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CONTEMPORANEIDADE
UNIDADE IV
CRISE, MORTE POR SUICÍDIO E LUTO
Elaboração
Aline Freire Bezerra Vilela
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................. 4
UNIDADE IV
CRISE, MORTE POR SUICÍDIO E LUTO............................................................................................................................................ 7
CAPÍTULO 1
COMPREENDENDO A CRISE E O SUICÍDIO NOS TRANSTORNOS MENTAIS............................................................ 7
CAPÍTULO 2
FALANDO DE LUTO E MORTE................................................................................................................................................ 24
CAPÍTULO 3
ALGUMAS ALTERAÇÕES MENTAIS DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NA CRISE................................................ 30
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................36
ANEXOS..........................................................................................................................................................42
INTRODUÇÃO
Esta disciplina foi desenvolvida com o objetivo de oferecer recursos para uma melhor
capacitação no âmbito profissional, bem como enriquecer seus conhecimentos
sobre o tema.
Objetivos
» Definir psicopatologia demarcando os termos relevantes para sua
compreensão.
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CRISE, MORTE POR
SUICÍDIO E LUTO
UNIDADE IV
CAPÍTULO 1
COMPREENDENDO A CRISE E O SUICÍDIO NOS
TRANSTORNOS MENTAIS
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/638526053401521695/.
1. Crise
Quando falamos em crise, podemos pensar em várias situações que nos remetem à ideia
de dificuldade, momentos que nos fazem desorganizar ou não ter a resposta adequada
na situação. No caso da crise psicológica, veremos que muitos autores retratam essa
vivência de modo diferenciado. Alguns as veem como etapa de processos, outros como
momentos subjetivos que não necessariamente alcançam todos os seres humanos.
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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto
Mas na clínica dos transtornos mentais graves poderíamos atentar também ao conceito
trazido por Tavares (2004), que conceitua crise no sentido psicológico. Para ele, a crise:
É muito comum na prática clínica, quando lidamos com pacientes de alta gravidade,
com transtornos depressivos graves, pacientes com transtornos de personalidade –
enfim, pacientes sem recursos atuais para lidar com a forte pressão que as demandas
decorrentes dos conflitos internos os fazem sofrer –, depararmo-nos com esse modelo
de crise, em que o paciente chega sem nenhum tipo de resolução de conflitos, chega sem
recursos internos e exaurido pelas fortes pressões, as quais tem suportado em nome de
sua integridade.
O termo crise, ainda, pode nos remeter “ao estado de reação de um indivíduo que se
encontra em uma situação de perigo”. Segundo Davanloo (1986), as palavras crise e
stress normalmente são usadas indistintamente, talvez porque, se pensarmos em stress
como uma situação mobilizadora, possamos lembrar de um caminho que leva à crise.
Sifneos (apud DAVANLOO, 1986) define crise emocional como “[...] a intensificação
de um estado de dor que tem o potencial de se tornar o ponto de transição para melhor
ou para pior”. O autor afirma que o estado de crise emocional ocorre em seguida a um
acontecimento de perigo, o qual, em algumas pessoas que têm sido emocionalmente
saudáveis, estabelece as condições para a crise emocional.
Mas um fator muito importante a ser destacado é que nem todas as pessoas que
enfrentam a mesma situação de perigo entrarão em um estado de crise. Existem, portanto,
acontecimentos comuns de perigo, como perda por morte e as sequelas causadas pela
dor e desolação.
Com base nos autores mencionados, a crise pode ser percebida como um processo pelo
qual passa o ser humano em alguma etapa de sua vida. Essa pode ser bem adaptada
ou mal adaptada, ou seja, o modo como essa crise irá encerrar-se pode ser positivo ou
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
Observamos que vários autores consideram o momento de crise de maneiras diferentes, e, por
isso, podemos fazer uma crítica, por exemplo, ao pensamento que elucida uma vivência de
crise como um aspecto meramente ou primordialmente cognitivo na resolução dos conflitos.
É nesse entendimento que Simon (1989, p. 59) trata como ponto central da crise o
momento em que o paciente se vê em frente a uma situação nova e transformadora, que
exige uma estruturação dinâmica de aspectos que concernem às emoções e ao modo
como ele poderá conduzir seu processo criativo. Nesse sentido, a “habilidade eficaz para
resolver problemas” não se justifica com ensino-aprendizagem, mas com uma concepção
que justifica a experiência humana sentida, vivenciada unicamente pelo sujeito que sofre
ou experimenta a vivência da crise, no âmbito afetivo.
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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto
A avaliação do estresse na teoria da crise tem sido estudada para que pudéssemos observar
o desenvolvimento que repercute no campo da prevenção da saúde mental. Parkers (1998),
observando e acompanhando o trabalho de Caplan em Havard, passou a utilizar o termo
crise na tentativa de compreender diferenciação das situações importantes de estresse
corriqueiras na vida de um ser humano e no luto. Para ele, embora as crises no luto fossem
limitadas, poderiam por algum motivo colocar em risco a saúde mental do sujeito.
A crise, ou episódio momentâneo pelo qual passa o sujeito, pode alterar o modo
comportamental da pessoa envolvida ao ponto da necessidade de um planejamento
de tratamento psicológico engajado e que requeira tempo e comprometimento.
O lado positivo da crise seria o fato de promover mudança estrutural no sujeito, a fim
de orientá-lo a abandonar velhas concepções construídas durante a vida e reconstruir
novas modelagens que irão formular uma nova estruturação psíquica.
O objetivo principal da prevenção das crises por perda seria ajudar o sujeito a aceitá-las,
resignar-se à frustração, lidar com a depressão e a culpa, além de estimulá-lo a retomar o
interesse pelo universo pessoal. Já nas crises por aquisição, ajudar o indivíduo a aceitar
o ganho, controlar a voracidade moderando a ambição, ampliar o universo pessoal tanto
quanto possível, de acordo com a sua capacidade, condições ambientais e ainda se o
aumento do universo pessoal provocar crise por aquisição de responsabilidade, acima
da capacidade real do sujeito em assumir a demanda.
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
Devemos entender, a partir da conceituação exposta por esses autores, que a crise deve
ser percebida como um processo pelo qual passa o ser humano em alguma etapa de sua
vida. Essa pode ser bem adaptada ou mal adaptada, ou seja, o modo como essa crise
irá encerrar-se pode ser positivo ou negativo, levando o sujeito ao desenvolvimento e
amadurecimento ou a um período de vulnerabilidade e adoecimento.
Nossa própria morte não nos pode ser representada, e quanto mais
tentarmos representá-la, mais observaremos que, na realidade,
continuaremos apenas como espectadores. (FREUD, 1915)
Fonte: ippsyunb.blogspot.com/.
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2. Suicídio
Muitos confundem o suicídio com tentativa de suicídio, mas os termos se diferenciam
(BOTTI et al., 2018). Por isso, os abordaremos separadamente, para traçar algumas
distinções.
Ao usar o termo suicídio, referimo-nos: morte gerada por ato positivo ou negativo
do próprio sujeito, seja direta ou indiretamente e com o conhecimento do resultado
(DURKHEIM, 1978); ato voluntário de terminar com a própria vida (BOTEGA, 2015);
morte que é autoprovocada intencionalmente, o suicídio consumado (NEVES et al.,
2014; WENZEL; BROWN; BECK, 2010).
Já a tentativa de suicídio é descrita como: ato suicida interrompido, que não foi
consumado (DURKHEIM, 1978); atos de autoagressão que são realizados de forma
intencional e não resultam em morte, que podem ser graves, precisando de hospitalização,
ou outros casos que não requerem atendimento médico (SOUZA et al., 2011); ação
dirigida a si próprio, que levará à morte se não for interrompida (FONSECA; LOBO,
2015).
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
No contexto da crise, adentrar na morte por suicídio pode ser sentido como um pensamento
aterrorizador, pois esse tipo de morte, além de não estar dentro dos padrões sociais, de
não fazer parte de uma morte natural, é um momento sentido, em sua grande maioria,
como um final dramático e perturbador. Perder uma avó por morte natural, por exemplo,
pode causar um impacto totalmente diferente do que perder alguém próximo por suicídio.
A dor de perder alguém por suicídio é uma dor que pode ser considerada intolerável no
primeiro momento, uma dor que vem sobrecarregada de muito sofrimento e fantasias,
além de nos colocar diante da nossa própria fragilidade. A tomada da consciência da
nossa própria fragilidade nos assola como seres humanos em vários momentos da vida,
seja ela num momento de perda trágica ou não, seja na perda de um padrão de vida
idealizado, na perda do emprego, na perda da pessoa amada, na perda de uma fase da vida.
Falar sobre emergência psiquiátrica infantil é um assunto que não vemos com
muita constância. Normalmente, são os pais quem deliberam a situação de crise
ou de vivência de crise dos seus filhos, e a partir daí procuram ajuda. As alterações
psicológicas encontradas em crianças se apresentam paulatinamente no transcurso
do desenvolvimento da vida dessa criança.
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
A perspectiva sociológica do suicídio, em 1897, foi trazida por Émile Durkheim, que, em
sua publicação “Suicídio: um estudo sociológico”, tentou explorar a questão do suicídio
como o caso de morte que resulte direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo
e que seja praticado pela própria vítima.
Diferentemente da tentativa que seria o ato assim definido, mas interrompido antes de
resultar em morte (NUNES, 2016 apud WERLANG; BOTEGA, 2004). No entanto, essa
última característica da tentativa de suicídio seria chamada de comportamento suicida
na atualidade.
As ações suicidas em que a intenção de morte está presente, mas que, por algum fator,
não chegam à consumação, são chamadas de tentativas de suicídio. O comportamento
autodestrutivo ou suicida se divide em: diretos e indiretos.
Não é tão comum que pessoas na tentativa de se suicidarem sejam salvas por terceiros,
e, por fim, acabam por se deparar com a contradição dos seus sentimentos, uma vez
que o fato de querer acabar com a angústia predominantemente devastadora é o que
leva à tentativa. Perceber-se em situação de controle, quando medicada e atendida por
uma equipe multidisciplinar de atenção, além de outros fatores, pode reduzir a pressão
para o desejo de morte.
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anos se aproxima a 6,9 casos para cada 100 mil habitantes, o que remete a uma taxa
relativamente baixa quando comparada aos países líderes nesse ranking, tais como:
Índia, Zimbábue e Cazaquistão, por exemplo, que têm mais de 30 casos para cada 100
mil habitantes. O Brasil está no 12º lugar da lista dos países latino-americanos com
mais mortes nesse segmento.
“Para a faixa etária de 15 aos 29 anos, apenas acidentes de trânsito matam mais. E se
você analisar as diferenças de gênero, o suicídio é a causa primária de mortes para
mulheres nesse grupo”, diz Alexandra Fleischmann, especialista da OMS, à BBC (apud
WERLANG; BOTEGA, 2004, p. 67).
Ainda segundo os autores, para trabalhar com prevenção do suicídio dentro dessa
perspectiva, é preciso:
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
A respeito do quantum da consciência que está sobre os atos suicidas, Shneidman afirma
que, embora não se saiba por que seres humanos tiram a sua própria vida, é possível que
mesmo uma pessoa que atenta contra si não reconhece a fundo os complexos motivos
que a levaram à autodestruição.
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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto
Podemos ver que o suicídio não é um ato que acontece sem algum tipo de premeditação,
sem intencionalidade, ao contrário, é um fenômeno vivenciado como a resposta encontrada
pelo indivíduo que sofre na intenção de escapar da dor psicológica devastadora.
Foi a partir do estudo desse fenômeno que se percebeu que o suicídio sempre vem
antecedido por sinais verbais ou comportamentais que indicam um sentimento de
desesperança e desejo de morte. Estudiosos descobriram que não apenas o sujeito que
sofre se apresenta enredado numa complexa dinâmica de sofrimento, mas também toda a
família. Parece que o sofrimento mental não só atinge, como também pode mobilizar, ou
partir das relações familiares disfuncionais. Dessa forma, a fuga dos intensos momentos
de dor e sofrimento psicológicos de grande intensidade resulta em suicídio, homicídio
ou psicose (SHNEIDMAN, 1992 apud WERLANG, BOTEGA, 2004, pp. 84-85).
Quando lidamos com pacientes que tentaram o suicídio, devemos nos preocupar com o
tipo de avaliação que iremos realizar e com o modo como iremos lidar com esse sujeito
que padece de grande sofrimento.
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» ameaça suicida;
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Quadro 9. Intencionalidades.
Planejamento detalhado.
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
4. Prevenção do suicídio
Iremos nos basear no Manual da Organização Mundial da Saúde (2000) elaborado
para profissionais da saúde em atenção primária, a fim de tocarmos na prevenção do
suicídio. Profissionais da atenção primária são importantes como medida de promoção e
prevenção da saúde, uma vez que estão em contato com a comunidade, têm o seu apoio
e geralmente são o primeiro contato da população local quando se trata de atendimento
à saúde.
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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto
» doença psiquiátrica;
» alcoolismo;
» ansiedade ou pânico;
» carta de despedida;
» doença física;
A partir daí, o manual desenvolve vários outros aspectos importantes para o profissional,
a fim de lidar com os pacientes de alto risco em suicídio.
Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/saude-bem-estar/setembro-amarelo.htm.
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CAPÍTULO 2
FALANDO DE LUTO E MORTE
Quando nos deparamos com a situação de uma morte por suicídio, começamos a nos
questionar, ficamos a buscar a razão e nos sentimos tocados na nossa impotência, na
nossa incapacidade de perceber a dor alheia, de acolher a dor que poderia ter sido
amenizada. É quando vem a culpa. O pesar pelas mortes trágicas invade e não sabemos
o quê. Toca-nos a alma? Mexe com o nosso próprio desejo de viver? É a morte que
nos invade? É o que penso sobre a dor do outro que me atormenta? É uma espécie de
introjeção ou identificação dos sentimentos ou pensamentos alheios que me invade?
A morte é um fenômeno conhecido por nós desde a infância. Aprendemos mais sobre
a morte a partir da morte simbólica de objetos perdidos (inconscientemente), ou com
a morte de pequenos objetos – situações que vão ocorrendo no desenvolvimento.
Uma criança, por exemplo, pode ter aprendido sobre a morte quando percebeu que seu
único peixe do aquário já não mais nadava; recebendo, a partir daí, algum significativo
conceito de morte. Alguns autores deliberam que bebês podem sentir a morte quando no
processo de separação da mãe, no entanto essa morte não é reconhecida mais adiante.
Uma criança em série escolar pode perguntar aos pais o que é morrer, uma vez que a
professora da sala ao lado morreu no dia anterior.
Falar sobre morte sempre foi algo que demandou muito do ser humano, pois requer um
significativo número de palavras utilizadas para expressar o inexprimível. Klüber-Ross
(2005) aborda os aspectos da morte desde o início da civilização humana e lembra que
a morte era muito mais evidente nos tempos passados, com as devastadoras epidemias,
moléstias infecciosas, com medicina arcaica, e, em seu estado inicial, com as causas de
guerras e tantos outros fatores que faziam com que nos deparássemos com a morte a
todo tempo.
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
O conhecimento da morte passa por várias etapas: quando crianças, a etapa do medo,
de ter desejado a morte de um ente querido, pode suplantar a superação e desencadear
uma crise duradoura ou não; quando crescemos e percebemos que a nossa finitude é algo
real e palpável, paramos de sentir culpa diante do desejo e nos apegamos à realidade de
uma morte natural que respeite os projetos de vida e a nossa velhice.
Sobre a morte, podemos agregar, então, o que é cultural, o que depende da sociedade
em que estamos. A morte pode ser vista como tabu ou como realidade. Como tabu, a
morte é algo do aspecto natural e que não deve ser comentada; pode ser vista também
como fenômeno decrescente, uma vez que é possível de ser evitada com o crescimento
dos recursos tecnológicos e medicinais; ou, pelo lado oposto, que atenta à realidade,
pois a morte está à espreita, uma vez que o número da população cresceu, assim como
o número dos perigos provenientes dela (Ibidem, 2005).
Não existe amor sem perda. E não existe a superação da perda sem
alguma experiência de luto. Não ser capaz de vivenciá-la é ser incapaz
de entrar no grande ciclo de vida humano de morte e renascimento – ser
incapaz, isto é, de viver novamente (LIFTON, 1975, p. 7).
Vejamos agora no ano de 2020, com a pandemia mundial (covid-19) que aflige a vida de
todos nós seres humanos, cada um sendo afetado pelo medo, confundido pelo instinto de
proteção, de sobrevivência e de alguma forma sendo tocado pelo pensamento de morte.
Werlang e Botega (2004) comentam que a morte é um evento que encerra o processo
de vida de uma pessoa, mas que não é a morte propriamente dita que amedronta o ser
humano, mas sim a sua caracterização, o modo de morte. A causa de morte também é
um ponto que preocupa o homem, pois a causa pode ser fruto tanto das ações humanas
provocadas intencionalmente ou não quanto causas externas – acidentes, guerras,
processos naturais e doença –, que, de um modo evitável ou inevitável, desprevenido,
desavisado, levam do sujeito toda uma vida.
Como vimos, a reação à morte depende da cultura e do contexto, uma vez que ela pode
ser considerada como oportuna ou inoportuna. A morte oportuna se refere àquela morte
em que o tempo de vida foi realmente longo e já se esperava, pois a pessoa estava no
final da vida, houve a completude do ciclo de vida vital. Enquanto a morte inoportuna
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Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Morte_e_Vida_(Klimt).
Lindermann (1945 apud PARKES, 1998) pesquisava acerca dos efeitos que o luto teria
sobre a saúde, uma vez que algumas doenças físicas e mentais estavam sendo atribuídas à
experiência de perda. Dessa forma, era extremamente importante distinguir os sintomas
físicos e psicológicos que sustentassem a hipótese de que os sintomas apresentados
estavam relacionados aos pacientes enlutados.
Nos Estados Unidos, algumas pesquisas em relação aos efeitos psicossomáticos, a partir
da perda, como o desamparo e a desesperança, corroboraram com a ideia de que doenças
físicas poderiam vir com o luto. Embora para esse tipo de estudo houvesse muitos
vieses e críticas relacionadas, o luto na doença mental sempre foi um tema estudado.
O próprio autor questiona: o luto pode causar doenças mentais? Como o estudo do luto
tem sido trabalhado por muitos anos? Pesquisadores concluíram que pacientes enlutados
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
recebiam cuidados psiquiátricos pela primeira vez na vida após a perda recente de
alguém próximo. Além disso, descobriram que não menos do que 77% dos distúrbios
psiquiátricos crônicos eram provocados pela morte de um parente próximo. Os estudos
encontraram casos de depressão reativa, neurose, distúrbio de ansiedade e síndrome
do pânico durante o primeiro tempo do luto.
A Negação pode vir ainda de forma ansiosa quando um diagnóstico abrupto ou prematuro
invade a realidade do sujeito. São esses que, na fase inicial do recebimento da notícia,
em sua grande maioria, apresentam essa defesa temporária. A negação não permanece
durante muito tempo, na maioria dos pacientes, uma vez que a realidade se sobrepõe
ao estado inicial da doença e a pessoa demonstra incapacidade ou impossibilidade de
sustentar a defesa diante dos fatos realísticos e desvia para um outro tipo de defesa que
pode ser o isolamento.
3 Para que não nos vejamos confusos, vamos falar dos estágios do luto para os pacientes que vivenciam estados de sofrimento com a
iminência da morte e para aqueles cuja perda de um familiar próximo está causando sofrimento.
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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto
A pessoa adoentada ou a pessoa embotada se põe numa redoma cada vez mais densa, e
essa atitude pode ser sustentada pelos familiares que se negam a problematizar ainda
mais o momento de vida, e se afastam. Desse modo, a raiva parece fazer sentido dentro
da fantasia do paciente e só tende a crescer.
O familiar ainda pode imbuir-se de culpa ou se sentir humilhado e aos poucos ir desistindo
do paciente em vivência de luto. Nesse caso, é possível perceber que o paciente, quando
compreendido e respeitado, cujas atenções são dispensadas ao logo do tempo a ele, sem
cobrança ou ataque, se sentirá mais apto a controlar suas emoções, sabendo que os
sentimentos liberados não irão resolver os seus problemas, não farão com que a fantasia
de que ele não é tão amado se concretize, tampouco irão resolver a situação do seu luto.
É por isso que valorizar o humano que existe nele a partir da visita, e do cuidado do
outro, faz com que ele atue em níveis mais baixos de explosões temperamentais.
Nesse contexto, é interessante que, uma vez que não analisemos o motivo da raiva do
paciente, nós possamos assumi-la em termos reais. A origem de raiva tem fundamento
e não deve ser reivindicada, pois, reagindo a essa raiva, tanto a família quanto os
cuidadores ou a equipe de saúde podem retroalimentar o comportamento hostil do
paciente, dificultando a remissão do sintoma.
O quarto estágio, o da depressão, não é difícil de compreender, uma vez que várias
situações, como embotamento do sujeito, isolamento, dormir mais, falar menos e outros
comportamentos diferentes, parecem estar levando o paciente a um comprometimento
em termos de comportamento e sensações que remetem à depressão. Se falarmos na
depressão de um paciente adoentado com morte iminente, devemos compreender
sua incapacidade diante das situações que ele deveria resolver antes de sua morte.
Em casos como esse, ajudar o paciente a descobrir pessoas ou até mesmo utilizar a
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
equipe para ajudá-lo a elaborar um plano ou realizar as questões práticas de sua vida,
como, por exemplo, reorganizar o seu lar, entrar em contato com as pessoas possíveis,
acionar uma rede de apoio, tudo isso pode fazer com que o estado depressivo diminua.
No entanto, quando a depressão é o momento em que o sujeito se depara com a sua
própria inexistência, com uma perda de todos os seus objetos amados, trabalhar com
aspectos de encorajamento e confiança não é muito válido, pois nesse momento o paciente
necessita exteriorizar o seu pesar e compreender a sua própria situação e impotência
diante da morte.
O quinto estágio fala sobre aceitação e não deve ser confundido com estágio da felicidade.
Nesse momento, os sentimentos, ainda confusos, permeiam mais para a fuga e o cansaço,
o cessar de uma batalha esgotante, que faz com que o paciente em algum momento de
repouso em si mesmo se entregue ao fato de encarar o processo em que vive. Esse é um
momento muito importante para os familiares e profissionais. Estando os familiares
já instruídos a não negar mais nada ao familiar que convalesce e apenas aproveitar os
momentos finais com amor, isso tranquilizará o paciente, encaminhando-o a um estado
de tranquilidade para viver os seus momentos finais, inclusive estando aptos, todos,
a decidir se o paciente permanecerá hospitalizado ou em casa (em casos em que essa
opção seja possível).
Os cuidados paliativos nesse momento dão dignidade ao final de vida do paciente, assim
como a liberdade para expressar suas angústias, seus dramas, suas dores e fantasias dão
ao enlutado alívio e sentido de apropriar-se a uma vida nova e própria. Pesquisas revelam
que encarar as discussões sobre a morte não são contraindicadas e que desmistificam
uma situação que traria desconforto caso não fosse discutido. É como se retirando a
máscara do proibido o paciente se sentisse livre para morrer sem segredos e fantasias
fugazes, ou absorver a vivência do luto.
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CAPÍTULO 3
ALGUMAS ALTERAÇÕES MENTAIS DE URGÊNCIAS
E EMERGÊNCIAS NA CRISE
Fonte: https://www.cvv.org.br/blog/desassossego/.
O sofrimento emocional e o físico dos pacientes que se apresentam em crise são visíveis
e influenciam as respostas do paciente ao tratamento; para isso, é necessário que, ao
receber um paciente em crise emergencial, possa ser oferecido um ambiente de segurança
e proteção – lugar em que ocorra comunicação fluida, clara, de conversa franca e
verdadeira. Ainda, pode ser preciso conter imediatamente a crise com uma equipe bem
treinada, capaz de promover avaliação e intervenção com métodos não coercivos – que
impeçam a progressão da violência. Afinal, a relação interpessoal terapêutica que sirva
de elo de vinculação no assistir o paciente deve existir.
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
2. Conduta suicida
Como já vimos, o suicídio é uma conduta comportamental humana que representa a
única saída a um problema existencial da pessoa diante da impossibilidade de encontrar
outros meios de ajuda eficazes.
O profissional deve estar preparado para o manejo e a entrevista desse tipo de paciente,
assim como estar preparado com todos os tipos de conduta suicida e alterações
psicopatológicas para realizar um bom atendimento de emergência.
Os motivos são diversos e podem apresentar o desejo pela própria morte, evitação do
sofrimento ou situação intolerável, mudanças de comportamento, testar os sentimentos
das pessoas do seu convívio, buscar ajuda, entre outros. Não importa qual é a real intenção
do paciente acerca da letalidade do método, ou o que da sua tentativa provocou no
socorrista/médico/enfermeiro/psicólogo ou qualquer profissional que o recebeu. O que
importa é a existência de uma expressão de sofrimento ou comportamento disfuncional
associado à autoagressão, e é disso que se trata.
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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto
Assim como a avaliação do risco de suicídio que deve identificar os principais sentimentos
daquele paciente que pensa em se matar, Brasil (2006) fala sobre os “4D” que são a
representação dos sintomas da depressão, da desesperança, do desamparo e do desespero.
Esses sintomas são importantes para destacar que o paciente está em risco e que é
preciso estar atento aos outros indícios, que são o desinteresse pelo próprio bem-estar,
alteração no padrão comportamental, comportamento de risco e tentativa de colocar os
seus assuntos de interesse pessoal em dia. Ainda, o profissional deve estar atento para
identificar frases que são ditas pelo paciente que possam traduzir o risco de suicídio,
tais como: “não aguento mais essa vida”, “minha família ficará melhor sem mim”.
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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV
com o uso de substâncias como o álcool prevalece e também aparece nas pesquisas com
quase 70% dos homicídios, estando relacionado a outras doenças, tais como hepatite,
hipertensão, estomatites, etc. (AMARAL; MALBERGIER; ANDRADE, 2010). Esse tipo
de paciente apresenta uma agitação psicomotora alterada, juntamente com aumento da
excitabilidade psíquica, podendo utilizar-se da agressividade no momento do manejo,
que deve ser planejado e executado pela equipe de saúde.
6. Delirium
É outro tipo de sintoma que pode ou não estar associado a um tipo de transtorno e
que prevalece nas salas de urgência e emergência psiquiátricas ou em salas de serviços
de atenção à população para um primeiro atendimento. O delirium é uma alteração
multifatorial presente nas taxas de mortalidade, nos índices de institucionalização
e no maior tempo de internação. Apresenta-se no paciente como inquietação
cognitiva aguda, estado confusional, distúrbio da consciência, do comportamento,
da memória, do pensamento, da orientação, da atenção e da percepção (LÔBO et al.,
2010).
7. Depressão
No serviço de emergência pronto-socorro ou pronto atendimento, a equipe de saúde
atenderá a uma grande demanda de pacientes deprimidos, seja devido à própria doença
seja devido a doenças associadas que acometem os sintomas da depressão (RODRIGUES,
2000).
Por sua vez, Sá, Werlang e Paranhos (2008) relatam que pesquisas apontam que 75%
das pessoas em situação traumática necessitam de uma boa avaliação para ver se consta
a possibilidade de distúrbios psíquicos com a presença de comorbidades como o abuso
de drogas e álcool, fobia, depressão e ansiedade.
8. Síndrome do pânico
É marcada por sintomas intensos, como sentimentos de catástrofe iminente, crises de
desespero, perda de controle, medo intenso, desrealização, despersonalização, sensação de
morte e alguns outros sintomas que caracterizam uma crise de ansiedade potencializada
(MIGUEL; GENTIL; GATTAZ, 2011).
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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto
9. Psicoses
Estado psíquico dito como a incapacidade de diferenciar a experiência subjetiva da
realidade externa, trazendo alucinações e delírios nos períodos mais intensos de crise.
A psicose pode ser definida como estado agudo ou de crise, chamado de surto psicótico,
em que os sintomas associados são pensamento desorganizado, insônia severa, tendência
suicida, memória confusa, sentimento de extrema ansiedade, agitação, nervosismo e
comportamentos bizarros.
A psicose pode ser do tipo funcional, como a esquizofrenia, ou orgânica, como causa de
uma demência ou intoxicação. Esse tipo de paciente requer um bom acolhimento por
profissionais capacitados da área da saúde, uma vez que ignorar, tratar com hostilidade
ou de forma leiga pode piorar ou apresentar consequências no quadro desse estado
mental tão delicado.
É importante que, diante dos conhecidos fatores de risco, seja realizada a prevenção da
saúde mental, e que, junto com a identificação dos sintomas, tenhamos reunida uma
gama de fatores protetivos que ofereça maiores possibilidades no âmbito da saúde
mental e física.
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PARA (NÃO) FINALIZAR
Fonte: https://www.prosaude.org.br/vida-saudavel/seguranca-do-paciente-qual-e-o-objetivo-e-como-funciona/.
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REFERÊNCIAS
ABEL, M. C. Diagnostic in Freud and Lacan: objectives, methods and criteria. Psicologia, Lisboa, v. 27, n.
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41
ANEXOS
CONTRATO DE VIDA
Como parte do programa de minha terapia, eu _________________ (nome), concordo com os seguintes termos:
1. Concordo que um de meus maiores ganhos terapêuticos é viver uma vida longa com mais prazer e menos infelicidade do que
eu tenho agora.
2. Entendo que me torno suicida quando me deprimo ou não acredito mais neste ganho, mas, no entanto, gostaria de diminuir essa
tendência. Eu concordo em usar a minha terapia para aprender a lidar melhor com os meios de reduzir meu mal-estar emocional.
3. Partindo do conhecimento de que isso demandará algum tempo, concordo neste período em recusar o ato de me machucar
ou me matar entre os dias:____ a _____ (data).
4. Se, em algum momento, eu me sentir incapaz de resistir aos impulsos suicidas, eu concordo em telefonar para (nome do
terapeuta) _____________________, número ___________ ou ______________ (nome do coterapeuta), número ______________.
Se esses estiverem impossibilitados de atender naquele momento, eu concordo em ir diretamente ao ______________ (hospital
ou clínica) em ____________ (endereço).
5. Meu(s) terapeuta(s), ______________ e ___________ concorda(m) em trabalhar comigo nas sessões marcadas para ajudar-
me a aprender alternativas para me proteger e avaliar situações tão racionalmente quanto possível, durante os períodos de
____________ (data).
6. Eu concordo em cumprir este contrato até que ele expire ou renegociá-lo com meu(s) terapeuta(s). Eu compreendo que este
seja renovável até ou próximo de ______________ (data).
__________________________________ ______________
Assinatura data
__________________________________ ______________
Assinatura do Terapeuta data
__________________________________ ______________
Assinatura do Terapeuta data
Fonte: elaborado pela autora juntamente com a equipe de Marcelo Tavares (UnB).
42
Anexos
Anexo I
Comportamento suicida
I. Epidemiologia
43
Anexos
Muitos suicídios ocorrem nas prisões, particularmente entre os homens jovens que não
cometeram crimes violentos. Essas pessoas enforcam-se, geralmente, durante a primeira
semana de prisão. Os suicídios em grupo, quer impliquem um grande número de pessoas,
quer só duas (como um casal de namorados ou de cônjuges), representam uma forma
extrema de identificação com a outra pessoa. Os suicídios de grandes grupos tendem
a ocorrer em situações com uma grande carga emocional ou nos fanatismos religiosos
que ultrapassam o forte instinto de sobrevivência.
Uma de cada seis pessoas que se suicida deixa uma nota escrita. As notas fazem muitas
vezes referência a relações pessoais ou a acontecimentos que devem acontecer depois
de a pessoa ter morrido. As notas escritas pelas pessoas de idade avançada exprimem
preocupações pelos que deixam para trás, enquanto as notas escritas pelos jovens
podem ser de agastamento ou de reivindicação. Uma nota deixada por alguém que tenta
suicidar-se, mas não o consegue, indica que a tentativa foi premeditada; o risco de voltar
a tentar é, portanto, elevado.
II. Causas
44
Anexos
A autoagressão violenta pode ocorrer durante uma alteração de humor no sentido de uma
depressão profunda, embora transitória. As mudanças de humor podem ser provocadas
por medicamentos ou por doenças graves. Uma pessoa que está a sofrer uma alteração
do seu humor para uma depressão só tem, com frequência, uma consciência parcial e,
provavelmente, só recordará depois, de forma vaga, a sua tentativa de suicídio. Os que
sofrem de epilepsia, especialmente epilepsia do lobo temporal, sofrem muitas vezes
episódios depressivos breves, mas intensos, o que, adicionado à disponibilidade em
medicamentos para tratar a sua doença, aumenta o fator de risco para o comportamento
suicida.
Para além da depressão, existem outras perturbações mentais que aumentam o risco
de suicídio. Por exemplo, os esquizofrênicos, particularmente os que estão também
deprimidos (um problema bastante frequente na esquizofrenia), são mais propensos
a tentar o suicídio do que aqueles que não têm essa doença. Os métodos de suicídio
45
Anexos
III. Métodos
O método escolhido por uma pessoa para se suicidar é muitas vezes determinado pela
disponibilidade e por fatores culturais. Pode também refletir a seriedade da tentativa, dado
46
Anexos
que alguns métodos, como saltar de um edifício alto, fazem com que seja virtualmente
impossível sobreviver, enquanto outros, como a superdosagem farmacológica, deixam
em aberto a possibilidade de salvação. No entanto, a utilização de um método que
demonstre não ser mortal não indica necessariamente que a tentativa é menos séria.
Entre os suicídios consumados, a arma de fogo é o método mais utilizado nos países
onde a sua posse é legal. É um método predominantemente utilizado por crianças e
homens adultos. As mulheres são mais propensas a utilizar métodos não violentos, como
o envenenamento (ou a intoxicação farmacológica) e a imersão, embora nos últimos
anos tenham aumentado os suicídios por arma de fogo entre as mulheres. Os métodos
violentos, como as armas de fogo ou os enforcamentos, são pouco utilizados por aquelas
pessoas que só querem chamar a atenção, dado que normalmente conduzem à morte.
Um ato suicida contém muitas vezes evidências de agressão para com outros, como se
pode ver nos assassinatos seguidos de suicídio e na alta incidência de suicídios entre os
presos que cumprem uma condenação por crimes violentos.
Há alguns países que oferecem um serviço telefônico aos que, levados por uma crise
suicida, sentem-se inclinados a tirar a própria vida. São centros de prevenção do suicídio,
em que voluntários preparados especialmente para o efeito atendem ao telefone durante
as 24 horas do dia.
Quando uma pessoa potencialmente suicida liga para um telefone 24 horas, um voluntário
tenta estabelecer uma relação com o suicida, recordando-lhe a sua identidade (por
exemplo, utilizando o seu nome repetidamente).
O voluntário pode oferecer uma ajuda construtiva para o problema que deu origem à
crise e animar a pessoa a pôr em prática ações positivas para resolvê-lo. O voluntário
pode recordar à pessoa que tem família e amigos que se preocupam e querem ajudá-lo.
Finalmente, o voluntário pode tentar facilitar o acesso aos profissionais de urgência
para ajuda direta contra o suicídio.
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Anexos
Algumas vezes, uma pessoa pode ligar para uma linha de 24 horas para dizer que já
cometeu um ato suicida (tomou uma dose excessiva de medicamentos ou abriu a torneira
do gás) ou está prestes a realizá-lo. Nesse caso, o voluntário terá de obter a direção da
pessoa. Se isso não for possível, outro voluntário alerta a polícia para localizar a chamada
e tentar o resgate. Mantém-se a pessoa a falar ao telefone até a polícia chegar.
V. Prevenção
Qualquer ato ou ameaça suicida deve ser levado a sério. Cerca de 20% das pessoas
que tentam se suicidar repetem a intenção no prazo de um ano. Todas as pessoas que
realizam gestos suicidas ou que tentam suicidar-se necessitam ser tratadas. Cerca de
10% de todas as tentativas de suicídio são mortais.
Muita gente que tenta se suicidar é levada ainda inconsciente para um serviço de urgência.
Quando se sabe que uma pessoa tomou uma superdosagem de um fármaco ou de um
veneno, o médico segue os seguintes passos:
Embora geralmente as pessoas se encontrem bastante bem fisicamente para lhes ser
dada alta logo que esteja tratada a lesão, muitas vezes são hospitalizadas para receber
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Anexos
Impacto do suicídio
Um suicídio tem um forte impacto emocional em qualquer pessoa implicada. A família
da pessoa, as suas amizades e o seu médico podem sentir-se culpados, envergonhados
e com remorsos por não terem podido evitar o suicídio. Podem também sentir revolta
contra a pessoa que se suicidou. Finalmente, apercebem-se de que não podiam estar
no controle de tudo ou de que não são todo-poderosos e que o suicídio, na maioria das
vezes, não se pode impedir.
Uma tentativa de suicídio tem um impacto semelhante. No entanto, os que estão mais
próximos da pessoa têm a oportunidade de acalmar as suas consciências respondendo
ao pedido de ajuda.
Fonte: http://www.manualmerck.net/?id=111.
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