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Intervenção Na Crise – Catástrofes De Larga Escala (cheias, fogos, terramoto, etc)

Definir Intervenção Em Crise

Ajudar uma pessoa, ou várias quando estamos perante catástrofes, a conseguir

adaptar-se para poder lidar com os desafios que lhe surgem inesperadamente, passa por cinco

pontos determinantes:

1) Reestruturar ou melhorar o coping (estratégias de adaptação às situações de stress);

2) Atuar com Urgência;

3) Desenvolver competências de acordo com as necessidades do momento;

4) Agir com foco na solução dos problemas imediatos;

5) Ter em conta a necessidade da prevenção a realizar mais tarde.

Deste modo, “a intervenção em crise consiste num sistemático e apurado apoio

psicológico com os seguintes objetivos:

 Estabilizar: Oferecer suporte emocional no início do processo;

 Reduzir sintomas: Restaurar o nível funcional anterior ao episódio de stress;

 Regressar a um funcionamento adaptativo (promovendo uma percepção realista dos

acontecimentos, promovendo estratégias de resolução de problemas e de coping ou

mobilizando os recursos pessoais e sociais;

 Facilitar o acesso a cuidados continuados.

A todo este conjunto de pressupostos dá-se o nome de “NUTRIR A RESILIÊNCIA”(Everly,

2000)”1 – procurar o texto deste autor

Igualmente importante é a noção de crise que, sendo um estado de desequilíbrio

emocional donde não é fácil sair muitas vezes sem uma ajuda externa, é uma experiência

normal da vida na qual a pessoa procura alcançar o equilíbrio entre si mesma e o que acontece

à sua volta.

1
In Saraiva, A.P.C. em Tese de Mestrado Integrado “Intervenção em Crise: Breve Reflexão em torno de
algumas questões” defendida na Universidade de Coimbra Fev.2021
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Crise é uma rutura desse equilíbrio, “que gera fracasso na resolução dos problemas e

traz consigo sentimentos de desorganização, desesperança, tristeza, confusão, pânico”

(Wainrib & Bloch,2000) 2 - alterar, falar da ideia e por onde se leu a ideia

Sendo uma situação muitas vezes imprevisível, a crise é um estado temporário, uma

reação perante uma situação de perigo, na qual a pessoa sente a sua integridade ameaçada

necessitando, muitas vezes, de alguma intervenção externa para resolver esse desiquilíbrio.

Mas é, também, como defende Erikson (1971) uma oportunidade positiva de desenvolvimento

pessoal, desde que devidamente resolvida.

Definir Catástrofe

Nem sempre os fenómenos naturais de grande amplitude (terramotos, tsunamis,

cheias, incêndios provocados por fenómenos climáticos etc.) podem ser considerados

catástrofes. Só o são quando, desencadeados, encontram pelo caminho muitos seres vivos,

onde nos incluímos e acabam por deixar atrás de si um rasto imenso de vítimas, mortais e/ou

feridas.

Estas são as catástrofes naturais. Infelizmente a Humanidade também consegue

desencadear outro tipo de catástrofes, como os incêndios provocados, os atos de terrorismo, a

construção em leitos de cheias, os acidentes ferroviários e rodoviários de grande escala,

fenómenos que acabam a produzir, igualmente, um grande número de vítimas.

Intervir Para Ajudar Na Adaptação

Segundo os artigos que lemos para “improvisar” o roleplay que escolhemos, uma

situação de crise ultrapassa-se normalmente entre as 4 e as 6 semanas. Os agentes que

intervêm na crise devem ser pessoas activas, directas, cuidadosas, focadas em obter várias

soluções em simultâneo, o que exige muita atenção e flexibilidade porque há normalmente

2
Citado in idem
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várias necessidades imediatas a responder. Ou seja, tem de ter a arte de, com os recursos

disponíveis, que muitas vezes são extremamente limitados, encontrar rapidamente respostas

para inúmeros problemas que estão colocados nesse cenário de crise, e tem de fazê-lo

rapidamente, quase que por “instinto” do que pode resultar no momento.

Encontrámos, na literatura consultada, um mapa bastante elucidativo do que se deve

fazer e como:

Fonte: Moreno

et.al., (2003); Raffo (2005) – tentar procurar

Primeiros Socorros Psicológicos

Para criar resiliência na vítima de catástrofe, é necessário ajudá-la a desenvolver

mecanismos protetores e de percepção de autoeficácia para que ela consiga lidar com a

situação e reorganizar-se de forma saudável, impedindo que se venham a desenvolver quadros

psicopatológicos.

Para ser possível desenvolver esses mecanismos protetores na vítima é necessário

aplicar os Primeiros Socorros Psicológicos (PSP) que têm como finalidade ajudar a reduzir o

stress emocional, a ensinar estratégias de coping adaptativas de modo a que a vítima consiga
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voltar a funcionar, tanto quanto possível, como anteriormente ao evento de catástrofe, da

mesma forma física, cognitiva, emocional e social.

Instrumentos e multidisciplinaridade dos Primeiros Socorros Psicológicos

“Os Primeiros Socorros Psicológicos incluem a recolha de informação básica, que

permita a realização de avaliações rápidas sobre as necessidades e preocupações imediatas

dos sobreviventes; compreendem o conjunto de estratégias de sinalização precoce de indícios

reveladores de disfunção despoletados pelo episódio crítico, tendo por objetivo a inviabilização

ou, pelo menos, a mitigação da progressão de tais indícios para condições crónicas;

consistem, ainda, numa resposta de cariz humanitário, marcada pela compaixão e

solidariedade, cujo enfoque reside na prestação de auxílio e suporte psicossocial não intrusivo

e consentido” ( citar o autor da definição) TIRAR Australian Psychological Society, 2013; Bradel

& Bell, 2014; National Child Traumatic Stress Network, 2006; The Sphere Project, 2011; World

Health Organization, 2013).3

Os Primeiros Socorros Psicológicos não são substitutos da intervenção terapêutica. São

intervenções pontuais, dirigidas a situações concretas resultantes da catástrofe, e podem ser

aplicados por qualquer agente da Proteção Civil desde que tenham sido treinados

anteriormente. Os Psicólogos, pela sua experiência em lidar com todo o tipo de perturbações

de comportamento, estarão entre os agentes mais preparados para aplicar este tipo de apoio,

desde que tenham tido preparação a esse nível (de PSP).

Neste tipo de primeiros socorros a segurança das vítimas, mas também dos agentes, deve ser

salvaguardada. E, dentro do possível, aplicados fora do cenário de crise.

Foram identificados por Hobfoll et al. ( ir buscar referencia) (2007) cinco elementos

nucleares dos Primeiros Socorros Psicológicos:


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Citado em Beja, M. J., Portugal, A., Câmara, J., Berenguer, C., Rebolo, A., Crawford, C., & Gonçalves,
D. (2018). Primeiros Socorros Psicológicos: Intervenção psicológica na catástrofe. Psychologica,
61(1), 125-142.
https://doi.org/10.14195/1647-8606_61-1_7
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 Segurança;

 estabilização emocional;

 união;

 autoeficácia;

 e esperança.

Instrumentos de Intervenção

Dois dos instrumentos utilizados com frequência na intervenção em momentos de

crise são a respiração abdominal e o grounding.

A respiração abdominal consiste num instrumento ultizado quando as pessoas afetadas

por um incidente potencialmente traumático necessitam de estabilização. Perante o

acontecimento, a expressão de emoções intensas é esperada e normal, contudo a ativação

fisiológica extrema, o embotamento e a ansiedade extrema podem interferir com o sono, o

apetite, a tomada de decisão, a parentalidade ou com outros papéis. Para estas pessoas deve

ser oferecido suporte para a estabilização.

Existem alguns sinais que indicam que a pessoa possa necessitar de estabilização, tais

como o olhar vago e vazio; pessoa não responsiva a orientações verbais; desorientação; exibir

reações emocionais muito intensas (choro incontrolável, hiperventilação); reações físicas

incontroláveis (tremores); comportamento frenético de busca; incapacitação causada pela

preocupação; e atividades de risco

Neste caso se a pessoa mantiver a ativação emocional extrema, embotamento,

dissociação ou pânico deve-se recorrer à técnica de respiração abdominal. Esta técnica realiza-

se a partir das seguintes instruções:

1. Inspire devagar pelo nariz e encha confortavelmente os pulmões até à barriga;


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2. Silenciosa e calmamente repita para si: “o meu corpo está cheio de calma”. Expire

devagar pela boca e confortavelmente esvazie totalmente os pulmões;

3. Silenciosa e calmamente repita para si: “o meu corpo está a libertar a tensão”;

4. Repita 5 vezes;

5. Faça-o as vezes que forem necessárias ao longo do dia.

Esta técnica pode ser adaptada à situação em questão, e os psicologos podem recorrer

a outras formas verbais que levem a pessoa a entrar num estado mais controlado.

As técnicas de grounding são consideradas estratégias de coping, isto é, formas

assertivas para lidar com situações desafiantes que espelham ou potenciam a desorganização

emocional. Estas permitem direcionar o foco da nossa atenção ao momento presente, quer às

sensações corporais básicas quer ao que nos rodeia permitindo a gestão da ansiedade ou de

emoções demasiado fortes. Permite-nos também a interrupção de pensamentos persistentes e

limitantes, é extremamente útil durante um ataque de pânico, por exemplo.

O sujeito deve ser “obrigado” a dirigir a atenção ao momento presente, pois isso

permitir-lhe-á que o desconforto da memória de uma experiência passada ou o medo do

futuro se dissipe muito rapidamente. É, portanto, uma técnica que poderá ser usada em SOS,

como é o caso das situações de crise decorrentes de uma catástrofe ou no momento de

ocorrência da mesma.

A técnica de grounding utilizada na apresentação roleplay foi a 5-4-3-2-1. Esta técnica

convida-o a usar os 5 sentidos de forma a transportá-lo ao momento presente. Começa-se por

forçar uma respiração lenta e profunda no sujeito, podendo este fechar os olhos se lhe for

confortável. Quando se sentir preparado, convidamos a enumerar:

 5 coisas que consegue ver (próximas ou distantes)

 4 coisas que consegue sentir (a textura da cadeira, o toque da sua pele, etc.)

 3 coisas que consegue ouvir


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 2 coisas que consegue cheirar (visto que o nosso cenário era um incendio nós não

utilizamos esta pois seria com certeza perturbador para a pessoa)

 1 coisa que consegue saborear (pode aproveitar e saborear algo que goste, um

quadrado de chocolate ou simplesmente um gole de água).

Tal como o instrumento anterior, a técnica de grounding deve ser adaptada às

situações para as quais está a ser utilizada. No caso de um incêndio, não se recorre ao sentido

do olfato, pois o mesmo não irá trazer tranquilidade à pessoa e poderá piorar os seus níveis de

stress. O mesmo serve para outras situações em que a técnica poderá remeter o sujeito à

situação para a qual estamos a tentar acalmá-lo.

Bibliografia

Beja, M., Portugal, A., Câmara, J., Berenguer, C., Rebolo, A., Crawford, C., & Gonçalves, D.

(2018). Primeiros Socorros Psicológicos: Intervenção psicológica na catástrofe.

Psychologica, 61(1), 125-142. Obtido de https://doi.org/10.14195/1647-8606_61-1_7

Saraiva, A. (2021). Intervenção em Crise: Breve reflexão em torno de algumas questões.


Dissertação No Âmbito Do Mestrado Integrado Em Psicologia. (acrescentar
universidade)

Sá, S., Werlang, B., & Paranhos, M. (2008). Intervenção em crise. Revista Brasileira de Terapias
Cognitivas, 4 (1). Doi:10.5935/1808- 5687.20080008

Serra, C., Pires, D., Faria, J., Pereira, M., Ângelo , R., & Guerreiro, V. (2015). Intervenção
Psicológica em Crise e Catástrofe. Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Trabalho realizado por:

Beatriz Duarte nº 11025620

Gustavo Batista nº 11043020

Conceição Torres nº 11091320

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