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INTERVENÇÃO EM SITUAÇÃO DE CRISE

Caracterização de intervenções em situações de crise


PROFª. ESP. JAIDA SOUZA DA COSTA
INTRODUÇÃO

Em qualquer momento da vida, uma pessoa pode se deparar com situações novas causadoras de intenso sofrimento,
como morte em família, perda de emprego, separação no casamento, ascensão profissional, nascimento de um filho,
entre outras. Tais situações, dependendo do significado emocional que a pessoa atribui à experiência, podem gerar
crises.

Na tentativa de uma definição, diversos autores consideram crise um período de desequilíbrio psicológico, resultante
de um evento ou situação que constitui um problema de tal ordem que não pode ser solucionado com as estratégias
de enfrentamento conhecidas. Como consequência, o objetivo de uma intervenção em crise é auxiliar na resolução
de problemas que exercem maior pressão, em um período de uma a doze semanas (dependendo da situação), com
uso de intervenção direta e focalizada, para que o cliente possa desenvolver novas estratégias adaptativas. Assim
sendo, será necessário que o indivíduo está aquém de suas possibilidades de enfrentamento. Essa situação deverá
ser composta por um evento de risco e uma ameaça aos objetivos vitais do indivíduo.

CONCEITUAÇÃO E DELINEAMENTO DOS TIPOS DE CRISES

A expressão “crise” provém da palavra grega krisis, que significa “decisão” e deriva do verbo krino, que quer dizer “eu
decido, separo, julgo” (SÁNCHEZ; AMOR, 2005). “Crise”, ainda pode ser definida como um estado de desequilíbrio
emocional do qual uma pessoa que se vê incapaz de sair com os recursos de enfrentamento que habitualmente
costuma empregar em situações que a afetam emocionalmente (PARADA, 2004).

Vivenciar uma crise é uma experiência normal de vida, que reflete oscilações do indivíduo na tentativa de buscar um
equilíbrio entre si mesmo e o seu entorno. Quando este equilíbrio é rompido, está instaurada a crise, que é uma
manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio. Essa alteração no equilíbrio, gerada por um fracasso na
resolução de problemas que o indivíduo costuma utilizar, causa sentimentos de desorganização, desesperança,
tristeza, confusão e pânico (WAINRIB; BLOCH, 2008). A desorganização emocional se caracteriza principalmente por
um colapso nas estratégias prévias de enfrentamento. O estado de crise é limitado no tempo, quase sempre se
manifestando por um evento desencadeador, e sua resolução final depende de fatores como a gravidade do evento e
dos recursos pessoais e sociais da pessoa afetada.

O processo de crise deve ser entendido não somente como algo negativo, mas como algo que pode também ser
positivo. Neste sentido, assinalamos como exemplo o ideograma chinês de crise, representado por duas figuras: uma
significando “perigo” e outra “oportunidade”, ou seja, um “ponto de mudança” que pode servir para sanar ou adoecer,
melhorar ou piorar. Assim, o desenlace de uma crise pode ameaçar a saúde mental ou ser um marco para mudanças
que permitam um funcionamento melhor do que o anterior ao desencadeamento do evento. A partir disto surgem os
conceitos de enfrentamentos Adaptativos e enfrentamento Desadaptadivos.

Compreendendo que uma crise é uma resposta a acontecimentos perigosos, e é experimentada como um estado
doloroso. Consequentemente, tende a mobilizar reações poderosas, para ajudar o indivíduo no alívio do desconforto
e no retorno ao estado de equilíbrio emocional existente antes de seu aparecimento. Se ocorre, a crise pode ser
superada, mas, além disso, o indivíduo aprende a usar reações adaptativas. Ademais, é possível que, ao resolver a
crise, o paciente possa ficar em melhor estado de espírito, superior ao de antes do início das dificuldades

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psicológicas. Se, por outro lado, o paciente usar reações desadaptativas, o estado doloroso será intensificado, a crise
se aprofundará e ocorrerá uma deterioração regressiva, produzindo sintomas psicopatológicos.

Estes sintomas, por sua vez, podem cristalizar-se em um padrão neurótico de comportamento que restringe a
capacidade do paciente para funcionar livremente. Ocasionalmente, entretanto, a situação não pode ser estabilizada;
novas reações desadadaptativas são introduzidas e as consequências podem ter proporções catastróficas, levando,
às vezes, à psicose e a morte por suicídio claro ou encoberto.

Neste sentido, quando a crise é resolvida satisfatoriamente, ela pode auxiliar o desenvolvimento do indivíduo; caso
contrário, poderá constituir-se em um risco, aumentando a vulnerabilidade da pessoa para transtornos mentais
(respostas de enfrentamento desadaptativos). A crise é, sem dúvida, uma condição de reação frente a uma situação
de perigo, capaz de ameaçar a integridade da pessoa. O indivíduo pode apresentar sinais e sintomas clínicos em
resposta ao estado provocado pela crise, necessitando, por consequência, de alguma intervenção para a sua
resolução. Quando a resolução da crise se dá de forma adaptativa, surgem três oportunidades: a de dominar a
situação atual, a de elaborar conflitos passados e a de apreender estratégias para o futuro (Parada, 2004). Estas
novas habilidades para a resolução de problemas são também úteis para o manejo de situações posteriores.
Concordando com o entendimento de que a crise possa se manifestar como uma oportunidade positiva, Erikson já a
definia como um ponto crítico necessário ao desenvolvimento, capaz de conduzir o indivíduo a tomar uma direção ou
outra, de modo a encaminhar seus recursos para o próprio crescimento, recuperação e maior diferenciação.

Postulado por Horowitz em 1976, o modelo de etapas da crise descreve que, diante do evento que desencadeia o
processo de crise, o indivíduo apresenta primeiramente uma desordem decorrente das reações iniciais diante do
impacto. Após esta desordem, passa para a etapa de negação, na tentativa de amortecer o impacto (um exemplo
disso é a pessoa que procura não pensar no que aconteceu ou tenta continuar suas atividades como se nada tivesse
ocorrido). A terceira etapa seria a intrusão, que consiste no surgimento de ideias involuntárias de dor pelo evento
verificado. Pesadelos recorrentes, imagens e outras preocupações são características desta etapa. Em continuação,
o indivíduo evolui para a elaboração, fase em que a pessoa começa a expressar, identificar e comunicar os seus
pensamentos, imagens e sentimentos experimentados pela situação de crise. Alguns conseguem elaborar seus
sentimentos e conteúdos, enquanto outros somente o farão com uma ajuda externa (profissional).

Entender-se-á melhor o fenômeno da crise, diferenciando-o em crises evolutivas / desenvolvimento e crises


circunstanciais / acidentais. As crises evolutivas ou de desenvolvimento dizem respeito à realização não satisfatória
das passagens do desenvolvimento do indivíduo. Elas podem ser previsíveis, já que as etapas do crescimento e os
momentos decisivos em cada uma delas são conhecidos e ocorrem com a maioria das pessoas. São as situações
criadas internamente, por mudanças fisiológicas e psicológicas, que podem desencadear uma resposta de crise ou
não, como, por exemplo, a infância, a adolescência, a aposentadoria, o envelhecimento, a concepção ou a
esterilidade, a gravidez e o parto e a morte. Emerge nesta modalidade de crise a angústia Existencial, que refere-se
ao estado de angústia que ocorre na passagem de uma fase da vida para outra, ligada ao projeto de vida
estabelecido pelo sujeito.

As crises circunstanciais ou acidentais são aquelas decorrentes de situações encontradas principalmente no


ambiente. Surgem em consequência de eventos raros e extraordinários, que o indivíduo não pode prever ou
controlar, como a perda de uma fonte de satisfação básica, o desemprego, a morte abrupta, a perda da integridade
corporal, as enfermidades, os desastres naturais, as violações e os acidentes. Para Wainrib e Bloch (2000), o ponto

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de diferenciação entre este tipo de crise e outras é que as circunstanciais são imprevistas, comovedoras, intensas e,
em grandes ocasiões, catastróficas. Emerge nesta modalidade de crise a angústia circunstancial, refere-se aquela
que ocorre em várias experiências do ser humano ao longo de sua vida, tais como citados nos exemplos anteriores.

É importante considerar a gravidade da situação que antecipa a crise, pois alguns eventos já têm por si só um alto
potencial para precipitá-la. Infelizmente, não é possível predizer quando uma crise psicológica será desencadeada, já
que o evento causador de desordem para uma pessoa pode não o ser para outra. Embora o foco em questão sejam
as pessoas que vivenciam as situações de crise como resultantes em sequelas ou instabilidade emocional, é
importante destacar que existem pessoas que possuem a capacidade de, frente a eventos traumáticos, resistir
emocionalmente. Essa capacidade é chamada de resiliência (do inglês resilience). Assim, as pessoas resilientes
conseguem manter um equilíbrio estável sem que tenham afetado o seu rendimento e a sua vida em geral quando
acometidos por situações traumáticas. Poseck, Baquero e Jiménez (2006) afirmam que a diferença das pessoas que
se recuperam de forma natural de um período disfuncional se encontra no fato de que os indivíduos resilientes não
passam por este período, pois permanecem em níveis funcionais apesar da experiência traumática.

COMPREENDENDO OS CONCEITOS DE DESASTRE, RISCO, EMERGÊNCIA, PERIGO E


VULNERABILIDADE.

Nos últimos anos, além de eventos de crises gerados em função da ação direta da humanidade, vivenciamos uma
crescente ocorrência de problemas climáticos ocasionados pela ação indireta do humano. No Brasil, convivemos com
os efeitos das chuvas e da estiagem e as crises em decorrência dos modos como construímos e utilizamos os
recursos cotidianos, como desmoronamentos de prédios, abertura de crateras em vias públicas, incêndios em
espaços de circulação pública.

Situações de desastres e catástrofes naturais e/ou humanas têm sido uma das mais frequentes temáticas na área da
saúde em geral, em particular, nos últimos anos. O debate sobre como desenvolver procedimentos e estratégias
específicas enquanto profissionais de saúde mental pós-desastres encontra-se aberto, por diversas razões, a saber:
as sobreposições recorrentes entre o que é nomeado como “desastre”, ou “emergência”, ou “acidente”, ou “crise”; a
reflexão ainda incipiente sobre a especificidade da produção de cuidados nessas situações; a tentadora sedução de
adotar uma postura compassional e assistencialista; e ainda mais as dificuldades de se enfrentar o desafio da
atuação em rede neste contexto, não apenas na área da saúde, mas também nas articulações com a assistência
social, a educação, a Defesa Civil, entre outros.

As emergências e os desastres são fenômenos complexos e multidimensionais que causam morte, sofrimento e
perdas econômicas. Nas mais diversas áreas de conhecimento, as definições sobre desastres e emergências
enfatizam, em sua maioria, a destruição severa que excede a capacidade de a comunidade afetada recuperar-se, de
acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde. Os desastres, suas causas e suas consequências estão
também relacionados aos processos e às estruturas sociais.

A Organização Mundial da Saúde (World Health Organization – WHO), em sua seção relativa à saúde em crises,
publicou um documento no qual ressalta a necessidade de planejamento e preparo para enfrentar crises e desastres,
mesmo considerando que as situações não se repetem da mesma maneira. Assim, para melhor compreensão dos
importantes eventos que contribuem para o desencadeamento de crises, a OMS descreveu as seguintes definições:

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Desastre: a) uma ruptura séria no funcionamento de uma comunidade ou sociedade, causando extensas perdas
humanas, materiais, econômicas ou ambientais que excedem a habilidade dos afetados em utilizar seus recursos de
enfrentamento. Um desastre ocorre como resultado de um processo de risco, pela combinação de situações de
perigo, condições de vulnerabilidade e capacidade insuficiente para reduzir as consequências negativas desse risco;
b) uma ocorrência que cause dano, transtorno ecológico, perda de vida humana ou deterioração da saúde e dos
serviços de saúde em uma escala suficiente para contar com ajuda externa à comunidade atingida.

Os desastres alteram, comprometem e interferem nos processos de desenvolvimento humano, podendo afetar de
diferentes formas a saúde, a infraestrutura, as crenças e perspectivas de vida. Desastres são, assim, interrupções
graves do funcionamento cotidiano de uma comunidade que acarretam perdas humanas, materiais, econômicas e
ambientais que excedem a capacidade da sociedade afetada fazer frente à situação, por meio de seus próprios
recursos.

As catástrofes são acontecimentos de maior magnitude, em geral afetando áreas maiores, maior número de
pessoas. Causam um grande número de vítimas, provocam destruição material significativa e desorganização social
pela destruição ou alteração das redes funcionais.

Emergência: ocorrência súbita que demande ação imediata, devido a epidemia, catástrofes naturais ou tecnológicas
ou causadas pelo ser humano.

Perigo: qualquer fenômeno com potencial para causar interrupção ou transtornos às pessoas ou ao seu ambiente.

Risco: probabilidade de consequências danosas ou de perdas (por mortes, ferimentos, perdas de propriedade, dos
meios de produção, danos ambientais, interrupção da atividade econômica) resultantes de interação entre perigos
naturais ou induzidos pelo ser humano e a condição de vulnerabilidade.

Vulnerabilidade: a) condições determinadas por fatores ou processos físicos, sociais, econômicos e ambientais que
aumentam a susceptibilidade de uma comunidade ao impacto dos riscos; b) o grau pelo qual uma população ou
individuo é incapaz de antecipar, enfrentar resistir e se recuperar do impacto de um desastre.

REFLETINDO SOBRE O ADOECER E A CRISE


Na concepção sistêmica de saúde considera-se que a saúde é um processo contínuo de adaptação do organismo,
envolvendo atividade e mudança e refletindo a resposta criativa aos desafios ambientais. Um processo de adaptação
constante. A doença pode ser vista como uma falha nesse processo de adaptação, um risco de paralisação no
processo contínuo de organização dinâmica do organismo vivo mas, ao mesmo tempo, um esforço de integração de
novas experiências.
O adoecimento enquanto crise tem como características:

 O corpo como objeto desencadeante da crise.

 Perda do controle do ser sobre o corpo e psiquismo.

 Medo da morte, do sofrimento e da dor.

 Sentimento de impotência e de dependência de terceiros.

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COMPREENDENDO OS PRESSUPOSTOS INICIAIS DA INTERVENÇÃO EM CRISE

A teoria da crise ajuda-nos a compreender os indivíduos normais, sadios, bem como a desenvolver instrumentos
terapêuticos dirigidos à prevenção de futuras dificuldades psicológicas intervenção de crise é oferecida a indivíduos
incapacitados ou severamente perturbados por uma crise. A intervenção em crise pode ser entendida como um
processo para manejar ativamente o funcionamento psicológico do individuo durante o período de desequilíbrio, com
o objetivo de aliviar o impacto imediato dos eventos estressantes transformadores. Este processo tem a intenção de
ajudar a ativar sua capacidade latente e manifesta, assim como seus recursos sociais, enfrentando de amaneira
adaptativa os efeitos do estresse.

A terapia consiste na compreensão conjunta da psicodinâmica envolvida e numa consciência de como esta é
responsável pela crise. Os participantes trabalham juntos, visando à resolução da crise; o paciente e o terapeuta
participam ativamente do tratamento. As técnicas incluem reasseguramento, sugestão, manipulação ambiental e
medicamentos psicotrópicos e podem até mesmo serem combinadas com uma hospitalização breve, como parte do
plano de tratamento. Todas estas manobras terapêuticas objetivam diminuir a ansiedade do paciente. A extensão da
intervenção de crise varia de uma a duas sessões a várias entrevistas, ao longo de um período de um ou dois meses.

São requesitos técnicos para intervenção na crise: Condições de estabelecimento de um rápido rapport com o
paciente, voltado à criação de uma aliança terapêutica; Condições de revisão dos passos que levaram à crise;
Compreensão das reações desadaptativas que o paciente está usando para lidar com a crise; Foco somente na crise;
Facilitar ao paciente o desenvolvimento de maneiras diferentes e mais adaptativas de enfrentar crises, evitando o
desenvolvimento de sintomas; Usar sentimentos transferênciais predominantemente positivos, de modo a transformar
o trabalho em uma experiência de aprendizagem; Trabalhar o paciente para evitar situações adversas capazes de
produzir futuras crises; Fechar a intervenção terapêutica tão logo as evidências indiquem que a crise foi resolvida e
que o paciente compreende claramente todos os passos que levaram ao seu desenvolvimento e resolução.

O profissional de psicologia deve ter no bojo forma de orientação técnica de intervenção e para tanto, precisará
contextualizar sua clientela e realidade institucional. Por ser uma experiência de crise indicam-se as
psicoterapias breves como forma de intervenção.

Os conceitos que tradicionalmente têm sido assinalados como Intervenção em Crise, apontam diferenças na sua
aplicação em situações de emergência e na prática clínica devido às características específicas da urgência na
atenção psicológica e na dificuldade em estabelecer protocolos adequados para tais intervenções. A intervenção em
crise é um procedimento para exercer influência no funcionamento psicológico do indivíduo durante o período de
desequilíbrio, aliviando o impacto direto do evento traumático.

O objetivo é ajudar a acionar a parte saudável preservada da pessoa, assim como seus recursos sociais, enfrentando
de maneira adaptativa os efeitos do estresse. Nessa oportunidade, devem-se facilitar as condições necessárias para
que se estabeleça na pessoa, por sua própria ação, um novo modo de funcionamento psicológico, interpessoal e
social, diante da nova situação.

É importante lembrar que a instabilidade ou desorganização estão limitadas no tempo e este limite no estado de crise,
aliado a um potencial para a reorganização em uma direção positiva ou negativa, é um ponto crucial. Quanto mais

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tempo a pessoa passa sem assistência ou com auxílio inadequado, mais sérios tendem a serem os efeitos da crise,
que poderão até tornarem-se irreversíveis. Por este motivo, processos terapêuticos breves, de tempo limitado, são os
mais adequados para as situações de crise. O foco principal da intervenção é ajudar a pessoa a recuperar o nível de
funcionamento que possuía antes do evento desencadeante da crise.

Os profissionais de acordo com Moreno (2003) que atuam com este tipo de intervenções devem ser ativos e diretos,
orientados a obter objetivos rápidos diferentemente dos profissionais que intervém em situações que não são de
emergência. O profissional deve ser ágil e flexível para colocar em prática ações para a resolução de problemas e
para a superação das múltiplas dificuldades que possam surgir no processo de atenção, procurando satisfazer as
necessidades imediatas do afetado colocando em funcionamento ações com os recursos disponíveis, tudo num
período de tempo reduzido.

Assim, o foco durante a superação da crise é essencial para ajudar as pessoas a lidarem com o evento traumático, a
ajustarem-se à nova situação, a devolverem seu nível anterior de funcionamento, diferente do tratamento na
psicologia clínica que enfoca uma mudança profunda do paciente ou uma revisão da origem dos seus conflitos
passados. O foco é desenvolvido através de um convite ao indivíduo para que fale de sua experiência, fazendo com
que observe o evento à distância ou perspectiva, ajudando-o a ordenar e reconhecer seus sentimentos associados; e,
também, ajudar na resolução de problemas, começando pelos objetivos mais práticos e imediatos.

PRINCIPAIS MODELOS DE PSICOTERAPIAS

PSICANÁLISE - Psicanálise por tempo indeterminado.

PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA - Baseada na teoria psicanalítica com modificações conceituais e técnicas.


Psicoterapias Analíticas / Psicoterapia de Apoio.

PSICOTERAPIA BREVE- Intervenções com tempo e foco limitados.

INTERVENÇÕES EM CRISE- Intervenções com tempo e foco limitados pela crise.

COMPORTAMENTAL - Reestruturação comportamental.

COGNITIVO - Reestruturação cognitiva.

COGNITIVO-COMPORTAMENTAL – Reestruturação cognitiva e comportamental.

TERAPIA FAMILIAR - Reestruturação das relações familiares.

TERAPIA DE CASAL Reestruturação das relações de casal.

TERAPIA DE GRUPO Reestruturação interna a partir da interação grupal.

PSICOTERAPIA BREVE: HISTÓRICO

As raízes da Psicoterapia Breve de orientação psicodinâmica se situam nos primeiros trabalhos desenvolvidos por S.
Freud no início da Psicanálise, quando realizava atendimentos clínicos de curta duração e eficazes, aplicando uma
técnica rápida e objetiva. Essa prática foi posteriormente modificada por ele em razão de um desenvolvimento da sua

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teoria na direção de uma formulação mais complexa. Foi S. Ferenczi o primeiro discípulo de Freud a propor técnicas
ativas para diminuir a duração do tratamento psicanalítico que, com a colaboração de O.Rank, em 1924, introduziu,
no universo psicanalítico, novos conceitos que viriam a se tornar básicos para a Psicoterapia Breve atual. Já nessa
época, eles enfatizaram a maior importância dos fatos da vida atual do paciente em comparação com suas
experiências infantis.

Antecipando a atual abordagem cognitiva, entenderam que se deveria utilizar os processos intelectuais para modificar
fatores emocionais na experiência dos pacientes. Propuseram, ainda, o estabelecimento de uma data para o término
do tratamento e se referiram à importância do nível de motivação do paciente como fator de fundamental relevância
para o sucesso do tratamento. Em 1946, F. Alexander e T. French introduziram, ainda no campo da Psicanálise, o
conceito de Experiência Emocional Corretiva - um dos conceitos fundamentais da atual técnica de Psicoterapia
Breve. "Franz Alexander chegava mesmo a propor que seu modelo terapêutico fosse considerado como uma 5ª etapa
da evolução da Psicanálise. Sabemos hoje que, na verdade, o que ele estava propondo era uma abordagem
terapêutica diferente, que viria a ser o fundamento da técnica atual de PB". (LEMGRUBER, V., 1997b, p.20)

A história da Psicoterapia Breve segue-se com o surgimento de terapias modernas e dinâmicas através dos estudos
de D. Malan - responsável pelo conceito de Foco - J. Mann, P. Sifneos, H. Davanloo e M. Balint. Posteriormente
surgem as terapias comportamental e cognitiva, assim como os primeiros manuais de P. B. de orientação
psicodinâmica, até chegarmos aos tempos atuais com o modelo integrado da psicoterapia e farmacologia, resultado
do entendimento moderno de uma abordagem psicoterapêutica que considera a integração cérebro-mente,
fortemente embasado pelos últimos estudos das Neurociências.

Na América Latina, a P. B. se desenvolveu, em primeiro lugar, na Argentina sob a influência da Psicanálise inglesa
representada pelo grupo da Tavistock Clínica, especialmente Malan e Balint. Integram com destaque o grupo
argentino, H. Kesselman - que publicou, naquele país, o primeiro livro sobre o assunto - Fiorini, autor que enfatizou o
conceito de Experiência Emocional Corretiva e M. Knobel, que se radicou no Brasil, desenvolvendo seus estudos na
UNICAMP, em São Paulo. No Brasil, a 1ª publicação sobre o tema Psicoterapia Breve, ocorreu em 1984 com o livro
"Psicoterapia Breve: a Técnica Focal", de Lemgruber, V., seguida em 1986 por Knobel. Além desses, também se
destacam em estudos e pesquisas sobre Psicoterapia Breve um grupo de autores do Rio Grande do Sul, entre os
quais Cordioli e Eizirick Aguiar e, no Rio de Janeiro, Lowenkron, com a publicação de Psicoterpia Breve, de 1993.

Fazendo uma simplificação didática, podemos classificar atualmente as abordagens da linha de P.B. em duas
grandes categorias: 1. Psicoterapia Breve com orientação psicanalítica; 2. Psicoterapia breve de linha cognitiva e
comportamental.

PSICOTERAPIA BREVE: ESTRUTURA


Teoria: Psicoterapia que usa de forma integrada conceitos teóricos oriundos de diferentes teorias, além dos
conceitos psicanalíticos de conflito psíquico inconsciente, buscando sua resolução mediante a eliminação de defesas
consideradas patológicas através do insight.

Técnica: Delimitação de um foco, problema, ou conflito principal. “Hipótese psicodinâmica", explicativa do problema
principal ou do "foco", que faz sentido ao paciente, ao qual ele responde positivamente e que orienta as intervenções
do terapeuta. Interpretação de forças inconscientes. Ensino de novas formas de lidar com os conflitos emocionais.

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Objetivos e Indicação: Indicada no tratamento de problemas circunscritos ou mudanças de caráter em áreas
restritas da personalidade; Terapeuta e paciente devem poder definir um foco ou problema principal e estar de acordo
em trabalhar sobre ele; O paciente deve ser capaz de estabelecer rapidamente uma aliança de trabalho e de vincular-
se ao terapeuta.

Contra-Indicações: Transtorno incapacitante e de caráter grave. Pacientes muito imaturos e dependentes;


Necessidade de modificações maiores ou mais profundas no caráter; Problemas difusos, focos ou conflitos múltiplos;
Sem condições de insight.

Principais tipos de psicoterapias breve [INTERVENÇÃO EM CRISE]:

1. Psicoterapia Breve Psicodinâmica [Terapia focal]

2. Psicoterapia de Apoio

3. Psicoterapia Breve Operacionalizada.

REFERÊNCIAS

CORDIOLI, Aristides Volpato. Psicoterapias: abordagens atuais. 3a. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008.

D’ZURILLA, Thomas J. Terapia de Solução de Problemas. São Paulo: Roca, 2010.

FRANCO, Maria Helena Pereira. Crises e desastres: a resposta psicológica diante do luto. Revista Mundo
Saúde, v. 36, n.1, São Paulo, p. 54-58, 2012.

GABBARD, G.O. Compêndio de psicoterapia de Oxford. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007.

YOSHIDA, Elisa Médici Pizão. ENÉAS. Maria Leonor Espinosa. Psicoterapias Psicodinâmicas Breves Propostas
Atuais. São Paulo: Aliena, 2004.

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