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ESTUDO TEÓRICO
RESUMO
Este trabalho objetiva relatar a automutilação na adolescência. Tem se tornado um tema relevante
nos dias atuais. A psicanálise contribui de forma significativa para os estudos sobre os
adolescentes, estudando mecanismos presentes neste comportamento e apontando soluções
frente ao problema. Desde quando a psicanálise surgiu, esse tema é estudado, e tem sido
aprofundado nos dias atuais. Sendo assim, o presente artigo propõe realizado na forma de revisão
da literatura objetiva relatar acerca de possíveis adoecimentos ou mecanismos inconscientes, que
podem estar por trás de comportamentos autolesivos em adolescentes e apontar sinais de alerta.
Esse trabalho apresenta a adolescência e suas transformações e faz uma relação da automutilação
com a histeria, contextos sociais como mídias, relações afetivas e traumas vivenciados. Assim,
apresenta interpretações psicanalíticas a respeito do assunto. É válido ressaltar que a psicanálise,
além de investigar questões inconscientes, também propõe um tratamento eficaz com técnicas
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criadas desde a criação desta abordagem, aperfeiçoando-se cada vez mais com novas
contribuições; apresenta como os diversos autores psicanalíticos contribuem com o tema em
questão.
This work aims to adolescence self-mutilating has become a relevant topic. Psychoanalysis
contributes significantly to studies about adolescents, studying behavior mechanisms in teens and
pointing out solutions to the problem. In this way, since psychoanalysis emerged, this topic has been
studied, and has been deepen studied nowadays. Therefore, this article proposes a study about the
possible illnesses or unconscious mechanisms, which may be behind adolescents self-harm
behaviors, and that can point out warning signs. This work presents adolescence and its
transformations and makes a relationship between self-mutilation and hysteria, social contexts such
as media, affective relationships and experienced traumas. It al so presents psychoanalytic
interpretations on the subject. It is worth mentioning that psychoanalysis, in addition to investigating
unconscious issues, also proposes an effective treatment by techniques created since the creation
1
Endereço eletrônico de contato: larissa.00853@alunofpm.com.br
Recebido em 04/11/2022. Aprovado pelo conselho editorial para publicação em 06/12/2022.
1 INTRODUÇÃO
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo trata-se de uma análise do livro “Este sujeito adolescente” acrescida de
uma discussão obtida a partir de levantamento na literatura por meio de artigos, monografias,
dissertações e teses buscadas em bibliotecas digitais como PEPSIC, Google Acadêmico, dentre
outros. Na busca foram utilizadas as seguintes palavras-chave: “adolescência e psicanálise” e
“automutilação na adolescência”. As obras selecionadas foram publicadas em português, no
período de 2011 a 2021, incluindo-se artigos, trabalhos acadêmicos, livros, vídeos, obras de Freud,
dentre outros.
adolescente. Ele sente muitas angústias. Diante dessas angústias, o adolescente vai da passagem
ao ato, para rearticular a fantasia (Dunker, 2017).
Para Freud, o adolescente pode ser considerado como um sujeito neurótico. A adolescência
é o encontro com o real do sexo, ou seja, na puberdade as fantasias estão ligadas ao sexual infantil.
O adolescente desliga-se dos pais, porque na infância houve uma falha na função paterna. O sujeito
que enxerga como falha, chamada de “castração”, um rompimento do complexo de Édipo. Esse
evento na infância gera uma neurose, e na adolescência esses conteúdos inconscientes e
recalcados retornam e levam muitos ao suicídio ou à tentativa (Alberti, 2009).
A sexualidade tem um papel fundamental na histeria, vinda de traumas psíquicos. Os
conteúdos da consciência são recalcados, geram uma defesa, repressão desse trauma infantil.
Breuer e Freud, ao investigarem a histeria, criaram o método de hipnose, possibilitando aos
pacientes alucinarem o momento que provocou o primeiro ataque. Sintomas como: paralisias,
ataques histéricos, convulsões epileptoides, tiques, vômitos contínuos, anorexias com recusa de
alimento, distúrbios da visão, alucinações visuais, dentre outros fatores, que eram presentes em
pacientes histéricos, desapareciam na hipnose ao despertar a lembrança do acontecimento que
motivou a histeria avivando o afeto, sendo colocado em palavras, expressando-se, através da
recordação (Barreto, 2016).
Para Freud, a adolescência é o encontro com o real do sexo, a puberdade e para Lacan, o
real é efeito do simbólico, que inclui a cultura, a linguagem e relações. Essa relação com o outro só
começa a partir da identificação com o pai, que é o significante. Na histeria, a pessoa sente como 251
se não tivesse um lugar na sociedade, na escola, no trabalho, enquanto na fobia há medo, não
suportando estar no meio de pessoas. Em ambos há uma dificuldade de se estabelecer um vínculo
social. Freud acreditava que o complexo de édipo não era algo tão recalcado assim. Ele retorna e
implica o sujeito neurótico, mostrando uma falha no recalcamento e que o desejo é, muitas vezes,
expresso por um sintoma (Alberti, 2009).
Derivada da palavra grega hystera (matriz, útero), a histeria é uma neurose* caracterizada
por quadros clínicos variados. Sua originalidade reside no fato de que os conflitos psíquicos
inconscientes se exprimem de maneira teatral e sob a forma de simbolizações, através de sintomas
corporais paroxísticos (ataques ou convulsões de aparência epiléptica) ou duradouros (paralisias,
contraturas, cegueira). As duas principais formas de histeria teorizadas por Sigmund Freud* foram
a histeria de angústia, cujo sintoma central é a fobia* e a histeria de conversão, onde se exprimem
através do corpo representações sexuais recalcadas. A isso se acrescentam duas outras formas
freudianas de histeria: a histeria de defesa*, que se exerce contra os afetos de prazerosos e a
histeria de retenção, onde os afetos não conseguem se exprimir pela ab-reação*. A expressão
histeria hipnóide pertence ao vocabulário de Freud e Josef Breuer*, no período de 1894-1895. Foi
também empregado pelo psiquiatra alemão Paul Julius Moebius, (1853-1907). Designa um estado
induzido pela hipnose* e que produz uma clivagem* no seio da vida psíquica. A expressão histeria
Freud atendeu uma jovem chamada Katharina, que se sentia doente dos nervos.
Consultando vários médicos, queixando-se de falta de ar a ponto de se sentir sufocada, semblante
atormentado, pressão nos olhos, sentindo-se tonta, peito comprimido, aperto na garganta. Sentia
como se a cabeça martelasse e sensação de morte, ou seja, sintomas que Freud investigou e
denominou como histeria (Freud,1985).
O conceito estudado por Freud, chamado de “repetição” implica a ideia de que há um
sofrimento no ser humano que se torna patológico, fazendo-o repetir conteúdos que geram
desprazer contrário ao propício foi prazer gerado por pulsões, como a pulsão de morte ligando ao 254
ato de se mutilar. O tratamento psicanalítico compreende que este ato e uma forma de tornar
simbólica a demanda do outro e ressalta a importância da visualização (Bernal, 2019).
O foco da psicanálise é levar o sujeito a recordar, repetir e elaborar. Ao repetir, no momento
da análise, possibilita o despertar das recordações passadas, mas para isso é preciso a
transferência para superar as resistências; o “recordar” se dá através da técnica de associação livre
(Freud, 1914).
A paciente Katharina relata sintomas que aparecem acompanhados de medo de ser
agarrada e pensa em um rosto que a olha, mas que ela não reconhece. Freud identifica a angústia
que há em jovens, vindos de um pavor de se conhecer a sexualidade pela primeira vez (Freud,
1985).
Freud interpreta o caso de Katharina, percebendo que os ataques começaram em relação a
um momento em que ela tivesse visto ou escutado algo que a incomodou. Foi o momento em que
pegou seu tio com uma menina, levando-a a se sentir culpada pela separação dele e sua tia, ao
sinalizar o episódio presenciado. No momento apareceram sintomas como falta de ar, vistas
escuras, zumbido na cabeça; mesmo não entendendo no momento o que havia visto, ficou
assustada e vomitou por dias (Freud, 1985).
Freud investiga o caso de Katharine, com ela relatando o momento traumático. Após muitas
investigações, a moça relatou que o mesmo tio havia assediado-a sexualmente e essas lembranças
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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