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A CRISE PESSOAL E SUA DINÂMICA

UMA ABORDAGEM A PARTIR DA PSICOLOGIA PASTORAL


1- A DINÂMICA DA CRISE

1.1-A caracterização de uma crise- Entender a dinâmica da crise é saber o que


acontece concretamente no interior de uma pessoa em crise.

Para Stone crise é um tempo crucial, um momento de virada no decorrer de um


processo, ou seja, é uma reação interna, de natureza emocional, a uma
circunstância externa que ameaça a pessoa.

Switzer caracteriza a crise como reação a um evento que ocasiona uma mudança
súbita e desafia a autoconcepção ou o senso de identidade da pessoa fazendo com
que se sinta ameaçada e incapaz de lidar com a situação.

Stone ainda distingue dois tipos de crises:

CRISES DE DESENVOLVIMENTO- São mais ou menos previsíveis e acompanham o


processo de maturação da pessoa como na fase da adolescência, da meia idade e
da velhice.

CRISES EMERGENCIAIS- Podem ocorrer em qualquer momento da vida como


conseqüência de situações imprevisíveis e em circunstâncias excepcionais. EX:
Perda de uma pessoa querida, divórcio, amputação de um órgão etc.

1.2-As fases de uma crise- Stone mostra quatro momentos de uma crise:

O primeiro é o EVENTO PRECIPITADOR- ou estímulo externo que desencadeia o


processo. Pode ser a perda do emprego, exame que acusam uma doença grave etc.

O segundo é a AVALIAÇÃO do que este evento pode significar para a pessoa


envolvida.

Na terceira fase a pessoa faz um LEVANTAMENTO dos recursos disponíveis para


enfrentá-la.
O quarto momento é o DESENCADEAMENTO da crise propriamente dita.Ao avaliar
a gravidade do evento a pessoa poderá chegar a conclusão de que suas condições
de enfrentar a situação são boas.Neste caso á crise será menor.Mas se ela se der
conta que tem poucas possibilidades para resolver o problema a crise será maior.

1.3-A sintomatologia da crise

A- Crise emergencial não é sintoma de distúrbio mental,mas uma reação normal do


ser humano.

B- Não há uma relação direta de causa e efeito entre um fator precipitador e a crise
propriamente dita.

C- Há pessoas que na crise perdem completamente a noção dos fatos, agindo como
se as coisas não estivessem acontecendo com elas.

D- Uma pessoa que passa por uma série de crises,desenvolve uma maneira de
administrá-las de modo a sentir menos o impacto das mesmas.

E- Toda crise representa uma ameaça a vida e acarreta um sentimento de perda.

F- A crise provoca uma tendência para a regressão,ou seja,leva a pessoa a


desenvolver atitudes infantis.Essa atitude pode levar a pessoa a uma dependência
de determinadas pessoas.

G- A crise aumenta a acessibilidade psicológica,torna as pessoas mais predispostas


e acessíveis para intervenções externas.

A crise afeta a pessoa em diferentes esferas:

FISICAMENTE- Úlcera,insônia,hipertensão arterial,problemas cardíacos.

MENTALMENTE- Agressividade,mudança de humor,depressão.

ESPIRITUALMENTE- Abalo da fé em Deus,mudança da relação com a igreja.

2.As chances do pastor no acompanhamento de pessoas em crise


No ocidente,durante muito tempo,a igreja, e de maneira especial o clero,detinha
quase um monopólio no acompanhamento de pessoas em crise.Esse quadro
mudou com o surgimento das ciências psicológicas e médicas.Nos dias de
hoje,tanto a igreja quanto a classe médica e de psicólogos estão sofrendo uma
concorrência jamais vista por parte do espiritismo,dos cultos afro,de religiões
orientais.Mas por que tantas pessoas deixaram de procurar a igreja para confiar-
lhe suas crises e conflitos.Um possível motivo é que nós pastores,padres,psicólogos
ou leigos que procuramos ajudar pessoas com um referencial cristão deixamos de
nos qualificar adequadamente para o exercício da cura de almas diante das novas
necessidades vividas pelas pessoas nos dias atuais.Outro motivo pode ser o fato de
não termos assumido de forma suficiente clara a natureza específica do nosso
aconselhamento como aconselhamento espiritual.

3-Formas de intervenção pastoral e psicológica junto a pessoas em crise

A intervenção pastoral e psicológica em crise não pode consistir numa tentativa de


dar explicações.Viktor Frankl chamava atenção para o fato de que,também no
sofrimento,cada pessoa é única,como única é a sua forma de lidar com o
mesmo.Diante duma pessoa única e livre na forma de experienciar e de interpretar
o seu sofrimento,cabe ao aconselhamento pastoral e psicológico ser uma ajuda
para descobrir,junto com a pessoa em crise,se há uma reserva espiritual dentro
dela, algo que ficou intacto no seu ser e que possa ser ativado.O pastor ou
terapeuta pode ajudar a pessoa a juntar os cacos e a reconstruir paulatinamente a
sua vida dentro da nova realidade,fazendo uso dos recursos espirituais,humanos e
materiais de que ainda dispõe.

INTERVEÇÃO EM CRISES

Quem intervém em uma crise deve conhecer sua capacidade para lidar com o
estresse,para estabelecer limites e para acompanhar sem fazer
sermões,moralizar,julgar ou pressionar.Também deve ter uma noção clara de
quando um caso ultrapassa sua capacidade de lidar com ele a fim de encaminhá-lo
a um profissional ou a um especialista.Recomenda-se que o facilitador esteja bem
informado dos recursos existentes em sua comunidade para atender emergências
e pessoas em risco.

MAS O QUE É UMA CRISE?

É um estado temporário de transtorno e desorganização, caracterizado


principalmente por:

1-A incapacidade do indivíduo ou da família para resolver problemas usando os


métodos e as estratégias costumeiras.

2-O potencial para gerar resultados radicalmente positivos ou radicalmente


negativos.

PESQUISAS SOBRE CRISES

As crises de maneira alguma representam doença.Elas fazem parte da experiência


humana universal.São,antes,a forma normal em que as pessoas e as famílias
reagem diante das ameaças internas ou externas que não podem controlar.As
crises representam tanto uma oportunidade quanto um perigo.Como
oportunidade,podem ajudar pessoas,a crescer,inclusive em meio a sofrimentos.As
crises representam um perigo quando não se processa a dor,quando as pessoas
perdem a confiança em si mesmas,quando se isolam e ficam paralisadas frente á
vida.

PROBLEMAS,EMERGÊNCIAS E PERDAS

É importante não confundir uma crise com um problema,uma tragédia,uma


emergência ou uma perda.Nem todos os problemas levam a uma crise.Uma
tragédia é um acontecimento desafortunado que nos afeta de maneira diversa,mas
não desemboca necessariamente em uma crise.Uma emergência é um estado
subjetivo que cria a sensação de que se necessita de ajuda externa imediata para
voltar ao equilíbrio anterior ou para pôr fim as mudanças.Uma emergência pode
requerer uma mobilização extraordinária de recursos,mas não acarreta
necessariamente uma crise.Uma perda poderia ser definida como qualquer dano
nos recursos pessoais,materiais ou simbólicos com os quais estabelecemos um
vínculo emocional,mas nem toda perda conduz a uma crise.

DURAÇÃO E SEQUÊNCIA DE UMA CRISE

As crises estão limitadas no tempo.Levam desde alguns poucos dias até entre 6-8
semanas.Depois se resolvem para o bem ou para o mal.Em todo caso,as crises se
desenvolvem seguindo certa sequência:A primeira reação do organismo frente ao
impacto do estímulo é o choque,termo que descreve um estado de comoção ou
perturbação.O organismo necessita amortecer o golpe e geralmente o faz
mediante dois mecanismos:A negação e a perda de memória.Depois vem as
reações iniciais que podem abarcar emoções intensas,desorganização
pessoal.Somente quando se supera o estado de comoção,a pessoa está em
condições de entrar no processo de recuperação.As pessoas podem reagir diante
de uma crise ao menos de três maneiras:

1-saem fortalecidas de uma crise.Este resultado nem sempre ocorre.

2-Sobrevivem,mas bloqueiam de sua consciência os efeitos dolorosos.

3-Ficam arrasadas,paralisam-se em seu desenvolvimento,e sua vida pode se


deteriorar a menos que procurem ajuda.

PREVENÇÃO,INTERVENÇÃO E RECUPERAÇÃO

A prevenção visa fortalecer os recursos pessoais,familiares e comunitários para


evitar que o estresse provocado pelas circunstâncias ou pelas mudanças
desemboque em crise.A intervenção é um processo que visa ajudar as pessoas e
famílias a suportar um acontecimento traumático de modo que se atenuem os
efeitos negativos e se incremente a probabilidade do crescimento pessoal e
familiar.A intervenção pode ser de PRIMEIRA ORDEM quando se acompanha uma
pessoa nos primeiros momentos de uma crise e se oferece ajuda a ela para que
tome medidas concretas para sua recuperação lidando com seus
sentimentos,pensamentos e ações.E de SEGUNDA ORDEM quando consiste no
apoio que se oferece a pessoa na resolução da crise,a fim de que os afetados saiam
da crise melhor capacitados para enfrentar o futuro.

A RECUPERAÇÃO é o processo pelo qual uma pessoa ou família recupera seu nível
anterior de funcionamento.A recuperação emocional pode se realizar com ou sem
assessoramento,aconselhamento ou terapia.

TIPOS DE CRISES

O psiquiatra Frank s.Pittman classifica na perspectiva familiar e sistêmica quatro


tipos de crises:

1-As crises circunstanciais- São acidentais,inesperadas e têm o apoio de um fator


ambiental.ex:guerra,doença,acidente etc.

2-As crises de desenvolvimento- São normais,universais e previsíveis.Elas não


podem ser detidas nem produzidas prematuramente.

3-As crises estruturais- São recorrentes,resultam da exacerbação de dinâmicas


internas na família.Em geral,estas crises se produzem como uma tentativa para
evitar a mudança e,portanto, são as mais difíceis de tratar.

4-As crises de desvalia- São próprias de nossa época e aparecem quando há


membros disfuncionais ou dependentes e quando a ajuda que se necessita é muito
especializada ou difícil de substituir.As crianças,os idosos,os doentes crônicos e os
inválidos são membros funcionalmente dependentes e mantêm atada a família
com suas exigências de cuidado e atenção.

A PRIMEIRA AJUDA PASTORAL


Não só o pastor pode oferecer cuidado pastoral nas crises:Toda a congregação
pode fazê-lo.Os pastores,contudo,tem um acesso privilegiado as pessoas:acodem
os lares,estabelecem contatos duradouros com famílias,conhecem seus membros
por várias gerações.Já que em muitos casos as crises põem as pessoas em contato
com seu vazio existencial e com a pobreza de suas relações,a intervenção pastoral
tem a oportunidade de abordar temas de ordem espiritual,sem perder de vista os
processos biológicos,psicológicos e sociais.Há coisas que o pastor,aconselhador ou
facilitador pode fazer de início como uma primeira ajuda pastoral em situação de
crise:

1-Escute empaticamente. Escutar com empatia é tentar perceber o mundo através


dos olhos da outra pessoa.

2-Abstenha-se de fazer sermões ou de dar conselhos. O melhor apoio que você


pode dar a uma pessoa em crise é sua presença e sua solidariedade.

3-Não se deixe intimidar pelas fortes emoções expressas pela pessoa afetada.

4-Não há respostas fáceis para o sofrimento humano.

5-Conheça e aceite suas limitações.Você não pode resolver todos os problemas.Se


você verifica que não pode lidar com a situação,encaminhe a pessoa a um
aconselhador ou terapeuta profissional.

DIANTE DA CRISE MAL PROCESSADA

É possível reconhecer uma pessoa que resolveu mal uma crise por um ou mais dos
seguintes sinais:

1-A pessoa se deprime muito e por longo tempo.A depressão não pode ir além de
oito semanas.

2-A pessoa se torna demasiadamente ativa.

3-A pessoa está continuadamente doente.


4-A pessoa se comporta muito diferente do costumeiro;torna-se agressiva e
começa a tratar mal as pessoas.

5-A pessoa abusa do álcool,do tabaco ou dos remédios.

6-A pessoa age fora da lei.Antes não roubava agora rouba etc.

7- A pessoa se torna indiferente e afirma não sentir nada.

8-A pessoa tenta se suicidar.Ela pode apresentar um dos seguintes sinais:Fica


muito tempo sem dormir,escuta vozes mandando ela se matar etc.

UM MODELO DE INTERVENÇÕES EM CRISES

1-Planeje e conduza uma avaliação da crise.Determine de que tipo de crise se trata


e esteja consciente do que se pode fazer.

2-Estabelecer contato e desenvolver a relação.Isto é alcançado ao se expressar um


genuíno respeito e aceitação pelas pessoas,ao convidá-las pra conversar.

3-Examinar as dimensões do problema a fim de defini-lo Propõe-se identificar três


coisas:O acontecimento que precipitou a crise,os mecanismos de enfrentamento
com os quais a pessoa conta,e o grau de perigo que a crise implica.

4-Icentivar uma exploração dos sentimentos e das emoções.

5-Explorar e avaliar os mecanismos de adaptação no passado.

6-Restaurar o funcionamento cognitivo ao implementar um plano.

7-Dar seguimento,estabelecer um procedimento que permita revisar o progresso


da intervenção.

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