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Ano letivo 2023/2024

Lesão medular por fratura: estudo de caso

Ensino clínico II - Opcional - Cuidados Continuados

Unidade de Média Duração e Reabilitação

Orientado por: Enfª Carina Esteves e Enfª Eduarda Rodrigues

Docente: Helena Pimentel

Discentes:

Mónica Carmo a49065

Sandra Moura a47893

Bragança, outubro de 2023


Lesão Medular

Trabalho realizado pelas discentes Mónica do Carmo (a49065) e


Sandra Moura (a47893) no âmbito do Ensino clínico II - Opcional
- Cuidados Continuados, presente no 3ºano do 2º semestre do
curso de Licenciatura em Enfermagem do ano letivo 2023/2024,
sob orientação da Enfª Carina Esteves e Enfª Eduarda Rodrigues
da Unidade de Média Duração e Reabilitação, na Unidade de
Cuidados Continuados Integrados da Santa Casa da Misericórdia
de Bragança.

Bragança, outubro de 2023

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Índice de Abreviaturas

ASIA - American Spinal Injury Association

AVD - Atividade de Vida Diária

CIPE - Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem

Comp – Comprimido

CRN - Centro Reabilitação do Norte

IASP - International Association for the Study of Pain

LM - Lesão Medular

LVM - Lesão Vertebro Medular

OMS - Organização Mundial da Saúde

TVP - Trombose Venosa Profunda

UMDR - Unidade de Média Duração e Reabilitação

UP - Úlcera por Pressão

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ÍNDICE
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 5
O QUE É A LESÃO VERTEBRO MEDULAR .............................................................. 7
ANATOMIA E FISIOLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL ........................................ 8
MECANISMO DA LESÃO E CLASSIFICAÇÃO ....................................................... 13
QUALIDADE DE VIDA E LESÃO MEDULAR ......................................................... 18
REABILITAÇÃO DA PESSOA COM LESÃO VERTEBRO MEDULAR ................. 19
DEFINIÇÃO DE TETRAPLEGIA ................................................................................ 21
COMPLICAÇÕES DA LESÃO MEDULAR ................................................................ 24
DOR NEUROPÁTICA .................................................................................................. 28
ANAMNESE .................................................................................................................. 29
IDENTIFICAÇÃO PESSOAL ....................................................................................... 29
DADOS GERAIS ........................................................................................................... 29
OBSERVAÇÃO FÍSICA SISTEMATIZADA .............................................................. 32
FARMACOLOGIA PRESCRITA ................................................................................. 33
CUIDADOS / DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM .................................................. 37
AVALIAÇÃO ................................................................................................................ 41
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 44
BIBLIOGRAFIA: ........................................................................................................... 45
ANEXOS ........................................................................................................................ 46
ANEXO I ........................................................................................................................ 47
ESCALA ASIA - INTERNATIONAL STANDARDS FOR NEUROLOGICAL
CLASSIFICATION OF SPINAL CORD INJURY (ISNCSCI) .................................... 47
ANEXO II ...................................................................................................................... 49
ESCALA DE BRADEN PARA AVALIAÇÃO DE ÚLCERAS DE PRESSÃO .......... 49
ANEXO III ..................................................................................................................... 51
ESCALA DE QUEDAS DE MORSE ............................................................................ 51

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Introdução
O presente estudo de caso, surge no âmbito do 3º ano, 2 semestre da Licenciatura de
Enfermagem na Unidade Curricular Ensino Clínico II – Enfermagem em Cuidados
Continuados da Escola Superior de Saúde de Bragança. Foi-nos proposto a elaboração de
um estudo de caso sobre um utente da Unidade de Média Duração e Reabilitação
(UMDR), na Unidade de Cuidados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de
Bragança.

O presente estudo de caso faz referência a um paciente do sexo masculino que deu entrada
na UMDR de Bragança, no dia 27/09/2023, pelas 13h40. Proveniente do Centro
Reabilitação do Norte (CRN), tem como diagnóstico principal lesão medular por fratura-
luxação C6-C7 (a 12.06.2023) com redução cirúrgica e fixação cervical anterior C4-D1
(16.06.2023), com tetraplegia incompleta (ASIA C) sequelar.

Os principais objetivos da elaboração do estudo de caso incluem: analisar a patologia do


paciente em estudo, compreendendo a sua natureza e características; classificar a
patologia e entender a sua fisiopatologia, investigando os processos biológicos
envolvidos; avaliar a reabilitação e a qualidade de vida esperadas para o paciente nessa
condição e investigar as possíveis complicações associadas à condição do paciente.

Além disso, o estudo de caso tem como finalidades: descrever a história clínica do
paciente, abordando seu histórico de saúde e eventos relevantes; detalhar a terapêutica
aplicada ao paciente, incluindo tratamentos e medicamentos; documentar os cuidados e
intervenções de enfermagem fornecidos, visando promover a recuperação e o bem-estar
do paciente.

Um traumatismo é entendido como o conjunto de manifestações locais ou gerais


provocadas por uma ação violenta de um agente traumático contra o organismo. Assim,
uma lesão vertebro-medular refere-se a uma lesão que afeta a coluna vertebral e a medula
espinhal, a estrutura nervosa que se estende ao longo do canal vertebral. Essas lesões
podem ser causadas por traumas, como acidentes de carro, quedas, desportos de alto
impacto ou lesões não traumáticas, como doenças, tumores ou infeções. Uma lesão
vertebro-medular pode ter consequências significativas para a função motora, sensorial e
autônoma do corpo, dependendo da extensão e gravidade da lesão.

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A coluna vertebral desempenha um papel fundamental no suporte e proteção da medula
espinhal, que é a estrutura nervosa responsável por transmitir sinais entre o cérebro e o
resto do corpo. Quando a coluna vertebral é danificada, seja por fraturas, compressões ou
outros tipos de lesões, a medula espinhal pode ser impactada, levando a sintomas variados
que incluem fraqueza, perda de sensação, disfunção motora e, em casos mais graves,
paralisia.

Em suma, neste estudo de caso, exploraremos mais a fundo a anatomia e fisiologia da


coluna vertebral, o mecanismo da lesão e a sua classificação; a qualidade de vida e a
reabilitação da pessoa e o impacto da lesão vertebro-medular, visando fornecer uma
compreensão abrangente dessa condição complexa e suas implicações para a qualidade
de vida dos afetados. Seguindo-se da anamnese do utente selecionado, que contém os
dados gerais, antecedentes pessoais, a observação física, o motivo de admissão na unidade
e a terapêutica habitual, e por fim os cuidados e os diagnósticos de enfermagem.

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O que é a Lesão Vertebro Medular

A lesão vertebro medular (LVM) resulta de um conjunto de manifestações locais ou gerais


provocadas por uma ação violenta de um agente traumático contra o organismo. Ocorre
quando o corpo, de forma direta ou indireta, é atingido por forças energéticas externas
com o potencial de causar danos estruturais ou fisiológicos aos elementos componentes
da coluna vertebral e/ou espinhal. A lesão óssea e a lesão medular podem ocorrer por
compressão, tração ou rutura de tecidos e, em casos menos comuns, pode ocorrer a secção
física da medula. Este tipo de lesões encontra-se frequentemente relacionado com traumas
mecânicos resultantes de acidentes de viação, de trabalho, da prática desportiva, entre
outros.

Os danos medulares destas lesões podem ser causados devido a:

– Fratura dos corpos vertebrais com compressão pelos fragmentos;

– Deslocação dos corpos vertebrais com perda do diâmetro normal do canal raquidiano;

– Estreitamento do diâmetro do canal raquidiano sem fratura óssea;

– Tração da espinal‐medula com a lesão das estruturas neurológicas.

As regiões da coluna vertebral mais vulneráveis são as vértebras C5 e C7, a T12 e L1,
devido à grande mobilidade da coluna nestes segmentos.

As lesões cervicais caraterizam-se por uma perda de funções muito importantes, pois para
além da tetraplegia este tipo de lesão acarreta alterações do padrão respiratório
(Kirshblum e O’Connor, 2000).

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Anatomia e Fisiologia da Coluna Vertebral

A coluna vertebral (coluna espinhal ou espinha dorsal) é uma estrutura óssea curvilínea
composta por vértebras que se conectam através de discos intervertebrais cartilaginosos.
Faz parte do esqueleto axial, situando-se na região posterior do tronco, ao longo da sua
linha média, estendendo-se desde a base do crânio até a ponta do cóccix, sendo
atravessado pela medula espinhal. A coluna vertebral é dividida em cinco regiões
constituídas por 33 vértebras que se encontram interligadas por fortes articulações e
ligamentos. Deste modo, suporta e protege a medula espinal sendo essencial para a
mobilidade corporal.

A coluna vertebral é constituída por 26 ossos que se encontram divididos por 5 regiões:
região cervical (7 vértebras), torácica ou dorsal (12 vértebras), lombar (5 vértebras),
sagrada (constituída pelo osso sacro que é resultante da união das 5 vértebras sacrais) e
coccígea (composta pelo osso coccígeo ou cóccix, resultado da união de 4 a 5 vértebras
coccígeas).

Figura 1- Coluna Vertebral

(https://www.drgotfryd.com.br/anatomia-da-coluna-o-que-voce-precisa-saber/)

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Anatomicamente, a medula espinal tem uma formação cilíndrica, alongada, de tecido
nervoso, que mede cerca de 42 – 45 cm de comprimento, em adultos. A coluna é capaz
de realizar seis movimentos: flexão (inclinação para frente), extensão (inclinação para
trás), flexão lateral (direita / esquerda), extensão lateral (retorno ao normal a partir da
flexão lateral) e rotação (torção). É importante salientar que os movimentos nas regiões
da coluna cervical (pescoço) e da coluna lombar (parte inferior das costas) são mais
amplos e flexíveis em comparação com as regiões torácicas e sacrais.

A coluna vertebral desempenha diversas funções essenciais no corpo humano atuando


como um suporte fundamental para o corpo, permitindo a posição ortostática (posição em
pé), a locomoção bípede (caminhar sobre duas pernas) e os movimentos dos membros e
da cabeça. Além disso, a coluna vertebral tem um papel crucial na proteção da medula
espinhal, que é envolvida e resguardada por essa estrutura. A coluna também desempenha
um papel na fixação das costelas, contribuindo para os movimentos respiratórios.

Uma coluna vertebral saudável exibe três curvaturas naturais: uma curva suave voltada
para trás na região cervical (lordose), uma curva convexa voltada para trás na região
dorsal (cifose) e, novamente, uma curva suave voltada para trás na região lombar
(lordose). Essas curvaturas naturais complementam-se e desempenham um papel crucial
ao permitir que os seres humanos mantenham uma posição ereta com menor gasto de
energia. Além disso, as curvas ajudam a distribuir as cargas sobre as várias estruturas
vertebrais, o que reduz a pressão e a probabilidade de desgaste dos discos intervertebrais,
bem como protege as vértebras contra fraturas.

Em resumo, a coluna vertebral é uma estrutura complexa que desempenha múltiplas


funções, desde o suporte do corpo até a proteção da medula espinhal, possibilitando a
postura ereta, a locomoção e a absorção de cargas, contribuindo para a manutenção da
saúde e da mobilidade.

Com exceção do sacro e cóccix, que são compostos geralmente de ossos fundidos, as
vértebras são unidas por articulações e separadas por discos (exceto entre C1 e C2). Entre
cada 2 vértebras existem 2 articulações posteriores, que limitam a rotação lateral e o
deslizamento anterior, e o disco intervertebral, que estabilizam a coluna anterior e
absorvem as cargas exercidas verticalmente sobre a coluna.

Estes discos intervertebrais são almofadas cartilagíneas que atuam como


amortecedores. Cada disco tem um anel fibroso externo constituído por fibrocartilagem,

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chamado anel fibroso, que confere estabilidade e uma estrutura central gelatinosa, o
núcleo pulposo, que é altamente elástica.

Não há duas vértebras idênticas. Elas variam de tamanho e características, especialmente


de uma região para outra. No entanto, todas elas têm a seguinte estrutura básica:

Corpo Vertebral – porção mais maciça da vértebra, que apresenta geralmente uma forma
cilíndrica, mais larga que alta, com superfícies achatadas que se orientam superior e
inferiormente, sendo rugosas para permitir a conexão com os discos intermediários de
fibrocartilagem. Protege a espinal‐medula através da sua porção posterior. Entre os
corpos vertebrais das vértebras localizam‐se os discos intervertebrais.

Arco – forma as paredes, posterior e laterais, do buraco vertebral. Protege a espinal‐


medula. Tem diversas apófises e superfícies articulares.

Pedículo – existe um de cada lado do arco, formando o pé do arco. Forma a parede lateral
do buraco vertebral.

Lâmina – parte posterior do arco. Forma a parede posterior do buraco vertebral.

Apófise Transversa – dirige‐se lateralmente a partir da junção da lâmina como pedículo.


É o local de inserção muscular.

Apófise Espinhosa – dirige‐se posteriormente a partir da junção das duas lâminas. É


também local de inserção muscular.

Apófise Articular – contém facetas articulares pelas quais as vértebras articulam umas
com as outras. Fortalecem a coluna vertebral e permitem os movimentos.

Buraco de Conjugação – espaço entre as vértebras pelo qual os nervos raquidianos


emergem do canal vertebral.

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Buraco Vertebral – espaço em cada vértebra pelo qual passa a espinal‐ medula. Os
buracos vertebrais adjacentes formam o canal vertebral.

Figura 2- Componentes da vértebra padrão

As sete vértebras cervicais formam a coluna cervical no pescoço. Elas estão localizadas
entre o crânio e as vértebras torácicas, e têm os discos intervertebrais menores e mais
finos, sendo assim as com maior de toda a coluna vertebral.

As doze vértebras torácicas formam a segunda região da coluna vertebral, a coluna


torácica. A vértebra torácica contém várias características específicas: facetas costais que
articulam com as costelas, corpos vertebrais em formato de coração, forames vertebrais
menores e processos transversos e espinhosos longos e resistentes que apontam para
baixo.

As cinco vértebras lombares formam a coluna lombar (dorso inferior). Elas possuem os
maiores corpos vertebrais de toda a coluna vertebral, uma característica que facilita a
sustentação de peso. Os pedículos e as lâminas são espessos e fortes. Seus processos
espinhosos são curtos e resistentes para a fixação de fortes músculos lombares.

A medula espinhal termina como o cone medular ao nível das vértebras L1 / L2.

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Na região sagrada as cinco vértebras estão fundidas no osso sacro, que é um osso
triangular discretamente curvado, localizado na base da cavidade pélvica, este osso
articula‐se acima com a quinta vértebra lombar e apresenta uma cavidade que é uma
continuação do canal vertebral. Aqui as apófises transversas fundem‐se, formando as asas
que juntam o sacro aos ossos pélvicos, sendo que os buracos intervertebrais dividem‐se
em dorsais e ventrais (buracos sagrados), laterais à linha média. A margem anterior do
corpo da primeira vértebra emerge (promontório sagrado), podendo ser palpado (ponto
de referência de separação da cavidade abdominal e pélvica) (Seeley, Stephens e Tate,
2001).

As vértebras coccígeas são de tamanho muito reduzido, em comparação com as outras


vértebras, e não possuem buracos vertebrais, nem apófises bem desenvolvidas.
Normalmente são quatro vértebras formando um triângulo, com vértice orientado
inferiormente, o cóccix, que se apresenta como a porção mais inferior da coluna vertebral.
(Seeley, Stephens e Tate, 2001).

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Mecanismo da lesão e classificação

O trauma é a principal origem das lesões na medula espinhal, ocorrendo com maior
frequência devido a impactos de alta velocidade. Com exceção de lesões causadas por
armas de fogo e objetos perfurantes, a maioria das lesões na medula resulta de forças
indiretas, que são geradas pela combinação dos movimentos da cabeça e do tronco.

Podemos definir como principais mecanismos de lesão com as suas características


específicas os seguintes: hiperflexão, hiperextensão, rotação, sobrecarga axial ou
compressão e traumatismo penetrante (Schneider, 1994).

As lesões na medula espinhal podem ser resultado de concussão, contusão, laceração,


secção transversal, hemorragia e/ou comprometimento do suprimento sanguíneo da
medula espinhal. Nesse contexto, a lesão primária da medula espinhal ocorre devido ao
rompimento do tecido neurológico, danos às células nervosas e rutura de vasos
sanguíneos. Posteriormente, essa lesão primária é agravada pelas mudanças na
microvascularização, tanto na substância cinzenta quanto nas bainhas mielinizadas da
substância branca.

Na fase aguda da lesão, até 8 horas após o trauma, poderão formar‐se petéquias
hemorrágicas na substância cinzenta que aglutinando‐se resultam em necrose central
hemorrágica. Podem ainda estender‐se para a substância branca, como consequência de
redução significativa da perfusão na área afetada, o que diminui a oxigenação,
desencadeando isquemia, necrose e edema da medula espinhal (Thelan, et al, 1996).

As alterações na estrutura da substância cinzenta e branca, por si só, e conjugadas com a


abertura da junção vascular endotelial, resultam alterações na condução eletrofisiológica
neuronal. Com isto, as reações bioquímicas ao trauma levam a vasoconstrição e
desarranjo parcial do metabolismo, com libertação de vasoativos (noradrenalina,
serotonina e histaminas). Estes mediadores geram radicais livres que rompem as
membranas neuronais e levam a hipoxia, isquemia e rápida destruição dos tecidos,
interrompendo condução neuronal (Thelan, et al, 1996; Padilha, et al, 2001).

Nas quatro primeiras semanas, observa-se a migração de células inflamatórias para a área
da lesão, juntamente com a proliferação de células da glia. Isso leva à formação de tecido
cicatricial e à criação de quistos no interior da medula. Desta forma, esse processo
compromete a sobrevivência e o funcionamento das células neurais, podendo ser

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agravado pela redução do fluxo sanguíneo na região lesionada da medula espinhal. Isso
pode ocorrer devido a alterações no canal vertebral, hemorragia, edema e diminuição da
pressão sistémica, resultando em uma lesão adicional, conhecida como lesão secundária.

Portanto, torna-se essencial classificar o tipo de lesão para compreender as possíveis


consequências, tanto a nível neurológico quanto muscular e esquelético.

Ao nível neurológico é realizado uma avaliação através do exame neurológico. O nível


esquelético avalia-se através de exame radiológico, referindo-se à vertebra ou segmento
com lesão (Padilha, et al, 1996)

As Lesões na Medula Espinhal podem ser classificadas com base no grau de interrupção
do funcionamento normal da medula espinhal:

1. Tetraplegia: Caracterizada pela redução ou perda da função motora e/ou sensitiva


dos segmentos cervicais devido a lesões nos elementos neurais dentro do canal
vertebral. Isso resulta na diminuição da função dos membros superiores, tronco,
membros inferiores e órgãos pélvicos.

2. Paraplegia: Caracterizada pela diminuição ou perda da função motora e/ou


sensitiva dos segmentos dorsais, lombares ou sacrais devido a lesões nos
elementos neurais dentro do canal vertebral. Nesse caso, a função dos membros
superiores é preservada, mas, dependendo do nível da lesão, o tronco, os membros
inferiores e os órgãos pélvicos podem ser afetados.

Em relação ao nível funcional, as Lesões na Medula Espinhal podem ser classificadas em


completas e incompletas. Nas lesões completas, não há preservação de função motora e
sensitiva abaixo do nível neurológico da lesão. Independentemente do mecanismo da
lesão, ocorre uma dissecação da medula espinhal e de suas vias neurais. Nas lesões
incompletas, ainda existe preservação parcial da função motora e/ou sensitiva abaixo do
nível neurológico da lesão.

Cardoso (2000, p. 402), refere que “uma lesão transversal da medula espinhal poderá ser
completa, dando origem a uma paralisia total e anestesia de toda a área afetada, ou
incompleta, provocando uma parésia mais ou menos acentuada e um deficit sensorial mais
ou menos evidente”.

Tanto nas lesões completas, como nas incompletas, podemos encontrar situações em que
não há lesão transversal total da medula. Nas lesões incompletas, a característica
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distintiva é a preservação de alguma sensibilidade ou até mesmo atividade abaixo do nível
da lesão. Pode não ter ocorrido uma secção completa da medula, mas podem estar
presentes fenómenos como contusões ou edemas, que comprometem a sensibilidade e a
função motora.

No entanto, nessas situações, geralmente há a possibilidade de alguma recuperação dessas


funções. Devido à incerteza associada à recuperação das lesões incompletas, surgiram
diversos síndromes que apresentam características clínicas consistentes. É de suma
importância obter informações relacionadas às funções sensitivas e aos sintomas
esperados nesses síndromes para estabelecer metas de longo prazo, bem como para o
planeamento terapêutico e reabilitação.

A região da lesão medular de cada síndrome é apresentada na figura a seguir.

Figura 3- Lesões incompletas da espinal-medula (https://www.sanarmed.com/a-


sindrome-de-brown-sequard-colunistas)

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Síndrome de Brown Sequard

É uma lesão onde ocorre hemisecção da medula espinhal (lesão de um dos lados).
Ocorrem com muito mais frequência as lesões parciais em relação às lesões verdadeiras.
Caracteriza-se por uma paralisia motora do lado da lesão, e perda ou diminuição da
sensibilidade térmica, e dolorosa do lado oposto, tendo um prognóstico melhor que o das
outras lesões incompletas. A maioria dos pacientes com Síndrome de Brown-Séquard
recupera o controle dos esfíncteres, muitos retomam a capacidade de andar e quase todos
apresentam uma considerável recuperação motora nas mãos, embora possam ter uma
diminuição na força muscular, com algum grau de preservação nas partes distais dos
braços. Em alguns casos, a intervenção cirúrgica pode ser necessária para aliviar a
compressão na origem da lesão.

Síndrome medular anterior

Síndrome Medular Anterior é resultado de uma lesão na parte anterior da medula


espinhal, frequentemente associada a fraturas, luxações ou protrusões do disco vertebral.
Caracteriza-se por:

• Perda total da atividade motora e da sensibilidade térmica e dolorosa abaixo do


nível da lesão.

• A manutenção da sensibilidade profunda, o que significa que as sensibilidades


propriocetivas, cinestésicas e as sensações vibratórias geralmente permanecem
preservadas.

Síndrome Centro medular

A Síndrome Centro Medular é uma lesão que geralmente resulta de forças compressivas
associadas a lesões por hiperextensão, causando edema e hemorragia na parte central da
medula espinhal. Isso leva à destruição da substância cinzenta e dos feixes espino-
talâmico central e piramidal, resultando nas seguintes características principais:

• Tetraplegia, que se manifesta de forma flácida nos membros superiores e espástica


nos membros inferiores e no tronco.

• O envolvimento neurológico é mais grave nos membros superiores do que nos


membros inferiores.

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• Danos sensitivos em graus variáveis, geralmente menos graves do que as
deficiências motoras.

• Preservação dos tratos sacrais, o que permite a manutenção das funções sexuais,
intestinais e urinárias em um estado normal.

Esta síndrome é muitas vezes resultado de lesões traumáticas e pode ter impactos
significativos na função motora e sensitiva, dependendo da extensão da lesão.

A classificação ASIA (American Spinal Injury Association) foi desenvolvida pela


associação com base na escala de Frankel, estabelecendo padrões de observação e
critérios para a avaliação e classificação neurológica em indivíduos com Lesões na
Medula Espinhal. Essa classificação divide essas lesões em:

A – Completa – onde não há preservação da função sensitiva ou motora nos segmentos


sagrados S4-S5;

B – Incompleta – onde já existe função sensitiva abaixo do nível da lesão mas não função
motora;

C – Incompleta – onde existe função motora preservada abaixo do nível neurológico e a


maioria dos músculos-chave, abaixo do nível neurológico, têm força muscular inferior a
3;

D – Incompleta – onde há função motora preservada abaixo do nível neurológico e pelo


menos metade dos músculos-chave, abaixo do nível neurológico, têm força muscular
igual ou superior a 3;

E – Normal – as funções motoras e sensitivas são normais (ver anexos 1 e 2)

Esta classificação é essencial para determinar o grau de comprometimento neurológico e


guiar o tratamento e a reabilitação adequados para indivíduos com LVM.

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Qualidade de vida e lesão medular

A definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre qualidade de vida destaca


que se trata da percepção individual da inserção na vida, dentro do contexto cultural e
sistemas de valores em que o indivíduo vive, em relação a seus objetivos, expectativas,
padrões e preocupações. Essa definição enfatiza a natureza subjetiva, multidimensional e
inclusiva da qualidade de vida.

A qualidade de vida abrange uma variedade de elementos de avaliação, que podem ser
positivos ou negativos, e inclui: o bem estar espiritual, físico, mental, psicológico e
emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos e, também, saúde,
educação, habitação saneamento básico e outras circunstâncias da vida.

As lesões medulares são frequentemente graves e irreversíveis, exigindo um programa de


reabilitação de longo prazo para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados e
ajudá-los a se adaptar a uma nova realidade. As incapacidades e desafios enfrentados por
essas pessoas na reintegração social e no restabelecimento de suas vidas podem ter um
impacto significativo na sua qualidade de vida. Portanto, é um desafio para os
profissionais de reabilitação fornecer o apoio e os recursos necessários para ajudar esses
indivíduos a superar essas dificuldades.

Os programas de reabilitação para lesões medulares geralmente abordam a funcionalidade


física, a independência, a mobilidade, o treinamento em habilidades adaptativas, o suporte
psicológico e emocional, e a educação para promover a integração social. A qualidade de
vida dessas pessoas pode ser melhorada com o apoio de uma equipe interdisciplinar de
profissionais de saúde, incluindo fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos,
assistentes sociais e outros especialistas que trabalham em conjunto para ajudar na
adaptação e na reintegração na sociedade.

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Reabilitação da pessoa com lesão vertebro medular

A reabilitação de uma pessoa com lesão medular é um processo abrangente e contínuo


que visa melhorar a qualidade de vida, a independência funcional e a reintegração social
após uma lesão na coluna vertebral. O objetivo fundamental da reabilitação para pessoas
com lesão medular é restaurar as habilidades funcionais do indivíduo, de forma a permitir
que ele recupere a autossuficiência, autonomia e independência. Isso envolve o
restabelecimento da capacidade de realizar atividades diárias essenciais, como se vestir,
alimentar-se, realizar tarefas domésticas e, sempre que possível, voltar ao trabalho.

A reabilitação pode ajudar a melhorar a saúde mental e emocional do paciente,


proporcionando o apoio para enfrentar as complexidades da adaptação a uma lesão
medular e promovendo a participação ativa na sociedade. A reabilitação é uma jornada
contínua, e os objetivos podem evoluir ao longo do tempo à medida que o paciente
progride na recuperação.

Como etapas e considerações essenciais no processo de reabilitação temos:

• Avaliação Inicial: O processo de reabilitação começa com uma avaliação


completa da extensão e gravidade da lesão medular, bem como das necessidades
individuais do paciente. Isso inclui avaliações físicas, funcionais, cognitivas e
emocionais.

• Equipe Multidisciplinar: Uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde,


incluindo médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos,
assistentes sociais e outros especialistas, trabalha em conjunto para desenvolver
um plano de reabilitação personalizado.

• Reabilitação Física: A fisioterapia desempenha um papel fundamental na


recuperação da função física. Isso envolve a restauração da mobilidade,
fortalecimento muscular e treinamento de habilidades motoras.

• Reabilitação Funcional: A terapia ocupacional ajuda a pessoa a recuperar


habilidades essenciais para a vida diária, como se vestir, alimentar-se e realizar
tarefas domésticas.

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• Apoio Psicológico: A adaptação a uma lesão medular pode ser emocionalmente
desafiadora. A terapia psicológica ou aconselhamento podem ser necessários para
ajudar o paciente a lidar com questões de saúde mental, como ansiedade,
depressão e estresse pós-traumático.

• Educação e Treinamento: A pessoa com lesão medular e sua família recebem


treino e conhecimentos sobre a lesão, cuidados, prevenção de complicações e uso
de tecnologia de apoio.

• Tecnologia de apoio: A tecnologia desempenha um papel importante na melhoria


da qualidade de vida. Isso pode incluir o uso de cadeiras de rodas, dispositivos de
mobilidade, dispositivos de comunicação e adaptações domésticas.

• Aprendizagem do Autocuidado: Os pacientes aprendem a cuidar de suas


próprias necessidades, incluindo cuidados com a pele, cateterismo intermitente e
gerenciamento da bexiga e do intestino.

• Participação Social e Comunitária: A reintegração na comunidade é uma parte


crucial da reabilitação. Isso envolve a participação em atividades sociais, culturais
e recreativas, bem como a educação e o emprego, sempre que possível.

• Apoio Contínuo: A reabilitação da lesão medular é um processo contínuo. Os


pacientes geralmente continuam a receber suporte a longo prazo para enfrentar
desafios e manter sua independência.

A reabilitação é uma jornada contínua, e os objetivos podem evoluir ao longo do tempo


à medida que o paciente progride na recuperação.

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Definição de tetraplegia

Define-se tetraplegia como a redução ou perda da função motora e/ou sensitiva dos
segmentos cervicais, devido à lesão do tecido nervoso medular. Desta lesão pode resultar
a redução ou perda de função nos membros superiores, no tronco e nos órgãos
abdominais-pélvicos (ASIA, 2003).

A tetraplegia pode também ser definida como paralisia, a qual de acordo com a
Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE), 2011, pode ser
considerada como um diagnóstico de enfermagem, sendo descrita como: processo do
sistema musculosquelético comprometido: condição anormal caraterizada pela perda da
função muscular, perda da sensibilidade ou ambas; perda da capacidade para mover o
corpo ou partes do corpo, acompanhada de perda de controlo intestinal e vesical e por
dificuldade respiratória, associada a agressão, lesão neurológica e muscular ou
traumatismo vertebro medular, doença ou envenenamento. (Conselho Internacional de
Enfermeiros, 2011, p.66).

Figura 4-Tetraplegia (https://henriquenoronha.com.br/tetraplegia-o-


que-e-quais-as-causas-sintomas-tratamentos-e-muito-mais)

As características de uma pessoa tetraplégica variam com base na extensão e na gravidade


da lesão na medula espinhal. No entanto, há características gerais que podem ser
observadas em pessoas com tetraplegia:

21
1. Perda de Função Motora: A tetraplegia resulta em uma perda significativa ou
completa da função motora nos membros superiores (braços) e inferiores (pernas).
A extensão dessa perda depende do nível da lesão na medula espinhal.

2. Perda de Sensibilidade: Além da perda de função motora, a tetraplegia


frequentemente está associada à perda de sensibilidade nos membros afetados.
Isso significa que a pessoa pode não ser capaz de sentir calor, frio, pressão e outras
sensações nessas áreas.

3. Dificuldades Respiratórias: Lesões de tetraplegia mais altas, especialmente


aquelas que afetam a região cervical alta, podem levar a dificuldades respiratórias
devido ao comprometimento dos músculos respiratórios. Isso pode exigir o uso
de assistência respiratória.

4. Controle Intestinal e Vesical: A tetraplegia pode afetar o controle intestinal e


vesical. Muitas pessoas com tetraplegia requerem cateterismo intermitente ou
outras técnicas para esvaziar a bexiga, e podem precisar de cuidados específicos
para o controle intestinal.

5. Uso de Dispositivos de Mobilidade: Pessoas com tetraplegia frequentemente


usam cadeiras de rodas elétricas ou manuais para se locomover, bem como
dispositivos de mobilidade adaptados para auxiliar em atividades diárias.

6. Tecnologia de Apoio: A tecnologia de apoio desempenha um papel crucial na


vida de pessoas tetraplégicas, permitindo o uso de dispositivos e equipamentos
que auxiliam na comunicação, mobilidade e na realização de tarefas cotidianas.

7. Reabilitação e Terapia: A reabilitação desempenha um papel importante na vida


de pessoas com tetraplegia. Isso inclui terapia física e ocupacional para melhorar
a funcionalidade e a independência.

8. Apoio Social e Psicológico: O apoio da família e da comunidade, juntamente com


a assistência psicológica, é fundamental para ajudar a pessoa com tetraplegia a
enfrentar os desafios emocionais e sociais associados à lesão.

9. Independência e Autonomia: Muitas pessoas com tetraplegia aprendem a


adaptar-se e a encontrar maneiras de viver de forma independente, com o apoio
de cuidadores, tecnologia de apoio e estratégias de autocuidado.

22
É importante lembrar que cada pessoa com tetraplegia é única, e as características
específicas podem variar significativamente com base na lesão, na resposta à reabilitação
e na capacidade de adaptação. A assistência médica e o suporte social desempenham um
papel crucial em ajudar as pessoas com tetraplegia a levar uma vida plena e independente.

23
Complicações da Lesão Medular

O maior risco de potenciais complicações em pacientes manifesta-se quando a parte


neurológica, ou seja, raízes nervosas, nervos periféricos e medula, são afetadas.

As principais alterações fisiológicas observadas nesses pacientes incluem: choque


medular, choque neurogénico, trombose venosa profunda, disrreflexia autónoma, bexiga
neurogénica, intestino neurogénico, espasticidade, úlceras por pressão, pneumonias,
alterações psicossociais e infeções.

Choque Medular

O choque medular é caracterizado como um estado de completa arreflexia da medula


espinhal, que surge após um traumatismo grave na medula. Durante o período de choque
medular, que pode se manifestar imediatamente após o traumatismo da medula espinhal,
mesmo que a lesão medular não seja completa ou permanente, o paciente experimenta a
completa ausência de sensibilidade, movimentos e do reflexo bulbo cavernoso, que está
presente em condições normais. O retorno do reflexo bulbo cavernoso indica o fim do
choque medular, permitindo, assim, a avaliação da extensão da lesão neurológica causada
pelo trauma.

Choque neurogénico

Pacientes com lesão medular também podem experimentar uma queda na pressão arterial,
juntamente com bradicardia, o que caracteriza o chamado choque neurogénico. Nestes
pacientes, a lesão das vias eferentes do sistema nervoso simpático medular resulta em
vasodilatação dos vasos viscerais e das extremidades, juntamente com a perda do tónus
simpático cardíaco, o que impede a capacidade do paciente de aumentar a frequência
cardíaca. É importante reconhecer essa situação e distingui-la do choque hipovolémico,
no qual a pressão arterial está baixa e a frequência cardíaca está elevada. No caso do
choque neurogénico, a reposição de líquidos deve ser evitada para não sobrecarregar o
volume sanguíneo

Trombose venosa profunda

A vasodilatação e o acúmulo de sangue nas extremidades periféricas aumentam o risco


de trombose venosa profunda (TVP), especialmente nas extremidades inferiores. Esta é
uma complicação comum em pessoas com traumatismo raquimedular, devido à

24
imobilidade. A presença de TVP pode ser avaliada pela mensuração da circunferência da
panturrilha. A profilaxia é realizada através da terapia com anticoagulantes, uso de meias
elásticas e a execução de exercícios fisioterapêuticos que promovam a amplitude de
movimentos. O tratamento envolve também o posicionamento adequado do paciente no
leito, com ligeira elevação e movimentação passiva.

Disrreflexia autonómica

A disrreflexia autonómica é uma condição frequentemente observada em pacientes com


lesões na medula cervical acima do nível do fluxo simpático, mas também pode ocorrer
em pacientes com lesões torácicas altas acima de T6. Geralmente, está associada a
problemas na bexiga ou no intestino, especialmente a hiperdistensão. Até ao momento da
alta hospitalar, é fundamental que os pacientes estejam plenamente conscientes dos sinais
e sintomas da disrreflexia autonómica e saibam como direcionar as pessoas para ajudar a
identificar e eliminar a causa. Essa condição pode se manifestar a qualquer momento após
o período de choque medular.

A disrreflexia autonómica é uma disfunção vasomotora, também conhecida como crise


autonómica hipertensiva, desencadeada pela liberação do sistema nervoso autónomo em
resposta a um estímulo nociceptivo. Geralmente, ocorre em lesões acima de T5,
principalmente nas lesões cervicais. Seus sintomas incluem hipertensão arterial, sudorese
excessiva, vermelhidão facial, congestão nasal e dor de cabeça pulsante.

Bexiga neurogénica

Após uma lesão grave na medula espinhal, a bexiga frequentemente entra num estado
inicial de contração, e pacientes não tratados podem desenvolver retenção urinária aguda.
É importante que o volume de urina na bexiga nunca exceda 500 ml. Diferentes padrões
miccionais patológicos frequentemente persistem na fase crónica, dependendo do nível
da lesão neurológica e do grau de recuperação funcional. Esses problemas podem incluir
incontinência, infecções urinárias, formação de cálculos renais e danos renais
secundários. Um dos fatores de risco mais significativos para o desenvolvimento de
lesões renais é a falta de coordenação entre os músculos da parede da bexiga, conhecida
como dissinergia detrusor-esfíncter.

25
Intestino neurogénico

A lesão medular traz consigo mudanças significativas no funcionamento do corpo, e uma


delas, que muitas vezes é desafiadora para os afetados, diz respeito à função intestinal.
Antes da lesão medular, as pessoas não precisam de planear ou conscientemente
considerar os seus movimentos intestinais (evacuações). No entanto, após uma lesão
medular, a gestão dos movimentos intestinais requer mais tempo, atenção e planeamento.
Em geral, pessoas com lesão medular perdem a capacidade de sentir quando precisam de
eliminar fezes, sendo necessário um auxílio nesse processo. O intestino neurogénico é
uma condição que impacta o sistema corporal responsável pelo armazenamento e
eliminação de resíduos não digeridos dos alimentos. Após uma lesão medular, o sistema
nervoso não consegue controlar a função intestinal da mesma maneira que o fazia
anteriormente.

Espasticidade

O tónus muscular, que se refere à tensão involuntária basal de um músculo, pode variar
entre normal, diminuído ou aumentado. A diminuição do tónus muscular ocorre em
situações de paralisia devido a lesões no neurónio motor inferior.

Por outro lado, o aumento do tónus muscular está associado às fases aguda e crónica após
uma lesão no neurónio motor superior e é conhecido como espasticidade, que se manifesta
como um aumento do tónus muscular espástico. A espasticidade precisa ser distinguida
de outros tipos de hipertonia muscular, particularmente da rigidez, que é característica de
condições como a doença de Parkinson. A espasticidade, por sua vez, é um aspecto
complexo e multifacetado de uma condição conhecida como síndrome do neurónio motor
superior.

Úlceras por Pressão

A idade avançada, o estado de debilitação, a exposição prolongada à humidade


proveniente da transpiração, urina e fezes, o atrito e as forças de cisalhamento, juntamente
com a diminuição da perfusão sanguínea nos tecidos, são fatores que contribuem para o
desenvolvimento de úlceras de pressão. Além disso, certos equipamentos, como
aparelhos gessados, tração e contenção, desempenham um papel na formação dessas

26
úlceras. O tipo de leito, colchão, almofadas e cadeira também podem influenciar na
ocorrência de úlceras de pressão.

Pneumonias

A pneumonia continua a ser uma causa significativa de morte em pessoas com tetraplegia.
Pacientes com tetraplegia ou paraplegia alta enfrentam um risco aumentado de infeções
devido à paralisia do diafragma e/ou dos músculos intercostais, o que compromete a
capacidade de eliminar secreções respiratórias. A presença de traqueostomia ou intubação
endotraqueal aumenta ainda mais o risco de infeção.

Além disso, o risco de pneumonia por aspiração é substancial, especialmente na fase


aguda, quando ocorre uma diminuição do nível de consciência, problemas de
esvaziamento gástrico (gastroparesia) e íleo paralítico. Esses fatores combinados tornam
as infeções respiratórias, como a pneumonia, um risco significativo para indivíduos com
lesão medular alta.

Alterações psicológicas

Na fase aguda de uma lesão medular, os indivíduos frequentemente experimentam uma


ampla onda de emoções, incluindo sentimentos de desespero, dormência, medo,
esperança e raiva. Essa montanha-russa emocional pode ser caótica e desorganizada,
especialmente porque é frequentemente acompanhada de um período obrigatório de
repouso, durante o qual ocorre um estado de privação sensorial.

A transição da incapacidade súbita para a necessidade de levar uma vida mais organizada
pode levar a um longo período de adaptação. É importante reconhecer que esse processo
de ajuste pode se estender por até dois ou três anos e o não reconhecimento dessa realidade
pode prejudicar o processo de reabilitação do paciente.

Identificar esses desafios emocionais e oferecer terapia psicológica pode ajudar os


indivíduos a superar essas complicações e a enfrentar o processo de adaptação com maior
sucesso.

27
Dor neuropática
DOR é, segundo a definição da International Association for the Study of Pain (IASP),
uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante à
associada, a danos reais ou potenciais nos tecidos.

A dor constitui um dos principais motivos para a procura de cuidados de saúde por parte
da população em geral. Além de causar sofrimento e diminuir a qualidade de vida, a dor
desencadeia alterações fisiopatológicas que podem contribuir para o surgimento de
condições médicas adicionais e desencadear modificações tanto físicas quanto
psicológicas, perpetuando o quadro doloroso.

A Lesão Medular (LM) é reconhecida como um sério problema de saúde pública e


consiste numa lesão na medula espinhal que pode resultar na perda parcial ou total da
capacidade motora. Esta lesão frequentemente desencadeia a dor neuropática, uma forma
de dor intensa de difícil controle, causada por lesões ou inflamações no sistema nervoso.

De acordo com a IASP (2014), a dor neuropática é definida como “uma dor iniciada ou
causada por lesão primária ou disfunção do sistema nervoso somatossensorial”, sendo
normalmente manifestada por dor intensa e persistente, podendo ser espontânea,
associada a sensações de queimação e alfinetadas, hiperalgesia e/ou alodinia.

28
Anamnese

Identificação pessoal
Nome: J.B
Idade: 58 anos
Género: Masculino
Estado civil: Divorciado

Dados Gerais
Motivo de admissão O utente deu entrada na Unidade de Cuidados Continuados
Integrados de Média Duração e Reabilitação no dia
27/09/2023 para reabilitação neuromotora e funcional de
sequelas de lesão medular por fratura-luxação C6-C7,
(tetraplegia).

Antecedentes Pessoais • Cirrose hepática alcoólica,


• Hipertensão arterial essencial,
• Excesso de peso, Pólipos gastrointestinais
(colonoscopia 23/02/2019; histologia: Adenoma
tubular com displasia de baixo grau),
• Hemorroidas internas, Litíase da vesícula biliar.
• Cirúrgicos: correção de hérnia umbilical, cataratas
bilaterais operadas em 2021.

29
Alergias Medicamentosas Sem Informação
Hábitos tabágicos Não
Hábitos alcoólicos Sim
Hábitos de consumo de drogas Não
Dieta: Mole

Terapêutica habitual • Pantoprazol 40 mg - 1 comprimido em jejum;


• Sertralina 50 mg - 1 comprimido ao pequeno-
almoço;
• Espironolactona 25 mg - 1 comprimido ao
pequeno-almoço;
• Furosemida 20 mg - 1 comprimido ao
pequeno-almoço;
• Carvedilol 3.125 mg - 1 comprimido ao
pequeno-almoço;
• Bisacodilo 5 mg - 2 comprimidos, às 13h e às
19h;
• Macrogol + Bicarbonato de sódio + Cloreto
de potássio + Cloreto de sódio Pó sol, 1 SQE.-
3x dia, às 7 h - 13 h - 19 h;
• Lactulose 10 g/15 ml Xar Saq 15 ml- 3x dia,
às 7 h - 13 h - 19 h;
• Bisacodilo 10 mg Sup, SOS até 1
comprimido;
• Captopril 25 mg 1cp em SOS até 2
comprimidos;
• Tiamina 100 mg Comp, 100 MG, 1
comprimido ao pequeno-almoço + almoço e
jantar;
• Colecalciferol 22400 U.I. Comp, 22400 UI,
Cada 4 semanas, às 13 h;

30
• Tramadol 100 mg/ml Solução oral Fr 10 ml,
25 MG, às 7 h;
• Morfina 20 mg/ml Solução oral Fr 20 ml, 3
MG, ORAL, SOS;
• Trazodona 100mg -1 comprimido ao deitar;

Terapêutica Prescrita • Pantoprazol 40 mg - 1 comprimido em jejum às 9h;


• Espironolactona 25 mg - 1 comprimido ao pequeno-
almoço
• Sertralina 50 mg Comp - 1 comprimido ao pequeno-
almoço
• Tramadol 50mg Cáps - 1 comprimido ao pequeno-
almoço
• Tiamina 100 mg Comp, 100 MG - 1 comprimido ao
pequeno-almoço + almoço e jantar
• Bisacodilo 5 mg Comp - 1 comprimido às 19h
• Clonazepam 0,5 mg - 3 comprimidos às 19h
• Trazodona 100mg - 1 comprimido ao deitar 21h
• Colecalciferol 22400 U.I. Comp, 22400 UI, Cada 4
semanas, 12h
• Lactulose 666,7mg/ml Xar Fr 200ml pequeno-
almoço + almoço e jantar (15ml por toma)
• Macrogol + Bicarbonato de sódio + Cloreto de
potássio + Cloreto de sódio Pó sol, 1 SQE -3 x dia,
9 h - 12 h - 19 h.
• Bisacodilo 10 mg Sup- SOS
• Morfina 20 mg/ml Sol oral Fr 20 ml, 3 MG,
SOLUÇAO ORAL, ORAL- SOS

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Observação física sistematizada

No momento de admissão na UMDR de Bragança, o utente encontrava-se consciente,


aparentemente orientado no tempo, espaço e pessoa.

Apresenta discurso fluente e ligeira hipofonia.

Dependente em grau elevado nas AVD´s, exceto na alimentação, que necessita de ajuda
parcial.

Segundo o utente, sem alteração na deglutição. Oferecida dieta mole e água sem
espessante, sem intercorrências.

Deslocado em cadeira de rodas.

Utente com bexiga neurogénica. Apresenta sonda vesical, sem indicação da data de
colocação, com drenagem contínua de urina clara.

Incontinente fecal.

Apresenta integridade cutânea alterada por UP de grau I na região sagrada.

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Farmacologia prescrita

Medicamento Via e Grupo Indicações terapêuticas Reações adversas


dosagem Terapêutico
Bisacodilo Oral, Modificadores da - Promove defecação (laxante) Os efeitos indesejáveis
5mg mobilidade - Preparação de mais comuns durante o
gastrintestinal exames endoscópicos ou tratamento são dor
radiológicos, abdominal e diarreia.
cirurgia gastrintestinal
Colecalciferol Oral, Vitaminas - Tratamento da insuficiência Pode ocorrer reação de
22400 lipossolúveis (vit. ou deficiência de vitamina D, hipersensibilidade, nível
U.I. B3) raquitismo refratário, elevado de cálcio no
hipofosfatemia familiar e sangue (hipercalcémia),
hipoparatiroidismo, e na gestão demasiado cálcio na sua
de hipocalcémia e urina (hipercalciúria),
osteodistrofia renal em náusea, diarreia, dor
pacientes com insuficiência abdominal, prurido,
renal crónica em diálise. exantema e urticária.

Clonazepam Oral, Antiepiléticos e - Epilepsia, estado de mal - Fadiga, sonolência,


1.5mg Anticonvulsivantes epilético; cansaço, diminuição da
- Crises mioclónicas e atónicas tonicidade e fraqueza
(síndrome de Drop). muscular, vertigens,
- Intolerância à luz, falta de
controlo dos músculos e
diminuição da capacidade
de reação.
Espironolactona Oral, Anti hipertensores Tratamento de: hipertensão - Hipercaliémia;
25mg diuréticos arterial e/ou insuficiência - Hiponatrémia;
cardíaca, como tratamento - Reações gastrintestinais;
complementar em doentes que - Parestesias;
não respondem adequadamente
a outros tratamentos;

33
- Rash cutâneo, prurido,
cefaleias, confusão mental,
apatia e tonturas.
Lactulose Oral, Modificadores da - Tratamento de sintomas de - diarreia e distúrbios do
15ml Motilidade obstipação; equilíbrio eletrolítico;
Gastrintestinal - Tratamento de doença - Com o aumento da dose,
hepática específica verifica-se uma diminuição
(encefalopatia porto-sistémica) do valor do pH no cólon;
- Flatulência;
Macrogol + Oral, 1 Modificadores da Indicado para o tratamento da - Reações alérgicas.
Bicarbonato de saqueta Motilidade obstipação intestinal. - distensão abdominal e
sódio + Cloreto Gastrintestinal Para o tratamento da obstipação dor, borborigmos e náusea.
de potássio + crónica.
Cloreto de sódio

Morfina Oral, 10 Analgésicos e - Dor intensa; - Indução de dependência


(SOS) mg Estupefacientes - Sedação pré-operatória e física;
adjuvante da - Tonturas, sedação,
anestesia; náuseas, vómitos e
- Dor associada ao enfarte do sudação, euforia, disforia,
miocárdio; estados confusionais,
- Tratamento adjuvante do insónia, agitação, medo,
edema pulmonar agudo alucinações, sonolência,
incoordenação dos
movimentos, alteração do
humor, cefaleias, alteração
da visão, miose, tremor,
convulsões, dor abdominal,
alterações do gosto, boca
seca, anorexia e
obstipação; calafrios,
colapso da circulação
periférica, taqui/bradi

34
cardia, arritmia, híper/hipo
tensão e síncope;
- Redução reflexo da tosse,
parestesias, prurido,
laringospasmo, rigidez.
Pantoprazol Oral, Antiácidos e anti Tratamento de doenças - Perda de peso
40mg ulcerosos relacionadas com o ácido do involuntária;
(inibidores da estômago e intestino; - Vómitos repetidos;
bomba de protões) - Tratamento de sintomas (azia, - Disfagia;
regurgitação ácida, dor ao - Vómitos com sangue;
engolir) - Palidez, sensação de
- Refluxo gastroesofágico fraqueza (anemia)
causada por refluxo de ácido a - Sangue nas fezes;
partir do estômago. - Diarreia grave e/ou
- Tratamento de manutenção de persistente;
esofagite de refluxo - Obstipação; boca seca;
- Prevenção de úlceras gástricas dor e desconforto
e duodenais induzidas por abdominal;
medicamentos anti- - Distúrbios do sono;
inflamatórios não esteroides.
Sertralina Oral, Psicofármacos Tratamento de: -Náusea.
50mg Antidepressivos - Episódios depressivos major. -Reação alérgica ou
tricíclicos e afins - Prevenção de recorrência de alergia, que podem incluir
episódios depressivos major. sintomas como uma
- Perturbação de pânico, com ou erupção cutânea com
sem agorafobia. comichão, dificuldade em
- Perturbação Obsessiva- respirar, pieira, edema das
Compulsiva (POC) em adultos pálpebras, cara ou lábios;
e doentes pediátricos com 6-17 - O doente pode revelar:
anos de idade. agitação, confusão,
- Perturbação de ansiedade diarreia, temperatura e
social. tensão altas, transpiração

35
- Perturbação de Stress Pós- excessiva e batimentos
Traumático (PTSD). cardíacos acelerados.
Tiamina Oral, Associações de - Profilaxia de avitaminoses do Estão descritos casos de
100mg Vitaminas do complexo B e vitamina C. erupção cutânea, ligeira e
complexo B e C transitória, na sequência da
administração de
Mononitrato de Tiamina
Tramadol Oral, Analgésicos Prevenção e tratamento da dor - Crises epiléticas;
50mg Estupefacientes moderada ou grave, de caráter -Náuseas, tonturas,
agudo, subagudo ou crónico: vómitos;
- Dor do pós-operatório; - Obstipação;
- Dor do trabalho de parto; - Sudação;
- Dor do enfarte agudo do - Secura da boca;
miocárdio; - Cefaleias;
- Dor traumática; - Sonolência;
- Dor oncológica. - Ânsia de vomitar;
-Irritações gastrointestinais
(sensação
De pressão no estômago;
-Reações cutâneas
(prurido,
exantema, urticária).

36
Cuidados / Diagnóstico de enfermagem

Grau de
Foco dependência/ Intervenções Horário
Status
o Trocar fralda;
o Otimizar fralda;
Autocuidado: Uso Dependente o Vigiar eliminação intestinal; Sem horário
do Sanitário Total o Vigiar eliminação vesical.

o Executar algaliação;
o Remover sonda vesical;
Algaliação/ Incontinência o Trocar sonda vesical; Sem horário
cateterização vesical vesical o Vigiar permeabilidade de sonda
vesical;
o Registar débito urinário.
o Dar banho;
o Ensinar sobre estratégias
adaptativas para o autocuidado;
o Providenciar equipamento
adaptativo para o autocuidado; 9h
Autocuidado: Dependente o Treinar o autocuidado;
Higiene Total o Treinar o uso de equipamento
adaptativo para o autocuidado;
o Pentear cabelo;
o Lavar boca.
o Providenciar roupa;
o Vestir pessoa;
Autocuidado: o Ensinar sobre estratégias 9h
Vestuário Dependente adaptativas para o autocuidado;
Total o Incentivar ao autocuidado.

37
o Ensinar no autocuidado;
o Ensinar sobre estratégias 9h
adaptativas para o autocuidado; 12h
o Incentivar a pessoa a alimentar-se; 16h
Autocuidado: Dependente o Vigiar a refeição; 19h
Alimentar-se Parcial o Incentivar a ingestão de líquidos; 22h
o Inspecionar cavidade oral depois
da refeição.

o Providenciar equipamento
adaptativo para o posicionamento;
o Posicionar a pessoa; De 2 em 2 horas
Autocuidado: Dependente o Massajar a região corporal;
Posicionar-se Total o Deitar o utente.

o Transferir a pessoa; 9h
Autocuidado: o Instruir a pessoa sobre a técnica de 12h
Transferir-se Dependente transferência. 16h
Total 19h
21h
o Monitorizar SpO2;
o Monitorizar temperatura corporal;
o Monitorizar dor através da escala
da dor; 9h
Sinais Vitais o Monitorizar sinais vitais;
o Vigiar dor.

o Gerir analgesia; 7h
Dor Presente o Vigiar dor. 14h
21h

38
o Aplicar creme;
o Massajar região corporal;
o Vigiar pele;
o Providenciar equipamento para
Pele/Prevenção de Presente alívio da pressão; Sem horário
Feridas o Aliviar zona de pressão através da
almofada;
o Monitorizar risco de úlcera de
pressão através da escala de
Braden.
o Elevar os membros edemaciados;
Presente o Massajar os membros
Edemas edemaciados; Sem horário
o Vigiar edema.
o Vigiar a presença de fecalomas;
Moderada o Incentivar a ingestão de líquidos;
Obstipação o Promover a ingestão hídrica. Sem horário

o Aplicar creme;
o Avaliar risco de úlcera de pressão
Risco de úlcera por Elevado recorrendo à Escala de Braden; Sem horário
pressão o Vigiar sinais de úlcera de pressão;
o Alternação de decúbitos;
o Aplicar superfícies de apoio para
alívio da pressão.
o Avaliar risco de queda
o Aplicar dispositivo de
Risco de Queda Médio imobilização Sem horário
o Baixar cama
o Elevar grades da cama

39
o Incentivar execução de técnica de
Risco de rigidez exercício muscular e articular;
articular Elevado o Supervisionar exercícios Sem horário
musculares e articulares ativos;
o Avaliar movimento articular.
o Avaliar a capacidade para
Não comunicar; Sem horário
Comunicação comprometida o Incentivar a pessoa a comunicar.
o Executar a estimulação sensitiva;
o Avaliar sensibilidade;
Défice sensorial Melhorado o Incentivar a execução de exercício Sem horário
muscular e articular.
o Avaliar capacidade de deglutição;
Não o Gerir a dieta;
Deglutição comprometida o Posicionar a pessoa; Sem horário
o Supervisionar a deglutição.
o Executar a técnica de massagem;
Espasticidade Grau Moderado o Incentivar a execução de exercício
muscular e articular ativo- Sem horário
assistido;
o Executar técnica de relaxamento.

40
Avaliação

À data desta avaliação, o utente encontra-se consciente, aparentemente orientado no


tempo, espaço e pessoa. Apresenta discurso fluente e ligeira hipofonia.

Utente com períodos de humor deprimido. Dependente em grau elevado nas AVD´s,
exceto na alimentação, que necessita de ajuda parcial, na preparação do parto e corte
dos alimentos.

Utente avaliado por terapia da fala, tem indicação para evoluir na dieta, realiza dieta
ligeira hipossalina fracionada+ água, sem sinais de disfagia/engasgamentos, apresenta
alguns períodos de recusa alimentar.
Na eliminação utente mantem SV funcionante, realgaliado a 30/09/2023, com SV
nº20 de longa duração, utente com baixos débitos urinários de urina concentrada e
cheiro fétido. Realizados ensinos e estimulada a hidratação que o utente desvaloriza.
Utente com perdas urinárias extra-algalia. Mantém incontinência fecal, transito
intestinal regularizado com a administração de emolientes diários.
Na mobilização utente realiza levante diário para cadeira de rodas no qual pouco
colabora, por vezes realiza ligeira carga nos membros inferiores, apresenta equilíbrio
deficitário em sedestação e aumento da espasticidade com necessidade de
reposicionamento frequente. No leito, o utente consegue lateralizar-se sem ajuda.
Pele e mucosas hidratas e ligeiramente descoradas. Apresenta integridade cutânea
mantida. UP grau I na região sagrada com boa evolução cicatricial, aplicados ácidos
gordos hiperoxigenados.
Sinais vitais avaliados diariamente, utente com padrão tensional para a hipotensão.
A 13/10/2023, o utente foi inoculado com a vacina da gripe sazonal e COVID-19,
sem intercorrências.
Recebe visitas regulares dos familiares.
Sem intercorrências desde a admissão.
Não evidencia estar consciencializado das suas limitações funcionais e da importância
do processo de reabilitação.
Considerando expetável que o utente mantenha a dependência de terceiros após a alta
da RNCCI, o que, associado à incapacidade da retaguarda familiar em acolher o utente
e assegurar a continuidade de cuidados e suporte nas AVD’s, a família foi informada

41
que a resposta adequada para o pós alta será a institucionalização em ERPI ou Família
de Acolhimento.

42
AVALIAÇÃO DO RISCO DE ÚLCERA DE PRESSÃO - ESCALA DE BRADEN
Percepção sensorial: 3.Ligeiramente limitada:
Humidade 4. Pele raramente húmida:
Atividade 2.Sentado
Mobilidade: 2. Muito limitada:
Nutrição: 3. Adequada:
Fricção e forças de 1. Problema
deslizamento:
Risco: Risco Elevado
Pontuação: 15

AVALIAÇÃO DO RISCO DE QUEDA - ESCALA DE MORSE


Antecedentes de Quedas: Sim
Diagnóstico Secundário: Sim
Apoio para Deambulação: Nenhum/Apoiado/Acamado
Medicação e/ou Heparina Não
Intravenosa:
Marcha: Normal/Acamado/Cadeira de Rodas
Estado Mental: Consciente das suas limitações
Classificação: Médio Risco (40)

AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA - ESCALA DE


GLASGOW
Abertura ocular 4.Espontânea
Melhor resposta motora 6.Obedece
Melhor resposta verbal 5.Orientado/Balbucia

43
Conclusão

A lesão vertebro medular resulta de um trauma que atinge a coluna vertebral causando
danos estruturais e/ou neurológicos na mesma e na medula espinhal. O prognóstico de
recuperação depende da região afetada e da gravidade da lesão, sendo deste modo
classificada segundo ASIA de A a E entre lesão completa, incompleta e normal, quanto
ao nível de função sensitiva e motora preservadas.

A tetraplegia corresponde a uma diminuição ou perda da função motora e ou sensitiva ao


nível dos segmentos cervicais podendo se verificar a partir dos membros superiores e
tronco. Este diagnóstico pode implicar outras condições como choque medular ou
neurogénico, trombose venosa profunda, disrreflexia autónoma, bexiga e intestino
neurogénico, espasticidade, úlceras por pressão, pneumonias, alterações psicossociais e
infeções. Deste modo, o enfermeiro tem um papel fundamental na prevenção destas
condições através de cuidados de saúde individualizados focados na manutenção da
qualidade de vida do utente.

Em suma, a vida dos indivíduos é afetada em variados aspetos sendo necessário apoio
familiar e da equipa multidisciplinar que acompanha o utente para lidar com as limitações
deste contexto para que seja preservada a sua autonomia e independência. É assim crucial
a reabilitação após esta mudança brusca no seu modo de vida, para o qual é importante
que adquira competências.

Concluímos que através da realização deste estudo de caso tivemos a oportunidade de


obter mais conhecimentos sobre esta patologia através de pesquisa e da análise da
anamnese do nosso utente, percebendo assim a importância do papel do enfermeiro no
internamento em cuidados continuados de um utente com lesão medular.

44
Bibliografia:

American Spinal Injury Association (2003). References Manual of the International


Standards for Neurological Classification of Spinal Cord Injury. Chicago: ASIA.

Cardoso, J. (2000). “Adaptação psicológica à lesão vertebro-medular: Da centralidade


da doença à centralidade do sujeito”. In Ribeiro, J.L.P. et al., Actas do 3º Congresso
Nacional de Psicologia da Saúde. Lisboa: Instituto Superior de Psicologia Aplicada,
401-408

Conselho Internacional de Enfermeiros (2011). Classificação Internacional para a


Prática de Enfermagem. (CIPE): versão 2. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros

DeVivo, M. J. (2012). Epidemiology of traumatic spinal cord injury: trends and future
implications. Spinal Cord Medicine. Baltimore, Md: Lippincort Williams e Wilkins.
Vol. 1 (2002), p. 69-81.https://doi.org/10.1038/sc.2011.178

IASP. (2014). Spinal Cord Injury Pain: Assessment, Mechanisms, Press, 2002. 443
ISBN 0- 931092-43-4. Disponível em: http://www.iasp-pain.org

SCHNEIDER, Frederick J. – Lesão Medular Traumática. Fisioterapia Neurológica. 2.a


ed. Brasil: Manole, (1994) p. 421-481.

Seeley, R.; Stephens, T.; Tate, P.(2001) – Anatomia e Fisiologia. 3ª ed.Lisboa:


Lusodidacta, 2001. ISBN 972-96610-5-7

THELAN, Lynne A. [et al.] – Enfermagem em Cuidados Intensivos: Diagnóstico e


Intervenção. 2.a ed. Lisboa: Lusodidacta, 1996. ISBN 972-96610-2-2.

45
Anexos

46
Anexo I

Escala ASIA - International Standards for Neurological Classification of Spinal Cord


Injury (ISNCSCI)

47
Tabela 1 - Escala ASIA

Fonte: American Spinal Injury Association (2019). Obtido em 3 de novembro de 2023, de


https://asia-spinalinjury.org/wp-content/uploads/2019/10/ASIA-ISCOS-
Worksheet_10.2019_PRINT-Page-1-2.pdf

48
Anexo II
Escala de Braden para avaliação de úlceras de pressão

49
Tabela 2 - Escala de Braden

Fonte: Orientação nº 17/2011. (2011). Escala de Braden: Versão Adulto e Pediátrica (Braden Q).
Direção-Geral de Saúde. Lisboa. Obtido em 3 de novembro de 2023, de
https://www.spp.pt/UserFiles/file/EVIDENCIAS%20EM%20PEDIATRIA/ORIENTACAO%2
0DGS_017.2011%20DE%20MAIO.2011.pdf

50
Anexo III
Escala de Quedas de Morse

51
Tabela 3- Escala de Morse

Fonte: Norma nº 008/2019 de 09/12/2019. Prevenção e Intervenção na Queda do Adulto em


Cuidados Hospitalares. Obtido em 3 de novembro de 2023, de https://www.dgs.pt/directrizes-da-
dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0082019-de-09122019-pdf.aspx

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