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DEPRESSÃO E MELANCOLIA EM ADOLESCENTE QUE PRATICA A

AUTOMUTILAÇÃO: UMA ABORDAGEM PELA PSICANÁLISE.

Aluna: Maria de Fátima Marcelino da Silva


Pofessor: : Raphael Vaz do Amaral

INTRODUÇÃO

A depressão é apontada como forma e expressões do sofrimento psíquico na


atualidade. Muitos são os sintomas relacionados a essa condição: sentimentos
de tristeza, angústia, desanimo, insonia, falta de apetite, medo de sair de casa,
ansiedade e disturbios corporais (PELEGRINI,2003).

A Organizacçao Pan-americana da saúde (2019) afirma que essa doença é um


transtorno que acontece cerca de 300 milhões de pessoas no mundo. Ela pode
causar disfunção na escola, no trabalho ou no meio familiar. Nos casos mais
graves pode levar ao suicídio. A estimativa e que cerca de 800 mil casos de
suicídio a cada ano – dado importante – aponta também como segunda principal
causa de mortes entre os jovens.

Pelo viés etimológico, a melancolia deriva da palavra grega -melam (negro) e


cholis, (bile). Na Grécia antiga, por exemplo, Hipócrates, precursor da medicina
já utilizava o termo melancólico, segundo esse autor o homem carrega no corpo
o sangue, fleuma, bílis branca, e a bílis negra e teorizava que o coração era o
centro dos sentimentos humanos e o cérebro o motor das funções mais
elevadas. a doença surge quando ocorre um desequilíbrio de domínios em
relação aos outros (BERRIOS, 2012).
Ainda, seguindo esse viés, as doenças nervosas aconteciam por um
desequilíbrio dos fluidos corporais que entram em desequilíbrio no corpo.
Segundo ele, a teoria dos humores explicaria a regulação das emoções e a
formação do caráter do homem, uma afecção no cérebro pela bile negra
resultaria em tristeza melancólica cujos sintomas dominantes seriam medo,
tristeza, falta de ânimo, inibição e falta de apetite.

Voltando ao passado, percebemos que durante a Idade Média, a religião era o


guia para a existência do homem e aqueles que sofriam de melancolia eram
vistos como seres afastados de Deus, nessa época, acreditavam que pessoas
melancólicas eram possuídas por um demônio, portanto para salvação da
tristeza era recomendado o exorcismo. Caso isso não surtisse efeito, o doente,
muitas vezes, lançava mão do suicídio, o que comprovava segundo as leis da
igreja que o indivíduo estava possuído por forças demoníacas (SOLOMON,
2014).

No século XVIII, com o iluminismo e os avanços científicos, sobretudo, sobre os


estudos da medicina sobre a população, a melancolia presentifica-se com
doença que precisa de tratamento e o depressivo passa a ser indivíduo que
precisa ser considerado como alguém que precisa ter a sua saúde mental
restabelecida. Ocorre o declínio de um discurso religioso pautado na
superstição para o incremento do discurso ancorado na razão (TAVARES,
2010).

Com as transformações da era da industrialização e com o avanço das


descobertas médicas, aparecem diferentes nomenclaturas para a melancolia,
dentre elas a depressão, suas causas e os critérios para o seu diagnóstico
passam a ser buscados. Nesse período os médicos buscam nos sintomas as
causas fisiológicas da melancolia. Nesse percurso, também os medicamentos
são prescritos para os males que se relacionam com a saúde mental dos
indivíduos. Observa-se uma intensificação dos estudos sobre saúde mental
(PERES, 2010).
Segundo (TAVARES, 2010) Em 1860 a palavra depressão vai paulatinamente
aparecendo nos tratados médicos no lugar da palavra melancolia. E atualmente
parece haver o predomínio de uma sobre a outra. Contudo assevera (MOREIRA,
2002), que é preciso haver uma distinção entre as duas, pois há diferenças
estruturais. Sendo assim, ele observa que nos usos de antidepressivos a
eficiência para o tratamento do transtorno de depressão, mas há uma ineficiência
com o tratamento de melancólicos, por motivos de os antidepressivos não serem
anti-melancólicos.)

A partir disso, a depressão e a melancolia causa sintomas que levam a prática


da automutilação com o intuito de aliviar a dor psiquica, praticam a agressão a
si mesma invadido pela angustia na tentativa de fazer algo para além do que o
adolescente não está conseguindo. Pensar que a adolescência é uma
despedida do corpo infantil, a passagem da vida adulta, está relacionado ao
desamparo do luto que segundo (FREUD, 1912) ocorre após um evento
traumático que pode ser a despedida desse corpo infantil que para o
adolescente, não tem palavras para nomear.

JUSTIFICATIVA

Saber lidar com as angústias são situações que podemos aprender quando
identificamos as causas dessa dor. Um sujeito com angustia que não
verbalizada, mina completamente todos os campos da própria vida, pode ficar
estaguinado sem potência de vida, sem criatividade, sem motivação para viver.
São alguns dos sentimentos, entre outros, que habita no sujeito que carrega a
dor psíquica que pode ter origem na melancolia e na depressão causando
consequencias irreparáveis. Diante disso, a automutilação entre os
adolescentes, uma realidade que vem ganhando campo cada vez maior, como
forma de atenção reconhecer essas práticas é de suma importância para intervir
de forma direcionada e acolhedora a esse sujeito em desequilibrio emocional.
DELIMITAÇÃO DO TEMA

O processo de psicoterapia psicanalítica possui ferramentas que direciona o


sujeito a caminhos para o autoconhecimento, esses métodos que se basea na
fala com o objetivo de trazer a tona conteúdos como emoçoes, questões e
situações inconscientes reprimidas desconhecidos para o sujeito em sofrimento.
Pensar no adolescente que está praticando a automutilação provoca nos pais a
grande preocupação que exista o desejo de cometer suicídio, porém os relatos
colhidos de alguns adoscentes que fazem o uso da prática de causar dor em
seus corpos com o intuito de se sentirem melhor.

A automutilação é localizar no corpo uma dor generalizada que está presente em


todo o corpo com a tentativa de sanar a dor de uma ferida exposta que em cada
indivíduo, precisa ser entendida e feito uma leitura subjetiva de cada um com
suas histórias e seus contextos sociais.

O adolescente tem um discurso precário ao relatar sentimentos e com isso há


uma dificuldade dos pais ou reponsáveis em perceber a dor antes do ato. Toda
a dor que leva a prática da autoagressão pode estar relacionada a muitos fatores
externos como família, relacionamento amoroso, dificuldade de lidar com a
própria sexualidade entre outros. Dessa forma o tema esta delimitado em
identificar os motivos que levam o adolescente a autoagressao e qual os fatores
externos mais comuns que possam estar associados.

PROBLEMA DA PESQUISA

Diante do adoecimento psiquico entre os adolescentes, o que esconde o ato de


praticar a automutilação?
HIPOTESE

As incertezas que acompanha os pais e responsáveis no desenvolvimento da


adolescência faz parte de todo contexto familiar. É um período que envolve
observação, orientação, acolhimentos aos processos de transição. Para cada
fase vivida esse adolescente passa por períodos de despedidadas que causam
dores emocionais causando sofrimento para além do esperado e com isso.
Como ficar atento a mudança do comportamento do adolescente diante dos
conflitos possíveis que estejam passando e qual a importância da participação
dos envolvidos no processo de desenvolvimento para ser de forma saudável na
adolescência.

Diante de tantas causas possíveis que possam levar o adolescente a entrar em


sofrimento psíquico, desenvolvendo assim a depressão e a melancolia
consequentemente causando a si mema a dor física como forma de alívio diante
da angústia. Com base na Psicanálise procurar entender o movimento psíquico
que alimenta o desejo da autoagressão do adolescente e a partir disso saber
quais estratégias adequadas que possam ser adotadas na clínica psicanalítica.

OBJETIVOS

GERAL

O objetivo geral será analisar quais motivos que levam o adolescente a particar
a automutilação e entender de que forma a psicanálise desenha o caminha da
angústia que leva a automutilação em adolescente.

ESPECÍFICOS

Analisar os motivos que leva o adolescente a praticar o ato de se cortar bem


como saber quais os meandros que envolve o contexto que esse adolescente
vive. Entender a dinâmica psicológica que leva a prática da automutilação como
forma de aliviar a angústia. Descrever o processo que levou o adolescente a
tomar a desição de autoagreção, saber se foi consciente ou inconsciente.
METODOLOGIA

Nesta pesquisa blibliográfica descritiva terá como objetivo o entendimento, feito


por meio de leituras nos livros e artigos para uma descrição do processo de
automutilação em adolescente. Também, buscar saber como a psicanálise, em
uso de ferramentas próprias entende e direciona o sujeito em sofrimento, bem
como o uso das técnicas na psicoterapia. No presente estudo será realizado
uma pesquisa bibliográfica, que segundo (GIL, 2002) os livros são referencias
bibliográficas com fonte de confiabilidade de alto padrão. Assim, tendo como
meios de fundamentação teórica didático com autores da abordagem
psicanalítica, artigos científicos reunindo e comparando os diferentes dados
encontrados nas fontes que foram consultadas e listadas as principais formas
usadas na psicoterapia clínica no atendimento direcionado a adolescentes em
sofrimento psíquico.

REFERENCIAL TEÓRICO

Existem muitos sofrimentos que aparecem na fala dos adolescentes e também


no seu próprio corpo de várias formas. Segundo (FREUD...), a nossa existência
vai sendo marcada por meio do campo do imaginário, do simbólico que é a fala,
do real do corpo e em algum momento pode ser representado por meio da
linguagem, podendo ser a linguagem corporal e a linguagem da fala.

Falar da adolescência requer entender sobre as mudanças que esse corpo sofre.
A puberdade marca o início da despedida do corpo infantil, com os hormônios
oscilando causando alterações em vários níveis. Esse corpo passa por
transformações intensas e consequentemente as emoções são afetadas de
forma significativa. Nesse período o sujeito é marcado pelas problemáticas de
início do processo de transformação e finaliza com o repouso das bases afetivas,
definição profissional, características físicas definidas e a formação do carater.
Em seus estudos sobre a melancolia (FREUD, 1917-2006) assevera que o
luto e o afeto presente na melancolia. Nele ocorre um esvaziamento
pulsional e libidinal ocasionados por perdas amorosas ou fatos ocorridos da
vida na qual o enlutado apresenta um grande desejo em recuperar aquele
objeto que foi perdido, nesse sentido, o indivíduo do luto sofre por querer o
objeto perdido de volta. Assim, na passagem da infância para a
adolescência existe o sentimento de perda de algo que o sujeito não sabe
dizer.

Para compressão da depressão recorremos a (LACAN 1974) que situa esse


sintoma correlata a uma angústia e a nomeia como covardia moral do sujeito
em decifrar-se e haver com seu desejo. Segundo ele, isso acontece porque
o deprimido cede às intempéries da vida distanciando-se do seu desejo,
haveria uma covardia do sujeito frente ao próprio desejo. Desse modo,
através do pensamento e do inconsciente enquanto estrutura, haveria um
distanciamento, uma recusa, um não querer saber do sujeito daquilo que
inconscientemente o determina.

Para (FREUD, 1895) está fase é um intenso trabalho psíquico que o adolescente
sente, contém o germe da histeria, adolecer escolher se separar, isso leva a
pensar que na adolescencia está em jogo a alienação e a separação, essa
constituição do sujeito e ela reedita o complexo de édipo adolescente. Pensar
que a criança tem que fazer objeto do outro para se subjetivar e faz parte do
processo de subjetivação do sujeito. Logo após tem a latencia, onde está tudo
imbernado e no dispertar vem a explosão de emoções que é caracterizado pela
pulsão sexual que irá experimentar na puberdade.

Um corpo que começa a pulsar com sensações que o adolescente não entende
e é um tempo inigmático para ele que é convocado a sair desse atravessamento
desse corpo que muda de forma. A infância é marcada pelo falocentrismo onde
percebe-se a diferença pelo pênis e na adolescência, segundo (FREUD, 1905)
no texto os três ensaios da sexualidade em que o corpo ganha outro vulto que
vai se colocando no desejo de saber quem eu sou. (FREUD, 1905) fala que a
adolescência é um túnel que é cavado em ambos os lados que simbolicamente
pode ser representado pelo passado e o futuro que coloca o adolescente em um
lugar escuro. É um período de de muitas incertezas por não ter uma experiência
psíquica, ele ainda está engatinhando nos seus recursos simbólicos.

A partir disso, os conflitos emocionais nesse período da vida do sujeito pode


causar danos sérios e levar a consequências dráticas, entre eles a
automutilação. Além do sofrimento vivido pelo adolescente é de suma
importância o acolhimento da família. Geralmente o adolescente não busca
ajuda profissional, ele geralmente é sugestionado pela família, orientado a
buscar a análise pelo grupo que está em seu convívio. Assim, acaba por
descobrir a análise, mas não tem plena consciência de como funciona e de como
será sua participação.

CRONOGRAMA:

ATIVIDADE AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO


definição do x
tema
Pesquisa x x x
bibliografica
Fichamento x x x
Coletas de x
fontes
Redação do x x
trabalho
Revisão, x
acertos finais
e imprensão
Entrega do
trabalho final
Apresentação x
do trabalho
Resultado x
REFERÊNCIAS

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