sobre pessoas com câncer como “Cânceres”,
não deveríamos falar sobre as pessoas com esquizofrenia como “esquizofrênicos”. Ter
esquizofrenia pode ser muito sério, mas ela não necessariamente influencia o ser inteiro da
pessoa e, portanto não é apropriada rotular a pessoa inteira como “esquizofrênica”. Muitas
pessoas têm casos leves e aprenderam a lidar com os sintomas ou seus sintomas
particulares não interferem com suas vidas. Ao invés de falar sobre “esquizofrênicos”,
falaremos sobre “indivíduos com esquizofrenia” ou “pessoas que sofrem de esquizofrenia”.

A esquizofrenia (Noto e Bressam, 2012) é uma entidade nosológica baseada no


modelo categorial de diagnóstico e ainda sem etiologia definida. Apesar do crescente
avanço da pesquisa científica no campo neurobiológico, não foi possível encontrar
quantidades suficientes de marcadores biológicos específicos para auxiliar no diagnóstico.
A tendência da abordagem moderna é hierarquizar os sintomas como um continuum
dimensional em apoio ao diagnóstico categorial tradicional. Sendo assim, o diagnóstico
sindrômico a partir da hierarquização dos sintomas e a evolução longitudinal do paciente
ainda são os métodos de excelência para a prática clínica. A anamnese, fundamentada na
história subjetiva, e o exame psíquico, baseado na descrição psicopatológica dos sintomas,
são os meios de que o psiquiatra dispõe para avaliar o paciente e conduzir o tratamento.
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SINTOMAS DA ESQUIZOFRENIA

1. SINTOMAS COGNITIVOS
Provavelmente os sintomas mais óbvios e mais importantes da esquizofrenia sejam
os cognitivos, os quais incluem alucinações, delírios, processos de pensamento perturbados
e inundação cognitiva.
ALUCINAÇÕES. São experiências semelhantes à percepção que ocorrem sem um
estímulo externo. São vívidas e claras, com toda a força e o impacto das percepções
normais, não estando sob controle voluntário. Podem ocorrer em qualquer modalidade
sensorial, embora as alucinações auditivas sejam as mais comuns na esquizofrenia e em
transtornos relacionados. Alucinações auditivas costumam ser vividas como vozes,
familiares ou não, percebidas como diferentes dos próprios pensamentos do indivíduo.
Em alguns contextos culturais, alucinações pode ser elemento normal de experiências
religiosa. As alucinações auditivas são as mais comuns. Elas frequentemente envolvem
ouvir vozes que comentam sobre o comportamento do indivíduo, criticam seu
comportamento ou dão ordens. As alucinações táteis e somáticas nas quais o indivíduo
imagina sensações de formigamento ou queimadura na pele ou sensações internas no corpo
também são comuns. Por fim, alucinações visuais e olfativas (ver ou sentir o cheiro de
coisas que não estão presentes) são também observadas em pessoas com esquizofrenia,
mas tais tipos de alucinações são menos comuns que os outros. É importante perceber que
para os indivíduos que as têm, as alucinações parecem ser percepções reais e os
indivíduos são incapazes de distinguir alucinações de percepções reais.

DELÍRIOS. São crenças fixas, não passíveis de mudança à luz de evidências


conflitantes. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas (p. ex., persecutório, de
referência, somático, religioso, de grandeza). Delírios persecutórios (i.e., crença de que
o indivíduo irá ser prejudicado, assediado, e assim por diante, por outra pessoa,
organização ou grupo) são mais comuns. Delírios de referência (i.e., crença de que alguns
gestos, comentários, estímulos ambientais, e assim por diante, são direcionados à
própria pessoa) também são comuns. Delírios de grandeza (i.e., quando uma pessoa crê
que tem habilidades excepcionais, riqueza ou fama) e delírios erotomaníacos (i.e., quando
o indivíduo crê falsamente que outra pessoa está apaixonada por ele) são também
encontrados. Delírios niilistas envolvem a convicção de que ocorrerá uma grande
catástrofe, e delírios somáticos concentram-se em preocupações referentes à saúde e à
função dos órgãos.
Delírios são considerados bizarros se claramente implausíveis e incompreensíveis por
outros indivíduos da mesma cultura, não se originando de experiências comuns da vida.
Um exemplo de delírio bizarro é a crença de que uma força externa retirou os órgãos
internos de uma pessoa, substituindo-os pelos de outra sem deixar feridas ou cicatrizes.
Um exemplo de delírio não bizarro é acreditar que a pessoa está sob vigilância da polícia,
apesar da falta de evidências convincentes. Os delírios que expressam perda de controle
da mente ou do corpo costumam ser considerados bizarros; eles incluem a crença de que
os pensamentos da pessoa foram “removidos” por alguma força externa (retirada de
pensamento), de que pensamentos estranhos foram colocados na mente (inserção de
pensamento) ou de que o corpo ou as ações do indivíduo estão sendo manipulados por uma
força externa (delírios de controle). Distinguir um delírio de uma ideia firmemente
defendida é algumas vezes difícil e depende, em parte, do grau de convicção com que a
crença é defendida apesar de evidências contraditórias claras ou razoáveis acerca de sua
veracidade.
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PROCESSOS DE PENSAMENTO PERTURBADOS. Além de problemas de conteúdos de


pensamento (o que as pessoas pensam) também parece haver problemas com o modo como
as pessoas com esquizofrenia pensam. Os processos de pensamentos destes indivíduos
caracterizam-se por um “afrouxamento” das ligações associativas entre os pensamentos, de
modo que os indivíduos frequentemente desviam-se para os pensamentos irrelevantes.
Estes distúrbios nos processos de pensamento estão ilustrados na resposta à
pergunta ”Quem é o presidente dos Estados Unidos?”
“Eu sou o presidente, eu sou o ex-presidente dos Estados Unidos, eu fui um
presidente recente. Exatamente naquele momento eu era presidente, presidente de
muitas cidades na China, Japão, Europa e Pensilvânia. Quando você é o presidente
você é o cabeça de todos, você é o cabeça de cada um daqueles, você tem uma cabeça
grande, você é o homem mais inteligente do mundo”.
As frases usadas por pessoas com esquizofrenia de modo geral são
gramaticalmente corretas, mas os pensamentos expressados são desarticulados e não
fazem sentido quando reunidos. Devido à aparente natureza aleatória dos seus
pensamentos, as elocuções das pessoas com esquizofrenia foram descritas como fugas de
ideias.
Se os indivíduos que sofrem de esquizofrenia apresentam processos de pensamento
perturbados, seu funcionamento intelectual será prejudicado, portanto, em muitos casos
verificamos que estes indivíduos desempenham em níveis intelectuais reduzidos. O
funcionamento intelectual prejudicado observado na esquizofrenia é agora referido como o
déficit esquizofrênico a fim de distingui-lo de outras formas de prejuízo intelectual.
É interessante observar que o termo original para esquizofrenia era demência
precoce que significa “deterioração prematura”.

INUNDAÇÃO COGNITIVA (SOBRECARGA DE ESTÍMULOS). Um elemento importante na


experiência cognitiva das pessoas com esquizofrenia envolve uma ampliação excessiva da
atenção que resulta no que pode ser denominado inundação cognitiva ou sobrecarga de
estímulos. Muitas pessoas carecem da habilidade de barrar estímulos internos e externos
irrelevantes. É como se o “filtro” que a maioria de nós possui para eliminar estímulos
estranhos lhes faltasse ou estivesse estragado. Consequentemente, as pessoas com
esquizofrenia são forçadas a prestar atenção a tudo ao seu redor e dentro delas, e sentem
como se estivessem sendo inundadas por uma sobrecarga de percepções, pensamentos e
sentimentos. A ampliação da atenção, inundação e sobrecarga do sistema cognitivo estão
refletidos na citação de um paciente apresentado a seguir.
– As coisas vêm rápido demais. Perco o controle delas e fico perdido. Estou prestando
atenção a tudo de uma vez só e o resultado é que na verdade eu não presto atenção em
nada.

2. SINTOMAS DE HUMOR
Os humores dos indivíduos com esquizofrenia são tipicamente descritos como
“embotados”, “não modulados” ou “inapropriados”. Em outras palavras tais indivíduos não são
tão emocionalmente responsivos quanto deveriam ser a situações ambientais e
interpessoais. Ao ouvir sobre uma morte na família ou assistir a um filme muito engraçado,
por exemplo, uma pessoa com esquizofrenia pode permanecer impassível e mostrar pouca ou
nenhuma resposta emocional. No entanto, em outras situações, a mesma pessoa será
emocionalmente volátil, mas de um modo inapropriado e inconsistente com o que seria
esperado na situação. Por exemplo, ao discutir um ferimento ou algum outro assunto sério o
indivíduo pode ter um acesso de riso. De modo geral as emoções das pessoas com
esquizofrenia podem ser descritas como inapropriadas ou situacionalmente inconsistentes.
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Ao interpretar as respostas emocionais (ou a falta delas) de pessoas com


esquizofrenia, geralmente supõem-se que elas dão a resposta errada a uma situação. Uma
interpretação alternativa é que elas dão a resposta certa a uma situação erroneamente
percebida. Ou seja, ao invés de responder incorretamente à situação externa conforme
percebidos por outros, a pessoa com esquizofrenia pode estar respondendo de maneira
correta à sua própria interpretação idiossincrásica da situação (um delírio) a alguma
resposta interna (uma alucinação) ou a algum pensamento concorrente (sobrecarga de
estímulos).
Vista assim, pode ocorrer que a esquizofrenia não envolva um transtorno de humor
em si, mas antes, que o humor pareça estar perturbado em decorrência dos problemas
cognitivos subjacentes.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico


Indivíduos com esquizofrenia podem exibir afeto inadequado (p. ex., rir na ausência de
um estímulo apropriado); humor disfórico que pode assumir a forma de depressão,
ansiedade ou raiva; padrão de sono perturbado (p. ex., sono durante o dia e atividade
durante a noite); e falta de interesse em alimentar-se ou recusa da comida.
Despersonalização, desrealização e preocupações somáticas podem ocorrer e por vezes
atingem proporções delirantes. Ansiedade e fobias são comuns. Déficits cognitivos na
esquizofrenia são comuns e fortemente associados a prejuízos profissionais e
funcionais. Esses déficits podem incluir diminuições na memória declarativa, na memória
de trabalho, na função da linguagem e em outras funções executivas, bem como velo-
cidade de processamento mais lenta. Anormalidades no processamento sensorial e na
capacidade inibitória, bem como redução na atenção, são também encontradas. Alguns
indivíduos com esquizofrenia mostram déficits na cognição social, incluindo déficits na
capacidade de inferir as intenções dos outros (teoria da mente), podendo atender a
eventos ou estímulos irrelevantes e depois interpretá-los como significativos, talvez
levando à geração de delírios explanatórios. Esses prejuízos costumam persistir durante
a remissão dos sintomas.
Alguns indivíduos com psicose podem carecer de insight ou consciência de seu
transtorno (i.e., anosognosia). Essa falta de insight inclui não perceber os sintomas de
esquizofrenia, podendo estar presente em todo o curso da doença. Não perceber a doença
costuma ser um sintoma da própria esquizofrenia em vez de uma estratégia de
enfrentamento. É comparável à falta de percepção de déficits neurológicos após dano
cerebral, chamada de anosognosia. Esse sintoma é o mais comum preditor de não adesão ao
tratamento e prevê elevadas taxas de recaída, aumento no número de tratamentos
involuntários, funcionamento psicossocial mais pobre, agressão e um curso mais pobre da
doença.
Hostilidade e agressão podem estar associadas a esquizofrenia, embora agressão
espontânea ou aleatória não seja comum. A agressão é mais frequente em indivíduos do
sexo masculino mais jovens e em pessoas com história anterior de violência, não adesão ao
tratamento, abuso de substância e impulsividade. Deve-se observar que a grande maioria
das pessoas com esquizofrenia não é agressiva, sendo, com mais frequência, mais
vitimizada que aquelas na população em geral. Atualmente não há exames laboratoriais,
radiológicos ou testes psicométricos para o transtorno.

Também é importante observar que o diagnóstico da esquizofrenia é estabelecido


por exclusão. Os indivíduos que sofrem de outros transtornos, como mentais orgânicos ou
retardo mental, às vezes apresentam os mesmos sintomas e um indivíduo é diagnosticado
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como apresentando esquizofrenia apenas após estes outros transtornos terem sido
descartados.
É fundamental observar que a esquizofrenia não necessariamente implica em uma
inabilidade de operar eficazmente fora de um hospital. O diagnóstico requer que haja uma
deterioração a partir de um nível prévio de funcionamento, mas se as demandas sobre o
indivíduo são baixas ou não envolvem as áreas nas quais os sintomas serão disruptivos, o
indivíduo pode ser capaz de funcionar eficazmente sem que o problema seja detectado na
sociedade.

FASES DA ESQUIZOFRENIA
Considera-se que os indivíduos que sofrem de esquizofrenia passam por três fases.
Primeiro alguns pacientes passam por uma fase prodrômica na qual o funcionamento
intelectual e interpessoal começa a deteriorar. Durante esta fase, alguns comportamentos
peculiares aparecem, as emoções tornam-se inapropriadas e experiências perceptuais
incomuns começam a ocorrer. Esta fase pode durar uns poucos dias ou muitos anos. Em
casos nos quais a fase prodrômica é prolongada e o indivíduo apresenta uma trajetória
descendente insidiosa, o prognóstico de longo prazo em geral é pobre.
A segunda é a fase ativa, na qual os padrões de sintomas são nítidos e
proeminentes. Alucinações, delírios e distúrbios de pensamento e linguagem tornam-se
identificáveis e o comportamento pode tornar-se mais grosseiramente desorganizado. Em
terceiro, alguns pacientes passam por uma fase residual semelhante à fase prodrômica no
sentido em que o quadro de sintomas novamente torna-se menos claro. Sintomas como
alucinações e delírios podem ainda existir, mas são menos ativos e menos importantes para
o indivíduo. Associado ao abafamento dos sintomas está um embotamento geral ou uma não
modulação do humor e amiúde um declínio geral no desempenho intelectual. Esta
combinação de sintomas frequentemente torna impossível para o indivíduo retornar ao nível
pré-mórbido de funcionamento social e ocupacional.
Embora não seja oficialmente reconhecida como tal, há outra fase, referida como
fase crônica. Esta forma mais extrema da fase residual tende mais a ser observada em
pacientes que estiveram hospitalizados por muitos anos. O quadro de sintomas
provavelmente deve-se em grande parte aos efeitos da institucionalização de longo prazo.
Os indivíduos crônicos não apresentam muitos dos seus sintomas originais de esquizofrenia,
mas uma deterioração muito séria de habilidades sociais. Eles podem comer com as mãos,
urinar na roupa e ser completamente insensíveis às pessoas ao seu redor. É improvável que
os pacientes crônicos alguma vez serão capazes de funcionar fora do hospital. Felizmente,
o número de tais pacientes parece estar declinando. Isto ocorre provavelmente porque
agora possuímos mais tratamentos eficazes do que quando estes pacientes foram
originalmente hospitalizados e então menos pacientes deterioram a tal ponto.

SUBTIPOS DE ESQUIZOFRENIA de acordo com o DSM-IV-TR

TIPO DESORGANIZADO (OU HEBEFRÊNICA)


Conforme indica o nome, as pessoas com esquizofrenia desorganizada apresentam o
maior grau de desorganização psicológica. Apresentam rupturas marcantes na fala e no
comportamento; também demonstram embotamento afetivo ou emotividade inapropriada,
como rir de maneira tola em ocasiões impróprias. Também parecem absortas em si mesmas
de forma incomum e podem passar muito tempo olhando-se no espelho. No entanto, não
apresentam um conjunto sistematizado de delírios e, assim, não há nenhuma estrutura
compreensível para o seu padrão de sintomas.
11

TIPO CATATÔNICO
A esquizofrenia catatônica caracteriza-se por um distúrbio psicomotor. A
característica essencial da catatonia é uma perturbação psicomotora acentuada que pode
envolver atividade motora diminuída, participação diminuída durante entrevista ou exame
físico ou atividade motora excessiva e peculiar. A apresentação clínica da catatonia pode
confundir, uma vez que a perturbação psicomotora pode variar desde ausência acentuada
de resposta até agitação acentuada. A imobilidade motora pode ser grave (estupor) ou
moderada (catalepsia e flexibilidade cérea). Igualmente, a participação diminuída pode ser
grave (mutismo) ou moderada (negativismo). Comportamentos motores excessivos e
peculiares podem ser complexos (estereotipia) ou simples (agitação), podendo incluir
ecolalia e ecopraxia. Em casos extremos, a mesma pessoa pode ter aumentos e diminuições
entre atividade motora reduzida e excessiva. As características clínicas aparentemente
opostas e as manifestações variáveis do diagnóstico contribuem para falta de percepção e
redução do reconhecimento da catatonia. Durante seus estágios graves, o indivíduo pode
precisar de supervisão atenta para evitar autolesão e lesão a outros. Há riscos potenciais
decorrentes de desnutrição, exaustão, hiperpirexia (febre acima de 41º) e lesão
autoinfligida.

TIPO PARANÓIDE
Os sintomas dominantes na esquizofrenia paranoide são delírios de perseguição e
grandiosidade. Por exemplo, os pacientes podem pensar que os familiares estão conspirando
contra eles a fim de roubar uma herança há muito perdida (perseguição) que os colocaria
entre as pessoas mais ricas do mundo (grandiosidade). Os pacientes com esquizofrenia
paranóide também, às vezes têm alucinações com conteúdo persecutório ou grandioso
(exemplo, vozes que criticam ou lhes contam que eles têm talentos especiais). No entanto,
tais pacientes não apresentam desorganização de pensamentos ou comportamento. De fato,
além dos seus delírios, eles seguidamente comportam-se de modo bastante normal. É
provável que devido às suas preocupações sobre perseguição e sua necessidade de
defender seu elevado autoconceito, tais indivíduos tendem a serem ansiosos,
argumentativos e às vezes violentos quando confrontados.

TIPO RESIDUAL
Os indivíduos diagnosticados com esquizofrenia residual tiveram pelo menos um
episódio esquizofrênico no passado e presentemente alguns sinais de esquizofrenia, como
emoções embotadas, retração social, comportamento excêntrico ou transtorno de
pensamento, mas tais sintomas são geralmente abafados. Ademais, sintomas como
alucinações e delírios são infrequentes ou vagos. Embora os indivíduos com este padrão
sejam identificados como apresentando um tipo particular de esquizofrenia, em muitos
casos parece mais provável que eles apenas estejam na fase residual do transtorno geral.

SINTOMAS POSITIVOS VERSUS SINTOMAS NEGATIVOS DA ESQUIZOFRENIA

Há considerável insatisfação com a classificação tradicional da esquizofrenia nos


cinco tipos descritos. Esta insatisfação surgiu porque a classificação não conduziu a um
entendimento dos processos por trás da esquizofrenia ou para a orientação concernente a
como tratar de indivíduos com diferentes padrões de sintomas. Portanto, foram sugeridos
alguns meios alternativos de classificação dos sintomas (e, portanto, dos pacientes). A
alternativa mais promissora consiste em agrupar os sintomas em dois tipos: sintomas
positivos e sintomas negativos.
12

SINTOMAS POSITIVOS SINTOMAS NEGATIVOS


(Comportamentos não usualmente encontrados em (Ausência de comportamentos usualmente
pessoas normais) encontrados em pessoas normais)
Alucinações Humor achatado (deprimido)
Delírios Pobreza de fala
Distúrbios de pensamento Inabilidade de experimentar sentimentos
positivos
Comportamento bizarro Apatia
Variáveis relacionadas: Variáveis relacionadas:
Melhor funcionamento pré-mórbido Pior funcionamento pré-mórbido
Ocorrência mais frequente em mulheres Ocorrência mais frequente em homens
Mais rápido, início mais tardio. Desenvolvimento mais lento, início anterior.
Sintomas menos estáveis Sintomas mais estáveis
Responsivo à terapia com drogas Irresponsivo à terapia com drogas

TRATAMENTO DE TRANSTORNOS ESQUIZOFRÊNICOS


ABORDAGENS FISIOLÓGICAS

Terapia Convulsiva. Na década de 30 um médico observou que pacientes que


sofriam de esquizofrenia e epilepsia apresentaram reduções em seus sintomas
esquizofrênicos imediatamente após haver sofrido uma convulsão epilética. Especulou-se,
portanto, que a esquizofrenia poderia ser tratada induzindo convulsões. Inicialmente
drogas como insulina foram usadas para induzir as convulsões, mas foram substituídas pela
terapia eletroconvulsiva (ECT) na qual as convulsões são induzidas por um choque elétrico.
A terapia convulsiva foi amplamente utilizada para tratar a esquizofrenia durante muitos
anos, mas as pesquisas agora indicam que a ECT não é útil para tratar esquizofrenia e é
muito menos eficaz do que a terapia com drogas. Hoje em dia a ECT raramente é usada, a
não ser em casos onde o paciente não está respondendo a outros tratamentos.

Terapia com drogas. A introdução de drogas antipsicóticas em meados da


década de 50 revolucionou o atendimento e a condição dos pacientes mentais. Algumas
drogas antipsicóticas exercem sérios efeitos colaterais e os críticos alegam que os
benefícios obtidos por estas drogas são superficiais e sobrepujados pelos efeitos
colaterais que provocam.

PANORAMA DAS DROGAS NEUROLÉPTICAS


Uma das causas fisiológicas da esquizofrenia é atividade neurológica
excessivamente elevada nas áreas do cérebro onde a dopamina é o principal
neurotransmissor. O alto nível de atividade relacionada à dopamina conduz a sintomas
porque prejudica a atividade cognitiva. Portanto, a meta principal da moderna terapia com
drogas é reduzir este nível de atividade neurológica. Isto é feito com um grupo de drogas
conhecidas como neurolépticos. O termo neuroléptico deriva de neuro que se refere ao
cérebro e leptic, que vem de uma palavra grega que significa aprisionar, deter, suspender.
Os neurolépticos aliviam os sintomas da esquizofrenia reduzindo a atividade cerebral.
Os neurolépticos causam um efeito colateral em particular perceptível e debilitante
que envolve distúrbios na atividade muscular. Eles podem incluir tremores involuntários,
tiques nervosos, tremor e solavancos. Este tipo de efeito colateral ocorre porque a
dopamina é também um neurotransmissor no sistema motor, e quando o nível geral de
dopamina é alterado com uma droga neuroléptica, o funcionamento do sistema motor é
mudado, resultando deste modo nos movimentos musculares. Estes efeitos motores
13

colaterais são referidos como sintomas extrapiramidais porque os neurônios responsáveis


por movimentos motores estendem-se a partir de um grupo de células que se parecem como
uma série de pirâmides.

NEUROLÉPTICOS DE BAIXA POTÊNCIA. Os neurolépticos de baixa potência


foram os primeiros neurolépticos a ser desenvolvidos e, conforme o rótulo implica, eles não
bloqueiam os receptores de dopamina tão eficazmente quanto às drogas de alta potência
que foram desenvolvidas mais tarde. As drogas de baixa potência mais amplamente usadas
estão em uma classe de drogas conhecidas como fenotiazinas, a mais famosa das quais é a
Torazina (clorpromazina).

NEUROLÉPTICOS DE ALTA POTÊNCIA. O mais conhecido neuroléptico de alta


potência é o Haldol (haloperidol). O medicamento conhecido como Torazina bloqueia 80%
dos receptores, o Haldol bloqueia aproximadamente 85%. Contudo, a eficácia aumentada do
Haldol tem um preço – um aumento nos efeitos extrapiramidais problemáticos. Atualmente
o Haldol continua a ser usado com muitos pacientes, mas, para reduzir os efeitos
colaterais, os níveis de dosagem são mantidos tão baixos quanto possível e outras drogas
são prescritas com frequência para ajudar a reduzir os efeitos colaterais extrapiramidais.

NEUROLÉPTICOS ATÍPICOS. O mais conhecido é o Clozaril (clozapina). Os


neurolépticos atípicos bloqueiam apenas 65% dos receptores. Eles são mais seletivos nos
conjuntos de receptores de dopamina que bloqueiam. Ao contrário dos neurolépticos
regulares, que bloqueiam os receptores de dopamina em geral, os neurolépticos atípicos
bloqueiam os receptores de dopamina nas trilhas de nervos que conduzem ao córtex
frontal, onde o pensamento ocorre, mas eles não bloqueiam os receptores de dopamina nas
trilhas associadas a movimentos motores.
O Clozaril foi introduzido na Europa em 1971, mas não foi aprovado para uso nos
Estados Unidos até 1990. O atraso em sua aprovação deveu-se ao fato de que 1 a 2% dos
pacientes que usam Clozaril desenvolvem um efeito colateral conhecido como
agranulocitose, um distúrbio no qual o nível de leucócitos (células brancas do sangue) do
indivíduo é grandemente reduzido. Felizmente, a agranulocitose pode ser eliminada em
aproximadamente duas semanas pela simples interrupção do Clozaril.
O dilema quanto ao uso do medicamento foi resolvido em meados da década de 80
quando o fabricante do Clozaril desenvolveu um procedimento para monitorar os níveis de
leucócitos. Especificamente, uma vez por semana uma amostra do sangue do paciente é
extraída e analisada para níveis de leucócitos e se os níveis estão dentro de limites normais
o paciente recebe medicação por uma semana. Em caso contrário, o paciente não recebe o
Clozaril até que os leucócitos retornem aos seus níveis normais. Este procedimento é
conhecido como um pacote porque o teste de sangue é “adicionado” à venda do
medicamento.

LIMITAÇÕES DA TERAPIA COM DROGAS


Está claro que os neurolépticos podem ser um tratamento eficaz para a
esquizofrenia, mas é importante observar que eles, de fato, apresentam algumas limitações.
Primeiramente, os neurolépticos provêm um tratamento para a esquizofrenia, mas
não uma cura. Isto significa que em muitos casos os indivíduos podem ter que permanecer
sob drogas durante períodos de tempo prolongados. Uma revisão de 31 estudos envolvendo
3.519 pacientes indicou que entre os pacientes que foram mantidos sob seus neurolépticos,
14

a taxa de recaída foi de 19%, mas entre os pacientes que foram trocados para um placebo,
a taxa de recaída foi de 55%.
Em segundo lugar, em muitos casos, as drogas são apenas eficazes para tratar
alguns dos sintomas (principalmente sintomas positivos) ou elas reduzem, mas não eliminam
os sintomas (as alucinações podem ser menos frequentes ou menos intensas). Esta redução
parcial nos sintomas pode ser suficiente para capacitar o indivíduo a funcionar de modo
eficaz em sociedade, mas não o suficiente para eliminar a carga de lidar com os sintomas
remanescentes.
Em terceiro, nem todos os pacientes são ajudados por drogas. Neurolépticos como a
Torazina e Haldol podem ajudar aproximadamente 80% dos pacientes, e neurolépticos
atípicos como o Clozaril pode ajudar aproximadamente outros 6%, mas isto ainda deixa
aproximadamente 14% sem ajuda.

EFEITOS COLATERAIS DA TERAPIA COM DROGAS


Há dois níveis de efeitos colaterais. No nível mais superficial, os pacientes que
estão tomando neurolépticos experimentam sintomas como secura da boca ou salivação
excessiva, visão embaçada, embriaguez, constipação, sensibilidade à luz, diminuição da
libido, ganho de peso e atividade motora desajeitada ou mais lenta.
Infelizmente, para alguns pacientes que tomam neurolépticos há um nível mais sério
de efeitos colaterais que envolvem sintomas que podem apresentar implicações importantes
em longo prazo. Provavelmente o mais sério dos efeitos colaterais conhecidos é a discinesia
tardia.
A discinesia tardia é um padrão de sintomas extrapiramidais extremos que
envolvem movimentos musculares involuntários que são mais frequentemente associados
com a boca, os lábios e a língua. Em alguns casos há também movimentos involuntários dos
braços e do tronco.
Outro efeito colateral sério é a síndrome neuroléptica maligna, cujos sintomas
incluem rigidez muscular, temperatura muito elevada que pode levar a dano cerebral,
pressão sanguínea flutuante e frequência cardíaca, confusão, agitação e estupor ou coma.

Um meio de maximizar os benefícios e minimizar os efeitos colaterais da terapia


com droga é usar terapia de limite mais baixo ou não contínuo. Na maioria dos casos, uma
vez que os sintomas dos pacientes tenham sido reduzidos de forma satisfatória com um
determinado nível de medicação, este nível é mantido indefinidamente. No entanto, para
alguns pacientes, o nível de medicação pode ser pouco a pouco reduzido ou até mesmo
descontinuado. Há algum risco nisso, porque doses insuficientes ou a descontinuação da
medicação podem resultar em recaídas para muitos pacientes. O ponto importante é que
nem todos os pacientes apresentam recaída e a tentativa de descontinuidade à droga nos
capacitaria a identificar os pacientes afortunados que dispensam uma dose de manutenção.
Para os que precisam da medicação e apresentam recaída sem ela, a medicação pode ser
reintroduzida. Contudo, mesmo para estes pacientes, os níveis de dosagem podem ser
reduzidos até que os sintomas tornem-se graves.
15

TEXTO 2
TRANSTORNO BIPOLAR

Um portador de transtorno bipolar só começa a se enredar no enigma quando


recebe pela primeira vez o diagnóstico. Isso ocorre, em média, dez anos após as primeiras
tentativas de tratamento. Antes disso, pode receber os mais variados diagnósticos, como
dependência de drogas, obesidade, problemas de caráter e de personalidade, transtorno do
pânico, sendo o mais comum, com certeza, a depressão.
Poucos são os profissionais de saúde que conhecem suficientemente o problema
para conseguir dar uma orientação adequada e diminuir a angústia do paciente. Essa é uma
das principais razões para o atraso do diagnóstico.

1. É uma doença;
2. Tem sinais e sintomas que podem variar muito de um momento para outro, num
mesmo paciente, ou ter muitas diferenças de uma pessoa para outra;
3. É muito comum;
4. É crônica, ou seja, não tem “cura”;
5. Tem causas biológicas (genéticas e outras) associadas a fatores ambientais;
6. Está associada a mais mortalidade, mais prejuízos, como faltas no emprego,
dificuldades em manter a produtividade no trabalho e problemas de
relacionamento interpessoal e familiar;
7. As pessoas afetadas não têm controle pleno do que pensam ou falam durante os
períodos de manifestação da doença;
8. O tratamento medicamentoso é fundamental e complexo, pois exige duas
estratégias distintas: a profilaxia (prevenção) e o tratamento dos sintomas
agudos;
9. O tratamento psicológico é fundamental para uma boa evolução no longo prazo;
10. A ausência de tratamento ou o tratamento irregular podem levar a
consequências mais funestas, principalmente no longo prazo;
11. Por fim, o tratamento adequado pode trazer uma vida praticamente normal,
principalmente se for introduzido de maneira correta nas fases iniciais da
doença.

As faces do transtorno bipolar


Existem dois nomes que são utilizados atualmente: transtorno afetivo bipolar, que é
oficial, e transtorno do humor, considerado atualmente o mais correto.

Essa diferença de nomes ocorre por causa dos conceitos de afeto e humor, que não são
idênticos tecnicamente.
Afetos se referem às emoções de uma situação de vida imediata, como sentir alegria
quando se ganha um presente, tristeza quando se sabe que foi mal numa prova, irritação
quando algo dá errado ou medo quando alguma dor surge de repente, junto com a ideia de
poder ser uma doença grave.
Humores se referem aos estados emocionais mais prolongados, que duram horas,
dias ou semanas, e podem influenciar a forma de pensar e agir de uma pessoa.

O conceito de “transtorno bipolar” é centrado nas alterações de humor, sendo um polo


da doença o humor depressivo e o outro polo o humor eufórico.
16

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS – DSM-5

Episódio Maníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou
irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia,
com duração mínima de uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias
(ou qualquer duração, se a hospitalização se fizer necessária).
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou
mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em
grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade.
2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de
sono).
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando.
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados.
5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos
insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado.
6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja
sexualmente) ou agitação psicomotora (i.e., atividade sem propósito não dirigida a
objetivos).
7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências
dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou
investi- mentos financeiros insensatos).
C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado
no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização a fim de
prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem características psicóticas.
D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de
abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição médica.

Nota: Um episódio maníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex.,
medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas
além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um episódio
maníaco e, portanto, para um diagnóstico de transtorno bipolar tipo I.
Nota: Os Critérios A-D representam um episódio maníaco. Pelo menos um episódio
maníaco na vida é necessário para o diagnóstico de transtorno bipolar tipo I.

Episódio Hipomaníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou
irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de
quatro dias consecutivos e presente na maior parte do dia, quase todos os dias.
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento de energia e atividade, três (ou
mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) persistem,
representam uma mudança notável em relação ao comportamento habitual e estão
presentes em grau significativo:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade.
2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de
sono).
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando.
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados.
17

5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos


insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado.
6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja
sexualmente) ou agitação psicomotora.
7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências
dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou
investi- mentos financeiros insensatos).
C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é
característica do indivíduo quando assintomático.
D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras
pessoas.
E. O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no
funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo
características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco.
F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de
abuso, medicamento, outro tratamento).

Nota: Um episódio hipomaníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p.
ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e
sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um
diagnóstico de episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém, cautela para que 1 ou 2
sintomas (principalmente aumento da irritabilidade, nervosismo ou agitação após uso de
antidepressivo) não sejam considerados suficientes para o diagnóstico de episódio
hipomaníaco nem necessariamente indicativos de uma diátese bipolar.
Nota: Os Critérios A-F representam um episódio hipomaníaco. Esses episódios são comuns
no transtorno bipolar tipo I, embora não necessários para o diagnóstico desse transtorno.

Episódio Depressivo Maior (EDM)


A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de
duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo
menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.
Nota: Não incluir sintomas que sejam claramente atribuíveis à outra condição médica.
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por
relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou por observação feita
por outra pessoa (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser
humor irritável.)
2. Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades na
maior parte do dia, quase todos os dias (conforme indicado por relato subjetivo ou
observação feita por outra pessoa).
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., mudança de mais
de 5% do peso corporal em um mês) ou redução ou aumento no apetite quase todos os dias.
(Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.)
4. Insônia ou hipersonia quase diária.
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outras pessoas; não
meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes)
quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente).
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8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos os dias


(por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa).
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida
recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer
suicídio.
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento
social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra
condição médica.

Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior. Esse tipo de episódio é
comum no transtorno bipolar tipo I, embora não seja necessário para o diagnóstico desse
transtorno.
Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por
desastre natural, doença médica grave ou incapacidade) podem incluir sentimentos de
tristeza intensos, ruminação acerca da perda, insônia, falta de apetite e perda de peso
observados no Critério A, que podem se assemelhar a um episódio depressivo. Embora tais
sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à perda, a presença de um
episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma perda significativa, deve ser
também cuidadosamente considerada. Essa decisão exige inevitavelmente exercício do
juízo clínico, baseado na história do indivíduo e nas normas culturais para a expressão de
sofrimento no contexto de uma perda.

SINTOMAS DA MANIA

Euforia
A euforia seria uma alegria excessiva e exagerada, contagiante e espontânea, que
se mantém independentemente dos acontecimentos ou da situação da vida. A pessoa com
euforia acha que tudo está excelente, que tudo vai dar certo, acha graça em tudo,
geralmente se relaciona com as pessoas com muita facilidade, até com estranhos na rua,
pode se sentir mais bonita e atraente, com mais força e poder. Nas formas mais graves,
chega a acreditar que pode ser uma pessoa famosa, como uma modelo, ou o presidente da
República. Fica a maior parte do tempo eufórica, mas pode ter momentos de mudanças
súbitas de humor, como se lembrar da morte da mãe e começar a chorar aos prantos, para
depois de alguns minutos estarem rindo de novo de qualquer outra coisa.

Aumento da atividade ou hiperatividade


A pessoa tentar fazer muitas coisas ao mesmo tempo, tem dificuldades para ficar
parada, não consegue se concentrar em um programa de televisão ou numa leitura, se
distrai com facilidade com qualquer coisa. Esse aumento de atividade acaba fazendo o
indivíduo começar vários planos e projetos, sem conseguir terminar a maioria. Por vezes,
fica lavando roupas ou consertando objetos de madrugada.

Irritabilidade
Em geral é deflagrada quando o paciente é contrariado por alguém ou por alguma
situação. Às vezes, fica irritado sem razão aparente, ou por pequenos contratempos que
não justificariam uma reação tão intensa ou agressiva. O paciente raramente se arrepende
por estar com a autoestima tão elevada, o que leva a problemas de relacionamento, tendo
19

como resultado relações familiares e de amizade abaladas e, às vezes, irremediavelmente


destruídas.

Diminuição da necessidade de sono


O paciente dorme muito pouco, mas não sente fala de sono perdido. Pelo contrário,
vai se sentido cada vez mais ativado e acelerado.

Autoestima elevada
O paciente se sente mais forte, inteligente, sensual, poderoso. Tem mais
criatividade, mais energia, sente sua capacidade aumentada, tem certeza de que
conseguiria fazer muito mais do que imaginava antes de entrar na fase maníaca. Com essa
autoestima elevada, pensa que está sempre certo e acabam entrando em confronto com
outras pessoas, como chefes, familiares, amigos. Acaba se envolvendo em situações
problemáticas, como comprar coisas caras e achar que terá condições de pagar, fazer
promessas impossíveis de ser cumprido, como criar uma indústria, ou eliminar a pobreza do
mundo.

Pressão para falar


O paciente tem uma produção verbal aumentada, fala muito, o que pode se refletir
em maior capacidade de se relacionar com outras pessoas, principalmente com pessoas
desconhecidas. A fala pode estar tão aumentada que fica difícil interromper o discurso do
paciente maníaco. Nos casos mais graves, a aceleração é tamanha que o discurso se torna
incompreensível; ele costuma ligar um pensamento a outro e não consegue falar todas as
palavras, criando um discurso fragmentado e confuso. É muito comum começar um assunto,
que leva a outro e a outro, tendo dificuldades para voltar ao assunto inicial.

Dificuldade em focar a atenção


O paciente se distrai com muita facilidade, pois qualquer estímulo, barulho ou idéia
o faz distrair-se e mudar o foco de sua atenção. Isso favorece o seu engajamento em
várias atividades simultâneas. Atividades que exijam atenção por tempo mais prolongado,
como leitura, costura ou estudos, são muito difíceis, às vezes, quase impossível para o
paciente em mania.

Impulsividade e atitudes de risco


O paciente em mania fica mais impulsivo que o seu habitual, faz muitas coisas
imprudentes (dirige de forma arriscada, participa de jogos de azar). Busca mais atividades
que tragam prazer imediato, como o uso de drogas lícitas (aumento do uso de álcool) ou
ilícitas (usar drogas que não usava ou experimentar drogas novas). Tem mais relações
sexuais, às vezes com parceiros que nunca escolheria se não estivesse em mania, além de
ter atitudes indiscretas e inadequadas com pessoas conhecidas e desconhecidas.
Pode fazer muitas compras impulsivas, de maneira exagerada, tanto no valor como na
quantidade de itens (dez sapatos, vinte livros, cinco carros).

HIPOMANIA
Tecnicamente a hipomania seria apenas uma fase de mania mais leve. São os mesmos
sintomas, mas menos intensos menos evidentes. Na prática, é uma fase que pode ser
considerada invisível, pois normalmente ninguém percebe nem o paciente nem os familiares
e amigos.
20

Na hipomania as alterações são mais discretas, e os prejuízos são bem menos


evidentes, podendo até apresentar vantagens como maior produtividade no trabalho,
criatividade e melhor socialização.
A hipomania é vista como uma situação “normal”, aceitável para a maioria das pessoas, e
passa despercebida até mesmo pelos médicos e psicólogos.
Se é tão pouco evidente, por que é considerada uma fase, uma parte do transtorno
bipolar? A questão mais importante é que a hipomania, por mais rara que seja em um
paciente, é um indicador de que essa pessoa tem transtorno bipolar. Em geral, o paciente
que tem hipomanias apresenta muito mais fases depressivas, nas quais procura ajuda
médica ou psicológica, e acaba sendo tratado com diagnóstico de depressão unipolar, fato
que pode levar a uma evolução desfavorável e inadequada.

TRANSTORNO CICLOTÍMICO (OU MISTO)


O transtorno ciclotímico tem como característica essencial à cronicidade e a
oscilação do humor, envolvendo vários períodos de sintomas hipomaníacos e períodos de
sintomas depressivos distintos entre si.
Os sintomas hipomaníacos têm número, gravidade, abrangência ou duração
insuficiente para preencher a todos os critérios de um episódio hipomaníaco; e os sintomas
depressivos têm número, gravidade, abrangência ou duração insuficiente para preencher a
todos os critérios de um episódio depressivo maior.
O diagnóstico de transtorno ciclotímico é feito somente quando os critérios para
episódio depressivo maior, maníaco ou hipomaníaco nunca forem satisfeitos. Há risco de 15
a 50% de um indivíduo com transtorno ciclotímico desenvolver posteriormente transtorno
bipolar tipo I ou transtorno bipolar tipo II.

TRANSTORNOS BIPOLARES – TIPOS

1. Transtorno Bipolar I
A característica essencial do Transtorno Bipolar I é um curso clínico caracterizado pela
ocorrência de um ou mais Episódios Maníacos ou Episódios Mistos. Com frequência, os
indivíduos também tiveram um ou mais Episódios Depressivos Maiores.

2. Transtorno Bipolar II
A característica essencial do Transtorno Bipolar II é um curso clínico marcado pela
ocorrência de um ou mais Episódios Depressivos Maiores, acompanhado por pelo menos um
Episódio Hipomaníaco. Os Episódios Hipomaníacos não devem ser confundidos com os vários
dias de eutimia (equilíbrio do humor) que podem seguir-se à remissão de um Episódio
Depressivo Maior. A presença de um Episódio Maníaco ou Episódio Misto exclui o
diagnóstico de Transtorno Bipolar II. Os indivíduos com Transtorno Bipolar II podem não
ver os Episódios Hipomaníacos como patológicos embora outras pessoas possam sentir-se
perturbadas pelo comportamento errático do indivíduo. Muitas vezes, particularmente
quando em meio a um Episódio Depressivo Maior, os indivíduos não se recordam dos
períodos de hipomania se não forem lembrados por amigos íntimos ou parentes. As
informações oferecidas por outras pessoas frequentemente são fundamentais para o
estabelecimento do diagnóstico de Transtorno Bipolar II.
21

TEXTO 3
TRANSTORNOS DEPRESSIVOS

SINTOMAS DE HUMOR
O indivíduo sente-se deprimido, “melancólico”, triste, sem esperanças,
desencorajado, “para baixo”. Amiúde, a pessoa deprimida também se sente isolada,
rejeitada e não amada. As pessoas deprimidas às vezes descrevem a si mesmas como
estando sozinhas em um buraco escuro, profundo, onde elas não podem ser alcançadas e do
qual não podem sair.
A depressão, às vezes é acompanhada de ansiedade. Este é especialmente o caso na
fase inicial ou prodrômico quando o padrão de sintomas está se formando. Durante esta
fase o indivíduo acredita que tudo está dando errado, está aborrecido e ansioso e tem
muitos pensamentos de preocupação. Nesta fase fica difícil determinar se o indivíduo está
experimentando início de depressão ou está sofrendo de um estado de ansiedade. À medida
que o tempo passa, o nível de ansiedade é reduzido e o nível de depressão aumenta.

SINTOMAS COGNITIVOS
Pelo menos seis sintomas ou processos cognitivos desempenham papéis importantes
na depressão. Primeiro, os indivíduos deprimidos têm autoestima muito baixa.
Especificamente os indivíduos deprimidos geralmente pensam que são inadequados,
inferiores, ineptos, incompetentes e em geral sem valor, além de frequentemente se
sentirem culpados por seus fracassos. Um segundo sintoma cognitivo importante é o
pessimismo. Acreditam que jamais serão capazes de resolver seus problemas e que a
tendência das coisas apenas é piorar. Em terceiro, ocorre uma redução de motivação. Uma
vez que não acreditam que terão capacidade para resolver seus problemas, os deprimidos
não veem razão para trabalhar sobre tais problemas ou buscar ajuda para superá-los. Tudo
parece perdido e sem esperanças, então não há razão para tentar. Como não trabalham
sobre seus problemas, estes não serão resolvidos, e, portanto, o acúmulo de problemas
irresolvidos pode constituir razões adicionais para a depressão. O quarto sintoma cognitivo
importante da depressão é a generalização de atitudes negativas. Pesquisas mostraram
que o grau no qual as pessoas generalizam seus problemas está relacionado ao grau de
seriedade da sua depressão. Especificamente, os indivíduos profundamente deprimidos
tenderam mais a concordar com itens como “Perceber uma falha minha me faz pensar mais
e mais sobre outras falhas” e “Quando mesmo uma coisa dá errada eu começo a me sentir
mal e imaginar se eu posso fazer bem qualquer coisa que seja”.
Exagero da seriedade dos problemas é o quinto sintoma cognitivo maior da
depressão e pode tornar-se tão extremo que o indivíduo pode desenvolver um delírio. Ou
seja, apesar de fortes evidências em contrário, o indivíduo desenvolve crenças totalmente
errôneas que são bizarras e patentemente absurdas. Por exemplo, pode acreditar que está
sofrendo de deterioração cerebral progressiva. O sexto sintoma cognitivo importante são
os processos de pensamento mais lentos. Os indivíduos deprimidos carecem de motivação
ou energia mental para pensar rapidamente e trabalhar eficazmente. Apresentam
desempenho intelectual muito pobre, sobretudo em tarefas que requerem velocidade ou
esforço em processamento, e alterações no funcionamento da memória.

SINTOMAS MOTORES
O sintoma motor mais proeminente e mais importante na depressão é o retardo
psicomotor que envolve uma redução ou lentificação do comportamento motor. As pessoas
deprimidas com frequência sentam-se com uma postura encurvada e um olhar parado,
inexpressivo. Às vezes relatam sentir-se como se estivessem com o peso do mundo sobre
22

seus ombros e simplesmente não conseguem mover-se sob tal carga. Falam muito pouco e
quando falam, é em um tom baixo.
Em contraste algumas pessoas deprimidas apresentam agitação psicomotora e são
incapazes de ficar parada. Tais pessoas são inquietas e estão constantemente se
preocupado ou andando de um lado para outro. É digno de nota que as atividades destes
indivíduos são aleatórias ao invés de focalizadas em atingir alguma meta particular, e,
assim, suas atividades não lhes rendem nada. A agitação psicomotora é muito menos
prevalente do que o retardo psicomotor.

SINTOMAS SOMÁTICOS
Os indivíduos são propensos a sofrer de uma variedade de problemas somáticos. Um
dos mais notáveis é um padrão de sono perturbado. Apresentam dificuldade para conciliar
o sono e então experimentam despertar muito cedo (por volta das 2 horas da madrugada) e
são incapazes de voltar a dormir. O despertar muito cedo parece estar associado a
depressões mais sérias e o momento do despertar precoce pode ser um índice da
profundidade da depressão. À medida que a depressão passa, o momento do despertar
muito cedo se torna cada vez mais tarde. Em alguns casos, os indivíduos começam a dormir
mais do que o usual, um efeito denominado hipersonia.
Padrões alimentares perturbados são também comuns nas depressões. Muitos
indivíduos perdem o interesse em comer e o alimento cessa de ter sabor para eles. Em
outros casos, os indivíduos deprimidos podem desejar comer e perceber que precisam
comer, mas como não dispõem da energia para prepará-las, alimentam-se de “junk food”. E
para outros, ainda, comer é a única atividade agradável na sua vida, que em outros aspectos
é sombria.
Outro sintoma somático frequentemente associado à depressão é interesse ou
impulso sexual reduzido. Este aspecto é amiúde referido como uma perda da libido.
Além dos problemas específicos associados ao sono, apetite e sexo, os indivíduos
deprimidos são mais suscetíveis a uma variedade de doenças, aparentemente em
decorrência de um prejuízo do funcionamento do sistema imunológico. Especificamente, há
evidências de que os indivíduos deprimidos produzem menos linfócitos (glóbulos brancos),
que desempenham um papel importante no combate de doenças.

QUESTÕES ASSOCIADAS À DEPRESSÃO

DEPRESSÕES EXÓGENAS VERSUS DEPRESSÕES ENDÓGENAS


Concorda-se, de modo geral, que algumas depressões devem-se principalmente a
fatores externos (psicológicos), como conflito e estresse, enquanto outras são devidas
principalmente a fatores internos (fisiológicos) como baixos níveis de determinados
neurotransmissores. A depressão decorrente de fatores externos é referida
como Depressão Exógena , ou seja, devida a fatores do ambiente, como por exemplo, o
estresse, circunstâncias adversas, problemas profissionais, familiares, momentos de perda,
de ruptura, etc., portanto, trata-se de uma Depressão causada fundamentalmente por
fatores ambientais externos. É também denominada Depressão Reativa, pois se produz
como reação ou resposta a um evento traumático, como por exemplo, uma perda, um
desengano, uma tensão ou outros acontecimentos incômodos. No entanto, os fatores
exógenos são inespecíficos, ou seja, não nos é possível associar um evento a um quadro
depressivo, obrigatoriamente. Isso quer dizer que alguns acontecimentos podem ser
depressores para algumas pessoas e não para outras.
A depressão decorrente de fatores internos é referida como Depressão Endógena ,
isto é devida a fatores constitucionais, de origem biológica e/ou predisposição hereditária.
23

Este tipo de Depressão tem uma causa fundamentalmente biológica e não existe relação
palpável ou proporcional entre o momento depressivo e as eventuais vivências
causadoras. Nela não se percebem causas externas ao sujeito.

Nos casos de Depressão Exógena , dificilmente podemos atribuir à doença uma


responsabilidade exclusiva do ambiente, assim como não podemos considerar
exclusivamente biológica ou genética a Depressão Endógena . Portanto, diante desses
aspectos, o mais correto seria dizer que a Depressão Exógena é predominantemente
vivencial e a Depressão Endógena, predominantemente constitucional. Na Depressão
Endógena o paciente É deprimido e na Depressão Exógena ele ESTÁ deprimido.

A distinção entre depressões exógenas e endógenas é importante em termos de


tratamento. É provável que a psicoterapia seja mais eficaz para uma pessoa exogenamente
deprimida, enquanto há probabilidade de que a terapia com droga seja mais eficaz para uma
pessoa cuja depressão é endógena deprimida. Embora essa distinção seja importante para
entender e tratar indivíduos deprimidos, é muito difícil determinar quem está sofrendo de
depressões exógenas e quem está sofrendo de depressões endógenas.
Diversas tentativas foram feitas para estabelecer distinção entre elas com base em
diferenças em padrões de sintomas, mas esta abordagem não provou ser especialmente
frutíferas. A única diferença consistente em padrões de sintomas é que os indivíduos
endogenamente deprimidos tendem mais a ter uma história pessoal ou familiar de
depressão. O problema é adicionalmente complicado pelo fato de que por estarem
inconscientes da base fisiológica da sua depressão, os indivíduos endogenamente
deprimidos são amiúde capazes de encontrar o que parece ser uma causa ou justificativa
para a depressão no ambiente, assim lançando aquele que realiza o diagnóstico para fora da
trilha da causa real.
O tópico da depressão endógena versus a depressão exógena torna-se mais complexo
pelo fato de que, em alguns casos, uma forma pode levar à outra. Por um lado, o estresse
psicológico associado a uma depressão exógena pode causar mudanças fisiológicas que por
fim resultam em uma depressão endógena. Por outro lado, o comportamento inapropriado
derivado de uma depressão endógena pode resultar em problemas pessoais ou ambientais
que podem contribuir para uma depressão exógena. Por exemplo, uma depressão endógena
pode reduzir seriamente a habilidade de um indivíduo de funcionar (pensamento mais lento,
falta de atividade, choro constante); a inabilidade de funcionamento conduz a perda de
emprego ou amigos e a perda alimenta a base para uma depressão exógena.

DEPRESSÃO PRIMÁRIA VERSUS DEPRESSÃO SECUNDÁRIA


A depressão é secundária ou reativa quando surge em resposta a um estresse
identificável como perdas (reações de luto), doença física importante (tumores cerebrais,
AVC, hipo ou hipertireoidismo, doença de Cushing, etc.), ou uso de drogas (reserpina,
clonidina, metildopa, propranolol, promazina, clorpromazina, acetazolamida, atropina,
hioscina, haloperidol, corticosteróides, benzodiazepínicos, barbitúricos, anticoncepcionais,
hormônios tireoidianos, etc.). Corresponde a mais de 60% de todas as depressões em
indivíduos que estão sofrendo de algum outro transtorno preexistente, tal como ansiedade,
alcoolismo, esquizofrenia ou um transtorno físico. Por exemplo, uma pessoa com
esquizofrenia pode ter um delírio de que está morrendo e, portanto, pode ficar deprimida,
mas, neste caso, a depressão é um sintoma secundário da esquizofrenia.
24

Porque as causas da depressão primária (endógena) e da depressão secundária


(exógena) são muito diferentes, estas depressões requerem tratamentos diferentes e a
distinção primário-secundário é importante ao estabelecer diagnósticos.

COMORBIDADE
Um indivíduo pode sofrer de dois ou mais transtornos psicológicos ao mesmo tempo
(exemplo, depressão e abuso de substância, depressão e esquizofrenia, ansiedade geral e
fobias), assim como uma pessoa pode sofrer de dois ou mais distúrbios físicos ao mesmo
tempo (exemplo, diabete e pneumonia). A ocorrência de dois transtornos é chamada de
comorbidade. A palavra mórbido refere-se à doença, enquanto morbidade refere-se à
ocorrência de doença; então, comorbidade significa “a co-ocorrência de duas ou mais
doenças”.

1. TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR

Características diagnósticas
A característica essencial de um episódio depressivo maior é um período de pelo
menos duas semanas durante as quais há um humor depressivo ou perda de interesse ou
prazer em quase todas as atividades. Em crianças e adolescentes, o humor pode ser
irritável em vez de triste. O indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro
sintomas adicionais, extraídos de uma lista que inclui mudanças no apetite ou peso, no sono
e na atividade psicomotora; diminuição de energia; sentimentos de desvalia ou culpa;
dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões; ou pensamentos recorrentes de
morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio. Os sintomas devem persistir na
maior parte do dia, quase todos os dias, por pelo menos duas semanas consecutivas. O
episódio deve ser acompanhado por sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
O humor em um episódio depressivo maior frequentemente é descrito pela pessoa
como deprimido, triste, desesperançado, desencorajado ou “na fossa”. Em alguns indivíduos
que se queixam de sentirem “um vazio”, sem sentimentos ou com sentimentos ansiosos, a
presença de um humor deprimido pode ser inferida a partir da expressão facial e por
atitudes.
A perda de interesse ou prazer quase sempre está presente, pelo menos em algum
grau. Os indivíduos podem relatar menor interesse por passatempos, “não se importar mais”
ou falta de prazer com qualquer atividade anteriormente considerada prazerosa. Os
membros da família com frequência percebem retraimento social ou negligência de
atividades prazerosas. Em alguns indivíduos, há redução significativa nos níveis anteriores
de interesse ou desejo sexual.
As alterações de apetite podem envolver redução ao aumento. Perturbações do sono
podem assumir a forma de dificuldades para dormir ou dormir excessivamente. Diminuição
da energia, cansaço e fadiga são comuns. As alterações psicomotoras incluem agitação (p.
ex., incapacidade de ficar sentado quieto, ficar andando sem parar, agitar as mãos, puxar
ou esfregar a pele, roupas ou outros objetos) ou retardo psicomotor (p. ex., discurso,
pensamento ou movimentos corporais lentificados; maiores pausas antes de responder; fala
diminuída em termos de volume, inflexão, quantidade ou variedade de conteúdos, ou
mutismo).
O sentimento de desvalia ou culpa associado com um episódio depressivo maior pode
incluir avaliações negativas e irrealistas do próprio valor, preocupações cheias de culpa ou
ruminações acerca de pequenos fracassos do passado. Muitos indivíduos relatam prejuízo
25

na capacidade de pensar, concentrar-se ou tomar decisões. Pensamentos sobre morte,


ideação suicida ou tentativas de suicídio são comuns.

DESENVOLVIMENTO E CURSO
O transtorno depressivo maior pode aparecer pela primeira vez em qualquer idade,
mas a probabilidade de início aumenta sensivelmente com a puberdade. O curso do
transtorno depressivo maior é bastante variável, de modo que alguns indivíduos raramente
experimentam remissão (um período de dois meses ou mais sem sintomas ou apenas 1 ou 2
sintomas não mais do que em um grau leve), enquanto outros experimentam muitos anos com
poucos ou nenhum sintoma entre episódios discretos.
A recuperação em geral começa dentro de três meses após o início para dois em
cada cinco indivíduos com depressão maior e em um ano para quatro em cada cinco. O início
recente é um forte determinante da probabilidade de recuperação em curto prazo, e pode-
se esperar que muitos indivíduos que estiveram deprimidos por apenas alguns meses se
recuperem espontaneamente.
O risco de recorrência torna-se progressivamente mais baixo ao longo do tempo, à
medida que aumenta a duração da remissão. O risco é mais alto em indivíduos cujo episódio
anterior foi grave, em indivíduos mais jovens e naqueles que já experimentaram múltiplos
episódios. A persistência de sintomas, mesmo leves, durante a remissão é um forte
preditor de recorrência.
Muitos transtornos bipolares iniciam com um ou mais episódios depressivos, e uma
proporção substancial de indivíduos que de início parecem ter um transtorno depressivo
maior apresentará com o tempo um transtorno bipolar. O transtorno depressivo maior,
particularmente com características psicóticas, também pode fazer uma transição para
esquizofrenia, uma mudança que é muito mais frequente do que o inverso.

2. TRANSTORNO DEPRESSIVO PERSISTENTE (DISTIMIA)

Características diagnósticas
A característica essencial do transtorno depressivo persistente (distimia) é um
humor depressivo que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos dias, por pelo menos
dois anos, ou por pelo menos um ano para crianças e adolescentes. Com frequência
apresenta um início precoce e insidioso e por definição, um curso crônico.
Indivíduos com transtorno depressivo persistente descrevem seu humor como
triste ou “na fossa”. Durante os períodos de humor deprimido, pelo menos dois dos
seguintes sintomas estarão presentes: 1) apetite diminuído ou alimentação em excesso; 2)
insônia ou hipersonia; 3)baixa energia ou fadiga; 4) baixa autoestima; 5) concentração
pobre ou dificuldade em tomar decisões; 6) sentimentos de desesperança.
Como esses sintomas tornaram-se uma parte tão presente na experiência cotidiana
do indivíduo, em particular no caso de início precoce (p. e., “Sempre fui desse jeito”), eles
podem não ser relatados, a menos que diretamente investigados pelo entrevistador.

LUTO NORMAL
Ao diferenciar luto de um episódio depressivo maior, é útil considerar que, no luto,
o afeto predominante inclui sentimentos de vazio e perda, enquanto no episódio depressivo
maior há humor deprimido persistente e incapacidade de antecipar felicidade ou prazer. A
disforia no luto pode diminuir de intensidade ao longo de dias a semanas, ocorrendo em
ondas, conhecidas como “dores do luto”. Essas ondas tendem a estar associadas a
pensamentos ou lembranças do falecido. O humor deprimido de um episódio depressivo
maior é mais persistente e não está ligado a pensamentos ou preocupações específicas. A
26

dor do luto pode vir acompanhada de emoções e humor positivos que não são
característicos da infelicidade e angústia generalizada de um episódio depressivo maior. O
conteúdo do pensamento associado ao luto geralmente apresenta preocupação com
pensamentos e lembranças do falecido, em vez das ruminações autocríticas ou pessimistas
encontradas no episódio depressivo maior. No luto, a autoestima costuma estar preservada,
ao passo que no episódio depressivo maior sentimentos de desvalia e aversão a si mesmo são
comuns. Se presente no luto, a ideação autodepreciativa tipicamente envolve a percepção
de falhas em relação ao falecido (p. ex., não ter feito visitas com frequência suficiente, não
dizer ao falecido o quanto o amava). Se um indivíduo enlutado pensa na morte e em morrer,
tais pensamentos costumam ter o foco no falecido e possivelmente em “se unir” a ele,
enquanto no episódio depressivo maior esses pensamentos têm o foco em acabar com a
própria vida em razão dos sentimentos de desvalia, de não merecer estar vivo ou da
incapacidade de enfrentar a dor da depressão.

TEXTO 4
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Transtornos de Ansiedade. Conforme o nome diz, nestes transtornos a ansiedade


é o principal sintoma ou a causa de outros sintomas. A ansiedade também é um sintoma em
uma variedade de outros transtornos. Por exemplo, é comum que os indivíduos deprimidos
sintam-se ansiosos e muitas vezes vemos a ansiedade como um sintoma na esquizofrenia.
Todavia, nos transtornos de ansiedade, a ansiedade é o sintoma primário ou a causa
primária de outros sintomas, enquanto nos demais transtornos a ansiedade é o resultado de
outros problemas. Por exemplo, uma mulher que está sofrendo de depressão pode estar
ansiosa porque acredita que é um fracasso inútil e condenada a uma vida de miséria.
Similarmente, um homem com esquizofrenia pode estar ansioso porque tem um delírio de
que seu cérebro está sendo destruído por ondas gamas vindo do planeta Egregius. É
importante manter em mente a distinção entre ansiedade primária e secundária ao
estabelecer diagnósticos e planejar tratamentos.
Ansiedade é um estado de humor negativo caracterizado por sintomas corporais
de tensão física e apreensão em relação ao futuro.

1. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG)


No transtorno de ansiedade generalizada, o foco da ansiedade está presente em todos os
eventos da vida diária, ou seja, não tem foco específico.

CRITÉRIOS DO DSM-5 PARA O TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA

A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva) ocorrem durante mais


dias do que deveria por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais
como desempenho escolar ou profissional).
B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação.
C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes sintomas
(com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses)
Nota: Apenas um item é exigido para crianças.

1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele.


2. Fatigabilidade.
3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente.
27

4. Irritabilidade.
5. Tensão muscular.
6. Perturbação do sono (dificuldade de conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e
inquieto).
D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo.
E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., drogas de
abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo).
F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental.

Caso Gina: dominada pela preocupação


Gina é uma mãe solteira de 32 anos com dois filhos que busca ajuda profissional
para seus sentimentos de ansiedade de longa duração. Apesar de sua vida ser relativamente
estável em termos financeiros e interpessoais, ela se preocupa a maior parte do tempo com
problemas financeiros que desenvolverá, com a possibilidade de seus filhos ficarem doentes
e com a situação política do país que dificultará sua vida e a de seus filhos. Embora tente
repudiar essas ideias como excessivas, ela acha praticamente impossível controlar sua
preocupação. A maior parte do tempo, ela se sente desconfortável e tensa, e às vezes se
torna tão extrema que começa a tremer e a suar. Tem dificuldade para dormir à noite.
Durante o dia, é inquieta e tensa. Ela consultou uma variedade de médicos especialistas, e
nenhum deles foi capaz de diagnosticar um problema físico.

Gina sofria de transtorno de ansiedade generalizada, que é de muitas formas, a


síndrome básica que caracteriza cada transtorno de ansiedade. Os critérios do DSM-5
especificam pelo menos seis meses de ansiedade e preocupação excessivas (expectativa
apreensiva) ocorrendo na maioria dos dias. Além disso, deve ser muito difícil desligar ou
controlar o processo de preocupação. Isso é o que distingue a preocupação patológica do
tipo normal que todos nós experimentamos de tempos em tempos quando ficamos prontos
para um evento ou desafio. A maioria de nós se preocupa por certo tempo, mas pode deixar
o problema de lado e continuar outra tarefa. Mesmo se o desafio que está por vir for muito
grande, tão breve ele seja resolvido, a preocupação cessa. Para Gina, ela nunca parava. Ela
ia à próxima crise assim que a atual tivesse acabado. As pessoas com TAG se preocupam
com as mínimas coisas e acontecimentos na maior parte do tempo, característica que
distingue o TAG de outros transtornos de ansiedade.

O transtorno de ansiedade generalizada envolve ansiedade persistente geral que


dura pelo menos um mês e não está associada a nenhum objeto ou situação particular.
A presença de ansiedade é constante e não há como escapar dela. A natureza prolongada da
ansiedade a separa do transtorno de pânico e, geralmente, é menos intensa do que o
observado no transtorno de pânico.
A natureza generalizada onipresente da ansiedade resulta em alguns problemas
adicionais que não são observados em outros transtornos de ansiedade. Uma vez que a
ansiedade é geral, sem associação com um objeto particular, o indivíduo não sabe de onde a
ameaça e condenação virão e deve, portanto, ser excepcionalmente vigilante e deve
continuamente pesquisar os arredores procurando a ameaça. Isto pode resultar em efeitos
debilitantes como distração e fadiga.
28

CRITÉRIOS DO CID-10 PARA O TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA F41.1


Ansiedade generalizada e persistente que não ocorre exclusivamente nem mesmo de modo
preferencial numa situação determinada (a ansiedade é "flutuante"). Os sintomas
essenciais são variáveis, mas compreendem nervosismo persistente, tremores, tensão
muscular, transpiração, sensação de vazio na cabeça, palpitações, tonturas e desconforto
epigástrico. Medos de que o paciente ou um de seus próximos irá brevemente ficar doente
ou sofrer um acidente é frequentemente expresso.

2. TRANSTORNO DE PÂNICO (COM OU SEM AGORAFOBIA)

CRITÉRIO DIAGNÓSTICO – DSM-5 TRANSTORNO DO PÂNICO

A. Ataques de pânico recorrentes e inesperados. Um ataque de pânico é um surto abrupto


de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual
ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas:
Nota: O surto abrupto pode ocorrer a partir de um estado calmo ou de um estado ansioso.
1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia.
2. Sudorese.
3. Tremores ou abalos.
4. Sensações de falta de ar ou sufocamento.
5. Sensações de asfixia.
6. Dor ou desconforto torácico.
7. Náusea ou desconforto abdominal.
8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio.
9. Calafrios ou ondas de calor.
10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento).
11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar
distancia- do de si mesmo).
12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
13. Medo de morrer.
Nota: Podem ser vistos sintomas específicos da cultura (p. ex., tinido, dor na nuca,
cefaleia, gritos ou choro incontrolável). Esses sintomas não devem contar como um dos
quatro sintomas exigidos.

B. Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as
seguintes características:
1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre
suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”).
2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionado aos ataques (p.
ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva
de exercícios ou situações desconhecidas).
C. A perturbação não é consequência dos efeitos psicológicos de uma substância (p. ex.,
droga de abuso, medicamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo,
doenças cardiopulmonares).
D. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., os ataques
de pânico não ocorrem apenas em resposta a situações sociais temidas, como no transtorno
de ansiedade social; em resposta a objetos ou situações fóbicas circunscritas, como na
fobia específica; em resposta a obsessões, como no transtorno obsessivo-compulsivo; em
resposta à evocação de eventos traumáticos, como no transtorno de estresse pós-
29

traumático; ou em resposta à separação de figuras de apego, como no transtorno de


ansiedade de separação).

Você tem um parente, talvez uma tia excêntrica, por exemplo, que nunca sai de casa? As
reuniões ou visitas familiares sempre têm de ser na casa dela? Sua tia pode não ser apenas
excêntrica e esquisita. Ela pode sofrer de um transtorno de ansiedade debilitante chamado
de transtorno de pânico com agorafobia (TPA), no qual os indivíduos experimentam
ataques de pânico graves e inesperados; eles podem achar que estão morrendo ou perdendo
o controle. Em razão do fato de nunca saberem quando um ataque pode ocorrer,
desenvolvem a agorafobia, medo e evitação de situações em que se sentiriam inseguros no
caso de um ataque ou de sintomas de pânico. Essas situações incluem aquelas das quais seria
difícil ou embaraçoso escapar para voltar para casa ou ir a um hospital. Em casos graves, as
pessoas com TPA são incapazes de deixar a casa, à vezes, por anos a fio, como à senhora M.

Caso Sra. M: auto-encarcerada


Sra. M. tinha 67 anos e morava em um apartamento no segundo andar de um prédio
sem elevador em uma região de classe média. Sua filha, já adulta, um dos poucos contatos
remanescente com o mundo, solicitou uma avaliação com o consenso da Sra. M. Toquei a
campainha e entrei em um corredor estreito; a Sra. M. não estava em lugar visível. Subi as
escadas e bati na porta. A Sra. M. me pediu para entrar. Ela estava na sala de estar e ficou
contente em me ver. Eu fui a primeira pessoa que ela via em três semanas. Durante 20 anos,
a Sra. M. não tinha deixado o apartamento, e há 30 anos sofria de pânico com agorafobia.
Ela não tinha atendido a porta sozinha nos últimos 15 anos porque tinha medo de olhar para
o corredor. Ela conseguia entrar na cozinha e ir até onde ficavam o fogão e a geladeira, mas
nos últimos dez anos não tinha ido à parte da sala que dava para o quintal ou para fora da
área de serviço. Assim, sua vida na última década tinha sido confinada ao quarto, à sala de
estar e à metade da cozinha. Ela contava com a filha para lhe trazer compras e visitá-la
uma vez por semana. O único visitante além da filha era o padre da paróquia, que vinha lhe
ministrar a comunhão a cada duas ou três semanas, quando ele podia. O contato com o
mundo externo era por meio da televisão e do rádio. Seu marido havia morrido há dez anos
em consequência dos problemas causados pelo álcool.

Características diagnósticas
Para se enquadrar nos critérios de transtorno de pânico (com ou sem agorafobia),
uma pessoa deve experimentar um ataque de pânico inesperado e desenvolver ansiedade
substancial pela possibilidade de ter outro ataque ou por implicações do ataque ou de suas
consequências. Ela deve pensar que cada ataque é sinal de morte iminente ou de
incapacitação. Alguns indivíduos não relatam preocupação sobre outro ataque, mas mudam o
comportamento de maneira que indique a angústia que os ataques lhes causam. Eles podem
evitar ir a certos lugares ou deixar de lado as obrigações domésticas por medo de que
venha a ocorrer um ataque se forem muito ativos.

Um transtorno de pânico envolve breves períodos de ansiedade espontânea


excepcionalmente intensa. Tais períodos vêm e vão subitamente, geralmente durante
alguns minutos, e sua ocorrência é imprevisível. Eles parecem “vir do nada” e podem até
mesmo começar durante o sono (ataques de pânico noturno). Além de sentimentos
psicológicos intensos de apreensão, medo e terror, o indivíduo experimenta sintomas físicos
que podem incluir respiração curta, palpitações cardíaca, dores no peito, sensações de
asfixia ou sufocação, tontura, sentimentos de irrealidade, formigamento das extremidades,
30

calafrios e calores, suor, fraqueza e tremor. Devido aos sintomas físicos, um indivíduo que
está experimentando um ataque de pânico pode pensar que está tendo um ataque cardíaco.
Os ataques de pânico são muito assustadores. Os indivíduos que experimentam
ataques de pânico tornam-se preocupados sobre perder o controle e muitas vezes pensam
que estão “ficando loucos”; portanto, às vezes começam a evitar lugares públicos em favor
de ficar em casa, onde se sentem seguros. Se a evitação torna-se extrema, o indivíduo pode
ser diagnosticado como sofrendo de um transtorno de pânico com agorafobia ao invés de
simplesmente um transtorno de pânico. Entre os ataques o indivíduo fica frequentemente
ansioso em relação a possíveis ataques iminentes; provocando, portanto, um nível geral
elevado de ansiedade.

AGORAFOBIA.

CRITÉRIO DIAGNÓSTICO – DSM-5 AGORAFOBIA

A. Medo ou ansiedade marcantes acerca de duas (ou mais) das cinco situações seguintes:
1. Uso de transporte público (p. ex., automóveis, ônibus, trens, navios, aviões).
2. Permanecer em espaços abertos (p. ex., áreas de estacionamentos, mercados, pontes).
3. Permanecer em locais fechados (p. ex., lojas, teatros, cinemas).
4. Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão.
5. Sair de casa sozinho.
B. O indivíduo tem medo ou evita essas situações devido a pensamentos de que pode ser
difícil escapar ou de que o auxílio pode não estar disponível no caso de desenvolver
sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores (p. ex., medo
de cair nos idosos; medo de incontinência).
C. As situações agorafóbicas quase sempre provocam medo ou ansiedade.
D. As situações agorafóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença de uma
companhia ou são suportadas com intenso medo ou ansiedade.
E.O medo ou ansiedade é desproporcional ao perigo real apresentado pelas situações
agorafóbicas e ao contexto sociocultural.
F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses.
G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
H. Se outra condição médica (p. ex. doença inflamatória intestinal, doença de Parkinson)
está presente, o medo, ansiedade ou esquiva é claramente excessivo.
I. O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas de outro
transtorno mental – por exemplo, os sintomas não estão restritos a fobia específica, tipo
situacional; não envolvem apenas situações sociais (como no transtorno de ansiedade social);
e não estão relacionados exclusivamente a obsessões (como no transtorno obsessivo-
compulsivo), percepção de defeitos ou falhas na aparência física (como no transtorno
dismórfico corporal) ou medo de separação (como no transtorno de ansiedade de
separação).

Nota: A agorafobia é diagnosticada independentemente da presença de transtorno de


pânico. Se a apresentação de um indivíduo satisfaz os critérios para transtorno de pânico e
agorafobia, ambos os diagnósticos devem ser dados.

O principal sintoma de agorafobia é medo de estar em lugares públicos dos quais


poderia ser difícil escapar se o indivíduo subitamente se tornasse ansioso. Em certo
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sentido, a agorafobia é um medo de ficar com medo e está associado a lugares públicos
porque em tais situações o medo seria mais disruptivo e constrangedor. Seguidamente os
indivíduos com agorafobia também têm medo de ficar sozinhos porque caso comecem a
experimentar seu medo eles desejam ter alguém por perto para ajudá-los.
Em decorrência do medo associado a lugares públicos, a vida das pessoas com
agorafobia é dominada por suas tentativas de evitar contato com grandes grupos de
pessoas. Portanto, tais indivíduos podem se confinar em suas casas e aventurar-se fora
delas o menos possível. Eles não evitam multidões porque têm algum delírio ou estão
deprimidos e desejam ficar sós, mas, ao contrário, estar com muita gente os deixa
temerosos porque “algo” poderia lhes acontecer.
O termo agorafobia foi cunhado em 1871 por Westphal e, no grego original, refere-
se ao medo da praça do mercado. Esse é um termo muito apropriado porque a ágora, o
mercado público grego, era um lugar muito cheio em que havia muito alvoroço. Umas das
áreas mais estressantes para os indivíduos com agorafobia hoje são os centros comerciais,
as ágoras modernas.

3. FOBIA ESPECÍFICA.

CRITÉRIOS DO DSM-5 PARA FOBIAS ESPECÍFICAS

A. Medo ou ansiedade acentuada acerca de um objeto ou situação (p.ex., voar, alturas,


animais, tomar injeção, ver sangue).
Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso por choro, ataques de raiva,
imobilidade ou comportamento de agarrar-se.
B. O objeto ou situação fóbica quase invariavelmente provoca uma resposta imediata de
medo ou de ansiedade.
C. O objeto ou situação fóbica é ativamente evitado ou suportado com intensa ansiedade
ou sofrimento.
D. O medo ou ansiedade é desproporcional em relação ao perigo real imposto pelo objeto ou
situação específica e ao contexto sociocultural.
E. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente com duração mínima de seis
meses.
F. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
G. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental,
como o transtorno obsessivo-compulsivo (por exemplo, medo de sujeira em alguém com
obsessão por contaminação), transtorno de estresse pós-traumático (por exemplo, esquiva
de estímulos associados com um estressor grave), transtorno de ansiedade de separação
(por exemplo, esquiva da escola), fobia social (por exemplo, esquiva de situações sociais em
razão do medo do constrangimento), transtorno de pânico com agorafobia ou agorafobia
sem histórico de transtorno de pânico.

Caso Herbert: ambiente natural


Herbert é um advogado de 32 anos que busca tratamento para seu medo irracional
de tempestades. Ele tem essa fobia desde a idade de quatro anos e durante toda a sua vida
desenvolveu várias estratégias para lidar com seu medo. Sempre que possível evita sair
quando uma tempestade está prevista. Ele não apenas permanece dentro de casa, mas
assegura-se de estar em uma peça sem janelas e sem aparelhos elétricos. Á medida que seu
trabalho foi crescendo em responsabilidades, Herbert descobriu que não pode mais se dar
o luxo de se ausentar devido a seu medo, que sabe ser irracional.
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Uma fobia específica envolve um medo irracional em relação a um objeto ou


situação diferente de multidões (agorafobia) e crítica pessoal (ansiedade social).
É um medo irracional de um objeto ou de uma situação específica que notadamente
interfere na capacidade de viver de um indivíduo. Antes do DSM-IV, essa categoria era
chama da fobia “simples” para distingui-la da condição mais complexa da agorafobia. A
fobia específica é uma categoria residual que inclui todas as demais. Tradicionalmente, as
fobias eram nomeadas com a palavra grega para o objeto ou situação temida, mas isto não é
mais feito de forma consistente.

Exemplos de algumas fobias específicas:

Acrofobia: medo de lugares altos Misofobia: medo de contaminação


Algofobia: medo de dor Nictofobia: medo de escuro
Astrafobia: medo de tempestades Oclofobia: medo de multidões
Claustrofobia: medo de lugares pequenos Patofobia: medo de doenças
Hematofobia: medo de sangue Sifilofobia: medo de sífilis
Monofobia: medo de ficar sozinho Zoofobia: medo de animais

CAUSAS DAS FOBIAS ESPECÍFICAS


Por muito tempo acreditava-se que a maioria das fobias específicas começava com
um acontecimento traumático incomum. Por exemplo, se alguém fosse mordido por um
cachorro e desenvolvesse fobia de cães. Hoje, sabemos que nem sempre é esse o caso. Um
indivíduo com claustrofobia que esteve recentemente em nossa clínica relatou ter ficado
preso em um elevador por um período muito longo. Esse é um exemplo de fobia adquirida
pela experiência direta em que o perigo ou a dor real resulta em uma resposta de alarme
(alarme verdadeiro).
Essa é uma maneira de desenvolver fobias, e existem pelo menos três outras:
experimentando um falso alarme (ataque de pânico) em uma situação específica [exemplo:
indivíduos que experimentaram um ataque de pânico inesperado durante o qual sentiram que
perderiam o controle do carro e matariam metade das pessoas na rodovia. De fato, o ato de
dirigir não foi prejudicado e os pensamentos catastróficos eram parte de um ataque de
pânico]; observando alguém experimentando medo extremo (experiência vicária) [exemplo:
ver alguém passar por uma experiência traumática ou sofrer intenso medo pode ser o
suficiente para desencadear uma fobia no observador] ou, nas condições certas, ouvir
sobre o perigo [exemplo: Um adolescente assentou-se na sala de espera do consultório do
dentista da escola, observando parcialmente, mas escutando tudo em relação ao amigo que
estava se tratando. A reação do rapaz à dor quando a broca lhe perfurou a boca fez que se
mexesse de repente. O rapaz na sala de espera, que supôs o incidente, saiu em disparada e
desenvolveu um medo grave e de longa duração de situações relacionadas a dente].
Experiências aterrorizantes por si sós não criam fobias. Uma fobia verdadeira
requer ansiedade quanto à possibilidade de outro acontecimento extremamente traumático
ou falso alarme. Quando estamos ansiosos, antecipamos alguma coisa terrível e somos
propensos a evitar situações em que aquela coisa terrível poderia ocorrer. Se não
desenvolvemos ansiedade, nossa reação presumivelmente estaria na categoria dos medos
normais experimentados por metade das pessoas.
33

4. TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL).

CRITÉRIOS DO DSM-5 PARA TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL)

A. Medo marcante e persistente de uma ou mais situações ou desempenho social no(s)


qual(quais) alguém é exposto a pessoas não familiares ou à possível avaliação. O indivíduo
teme agir (ou mostrar sintomas de ansiedade) de forma que seja humilhado ou
constrangido.
B. A exposição à situação social temida quase invariavelmente provoca ansiedade, que pode
assumir a forma de ataque de pânico ligado a situações ou predisposto por situações.
C. A pessoa reconhece que o medo é excessivo ou não racional.
D. As situações ou demonstrações socialmente temidas são evitadas ou vividas com
ansiedade ou angústia intensa.
E. A esquiva, antecipação ansiosa ou angústia de situação(ões) social(ais) ou
demonstração(ões) temida(s) interfere de maneira significativa na rotina da pessoa, de
desempenho ocupacional (acadêmico) ou nas atividades e relações sociais, ou existe
angústia marcante em relação a ter a fobia.
F. Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração é de pelo menos seis meses.
G. O medo ou a esquiva não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por
exemplo, abuso de droga, medicação) ou da condição geral de saúde, e não é explicado de
uma maneira melhor por nenhum outro transtorno mental (por exemplo, transtorno de
pânico com ou sem agorafobia, transtorno de ansiedade de separação, transtorno de corpo
dismórfico, transtorno pervasivo do desenvolvimento ou transtorno de personalidade
esquizoide).
H. Se uma condição geral de saúde ou outro transtorno mental estiver presente, o medo do
critério A não é relacionado a ela: por exemplo, o medo não é de gaguejar, tremer de mal de
Parkinson ou demonstrar o comportamento alimentar anormal da anorexia ou da bulimia
nervosas.

Caso Billy: tímido demais


Billy era o modelo de bom garoto. Fazia o dever de casa, mantinha-se longe dos
problemas, obedecia aos pais e era tão quieto e reservado que não atraía muita atenção.
Entretanto, quando foi para o ensino médio, algo que seus pais já tinham observado tornou-
se evidente. Billy não tinha amigos. Ele não queria frequentar atividades sociais ou
esportivas relacionas à escola, mesmo se a maioria dos garotos da classe fosse aos eventos.
Quando seus pais decidiram conversar com a orientadora educacional, descobriram que ela
estava para chamá-los. Ela relatou que Billy não se socializava nem falava em voz alta na
classe, e ficava com dor de barriga, caso soubesse que seria solicitado para explicar algo.
Os professores tinham dificuldades para tirar dele qualquer coisa além de “sim” ou “não”. O
mais preocupante era que ele tinha sido descoberto se escondendo no banheiro durante o
lanche, o que ele disse estar fazendo por diversos meses em vez de ir se alimentar. Após
Billy ser encaminhado para a clínica foi diagnosticado como um caso grave de ansiedade
social, um medo exagerado e irracional de situações sociais. Ele tinha medo de ser
constrangido ou humilhado na presença de qualquer pessoa, exceto de seus pais.

A ansiedade social resulta em uma evitação de grupos, mas ao invés de originar-se


de algum medo vago de perder o controle, o transtorno é em geral embasado no medo
irracional do indivíduo de que se comportará de uma forma constrangedora e então
será criticado pelos demais. Trata-se, então, sobremaneira, de um medo de crítica, e um
indivíduo com uma ansiedade social evita pessoas para evitar críticas.
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A ansiedade de uma pessoa com fobia social não se origina de qualquer delírio
específico (por exemplo, de que os outros estão conspirando contra ela), mas, antes, de um
medo geral de que ele ou ela será criticado por comportamento inapto. Obviamente a
ansiedade social pode restringir severamente a via de uma pessoa.
O tipo mais comum de demonstração de ansiedade que a maioria das pessoas relata
é falar em público. Outras situações comuns são comer em restaurante; assinar papéis
diante de um escriturário ou, para os homens, urinar em um banheiro público.

 Considerando-se as dificuldades de encontrar pessoas, não é surpreendente que uma


porcentagem maior dos indivíduos com ansiedade social seja composta por solteiros em
comparação a toda a população.

TEXTO 5
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO E TRANSTORNOS RELACIONADOS

A inclusão de um capítulo sobre os transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos


relacionados no DSM-5 reflete as crescentes evidências da relação desses transtornos
entre si em termos de uma gama de validadores diagnósticos, bem como a utilidade clínica
de agrupá-los em um mesmo capítulo. Os clínicos são encorajados a avaliar essas condições
em indivíduos que se apresentam com uma delas e a terem conhecimento das sobreposições
existentes entre elas. Ao mesmo tempo, há diferenças importantes nos validadores
diagnósticos e nas abordagens de tratamento entre esses transtornos. Além do mais,
existem relações íntimas entre os transtornos de ansiedade e alguns dos transtornos
obsessivo-compulsivos e transtornos relacionados (p. ex.,TOC), o que se reflete na
sequência dos capítulos do DSM-5, com os transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos
relacionados vindo logo após os transtornos de ansiedade.

1. TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC)

CRITÉRIOS DO DSM-5 PARA TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO

A. Tanto para obsessões quanto para compulsões.


As obsessões são definidas pelos números 1, 2, 3 e 4:
1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são experimentadas,
em algum momento durante a perturbação, como intrusivos ou inapropriados, causam
ansiedade e angústia marcantes.
2. Pensamentos, impulsos ou imagens não são simples preocupações com o problema da vida
real.
3. A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou
neutralizá-las com algum outro pensamento ou atitude.
4. A pessoa reconhece que os pensamentos, impulsos e imagens obsessivos são um produto
da própria mente (não são impostos apenas exteriormente, como uma inserção de
pensamento).

As compulsões definidas pelos números 1 e 2:


1. Comportamentos repetitivos (por exemplo, lavar as mãos, colocar em ordem, verificar)
ou atos mentais (por exemplo, rezar, contar, repetir palavras silenciosamente) de maneira
que a pessoa se sente impulsionada a agir em resposta a uma obsessão ou de acordo com as
regras que devem ser aplicadas rigidamente.
35

2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a angústia ou prevenir


algum evento ou situação pavorosa; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não
estão conectados de maneira realista ao que eles são designados a neutralizar ou prevenir,
ou são claramente exagerados.
B. Em algum momento durante o curso do transtorno, a pessoa reconhece que as obsessões
ou compulsões são exageradas ou irracionais.
C. As obsessões ou compulsões causam angústia notável, consomem tempo (mais de uma
hora por dia) ou interferem significativamente na rotina normal da pessoa, no desempenho
ocupacional (ou acadêmico), nas atividades ou relações sociais comuns.
D. Se outro transtorno do eixo I estiver presente, o conteúdo das obsessões ou
compulsões não é restrito a ele (por exemplo, preocupação com comida na presença de
transtorno alimentar; arrancar cabelos na presença de tricotilomania; preocupar-se com a
aparência na presença de transtorno de corpo dismórfico; preocupação com drogas na
presença de transtorno por uso de substância; preocupação em ter uma doença grave na
presença de hipocondria; preocupação com fantasias ou impulsos sexuais na presença de
parafilia; ou ruminações de culpa na presença de transtorno depressivo grave).
E. A perturbação não se deve aos efeitos de uma substância (por exemplo, abuso de
drogas, medicação) ou a uma condição médica geral.

Especificar se:
Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do transtorno
obsessivo-compulsivo são definitiva ou provavelmente não verdadeiras ou que podem ou não
ser verdadeiras.
Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do transtorno obsessivo-
compulsivo são provavelmente verdadeiras.
Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de
que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são verdadeiras.
Relacionado a tique: O indivíduo tem história atual ou passada de um transtorno de tique.

Muitos indivíduos com TOC têm crenças disfuncionais. Essas crenças podem incluir
senso aumentado de responsabilidade e tendência a superestimar a ameaça; perfeccionismo
e intolerância à incerteza; e importância excessiva dos pensamentos (p.ex., acreditar que
ter pensamento proibido é tão ruim quanto executá-lo) e necessidade de controlá-los. Os
indivíduos com TOC variam no grau de insight que têm quanto à exatidão das crenças
subjacentes aos seus sintomas obsessivo-compulsivos. Muitos têm insight bom ou razoável
(p. ex., o indivíduo acredita que a casa definitivamente não irá ou pode ou não incendiar se o
fogão não for verificado 30 vezes). Alguns têm insight pobre (p. ex., o indivíduo acredita
que a casa provavelmente irá incendiar se o fogão não for verificado 30 vezes), e poucos
(menos de 4%) têm insight ausente/crenças delirantes (p. ex., o indivíduo está convencido
de que a casa irá incendiar se o fogão não for verificado 30 vezes). O insight pode variar
em um indivíduo durante o curso da doença. O insight mais pobre foi vinculado a pior
evolução no longo prazo. Até 30% dos indivíduos com TOC têm um transtorno de tique ao
longo da vida. Isso é mais comum no sexo masculino com início do TOC na infância. Esses
indivíduos tendem a diferir daqueles sem história de transtornos de tique nos temas dos
seus sintomas obsessivo-compulsivos, comorbidade, curso e padrão de transmissão familiar.

Caso Richard: escravizado pelo ritual


Richard, um calouro de 19 anos que se graduaria em filosofia, deixou a faculdade em
razão de comportamento ritualístico incapacitante. Ele abandonou a higiene pessoal, porque
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os rituais compulsivos que tinha de empreender durante o banho ou a limpeza consumiam


tanto tempo que ele não conseguia fazer mais nada. Banhos quase contínuos diminuíram para
nenhum banho. Ele parou de cortar e lavar os cabelos e de fazer a barba, escovar os dentes
e, para evitar rituais associados com o banheiro, defecava em papel-toalha, urinava em copo
descartável e armazenava os dejetos no armário. Ele se alimentava apenas tarde da noite,
quando sua família estava dormindo. Para conseguir comer, ele tinha de exalar o ar
completamente, fazer muitos barulhos sibilantes, pigarrear e tossir, e então enchia a boca
com o máximo de comida possível enquanto nenhum ar estivesse em seus pulmões. Ele comia
somente uma mistura de amendoim, açúcar, achocolatado, leite e maionese. Todos os outros
alimentos ele considerava contaminadores. Quando caminhava, dava passos muito curtos nas
pontas dos pés enquanto olhava sempre para trás, verificando e verificando novamente. De
vez em quando, ele corria sem sair do lugar. Ele retirava o braço esquerdo da manga da
camisa como se fosse deficiente e sua camisa fosse uma tipóia.

Em outros transtornos de ansiedade, o perigo geralmente está em um objeto ou em


uma situação externa, ou pelo menos na memória de alguém. No TOC, o acontecimento
perigoso é um pensamento, uma imagem ou um impulso que o paciente tenta evitar tanto
quanto alguém com fobia de cobra evita esse animal.

O transtorno obsessivo-compulsivo envolve obsessões ou compulsões recorrentes


ou ambos. Uma obsessão é uma ideia, pensamento, imagem ou impulso persistente que o
indivíduo não consegue tirar da sua mente. Uma vez que eles não estão sob controle
voluntário e são amiúde repugnantes para o indivíduo, diz-se que as obsessões são
egodistônicas. Obsessões e preocupações, ambos envolvem pensamento perseverativo, mas
há diferenças importantes entre eles e eles não deveriam ser confundidos. De modo geral,
as preocupações são usualmente relacionadas a experiências cotidianas (por exemplo,
trabalho, dinheiro, família), ocorrem na forma de um pensamento, via de regra não são
repugnantes, são vistas como controláveis e não são, em geral, repelidas pelo indivíduo.
Em contraste, as obsessões geralmente giram ao redor de um tópico singular (por
exemplo, sujeira, contaminação, morte, agressão, preocupações somáticas e a necessidade
por simetria), muitas vezes envolvem impulsos bem como pensamentos, são muitas vezes
repugnantes vistas como incontroláveis e repelidas pelo indivíduo.
As obsessões clínicas comuns são pensamentos reiterados de violência (matar ou
prejudicar alguém), contaminação (tornar-se infectado por germes) e dúvida
(persistentemente pensar se fez algo como magoar outro indivíduo). As obsessões podem
prejudicar a habilidade do indivíduo de funcionar eficazmente. Podem também, limitar o
comportamento, como por exemplo, uma obsessão com a viabilidade de infecção pode levar
o indivíduo a evitar situações que envolvem possibilidade de sujeira e germes.
Uma compulsão é um comportamento que é realizado de novo, e de novo, de
um modo estereotipado. O comportamento parece ser destinado a atingir alguma meta
(lavar as mãos para evitar germes), mas em realidade é sem sentido e ineficaz (para
começas as mãos não estavam sujas). O indivíduo percebe a irracionalidade do
comportamento e não extrai qualquer prazer particular dele, mas se torna tenso e ansioso
se o comportamento não é desempenhado. As compulsões clinicamente comuns incluem lavar
as mãos, contar, verificar e tocar. Conforme ocorre com as obsessões, as compulsões
podem prejudicar seriamente o funcionamento normal. Além de interferir com atividades
normais, as compulsões podem exercer outros efeitos sérios. Por exemplo, um indivíduo
com uma compulsão por lavar as mãos pode lavar suas mãos até que a pele tenha sido
literalmente esfolada.
37

Comportamentos como comer, beber e jogar quando executados excessivamente


são, às vezes, referidos como “compulsivos”. No entanto, este é um uso incorreto do termo
porque prazer é derivado destas atividades, mesmo que elas conduzam a resultados
negativos. As compulsões verdadeiras não são agradáveis, exceto pelo fato de que elas
podem brevemente evitar a ansiedade.
Como toda pessoa com TOC, Richard experimentava pensamentos e impulsos
intrusivos e persistentes; no caso dele, eram pensamentos sobre sexo, agressão e religião.
Seus diversos comportamentos eram esforços para suprimir os pensamentos sexuais e
agressivos e repelir as consequências desastrosas que ele pensava se seguiriam, caso ele
não fizesse os rituais.

2. TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL (TDC)

Caso Vicente:
Vicente Mancini, solteiro, 26 anos, foi levado para uma avalição ambulatorial por
seus pais porque eles estavam angustiados com seus sintomas. Desde os 13 anos, ele sempre
havia se preocupado com sua pele “cheia de cicatrizes”, seu cabelo “escasso”, suas orelhas
“assimétricas” e sua constituição física “magricela” e “muscularmente inadequada”. Embora
tivesse uma aparência normal, Vicente estava totalmente convencido de que era “feio e
medonho” e acreditava que as outras pessoas falavam dele e o ridicularizavam por causa de
sua aparência. Ele passava de 5 a 6 horas por dia verificando compulsivamente as áreas do
corpo das quais não gostava na frene de espelhos e de outras superfícies refletoras, como
janelas, arrumando excessivamente o cabelo para “criar uma ilusão de volume”, puxando as
orelhas na tentativa de “deixa-las parelhas” e comparando sua aparência com a de outras
pessoas. Vicente perdeu vários meses de aula quando estava no ensino médio porque estava
preocupado demais para fazer o dever de casa, se sentia obrigado a sair da sala de aula
para se olhar no espelho e constrangido demais por ser visto pelos outros. Por esses
motivos não conseguiu frequentar a faculdade. Retraiu-se socialmente e não namorava
“porque nenhuma garota iria querer namorar alguém tão feio como eu”. Ele considerava
suicidar-se frequentemente porque achava que não valia a pena viver “com essa aparência
esquisita” e porque se sentia isolado e ignorado devido à sua “feiura”. Vicente relatou
humor deprimido, anedonia, desvalia, má concentração e ideação suicida, atribuindo todos
esses sintomas às suas preocupações com a aparência. Com o sofrimento causado por sua
aparência, consumia álcool e maconha. Usava proteína em pó para “criar músculos”, mas
negou o uso de anabolizantes. Estava bem vestido, bem cuidado e usava boné. Ele não
apresentava nenhum defeito físico óbvio. Seu contato visual era escasso. Estava orientado
e sua cognição estava amplamente preservada. Seu discurso era normal e estava totalmente
convencido de que era feio, mas não tinha outros sintomas psicóticos. Acreditava que seus
“defeitos” na aparência eram reais e não atribuíveis a um transtorno psiquiátrico.

Características diagnósticas
Os indivíduos com transtorno dismórfico corporal (TDC) são preocupados com um ou
mais defeitos ou falhas percebidas em sua aparência física, que acreditam parecer feia,
sem atrativos, anormal ou defeituosa. As falhas percebidas não são observáveis ou parecem
apenas leves para outros indivíduos. As preocupações variam desde parecer “sem atrativos”
ou “não adequado” até parecer “hediondo” ou “como um monstro”. Podem focar em uma ou
mais áreas do corpo, mais comumente a pele (p. ex., percepção de acne, cicatrizes, rugas,
palidez), os pelos (p. ex., cabelo “escasso” ou pelo corporal ou facial “excessivo”) ou o nariz
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(p. ex., tamanho ou formato). As preocupações são intrusivas, indesejadas, tomam tempo e
geralmente são difíceis de resistir ou controlar.
Os comportamentos repetitivos ou atos mentais excessivos (p. ex., comparações)
são executados em resposta à preocupação. O indivíduo se sente compelido a executar
esses comportamentos, os quais não são prazerosos e podem aumentar a ansiedade e a
disforia. Os comportamentos comuns são comparar a própria aparência com a de outros
indivíduos; verificar repetidamente os defeitos percebidos em espelhos ou em outras
superfícies refletoras ou examiná-los diretamente; arrumar-se de maneira excessiva;
camuflar (aplicando maquiagem repetidamente ou cobrindo as áreas em questão com coisas
como chapéu, roupas ou cabelos); tocar as áreas em questão; fazer exercícios em excesso;
e procurar procedimentos estéticos. Arrancar a pele compulsivamente com a intenção de
melhorar os defeitos percebidos é comum e pode causar lesões cutâneas, infecções ou
ruptura de vasos sanguíneos. Esse transtorno deve ser diferenciado de um transtorno
alimentar.

3. TRANSTORNO DE ACUMULAÇÃO

Caso Wendy:
Wendy Nichols, mulher, 47 anos, solteira, encaminhada para uma equipe de saúde
mental comunitária para o manejo de uma apresentação mista de humor deprimido e
ansiedade generalizada. Ela nunca havia tomado medicamentos psiquiátricos. A história
médica de Wendy não tinha nada fora do comum. Ela morava sozinha, em um apartamento
de dois quartos, sem família nem amigos nas proximidades. Tinha diploma universitário e
trabalha durante meio expediente como auxiliar de vendas em uma loja de miudezas de
caridade. Durante o exame inicial, tinha a aparência de uma mulher bem vestida,
expressiva, coerente e cooperativa. Ela estava claramente deprimida. Queixou-se de má
concentração e dificuldade em se organizar. Negou uso inadequado de substâncias. O
clínico percebeu que a bolsa de Wendy estava cheia de contas e de outros documentos. Ao
ser indagada a respeito, ela inicialmente deu de ombros, afirmando que “carregava o
escritório com ela”. Quando o entrevistador insistiu, veio à tona que Wendy havia tido
dificuldades em descartar documentos de negócios, jornais e revistas desde que podia se
lembrar. Achava que tudo havia começado quando a mãe se livrou de todos os brinquedos
velhos quando ela tinha 12 anos. Agora, muitos anos depois, o apartamento de Wendy estava
repleto de livros, objetos de escritório, trabalhos manuais, embalagens plásticas, caixas de
papelão e todo tipo de coisas. Disse que sabia que era um pouco incomum, mas esses itens
poderiam ser úteis algum dia. Afirmou: “quem guarda, tem”. A ideia de descartar qualquer
um desses pertences lhe causava muito sofrimento. Os cômodos do apartamento de Wendy
haviam começado a se encher depois que ela completara 30 anos de idade e, no momento da
entrevista, ela tinha pouco espaço para viver. Sua cozinha estava quase totalmente tomada,
de modo que ela usava um frigobar e um forno elétrico espremido entre as pilhas de papel
acumuladas no corredor. Fazia as suas refeições na única cadeira desocupada. Á noite movia
uma pilha de papéis de cima da cama para a cadeira livre para que pudesse dormir.
Constrangida pela condição em que seu apartamento se encontrava, não contara a ninguém
sobre seu comportamento e não convidara ninguém para visitá-la nos últimos 15 anos.
Recusou a oferta do clínico de fazer uma visita à sua casa, mas ofereceu algumas fotos da
câmara de celular. As fotos mostravam móveis, papéis, caixas e roupas empilhadas do chão
até o teto. Além dos sentimentos de tristeza e solidão de longa data, bem como da
ansiedade que sofria cada vez que tentava arrumar o apartamento ou sempre que alguém
39

tentava fazer amizade, Wendy negou outros sintomas psiquiátricos, incluindo delírios e
alucinações, obsessões ou outro comportamento compulsivo.

Características diagnósticas
A característica essencial do transtorno de acumulação são as dificuldades
persistentes de descartar ou se desfazer de pertences, independentemente do seu valor
real. O termo persistente indica uma dificuldade permanente em vez de circunstâncias
vitais mais transitórias que pode levar ao acúmulo excessivo, como herdar uma propriedade.
A dificuldade em descartar pertences refere-se a qualquer forma de descarte, incluindo
jogar fora, vender, dar ou reciclar. As principais razões dadas para essas dificuldades são
a utilidade percebida ou o valor estético dos itens ou um forte apego sentimental aos
pertences. Alguns indivíduos se sentem responsáveis pelo destino de seus pertences e com
frequência se esforçam muito para evitar o desperdício. O medo de perder informações
importantes também é comum. Os itens mais comumente guardados são jornais, revistas,
roupas velhas, bolsas e livros, correspondência e papelada, mas praticamente qualquer item
pode ser guardado. Não só coisas inúteis ou de valor limitado, mas muitos indivíduos juntam
e também guardam muitas coisas valiosas, as quais com frequência são encontradas em
pilhas misturadas com outros itens menos valiosos.
Os indivíduos com transtorno de acumulação guardam intencionalmente os
pertences e experimentam sofrimento quando enfrentam a perspectiva de descarta-los.
Guardar esses objetos é intencional, o que discrimina o transtorno de acumulação de outras
formas de psicopatologia que são caracterizadas pela acumulação passiva de itens ou pela
ausência de sofrimento quando os pertences são removidos.
Os indivíduos acumulam muitos itens que se empilham e obstruem áreas em uso a
ponto de sua utilização pretendida não ser mais possível. Por exemplo, o indivíduo pode não
conseguir preparar alimentos na cozinha, dormir na sua cama ou sentar em uma cadeira. Se
o espaço pode ser usado, é somente com grande dificuldade. Obstrução é definida como um
grande grupo de objetos em geral não relacionados ou marginalmente relacionados
empilhados juntos de forma desorganizada em espaços designados para outros propósitos
(p. ex., em cima da mesa, no chão, no corredor); em vez de áreas mais periféricas, como
garagens, sótãos ou porões, que às vezes ficam obstruídas nas casas das pessoas sem o
transtorno.
Em alguns casos, as áreas de estar podem estar desobstruídas devido à intervenção
de outras pessoas (p. ex., membros da família, funcionários da limpeza, autoridades locais).
Os indivíduos que foram forçados a limpar suas casas ainda têm um quadro de sintomas que
satisfaz os critérios para transtorno de acumulação, porque a ausência de obstrução deve-
se à intervenção de outras pessoas.
O transtorno de acumulação contrasta com o comportamento de colecionar, que é
organizado e sistemático, mesmo que em alguns casos a quantidade real de pertences possa
ser similar à quantidade acumulada por uma pessoa com transtorno de acumulação. A
atividade de colecionar normal não produz obstrução, sofrimento ou prejuízo típico do
transtorno de acumulação.
Os sintomas (i.e., dificuldades de descartar e/ou obstrução) devem causar
sofrimento clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras
áreas importantes da vida do sujeito, incluindo a manutenção de um ambiente seguro para si
e para os outros.
40

4. TRICOTILOMANIA (TRANSTORNO DE ARRANCAR O CABELO)

Caso Zélia:
Zélia Oliver era uma mulher de 22 anos que se apresentou a seu clínico geral depois
de ler um artigo de revista sobre tricotilomania. Ela nunca havia contado a ninguém (além
de sua mãe) sobre seu hábito de arrancar o cabelo, mas a revista indicava que era uma
ocorrência razoavelmente comum e tratável. Estava pessimista quanto aos resultados, mas
ela e a mãe haviam concordado que devia buscar ajuda.
O hábito de arrancar cabelos de Zélia ocorria com maior frequência, como um
ritual, quando ela voltava do trabalho para casa. Procurava cabelos com uma textura
específica na coroa da cabeça (embora também arrancasse pelos das sobrancelhas, dos
cílios e da região púbica). Sentia um alívio imenso se o cabelo saísse com a raiz. Ela, então,
normalmente mordia a raiz do cabelo e engolia o resto. Nunca apresentou sintomas
gastrintestinais após engolir cabelo. Ela afirmou que o hábito havia começado aos 12 anos e
que nunca conhecera ninguém com comportamento semelhante.
Zélia fez um grande esforço para cessar o comportamento e, às vezes, conseguia
interrompê-lo durante vários meses. Quando o hábito retornava, ela novamente se sentia
envergonhada e com raiva de si mesma, Lenços e chapéus cobriam a área calva, mas ela
normalmente se afastava da companhia de amigos e namorados para evitar ser pega.
Mesmo quando o comportamento a desanimava, Zélia não apresentava sintomas
vegetativos de depressão. Além do medo de ser descoberta, não tinha ansiedade
proeminente. Negou obsessões, compulsões, acúmulo, tiques e preocupações com defeitos
do corpo ou em relação a ter uma doença.

Características diagnósticas
A característica essencial da tricotilomania é arrancar o próprio cabelo de forma
recorrente. Esse comportamento pode ocorrer em qualquer região do corpo em que
crescem pelos; os locais mais comuns são o couro cabeludo, as sobrancelhas e os cílios,
enquanto os menos comuns são as regiões axilar, facial, púbica e perirretal. Os locais de
onde o cabelo é arrancado podem variar com o tempo. O ato de arrancar o cabelo pode
ocorrer em breves períodos distribuídos durante o dia ou durante períodos menos
frequentes, porém mais intensos, que podem continuar por horas, e esse ato pode durar por
meses ou anos. Normalmente, o ato de arrancar cabelo leva à perda de cabelo, embora os
indivíduos com esse transtorno possam fazê-lo em um padrão bem distribuído (i.e., puxar os
fios individuais dispersos), de forma que a perda de cabelo pode não ser claramente visível,
ou então podem tentar esconder ou camuflar tal perda (p. ex., usando maquiagem, lenços ou
perucas). Os indivíduos com tricotilomania já fizeram repetidas tentativas de reduzir ou
parar o ato de arrancar o cabelo. Esse transtorno deve causar sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo. O termo sofrimento inclui afetos negativos que podem ser
experimentados pelos indivíduos que arrancam o cabelo, tais como sensação de perda de
controle, constrangimento e vergonha.
Existem evidências de vulnerabilidade genética para a tricotilomania. O transtorno
é mais comum em indivíduos com TOC e em seus parentes de primeiro grau do que na
população em geral.
41

TEXTO 6
TRANSTORNOS RELACIONADOS A TRAUMA E A ESTRESSORES

Os transtornos relacionados a trauma e a estressores incluem transtornos nos quais a


exposição a um evento traumático ou estressante está listada explicitamente como um
critério diagnóstico O sofrimento psicológico subsequente à exposição a um evento
traumático ou estressante é bastante variável. Em alguns casos, os sintomas podem ser
bem entendidos em um contexto de ansiedade ou medo. Entretanto, está claro que muitos
indivíduos que foram expostos a um evento traumático ou estressante exibem um fenótipo
no qual, em vez de sintomas de ansiedade ou medo, as características clínicas mais
proeminentes são sintomas anedônicos e disfóricos, externalizações de raiva e
agressividade ou sintomas dissociativos. Em virtude dessas expressões variáveis de
sofrimento clínico depois da exposição a eventos catastróficos ou aversivos, esses
transtornos foram agrupados em uma categoria distinta: transtornos relacionados a trauma
e a estressores.

1. TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO (TEPT)

CRITÉRIOS DO DSM-5 PARA O TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

A. Exposição ou ameaça de morte, ferimento grave, violação sexual de uma das seguintes
formas:
1. Exposição direta ao evento traumático
2. Testemunhou o evento
3. Soube do evento através de um familiar ou amigo próximo (evento violento ou acidental)
4. Foi extremamente exposto a muitos detalhes do evento (ex. Bombeiros, policial) Não
inclui eventos exposto somente através de mídia eletrônica e TV.
B. Pelo menos 1 sintoma intrusivo (1/3) (Memória intrusiva e recorrente do trauma, sonhos
recorrentes, reações dissociativas tipo flashback)
C. Pelo menos 1 sintoma de evitação (1/2) (evitação de lembranças, evitação de indícios
externos que lembrem o trauma)
D. Duas ou mais alterações de humor e cognições (2/7) (incapacidade de recordar aspectos
do trauma, crenças persistentes e exageradas quanto a si mesmo, os outros ou o mundo,
Cognições distorcidas quanto às causas ou às consequências do trauma, estado emocional
negativo persistente, redução de interesse e participação em atividades relevantes,
sensação de distanciamento e afastamento de outras pessoas, incapacidade persistente de
sentir emoções positivas).
E. Dois ou mais sintomas de excitabilidade aumentada (2/5) (irritabilidade ou surtos de
raiva, comportamento autodestrutivo, hipervigilância, resposta de sobressalto exagerada,
dificuldade de concentração, dificuldade em conciliar ou manter o sono)
F. Duração superior a um mês.
G. Sofrimento significativo ou prejuízo funcional H. Não é secundário a efeito de
substância ou condição médica.

Especificar, se:
Com expressão tardia: Se todos os critérios diagnósticos não forem atendidos até pelo
menos seis meses depois do evento (embora a manifestação inicial e a expressão de alguns
sintomas possam ser imediatas).
42

Caso Os Jones: uma vítima, muitos traumas.


Sra. Betty Jones e seus filhos foram visitar um amigo em uma fazenda. (Sr. Jones
estava trabalhando). Jeff, o filho mais velho, tinha oito anos. Marcia, Catarina e Susana
tinham seis anos, quatro anos e dois anos. A Sra. Jones estacionou o carro na garagem e
todos atravessaram o terreiro em frente à porta. Repentinamente, Jeff ouviu um rosnado
em algum lugar perto da casa. Antes que pudesse advertir os outros, um grande pastor
alemão pulou em cima de Marcia, a garota de seis anos, derrubando-a no chão e dilacerando
ferozmente sua face. A família, atordoada demais para se mexer, assistiu ao ataque. Após
o que pareceu uma eternidade, Jeff deu uma estocada no cachorro e ele foi embora. O
proprietário do animal, em estado de pânico, correu para uma casa vizinha para pedir ajuda.
A Sra. Jones imediatamente colocou pressão nos ferimentos da face de Marcia na
tentativa de parar a hemorragia. O proprietário descuidou-se do cachorro, que permaneceu
a uma distância curta, rosnando e latindo para a família aterrorizada. Eventualmente,
ralhava-se com o cão; Marcia foi levada às pressas para o Hospital. Histérica, teve de ser
contida em uma maca até que os médicos da sala de emergência pudessem suturar os
ferimentos.

O transtorno de estresse pós-traumático sem dúvida tem existido ao longo da


história, mas ele apenas obteve atenção amplamente difundida desde que foi observado em
veteranos do conflito do Vietnã. O principal sintoma do transtorno é a reexperiência de um
evento traumático. Os eventos traumáticos que precipitam este transtorno são extremos,
incluindo desastres naturais (inundações, terremotos), desastres acidentais (acidentes
aéreos, incêndios) e desastres deliberados (guerras, tortura, campos de concentração,
estupro, assaltos).
A reexperiência pode assumir a forma de memórias dolorosas recorrentes do
evento, sonhos ou pesadelos recorrentes sobre o evento ou flashbacks nos quais por algum
período de tempo (geralmente minutos ou horas, mas às vezes com maior duração) o
indivíduo revive o evento e se comporta como se estivesse experimentando o acontecido
naquele momento. Tal fenômeno de reexperiência pode persistir por muitos anos após o
evento.
Além da reexperiência há muitas vezes um entorpecimento de responsividade geral
ou envolvimento reduzido com o mundo externo. Este entorpecimento psíquico fica
aparente na diminuição de interesse em atividades usuais, sentimento de desprendimento
dos outros e respostas emocionais embotadas quando o indivíduo não está
reexperimentando a experiência traumática. Em suma, o indivíduo tem uma vida limitada e
emocionalmente não aprofundada pontuada por experiências emocionais intensas envolvendo
o trauma anterior.
Por fim, alguns dos outros sintomas que estão às vezes associados ao transtorno de
estresse pós-traumático refletem a estimulação geral e continuada do indivíduo. Tais
sintomas incluem hiperalerteza, problemas com o sono, culpa em relação a sobreviver
quando outros não sobreviveram, problemas de concentração, evitação de atividades que
suscitam memórias do evento traumático e estimulação intensificada quando da exposição a
eventos que simbolizam ou se assemelham ao evento traumático.
Consideremos o caso dos Jones. Esse caso é incomum porque não apenas Marcia
desenvolveu TEPT, mas também seu irmão de 8 anos. Além disso, Catarina, de 4 anos , e
Susana, de 2 anos, embora ainda bastante novas, demonstraram sintomas do transtorno,
assim como sua mãe. Jeff demonstrou sintomas de culpa clássicos: relatou que deveria ter
salvado Marcia ou pelo menos se colocado entre ela e o cão. Tanto Jeff como Marcia
tiveram uma regressão do desenvolvimento, passaram a urinar na cama (enurese noturna) e
43

experimentaram pesadelos e medo de separação. Além disso, Marcia, que foi enfaixada,
tomou anestesia e levou pontos, ficou atemorizada com quaisquer procedimentos médicos, e
até mesmo com os acontecimentos rotineiros do dia-a-dia, como cortar unhas ou tomar
banhos.

CAUSAS DO TEPT
O TEPT é o único transtorno de cuja etiologia tem-se certeza: uma pessoa
experimenta pessoalmente um trauma e desenvolve um transtorno. Entretanto, se alguém
desenvolve TEPT ou não, é uma questão complexa que envolve fatores biológicos,
psicológicos e sociais. David Foy e colaboradores concluíram que a intensidade de exposição
ao combate contribuiu para a etiologia do TEPT em um grupo de veteranos da guerra do
Vietnã, mas não contribuiu para toda ela.
Em relação a outros transtornos, carregamos nossas próprias vulnerabilidades
biológicas e psicológicas. Quanto maior a vulnerabilidade, mais propensos somos de
desenvolver TEPT. Se determinadas características acontecem na família, há uma chance
muito maior de desenvolver o transtorno.
Breslau, Davis e Andeski (1995) expuseram por meio de uma amostra aleatória
1.200 indivíduos, que características como tendência a ser ansioso e fatores como baixo
nível educacional e pertencer a determinado grupo étnico predispõem a exposição a
acontecimentos traumáticos em primeiro lugar e, por conseguinte, a um risco aumentado de
TEPT, ou seja, a personalidade e outras características, algumas delas pelo menos
parcialmente hereditárias, podem predispor uma pessoa a experimentar traumas, de modo
que ela esteja em situações (de risco) em que o trauma é provável de acontecer.
A instabilidade familiar é um fator que pode induzir a sensação de que o mundo é
um lugar perigoso e incontrolável, de maneira que não é surpreendente que os indivíduos de
famílias instáveis corram risco de desenvolver TEPT caso experimentem um trauma.
Por fim, os fatores sociais e culturais desempenham papel importante no
desenvolvimento do TEPT. Os resultados de alguns estudos são muito consistentes ao
mostrar que, se você contar com um grupo forte e apoiador é menos provável que
desenvolva TEPT após um trauma.
Por que isso? Porque somos animais sociais e ter um grupo de pessoas amorosas em
torno de nós afeta diretamente nossas respostas biológicas e psicológicas ao estresse.

TEXTO 7
TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS

Os transtornos dissociativos são caracterizados por perturbação e/ou


descontinuidade da integração normal de consciência, memória, identidade, emoção,
percepção, representação corporal, controle motor e comportamento. Os sintomas
dissociativos podem potencialmente perturbar todas as áreas do funcionamento psicológico.
Os transtornos dissociativos são encontrados com frequência como consequência de
traumas, e muitos desses sintomas, incluindo constrangimento e confusão acerca dos
sintomas ou um desejo de ocultá-los, são influenciados pela proximidade ao trauma.

1. TRANSTORNO DISSOCIATIVO DE IDENTIDADE (TDI)


Caso Myra:
Myra é uma mulher jovem, solteira, que trabalha como vendedora em uma grande
livraria. Ela mora sozinha, não tem vida social e sai apenas para ver seus parentes; veste-se
de maneira conservadora, que seus colegas ridicularizam como hipócrita. Em sua
adolescência, envolveu-se em um relacionamento íntimo com um homem de meia-idade que
44

era bastante abusivo. Embora os outros a alertassem sobre esse relacionamento


perturbado, Myra alega que não tem lembrança dessa pessoa e até se pergunta às vezes se
os outros não inventaram a história para aborrecê-la. Aos 25 anos, diz que está se
guardando sexualmente para o casamento, todavia demonstra total desinteresse em buscar
qualquer relacionamento íntimo com homens. Até agora, isso descreve Myra como seus
amigos e familiares a conhecem. Entretanto, alter egos residem dentro do corpo de Myra, e
eles têm outros nomes e se comportam de formas totalmente incongruentes com a
personalidade de “Myra”. “Rita” é extravagante, extrovertida e desinibida em suas paixões
sexuais. Envolveu-se em inúmeros casos amorosos com uma variedade de personagens
repugnantes que pegava em cabarés e discotecas. “Rita” tem consciência de “Myra” e a
considera com extremo desprezo. Uma terceira personalidade, “Joe”, ocasionalmente surge
do apartamento de Myra. Vestido com um terno masculino completo, “Joe” vai ao centro
fazer compras. De acordo com “Joe”, “Rita” não passa de uma “cadela”, que vai se meter em
“grandes apuros algum dia”. Os alter egos de Myra são alheios aos detalhes de sua vida.

Características diagnósticas
A característica definidora do transtorno dissociativo de identidade é a presença
de dois ou mais estados de personalidade distintos ou uma experiência de possessão.
Entretanto, a manifestação ou dissimulação desses estados de personalidade variam em
função da motivação psicológica, do nível de estresse, de conflitos e dinâmicas internas e
da resiliência emocional. Períodos longos de perturbação da identidade podem ocorrer
quando pressões psicossociais são graves e/ou prolongadas. Em muitos casos de transtorno
dissociativo de identidade na forma de possessão, e em uma pequena proporção de formas
que não envolvem possessão, as manifestações de identidade alternativas são bastante
claras. A maioria dos indivíduos com transtorno dissociativo de identidade que não envolve
possessão não exibe abertamente a descontinuidade da identidade por períodos
prolongados; apenas uma minoria se apresenta ao atendimento clínico com alternância
observável de identidade.
Quando estados de personalidade alternados não são observados diretamente, o
transtorno pode ser identificado por dois conjuntos de sintomas:
1) alterações ou descontinuidade repentinas no senso de si mesmo e de domínio das
próprias ações;
2) amnésias dissociativas recorrentes.

Indivíduos com transtorno dissociativo de identidade podem relatar o sentimento


de terem-se tornado subitamente observadores despersonalizados de suas “próprias” falas
e ações, e podem sentir-se incapazes de reverter essa situação. Emoções fortes, impulsos e
até mesmo a fala ou outras ações podem emergir repentinamente, sem um sentido de
domínio ou controle pessoal. Essas emoções e impulsos costumam ser descritos como
egodistônicos e enigmáticos. Atitudes, opiniões e preferências pessoais (p. ex., acerca de
alimentos, atividades, roupas) podem mudar subitamente repetidas vezes. Os indivíduos
podem relatar que sentem seus corpos diferentes. Alterações do senso de si mesmo e de
perda de domínio das próprias ações podem ser acompanhadas por um sentimento de que
tais atitudes, emoções e comportamentos – até mesmo do próprio corpo – “não são meus”
e/ou “não estão sob meu controle”. Embora a maioria dos sintomas seja subjetiva, muitas
dessas descontinuidades repentinas na fala, no afeto e no comportamento podem ser
observados pela família, por amigos ou pelo clínico.
A amnésia dissociativa de indivíduos com esse transtorno manifesta-se de três
formas principais, como: 1) lacunas na memória remota de eventos da vida pessoal (p. ex.,
45

períodos da infância ou da adolescência; alguns eventos importantes da vida, como a morte


avô/avó, o próprio casamento, dar à luz a um filho); 2) lapsos na memória normalmente
confiável (p. ex., do que aconteceu hoje, de habilidades bem aprendidas, como as
ocupacionais, usar um computador, ler, dirigir); e 3) descoberta de evidências de ações e
tarefas cotidianas que eles não lembram terem feito (p. ex., encontrar objetos
inexplicáveis em suas sacolas de compras ou encontrar ferimentos; “voltar a si” no meio de
algo que estava fazendo). Fugas dissociativas nas quais a pessoa descobre a viagem
dissociada são comuns. Dessa forma, indivíduos com transtorno dissociativo de identidade
podem relatar que se encontraram de repente na praia, no trabalho, na boate ou em algum
outro lugar da casa (p. ex., no armário, na cama ou no sofá, em um canto) sem lembrar como
aí chegaram. A amnésia em indivíduos com este transtorno não se limita a eventos
estressantes ou traumáticos; essas pessoas com frequência também não conseguem
recordar eventos cotidianos.
A forma de possessão do transtorno dissociativo de identidade manifesta-se, em
geral, como comportamentos que surgem como se um “espírito”, um ser sobrenatural ou uma
entidade externa tivesse assumido o controle, de tal forma que o indivíduo começa a falar e
agir de maneira claramente diferente. Por exemplo, o comportamento de uma pessoa pode
fazer parecer que sua identidade foi substituída pelo “fantasma” de uma menina que
cometeu suicídio na mesma comunidade anos atrás, falando e agindo como se ela ainda
estivesse viva. Ou a pessoa pode ser “possuída” por um demônio ou divindade, resultando em
uma alteração profunda, e exigindo que a própria pessoa ou um familiar seu seja punido por
uma ação do passado, o que é seguido por períodos mais sutis de alteração da identidade.
Entretanto, a maioria dos estados de possessão no mundo inteiro é normal, geralmente
parte de práticas espirituais e não satisfaz os critérios de transtorno dissociativo de
identidade. As identidades que surgem durante o transtorno na forma de possessão
apresentam-se de maneira recorrente, são indesejadas e involuntárias, causam sofrimento
ou prejuízo clinicamente significativo e não é parte normal de uma prática cultural ou
religiosa amplamente aceita.

2. AMNÉSIA DISSOCIATIVA.
Caso Irene: triste e sozinha
Irene Upton, uma professora de educação especial de 29 anos, buscou uma consulta
psiquiátrica com a queixa: “Estou cansada de sempre estar triste e sozinha”. A paciente
relatou depressão crônica e grave que não respondeu a várias tentativas com
antidepressivos e acréscimo de estabilizadores do humor. A Sra. Upton relatou que os
terapeutas anteriores se concentraram na probabilidade de trauma, mas ela descartou a
possibilidade de ter sofrido abuso; fora sua irmã mais nova quem havia relatado “toques
sexuais estranhos” por parte do pai quando a Sra. Upton tinha 13 anos. Nunca houve uma
investigação criminal, mas o pai pediu desculpas à paciente e à sua irmã como parte de uma
intervenção da Igreja e do tratamento interno para alcoolismo e “adição por sexo”. Ela
negou qualquer tipo de ressentimento sobre esses eventos. A Sra. Upton relatou poucas
lembranças de sua vida no período de 7 a 13 anos. Ela explicava sua amnésia afirmando:
“Talvez nada importante tenha acontecido é por isso que não tenho lembranças”. A Sra.
Upton descreveu ser “retraída socialmente” até o ensino médio, quando teve ótimo
rendimento escolar e participou de várias equipes e clubes. Saiu-se bem na faculdade.
Sobressaía-se em seu emprego e era considerada uma talentosa professora de crianças
autistas. Relatou dificuldade em ter intimidade com homens, além de sentir medo e nojo
intensos em relação a qualquer avanço sexual. Normalmente não dormia bem e sentia-se
cansada com frequência. Negou o uso de álcool e drogas. Durante o exame do estado
46

mental, a paciente estava bem-arrumada e cooperativa. Suas respostas eram coerentes e


objetivas, mas frequentemente destituídas de conteúdo emocional. Ela parecia triste e
contida. Descreveu a si mesma como “anestesiada”. Negou alucinações, confusão e intenção
atual de se matar. No entanto, pensamentos sobre suicídio estavam “sempre por perto”.
Negou flashbacks ou memórias intrusivas, mas relatou pesadelos recorrentes de ser
perseguida por “um homem perigoso”, do qual não conseguia escapar. Relatou dificuldade em
se concentrar. Relatou também uma reação de sobressalto intensa. Informou também
contar e cantar repetidamente em sua mente, verificações repetidas para se certificar de
que as portas estavam trancadas e tomar medidas compulsivas para "impedir que me
aconteça algo de ruim”.

A Sra. Upton relata humor deprimido persistente, insônia, fadiga, sentimentos de


desvalia e ideias suicidas. Não é de se estranhar que ela tenha recebido vários tratamentos
para depressão maior. Esses tratamentos, no entanto, foram malsucedidos, embora a
psicoterapia tenha sido um pouco benéfica. Além dos sintomas depressivos, a Sra. Upton
descreve um grupo de sintomas fundamentais para conceitualizar seus problemas e
tratamento. Embora tenha sido a irmã menor a delatar os “toques sexuais estranhos”, o pai
se desculpou também a paciente. A intimidade sexual a enoja, e, portanto, evita os homens.
Tem pesadelos recorrentes em que é perseguida por “um homem perigoso”. Embora, a
paciente negue, de forma casual, ter sofrido abuso, ela descreve uma lacuna de memória
autobiográfica de seis anos, a qual aparentemente terminou ao mesmo tempo em que o pai
foi internado para tratamento de alcoolismo e “adição por sexo”. O abuso sexual infantil
juntamente com o déficit na memória de seis anos se ajusta bem ao diagnóstico de amnésia
dissociativa.

Características diagnósticas
A característica definidora da amnésia dissociativa é uma incapacidade de
recordar informações autobiográficas importantes que: 1) deveriam estar bem guardadas
na memória e 2) comumente seriam prontamente lembradas. A amnésia dissociativa difere
das amnésias permanentes devidas a dano neurológico ou toxicidade que impedem a
retenção ou a recordação de memórias no sentido de que é sempre potencialmente
reversível, pois a lembrança foi armazenada com sucesso.

Amnésia localizada, a impossibilidade de recordar eventos durante um período


limitado, é a forma mais comum de amnésia dissociativa. A amnésia localizada pode ser mais
ampla do que a amnésia de um evento traumático (p. ex., meses ou anos associados a abuso
infantil ou participação em combate intenso).

Na amnésia seletiva, o indivíduo consegue recordar alguns, mas não todos os


eventos de um período limitado. Assim, pode lembrar-se de uma determinada parte de um
evento traumático, mas não de outras partes. Alguns indivíduos relatam tanto amnésias
localizadas com seletivas.

Amnésia generalizada, uma perda completa da memória da história de vida da


pessoa, é rara. Indivíduos com amnésia generalizada podem esquecer a própria identidade.
Alguns perdem o conhecimento prévio a respeito do mundo (i.e., conhecimento semântico) e
não conseguem mais acessar habilidades bem aprendidas. A amnésia generalizada tem um
início agudo; a perplexidade, a desorientação e a perambulação sem rumo de indivíduos com
amnésia generalizada geralmente os levam à atenção policial ou a serviços de emergência
47

psiquiátrica. Esse tipo de amnésia pode ser mais comum entre veteranos de guerra, vítimas
de ataque sexual e indivíduos que sofrem estresse ou conflito emocional extremo.

TEXTO 8
TRANSTORNO DE SINTOMAS SOMÁTICOS
E TRANSTORNOS RELACIONADOS

O DSM-5 criou a categoria composta Transtorno de Sintomas Somáticos, que agora


engloba o que, no DSM-IV, era conhecido como Transtorno de Somatização, Hipocondria,
Transtorno da Dor e Transtorno Somatoforme Indiferenciado.
O diagnóstico do Transtorno de Sintomas Somáticos é aplicado a indivíduos que
apresentam qualquer número de sintomas somáticos, desde que esses sintomas sejam
acompanhados por pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos relacionados
aos sintomas somáticos ou preocupações associadas com a saúde.

O principal diagnóstico nessa classe diagnóstica, transtorno de sintomas somáticos


(TSS), enfatiza o diagnóstico feito com base em sinais e sintomas positivos (sintomas
somáticos perturbadores associados a pensamentos, sentimentos e comportamentos
anormais em resposta a esses sintomas) em vez da ausência de uma explicação médica para
sintomas somáticos. O que caracteriza indivíduos com transtorno de sintomas somáticos
não são os sintomas somáticos em si, mas como eles se apresentam e como são
interpretados. A integração de componentes afetivos, cognitivos e comportamentais aos
critérios do transtorno de sintomas somáticos proporciona uma reflexão mais abrangente e
precisa do verdadeiro quadro clínico do que seria possível avaliando-se apenas as queixas
somáticas. Diagnosticar TSS exige uma busca por sintomas positivos, como sofrimento e
disfunção, em vez da busca por uma negativa (descartar sintomas sem explicação médica).
Os pacientes podem ter – e com frequência têm – diagnósticos médicos de natureza
fisiológica, mas o novo diagnóstico permite que o clínico se concentre no sofrimento e nos
pensamentos, sentimentos e comportamentos anormais em vez da validade das queixas
médicas do paciente.

1. TRANSTORNO DE SINTOMAS SOMÁTICOS (TSS)


Michelle Adams, uma ex-cabeleireira de 51 anos, foi a uma clínica psiquiátrica por
insistência de seu clínico geral. Um bilhete enviado antecipadamente revelou que ela ficara
chorosa e frustrada em sua última consulta, e o médico, que tinha dificuldades em
controlar sua dor nas costas, achou que uma avaliação psiquiátrica poderia ajudar.
Ao cumprimentar a Sra. Adams na sala de espera, o psiquiatra ficou impressionado
tanto por sua aparência quanto por seus modos: lá estava uma mulher com cabelos grisalhos
despenteados e óculos escuros, sentada em uma cadeira de rodas, que ofereceu um aperto
de mão frouxo e suspiro melancólico antes de perguntar se o psiquiatra se importava em
empurrar a cadeira de rodas até o consultório. Ela estava cansada devido ao longo trajeto e
explicou: “Ninguém na rua se ofereceu para me ajudar. Pode acreditar?”
Uma vez instalada, a Sra. Adams afirmou que sofria de dores insuportáveis nas
costas há 13 meses. Na noite “em que tudo mudou”, ela havia se trancado do lado de fora do
apartamento e, quando tentava subir pela saída de incêndio, caiu e fraturou a pelve, o
cóccix, o cotovelo direito e três costelas. Embora não tenha sido necessário realizar uma
cirurgia, ficou de cama durante seis semanas e então passou por vários meses de
fisioterapia. Medicamentos narcóticos diários ofereciam alívio apenas moderado. Havia se
48

consultado com “uma dúzia” de médicos de diversas especialidades e tentado vários


tratamentos. Durante esse suplício e por vários anos antes, a Sra. Adams fumava maconha
diariamente, explicou que tragadas de hora em hora de um cigarro de maconha amenizavam
a dor e a ajudavam a relaxar. Não ingeria álcool nem usava outras drogas ilícitas.
Antes do acidente, a Sra. Adams havia trabalhado em um salão de beleza do bairro
por mais de 20 anos. Tinha orgulho da fidelidade de várias clientes e prazer na amizade
com suas colegas de trabalho, a quem chamava de “minha verdadeira família”. Não conseguia
retomar o trabalho desde o acidente devido à dor. “Esses médicos ficam me dizendo que
estou bem para voltar a trabalhar”, afirmou com descontentamento evidente, “mas não
sabem pelo que estou passando”. Sua voz ficou embargada. “Eles não acreditam em mim.
Acham que estou mentindo”. Ela deixava a secretária eletrônica atender os telefonemas na
maior parte do tempo porque simplesmente não tinha vontade de socializar em virtude da
dor. No mês anterior, parara de tomar banhos diários. Sem a estrutura do trabalho,
começou a ficar acordada até as 5h da manhã, e a dor a acordava várias vezes antes de
finalmente sair da cama à tarde. Quanto ao humor afirmou: “estou tão deprimida que chega
a ser ridículo”. Costuma perder as esperanças da possibilidade de viver sem dor, mas negou
já ter pensado em suicídio. Explicou que sua fé católica a impedia de tomar sua própria vida.
A Sra. Adams nunca havia se consultado com um psiquiatra antes e não lembrava de
ter se sentido deprimida antes do acidente, embora tenha descrito um “mau gênio” como
traço familiar. Falou de apenas um relacionamento amoroso significativo, que acontecera há
muitos anos, com uma mulher emocionalmente abusiva. Quando perguntada sobre
dificuldades legais, ela revelou várias prisões por roubo quando estava na faixa dos 20anos.
Afirmou que estava “no lugar errado na hora errada” e que nunca havia sido condenada por
crime.

Características diagnósticas
Indivíduos com transtorno de sintomas somáticos geralmente apresentam sintomas
somáticos múltiplos e atuais que provocam sofrimento ou resultam em perturbação
significativa da vida diária, embora às vezes apenas um sintoma grave, mais comumente dor,
esteja presente. Os sintomas podem ser específicos (p. ex., dor localizada) ou
relativamente inespecíficos (p. ex., fadiga). Por vezes representam sensações ou
desconfortos corporais normais que geralmente não significam doença grave. Sintomas
somáticos sem uma explicação médica evidente não são suficientes para fazer esse
diagnóstico. O sofrimento do indivíduo é autêntico, seja ou não explicado em termos
médicos. Os sintomas podem ou não estar associados à outra condição médica. Os
diagnósticos de transtorno de sintomas somáticos e uma doença médica concomitante não
são mutuamente excludentes e com frequência ocorrem em conjunto. Por exemplo, um
indivíduo pode tornar-se gravemente incapacitado por sintomas do transtorno de sintomas
somáticos depois de um infarto do miocárdio sem complicações mesmo se o infarto em si
não resultar em nenhuma incapacidade. Se outra condição médica ou o alto risco de
desenvolver uma estiver presente (p. ex., forte história familiar), os pensamentos,
sentimentos e comportamentos associados a essa condição são excessivos. Indivíduos com
transtorno de sintomas somáticos tendem a manifestar níveis muito elevados de
preocupação a respeito de doenças. Eles avaliam seus sintomas corporais como
indevidamente ameaçadores, nocivos ou problemáticos e com frequência pensam o pior a
respeito da própria saúde. Os indivíduos geralmente sentem angústia, a qual é, sobretudo,
focada em sintomas somáticos e em seu significado. Há, com frequência, alto índice de
utilização de serviços médicos, o que raramente alivia as preocupações do indivíduo.
49

Consequentemente, o paciente pode acabar buscando múltiplos médicos para os mesmos


sintomas.

2. TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE DOENÇA (TAD)


A maioria dos indivíduos hipocondríacos é hoje portadora de transtorno de sintomas
somáticos; entretanto, em uma minoria dos casos, o diagnóstico de transtorno de ansiedade
de doença se aplica, o qual envolve uma preocupação com ter ou contrair uma doença médica
grave não diagnosticada. Sintomas somáticos não estão presentes ou, caso estejam, são de
intensidade apenas leve. Uma avaliação completa não consegue identificar uma condição
médica grave que justifique as preocupações do indivíduo, as quais podem ser derivadas de
um sinal ou de uma sensação física não patológica, mas seu sofrimento é oriundo não da
queixa física em si, e sim da sua ansiedade a respeito do significado, da importância ou não
da queixa (i.e., o diagnóstico médico suspeitado). A preocupação com a ideia de estar
doente é acompanhada por uma ansiedade substancial com relação a saúde e doença. São
facilmente assustados por doenças, como o saber que alguém ficou doente ou ao ler uma
reportagem relacionada à saúde. Suas preocupações acerca de doenças não diagnosticadas
não respondem a medidas de tranquilização médica apropriadas, exames diagnósticos
negativos ou um curso benigno. As preocupações com a saúde assumem uma posição de
destaque em sua vida. A doença torna-se um aspecto central da identidade e na autoimagem
da pessoa, um assunto frequente em conversas sociais e uma resposta característica a
eventos estressantes da vida.

Doença de Lyme Crônica


Oscar Castro, um homem de 43 anos, foi levado pela esposa para um pronto-socorro
(PS) pelo que ele descreveu como uma recaída de sua doença de Lyme crônica (é uma
infecção bacteriana transmitida por carrapatos). Ele explicou que há um mês sofria de
fadiga e que estava de cama há uma semana. Afirmando que estava muito cansado e confuso
para fornecer informações, solicitou à equipe do PS que chamasse seu psiquiatra. O
psiquiatra relatou que vinha tratando o Sr. Castro há mais de duas décadas. A primeira
consulta fora devido ao que parecia ser um ataque de pânico, o qual se resolveu
rapidamente, mas o Sr. Castro continuou as consultas para ajudar a lidar com sua doença
crônica. Inicialmente um estudante graduado buscando mestrado em contabilidade, o Sr.
Castro desistiu do curso devido à preocupação de que as exigências dos estudos
exacerbassem sua doença. Desde então, a esposa, uma enfermeira diplomada, se tornou seu
apoio principal. Ele complementava a renda familiar com pequenos trabalhos de
contabilidade, porém os limitava por temer que o estresse afetasse sua saúde. Ele era
contra medicamentos psicotrópicos e tomou uma abordagem homeopática à doença,
incluindo exercícios e alimentação adequada. Quando medicamentos eram necessários,
usava pequenas doses. Suas sessões psiquiátricas eram dedicadas às suas preocupações
com sua doença subjacente; ele costumava levar artigos sobre a doença de Lyme crônica
para discuti-los e participava ativamente de um grupo de apoio local para doença de Lyme.
O psiquiatra se comunicava regularmente com o clínico geral do Sr. Castro. Todos os testes
para doença de Lyme até agora haviam sido negativos. Quando o clínico geral explicou a
situação. O Sr. Castro assumiu uma postura defensiva e mostrou artigos sobre a imprecisão
dos testes para doença de Lyme. Por fim, o clínico geral e o psiquiatra concordaram em uma
abordagem de tratamento conservadora com postura neutra quanto à realidade da doença.
Durante o exame, a aparência do Sr. Castro era a de um homem adulto saudável e boa
constituição. Estava ansioso e falava baixo, com os olhos fechados. Frequentemente perdia
a linha de raciocínio, mas, com incentivo e paciência, forneceu uma história detalhada e
50

compatível com o relato do psiquiatra. O exame físico não revelou nada extraordinário.
Testes para doença de Lyme foram adiados devido ao resultado negativo de testes
anteriores. Uma triagem laboratorial padrão resultou normal, com exceção de um valor
ligeiramente baixo de hemoglobina. Ao saber do baixo teor de hemoglobina, o Sr. Castro
ficou assustado, insistiu que o caso fosse investigado mais aprofundadamente.

O Sr. Castro insiste ter uma doença incapacitante apesar de explicações mais
plausíveis. Sua insistência se mantém firme, apesar dos testes negativos, e contribui para
ansiedades crônicas com respeito à saúde e funcionamento ruim. Os sistemas anteriores de
categorização, incluindo o DSM-IV-TR considerariam o Sr. Castro “hipocondríaco”, mas o
DSM-5 assume uma abordagem diferente. Devido ao fato de que o diagnóstico de
hipocondria era considerado em parte pejorativo e evitava um relacionamento eficaz entre
médico e paciente, além de incentivar um esforço extremamente minucioso de “provar
resultados negativos”, pacientes que anteriormente seriam diagnosticados com hipocondria
agora são diagnosticados com um entre dois diagnósticos do DSM-5: transtorno de
sintomas somáticos (TSS) ou transtorno de ansiedade de doença (TAD). Os sintomas do Sr.
Castro se encaixam melhor no TAD. Embora ele apresente sintomas eventuais, normalmente
se sente saudável; o problema principal é que ele acredita ter uma doença subjacente e
organizou sua vida para evitar um suposto agravamento. O comportamento em relação ao
resultado provavelmente irrelevante do teste de hemoglobina demonstra sua
hipersensibilidade referente a qualquer indicação de agravamento da saúde.

CRITÉRIOS DO DSM-5 PARA TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE DOENÇA

A. Preocupação com ter ou contrair uma doença.


B. Sintomas somáticos não estão presentes ou, se estiverem, são de intensidade leve.
C. Alto nível de ansiedade em relação à saúde.
D. O indivíduo tem comportamentos excessivos relacionados à saúde ou exibe evitação mal
adaptativa.
E. Preocupação relacionada a doença presente há pelo menos seis meses.
F. A preocupação não pode ser explicada por outra condição médica.

Determinar o subtipo:
Tipo busca de cuidado: O cuidado médico, incluindo consultas ao médico ou realização de
exames e procedimentos, é utilizado com frequência.
Tipo evitação de cuidado: O cuidado médico raramente é utilizado.

3. TRANSTORNO CONVERSIVO (Transtorno de Sintomas Neurológicos Funcionais)


Muitos clínicos usam termos alternativos como “funcional” (referindo-se ao
funcionamento anormal do sistema nervoso central) ou “psicogênico” (referindo-se a uma
etiologia presumida) para descrever os sintomas do transtorno conversivo (transtorno de
sintomas neurológicos funcionais). Nele, pode haver um ou mais sintomas de diversos tipos.
Sintomas motores incluem fraqueza ou paralisia; movimentos anormais, como tremor ou
movimentos distônicos; anormalidades da marcha; e postura anormal de membro. Sintomas
sensoriais incluem sensação cutânea, visão ou audição alterada, reduzida ou ausente.
Episódios de tremores generalizados de membros com aparente prejuízo ou perda de
consciência podem assemelhar-se a convulsões epiléticas (também denominadas convulsões
psicogênicas ou não epiléticas). Pode haver episódios de ausência de resposta semelhantes à
síncope ou coma. Outros sintomas incluem volume da fala reduzido ou ausente
51

(disfonia/afonia), articulação alterada (disartria), uma sensação de “bola” ou caroço na


garganta (globus faríngeo) e diplopia (visão dupla).

Caso Pauline Davis: convulsões


Pauline Davis, uma mulher afro-americana, solteira, de 32 anos, com epilepsia
diagnosticada pela primeira vez na adolescência e sem história psiquiátrica conhecida, foi
admitida em um centro médico acadêmico depois que a família a encontrou tendo convulsões
em seu quarto. Antes de ser levada ao pronto-socorro (PS), o atendimento médico de
emergência havia administrado várias doses de lorazepam, sem mudança em sua
apresentação. Quando chegou ao PS, a administração de uma dose de carga de fosfenitoína,
interrompeu a atividade convulsiva. Estudos laboratoriais revelaram níveis terapêuticos dos
medicamentos anticonvulsivantes que costumava usar e nenhuma evidência de infecções ou
perturbações metabólicas. A Sra. Davis foi, então, admitida para atendimento neurológico
para prosseguir o monitoramento. Durante sua internação um EEG de rotina foi solicitado.
Logo após o início do estudo, a Sra. Davis começou a ter novas convulsões, o que levou à
administração de lorazepam via intravenosa. A análise do EEG não revelou atividade
epileptiforme. A Sra. Davis foi então colocada sob monitoramento de vídeo-EEG com
redução da dose de medicamentos anticonvulsivantes até sua descontinuação. Durante o
monitoramento, a Sra. Davis teve vários episódios de atividade motora convulsiva, sendo
que nenhuma delas foi associada a atividade epileptiforme no EEG. Desse modo, solicitou-se
consultoria psiquiátrica.
Durante a entrevista a Sra. Davis negou avaliações, diagnósticos ou tratamentos
psiquiátricos anteriores. Também negou humor deprimido ou qualquer tipo de perturbação
do sono, de energia, concentração ou apetite. Ela relatou ausência de pensamentos de
machucar a si ou a terceiros e confirmou não ter sinais ou sintomas compatíveis com mania
ou psicose. Ela era simpática e participativa, com bom contato visual. Testes cognitivos não
revelaram déficits.
Quando os achados do vídeo-EEG foram abordados, a Sra. Davis ficou bastante
irritada e perguntou “então, vocês acham que eu estou inventando tudo isso?” Ela não ficou
calma quando a equipe tentou esclarecer que não acreditava que ela estava fingindo, nem ao
assegurar que seus sintomas poderiam melhorar com psicoterapia. A Sra. Davis arrancou os
eletrodos da cabeça, se vestiu e deixou o hospital contra orientação médica.

A Sra. Davis apresenta um quadro crônico de episódios convulsivos que não estão
associados a achados epileptiformes no EEG. Embora não seja necessariamente incomum
que um paciente com convulsões não epilépticas (CNE) também seja diagnosticado com
ataques epilépticos, a grande maioria dos pacientes nos quais se identificou CNE não tem
necessidade de tratamento contínuo com medicamentos anticonvulsivantes.
Embora os pacientes possam ficar com raiva ao saber do diagnóstico de transtorno
conversivo, o foco da abordagem devem ser as boas notícias: que eles não serão expostos a
medicamentos ou exames desnecessários e que o tratamento – na forma de psicoterapia –
está disponível.
52

TEXTO 9
TRANSTORNOS ALIMENTARES

As pessoas que têm transtornos alimentares vivenciam alterações persistentes da


alimentação ou do comportamento relacionado à alimentação que resultam em mudanças no
consumo ou na absorção do alimento. Esses transtornos prejudicam significativamente o
funcionamento físico e psicossocial do indivíduo.

1. ANOREXIA NERVOSA

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

A. Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal


significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e
saúde física. Peso significativamente baixo é definido como um peso inferior ao peso
mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor do que o minimamente
esperado.
B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que
interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo.
C. Perturbações no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciadas,
influência indevida do peso ou da forma corporal na autoavaliação ou ausência persistente
de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual.

Determinar o subtipo:
Tipo restritivo: Durante os últimos três meses, o indivíduo não se envolveu em episódios
recorrentes de compulsão alimentar ou comportamento purgativo (i.e., vômitos
autoinduzidos ou o uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). Esse subtipo descreve
apresentações nas quais a perda de peso seja conseguida essencialmente por meio de dieta,
jejum e/ou exercício excessivo.
Tipo compulsão alimentar purgativa: Nos últimos três meses, o indivíduo se envolveu em
episódios recorrentes de compulsão alimentar purgativa (i.e., vômitos autoinduzidos ou o
uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas).

Especificar se:
Em remissão parcial: Depois de terem sido preenchidos previamente todos os critérios
para anorexia nervosa, o Critério A (baixo peso corporal) não foi mais satisfeito por um
período sustentado, porém o Critério B (medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou
comportamento que interfere no ganho de peso), ou o Critério C (perturbações na
autopercepção do peso e da forma) ainda está presente.
Em remissão completa: Depois de terem sido satisfeitos previamente todos os critérios
para anorexia nervosa, nenhum dos critérios foi mais satisfeito por período sustentado.

Especificar a gravidade atual:


O nível mínimo de gravidade baseia-se, em adultos, no índice de massa corporal (IMC) atual
ou, para crianças e adolescentes, no percentil do IMC. Os intervalos abaixo são derivados
das categorias da Organização Mundial de Saúde para baixo peso.
Leve: IMC ≥ 17 Kg/m²
Moderada: IMC 16 – 16,99 kg/m²
Grave: IMC 15 – 15,99 kg/m²
Extrema: IMC < 15 kg/m²
53

A anorexia nervosa (AN) começa geralmente durante a adolescência ou na idade


adulta jovem. Raramente se inicia antes da puberdade ou depois dos 40 anos, porém casos
de início precoce e tardio já foram descritos. Muitos indivíduos apresentam um período de
mudanças no comportamento alimentar antes de preencherem todos os critérios para o
transtorno.
A escassez de nutrientes que ocorre em pessoas com anorexia nervosa as leva a
desenvolver uma série de alterações de saúde, algumas das quais podem ser fatais. Seus
ossos, músculos, cabelos e unhas tornam-se fracos e quebradiços; elas desenvolvem
hipotensão arterial, respiração e pulso lentos, e são letárgicas, lentas e cansadas. Seu
sistema gastrintestinal funciona de forma anormal, e elas podem ficar estéreis. Mais
seriamente, o coração e o cérebro sofrem danos, o que lhes possibilita vivenciar múltiplas
falhas orgânicas. Essas alterações podem ter consequências fatais.
Embora a maioria das mortes por AN ocorra em adultos jovens, um estudo
norueguês de mortes relacionadas a esse transtorno revelou que 43% delas ocorreram em
mulheres com 65 anos e mais velhas (Reas et al., 2005). Mulheres com AN morrem não
apenas por complicações de seu transtorno, mas também por suicídio. As taxas mais altas
de tentativas de suicídio (25%) ocorrem em mulheres que têm depressão comórbidas e a
forma de compulsão alimentar purgativa do transtorno (Forcano et al., 2011).
As pessoas que têm AN vivenciam uma perturbação central em sua imagem corporal.
Elas estão insatisfeitas com seus corpos e acreditam que eles são maiores do que são na
realidade. As mulheres com AN também parecem se envolver em processos de comparação
social quando veem os corpos de outras. Além disso, pessoas com AN têm altas taxas de
transtornos de humor, de ansiedade, do controle de impulsos e por uso de substância.

COMPREENSÃO PSICODINÂMICA
Ao longo das últimas décadas, as contribuições inspiradoras de Hilde Bruch (1973,
1978, 1982, 1987) serviram como farol em meio à escuridão para os clínicos que tratam de
pacientes anoréxicos. Ela observou que a preocupação com a comida e o peso é uma
ocorrência relativamente tardia e emblemática de uma perturbação mais fundamental
relativa ao autoconceito. A maioria das pacientes com anorexia nervosa tem uma forte
convicção de que são totalmente impotentes e ineficazes. A doença muitas vezes ocorre em
“boas meninas” que passaram a vida tentando agradar aos pais, tornando-se repentinamente
teimosas e negativistas na adolescência. O corpo é muitas vezes percebido como separado
do self, como se ele pertencesse aos pais. A postura pré-mórbida representada por ser uma
menina perfeita é, normalmente, uma defesa relativa a um profundo sentimento subjacente
de desvalia.
Bruch traçou as origens do desenvolvimento da anorexia nervosa até as relações
conturbadas entre a criança e a mãe. Mais especificamente, a mãe parece cuidar da criança
de acordo com as próprias necessidades, em vez das necessidades da criança. Quando suas
iniciativas não recebem respostas de confirmação ou de validação, a criança não consegue
desenvolver um senso de self saudável. Em vez disso, a criança simplesmente percebe a si
mesma com uma extensão de sua mãe, não como um centro de autonomia em si mesma.
Bruch compreendeu o comportamento da paciente anoréxica como um esforço frenético
para ganhar admiração e validação como uma pessoa especial e única com atributos
extraordinários.
Minuchin (Minuchin et al., 1978) e colaboradores descreveram um padrão de
enredamento nas famílias de pacientes anoréxicas, no qual há uma ausência geral de
fronteiras geracionais e pessoais. Cada membro da família está extremamente envolvido na
54

vida de todos os outros membros até o ponto em que ninguém sente ter um senso de
identidade separada distinta da matriz familiar.

MINICASO: ANOREXIA NERVOSA, TIPO RESTRITIVO.


Lorraine é estudante universitária do primeiro ano e tem 18 anos. Desde que se
mudou de casa para a faculdade, tem perdido peso regularmente. A princípio, queria apenas
perder alguns quilos, acreditando que isso a faria parecer mais sexy. Ela parou de comer no
refeitório porque serviam alimentos com muito amido, preferindo, em vez disso, preparar
suas próprias refeições de baixa caloria. Em dois meses, tornou-se obcecada por dietas e
exercícios, bem como pelo medo de que pudesse estar ganhando peso e ficando gorda. Ela
parou de menstruar, e seu peso caiu de 49 para 36 kg. Independentemente das repetidas
expressões de preocupação de seus amigos por ela parecer cadavérica, Lorraine insistia que
estava gorda. Quando foi para casa para o dia de Ação de Graças, seus pais ficaram tão
alarmados que insistiram que ela procurasse ajuda profissional.

2. BULIMIA NERVOSA

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é
caracterizado pelos seguintes aspectos:
1. Ingestão, em um período de tempo determinado (p. ex., dentro de cada período de duas
horas), de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos
indivíduos consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes.
2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento de
não conseguir parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo).
B. Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de
peso como vômitos autoinduzidos; uso de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos;
jejum; ou exercício em excesso.
C. A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em
média, no mínimo uma vez por semana durante três meses.
D. A autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais.
E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa.

Especificar se:
Em remissão parcial: Depois de todos os critérios para bulimia nervosa erem sido
previamente preenchidos, alguns, mas não todos os critérios, foram preenchidos por um
período de tempo sustentado.
Em remissão completa: Depois de todos os critérios para bulimia nervosa terem sido
previamente preenchidos, nenhum dos critérios foi preenchido por um período de tempo
sustentado.

Especificar a gravidade atual:


O nível mínimo de gravidade baseia-se na frequência dos comportamentos compensatórios
inapropriados. O nível de gravidade pode ser elevado de maneira a refletir outros sintomas
e o grau de incapacidade funcional.
Leve: Média de 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por
semana.
Moderada: Média de 4 a 7 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por
semana.
55

Grave: Média de 8 a 13 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por


semana.
Extrema: Média de 14 ou mais comportamentos compensatórios inapropriados por semana.
Os indivíduos com bulimia nervosa desenvolvem uma série de problemas médicos. Os
mais sérios ocorrem com a purgação. Por exemplo, o xarope de ipecac, medicamento usado
para induzir o vômito, tem efeitos tóxicos graves quando alguém o toma com regularidade e
em grandes doses. As pessoas que induzem o vômito de modo frequente também sofrem
deterioração dentária, porque o material regurgitado é altamente ácido. Os laxantes, os
diuréticos e as pílulas para emagrecer que os bulímicos usam também podem ter efeitos
tóxicos. Algumas pessoas com bulimia nervosa também apresentam comportamentos
perigosos, tais como usar enemas, regurgitar e então remastigar sua comida ou fazer sauna
em excesso na tentativa de perder peso. Além dos efeitos da desidratação que comer e
purgar causa, essas pessoas correm o risco de dano gastrintestinal permanente, retenção
de líquido nas mãos e nos pés e destruição do músculo cardíaco ou colapso de válvula
cardíaca.
A comorbidade com transtornos mentais é comum em indivíduos com bulimia
nervosa, com a maioria sofrendo de pelo menos um outro transtorno mental e muitos
sofrendo de múltiplas comorbidades. A comorbidade não se limita a algum subgrupo
especial, mas passa por uma ampla gama de transtornos mentais. Existe uma frequência
maior de sintomas depressivos (p. ex., sentimentos de desvalia) e transtornos bipolares e
depressivos (sobretudo transtornos depressivos) em indivíduos com bulimia nervosa. Em
muitos, a perturbação do humor começa concomitantemente ou em seguida ao
desenvolvimento da bulimia nervosa, e os indivíduos afetados muitas vezes atribuem suas
perturbações do humor a esse transtorno. Pode haver também frequência maior de
sintomas de ansiedade (p. ex., medo de situações sociais) ou transtornos de ansiedade.
Essas perturbações do humor e ansiedade com frequência cedem depois de tratamento
efetivo para bulimia nervosa.
A prevalência ao longo da vida de uso de substâncias particularmente álcool e
estimulantes, é de pelo menos 30% entre indivíduos com bulimia nervosa. O uso de
estimulantes começa com frequência como uma tentativa de controlar o apetite e o peso.
Uma porcentagem substancial de indivíduos com bulimia nervosa também apresenta
aspectos da personalidade que satisfazem os critérios de um ou mais transtornos da
personalidade, com mais frequência transtorno da personalidade borderline.

MINICASO: BULIMIA NERVOSA


Cynthia é uma professora de dança de 26 anos que luta com seu peso desde a
adolescência. Um problema particular para ela foi seu amor por carboidratos de alto teor
calórico. De modo regular, ingere compulsivamente uma variedade de doces e depois se
obriga a vomitar.
Ao longo dos anos, Cynthia desenvolveu diversos problemas físicos em função da
frequência de seus ciclos de compulsão e purgação. Ela avalia a qualidade dos seus dias em
termos como “gorda” ou “magra” conforme aparece para si mesma no espelho.

TENDÊNCIAS HISTÓRICAS. Uma vez que a anorexia e a bulimia atraíram tanta atenção
ultimamente, pensa-se muito que estes são transtornos novos, mas este não é o caso. Casos
destes transtornos alimentares podem ser encontrados nos registros dos gregos antigos e
a história moderna de “meninas em jejum” começou com publicações em 1873. Mesmo assim,
os transtornos foram descritos como comuns. Mas foram incluídos nos diagnósticos de
56

histeria, neurastenia (“nervos fracos”) e sitofobia (“medo de comer”), de modo que não
atraíram atenção individual. Um estudo da incidência de anorexia em período de 50 anos
(1935-1984) em Rochester, Minnesota, revelou uma taxa estável para mulheres entre as
idades de 20 a 59 anos (Lucas et AL., 1991). Para mulheres entre 10 e 19 anos houve uma
leve queda na incidência na década de 50, e então um pequeno aumento em anos recentes.
Parte dos aumentos que estamos observando agora pode simplesmente ser uma maior
disposição para admitir os transtornos, pois os transtornos são agora reconhecidos.

TEXTO 10
TRANSTORNOS RELACIONADOS A SUBSTÂNCIAS

Uma substância é qualquer produto químico que, quando, fumado, injetado, bebido,
inalado, cheirado ou ingerido em forma de comprimidos, modifica uma ou várias funções no
SNC, produzindo efeitos psíquicos e comportamentais. São substâncias psicoativas: álcool,
maconha, cocaína, café, chá, diazepam, nicotina, heroína, etc. As substâncias psicoativas
produzem, de modo geral, uma sensação de prazer ou excitação, cuja correspondência
cerebral está vinculada às chamadas, áreas de recompensa do cérebro.

A intoxicação é definida como uma síndrome reversível específica (alterações


comportamentais ou mentais, como prejuízo do nível de consciência e outras alterações
cognitivas, beligerância, agressividade e/ou humor instável) causada por substância
psicoativa recentemente ingerida.
O abuso de substâncias psicoativas ocorre quando há uso recorrente ou contínuo de
uma substância psicoativa, uso este que é lesivo ou mal-adaptativo (levando a prejuízos ou
sofrimento clinicamente significativos). Tal uso produz prejuízo ao sujeito em sua vida
familiar, no trabalho ou na escola. Também ocorre de forma recorrente em situações nas
quais há perigo para integridade física do sujeito (dirigir veículos, ter atividade sexual com
desconhecidos, operar máquinas, etc.) e pode implicar problemas legais.
Fissura é o termo que se dá ao desejo intenso de usar uma substância. Essa palavra
era utilizada apenas pelos usuários de substâncias, mas atualmente foi incorporada pela
terminologia técnica.
A tolerância refere-se à diminuição de efeito de uma substância depois de
repetidas administrações. O organismo passa a necessitar de quantidades cada vez maiores
da substância para que se obtenha o mesmo nível inicial de seu efeito. As substâncias que
produzem tolerância tendem a gerar mais dependência física; entretanto, há substâncias
químicas que produzem rápida tolerância (como o LSD), mas que não ocasionam dependência
física significativa.
A síndrome de abstinência é o conjunto de sinais e sintomas que ocorrem horas ou
dias após o indivíduo cessar ou reduzir a ingestão da substância que vinha sendo consumida
geralmente de forma pesada e contínua. Para cada grupo de substâncias, há diferentes
sinais e sintomas de abstinência; no entanto, observam-se com certa frequência os
seguintes sintomas gerais de abstinência: ansiedade, inquietação, náuseas, tremor,
sudorese, podendo, nos casos muito graves, ocorrer convulsões, coma e morte.

A dependência a substâncias psicoativas é definida como um padrão mal-adaptativo


de uso de substâncias em que há repercussões psicológicas, físicas e sociais que resultam
da interação entre o ser humano e uma substância psicoativa. Há na dependência, um
grande envolvimento do sujeito com a substância; ele gasta muito tempo (e interesse
afetivo) em atividades que implicam na obtenção ou o consumo da substância.
57

A dependência física é um estado de adaptação do corpo manifestado por


distúrbios físicos quando o uso da substância é interrompido. Um dos indicativos da
dependência física é a ocorrência de tolerância e a síndrome de abstinência quando o
dependente fica sem usar a substância.
A dependência comportamental ou psíquica, também denominada de habituação,
constitui uma compulsão ao uso da substância, buscando o indivíduo a obtenção do prazer e
a diminuição do desconforto.

Um transtorno por uso de substâncias é um conjunto de sintomas cognitivos,


comportamentais e fisiológicos que indica que o indivíduo continua usando uma substância
ainda que ela cause problemas significativos em sua vida.
As pessoas com transtornos por uso de substâncias sofrem uma variedade de
efeitos significativos sobre sua vida diária. Com frequência negligenciam as obrigações
profissionais, e seus compromissos com a casa e a família começam a deteriorar. Além de
deixar o trabalho e a família de lado, elas podem começar a correr riscos pessoalmente
perigosos e a colocar os outros em perigo, como ao dirigir ou operar máquinas enquanto
intoxicadas. Problemas legais são outra possibilidade. Além de prisões por dirigir
intoxicados, esses indivíduos podem enfrentar acusações de conduta desordeira ou
comportamento agressivo. Esses transtornos também costumam envolver problemas
interpessoais devido ao fato de que o abuso e a dependência d drogas criam tensões nos
relacionamentos com a família, com os amigos e com colegas de trabalho. Em casos
extremos, esses transtornos também podem levar a problemas de saúde e mesmo à morte
prematura.
A segunda categoria de transtornos por uso de substâncias inclui aqueles que
refletem os efeitos da abstinência em que os indivíduos desenvolvem mudanças
comportamentais específicas para a substância em particular. Essas mudanças incluem
alterações fisiológicas e cognitivas que estão relacionadas com a descontinuação da
substância em questão. Outros transtornos também podem estar associados com o uso de
substâncias, incluindo transtorno psicótico, transtorno do humor, transtorno de ansiedade,
disfunção sexual e transtorno do sono. As pessoas também podem apresentar outras
comorbidades, como um transtorno de ansiedade ou do humor.

DIAGNÓSTICO DE DEPENDÊNCIA E ABUSO DE SUBSTÂNCIAS

Há três diagnósticos principais relacionados ao uso das drogas.


O primeiro é a dependência de substância. Os sintomas que conduzem a este
diagnóstico são: a) a necessidade de níveis mais altos da droga para obter os efeitos
desejados (ou seja, tolerância); b) a presença de sintomas de abstinência quando o uso da
substância é reduzido; c) a ingestão de quantidades maiores da substância do que foi
pretendido; d) tentativas malsucedidas de cortar ou controlar o uso de substâncias; e)
redução na participação em atividades normais, causadas pelo uso da substância.
O segundo diagnóstico principal é abuso de substância e este diagnóstico é
estabelecido quando o indivíduo não é dependente de uma droga, mas seu uso
reiteradamente conduz a prejuízos sérios no funcionamento do indivíduo. Exemplos que
qualificariam para o diagnóstico de abuso de substância incluem estudante que perde a aula
às vezes por causa de um “desastre” depois de ter tomado uma droga, uma pessoa que
repetidamente dirige intoxicada e um indivíduo que se isola de outras pessoas em
decorrência do uso de droga.
O terceiro diagnóstico é transtorno psicótico induzido por substância. Este
diagnóstico é usado quando um indivíduo desenvolve sintomas psicológicos como alucinações
58

e delírios após tomar uma quantidade excessiva de uma droga. As psicoses induzidas por
substâncias duram dias ou, no máximo, semanas. Ocorrem geralmente após períodos de uso
intenso. Podem se manifestar como quadros paranóides, quadros maniatimorfos,
esquizofrenimorfos ou poliformos. São normalmente causados por cocaína (pó inalado ou
injetado ou crack fumado), anfetamínicos, alucinógenos e, mais raramente, maconha. Esta
reação é amiúde referida como psicose tóxica: o indivíduo experimenta uma psicose porque
um nível tóxico de uma droga é tomado. Os transtornos induzidos por substância podem ser
sérios, mas dissipam-se quando o efeito passa. São quadros de curta duração (horas ou, no
máximo, dias), que remitem à medida que a substância desaparece do sistema nervoso.
Esses quadros geralmente incluem rebaixamento do nível de consciência, confusão mental,
ilusões e alucinações visuais (com menos frequência auditivas), medo e perplexidade. As
substâncias que com mais frequência produzem esses quadros tóxicos são os alucinógenos
(LSD) e as anfetaminas.

A diferenciação em relação às psicoses funcionais (desencadeadas pelo abuso de


substâncias) pode ser difícil, justificando a psicose funcional (esquizofrenia, psicose
afetiva, etc.) a duração mais prolongada do quadro psicótico (mais de um mês), a
ocorrência, no futuro, de episódios psicóticos independentes da exposição à substância, e,
no caso de esquizofrenia, a presença de sintomas residuais deficitários (retraimento social,
distanciamento afetivo ou afeto incongruente, etc.), mesmo meses depois de passado o
quadro psicótico agudo. Nas últimas décadas, uma série de estudos tem indicado relação
consistente entre o uso de maconha em adolescentes e o maior risco de desenvolver
psicoses funcionais como a esquizofrenia. Além disso, o uso contínuo de maconha em adultos
tem sido associado de forma também consistente a prejuízos cognitivos, como dificuldades
de memória, atenção e aprendizado.

ÁLCOOL
Os clínicos classificam o álcool como um depressor do sistema nervoso. Seus
efeitos variam pela quantidade que o bebedor ingere. Em pequenas quantidades tem efeitos
sedativos, levando os usuários a se sentirem relaxados. Á medida que ingerem mais álcool,
as pessoas podem começar a se sentir mais extrovertidas, autoconfiantes e desinibidas.
Quando bebem além desse ponto, os efeitos depressores se tornam evidentes, levando-as a
vivenciar sonolências, falta de coordenação física, disforia e irritabilidade. Continuar a
beber a partir daí, o que configuraria consumo excessivo, pode ser fatal na medida em que
as funções vitais do indivíduo se apagam completamente. Efeitos mais graves também
ocorrem quando há mistura de álcool com outras drogas, uma situação referida como
potencialização, significando que os efeitos das duas drogas tomadas juntas são maiores do
que o efeito de cada substância sozinha. Combinar álcool com outro depressor, por
exemplo, pode ser um desfecho fatal dessa potencialização.
O álcool afeta quase todos os sistemas orgânicos do corpo, direta ou indiretamente.
Seu uso em longo prazo pode levar a dano cerebral permanente, com sintomas de demência,
blecautes, convulsões, alucinações e dano às partes periféricas do sistema nervoso. Duas
formas de demência estão associadas com o uso pesado de álcool em longo prazo:
encefalopatia de Wernicke e síndrome de Korsakoff.
A encefalopatia de Wernicke é uma condição aguda e potencialmente reversível
envolvendo delirium, distúrbios dos movimentos oculares, dificuldade no movimento e no
equilíbrio e deterioração dos nervos periféricos para as mãos e os pés. Não é o álcool, mas
uma deficiência de tiamina (vitamina B1), que causa essa doença. O uso pesado de álcool em
longo prazo tem efeitos nocivos sobre a capacidade do corpo de metabolizar nutrientes, e
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esses usuários frequentemente têm um padrão global de desnutrição. A ingestão adequada


de tiamina pode reverter à encefalopatia de Wernicke.
A síndrome de Korsakoff é uma forma permanente de demência na qual o indivíduo
desenvolve amnésia retrógrada, uma incapacidade de lembrar eventos passados, e amnésia
anterógrada, a incapacidade de lembrar informações novas. As chances de recuperação
dessa síndrome são menos 1 em 4, e cerca de 1 e 4 pessoas que têm esse transtorno requer
institucionalização permanente.

O consumo pesado e crônico de álcool também causa uma série de alterações


prejudiciais no fígado, no sistema gastrintestinal, na densidade óssea, nos músculos e no
sistema imune. Quando param de ingerir álcool de forma repentina após períodos de uso
crônico, as pessoas podem vivenciar distúrbios do sono, ansiedade profunda, tremores,
hiperatividade ao sistema nervoso simpático, psicose e convulsões ou podem morrer.

MINICASO: TRANSTORNO POR USO DE ÁLCOOL


Rhona é uma dona de casa de 55 anos, casada com um empreiteiro de sucesso.
Todas as tardes, ela prepara o primeiro de uma série de drinques. Em muitas noites,
desmaia no sofá no momento em que seu marido chega em casa depois do trabalho. Rhona
perdeu sua carteira de motorista há um ano, quando foi presa três vezes por dirigir
intoxicada. Embora sua família tenha pedido que ratasse seu transtorno, ela nega ter um
problema porque pode “controlar” sua bebedeira. Mãe de três filhos adultos começou a
beber por volta dos 45 anos, quando seu filho mais novo foi para a faculdade. Antes disso
ela se mantinha extremamente ocupada com as atividades extracurriculares dos filhos.
Quando se encontrou sozinha, todas as tardes, consolou-se com um drinque. Depois de
diversos anos, esse hábito se transformou em uma série de 5 ou 6 drinques fortes.
Ultimamente, sua filha mais velha começou a insistir para que algo fosse feito por sua mãe.
Ela não queria vê-la desenvolvendo doenças fatais relacionadas ao álcool, causa da morte
prematura da sua avó.

ESTIMULANTES
A categoria de drogas chamadas de estimulantes inclui substâncias que têm um
efeito ativador sobre o sistema nervoso. Estas diferem em sua estrutura química, em seus
efeitos físicos e psicológicos específicos e em seu perigo potencial ao usuário. Os
estimulantes estão associados com transtornos que envolvem uso, intoxicação e abstinência.

1. ANFETAMINAS
A anfetamina é um estimulante que afeta tanto o sistema nervoso central quanto o
sistema nervoso autônomo. Além de despertar ou acelerar o sistema nervoso central,
também causa hipertensão arterial, frequência cardíaca elevada, apetite diminuído e
atividade física aumentada. Ela pode ser usada para propósitos médicos, como no
tratamento do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), ou como pílula
para emagrecer. Mesmo quando usada para fins médicos, entretanto, essas drogas podem
causar dependência e ter efeitos colaterais desagradáveis ou perigosos. Conforme as doses
aumentam, os usuários podem se tornar hostis, violentos e paranoides. Também podem
vivenciar uma variedade de efeitos fisiológicos, incluindo febre, sudorese, cefaleia, visão
borrada, tontura, dor no peito, náusea, vômitos e diarreia.
A metanfetamina é uma droga estimulante viciante que está relacionada à
anfetamina, mas provoca efeitos mais intensos no sistema central. Seja tomada por via
oral, inalada, injetada ou fumada, a metanfetamina causa um “barato” ou uma sensação de
euforia e se torna viciante com muita rapidez. A superdosagem dessa substância pode
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causar superaquecimento do corpo e convulsões, e, se não tratada imediatamente pode


resultar em morte. O uso de longo prazo dessa substância pode levar os usuários a
desenvolverem transtornos de humor, comportamento violento, ansiedade, confusão,
insônia, problemas dentários graves (“boca de metanfetamina”) e risco aumentado de
doenças infecciosas, incluindo hepatite e HIV/AIDS. Os efeitos em longo prazo das
metanfetaminas incluem dano cerebral grave.

MINICASO: TRANSTORNO POR USO DE ESTIMULANTES, TIPO ANFETAMINA


Catarina é uma vendedora de 23 anos que tentou por três anos perder peso. Seu
médico prescreveu anfetaminas, mas a advertiu sobre a possibilidade de se tornar
dependente. Ela começou a emagrecer, mas também descobriu que gostava da energia
extra e das sensações boas que os comprimidos causavam. Quando retornou a seu médico
após ter perdido o peso desejado, Catarina lhe pediu outra receita para ajuda-la a manter
sua nova figura. Quando ele recusou, ela perguntou a seus amigos até que encontrou o nome
de um médico que estava disposto a lhe fornecer novas receitas. No decorrer de um na,
Catarina desenvolveu uma série de problemas psicológicos, incluindo depressão, pensamento
paranoide e irritabilidade. Apesar de perceber que alguma coisa está errada, ela se sente
compelida a continuar usando a droga.

2. COCAÍNA
A cocaína é um estimulante do sistema nervoso central altamente viciante que pode
ser cheirada, injetada ou fumada. Os usuários podem cheirar o sal cloridrato de cocaína em
pó ou dissolvê-lo em água e então injetá-la. Crack é o nome popular dado à forma de cocaína
que é processada para formar um cristal solidificado que, quando aquecido, produz vapores
que o indivíduo fuma. Os efeitos da cocaína incluem sensações de euforia, alerta, fadiga
reduzida e energia aumentada. Quanto mais rápido a corrente sanguínea absorve a droga e
a distribui para o cérebro, mais intenso é o barato do usuário. Visto que essa sensação é
relativamente curta (5 a 10 minutos), o usuário pode administrar a droga novamente em um
padrão compulsivo.
Como as anfetaminas, a cocaína aumenta a temperatura corporal, a pressão arterial
e a frequência cardíaca. Seus riscos incluem ataque cardíaco, insuficiência respiratória,
acidente vascular cerebral, convulsões, dor abdominal e náusea. Em casos raros, o usuário
pode sofrer morte súbita no primeiro uso de cocaína ou inesperadamente mais tarde.
Outros efeitos adversos sobre o corpo desenvolvem-se ao longo do tempo e incluem
alterações dentro do nariz (perda do sentido do olfato, corrimento nasal crônico e
sangramentos nasais), bem como problemas de deglutição e rouquidão. Os usuários também
podem sofrer gangrena intestinal grave devida a uma redução do fluxo sanguíneo para o
sistema digestivo. Também podem ter reações alérgicas graves e risco aumentado de
desenvolver HIV/AIDS e outras doenças transmitidas pelo sangue. Quando usam cocaína
de forma compulsiva, as pessoas podem desenvolver inquietações, irritabilidade e ansiedade
crônicas. Os usuários crônicos podem vivenciar paranoia grave na qual têm alucinações
auditivas e perdem o contato com a realidade.

3. CANNABIS
A cannabis está associada com transtornos que envolvem uso, intoxicação e
abstinência. A maconha é uma mistura de flores, hastes e folhas da planta do cânhamo
Cannabis sativa, uma planta verde, alta e frondosa que cresce em climas quentes. Embora a
planta contenha mais de 400 constituintes químicos, o ingrediente ativo principal na
maconha é o delta-9-tetraidrocanabinol (THC). O haxixe, que contém uma forma de THC
mais concentrada, deriva das resinas das flores da planta. A maconha e o haxixe que
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chegam às ruas nunca são THC puro; outras substâncias, como tabaco, são sempre
misturadas a eles. Formas sintéticas de THC são usadas para fins médicos, tais como
tratamento de asma e glaucoma redução da náusea em pacientes com câncer submetidos à
quimioterapia.

A maneira mais comum de usar a maconha é fumando-a como cigarro ou em um


cachimbo. Os usuários também podem misturar a droga com comida, servi-la na forma de
chá ou injetá-la por via intravenosa. Quando fuma maconha, uma pessoa alcança níveis
sanguíneos máximos em cerca de 10 minutos, mas os efeitos subjetivos da droga não se
tornam aparentes por outros 20 a 30 minutos. O indivíduo pode vivenciar os efeitos da
intoxicação por 2 ou 3 horas, mas os metabólicos do THC podem permanecer no corpo por 8
dias ou mais.
As pessoas usam maconha com a finalidade de alterar suas percepções do ambiente
e suas sensações corporais. Os efeitos que elas buscam incluem euforia, aumento da
sensação de sensualidade e sexualidade e consciência aumentada de estímulos internos e
externos. Entretanto, o uso de maconha também provoca uma série de outros efeitos
desagradáveis, incluindo prejuízo da memória de curto prazo, tempo de reação retardado,
coordenação física prejudicada, julgamento alterado e tomada de decisão pobre. Em vez de
sentirem-se eufóricos e relaxados, os usuários podem vivenciar paranoia e ansiedade,
sobretudo quando ingerem altas doses.
O uso pesado e contínuo de maconha pode produzir uma série de efeitos perniciosos
sobre o funcionamento corporal, incluindo risco mais alto de ataque cardíaco e
funcionamento respiratório prejudicado. Além de desenvolver dependência psicológica da
droga, os usuários de longo prazo podem vivenciar desempenho educacional e ocupacional
mais baixo, psicose e prejuízo cognitivo persistente. Particularmente de risco são os
indivíduos que começam a usar maconha em uma idade precoce e continuam o consumo ao
longo da vida.

ALUCINÓGENOS
Incluídos nos transtornos por uso de alucinógenos estão sob uso e intoxicação, mas
não abstinência. Os alucinógenos são drogas que fazem a pessoa vivenciar distorções
profundas em sua percepção da realidade. Sob a influência dessas substâncias, os usuários
veem imagens, ouvem sons e têm sensações que acreditam ser reais, embora não sejam. Em
alguns casos, eles vivenciam mudanças de humor rápidas e intensas. Algumas pessoas que
usam alucinógenos desenvolvem uma condição chamada de transtorno da percepção
persistente por alucinógeno, na qual vivenciam flashbacks ou alucinações, delírios ou
alterações do humor espontâneos semelhantes às mudanças que ocorrem enquanto estão
intoxicados com a droga. Os efeitos e os riscos específicos de cada alucinógeno variam
entre as quatro principais categorias de alucinógenos.

As pessoas tomam a DIETILAMIDA DO ÁCIDO LISÉRGICO (LSD) em pastilhas, cápsulas


e, algumas vezes, na forma líquida. Os usuários apresentam mudanças drásticas em suas
sensações e emoções. Podem sentir diversas emoções ao mesmo tempo ou mudar
rapidamente de uma para outra. Em doses maiores, podem vivenciar delírios e alucinações
visuais. Além disso, podem ter um sentido de tempo e identidade alterado, bem como
vivenciar sinestesias nas quais “ouvem” cores e “veem” sons. Essas alterações perceptuais e
de humor podem ser acompanhadas por pensamentos graves e aterrorizantes de morrer.
Mesmo após parar de tomar LDS, os usuários podem vivenciar flashbacks, levando-os a
ficar significativamente angustiados e prejudicados em seu funcionamento social e
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ocupacional. Ao contrário de outras substâncias, o LSD não parece produzir comportamento


de busca de droga compulsivo, e a maioria dos usuários decide diminuir ou parar de usá-lo
sem abstinência. Entretanto, produz tolerância, portanto eles podem precisar de doses
maiores para alcançar os efeitos desejados. Dada à natureza imprevisível dos efeitos do
LSD, esses aumentos nas doses podem ser perigosos.
Essa substância também pode afetar outras funções orgânicas, incluindo aumento
de temperatura corporal, da pressão arterial e da frequência cardíaca, sudorese, perda do
apetite, boca seca, insônia e tremores.

O PEIOTE é um cacto pequeno, sem espinhos, cujo principal ingrediente ativo é a


mescalina. Além de sua forma de ocorrência natural, a mescalina também pode ser
produzida artificialmente. Os usuários mascam a coroa do cacto ou a encharcam de água
para produzir um líquido; alguns preparam um chá fervendo o cacto em água para livrar a
droga de seu gosto amargo. Usado como parte de cerimônias religiosas, seus efeitos em
longo prazo não são conhecidos. Contudo, seus efeitos no corpo são semelhantes aos do
LSD, com aumentos de temperatura corporal e na frequência cardíaca, movimentos
descoordenados, sudorese extrema e rubor. Além disso, o peiote pode causar flashbacks,
semelhantes àqueles associados com LSD.

Na categoria dos transtornos relacionados ao MDMA, a 3,4-metilenedioxi-


metanferamina, conhecida nas ruas como ECSTASY, é uma substância sintética
quimicamente semelhante à metanfetamina e a mescalina. Seus usuários vivenciam
sentimentos de energia aumentada, euforia, calor emocional, percepções e sentido de
tempo distorcido e experiências táteis incomuns. Ingerido na forma de cápsula ou
comprimido, MDMA foi muito popular entre adolescentes e adultos jovens brancos em
festas prolongadas conhecidas como “raves”. A droga é usada agora por uma variedade mais
ampla de grupos étnicos, incluindo homens homossexuais urbanos. Alguns combinam MDMA
com outras drogas, incluindo maconha, cocaína, metanfetamina, cetamina e sildanefil, entre
outras substâncias.
Os usuários de MDMA podem vivenciar uma variedade d efeitos psicológicos
desagradáveis, incluindo confusão, depressão, problemas de sono, fissuras pela droga e
ansiedade grave. A droga pode ser neurotóxica, o que significa que, ao longo do tempo, os
usuários podem vivenciar maior dificuldade para realizar tarefas cognitivas. Como os
estimulantes, o MDMA pode afetar o sistema nervoso simpático, levando a aumentos na
frequência cardíaca, na pressão arterial e na tensão muscular, bem como náusea, visão
borrada, desmaio, calafrios ou sudorese e perto involuntário dos dentes. Os indivíduos
também correm o risco de picos graves na temperatura corporal, que, por sua vez, podem
levar a falha do fígado, do rim ou do sistema cardiovascular. Dosagens repetidas durante
curtos períodos de tempo também podem interferir no metabolismo de MDMA, levando a
acúmulo significativo e prejudicial no corpo. Quando combinada com álcool, essa substância
produz uma série de efeitos psicológicos adversos de longo prazo, incluindo paranoia, saúde
física precária, irritabilidade, confusão e mau humor. Porém, quanto mais longo o período de
abstinência da droga, menos frequente a vivência desses efeitos.

OPIÁCEOS
Os transtornos relacionados à Opiáceos incluem uso, intoxicação e abstinência. Um
opiáceo é uma substância que alivia a dor. Muitos medicamentos prescritos legalmente
estão nessa categoria, incluindo hidrocodona, oxicodona, morfina, codeína e drogas
relacionadas. Os médicos prescrevem produtos de hidrocodona mais geral para uma
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variedade de condições dolorosas, como dor de dente e relacionada a ferimentos. Eles com
frequência usam morfina antes e após procedimentos cirúrgicos para aliviar a dor grave.
Prescrevem codeína, no entanto, para dor leve. Além de esses medicamentos serem
indicados por suas propriedades de alívio da dor, alguns deles – codeína e difenoxilato, por
exemplo – são prescritos para aliviar tosses e diarreia grave.
Quando receitados por profissionais, esses medicamentos são muito eficazes para
tratar a dor com segurança. Entretanto, devido a seu potencial para produzir euforia e
dependência física, estão entre os medicamentos prescritos mais frequentemente
abusados. Por exemplo, pessoas que abusam de oxicodona podem cheirá-la ou injetá-la, e,
como resultado, sofrer uma séria reação de superdosagem.

A HEROÍNA é uma forma de opiáceo. Trata-se de uma droga analgésica sintetizada


da morfina uma substância de ocorrência natural extraída da vagem da planta papoula
asiática. Os usuários a injetam cheiram ou fumam. Uma vez ingerida, o corpo a converte em
morfina, e então ela se liga aos receptores de opiáceo em todo o cérebro e o corpo,
particularmente naquelas áreas envolvidas na percepção de recompensa e dor. Esses
receptores também estão localizados no tronco cerebral, que contém estruturas
controladoras da respiração, da pressão arterial e da excitação.
Os usuários vivenciam uma onda de sentimento de euforia junto com boca seca,
rubor da pele, peso nos braços e nas pernas e funcionamento mental comprometido. Logo
em seguida, alternam entre sensações de vigília e sonolência. Se não injetarem a droga,
podem não sentir qualquer euforia. Com seu uso continuado, eles desenvolvem tolerância,
significando que precisam de quantidades cada vez maiores de heroína para sentir o mesmo
efeito. Essa substância tem um alto potencial para adição, com estimativa de até 23% de
todos os usuários desenvolvendo dependência.
São muitas as consequências graves para a saúde pelo uso da heroína, inclusive
overdoses fatais, doenças infecciosas (relacionada ao compartilhamento de agulhas), dano
ao sistema cardiovascular, abcessos e doenças hepáticas e renais. Os usuários geralmente
estão em mais estado geral e, portanto, mais suscetíveis à pneumonia e outras complicações
pulmonares, bem como a danos cerebrais, hepáticos e renais provenientes de contaminantes
tóxicos adicionados com frequência à heroína.
Os usuários crônicos de heroína experimentam grave abstinência se descontinuam
seu uso. Os sintomas de abstinência podem incluir inquietação, dores musculares e ósseas,
insônia, diarreia, vômitos, calafrios e chutes estereotipados. Durante a abstinência, os
usuários experimentam graves fissuras, que podem começar 2 ou 3 dias após a interrupção
do uso e duram até uma semana, embora ela possam surgir até anos após, quando o indivíduo
experimenta certos gatilhos ou estresse. Também há perigo quando da suspensão abrupta,
particularmente em usuários de longo prazo que estão em meu estado geral.

MINICASO: TRANSTORNO POR USO DE OPIÁCEO


Jimmy é um homem de 38 anos que mora na rua e é viciado em heroína há 10 anos.
Ele começou a usar a droga por sugestão de um amigo que lhe disse que ajudaria a aliviar a
pressão de seu casamento infeliz e de problemas financeiros. Em um curto período de
tempo, Jimmy ficou dependente da droga e se envolveu no roubo de um anel a fim de
sustentar seu hábito. Finalmente, perdeu sua casa e se mudou para um abrigo, onde os
funcionários o encaminharam para um programa de tratamento de metadona.

SEDATIVOS, HIPNÓTICOS E ANSIOLÍTICOS.


A categoria dos sedativos, hipnóticos e ansiolíticos (medicamentos contra a
ansiedade) inclui medicamentos prescritos que atuam como depressores do sistema nervoso
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central. Um SEDATIVO tem efeito tranquilizante ou calmante, um HIPNÓTICO induz ao sono,


e um ANSIOLÍTICO é usado para tratar sintomas de ansiedade. Esses medicamentos
depressores do sistema nervoso central podem ser úteis para tratar transtornos de
ansiedade e do sono.
Seus efeitos sedativos devem-se ao fato de que aumentam os níveis do
neurotransmissor GABA, que inibe a atividade cerebral e, portanto, produz efeito
calmante. Os transtornos nessa categoria são por uso, intoxicação e abstinência.
Estes medicamentos estão entre as drogas mais comumente abusadas. Eles incluem
benzodiazepínicos, barbitúricos e medicamentos para o sono não benzodiazepínicos, como
zolpidem, eszopiclone e zaleplon. Embora seguros quando usados conforme prescritos esses
fármacos têm alto potencial para abuso e dependência. Quanto mais tempo a pessoa os usa,
maior a quantidade necessária para obter seus efeitos sedativos. Além do risco de
dependência, também podem causar efeitos danosos em indivíduos que tomam outros
medicamentos prescritos ou sem receita.

CAFEÍNA
Os transtornos inclusos na categoria relacionada à cafeína são intoxicação e
abstinência, mas não transtorno por uso de cafeína. A cafeína é um estimulante encontrado
no café, no chá, no chocolate, em bebidas energéticas, em pílulas de dieta e em
medicamentos para dor de cabeça. Ao ativar o sistema nervoso simpático pelo aumento da
produção de adrenalina, a cafeína incrementa o nível de energia e alerta percebido pelo
indivíduo. Também aumenta a pressão arterial e pode levar à elevação na produção de
cortisol do corpo, o hormônio do estresse. As bebidas energéticas como o Red Bull, estão
se tornando um problema crescente devido aos altos níveis de cafeína que podem conter. O
Red Bull contém 80mg de cafeína, em comparação, uma lata de Coca Cola contém 34,5 mg
de cafeína. Embora essa substância seja um aspecto tão comum da vida diária que as
pessoas tendem a não tomar conhecimento de seus perigos, a cafeína das bebidas
energéticas e de outras fontes pode levar a muitas reações adversas e se tornar uma porta
de entrada para outras formas de dependência de substâncias.
Já sendo um diagnóstico na CID-10, o DSM-5 foi o primeiro manual de psiquiatria a
incluir abstinência de cafeína como um diagnóstico. Seus sintomas incluem cefaleia, cansaço
e fadiga, insônia e sonolência, humor disfórico, dificuldade de concentração, depressão,
irritabilidade, náusea, vômitos, dores musculares e rigidez. Estima-se que a abstinência de
cafeína cause sofrimento e prejuízo significativos no funcionamento diário em 13% das
pessoas, de acordo com estudos experimentais.

INALANTES
Os inalantes são um grupo variado de substâncias que causam efeitos psicoativos
pela produção de vapores químicos. Esses produtos não são em si prejudiciais; na verdade,
são encontrados comumente em casa e no trabalho. Há quatro categorias de inalantes:
solventes voláteis (diluentes ou removedores de tintas, líquidos de limpeza a seco, gasolina,
cola e fluido de isqueiro), aerossóis (sprays que contêm propulsores e solventes), gases
(isqueiros de butano e botijões de propano, éter e óxido nitroso) e nitritos (uma categoria
especial de produtos usados como potenciadores sexuais). Os adolescentes mais jovens (de
12 a 15 anos) tendem a inalar cola, graxas de sapato, tintas gasolina e fluido do isqueiro,
enquanto os mais velhos (de 16 a 17 anos) inalam óxido nitroso e os adultos (18 anos ou
mais) são mais propensos a inalar nitritos. Na categoria dos transtornos por inalantes, os
indivíduos podem ser diagnosticados por uso ou intoxicação, mas não por abstinência.
Os efeitos de um inalante tendem a ser de curta duração: por isso, os usuários
costumam estender seu barato inalando repetidamente durante um período de várias horas.
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Essas drogas têm efeitos semelhantes ao álcool, incluindo fala arrastada, perda de
coordenação, euforia, tontura e, com o tempo, perda de inibição e controle. Os usuários
podem vivenciar sonolência e cefaleias, mas, dependendo da substância, também podem se
sentir confusos e nauseados.
Os vapores deslocam o ar nos pulmões, causando hipóxia (privação do oxigênio), que
é particularmente letal para os neurônios no sistema nervoso central. O uso de longo prazo
também pode causar a deterioração da bainha de mielina em torno d axônio, levando a
tremores, espasmos musculares e talvez dano muscular permanente. As substâncias
químicas nos inalantes também podem causar insuficiência cardíaca e morte súbita.

DROGAS PSICOATIVAS ASSOCIADAS COM TRANSTORNOS MENTAIS ORGÂNICOS

DROGA EFEITOS COMPORTAMENTAIS EFEITOS FÍSICOS


Opióides: ópio, metadona, morfina, Euforia, sonolência, anorexia, Miose, prurido, náusea, bradicardia,
heroína, meperidina. impulso sexual diminuído, constipação, marcas de agulhas nos
hipoatividade, alterações na braços, pernas e virilhas.
personalidade.
Anfetaminas e outros incluindo Alerta, loquacidade, euforia, Midríase, tremores, halitose,
cocaína hiperatividade, irritabilidade, hipertensão, taquicardia, perda de
agressividade, agitação, tendências peso, arritmias, febre, convulsões,
paranóides, alucinações visuais e perfuração do septo nasal
táteis. (cocaína).
Depressores do SNC: barbitúricos, Sonolência, confusão, falta de Diaforese, ataxia, hipotensão,
benzodiazepínicos. atenção. convulsões, delirium, miose.
Outros inalantes Euforia, sonolência, ataxia, Analgesia, depressão respiratória,
confusão. hipotensão.
Álcool Fraco julgamento, loquacidade, Nistagmo, rubor facial, ataxia, fala
alteração no humor, agressividade, arrastada.
prejuízo na atenção, amnésia.
Alucinógenos: LSD, psilocibina Duração de 8-12h com flashbacks Midríase, ataxia, conjuntiva
(cogumelos), mescalina (peiote). após abstinência, alucinações hiperêmica, taquicardia,
visuais, ideação paranóide, falso hipertensão.
senso de conquistas e força,
tendências suicidas ou homicidas,
despersonalização, desrealização.

Apostila elaborada pela profa. Maria da Conceição A. Ferreira para fins didáticos.
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REFERENCIAS

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

HOLMES, David S. Psicologia dos Transtornos Mentais. 2ª. Ed. Porto Alegre, Artmed, 1992.
BARLOW, David H. e DURAND, V. Mark. Psicopatologia: uma abordagem integrada. Revisão Técnica: Francisco B.
Assumpção Jr. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
FRANCES, A. Fundamentos do diagnóstico psiquiátrico. Porto Alegre: Artmed, 2015.
WHITBOURNE, Susan K. Psicopatologia: perspectivas clínicas dos transtornos psicológicos. 7ª. Ed. Revisão Técnica
Francisco B. Assumpção Jr., Evelyn Kuczynski. Porto Alegre: AMGH Editora, 2015.
NOTO, Cristiano S. e BRESSAN, Rodrigo A. (Organizadores) “Esquizofrenia: Avanços no tratamento multidisciplinar”. Porto
Alegre: Artmed, 2012. 2ª. Edição.
TUNG, Teng Chei “Enigma Bipolar: Consequências, diagnóstico e tratamento do transtorno bipolar”. São Paulo, MG Ed.,
2007.

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