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CRISE

Crise
◦ Palavra de origem grega (krisis)

caracteriza um estado no qual uma decisão tem que ser tomada


carregada de elementos que trazem um amplo sentido:
- o de separação
- mudança
- desequilíbrio transitório,
- com uma possível oportunidade de crescimento.
◦ Porque é que em Psiquiatria o sentido de crise adquiriu
um aspeto sempre negativo?
◦ A crise em Psiquiatria é geralmente visto como uma

“agudização da sintomatologia psiquiátrica”


Crise
◦ Caplan e col. (1980) definem a Crise como um período de desorganização de um sistema
aberto. A crise é precipitada por uma ou mais circunstâncias que, às vezes, ultrapassam a
capacidade do indivíduo ou do sistema em manter a homeostase.

◦ Pode ser uma desestabilização passageira ou pode permanecer prejudicando o estado de


equilíbrio do homem em relação ao seu corpo e ao meio ambiente.

◦ A crise pode advir de uma situação imprevisível - doença, desemprego e morte - ou previsível,
como a adolescência, gravidez, envelhecimento, etc.

◦ Nesta perspetiva o adoecer é entendido como uma forma de adaptação e de reação do sujeito,
face aos estímulos internos ou externos do organismo.
◦ Segundo dell’Aqua (1988), pode-se caracterizar como “situações de crise” aquelas que
respondem a pelo menos três dos cinco parâmetros arbitrariamente especificados:
- Grave sintomatologia psiquiátrica;
- Grave rutura no plano familiar e/ou social;
- Recusa do tratamento;
- Recusa obstinada de contato;
- Situações de alarme no seu contexto de vida e incapacidade pessoal de afrontá-las.

Embora esta caracterização de crise inclui aspetos do contexto familiar, social e relacional de
cada um, este conceito é redutor. Não tem em conta a vivência subjetiva da crise e a sua
singularidade para o sujeito que a vivencia concretamente.
◦ Segundo Knobloch (1998), a crise pode ser designada como uma experiência
em que há algo insuportável, no sentido literal de não haver suporte,
experiência que nos habita como um abismo de perda de sentido, em que
se perdem as principais ligações. Este abismo manifesta-se como um
excesso de força pulsional que rompe a capacidade de simbolização mas,
ao mesmo tempo, instaura uma eminente exigência de ligações até então
inexistentes.
◦ Birman (1983) refere que a a pessoa em crise encontra-se num estado mental
em que não é possível apreender algo essencial, no qual a angústia
provocada é tão importante que ficamos com o sentimento de que a nossa
própria vida está a fugir, uma experiência de perda dos seus sistemas de
referência, isto é, a ameaça de perda da própria identidade.
◦ Para Lobosque (2001) a crise vivenciada escancara a reprodução de uma
agonia que ocasiona uma dor incompreensível, sem conteúdo de
representação e por isso, inatingível pela consciência
◦ O momento de crise pode ser uma oportunidade de transformação e de desvio, pois embora toda essa

vivência de sofrimento, angústia e invasão seja uma marca importante da crise, em proporções de mesmo

valor podemos caracterizar o seu momento de metamorfose, de saída de um lugar historicamente dado

para um outro lugar a ser simplesmente reconstruído, pelo o seu caráter também inédito.
Crise

INTERVENÇÃO NA CRISE
◦ Todo o paciente em crise exigirá uma urgência na ação.
◦ A angústia que nos mostra um paciente diante de uma situação que ultrapassa
o limiar de contenção, demanda alguma intervenção de forma iminente.
◦ No entanto:
◦ Nem sempre a equipa e o paciente estão de acordo em relação ao conceito de crise, e
muitas vezes a família pode também estar ou não de acordo com determinada intervenção.
◦ O contexto sócio-cultural em que o indivíduo está inserido pode ou não ser favorável às
estratégias de cuidado, bem como, a ética institucional e todos estes fatores tem influência
direta no tipo de abordagem à crise.
◦ Deste modo, a boa conduta em relação ao manejo da crise advém da relação
que será construída entre a equipa profissional e o paciente.
 A postura do profissional de saúde mental
 A valorização do sujeito
 A escuta terapêutica
 A corporeidade do sujeito em crise
 O auxílio psicofarmacológico
. . . se a finalidade de uma intervenção for só a de tirar o sujeito da crise
estaríamos a tirar-lhe a oportunidade que a ele se abre (de subjetivação, de
transformação). E ao simplesmente calarmos o agudo, perderíamos esse tempo
do acontecimento pela sua reintrodução precoce no tempo cronológico, o que
poderia acarretar um favorecimento da cronificação e nos transformarmos em
cúmplices da sua manutenção”

(Knobloch, 1998, p.145).


Crise

URGÊNCIA
PSIQUIÁTRICA
Urgência psiquiátrica
◦ “imprevisto que necessita de uma intervenção imediata.”
(Saraceno; Asioli; Tognoni,2001)
◦ “qualquer alteração de natureza psiquiátrica em que ocorram alterações do estado mental, às
quais resultam em risco atual e significativo de morte ou injúria grave, para o paciente ou para
terceiros, necessitando de intervenção terapêutica imediata.”
(Quevedo; Schmitt; Kapczinski, 2008).

As definições de urgências/emergências psiquiátricas sugerem ainda a presença de perturbação


urgente e grave de conduta, afeto ou do pensamento.
◦ O atendimento a situações de urgência e emergência psiquiátricas
deve atender os seguintes objetivos que são prioritários:
- Estabilização do quadro (controle do sintoma alvo)
- Reconhecimento de patologias e alterações orgânicas (que podem ter ocasionado as alterações
mentais)
- Estabelecimento de hipóteses diagnósticas
- Encaminhamento para continuidade do cuidado
◦ O local destinado ao atendimento de urgências e emergências psiquiátricas deve oferecer
segurança, estrutura física adequada, ausência de objetos potencialmente perigosos, local com
adequação de estímulos sensoriais, sistema de alarme, disponibilidade de medicamentos e
equipamentos para contenção, serviço de segurança, e acesso a serviços de diagnósticos e a
outros especialistas.
◦ As emergências psiquiátricas são momentos críticos marcados pela fragilidade
e instabilidade do utente. Deste modo, é relevante que o profissional de saúde
se apresente, esclareça os objetivos do atendimento, transmita confiança,
segurança e consistência nas suas ações e não emita juízos de valor.
Agitação Psicomotora
◦ Estado de Tensão, de inquietação, hiperatividade, manifestado por um estado psicomotor.
◦ Não necessariamente apresenta um foco ou objeto.
Diagnóstico:
O primeiro cuidado frente a um possível caso de agitação é o reconhecimento
- Ansiedade exacerbada
- Balançar o corpo
- Sacudir as pernas, bater os joelhos, pisar com força
- Andar de um lado para o outro
-Bater portas, espalhar roupas, provocar desarrumação…
COMPORTAMENTO AGRESSIVO
◦ Estado de violência, atitude dirigida a alguém ou algo, secundário ao estado psíquico.
Diagnóstico:
O primeiro cuidado frente a um possível caso de agressividade é o reconhecimento
- Ansiedade exacerbada
- Ter atitude provocadora, desconfiada ou hostil
- Gritar com raiva, ameaçar a si mesmo ou aos outros
- Andar de um lado para o outro, chutar objetos
-Bater portas, provocar lesões a sim mesmo…
FATORES DE RISCO PARA A AGITAÇÃO E
AGRESSIVIDADE
◦ Doença psiquiátrica
◦ Não concordância com a terapia medicamentosa
◦ Não concordância com o diagnóstico
◦ Crise convulsiva
◦ Doença orgânica
◦ Infeções
◦ Dor
◦ Trauma
◦ Intoxicação por álcool, drogas, medicamentos, venenos
◦ AVC
◦ Crise vivencial/relacional/emocional
Prioridades na intervenção na agitação e
agressividade
◦ Cuidados com o ambiente:
◦ Evitar que a sala contenha objetos que possam ser utilizados como instrumentos de agressão.
◦ Deixar a porta aberta
◦ O local do atendimento deve oferecer privacidade, mas ser de fácil acesso para equipe de saúde e de segurança
(se necessário deixar a porta aberta).
◦ É necessária estrutura física adequada com um local com adequação de estímulos sensoriais.
◦ Sistema de alarme.

◦ Não virar as costas ao utente com risco de agressividade.


◦ Falar calmamente e não elevar a voz.
◦ Não ficar sozinho
◦ Evitar movimentos bruscos que possam ser interpretados como ameaçadores.
◦ A linguagem verbal complementa a linguagem não verbal com o objetivo de reduzir a
agressividade e agitação do utente.
◦ Ao dialogar com o utente, pode ser útil:
-Utilizar linguagem simples, clara e concreta (evitar linguagem abstrata ou metáforas)
- Evitar elevar o tom de voz
- Estabelecer limites e contratos de maneira respeitosa
- Evitar confronto direto (ou disputas) com o cliente
- Estimular expressão verbal de sentimentos
- Focalizar o assunto, resumir ideias, repetir as ultimas ideias do utente
- Auxiliar o paciente a reconhecer a realidade (sem confronto)
- Assegurar ao paciente que você pretende ajuda-lo a controlar os próprios impulsos
- Evitar ceder a testes, desafios e manipulações, bem como evitar promessas, ameaças,
opiniões pessoais, manipulação ou faltar com a verdade
- Explicar as condutas terapêuticas
◦ A contenção
A contenção consiste na utilização de meios farmacológicos e/ou físicos para
impedir comportamentos destrutivos
Contenção farmacológica
A contenção química consiste na utilização de fármacos para impedir
comportamentos destrutivos.
A via oral é preferível para a aplicação da contenção química, sempre que
possível e que o paciente colabore.
Em caso de paciente não cooperativo, o medicamento pode ser administrado
por via intramuscular. A dose do fármaco aplicada deve produzir tranquilização
sem sedação.
Para a contenção química comumente são empregados benzodiazepínicos,
antipsicóticos típicos e atípicos ou combinações desses fármacos
Contenção física
A contenção física envolve técnicas desenvolvidas para restringir movimentos corporais e
evitar comportamentos destrutivos.
É uma intervenção coerciva permitida somente quando justificada pelo risco apresentado e
sob tutela de regime de tratamento compulsivo.
Tem como objetivo controlar o comportamento do indivíduo para preservar sua própria
segurança e integridade ou de terceiros, portanto, caracteriza-se como intervenção de segurança
e não como recurso terapêutico.

A contenção física é o último recurso para o controle do comportamento e redução do risco de


violência e danos, quando outras opções não forem efetivas.
◦ Recomenda-se que a contenção seja mantida o mínimo de tempo possível e que o indivíduo seja
acompanhado e avaliado continuamente durante a contenção ou monitorizado a cada 15 minutos
enquanto estiver contido.

◦ As contenções podem ter efeitos físicos e psicológicos sobre os pacientes e a equipa .

◦ A contenção pode expor o utente ao risco de sofrer impacto psicológico significativo e experimentar
complicações clínicas, tais como redução da perfusão tecidual em extremidades (necrose, trombose e
amputação), embolia pulmonar, aspiração e asfixia, lesão de plexo braquial, fraturas, entre outras
condições
SUICÍDIO
◦ O suicídio pode ser definido como morte autoinduzida, que contém provas suficientes
(explícitas ou implícitas) para permitir a dedução de que o desejo da pessoa era morrer
(Emergency Nurses Association, 2012).

◦ O suicídio causa um impacto psicológico e social na família e na sociedade que é imensurável.


Em média, um único suicídio afeta pelo menos outras seis pessoas. Se um suicídio ocorre em
uma escola ou em algum local de trabalho, tem impacto em centenas de pessoas (OMS, 2000).
Comportamento suicida
◦ O comportamento suicida possui uma definição mais abrangente do que o suicídio, pois inclui todo ato
pelo qual um indivíduo causa lesão a si mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal e de
conhecimento do verdadeiro motivo desse ato. O comportamento suicida inclui desde pensamentos de
autodestruição.

◦ O comportamento suicida pode ser observado ao longo de um continuum, ou seja, com condições que
antecedem o ato do suicídio, em que a pessoa tem inicialmente pensamentos de autodestruição, depois
passa por ameaças, gestos, que levam à tentativas de suicídio (WHO, 2014)
◦ As tentativas de suicídio são definidas como comportamentos autolesivos com consequências não-fatais,
acompanhados de evidências (explícitas ou implícitas) de que a pessoa tinha intenção de morrer.

◦ As tentativas de suicídio atingem taxas elevadas, podendo chegar a dez ou 20 vezes o número de
suicídios concluídos.

◦ As tentativas de suicídio são mais comuns em mulheres, enquanto o suicídio consumado é mais
observado em homens.

◦ Há uma tendência de julgamento, estigma e desqualificação da pessoa que tenta tirar a própria vida, o
que pode prejudicar a identificação do sofrimento que, comumen.te, é comunicado por meio do
comportamento suicida (CFP, 2013)
Suicídio: morte autoprovocada, com evidências (explícitas ou implícitas) de que a pessoa tinha intenção de
morrer.

Pensamento de morte: pensamentos relacionados com o desejo de morrer.

Ideação suicida: pensamentos sobre ser o agente da própria morte. A ideação suicida pode variar em
gravidade, dependendo da especificidade dos planos de suicídio e do grau de intenção suicida.

Letalidade do comportamento suicida: ameaça objetiva à vida associada ao método de suicídio.

Danos autoprovocados e deliberados: realização propositada de atos dolorosos, destrutivos ou lesivos a si


mesmo, sem intenção de morrer.

Risco de suicídio: probabilidade de que a ideação suicida leve ao ato suicida e tenha como desfecho a
morte autoinduzida.
Prioridades na intervenção no comportamento
suicidário
◦ Implementação de medidas para proteção da vida:
-Recolha de dados;
-Exame físico completo;
-Meios complementares de diagnóstico.
◦ Nunca minimizar a tentativa. O comportamento suicida é um continuum que inclui a ideação, as
tentativas e o suicídio.
◦ Identificação de fatores de risco e de fatores protetores.
◦ Realização da entrevista ao doente, assegurando a privacidade e fomentando o estabelecimento de uma
relação empática.
◦ Despistar atitudes impulsivas.
Prioridades na intervenção no comportamento
suicidário
◦ Internamento mediante os critérios:
• Ideação suicida com planeamento sem suporte;
• Verbalização do plano suicida;
• Sem ideação suicida no momento mas com vários fatores de risco e sem suporte;
• Suporte familiar insuficiente para a proteção do doente com ideação suicida;
• Tentativas de suicídio recente.
Perguntas Importantes na Entrevista:
◦ Pensa em suicídio?
◦ Sente que a vida perdeu o sentido?
◦ Pensou que morrer seria melhor?
◦ Encontra sentido para a vida?
◦ Tem algum plano para se matar?
◦ Deseja receber ajuda?
Fatores Protetores:
◦ Suporte familiar de amigos ou outros relacionamentos significativos;
◦ Religiosidade, cultura e crenças étnicas;
◦ Envolvimento comunitário;
◦ Vida social satisfatória;
◦ Integração social (ex.: emprego, atividades de lazer, etc.);
◦ Acesso a serviços de saúde mental.
Fatores de Risco:
• Baixo nível socioeconómico e educacional;
• Perda de emprego;
• Stress social;
• Disfunção familiar e/ou nos relacionamentos;
• Problemas de funcionamento nos sistemas de suporte;
• Traumas (ex.: físicos, abuso sexual, etc.)
• Perdas pessoais;
• Doenças Mentais (ex.: depressão, transtorno de personalidade, esquizofrenia e abuso de
substâncias);
• Sentimento de falta de esperança e de baixa auto-estima;
Fatores de Risco:
◦ Problemas de orientação sexual (controvérsias na aceitação);
◦ Julgamento comprometido, falta de controle de impulsos e comportamentos autodestrutivos;
◦ Falta de habilidades em lidar com problemas;
◦ Doença física e dor crónica;
◦ Exposição ao suicídio de outra pessoa;
◦ Acesso a meios para completar a auto-agressão;
◦ Eventos destrutivos e violentos (ex.: guerras e catástrofes).
TRANSTORNOS PSICÓTICOS

Situações caracterizadas pela presença de sintomas psicóticos que produzem

distúrbios da percepção da realidade, sendo a esquizofrenia o mais comum e mais

importante.
DIAGNÓSTICO

Apesar de se tratar de uma situação de urgência é necessário fazer um


diagnóstico cuidado. A pressa em realizar diagnósticos pode causar
erros com consequências futuras.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Principais transtornos capazes de produzir sintomas psicóticos segundo
a CID-10:

 Transtornos mentais orgânicos;


 Transtornos mentais decorrentes do uso de substâncias psicoativas;
 Transtornos de humor (mania e depressão com sintomas psicóticos);
 Transtornos da personalidade (paranóide e borderline).
INTERVENÇÕES

 Estabelecimento de prioridades;

 Atitude dos técnicos de saúde deve ser adaptada face ao estado clínico do utente;

 Contenção Física;

 Contenção Química;

 Ensino à família sobre a necessidade da adesão terapêutica e efeitos secundários da

terapêutica;

 Medicação Depot no SU.


TRANSTORNOS ANSIOSOS

A ansiedade é uma reação normal em situações novas e desconhecidas,

passando a ser patológica, i.e., transtorno de ansiedade, quando a reação

é desproporcional à situação que a desencadeia ou quando não existe

objecto que a direcione.


SITUAÇÕES DE TRANSTORNOS ANSIOSOS

 Ataques de pânico;
 Ansiedade generalizada;
 Fobias;
 Obsessões/Compulsões;
 Stress pós traumático;
 Ansiedade devido a uma condição clínica;
 Ansiedade induzida por substâncias;
INTERVENÇÕES

 Avaliação inicial:
• Sinais e sintomas, curso e intensidade;
• Padrão de ansiedade;
• Fatores desencadeantes;
• Despiste de causas clínicas de ansiedade;
• Uso de substâncias;
• História de transtorno de ansiedade anterior
INTERVENÇÕES
 Exame Físico com despiste de:
• Estados febris;
• Desidratação;
• Hipóxia;
• Alterações cardio-respiratórias.

 Exame Mental:

• Estado de humor (ansioso ou deprimido)

• Discurso
INTERVENÇÕES

 Tratamento medicamentoso

• Benzodiazepinas no SU;

• Benzodiazepinas + anti-depressivos como tratamento de

manutenção
EMERGENCIAS RELACIONADAS AO USO OU
ABSTINÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
◦ O cuidado em emergências relacionadas ao uso de substâncias deve conter: avaliação completa
(médica geral e psiquiátrica), o tratamento dos quadros diagnosticados (abstinência,
intoxicação e quadros clínicos que caracterizem uma emergência), a motivação do paciente
para iniciar tratamento e elaboração de encaminhamento.
O atendimento em urgências e emergências requer a avaliação do utente quanto ao uso prévio de
substancias psicoativas. Essa avaliação compreende (American Psychiatric Association, 2006):
◦ Substância utilizada, estimativa da quantidade, frequência e duração do uso e último consumo (para
estimar tempo de aparecimento de sintomas de abstinência)
◦ Histórico do uso de substâncias e seus efeitos no funcionamento cognitivo, psicológico e fisiológico do
paciente no presente e no passado
◦ História médica geral e psiquiátrica
◦ Exame físico e psiquiátrico
◦ História familiar e social
◦ Triagem da substância utilizada por meio do sangue, respiração ou urina
◦ Testes laboratoriais para avaliar complicações associadas ao uso da substância
◦ Se houver autorização do utente, entrar em contato com pessoa que possa oferecer informações
adicionais
ABUSO DE DROGAS

O recurso ao SU dá-se quer pelo uso de drogas com dependências

psicossociais e comorbilidades associadas, quer pelos síndromes de

abstinência que lhes estão associados.


INTERVENÇÕES

 Medicações Gerais

• Para quadros ansiosos, benzodiazepinas PO;

• Para agitação psicomotora, midazolam 15mg IM ou

haloperidol 5mg IM;

• Para sintomas psicóticos agudos ou reacções paranóides

agudas, haloperidol ou antipsicóticos PO se possível (ex.:

olanzapina)
INTERVENÇÕES

 Medidas não medicamentosas gerais:

• Proporcionar ambiente calmo, silencioso, seguro e com o mínimo de

estímulos;

• Monitorizar SV e comportamento;
INTERVENÇÕES

 Medidas não medicamentosas gerais:

• Aumentar a excreção para diminuir os efeitos das drogas;

• Hidratação com reposição de electrólitos;

• Manter nutrição;

• Exames laboratoriais
A abordagem está directamente relacionada com a ação da

substância no SNC, podendo ser:

 Drogas Depressoras;

 Drogas Estimulantes;

 Perturbadoras.
DROGAS DEPRESSORAS DO SNC:

• Álcool;

• Inalantes;

• Benzodiazepinas;

• Barbitúricos

• Ópio e derivados;
Sinais e sintomas gerais da intoxicação por Depressores do SNC:

•Euforia;
•Sensação de extremo bem estar e prazer;
•Comportamento inapropriado;
•Dificuldades na fala;
•Labilidade emocional;
•Falta de coordenação motora;
•Ataxia;
•Miose;
•Sedação;
•Coma e morte.
Sinais e sintomas gerais da abstinência de Depressores do SNC:

•Tremores das extremidades ou generalizados; •Náuseas;


•Ansiedade; •Convulsões;
•Inquietação; •Fraqueza;
•Sudorese; •Dores musculares;
•Taquicardia; •Piloereção;
•Taquipneia; •Vómitos;
•HTA; •Náuseas;
•Hipotensão Ortostática; •Convulsões;
•Fraqueza; •Coma e morte
•Dores musculares;
•Piloereção;
Intoxicação aguda por Inalantes:

• Risco de depressão respiratória;


• Risco de depressão cardíaca por acção miocárdica directa;
• Convulsões com risco de morte súbita.

Tratamento Apenas tratamento de suporte e sintomático uma


vez que não há antídoto
Intoxicação aguda por Benzodiazepinas:
•Sedação;
•Cansaço;
•Aumento do tempo de reação aos estímulos;
•Descoordenação motora;
•Confusão;
•Amnésia;
•Alteração das funções cognitivas;
•Alterações do comportamento (desinibição e bizarrias);
•Agressividade, hostilidade e irritabilidade (principalmente com associação de álcool, em idosos ou
doentes com lesões prévias do SNC).
Intoxicação aguda por Benzodiazepinas

• Flumazenil (antagonista das benzodiazepinas);

Tratamento • Medidas de suporte;


• Carvão ativado (se ingestão ‹ 6h).
Síndrome de abstinência de Benzodiazepinas:
 Leve:
• Ansiedade;
• Aumento da acuidade para sons, cheiros e às vezes visual;
• Irritabilidade;
• Insónia;
• Agitação;
• Tonturas;
• Anorexia.
Síndrome de abstinência de Benzodiazepinas:
 Moderada:
• Elevação dos SV;
• Sintomas tipo pânico;
• Diminuição da concentração;
• Tremores;
• Sudorese;
• Cefaleias;
• Palpitações;
• Insónias;
• Distorções percetivas;
• Dores musculares;
• Sintomas gastrointestinais;
Síndrome de abstinência de Benzodiazepinas:
Grave:
• Sintomas semelhantes ao delirium tremens;
• Hipotermia;
• Flutuação dos SV;
• Convulsões;
• Tremores;
• Sintomas psicóticos;
• Potencialmente letal.
Síndrome de abstinência de Benzodiazepinas:

• Reintroduzir dose habitual;


Tratamento
• Diminuir 25% da dose por semana até suspensão
completa.
Intoxicação aguda por Heroína:
• Sedação;
• Miose;
• Depressão Respiratória;
• Edema Pulmonar;
• Hipóxia;
• Hipotonia;
• Inconsciência;
• Bradicardia e hipotensão;
• Convulsões;
• Morte.
Intoxicação aguda por Heroína:

Tratamento
• Corrigir hipotensão;
• Tratar edema pulmonar sem usar diuréticos;
• Administrar naloxona (antagonista dos opiáceos);
• Exames laboratoriais.
Síndrome de abstinência de Heroína:
• Ansiedade;
• Dores musculares generalizadas;
• Sudorese;
• Espirros;
• Arrepios;
• Rinorreia;
• Vómitos;
• Diarreia;
• Midríase;
• Confusão mental.
Síndrome de abstinência de Heroína:

Em situações mais graves


•Hipertermia;
•HTA;
•Taquicardia;
•Taquipneia.
Síndrome de abstinência de Heroína:

A intensidade do quadro varia conforme

•A via de administração;
•Consumo ou não de outras drogas;
•Presença ou não de outras patologias
orgânicas associadas
Síndrome de abstinência de Heroína

Inicia-se 6 a 12h após a toma da última dose e atinge o máximo


entre 24 a 72h, decrescendo progressivamente entre os 6 e os 10
dias.
Síndrome de abstinência de Heroína

Tratamento
• Proporcionar ambiente tranquilo e iluminado;
• Promover hidratação e nutrição adequadas;
• Pesquisar a presença de patologia orgânicas associadas;
• Suporte medicamentoso específico – clonidina e
metadona;
• Suporte medicamentoso não específico –
benzodiazepinas (melhoram as dores musculares e a
inquietação e insónia)
DROGAS ESTIMULANTES DO SNC:

• Cocaína e derivados;

• Anfetaminas;

• Nicotina;

• Cafeína
Sinais e sintomas gerais da intoxicação por Estimulantes do SNC:
• Euforia;
• Bem-estar;
• Hiperactividade física;
• Hiper-reflexia;
• Humor irritável;
• Violência;
• Insónia;
• Sudorese;
• Taquicardia
Sinais e sintomas gerais da intoxicação por Estimulantes do SNC:
• Taquipneia;
• Midríase;
• Diarreia;
• Delírios persecutórios;
• Alucinações e ilusões;
• Convulsões;
• Coma e morte.
Intoxicação aguda por Cocaína

Efeitos imediatos:
• Euforia que evolui para disforia;
• Sensação de bem-estar;
• Estimulação mental e motora;
• Aumento de auto-estima;
• Agressividade;
• Irritabilidade;
• Inquietação.
Intoxicação aguda por Cocaína

Efeitos psíquicos:
• Desconfiança, sentimento de perseguição;
• Depressão.

Efeitos sociais:
• Isolamento;
• Inibição.

Efeitos físicos:
• Sudorese;
• Diminuição do apetite.
Intoxicação aguda por Cocaína
Efeitos neurológicos:
• Aumento das pupilas;
• Descoordenação motora;
• Convulsão;
• Cefaleia;
• Desmaio;
• Tonturas;
• Tremores;
• Visão turva;
• AVC.
Intoxicação aguda por Cocaína
Efeitos cardiovasculares:
• Aumento da frequência cardíaca;
• Vasoconstrição periférica;
• Aumento da TA;
• Ataque cardíaco.

Efeitos respiratórios:
• Tosse;
• Dispneia;
• Paragem respiratória.
Intoxicação aguda por Cocaína

Efeitos agudos:
• Dor torácica;
• Depressão respiratória;
• Arritmias;
• Hipertermia;
• Distonias;
• Coma e morte.
Intoxicação aguda por cocaína

Tratamento
• Monitorizar o doente;
• Proporcionar ambiente seguro, sem estímulos;
• Aumentar a excreção para reverter o efeito da droga;
• Hidratação e nutrição adequadas;
• ECG, TAC, exames laboratoriais;
• Tratar convulsões com benzodiazepinas (diazepam) e fenitoína
(hidantina).
• Tratamento da HTA.
Não existem antagonistas para a cocaína.
Síndrome de abstinência de Cocaína
Engloba 3 fases:
1ª- Crash
Após a interrupção, podendo prolongar-se por cerca de 4h
• Humor disfórico e/ou depressivo;
• Ansiedade;
• Lentificação e fadiga;
• Craving – desejo de experimentar novamente os efeitos de uma experiência
prévia, força propulsora direcionada e urgente no sentido do uso de droga.
Síndrome de abstinência de Cocaína
2ª- Abstinência propriamente dita
Pode prolongar-se por 10 semanas
• Recaídas frequentes;
• Anedonia, ansiedade;
• Insónias, hipersónias;
• Hiperfadiga;
• Alterações psicomotoras-tremores;
• Dores musculares e movimentos involuntários.
Síndrome de abstinência de Cocaína
3ª- Fase de Extinção
Ocorre com a resolução completa dos sinais e sintomas físicos. O
craving é o sintoma residual e eventual, condicionado à lembrança
do uso da droga e seus efeitos.
Síndrome de abstinência de Cocaína

Tratamento
• Não há abordagem terapêutica que suprima os sintomas
da abstinência como um todo;
• Benzodiazepinas – aliviam a ansiedade, a inquietação e
a insónia por um certo período de tempo.
Intoxicação aguda por Anfetaminas
(ecstasy, femproporex, etc.)

Leve:
• Sensação de bem-estar e euforia;
• Excitação;
• Diminuição do apetite;
• Aumento do limiar de dor.
Intoxicação aguda por Anfetaminas
Moderada:
• Quadros ansiosos agudos;
• Sintomas de pânico;
• Inquietação;
• Irritabilidade, tremores;
• Cefaleias;
• Calafrios;
• Vómitos;
• Sudorese;
• Logorreia.
Intoxicação aguda por Anfetaminas

Severa:
• Alterações do movimento devido ao bloqueio dos receptores
dopaminérgicos;
• Efeitos alucinogéneos devido à acção do sistema
serotoninérgico.
Intoxicação aguda por Anfetaminas

Tratamento
• De suporte e sintomático;
• Carvão ativado (drogas ingeridas há menos de 6h).
Síndrome de abstinência das Anfetaminas

• Atinge 87% dos consumidores;


• Inclui craving intenso;
• Ansiedade;
• Agitação;
• Pesadelos;
• Redução da energia;
• Lentificação;
• Humor depressivo.
Síndrome de abstinência das Anfetaminas

Tratamento
• De suporte e sintomático;
DROGAS PERTURBADORAS DO SNC:

• Haxixe e derivados;

• Alucinogénios;

• Ácido Lisérgico (LSD);

• Cogumelos;

• Cactos (psilocibina e mescalina);

• Lírio trombeta

• Anticolinérgicos (biperideno e triexfenidilo)


Sinais e sintomas gerais da intoxicação por Perturbadoras do

SNC:
• Alucinações, ilusões;
• Desorientação no tempo e no espaço;
• Bad trip – tremores, sudorese, angústia, medo de perder o controle;
• Pânico;
• Sudorese;
• Convulsões;
• Coma e morte.
Sinais e sintomas da intoxicação aguda por Haxixe:
• Ansiedade;
• Sintomas de pânico, medo intenso;
• Disforia;
• Reacções depressivas
Intoxicação aguda por Haxixe

Tratamento • Geralmente não requer cuidados médicos;


• Não há relatos na literatura de situações de morte por intoxicação
aguda com haxixe;
• Nos quadros agudos , as benzodiazepinas são úteis;
• Para quadros psicóticos agudos e reacções paranóides devem-se
usar neurolépticos.
Intoxicação aguda por Alucinogénios

Principais alucinogénios

•LSD
A sua ação inicia-se 1h após a toma e dura 12 a 24 horas provocando:
•Euforia
•Sintomas alucinatórios
Principais alucinogénios (cont.)

•PCP ou “pó de anjo”

O seu efeito dura 4 a 6h e provoca:


•Euforia
•Distorções da imagem corporal
•Sensação de flutuar
•Estados ansiosos psicóticos durante vários dias
Principais alucinogénios (cont.)

MDMA ou Ecstasy

O seu efeito dura várias horas e é mais intenso e menos prolongado que o LSD e
provoca:

•Excitação
•Alucinações e ilusões
•Estados oníricos (de sonho)
•Midríase
•Palpitações
•Taquicardia
•Hipertermia
Intoxicação aguda por Alucinogénios

Tratamento
•Para intoxicações via oral há menos de 6h realiza-se lavagem gástrica e carvão activado;

Sinais/sintomas Acção
Ansiedade e pânico Administrar benzodiazepinas
Agitação e psicose Administrar midazolam e/ou
haloperidol
Comportamentos violentos e Realizar contenção física
heteroagressivos
Convulsões Administrar Oxigénio, Diazepam
IV e fenitoína
HTA Administrar Beta-bloqueadores
Hipertermia Administrar antipiréticos,
arrefecimento corporal e
hidratação
Intoxicação aguda pelo Álcool

Álcool etílico
Depressor do SNC

Absorção

Estômago Intestino

Corrente sanguínea

Cérebro, fígado, pulmões e rins


(órgão de maior perfusão)

No fígado é metabolizado 98% do álcool ingerido


Intoxicação aguda pelo Álcool

A sintomatologia é variada:

•Leve euforia até casos de agressividade


•Ideação e tentativas de suicídio
•Agitação psicomotora
•Coma e morte
Intoxicação aguda pelo Álcool

Consequências a nível social:

•Envolvimento em rixas, ciúmes…


•Acidentes de trabalho e de viação
•Absentismo laboral
•Violência doméstica
Síndrome de abstinência do álcool (SAA)

Pode ocorrer entre 24 a 72 horas e duram cerca de 5 a 7 dias. O SAA


inicia-se com a diminuição ou cessação da ingestão de álcool num
indivíduo que habitualmente consome e que muitas vezes está
desnutrido. Quando não tratada adequadamente pode evoluir para
delirium tremens e convulsões.
Síndrome de abstinência do álcool (SAA)

Sinais e sintomas:
•Tremores
•Taquicardia
•Náuseas e vómitos
•Sudorese
•Perturbações de humor
•Agitação psicomotora
•Cefaleias
•Insónia
•Mal estar geral
•Alucinações
•Convulsões
Tratamento do SAA

•Exames complementares de diagnóstico (análises, RX e ECG)


•Dieta ligeira
•Reforço hídrico
•Repouso em ambiente calmo sem estímulos audiovisuais
Delirium Tremens
Quadro tóxico confusional breve acompanhado de perturbações somáticas e
uma urgência médica devido ao risco de complicações metabólicas,
cardiovasculares e hepáticas.
Pode ocorrer 1 a 4 dias após a instalação do SAA e apresenta:

•Quadro confusional agudo,


flutuante geralmente de duração •Delírios e alucinações
de 2 a 6 dias •Agitação intensa
•Desorientação no tempo e espaço •Taquicardia
•Prejuízo da memória de fixação •HTA
•Desagregação do pensamento •Hipertermia
Tratamento do Delirium Tremens

•Internamento
•Ambiente calmo e isento de estímulos
•Se existir alucinações administrar Haloperidol IV ou IM
•Tratar complicações somáticas
https://www.youtube.com/watch?v=vRoTUiUESAc
Bibliografia
◦ AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – IV).
4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002
◦ CORDEIRO, D., BALDAÇARA, L. – Emergências Psiquiátricas- ROCA, 2007 ISBN – 978-85-7241-713-6
◦ FERIGATO, S., Campos, R. e Ballarin, M. - O atendimento à crise em saúde mental: ampliando conceitos - Revista de
Psicologia da UNESP, 2007
◦ ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE- Prevenção do Suicídio: um manual para profissionais da mídia. Departamento de
Saúde Mental, Transtornos Mentais e Comportamentais, Genebra, 2000.
◦ VEDANA, K. – Urgências e Emergências Psiquiátricas – EERP USP. 2016
◦ WHO – World Health Organization. For which strategies of suicide prevention is there evidence os effectiveness. Regional
Office for Europe’s Health Evidence Network (HEN), 1-19, 2004
◦ https://www.youtube.com/watch?v=vRoTUiUESAc

15-06-2023

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