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Resumo
1. Introdução e Justificativas
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Psicólogo, doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e pós doutor em Psicologia Clínica pela
Universidade de São Paulo. Professor Associado do Departamento de Psicologia do Instituto de Ciências Humanas e
Sociais da Universidade Federal Fluminense, Campus de Volta Redonda. Coordenador do Laboratório de Estudos e
Pesquisas sobre Infância e Adolescência (LEPIA).
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próprio corpo. Mas esse problema não se reduz ao âmbito da psicologia clínica, psicanálise ou da
psiquiatria. Em uma busca no site de compartilhamento de vídeos “YouTube”, utilizando a palavra
chave “automutilação”, em junho de 2017, foram encontrados 10.800 vídeos incluindo muitos
autorrelatos de pessoas que se automutilam ou já se automutilaram. Já em relação às comunidades
do Facebook foram localizadas 142 páginas.
Ainda que tenha crescido o interesse por esse fenômeno, as dificuldades em delimitá-lo e
mensurá-lo são grandes, pois ao longo do tempo são encontradas inúmeras e diferentes definições
na literatura. No decorrer dos anos, surgiram noções mais abrangentes e outras mais delimitadas, na
tentativa de evitar equívocos e solucionar o desacordo conceitual tão presente nesse campo de
estudo. Mapeando as diferentes tentativas de definição da automutilação, Favazza e Rosenthal
(1993) encontraram os seguintes termos: autoagressão, lesões intencionais, malformação, ferimento
simbólico, masoquismo, síndrome de Munchausen, autodestruição deliberada, autodestruição local,
auto corte delicado, comportamento auto lesivo, agressão contra si próprio, pára-suicídio, tentativa
de suicídio e suicídio focal.
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A automutilação maior refere-se aos atos mais infrequentes, em que uma parte significativa
do tecido corporal é destruída, tal como nos casos de amputação de membros, castração e enucleção
ocular, por exemplo. A automutilação estereotipada abarca os comportamentos de padrão
predominantemente fixo, aludindo à pobreza de simbolismo, e são em sua maioria marcados por um
ritimismo, como os comportamentos de bater a cabeça, morder o dedo e pressionar o globo ocular.
Já a automutilação moderada ou superficial tem caráter mais variado e mostra maior frequência na
clínica psiquiátrica, aludindo-se aos atos que possuem baixa letalidade, ou seja, baixo dano ao
tecido corporal e, caracterizada pela repetição e frequência esporádica. É o caso dos
comportamentos de cortar a pele, interferir na cicatrização de feridas, arranhar-se ou queimar-se por
exemplo. Vale ressaltar que esses tipos de automutilação podem se sobrepor, mas é provável que
cada um esteja associado a um quadro psicopatológico específico. Mas de qualquer forma, a
utilização dessas classificações mostra-se frequente e útil para a elaboração de um diagnóstico
diferencial, já que fornecem dados de uma estrutura inicial (Favazza & Rosenthal, 1993).
São vários os objetos empregados na prática da autolesão por adolescentes. Os citados com
mais frequência são navalhas, giletes, facas, estiletes, vidros, cachecol, canetas, pedras, grampos,
dentes e até mesmo as mãos e unhas (Dinamarco, 2011; Vieira, Pires & Pires, 2016). É comum que
as lesões incidam não somente em uma parte do corpo, mas em várias. Contudo, algumas são
atingidas com mais regularidade que outras, principalmente os braços, as pernas, a barriga, o peito e
outras áreas na parte frontal do corpo, em razão da facilidade de alcançá-las (Giusti, 2013; Matos et
al., 2012; Vieira, Pires & Pires, 2016).
Embora este fenômeno tenha afetado a muitos e se tornado um grave problema de saúde
pública, ele não tem sido objeto de investigação de pesquisadores brasileiros. No país, não se
identificam estudos detalhados a respeito deste fenômeno. Entretanto, recentemente, foi realizada
uma pesquisa de corte transversal em uma cidade do Vale do Paraíba, interior do estado de São
Paulo. A investigação foi conduzida a partir da aplicação de um questionário, que foi respondido
por vinte pacientes de um ambulatório de psiquiatria desta região. Por meio deste estudo foi
possível concluir que o fenômeno da autolesão foi mais prevalente em adolescentes femininas e
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portadoras de algum transtorno psiquiátrico (Vieira, Pires, & Pires, 2016). Embora este não seja um
estudo amplo, pois contempla uma população muito específica, sua existência sugere que este tipo
de pesquisa tende a crescer no Brasil e por isso demanda o investimento em investigações,
principalmente de base epidemiológica, para se compreender e mapear a frequência e prevalência
da automutilação na população brasileira.
Essa técnica projetiva foi, segundo Bunchaft e Vasconcelos (2001), apresentada originalmente
pelos psiquiatras Pigem e Córdoba em 1946, em Barcelona. O teste consistia basicamente em duas
questões: o que gostaria de ser se tivesse de voltar ao mundo não sendo uma pessoa? Por que você
fez essa escolha? A resposta escolhida corresponde ao símbolo desiderativo e o porquê da resposta
representa a expressão desiderativa. Em 1948, Bernstein reelaborou e ampliou a técnica, solicitando
três escolhas e três rejeições com as respectivas explicações (Ninjamkim & Braude, 2000).
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Deve-se ressaltar que esse teste projetivo ainda não possui a certificação do Conselho Federal de Psicologia (CFP),
demandando estudos de validade junto à população brasileira. Dessa forma, a presente investigação irá colaborar
com os estudos de padronização e validação que vem sendo conduzidos pelo proponente responsável desse projeto
de iniciação científica.
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As escolhas e as rejeições são classificadas como pertencendo a três categorias: animal, vegetal
e reino inanimado. Desta forma, ao responder a questão: “Se não fosse uma pessoa, o que mais
gostaria de ser? Por quê?”, o examinador elimina a categoria escolhida e formula nova questão,
obtendo uma nova resposta e procede, assim, também na terceira escolha. No que se refere às
rejeições o procedimento é o mesmo. Na primeira rejeição, a partir da questão: “O que você não
gostaria de ser se não fosse uma pessoa? Por quê?”, o sujeito responde com uma categoria (animal,
vegetal, reino animado) e elimina, assim, esta mesma categoria e, então, o examinador parte para a
segunda e terceira categorias. Quando o participante não consegue dar as respostas
espontaneamente, pode-se induzir a resposta, ou seja, na pergunta sugere os reinos cujas respostas
anteriores não foram incluídos. Essa condição demonstra a possibilidade de dar conta da tarefa que
o teste exige, mas com a necessidade de apoio. Se mesmo após induzir as escolhas e ou rejeições, o
sujeito não consegue responder a todas as questões do teste, o material parcial obtido é analisado e o
teste pode ser, assim, considerado incompleto (Ninjamkim & Braude, 2000).
Grassano (1997) afirma que o Questionário Desiderativo permite que se estude a força do Ego e
os mecanismos de defesa, a partir de uma exploração e categorização do material obtido face às
instruções do instrumento. Da mesma forma, Ninjamkim e Braude (2000) pontuam que este teste
revela-se bastante sensível para a avaliação das identificações e defesas predominantes em cada
sujeito. Também Sneiderman (2012) considera o Questionário Desiderativo uma técnica simples em
termos de administração, rápida, econômica e, sobretudo, rica em seus alcances exploratórios,
propiciando a investigação de alguns traços de personalidade do paciente, podendo ser aplicada em
crianças, adolescentes e adultos e em diferentes contextos e situações clínicas.
2. Objetivos
Específicos
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Identificar as ansiedades inconscientes predominantes na personalidade de adolescentes que
se automutilam por meio do Questionário Desiderativo.
Avaliar e descrever a estrutura de personalidade de adolescentes que se automutilam no que
se refere aos fatores Psicoticismo, Neuroticismo, Extroversão e Sinceridade, por meio do EPQ-J.
Realizar estudo comparativo entre os resultados do Questionário Desiderativo e do EPQ-J
aplicados em adolescentes que se automutilam para verificar a validade convergente3 entre os dois
instrumentos.
3. Método
3.1. Participantes
3.2 Instrumentos
b) Questionário Desiderativo: Técnica projetiva que estuda o grau de estruturação do Ego por meio
de expressão verbal, mobilizando ansiedades e defesas (Pinto Junior e Tardivo, 2015). O
instrumento foi descrito em item anterior.
3.4. Procedimentos
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Em avaliação psicológica, a validade convergente pode ser definida como a relação significativa entre duas ou mais
medidas de um mesmo construto ou de construtos teoricamente relacionados, utilizando-se diferentes métodos ou
instrumentos de avaliação (Pasquali, 2003).
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Inicialmente e ao longo de todo o desenvolvimento desse projeto será realizada uma revisão
da literatura científica na área da automutilação em adolescentes. Essa pesquisa bibliográfica busca
identificar os estudos mais atuais na área, focando os aspectos emocionais e de personalidade
associados a tal conduta.
Após a coleta dos Termos de Consentimento assinados pelos responsáveis dos participantes,
serão realizadas as entrevistas individuais com os adolescentes, quando serão explicados os
objetivos da pesquisa e solicitada a assinatura do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido.
Assim, após a entrevista de “rapport”, o Questionário Desiderativo será aplicado, individualmente,
aos participantes do estudo, seguindo as instruções apresentadas por Ninjamkim e Braude (2000).
As aplicações do Questionário Desiderativo serão gravadas e posteriormente transcritas para análise
dos dados coletados.
O EPQ-J deverá ser aplicado logo após o Questionário Desiderativo e deverá também seguir
as orientações e instruções de Flores-Mendoza (2013). Vale lembrar que será garantido o anonimato
e o sigilo dos participantes, bem como o respeito à privacidade e à intimidade, e ainda garantindo-
lhes a liberdade de participar ou declinar desse processo no momento em que desejarem,
respeitando as recomendações do Conselho Nacional de Saúde, conforme resolução 196/96.
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O referencial de análises é composto, ainda, por quatro itens que permitem uma análise
aprofundada de aspecto relevantes da personalidade do participante, os mecanismos de defesa e os
tipos de vínculos, que são:
f) Identificação Projetiva: é o mecanismo pelo qual o Ego deposita um aspecto de si num símbolo
com o qual se identifica. No Questionário Desiderativo, a identificação projetiva é reconhecida
através da capacidade do sujeito em escolher símbolo adequadamente estruturado e com
consistência (Nijamkin & Braude, 2000).
g. Racionalização: procedimento pelo qual o sujeito tenta oferecer uma explicação coerente do
ponto de vista lógico ou aceito socialmente para uma atitude, ato, ideia ou sentimento. No
Questionário Desiderativo, a racionalização se evidencia quando o indivíduo justifica sua escolha e
pode fazê-lo dentro da lógica formal (Nijamkin & Braude, 2000).
Após a analise todos os protocolos, os dados serão transportados em planilha para proceder
ao tratamento estatístico e verificar a existência de eventuais diferenças estatisticamente
significativas (adotando-se p≤0,05) entre as respostas fornecidas pelos adolescentes em função do
sexo e nível escolar. Assim, será realizado o trabalho de estatística analítica das categorias
avaliadas, recorrendo-se ao teste de Mann-Whitney para comparar as distribuições nas variáveis
numéricas (como por ex. tempo de reação), e ao teste Qui-quadrado ou Exato de Fisher para
comparar as distribuições nas variáveis categóricas nominais (como por ex. sequência das escolhas,
racionalização etc.).
Para o EPQ-J serão feitas as correções segundo o manual apresentado por Flores-Mendoza
(2013) para as quatro escalas avaliadas por esse instrumento. Os resultados serão expressos em
dados numéricos e inseridos em planilhas para permitir as análises estatísticas por meio do teste de
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Mann-Whitney e posteriormente as devidas comparações com as categorias do Questionário
Desiderativo.
Como última etapa da pesquisa, será realizado um estudo comparativo entre os resultados do
Questionário Desiderativo e do EPQ-J dos adolescentes que se automutilam para verificar a
validade convergente entre os dois instrumentos. O exame estatístico a ser utilizado para investigar
as correlações entre as categorias dos dois testes empregados será o coeficiente de correção de
Pearson (p≤0,05). Por fim, os resultados serão discutidos e confrontados com os aportes da
literatura pertinente com vistas a contemplar as possíveis contribuições dessa avaliação psicológica
para a compreensão dos aspectos emocionais de adolescentes que se automutilam. Além disso,
espera-se que, com os dados analisados, esses resultados possam colaborar para certificação do
Questionário Desiderativo para o uso profissional no contexto brasileiro pelo CFP.
Na tabela abaixo são apresentadas todas as atividades a serem executadas para a condução
desse projeto de pesquisa.
Atividades/ meses 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
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5. Referências
Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2013). Cartilha avaliação psicológica. Brasília - DF.
DiClemente, R .J., Ponton, L. E, & Hartley, D. (1991). Prevalence and correlates of cutting
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Favaro, A., Ferrara, S., & Santonastaso, P. (2007). Self-injurious behavior in a community sample
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Favazza, A. R., & Rosenthal, R. J. (1993). Diagnostic issues in self-mutilation. Hospital &
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Grassano, E. (1997). Indicadores psicopatológicos nas técnicas projetivas. São Paulo, SP: Casa do
Psicólogo.
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Matos, M. G. et al. (2012). Aventura social & saúde: a saúde dos adolescentes portugueses–
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Ninjamkim, G., & Braude, M. (2000). Questionário Desiderativo. São Paulo, SP: Vetor.
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Pasquali, L. (2003). Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis: Vozes.
Pinto Junior, A. A., & Tardivo, L. S. P. C. (2015). Estudio del funcionamiento psicodinámico de
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