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PSICOPATOLOGIA NA

CONTEMPORANEIDADE
UNIDADE IV
CRISE, MORTE POR SUICÍDIO E LUTO
Elaboração
Aline Freire Bezerra Vilela

Amanda Furlan Marques

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................. 4

UNIDADE IV
CRISE, MORTE POR SUICÍDIO E LUTO............................................................................................................................................ 7

CAPÍTULO 1
COMPREENDENDO A CRISE E O SUICÍDIO NOS TRANSTORNOS MENTAIS............................................................ 7

CAPÍTULO 2
FALANDO DE LUTO E MORTE................................................................................................................................................ 24

CAPÍTULO 3
ALGUMAS ALTERAÇÕES MENTAIS DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NA CRISE................................................ 30

PARA (NÃO) FINALIZAR................................................................................................................................35

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................36

ANEXOS..........................................................................................................................................................42
INTRODUÇÃO

Esta disciplina foi desenvolvida com o objetivo de oferecer recursos para uma melhor
capacitação no âmbito profissional, bem como enriquecer seus conhecimentos
sobre o tema.

Cada unidade pretende abordar aspectos relevantes à psicopatologia, adentrando


no mundo da psicologia clínica e permeando o imaginário acerca do uso das
práticas psicodiagnósticas e suas ferramentas.

Com base nisso, a disciplina visa estabelecer a compreensão da psicopatologia e


apresentar as técnicas e as ferramentas de avaliação do sujeito, fundamentadas
no psicodiagnóstico psicodinâmico, no julgamento clínico e no conceito de
transtorno mental e suas nuances, conforme o manual diagnóstico e estatístico
de transtornos mentais – DSM-5.

Salientamos, porém, que a apostila com os textos e sugestões de leitura serve


meramente para colaborar no processo de aprendizagem, não tendo por objetivo
suprimir a vasta extensão de conceitos e literaturas pertinentes ao tema. Destarte, o
nosso objetivo está na pretensão de despertar no aluno o interesse pelo
aprofundamento dos seus conhecimentos relativos às questões aqui apresentadas,
juntamente com um ajustamento do seu lado crítico para implantação ou discussão
do assunto na práxis.

É a partir do desejo de fornecer ferramentas para o seu crescimento profissional


e desenvolvimento da sua carreira que elaboramos esta disciplina, que transcorre
desde a importância da compreensão da psicopatologia até a sua aplicação na
área da saúde mental e os resultados que podem ser influenciados a partir dos
recursos, das técnicas e das ferramentas que colaboram, no sentido de criar
condições, para uma maior compreensão do ser humano e sua doença.

Objetivos
» Definir psicopatologia demarcando os termos relevantes para sua
compreensão.

» Problematizar atitudes relativas ao normal e ao patológico.

» Proporcionar ao aluno o conhecimento de elementos teóricos necessários


para reconhecimento, aproximações e exames diagnósticos dos principais
problemas psiquiátricos.
Introdução

» Apresentar técnicas e procedimentos que contribuem para o psicodiagnóstico.

» Identificar e avaliar criticamente os sinais.

» Reconhecer a relação entre psicopatologia, sintoma e psicodiagnóstico.

» Verificar a importância da prevenção em casos de crise e risco de suicídio.

» Preparar o processo de intervenção em casos de crise, luto e risco de suicídio.

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CRISE, MORTE POR
SUICÍDIO E LUTO
UNIDADE IV

CAPÍTULO 1
COMPREENDENDO A CRISE E O SUICÍDIO NOS
TRANSTORNOS MENTAIS

Figura 16. Crise.

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/638526053401521695/.

1. Crise
Quando falamos em crise, podemos pensar em várias situações que nos remetem à ideia
de dificuldade, momentos que nos fazem desorganizar ou não ter a resposta adequada
na situação. No caso da crise psicológica, veremos que muitos autores retratam essa
vivência de modo diferenciado. Alguns as veem como etapa de processos, outros como
momentos subjetivos que não necessariamente alcançam todos os seres humanos.

Erickson (1976), psicanalista e estudioso dos processos de crise no desenvolvimento da


vida humana e muito estudado na área da Psicologia, conceitua crise como um ponto
decisivo e crucial, necessário ao homem quando em fase de desenvolvimento; fase em que
ele tem de escolher uma ou outra direção, escolher um ou outro caminho, mobilizando
recursos de crescimento, recuperação e diferenciação, a fim de superar os estágios de
crise ao qual é submetido em nome da maturação.

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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

Mas na clínica dos transtornos mentais graves poderíamos atentar também ao conceito
trazido por Tavares (2004), que conceitua crise no sentido psicológico. Para ele, a crise:

[é um processo subjetivo] de vivência ou experimentação de situações


de vida nas quais condições internas e externas demandam uma
reestruturação na forma de responder a situação para a qual o sujeito
ainda não domina, não desenvolveu ou perdeu capacidade, repertório
ou recursos capazes de dar solução à complexidade da tarefa em questão
(TAVARES, 2004, p. 2).

É muito comum na prática clínica, quando lidamos com pacientes de alta gravidade,
com transtornos depressivos graves, pacientes com transtornos de personalidade –
enfim, pacientes sem recursos atuais para lidar com a forte pressão que as demandas
decorrentes dos conflitos internos os fazem sofrer –, depararmo-nos com esse modelo
de crise, em que o paciente chega sem nenhum tipo de resolução de conflitos, chega sem
recursos internos e exaurido pelas fortes pressões, as quais tem suportado em nome de
sua integridade.

No entanto, a integridade pode chegar despedaçada, deteriorada, necessitada de um


suporte ou espaço em que possa recolher os pedaços, compreender o sentido de tudo e
iniciar o longo processo de ajustamento. Aí estamos falando de pacientes potencialmente
marcados por conflitos que os levam a estados limítrofes de ação ou à falta de ação.

O termo crise, ainda, pode nos remeter “ao estado de reação de um indivíduo que se
encontra em uma situação de perigo”. Segundo Davanloo (1986), as palavras crise e
stress normalmente são usadas indistintamente, talvez porque, se pensarmos em stress
como uma situação mobilizadora, possamos lembrar de um caminho que leva à crise.

Sifneos (apud DAVANLOO, 1986) define crise emocional como “[...] a intensificação
de um estado de dor que tem o potencial de se tornar o ponto de transição para melhor
ou para pior”. O autor afirma que o estado de crise emocional ocorre em seguida a um
acontecimento de perigo, o qual, em algumas pessoas que têm sido emocionalmente
saudáveis, estabelece as condições para a crise emocional.

Mas um fator muito importante a ser destacado é que nem todas as pessoas que
enfrentam a mesma situação de perigo entrarão em um estado de crise. Existem, portanto,
acontecimentos comuns de perigo, como perda por morte e as sequelas causadas pela
dor e desolação.

Com base nos autores mencionados, a crise pode ser percebida como um processo pelo
qual passa o ser humano em alguma etapa de sua vida. Essa pode ser bem adaptada
ou mal adaptada, ou seja, o modo como essa crise irá encerrar-se pode ser positivo ou

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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

negativo, levando o sujeito ao desenvolvimento e amadurecimento ou a um período de


vulnerabilidade e adoecimento.

Diante da universalidade desse fenômeno, o autor (ibidem) dá ênfase à avaliação da


crise e à intervenção como medidas essenciais, uma vez que se trata de um indivíduo
que está enfrentando uma perda por morte, por exemplo. Aqui iremos compreender
o termo intervenção e tratamento como sendo um recurso que deve ser utilizado pelo
profissional no momento da crise.

Conforme Ancona-Lopez (2002, p. 26), “INTERVIR (do latim intervenire): é o ato


de meter-se de permeio, ser ou estar presente, assistir, interpor os seus bons ofícios”.
Nesse caso de intervenção na crise psicológica ou psicopatológica, o sujeito que sofre
já está com um nível de sofrimento considerável, passando por algum tipo de síndrome
ou apresentando, devido às respostas mal adaptadas da crise, algum tipo de transtorno
psicológico. E é aí que entra a intervenção, que acontece pela atuação de um profissional,
“cujo significado será dado pelo campo relacional que se estabelece entre as partes e que
é exclusivo e peculiar àquele momento e àquela relação” (ibidem, p. 29).

Observamos que vários autores consideram o momento de crise de maneiras diferentes, e, por
isso, podemos fazer uma crítica, por exemplo, ao pensamento que elucida uma vivência de
crise como um aspecto meramente ou primordialmente cognitivo na resolução dos conflitos.

No entendimento do homem como ser de múltiplos aspectos e regido por um modelo


biopsicossocial, observamos que a demanda ocasionada pelo “novo”, em se tratando de
experiências humanas, não pode ser ensinada, não pode ser entendida como aspecto
puramente do processo cognitivo. Uma vez que os conflitos estão no âmbito das emoções,
devemos aludir a aprendizagem à resolução de um problema objetivo, porém o ensino
da resolução de aspectos do âmbito da emoção é uma questão mais de processo criativo
do que de ensinamento.

É nesse entendimento que Simon (1989, p. 59) trata como ponto central da crise o
momento em que o paciente se vê em frente a uma situação nova e transformadora, que
exige uma estruturação dinâmica de aspectos que concernem às emoções e ao modo
como ele poderá conduzir seu processo criativo. Nesse sentido, a “habilidade eficaz para
resolver problemas” não se justifica com ensino-aprendizagem, mas com uma concepção
que justifica a experiência humana sentida, vivenciada unicamente pelo sujeito que sofre
ou experimenta a vivência da crise, no âmbito afetivo.

É aí que damos atenção à subjetividade do sujeito compreendendo que as experiências


emocionais vivenciadas no período de crise devem ser (res)significadas, ou melhor, a
resolução da crise deve-se ao (res)significado emocional, a partir de um autoconhecimento

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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

(que não se transmite pedagogicamente) da experiência humana emocional vivida,


geralmente encontrados no âmbito da intervenção em crise.

A avaliação do estresse na teoria da crise tem sido estudada para que pudéssemos observar
o desenvolvimento que repercute no campo da prevenção da saúde mental. Parkers (1998),
observando e acompanhando o trabalho de Caplan em Havard, passou a utilizar o termo
crise na tentativa de compreender diferenciação das situações importantes de estresse
corriqueiras na vida de um ser humano e no luto. Para ele, embora as crises no luto fossem
limitadas, poderiam por algum motivo colocar em risco a saúde mental do sujeito.

A crise, ou episódio momentâneo pelo qual passa o sujeito, pode alterar o modo
comportamental da pessoa envolvida ao ponto da necessidade de um planejamento
de tratamento psicológico engajado e que requeira tempo e comprometimento.
O lado positivo da crise seria o fato de promover mudança estrutural no sujeito, a fim
de orientá-lo a abandonar velhas concepções construídas durante a vida e reconstruir
novas modelagens que irão formular uma nova estruturação psíquica.

Para uma concepção de crise nos aspectos psicodinâmicos, poderíamos aproveitar a


teoria de Melanie Klein (apud SIMON, 1989), que busca a resolução da crise no fator
do universo pessoal, do ato criativo, em que o sujeito/paciente vive pressões internas ou
externas extremas, de intensa angústia e que acabam por provocar a crise insuportável.

Desse modo, o sujeito se encontra no campo da falta de resolução do problema para as


questões que se apresentam como novas, mais ainda, por conta da projeção e identificação
do novo, juntamente com as ameaças fantasiosas provocadas pelas figuras aterrorizantes das
vívidas camadas inconscientes que emergem nessa vivência de extrema tensão emocional.

Nesse modelo psicodinâmico, as relações entre o sujeito, os objetos de identificação, as


relações e as crenças desenvolvem as vivências de angústia diante do novo e por meio
dos sentimentos predominantes nas situações geradoras de crise, sejam elas por perdas
ou aquisição. Klein diferencia as crises por perda como momentos que podem levar à
autoagressão ou projeção da culpa; já na crise por aquisição, podem levar à fuga. Os sentimentos
predominantes na crise por aquisição são os de insegurança, inferioridade e inadequação.

O objetivo principal da prevenção das crises por perda seria ajudar o sujeito a aceitá-las,
resignar-se à frustração, lidar com a depressão e a culpa, além de estimulá-lo a retomar o
interesse pelo universo pessoal. Já nas crises por aquisição, ajudar o indivíduo a aceitar
o ganho, controlar a voracidade moderando a ambição, ampliar o universo pessoal tanto
quanto possível, de acordo com a sua capacidade, condições ambientais e ainda se o
aumento do universo pessoal provocar crise por aquisição de responsabilidade, acima
da capacidade real do sujeito em assumir a demanda.

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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

É importante mostrar o caminho da renúncia, do ganho por meio da ajuda, no sentido


de fazê-lo descobrir as armadilhas dos sentimentos narcísicos e vorazes nos projetos
pretensiosos. Em suma, a função da crise deveria ser aumentar o repertório de respostas
do sujeito e de suas competências, ou seja, aumentar a sua capacidade ou força egoica;
dessa forma, a intervenção entraria como maneira de dar suporte e ajudar o sujeito a
ressignificar sua angústia e transformá-la em força vital.

Portanto, entendemos que as intervenções acontecem a partir da utilização de diversas


técnicas já estudadas, como entrevista, psicodiagnóstico, aplicação de técnicas (acolhimento,
rapport, etc.). Seus objetivos podem ser terapêuticos, a fim de identificar, confrontar e
resolver a crise, de recuperar o equilíbrio anterior e de apoiar o desenvolvimento ou retorno
de respostas adaptativas apropriadas; ou preventivos, visando à redução dos sintomas e à
restauração do equilíbrio como prevenção da desorganização regredida e mal adaptada.

Devemos entender, a partir da conceituação exposta por esses autores, que a crise deve
ser percebida como um processo pelo qual passa o ser humano em alguma etapa de sua
vida. Essa pode ser bem adaptada ou mal adaptada, ou seja, o modo como essa crise
irá encerrar-se pode ser positivo ou negativo, levando o sujeito ao desenvolvimento e
amadurecimento ou a um período de vulnerabilidade e adoecimento.

No entanto, ela se encerra quando há a criação de novos recursos e respostas satisfatórias


ao problema. Quando a crise leva ao adoecimento grave ou crônico, poderá levar o
sujeito à ruptura ou estagnação, tendo como resultado o comprometimento estrutural
(em termos comportamentais e de personalidade) do sujeito que pode deixar sequelas
na autoimagem, autoestima e outros (TAVARES, 2004).

Nossa própria morte não nos pode ser representada, e quanto mais
tentarmos representá-la, mais observaremos que, na realidade,
continuaremos apenas como espectadores. (FREUD, 1915)

Figura 17. Solidão.

Fonte: ippsyunb.blogspot.com/.

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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

E, então, podemos pensar que as crises psicopatológicas levam ao suicídio? A resposta


é sim e não. Sim, porque deveras as crises psicopatológicas graves ou intermitentes
podem levar ao risco de suicídio ou ao suicídio propriamente dito. E não, porque estar
em uma situação de crise psicopatológica não é condição sine qua non para o suicídio.

2. Suicídio
Muitos confundem o suicídio com tentativa de suicídio, mas os termos se diferenciam
(BOTTI et al., 2018). Por isso, os abordaremos separadamente, para traçar algumas
distinções.

Ao usar o termo suicídio, referimo-nos: morte gerada por ato positivo ou negativo
do próprio sujeito, seja direta ou indiretamente e com o conhecimento do resultado
(DURKHEIM, 1978); ato voluntário de terminar com a própria vida (BOTEGA, 2015);
morte que é autoprovocada intencionalmente, o suicídio consumado (NEVES et al.,
2014; WENZEL; BROWN; BECK, 2010).

Já a tentativa de suicídio é descrita como: ato suicida interrompido, que não foi
consumado (DURKHEIM, 1978); atos de autoagressão que são realizados de forma
intencional e não resultam em morte, que podem ser graves, precisando de hospitalização,
ou outros casos que não requerem atendimento médico (SOUZA et al., 2011); ação
dirigida a si próprio, que levará à morte se não for interrompida (FONSECA; LOBO,
2015).

Considera-se o comportamento suicida um fenômeno complexo, que possui muitas


facetas, ainda mais que perpassa vários campos do conhecimento. Há fatores relacionados
que atuavam em vários níveis, tais como sociais, associados ao ambiente físico, além de
disposições psíquicas. É importante mencionar que os fatores de risco podem desencadear
ou associar-se ao comportamento suicida, mas não são obrigatoriamente o fator causal
(BOTTI et al., 2018).

A respeito da epidemiologia do comportamento suicida, é válido destacar que: desde a


década de 1990, a OMS passou a considerar o suicídio um problema de saúde pública,
consequentemente, passou a incentivar a criação de planos visando à prevenção do
suicídio.

No Brasil, em 2006, a Portaria n. 1.876 instituiu as Diretrizes Nacionais para Prevenção


do Suicídio, contendo recomendações de várias estratégias de prevenção (BRASIL,
2010). Posteriormente, em 2017, foi publicada a Agenda de Ações Estratégicas, que
visa à ampliação e ao fortalecimento das ações de vigilância e prevenção do suicídio
(BRASIL, 2017).

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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

No contexto da crise, adentrar na morte por suicídio pode ser sentido como um pensamento
aterrorizador, pois esse tipo de morte, além de não estar dentro dos padrões sociais, de
não fazer parte de uma morte natural, é um momento sentido, em sua grande maioria,
como um final dramático e perturbador. Perder uma avó por morte natural, por exemplo,
pode causar um impacto totalmente diferente do que perder alguém próximo por suicídio.

A dor de perder alguém por suicídio é uma dor que pode ser considerada intolerável no
primeiro momento, uma dor que vem sobrecarregada de muito sofrimento e fantasias,
além de nos colocar diante da nossa própria fragilidade. A tomada da consciência da
nossa própria fragilidade nos assola como seres humanos em vários momentos da vida,
seja ela num momento de perda trágica ou não, seja na perda de um padrão de vida
idealizado, na perda do emprego, na perda da pessoa amada, na perda de uma fase da vida.

Quadro 6. Evolução do quadro psiquiátrico.

Psicologicamente compreensível Não compreensível psicologicamente


(conexão de sentido) (ruptura na linha vital)
Crônico Desenvolvimento Processo
Fase (não deixa sequela)
Agudo Reação vivencial
Surto (deixa sequela)
Fonte: Jasper; Schneider, 20081.

Falar sobre emergência psiquiátrica infantil é um assunto que não vemos com
muita constância. Normalmente, são os pais quem deliberam a situação de crise
ou de vivência de crise dos seus filhos, e a partir daí procuram ajuda. As alterações
psicológicas encontradas em crianças se apresentam paulatinamente no transcurso
do desenvolvimento da vida dessa criança.

Geralmente, é possível observar que o evento de crise atual, ou um período agudo


dos sintomas, é precedido por curtos períodos com apresentação de uma síndrome,
melhor dizendo, curtos períodos com algum tipo de desajustamento comportamental,
ou algum comprometimento percebido na criança.

Em sua grande maioria, a criança que apresenta um comportamento disruptivo,


por exemplo, está cercada por um funcionamento familiar disfuncional, cuja visão
fantasiosa ou distorcida da realidade permeia os relacionamentos afetivos dentro do
ambiente. Por comportamento disruptivo, entendemos a presença de uma falta de
controle dos impulsos e da conduta que inclui condições que envolvem problemas
de autocontrole, de emoções e de comportamentos.

Segundo DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014), os transtornos


disruptivos, do controle de impulsos e da conduta incluem problemas que se

1 Apud DALGALARRONDO, 2008, p. 296.

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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

manifestam em comportamentos que violam o direito dos outros ou colocam o


indivíduo em conflitos significativos com as normas sociais ou figuras de autoridade.
Ainda segundo o manual, as causas sobre o aparecimento dos problemas de
autocontrole das emoções e do comportamento podem variar amplamente entre
esses transtornos apresentados e indivíduos pertencentes a determinada categoria
diagnóstica.

O quadro apresentado no site MedicinaNET oferece um guia para a avaliação de


crianças e adolescentes no contexto de emergência psiquiátrica quando levados
com crises de grande euforia ou por algum fator de risco.

Quadro 7. Avaliação de crianças e adolescentes.

AVALIAÇÃO COM OS PAIS


1. Impacto do problema na família.
2. Sumário do desenvolvimento da criança e contexto de surgimento do problema atual.
3. Perfil de funcionamento da família e aspectos socioculturais.
4. História familiar de doenças psiquiátricas e outras doenças em geral.
FOCOS DE AVALIAÇÃO
1. Funcionamento escolar e cognitivo.
2. Vínculos afetivos e sociais.
3. Desenvolvimento físico e história médica.
4. Desenvolvimento emocional: personalidade e temperamento, adaptação a situações de estresse, controle de impulsos.
5. Valores culturais e religiosos.
6. Gostos, interesses, vocação.
Fonte: https://www.medicinanet.com.br/m/conteudos/revisoes/5743/emergencias_psiquiatricas_em_criancas_e_
adolescentes.htm.

3. Suicídio e transtorno mental


Levy (1978 apud KOVÁCS, 1992) traz a etimologia da palavra suicídio, que vem do
prefixo sui [de si mesmo] e caedes [ação de matar]. Foi em 1778 que a palavra suicídio,
significando matar a si mesmo, foi incluída no dicionário da língua francesa. Embora
a palavra tenha um significado claro, os aspectos que rodeiam as variáveis sociais e
motivacionais não fazem do termo algo simples de ser discutido.

Veremos, então, várias possibilidades acerca da terminologia e tentaremos as melhores


compreensões sobre o que são, suas causas, o manejo e a prevenção do suicídio. Conforme o
autor, suicídio pode significar autoeliminação consciente, voluntária e intencional. No sentido
mais amplo, o suicídio inclui processos autodestrutivos inconscientes, lentos e crônicos.

Muitos confundem o suicídio com tentativa de suicídio, ambos os termos se diferenciam,


já que as tentativas de suicídio são atos deliberados de autoagressão que manifestam

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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

uma intenção autodestrutiva com vaga consciência ou incerteza da sobrevivência, como


vimos anteriormente.

A perspectiva sociológica do suicídio, em 1897, foi trazida por Émile Durkheim, que, em
sua publicação “Suicídio: um estudo sociológico”, tentou explorar a questão do suicídio
como o caso de morte que resulte direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo
e que seja praticado pela própria vítima.

Diferentemente da tentativa que seria o ato assim definido, mas interrompido antes de
resultar em morte (NUNES, 2016 apud WERLANG; BOTEGA, 2004). No entanto, essa
última característica da tentativa de suicídio seria chamada de comportamento suicida
na atualidade.

O comportamento suicida abrange os comportamentos que vão desde gestos, tentativas


e o próprio suicídio consumado. Planos e ações suicidas que têm pouca possibilidade
de culminar em morte são chamados pelos estudiosos de gestos suicidas.

As ações suicidas em que a intenção de morte está presente, mas que, por algum fator,
não chegam à consumação, são chamadas de tentativas de suicídio. O comportamento
autodestrutivo ou suicida se divide em: diretos e indiretos.

» Comportamentos suicidas diretos: estão relacionados a gestos, tentativas


e ações suicidas consumadas. Por exemplo: pular de pontes, atirar contra si em
partes vitais, enforcamento, etc.

» Comportamentos suicidas indiretos: estão relacionados a ações rotineiras


e repetidas que colocam a vida do sujeito em risco. São atividades perigosas das
quais participa o sujeito, mas que não apresentam intenção consciente de morrer.
Direção perigosa, consumos de drogas e outras substâncias, uso abusivo de tabaco
e descontroles na alimentação, com a própria saúde, comportamento criminoso,
entre outros.

Não é tão comum que pessoas na tentativa de se suicidarem sejam salvas por terceiros,
e, por fim, acabam por se deparar com a contradição dos seus sentimentos, uma vez
que o fato de querer acabar com a angústia predominantemente devastadora é o que
leva à tentativa. Perceber-se em situação de controle, quando medicada e atendida por
uma equipe multidisciplinar de atenção, além de outros fatores, pode reduzir a pressão
para o desejo de morte.

Do ponto de vista psicológico, o comportamento suicida é um fenômeno que tem


estimulado várias pesquisas e estudos a fim da sua compreensão universal e cultural.
As estatísticas confirmam que, no Brasil, o índice de suicídios na faixa dos 15 aos 29

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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

anos se aproxima a 6,9 casos para cada 100 mil habitantes, o que remete a uma taxa
relativamente baixa quando comparada aos países líderes nesse ranking, tais como:
Índia, Zimbábue e Cazaquistão, por exemplo, que têm mais de 30 casos para cada 100
mil habitantes. O Brasil está no 12º lugar da lista dos países latino-americanos com
mais mortes nesse segmento.

“Para a faixa etária de 15 aos 29 anos, apenas acidentes de trânsito matam mais. E se
você analisar as diferenças de gênero, o suicídio é a causa primária de mortes para
mulheres nesse grupo”, diz Alexandra Fleischmann, especialista da OMS, à BBC (apud
WERLANG; BOTEGA, 2004, p. 67).

Segundo Bertolote e Fleishmann (apud WERLANG; BOTEGA, 2004), o risco de suicídio


é evidentemente destacado a partir da presença de um transtorno mental, visto que mais
de 90% das pessoas que se suicidam têm algum tipo de transtorno mental, segundo as
pesquisas levantadas. Portanto, em termos de prevenção, o tratamento do transtorno
mental é um elemento de fundamental importância.

Alguns transtornos mentais têm o pensamento suicida como características de sintomas


associados, tais como depressão, ansiedade, delírios, uso de substâncias psicoativas
(álcool), esquizofrenia, além de outros fatores como componentes do ambiente físico
e social, conforme levantamento da OMS, bem como doenças como AIDS, doença de
Parkinson, esclerose múltipla, etc.

Ainda segundo os autores, para trabalhar com prevenção do suicídio dentro dessa
perspectiva, é preciso:

» controle da disponibilidade e do acesso a substâncias tóxicas (incluindo


medicamentos);

» eliminação da toxicidade do gás de rua e de gases de escapamento de motores a


explosão;

» redução do acesso a armas de fogo;

» apresentação apropriada de notícias e informações sobre suicídio pela mídia;

» colocação de barreiras que impedem o acesso a locais elevados (pontes, edifícios,


etc.).

Na visão psicanalítica, Freud identificou os aspectos relacionados ao suicídio, verificados


em seus pacientes clínicos, como fantasias suicidas, manifestações delirantes, tentativas de
dar vazão ao impulso proibido e, também, na forma patológica do luto, uma ambivalência
narcisista. Conforme Werlang e Botega (2004), as formulações de Freud vinculadas ao

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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

conceito de pulsão de morte, a agressividade e a autodestruição foram recebidas com


muito questionamento pela comunidade científica, em função das dificuldades de uma
confirmação fiel da sua existência. Contudo, Freud acabou afirmando a inata inclinação
humana para a agressividade, para a destrutividade e para a crueldade não erótica no
artigo “O mal-estar na civilização”.

Ainda, o suicida, identificado como objeto perdido, deseja desaparecer da vida –


da mesma forma que desapareceu seu objeto libidinoso. O suicídio é, então, uma
agressão ao exterior e, secundariamente, à revolta completa. É um procedimento
para satisfazer a agressão que o ambiente ocasiona, assim como meio de recuperar o
objeto libidinoso perdido, matando a si, consegue anular psicologicamente a perda do
objeto e vingar-se do ambiente que originou o seu desespero (WERLANG; BOTEGA,
2004).

O apontamento trazido por Menninger (1970, p. 36 apud CUNHA, 2003, p. 324)


também justifica o pensamento freudiano sobre o suicídio como uma tentativa do ego
em se ajustar às exigências do superego e aplacar a severidade: “quem alimenta desejos
homicidas sente também, pelo menos inconscientemente, a necessidade de uma punição
da espécie correspondente”. Nesse comentário, Freud pretende dizer que “muitos dos
suicídios são homicídios disfarçados, não apenas devido à introdução, mas também
porque só o homicídio justifica no inconsciente a pena de morte, mesmo que quando
ambos são aplicados ao eu”. Já Shneidman (1975, p. 1774 apud OLIVEIRA, 2006) elucida
que explicações corroboram com as teorias do suicídio e permanecem desde a época de
Freud até Menninger nos anos 1970.

A respeito do quantum da consciência que está sobre os atos suicidas, Shneidman afirma
que, embora não se saiba por que seres humanos tiram a sua própria vida, é possível que
mesmo uma pessoa que atenta contra si não reconhece a fundo os complexos motivos
que a levaram à autodestruição.

Ainda, considera o suicídio como “ato humano de cessação autoinflingida, intencional”


que pode ser mais bem compreendido como “fenômeno multidimensional, em um
indivíduo carente, que define uma questão para a qual o suicídio é percebido como
melhor solução” (ibidem, p. 69). O referido autor classifica a morte como intencional,
subintencional e não intencional, a fim de entender a intenção colocada no ato suicida.
Para a morte intencional, temos uma morte na qual a pessoa representa um papel
direto e consciente para realizá-la. Para a morte subintencional, a pessoa desempenha
um papel parcial, coberto ou inconsciente, a fim de apressar o momento da morte; já a
morte não intencional, seja qual for a sua causa, fracasso biológico, trauma físico, mas
que independe do exterior e do interior psicológico.

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UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

Quadro 8. As dez generalidades do suicídio.

Generalidades Especificações da tentativa


Busca de solução O propósito
Cessação da consciência O alvo
Dor insuportável O estímulo
Necessidades psicológicas frustradas O estressor
Desamparo/desesperança A emoção
Ambivalência O estado afetivo
Rigidez O estado perceptivo
Fugir/escapar A ação
Comunicação da intenção O ato interpessoal
Padrões de enfrentamento existencial A consistência
Fonte: Shneidman, 1992 apud Werlang, 2004, p. 84.

Podemos ver que o suicídio não é um ato que acontece sem algum tipo de premeditação,
sem intencionalidade, ao contrário, é um fenômeno vivenciado como a resposta encontrada
pelo indivíduo que sofre na intenção de escapar da dor psicológica devastadora.

O íntimo do sujeito vem carregado de estados emocionais negativos e seguido de ideias


de morte que servem como estímulo para colocar um fim nas emoções intoleráveis.
No entanto, internamente, encontra-se um sentimento ambivalente, o que faz com
que o indivíduo, ao mesmo tempo que queira a morte, pense em uma intervenção de
socorro, mesmo que inconscientemente, sendo esse o último recurso utilizado para
tentar livrar-se da dor.

Foi a partir do estudo desse fenômeno que se percebeu que o suicídio sempre vem
antecedido por sinais verbais ou comportamentais que indicam um sentimento de
desesperança e desejo de morte. Estudiosos descobriram que não apenas o sujeito que
sofre se apresenta enredado numa complexa dinâmica de sofrimento, mas também toda a
família. Parece que o sofrimento mental não só atinge, como também pode mobilizar, ou
partir das relações familiares disfuncionais. Dessa forma, a fuga dos intensos momentos
de dor e sofrimento psicológicos de grande intensidade resulta em suicídio, homicídio
ou psicose (SHNEIDMAN, 1992 apud WERLANG, BOTEGA, 2004, pp. 84-85).

Quando lidamos com pacientes que tentaram o suicídio, devemos nos preocupar com o
tipo de avaliação que iremos realizar e com o modo como iremos lidar com esse sujeito
que padece de grande sofrimento.

A tentativa de suicídio é um pedido de ajuda, um sinal de alerta. Nomeia o comportamento


que merece diagnóstico e, por isso, o profissional que se depara com esse paciente deve

18
Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

investigar as situações, causas, motivos e revisar as atitudes e os comportamentos


autoinfligidos em relação ao comportamento suicida.

Estabelecer vínculos terapêuticos é um ponto importante para aceitação, adesão e


diminuição dos sentimentos conflitantes que o paciente apresenta nesse momento, além
da manutenção do respeito à condição emocional do paciente, ao contexto de vida e a
motivação à tentativa de suicídio. Ademais, uma atitude de acolhimento sem julgamento
moral é primordial nesses casos.

Os mitos que rondam as tentativas ou os comportamentos suicidas não devem ser


levados em consideração no momento da avaliação e do manejo do paciente, pensar que
a tentativa de suicídio foi o modo que o paciente encontrou para manipular os de seu
convívio pode nos levar a condutas clínicas estereotipadas, além de marcar o paciente
já em conflito e colocá-lo em uma situação de vergonha ou raiva por não ter conseguido
autodestruir-se e permanecer sendo maltratado.

Embora o comportamento suicida exerça grande impacto emocional sobre a equipe


de saúde, podendo provocar sentimentos de hostilização ou pena, levando a equipe a
tratar esse fenômeno com grande descaso, precisamos estar atentos e entender que a
trajetória da pessoa “acidentada” deve ser respeitada. O apoio adequado é importante,
uma vez que tende a mobilizar o paciente a encontrar forças para uma mudança de vida
(WERLANG; BOTEGA, 2004).

O aspecto que não serve ao propósito de autodestruição é uma


contaminação do comportamento apropriado para tais atos, na maioria
deles, uma tendência à busca de contato e tendências preservadoras da
vida (STENGEL, 1968, p. 174).

Na avaliação psicológica desse tipo de paciente, podemos averiguar as circunstâncias que


indicam a alta intencionalidade suicida. Para destacarmos intencionalidade e letalidade,
entenderemos esse processo a partir dos estudos sobre suicidologia que as diferencia:
intencionalidade seria a intensidade do desejo do indivíduo em acabar com a sua própria
vida; já letalidade se refere às consequências do ato em termos de gravidade médica, da
conotação clínica para o ato.

A letalidade pode ainda se diferenciar em termos de:

» comunicação – se o paciente deu algum aviso verbal; se havia ideia ou planejamento


suicida;

» ameaça suicida;

» gesto suicida – atos em que o propósito manipulativo e comunicativo parece


proeminente e a intenção suicida praticamente inexiste;

19
UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

» tentativa de suicídio ambivalente (planejamento que consciente não levaria à morte);

» tentativa de suicídio deliberadamente (impulsiva);

» utilização de ferramentas – como armas de fogo;

» o suicídio propriamente dito, realizado de modo exitoso.

Quadro 9. Intencionalidades.

Circunstâncias sugerindo alta intencionalidade suicida


Comunicação prévia de que iria se matar.

Mensagem ou carta de adeus.

Providências finais (por exemplo, conta bancária) antes do ato.

Planejamento detalhado.

Precauções para que o ato não fosse descoberto.

Ausência de pessoas por perto que pudessem socorrer.

Não procurou ajuda logo após a tentativa de suicídio.

Método violento ou uso de drogas mais perigosas.

Crença de que o ato seria irreversível e letal.

Afirmação clara de que queria morrer.

Arrependimento por ter sobrevivido


Fonte: Beck; Resnik; Lettieri, 1974 apud Werlang; Botega, 2004, p. 125.

Quadro 10. Tentativa ou risco de suicídio.

Perguntas que orientam a avaliação do paciente com tentativa ou risco de suicídio


1. Quais as motivações e intenções do paciente para o suicídio?
2. Quais as circunstâncias em que a tentativa de suicídio ocorreu?
3. Há um transtorno psiquiátrico que mereça tratamento específico?
4. Houve atores estressantes que desencadearam a tentativa de suicídio?
5. Qual o risco de o paciente tentar (novamente) o suicídio?
6. Quais os recursos do paciente para enfrentar seus problemas?
7. O paciente pode contar com apoio social vindo de parentes e amigos?
8. Há alguém próximo ao paciente com quem possa entrar em contato?
9. Quais as medidas a serem tomadas de imediato?
10. Qual o melhor tratamento para esse paciente?
Fonte: Werlang; Botega, 2004, p. 126.

20
Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

Quadro 11. Ideação suicida.

Perguntando sobre a ideação suicida


Tem obtido prazer nas coisas que tem realizado?
Sente-se útil na vida que está levando?
Sente que a vida perdeu sentido?
Tem esperança de que as coisas vão melhorar?
Pensou que seria melhor morrer?
Tem pensamentos de pôr fim à própria vida?
São ideias passageiras ou persistentes?
Pensou em como se mataria?
Já tentou ou chegou a fazer algum preparativo?
Tem conseguido resistir a esses pensamentos?
É capaz de se proteger e retornar para próxima consulta?
Tem esperança de ser ajudado?
Fonte: Werlang; Botega, 2004, p. 127.

4. Prevenção do suicídio
Iremos nos basear no Manual da Organização Mundial da Saúde (2000) elaborado
para profissionais da saúde em atenção primária, a fim de tocarmos na prevenção do
suicídio. Profissionais da atenção primária são importantes como medida de promoção e
prevenção da saúde, uma vez que estão em contato com a comunidade, têm o seu apoio
e geralmente são o primeiro contato da população local quando se trata de atendimento
à saúde.

A equipe da atenção primária é, portanto, um elo entre a comunidade e o sistema de


saúde, e frequentemente esse profissional é o primeiro recurso do paciente quando em
estado de crise ou acometimento de crise por doenças graves ou tentativas de suicídio.
Importantes fatores relacionados ao suicídio estão ligados aos grupos diagnósticos,
como a depressão, o transtorno de personalidade, o alcoolismo ou abuso de drogas, a
esquizofrenia e o transtorno mental orgânico.

O manual pretende preparar o profissional da saúde para a prática da prevenção e do


atendimento que visa à identificação do paciente com risco de suicídio. Esse manual
aborda aspectos sobre o modo de comunicação com o paciente e revela as características
reais e todas aquelas que viraram mito na sociedade em relação ao suicídio, como vimos
anteriormente.

Alguns identificadores de uma pessoa sob risco de suicídio:

» comportamento retraído, inabilidade para se relacionar com família e amigos;

21
UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

» doença psiquiátrica;

» alcoolismo;

» ansiedade ou pânico;

» mudança na personalidade, irritabilidade, pessimismo, depressão ou apatia;

» mudança no hábito alimentar e do sono;

» tentativa de suicídio anterior;

» odiar a si mesmo, sentimento de culpa, de se sentir sem valor ou com vergonha;

» perda recente importante – morte, divórcio, separação, etc.;

» histórico familiar de suicídio;

» desejo súbito de concluir os afazeres pessoais, organizar documentos, escrever


um testamento, etc.;

» sentimento de solidão, impotência, desesperança;

» carta de despedida;

» doença física;

» menção repetida de morte ou suicídio.

A partir daí, o manual desenvolve vários outros aspectos importantes para o profissional,
a fim de lidar com os pacientes de alto risco em suicídio.

Portanto, aspectos como esses cuidados apresentados revelam a importância de os


profissionais da saúde lidarem com a prevenção e a promoção da saúde, que são pontos
muito discutidos na Organização Mundial da Saúde e que pretendem a remissão de
quadros com altos índices a partir de trabalhos em redes de apoios assistenciais.

Figura 18. Prevenção ao suicídio.

Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/saude-bem-estar/setembro-amarelo.htm.

22
Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

» Acesse e explore o site: https://www.cvv.org.br/.

» Acesse o manual de prevenção do suicídio para profissionais da saúde: https://


www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/05/manual_prevencao_suicidio_
profissionais_saude.pdf.

23
CAPÍTULO 2
FALANDO DE LUTO E MORTE

Embora saibamos que, depois de uma perda dessas, o estado agudo do


luto abrandará, sabemos também que continuaremos inconsoláveis e
não encontraremos nunca um substituto. Não importa o que venha a
preencher a lacuna, e, mesmo que esta seja totalmente preenchida, ainda
assim alguma coisa permanecerá. E, na verdade, assim deve ser. É a
única maneira de perpetuar aquele amor que não desejamos abandonar
(FREUD2 apud BOWLBY, p. 21).

Como profissionais da saúde, precisamos lidar constantemente com a morte, no ouvir


falar, no sentir e no vivenciar. Visto isso, é importante que nos preparemos para lidar
de modo saudável com esse assunto.

Quando nos deparamos com a situação de uma morte por suicídio, começamos a nos
questionar, ficamos a buscar a razão e nos sentimos tocados na nossa impotência, na
nossa incapacidade de perceber a dor alheia, de acolher a dor que poderia ter sido
amenizada. É quando vem a culpa. O pesar pelas mortes trágicas invade e não sabemos
o quê. Toca-nos a alma? Mexe com o nosso próprio desejo de viver? É a morte que
nos invade? É o que penso sobre a dor do outro que me atormenta? É uma espécie de
introjeção ou identificação dos sentimentos ou pensamentos alheios que me invade?

A morte é um fenômeno conhecido por nós desde a infância. Aprendemos mais sobre
a morte a partir da morte simbólica de objetos perdidos (inconscientemente), ou com
a morte de pequenos objetos – situações que vão ocorrendo no desenvolvimento.
Uma criança, por exemplo, pode ter aprendido sobre a morte quando percebeu que seu
único peixe do aquário já não mais nadava; recebendo, a partir daí, algum significativo
conceito de morte. Alguns autores deliberam que bebês podem sentir a morte quando no
processo de separação da mãe, no entanto essa morte não é reconhecida mais adiante.
Uma criança em série escolar pode perguntar aos pais o que é morrer, uma vez que a
professora da sala ao lado morreu no dia anterior.

Falar sobre morte sempre foi algo que demandou muito do ser humano, pois requer um
significativo número de palavras utilizadas para expressar o inexprimível. Klüber-Ross
(2005) aborda os aspectos da morte desde o início da civilização humana e lembra que
a morte era muito mais evidente nos tempos passados, com as devastadoras epidemias,
moléstias infecciosas, com medicina arcaica, e, em seu estado inicial, com as causas de
guerras e tantos outros fatores que faziam com que nos deparássemos com a morte a
todo tempo.

2 Em carta a Ludwing Biswanger, que havia perdido um filho.

24
Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

Na atualidade, a evolução da humanidade tem diminuído o encontro do sujeito jovem


com a morte, por um lado, e aumentado, por outro. O autor ainda relata que, do ponto
de vista psiquiátrico, a morte sempre causa estranheza quando relacionada à morte
do nosso próprio eu. O inconsciente não compreende a finitude da vida, a finitude dos
projetos delineados e a finitude das relações dificultosamente construídas e, por isso,
tende a evitá-la.

O conhecimento da morte passa por várias etapas: quando crianças, a etapa do medo,
de ter desejado a morte de um ente querido, pode suplantar a superação e desencadear
uma crise duradoura ou não; quando crescemos e percebemos que a nossa finitude é algo
real e palpável, paramos de sentir culpa diante do desejo e nos apegamos à realidade de
uma morte natural que respeite os projetos de vida e a nossa velhice.

Sobre a morte, podemos agregar, então, o que é cultural, o que depende da sociedade
em que estamos. A morte pode ser vista como tabu ou como realidade. Como tabu, a
morte é algo do aspecto natural e que não deve ser comentada; pode ser vista também
como fenômeno decrescente, uma vez que é possível de ser evitada com o crescimento
dos recursos tecnológicos e medicinais; ou, pelo lado oposto, que atenta à realidade,
pois a morte está à espreita, uma vez que o número da população cresceu, assim como
o número dos perigos provenientes dela (Ibidem, 2005).

Não existe amor sem perda. E não existe a superação da perda sem
alguma experiência de luto. Não ser capaz de vivenciá-la é ser incapaz
de entrar no grande ciclo de vida humano de morte e renascimento – ser
incapaz, isto é, de viver novamente (LIFTON, 1975, p. 7).

Vejamos agora no ano de 2020, com a pandemia mundial (covid-19) que aflige a vida de
todos nós seres humanos, cada um sendo afetado pelo medo, confundido pelo instinto de
proteção, de sobrevivência e de alguma forma sendo tocado pelo pensamento de morte.
Werlang e Botega (2004) comentam que a morte é um evento que encerra o processo
de vida de uma pessoa, mas que não é a morte propriamente dita que amedronta o ser
humano, mas sim a sua caracterização, o modo de morte. A causa de morte também é
um ponto que preocupa o homem, pois a causa pode ser fruto tanto das ações humanas
provocadas intencionalmente ou não quanto causas externas – acidentes, guerras,
processos naturais e doença –, que, de um modo evitável ou inevitável, desprevenido,
desavisado, levam do sujeito toda uma vida.

Como vimos, a reação à morte depende da cultura e do contexto, uma vez que ela pode
ser considerada como oportuna ou inoportuna. A morte oportuna se refere àquela morte
em que o tempo de vida foi realmente longo e já se esperava, pois a pessoa estava no
final da vida, houve a completude do ciclo de vida vital. Enquanto a morte inoportuna

25
UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

refere-se à morte prematura: a morte de um jovem, a morte súbita ou inesperada, a morte


acidental, catastrófica, violenta, ou vista como absurda. Do ponto de vista psicológico, a
morte tem múltiplos significados que não nos cabe tratar aqui, mas que são importantes
no estudo da Tanatologia.

Figura 19. Morte e Vida.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Morte_e_Vida_(Klimt).

É preciso atentarmos para os sentimentos causados pela perspectiva da morte ainda em


vida, quando nos deparamos com o sofrimento de ter cerceada a liberdade por causas
que não controlamos (no caso das patologias, das pandemias), vivências de perda, ou
quando nos deparamos com o sofrimento intolerável vivenciado em momentos de crise,
capazes de levar ao pensamento de suicídio ou ao ato consumado.

Lindermann (1945 apud PARKES, 1998) pesquisava acerca dos efeitos que o luto teria
sobre a saúde, uma vez que algumas doenças físicas e mentais estavam sendo atribuídas à
experiência de perda. Dessa forma, era extremamente importante distinguir os sintomas
físicos e psicológicos que sustentassem a hipótese de que os sintomas apresentados
estavam relacionados aos pacientes enlutados.

Nos Estados Unidos, algumas pesquisas em relação aos efeitos psicossomáticos, a partir
da perda, como o desamparo e a desesperança, corroboraram com a ideia de que doenças
físicas poderiam vir com o luto. Embora para esse tipo de estudo houvesse muitos
vieses e críticas relacionadas, o luto na doença mental sempre foi um tema estudado.
O próprio autor questiona: o luto pode causar doenças mentais? Como o estudo do luto
tem sido trabalhado por muitos anos? Pesquisadores concluíram que pacientes enlutados

26
Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

recebiam cuidados psiquiátricos pela primeira vez na vida após a perda recente de
alguém próximo. Além disso, descobriram que não menos do que 77% dos distúrbios
psiquiátricos crônicos eram provocados pela morte de um parente próximo. Os estudos
encontraram casos de depressão reativa, neurose, distúrbio de ansiedade e síndrome
do pânico durante o primeiro tempo do luto.

Falaremos brevemente sobre os estágios de luto, Klüber-Ross (2005) apresenta a


negação e o isolamento como primeiro estágio do luto3 tido como normal. A negação
inicial acontece no começo do anúncio da doença de pessoas cuja saúde era palpável ou
cuja morte não se esperava.

A Negação pode vir ainda de forma ansiosa quando um diagnóstico abrupto ou prematuro
invade a realidade do sujeito. São esses que, na fase inicial do recebimento da notícia,
em sua grande maioria, apresentam essa defesa temporária. A negação não permanece
durante muito tempo, na maioria dos pacientes, uma vez que a realidade se sobrepõe
ao estado inicial da doença e a pessoa demonstra incapacidade ou impossibilidade de
sustentar a defesa diante dos fatos realísticos e desvia para um outro tipo de defesa que
pode ser o isolamento.

O isolamento pode ocorrer não só na fase da descoberta de um diagnóstico, como também


na fase de um luto inicial, uma vez que o estado de estupor, letargia, retraimento extremo,
e até o uso de medicação, estado de confusão e desilusão podem acometer o paciente
nesse período. Por isso, o acompanhamento se torna tão necessário, uma vez que, na
negação ou no isolamento, a pessoa é ignorada e desconsiderada dentro de um ambiente
hospitalar, não recebe visitas ou vive em um refúgio fantasioso, podendo passar por um
processo ainda maior dentro do seu estupor, identificando-se com a situação pela qual
está passando, e, na fantasia inconsciente, ela se sentirá cada vez mais identificada com
o sofrimento. Ficando mais tempo nessa fantasia, nesse estágio do luto, a pessoa pode
desenvolver características patológicas, agregando ainda outros elementos, tais como a
raiva, que corrobora com a sua fantasia identificatória de que é uma pessoa não grata,
cujos membros esperam apenas a morte, assim como a própria pessoa que se foi, no
caso do luto por perda.

A patologização da raiva no processo de luto se torna um complicador, uma vez que os


sentimentos de negação substituídos por raiva, revolta, inveja e ressentimento afastam
ainda mais as pessoas que tentam ajudar. Como lidar com a raiva que é projetada em todos
os ambientes? Essa é uma situação difícil para os que estão em volta e, principalmente,
para os parentes.

3 Para que não nos vejamos confusos, vamos falar dos estágios do luto para os pacientes que vivenciam estados de sofrimento com a
iminência da morte e para aqueles cuja perda de um familiar próximo está causando sofrimento.

27
UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

A pessoa adoentada ou a pessoa embotada se põe numa redoma cada vez mais densa, e
essa atitude pode ser sustentada pelos familiares que se negam a problematizar ainda
mais o momento de vida, e se afastam. Desse modo, a raiva parece fazer sentido dentro
da fantasia do paciente e só tende a crescer.

O familiar ainda pode imbuir-se de culpa ou se sentir humilhado e aos poucos ir desistindo
do paciente em vivência de luto. Nesse caso, é possível perceber que o paciente, quando
compreendido e respeitado, cujas atenções são dispensadas ao logo do tempo a ele, sem
cobrança ou ataque, se sentirá mais apto a controlar suas emoções, sabendo que os
sentimentos liberados não irão resolver os seus problemas, não farão com que a fantasia
de que ele não é tão amado se concretize, tampouco irão resolver a situação do seu luto.
É por isso que valorizar o humano que existe nele a partir da visita, e do cuidado do
outro, faz com que ele atue em níveis mais baixos de explosões temperamentais.

Nesse contexto, é interessante que, uma vez que não analisemos o motivo da raiva do
paciente, nós possamos assumi-la em termos reais. A origem de raiva tem fundamento
e não deve ser reivindicada, pois, reagindo a essa raiva, tanto a família quanto os
cuidadores ou a equipe de saúde podem retroalimentar o comportamento hostil do
paciente, dificultando a remissão do sintoma.

O terceiro estágio, geralmente encontrado após o momento da raiva e geralmente


relacionado a uma certa religiosidade de quem sofre, é a barganha. Ele tenta fazer
um acordo com Deus. O doente em fase terminal pode pedir a cura, em contrapartida
decide doar parte de sua vida a serviço de Deus. Já no luto por perda, geralmente a
barganha é para que seja levado para junto com o falecido, já que não teria funcionalidade
vivendo isolado, sem a pessoa querida; em geral, isso acontece com as viúvas(os).
Ao perceber essa atitude, ou ao ouvir essa atitude, geralmente o médico ou capelão não
deve incentivar as ideias do paciente, mas tentar investigar, ou buscar ajuda adequada, a
fim de descobrir se o paciente está sentindo alguma culpa, ou se existem desejos, mesmo
que inconscientes, que acelerem tais culpas e levem ao desejo de morte. Sendo assim,
podemos juntos, como equipe multidisciplinar, trabalhar os sentimentos em relação à
perda e despertar o paciente para o sentido da vida.

O quarto estágio, o da depressão, não é difícil de compreender, uma vez que várias
situações, como embotamento do sujeito, isolamento, dormir mais, falar menos e outros
comportamentos diferentes, parecem estar levando o paciente a um comprometimento
em termos de comportamento e sensações que remetem à depressão. Se falarmos na
depressão de um paciente adoentado com morte iminente, devemos compreender
sua incapacidade diante das situações que ele deveria resolver antes de sua morte.
Em casos como esse, ajudar o paciente a descobrir pessoas ou até mesmo utilizar a

28
Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

equipe para ajudá-lo a elaborar um plano ou realizar as questões práticas de sua vida,
como, por exemplo, reorganizar o seu lar, entrar em contato com as pessoas possíveis,
acionar uma rede de apoio, tudo isso pode fazer com que o estado depressivo diminua.
No entanto, quando a depressão é o momento em que o sujeito se depara com a sua
própria inexistência, com uma perda de todos os seus objetos amados, trabalhar com
aspectos de encorajamento e confiança não é muito válido, pois nesse momento o paciente
necessita exteriorizar o seu pesar e compreender a sua própria situação e impotência
diante da morte.

O quinto estágio fala sobre aceitação e não deve ser confundido com estágio da felicidade.
Nesse momento, os sentimentos, ainda confusos, permeiam mais para a fuga e o cansaço,
o cessar de uma batalha esgotante, que faz com que o paciente em algum momento de
repouso em si mesmo se entregue ao fato de encarar o processo em que vive. Esse é um
momento muito importante para os familiares e profissionais. Estando os familiares
já instruídos a não negar mais nada ao familiar que convalesce e apenas aproveitar os
momentos finais com amor, isso tranquilizará o paciente, encaminhando-o a um estado
de tranquilidade para viver os seus momentos finais, inclusive estando aptos, todos,
a decidir se o paciente permanecerá hospitalizado ou em casa (em casos em que essa
opção seja possível).

Os cuidados paliativos nesse momento dão dignidade ao final de vida do paciente, assim
como a liberdade para expressar suas angústias, seus dramas, suas dores e fantasias dão
ao enlutado alívio e sentido de apropriar-se a uma vida nova e própria. Pesquisas revelam
que encarar as discussões sobre a morte não são contraindicadas e que desmistificam
uma situação que traria desconforto caso não fosse discutido. É como se retirando a
máscara do proibido o paciente se sentisse livre para morrer sem segredos e fantasias
fugazes, ou absorver a vivência do luto.

Leia sobre o preparo para a morte:

» KOVÁCS, M. J. Educação para a morte. Psicologia: Ciência e Profissão [online],


v. 25, n. 3, pp. 484-497, 2005. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-
98932005000300012. Acesso em: 25 jun. 2021.

» LIMA, V. R.; BUYS, R. Educação para a morte na formação de profissionais de


Saúde. Arquivos brasileiros de Psicologia, v. 60, n. 3, pP. 52-63, 2008.

29
CAPÍTULO 3
ALGUMAS ALTERAÇÕES MENTAIS DE URGÊNCIAS
E EMERGÊNCIAS NA CRISE

Figura 20. Crise psicológica.

Fonte: https://www.cvv.org.br/blog/desassossego/.

Começaremos por entender que a emergência psiquiátrica acontece pela alteração no


pensamento, sentimento ou comportamento, manifestando-se como uma crise que
necessita de intervenção imediata, uma vez que representa risco para o paciente ou os do
seu convívio. A urgência e a emergência psiquiátrica se definem como qualquer alteração
psiquiátrica em que ocorra modificação do estado mental e resulte em risco atual e
significativo de morte ou risco grave para o paciente ou para terceiros, necessitando de
intervenção terapêutica imediata (QUEVEDO; SCHMITT; KAPCZINSKI, 2008 apud
VEDANA, 2016).

O sofrimento emocional e o físico dos pacientes que se apresentam em crise são visíveis
e influenciam as respostas do paciente ao tratamento; para isso, é necessário que, ao
receber um paciente em crise emergencial, possa ser oferecido um ambiente de segurança
e proteção – lugar em que ocorra comunicação fluida, clara, de conversa franca e
verdadeira. Ainda, pode ser preciso conter imediatamente a crise com uma equipe bem
treinada, capaz de promover avaliação e intervenção com métodos não coercivos – que
impeçam a progressão da violência. Afinal, a relação interpessoal terapêutica que sirva
de elo de vinculação no assistir o paciente deve existir.

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Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

1. Manejo – contenção do paciente


A violência é sempre um fator que pode existir na chegada ou presença de um paciente
transtornado ou que apresente alguma síndrome no estado agudo, porém, quando o
grupo de profissionais estiver pronto e puder demonstrar ao paciente que tem potencial
para auxiliá-lo, para conter sua destrutividade e manter a segurança, é possível começar
uma intervenção (ROCCA et al., 2013 apud VEDANA, 2016).

As contenções são medidas tomadas tanto física quanto farmacologicamente para


impedir comportamentos destrutivos. No Brasil, as contenções químicas são prescritas
por médicos.

2. Conduta suicida
Como já vimos, o suicídio é uma conduta comportamental humana que representa a
única saída a um problema existencial da pessoa diante da impossibilidade de encontrar
outros meios de ajuda eficazes.

O profissional deve estar preparado para o manejo e a entrevista desse tipo de paciente,
assim como estar preparado com todos os tipos de conduta suicida e alterações
psicopatológicas para realizar um bom atendimento de emergência.

3. Fatores motivacionais para o suicídio


Sendo ele um fenômeno complexo e multicausal – resultado da interação de fatores de
ordem psicológica, biológica e social –, são considerados fatores de risco devido a doença
física, transtornos mentais, sintomas psiquiátricos específicos, história psiquiátrica
prévia, depressão, tentativas prévias de suicídio.

Os motivos são diversos e podem apresentar o desejo pela própria morte, evitação do
sofrimento ou situação intolerável, mudanças de comportamento, testar os sentimentos
das pessoas do seu convívio, buscar ajuda, entre outros. Não importa qual é a real intenção
do paciente acerca da letalidade do método, ou o que da sua tentativa provocou no
socorrista/médico/enfermeiro/psicólogo ou qualquer profissional que o recebeu. O que
importa é a existência de uma expressão de sofrimento ou comportamento disfuncional
associado à autoagressão, e é disso que se trata.

Diante da complexidade do assunto, a prevenção do suicídio e as ações em saúde coletiva


exigem esforços que devem estar pautados no conhecimento dos fatores de risco e devem
ser conhecidas pelo profissional da saúde.

31
UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

Assim como a avaliação do risco de suicídio que deve identificar os principais sentimentos
daquele paciente que pensa em se matar, Brasil (2006) fala sobre os “4D” que são a
representação dos sintomas da depressão, da desesperança, do desamparo e do desespero.
Esses sintomas são importantes para destacar que o paciente está em risco e que é
preciso estar atento aos outros indícios, que são o desinteresse pelo próprio bem-estar,
alteração no padrão comportamental, comportamento de risco e tentativa de colocar os
seus assuntos de interesse pessoal em dia. Ainda, o profissional deve estar atento para
identificar frases que são ditas pelo paciente que possam traduzir o risco de suicídio,
tais como: “não aguento mais essa vida”, “minha família ficará melhor sem mim”.

É quando o profissional se dispõe a atender a pacientes com comportamento suicida


e realizar um atendimento com acolhimento e escuta afetiva e efetiva, que as chances
de perceber os sinais de risco no paciente se apresentarão. Uma vez que a equipe
estará disposta e preparada ao atendimento diferenciado que exige recursos da rede
de atendimento – sendo estes, inclusive, capazes de interromper condutas suicidas.
A avaliação do risco de suicídio é importante, necessária e não deve ser temida, uma
vez que perguntar à pessoa sobre suicídio não vai levá-la a cometer suicídio, isso é
um engodo.

4. Algumas alterações mentais na crise psiquiátrica


de emergência
O atendimento de emergência requer uma dose de cuidado, por isso é necessário
reconhecer quando o quadro é orgânico ou psiquiátrico/psicológico. Saber diferenciar
as alterações orgânicas pode fazer grande diferença no atendimento de urgência e
emergência, uma vez que se a causa da doença que provoca os sintomas for fisiológica
há risco de tratamentos inadequados.

Portanto, é necessário ter atenção para os sintomas apresentados, verificar se as alterações


orgânicas apresentadas pelo cliente tiveram seu início em idade avançada, se são por
conta do abuso de substâncias psicoativas, se apresentam alucinações que sejam não
auditivas ou estejam relacionadas aos outros sentidos, tais como táteis, visuais, gustativas,
olfativas; se há alterações cognitivas ou alterações da fala, dos movimentos e da marcha,
descartando uma possível crise de quadro psicológico e encaminhando para o atendimento
especializado.

5. Transtornos por uso de substâncias


Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na sala de emergência, por exemplo, local
recente e vigente graças às políticas de atenção à saúde mental, o aparecimento de pessoas

32
Crise, morte por suicídio e luto | UNIDADE IV

com o uso de substâncias como o álcool prevalece e também aparece nas pesquisas com
quase 70% dos homicídios, estando relacionado a outras doenças, tais como hepatite,
hipertensão, estomatites, etc. (AMARAL; MALBERGIER; ANDRADE, 2010). Esse tipo
de paciente apresenta uma agitação psicomotora alterada, juntamente com aumento da
excitabilidade psíquica, podendo utilizar-se da agressividade no momento do manejo,
que deve ser planejado e executado pela equipe de saúde.

6. Delirium
É outro tipo de sintoma que pode ou não estar associado a um tipo de transtorno e
que prevalece nas salas de urgência e emergência psiquiátricas ou em salas de serviços
de atenção à população para um primeiro atendimento. O delirium é uma alteração
multifatorial presente nas taxas de mortalidade, nos índices de institucionalização
e no maior tempo de internação. Apresenta-se no paciente como inquietação
cognitiva aguda, estado confusional, distúrbio da consciência, do comportamento,
da memória, do pensamento, da orientação, da atenção e da percepção (LÔBO et al.,
2010).

7. Depressão
No serviço de emergência pronto-socorro ou pronto atendimento, a equipe de saúde
atenderá a uma grande demanda de pacientes deprimidos, seja devido à própria doença
seja devido a doenças associadas que acometem os sintomas da depressão (RODRIGUES,
2000).

Por sua vez, Sá, Werlang e Paranhos (2008) relatam que pesquisas apontam que 75%
das pessoas em situação traumática necessitam de uma boa avaliação para ver se consta
a possibilidade de distúrbios psíquicos com a presença de comorbidades como o abuso
de drogas e álcool, fobia, depressão e ansiedade.

8. Síndrome do pânico
É marcada por sintomas intensos, como sentimentos de catástrofe iminente, crises de
desespero, perda de controle, medo intenso, desrealização, despersonalização, sensação de
morte e alguns outros sintomas que caracterizam uma crise de ansiedade potencializada
(MIGUEL; GENTIL; GATTAZ, 2011).

A síndrome do pânico ocorre mais em mulheres devido à sua composição hormonal.


A primeira crise ocorre geralmente na adolescência ou no início da idade adulta, mas
pode ocorrer em qualquer idade.

33
UNIDADE IV | Crise, morte por suicídio e luto

9. Psicoses
Estado psíquico dito como a incapacidade de diferenciar a experiência subjetiva da
realidade externa, trazendo alucinações e delírios nos períodos mais intensos de crise.
A psicose pode ser definida como estado agudo ou de crise, chamado de surto psicótico,
em que os sintomas associados são pensamento desorganizado, insônia severa, tendência
suicida, memória confusa, sentimento de extrema ansiedade, agitação, nervosismo e
comportamentos bizarros.

A psicose pode ser do tipo funcional, como a esquizofrenia, ou orgânica, como causa de
uma demência ou intoxicação. Esse tipo de paciente requer um bom acolhimento por
profissionais capacitados da área da saúde, uma vez que ignorar, tratar com hostilidade
ou de forma leiga pode piorar ou apresentar consequências no quadro desse estado
mental tão delicado.

É importante que, diante dos conhecidos fatores de risco, seja realizada a prevenção da
saúde mental, e que, junto com a identificação dos sintomas, tenhamos reunida uma
gama de fatores protetivos que ofereça maiores possibilidades no âmbito da saúde
mental e física.

Contudo, é possível que haja diminuição dos quadros de gravidade em emergências


psiquiátricas, quando dada a atenção adequada à saúde mental. Para tanto, foi visto
neste material que os pilares para promoção da saúde mental ocorrem pelo correto
diagnóstico, pelo suporte emocional, pelo profissional preparado e pela terapia eficaz.

34
PARA (NÃO) FINALIZAR

Figura 21. Acolhimento

Fonte: https://www.prosaude.org.br/vida-saudavel/seguranca-do-paciente-qual-e-o-objetivo-e-como-funciona/.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma


alma humana, seja apenas outra alma humana.”
Carl Jung

» https://www.youtube.com/watch?v=ep354ZXKBEs. A morte é um dia que vale


a pena viver, de Ana Cláudia Quintana Arantes.

» https://www.youtube.com/watch?v=oCBqHqQEeCQ. Entrevista com Cristina


Moura sobre o luto.

» https://www.youtube.com/watch?v=K4lcr8ea9DI. Daniella de Faria aponta como


falar sobre a morte com crianças.

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41
ANEXOS

Quadro 12. Contrato de vida.

CONTRATO DE VIDA
Como parte do programa de minha terapia, eu _________________ (nome), concordo com os seguintes termos:
1. Concordo que um de meus maiores ganhos terapêuticos é viver uma vida longa com mais prazer e menos infelicidade do que
eu tenho agora.
2. Entendo que me torno suicida quando me deprimo ou não acredito mais neste ganho, mas, no entanto, gostaria de diminuir essa
tendência. Eu concordo em usar a minha terapia para aprender a lidar melhor com os meios de reduzir meu mal-estar emocional.
3. Partindo do conhecimento de que isso demandará algum tempo, concordo neste período em recusar o ato de me machucar
ou me matar entre os dias:____ a _____ (data).
4. Se, em algum momento, eu me sentir incapaz de resistir aos impulsos suicidas, eu concordo em telefonar para (nome do
terapeuta) _____________________, número ___________ ou ______________ (nome do coterapeuta), número ______________.
Se esses estiverem impossibilitados de atender naquele momento, eu concordo em ir diretamente ao ______________ (hospital
ou clínica) em ____________ (endereço).
5. Meu(s) terapeuta(s), ______________ e ___________ concorda(m) em trabalhar comigo nas sessões marcadas para ajudar-
me a aprender alternativas para me proteger e avaliar situações tão racionalmente quanto possível, durante os períodos de
____________ (data).
6. Eu concordo em cumprir este contrato até que ele expire ou renegociá-lo com meu(s) terapeuta(s). Eu compreendo que este
seja renovável até ou próximo de ______________ (data).
__________________________________ ______________
Assinatura data

__________________________________ ______________
Assinatura do Terapeuta data

__________________________________ ______________
Assinatura do Terapeuta data

Fonte: elaborado pela autora juntamente com a equipe de Marcelo Tavares (UnB).

42
Anexos

Anexo I

Comportamento suicida

O comportamento suicida abrange os gestos suicidas, as tentativas de suicídio e o suicídio


consumado. Os planos de suicídio e as ações que têm poucas possibilidades de levar à
morte são chamados gestos suicidas. As ações suicidas com intenção de morte, mas que não
atingem o seu propósito, chamam-se tentativas de suicídio. Algumas pessoas que tentam
se suicidar são descobertas a tempo e salvas. Outras pessoas que tentam se suicidar têm
sentimentos contraditórios acerca da morte, e a tentativa pode falhar, porque é, na realidade,
um pedido de ajuda combinado com um forte desejo de viver. Finalmente, um suicídio
consumado tem como resultado a morte. Todos os pensamentos e os comportamentos
suicidas, quer se trate de gestos, quer de tentativas, devem ser tomados a sério.

O comportamento autodestrutivo pode ser direto ou indireto. Os gestos suicidas,


as tentativas de suicídio e o suicídio consumado são exemplos de comportamento
autodestrutivo direto. O comportamento autodestrutivo indireto implica a participação,
geralmente de modo repetido, em atividades perigosas sem que exista uma intenção
consciente de morrer. Exemplos de comportamento autodestrutivo indireto incluem o
abuso do álcool e das drogas, o abuso do tabaco, o comer em excesso, o descuido com
a própria saúde, a automutilação, a condução de um veículo de modo temerário e o
comportamento criminoso. Das pessoas com comportamento autodestrutivo indireto
diz-se que têm um “desejo de morte”, mas geralmente existem muitas razões para esse
comportamento.

I. Epidemiologia

Como as estatísticas de suicídio se baseiam principalmente nas certidões de óbito e


nas pesquisas judiciais, existe certamente uma subestimação da verdadeira incidência.
Mesmo assim, o suicídio encontra-se entre as primeiras 10 causas de morte. O suicídio
é a causa de 30% das mortes entre os estudantes universitários e 10% das mortes em
pessoas entre 25 e 34 anos. É a segunda causa de morte entre os adolescentes. No
entanto, mais de 70% das pessoas que se suicidam têm mais de 40 anos, e a frequência
aumenta dramaticamente nos maiores de 60 anos, sobretudo nos homens. As taxas de
suicídio são maiores nas áreas urbanas do que nas rurais.

Em contraste, as tentativas de suicídio são mais frequentes antes de chegar à meia-idade.


As tentativas de suicídio são particularmente frequentes entre as adolescentes solteiras
e entre os solteiros com cerca de 30 anos. Embora as mulheres tentem suicidar-se com
uma frequência três vezes superior à dos homens, estes consumam o suicídio numa
proporção quatro vezes superior à delas.

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As pessoas casadas têm menos probabilidades de tentar ou de levar a cabo um suicídio


do que as pessoas separadas, divorciadas ou viúvas que vivem sozinhas. Os suicídios
são mais frequentes entre os familiares de quem já fez uma tentativa oujá se suicidou.

Muitos suicídios ocorrem nas prisões, particularmente entre os homens jovens que não
cometeram crimes violentos. Essas pessoas enforcam-se, geralmente, durante a primeira
semana de prisão. Os suicídios em grupo, quer impliquem um grande número de pessoas,
quer só duas (como um casal de namorados ou de cônjuges), representam uma forma
extrema de identificação com a outra pessoa. Os suicídios de grandes grupos tendem
a ocorrer em situações com uma grande carga emocional ou nos fanatismos religiosos
que ultrapassam o forte instinto de sobrevivência.

As taxas de suicídio entre advogados, cientistas, médicos (especialmente do sexo


feminino) e pessoal militar são mais altas do que na população geral. A intoxicação
com medicamentos é uma forma frequente de suicídio entre os médicos, possivelmente
porque podem obter os fármacos com facilidade e sabem qual é a dose letal.

O suicídio acontece com menor frequência entre os membros praticantes de grupos


religiosos (particularmente os católicos), que geralmente se apoiam nas suas crenças,
têm laços sociais próximos que os protegem da autodestruição e estão também proibidos
de cometer tal ato devido às suas crenças. No entanto, a filiação religiosa e as crenças
profundas não impedem necessariamente a realização de atos suicidas por motivos de
frustração, ira e desespero, especialmente quando são acompanhados de um sentimento
de culpabilidade ou de indignidade.

Uma de cada seis pessoas que se suicida deixa uma nota escrita. As notas fazem muitas
vezes referência a relações pessoais ou a acontecimentos que devem acontecer depois
de a pessoa ter morrido. As notas escritas pelas pessoas de idade avançada exprimem
preocupações pelos que deixam para trás, enquanto as notas escritas pelos jovens
podem ser de agastamento ou de reivindicação. Uma nota deixada por alguém que tenta
suicidar-se, mas não o consegue, indica que a tentativa foi premeditada; o risco de voltar
a tentar é, portanto, elevado.

II. Causas

O comportamento suicida resulta geralmente da interação de vários fatores:

» perturbações mentais: fundamentalmente depressão e abuso de substâncias;

» fatores sociais: desilusão, perda e ausência de apoio social;

» perturbações da personalidade: impulsividade e agressão;

» uma doença orgânica incurável.

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Mais da metade das pessoas que se suicidam estão deprimidas. Os problemas


matrimoniais, uma relação amorosa acabada ou problemática ou uma perda pessoal
recente (particularmente entre as pessoas de idade avançada) podem precipitar a
depressão. Muitas vezes, um fator, como a ruptura de uma relação pessoal, é considerado
o estopim para pensamentos e atitudes em que havia pensamentos recorrentes.
A depressão combinada com uma doença orgânica pode levar à tentativa de suicídio.
Uma deficiência física, especialmente se for crônica ou dolorosa, tem maior probabilidade
de acabar num suicídio consumado. A doença orgânica, especialmente a que é grave,
crônica e dolorosa, tem um papel importante em cerca de 20% dos suicídios entre as
pessoas de idade avançada.

O suicídio é, muitas vezes, o ato final de uma série de comportamentos autodestrutivos.


O comportamento autodestrutivo é especialmente frequente entre as pessoas com
experiências traumáticas na sua infância, especialmente as que foram vítimas de abusos,
de negligência ou do sofrimento de um lar monoparental, talvez porque estas sejam
mais propensas a ter maiores dificuldades em estabelecer relações profundas e seguras.
As tentativas de suicídio são mais prováveis entre mulheres maltratadas, muitas das
quais sofreram também abusos quando jovens.

O álcool aumenta o risco de comportamento suicida porque agrava os sentimentos


depressivos e diminui o autocontrole. Cerca da metade dos que tentam o suicídio está
intoxicada no momento de o fazer. Dado que o alcoolismo por si só, particularmente
quando há ingestão exagerada de forma aguda, causa muitas vezes sentimentos profundos
de remorso nos períodos entre uma ingestão e outra, os alcoólicos são particularmente
propensos ao suicídio mesmo quando estão sóbrios.

A autoagressão violenta pode ocorrer durante uma alteração de humor no sentido de uma
depressão profunda, embora transitória. As mudanças de humor podem ser provocadas
por medicamentos ou por doenças graves. Uma pessoa que está a sofrer uma alteração
do seu humor para uma depressão só tem, com frequência, uma consciência parcial e,
provavelmente, só recordará depois, de forma vaga, a sua tentativa de suicídio. Os que
sofrem de epilepsia, especialmente epilepsia do lobo temporal, sofrem muitas vezes
episódios depressivos breves, mas intensos, o que, adicionado à disponibilidade em
medicamentos para tratar a sua doença, aumenta o fator de risco para o comportamento
suicida.

Para além da depressão, existem outras perturbações mentais que aumentam o risco
de suicídio. Por exemplo, os esquizofrênicos, particularmente os que estão também
deprimidos (um problema bastante frequente na esquizofrenia), são mais propensos
a tentar o suicídio do que aqueles que não têm essa doença. Os métodos de suicídio

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que os esquizofrênicos escolhem podem ser insólitos e frequentemente violentos. Na


esquizofrenia, as tentativas de suicídio acabam geralmente na morte. O suicídio pode
ocorrer nas primeiras fases da doença e pode ser a primeira indicação clara de que a
pessoa sofria de esquizofrenia.

As pessoas com perturbações de personalidade estão também em risco de se suicidar,


especialmente as imaturas, com pouca tolerância para a frustração e que reagem ao
stress de modo impetuoso, com violência e agressão. Essas pessoas podem beber álcool
em excesso, abusar de drogas ou cometer atos criminosos. O comportamento suicida
exacerba-se, por vezes, pelo stress motivado, inevitavelmente, pela ruptura de relações
problemáticas e pela carga que representa estabelecer novas relações e estilos de vida.
Outro aspecto importante nas tentativas de suicídio é o método da roleta russa, em que
as pessoas decidem deixar que seja a sorte a determinar o desenlace. Alguns indivíduos
instáveis consideram emocionantes as atividades perigosas que implicam brincar com
a morte, como conduzir um veículo de modo temerário ou os desportos perigosos.

Quadro 13. Fatores de alto risco para consumar o suicídio

Fatores pessoais e sociais Fatores mentais e físicos


Homem Depressão (especialmente doença maníaco-depressiva)
Idade superior a 60 anos Agitação, inquietação e ansiedade
História de uma tentativa prévia de suicídio Sentimento de culpabilidade, desadequação e falta de esperança
História de suicídio ou de perturbação do humor na família Conversa ou conduta autodenegridora
Separação recente, divórcio ou viuvez
Personalidade impulsiva ou hostil
Isolamento social, com atitude de incompreensão por parte dos
amigos ou familiares, real ou imaginária
Aniversários com especial significado pessoal, como o aniversário Convicção delirante de ter cancro, doença cardíaca ou outra
da morte de um ente querido doença grave
Desemprego ou dificuldades econômicas, particularmente se
Alucinações em que a voz dirige a tentativa de suicídio
provocarem uma queda drástica do status familiar
Doença orgânica crônica, dolorosa ou invalidante, especialmente
Abuso do álcool ou de drogas
se a pessoa era anteriormente saudável
Planejamento pormenorizado do suicídio e tomada de precauções
para não ser descoberto Uso de medicamentos, como a reserpina, que podem provocar
depressão profunda
Experiência vital humilhante recente
Fonte: elaborado pela autora.

III. Métodos

O método escolhido por uma pessoa para se suicidar é muitas vezes determinado pela
disponibilidade e por fatores culturais. Pode também refletir a seriedade da tentativa, dado

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que alguns métodos, como saltar de um edifício alto, fazem com que seja virtualmente
impossível sobreviver, enquanto outros, como a superdosagem farmacológica, deixam
em aberto a possibilidade de salvação. No entanto, a utilização de um método que
demonstre não ser mortal não indica necessariamente que a tentativa é menos séria.

A superdosagem farmacológica é o método utilizado com mais frequência nas tentativas


de suicídio. Dado que os médicos não prescrevem barbitúricos com frequência, desceu
o número de casos de superdose com esses medicamentos; no entanto, está a aumentar
o número de excessos com outros fármacos psicotrópicos, como os antidepressivos.
A superdosagem com a aspirina desceu desde mais de 20% dos casos até aproximadamente
10%. Em cerca de 20% dos suicídios, utilizam-se dois métodos ou mais ou uma combinação
de fármacos, o que aumenta o risco de morte.

Entre os suicídios consumados, a arma de fogo é o método mais utilizado nos países
onde a sua posse é legal. É um método predominantemente utilizado por crianças e
homens adultos. As mulheres são mais propensas a utilizar métodos não violentos, como
o envenenamento (ou a intoxicação farmacológica) e a imersão, embora nos últimos
anos tenham aumentado os suicídios por arma de fogo entre as mulheres. Os métodos
violentos, como as armas de fogo ou os enforcamentos, são pouco utilizados por aquelas
pessoas que só querem chamar a atenção, dado que normalmente conduzem à morte.

Um ato suicida contém muitas vezes evidências de agressão para com outros, como se
pode ver nos assassinatos seguidos de suicídio e na alta incidência de suicídios entre os
presos que cumprem uma condenação por crimes violentos.

IV. Intervenção no suicídio: telefones para urgências

Há alguns países que oferecem um serviço telefônico aos que, levados por uma crise
suicida, sentem-se inclinados a tirar a própria vida. São centros de prevenção do suicídio,
em que voluntários preparados especialmente para o efeito atendem ao telefone durante
as 24 horas do dia.

Quando uma pessoa potencialmente suicida liga para um telefone 24 horas, um voluntário
tenta estabelecer uma relação com o suicida, recordando-lhe a sua identidade (por
exemplo, utilizando o seu nome repetidamente).

O voluntário pode oferecer uma ajuda construtiva para o problema que deu origem à
crise e animar a pessoa a pôr em prática ações positivas para resolvê-lo. O voluntário
pode recordar à pessoa que tem família e amigos que se preocupam e querem ajudá-lo.
Finalmente, o voluntário pode tentar facilitar o acesso aos profissionais de urgência
para ajuda direta contra o suicídio.

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Algumas vezes, uma pessoa pode ligar para uma linha de 24 horas para dizer que já
cometeu um ato suicida (tomou uma dose excessiva de medicamentos ou abriu a torneira
do gás) ou está prestes a realizá-lo. Nesse caso, o voluntário terá de obter a direção da
pessoa. Se isso não for possível, outro voluntário alerta a polícia para localizar a chamada
e tentar o resgate. Mantém-se a pessoa a falar ao telefone até a polícia chegar.

V. Prevenção

Qualquer ato ou ameaça suicida deve ser levado a sério. Cerca de 20% das pessoas
que tentam se suicidar repetem a intenção no prazo de um ano. Todas as pessoas que
realizam gestos suicidas ou que tentam suicidar-se necessitam ser tratadas. Cerca de
10% de todas as tentativas de suicídio são mortais.

Embora, por vezes, um suicídio consumado, ou uma tentativa de suicídio se apresente


como algo totalmente surpreendente ou chocante, inclusive para os familiares próximos,
os amigos e os companheiros, existem geralmente sinais premonitórios. Em regra
geral, os que se suicidam estão deprimidos, e, por consequência, o passo prático mais
importante para prevenir o suicídio é diagnosticar e tratar corretamente a depressão.
No entanto, o risco de suicídio aumenta próximo do início do tratamento da depressão,
quando a pessoa se torna mais ativa e decidida, mas ainda continua deprimida.

Um bom cuidado psiquiátrico e social depois de uma tentativa de suicídio é o melhor


modo de prevenir novas tentativas de suicídio. Como muita gente que comete suicídio já
tinha tentado consumá-lo anteriormente, deve-se fazer um acompanhamento psiquiátrico
imediatamente após a tentativa. O acompanhamento ajuda o médico a identificar os
problemas que contribuíram para o ato e a planejar um tratamento apropriado.

VI. Tratamento das tentativas de suicídio

Muita gente que tenta se suicidar é levada ainda inconsciente para um serviço de urgência.
Quando se sabe que uma pessoa tomou uma superdosagem de um fármaco ou de um
veneno, o médico segue os seguintes passos:

» retirar a quantidade máxima possível do fármaco ou do veneno do corpo da pessoa,


tratando de impedir a sua absorção e acelerando a sua excreção;

» controlar os sinais vitais e tratar os sintomas para manter a pessoa viva;

» administrar um antídoto, caso se conheça exatamente o fármaco que foi ingerido


ou exista antídoto.

Embora geralmente as pessoas se encontrem bastante bem fisicamente para lhes ser
dada alta logo que esteja tratada a lesão, muitas vezes são hospitalizadas para receber

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acompanhamento e tratamento psiquiátrico. Durante a avaliação psiquiátrica, a pessoa


pode negar todo o problema. Com bastante frequência, a depressão grave que conduziu
ao ato suicida é seguida por um período curto de melhoria do humor, pelo que raramente
se verificam novas tentativas suicidas imediatamente depois da inicial. No entanto, o
risco de outra tentativa de suicídio é grande, a menos que sejam resolvidos os problemas
da pessoa.

Existem variações tanto no tempo de estadia no hospital quanto no tipo de tratamento


requerido. O doente psiquiátrico grave é geralmente internado na unidade psiquiátrica
do hospital para um controle de forma contínua até se resolverem os problemas que o
induziram ao suicídio ou até ter capacidade para enfrentá-los. Em caso de necessidade,
pode manter-se o doente no hospital mesmo contra a sua vontade, porque representa
um perigo para si próprio ou para outros.

Impacto do suicídio
Um suicídio tem um forte impacto emocional em qualquer pessoa implicada. A família
da pessoa, as suas amizades e o seu médico podem sentir-se culpados, envergonhados
e com remorsos por não terem podido evitar o suicídio. Podem também sentir revolta
contra a pessoa que se suicidou. Finalmente, apercebem-se de que não podiam estar
no controle de tudo ou de que não são todo-poderosos e que o suicídio, na maioria das
vezes, não se pode impedir.

Uma tentativa de suicídio tem um impacto semelhante. No entanto, os que estão mais
próximos da pessoa têm a oportunidade de acalmar as suas consciências respondendo
ao pedido de ajuda.
Fonte: http://www.manualmerck.net/?id=111.

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