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ANEXOS PEDAGÓGICOS
Coimbra – 2022
1
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Mestrado Integrado de Medicina
SUMÁRIOS ALARGADOS
Ortopedia Essencial
(HAND-OUTs)
Estes textos devem estimular a presença nas aulas, para visualização de casos clínicos e de
iconografia referente às patologias descritas.
2
Pg.
FRATURAS .............................................................................................................................. 4
José Casanova e Isabel Ferreira
TUMORES ................................................................................................................................ 57
José Casanova e Ruben Fonseca
LESÕES DO JOELHO
MEDICINA DESPORTIVA .................................................................................................. 345
José Casanova, Fernando Fonseca e João Pedro Oliveira
Conceitos essenciais
SINAIS CLÍNICOS
PROBABILIDADE
◼ Dor – Local e dor viva sobre o osso (despertada pela palpação digital).
CERTEZA
Classificação:
1. Etiologia
4
2. Anátomo-Patológica
3. Traço
1. Etiologia
região óssea (exemplo: fratura da diáfise do cúbito por agressão no local com um
ferro)
por transmissão das forças ao longo do eixo do membro (exemplo: queda sobre a
5
Traumatismo indireto – fratura clavícula
marcha)
6
• Radiologicamente o traço de fratura pode ser tão subtil que o calo de reparação se
normal e fisiológico
• Muitas vezes o seu processo de cura está muito mais evoluído que a sua tradução
radiológica
metabólicas).
7
2. Anátomo-patológica
• Toda a fratura que comunica com o exterior, através de uma solução de continuidade
da pele
Os primeiros cuidados são dirigidos para o doente em si. A avaliação do estado clínico do
orgânicos envolvidos) ou polifraturado (mais que um osso fracturado) deve ser realizada.
8
Todas as lesões envolventes dos tecidos moles também devem ser avaliadas e tidas em
conta.
Despiste de uma síndrome compartimental deve ser considerada neste tipo de doentes
nervoso do membro).
GRAU I – Lesão cutânea de 1cm ou menos, limpa. Mais frequente com um mecanismo que
produz a lesão, de dentro para fora. O inverso pode estar presente. Contusão muscular
mínima.
GRAU II – Laceração cutânea >1cm, com lesão extensa dos tecidos moles, com esmagamento
mínimo a moderado.
GRAU III – Lesões extensas nos tecidos moles, pele, músculos e estruturas neurovasculares.
esmagamento significativo.
9
GRAU III A – Laceração extensa dos tecidos moles, com cobertura óssea adequada.
GRAU III B – Lesão extensa dos tecidos moles com arrancamento do periósteo e exposição
óssea.
GRAU III C - Indica lesão vascular requerendo reparação. A presença associada de lesão
TRATAMENTO – PRINCIPIOS
◼ 2- Lavagem abundante
◼ 5- Imobilização provisória
◼ 6- Imunização antitetânica
Embora muita desta atuação decorra em meio hospitalar, num Centro de Saúde mais
operatória posterior
11
Em fraturas expostas de grau III
procedimento este, que deve ser realizado o mais precocemente possível. Uma
final da ferida será realizada antes do final da primeira semana (período ideal – 3º
ao 5º dia).
operatória nas duas horas seguintes e aí realizar todo o tratamento. Se esse período
for maior, ou não houver previsibilidade temporal para colocar o doente no bloco
imobilização provisória.
12
Relação fraturas expostas / Infeção
desbridamento nas primeiras 6 horas. (Estudo realizado na época em que não havia
antibióticos)
desbridadas até ao final das primeiras 12 h ou após estas, tendo verificado uma
◼ Dellinger encontrou uma taxa de infecções três vezes superior nas fracturas
22% dos casos, o que significa que só 1 em cada 4 casos infectados, se pode imputar
• Lesão nervosa
13
• Ferida contaminada – com terra, estrume, óleo, tintas, produtos corrosivos, ocorra
14
3. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TRAÇO
15
FRATURAS
COMPLICAÇÕES
◼ 1- Intrínsecas
◼ 2- Extrínsecas
COMPLICAÇÕES INTRÍNSECAS
◼ 1-Infecção
◼ 2- Atraso de consolidação
◼ 3- Pseudartrose
◼ 5- Necrose avascular
◼ 6- Dismetrias
◼ 8- Artroses
união – pseudartrose-.
16
Ferida com supuração
Exposição óssea
2 – Atraso de Consolidação
mês.
17
3. NÃO UNIÃO ou PSEUDARTROSE
• Fibrosa – na qual o espaço fraturário está cheio de tecido conjuntivo fibroso denso.
18
Cartilagínea
sinoviais.
• Uma vez que a fibrocartilagem não contém vasos sanguíneos, a união através do
fractura.
19
• Consequência designação de pseudartrose hipertrófica e terminologia
CAUSAS de PSEUDARTROSE
Osteonecrose.
20
• 4- Infeção
• Redução imperfeita
• Contensão insuficiente
5. NECROSE AVASCULAR
21
• Os segmentos ósseos sujeitos a necrose avascular têm particularidades de irrigação
que permitem ao traço de fratura torná-los avasculares. Essas zonas são: cabeça do
semilunar.
• Deformidades
• Artroses.
6. DISMETRIAS
22
• Atraso de crescimento (paragem)
• Estimulação do crescimento.
8. ARTROSES
• Causa principal fracturas das superfícies articulares que se reduzem sem uma
perfeita congruência.
• Necrose avascular.
COMPLICAÇÕES EXTRÍNSECAS
• - Lesões nervosas
• - Lesões tendinosas
• - Lesões viscerais
LESÃO VASCULAR
23
• LESÃO INDIRECTA
o Síndrome do compartimento
• Diagnóstico:
Dor espontânea excessiva; Ausência de pulso radial; Palidez ou cianose dos dedos; Mau
• Tratamento:
É urgente para evitar as sequelas que originarão a contractura isquémica de Volkman, uma
retração irreversível em garra fixa dos dedos por atrofia fibrosa dos músculos do
antebraço. Fazer:
24
- Redução imediata da fractura se a oclusão ocorre antes dela, logo causada pelo topo
proximal do úmero;
imobilizar em extensão.
LESÕES NERVOSAS
• 1- NEUROPRAXIA
Lesão mínima (contusão) que perturbou a função dos axónios e recupera em algumas
semanas.
• 2- AXONOTEMESES
Refere-se a uma lesão suficiente para destruir axónios, mas não as bainhas onde estão
25
crescimento de cerca de um milímetro por dia a partir do ponto da lesão. A recuperação
total poderá demorar meses, mas pode ser seguida pelos progressos de reenervação
motora e sensitiva dos vários ramos do nervo em sentido distal desde o ponto da lesão.
• 3- NEUROTEMESE
impossível.
Microcirurgia.
SÍNDROME COMPARTIMENTAL
• Pode surgir em qualquer área corporal que se encontre rodeada por fáscias de
pressão venosa > aumento do edema > ultrapassagem da pressão arterial >
início da isquémia.
capilar > Saída de líquidos espaço extra-celular > Aumento da pressão >
necrose.
• Clínica:
Parestesias
Palidez
Ausência de pulsos
• Tratamento:
Fasciotomias
• Choque
• Embolia gorda
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• Rigidez articular
• Miosite ossificante.
• É o mais frequente;
• Hipovolémico 1 a 2 litros;
EMBOLIA GORDA
da pálpebra inferior).
• Pode surgir (?) pela penetração da gordura libertada pela medula óssea na corrente
sanguínea.
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• Surge uma agregação de lípidos plasmáticos em micro-glóbulos de gordura, de
RIGIDEZ ARTICULAR
• Não forçar.
• Imprevisível
• Ca e fisioterapia.
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RX – manchas em pele de zebra ou pele de tigre
MIOSITE OSSIFICANTE
31
32
Infeção
Osteoarticular
Conceitos essenciais
OSTEOMIELITE
Infeção óssea (infeção do tecido ósseo e canal medular)
Também se pode designar por OSTEÍTE.
Patogenia
• Inflamação aguda origina aumento pressão intra-óssea e trombose intravascular
• Supuração produz abcesso subperióstico que pode drenar para os tecidos moles
• Passagem da infeção para a epifise pode originar artrite séptica
• Morte óssea em dias
• Fragmentos de osso morto destacam-se no canal medular – sequestros
• Formação de osso novo abaixo das camadas de periósteo levantado – involucro
• Se o controlo da infeção for rápido a cura pode ocorrer
33
• Se a infeção não for controlada – osteomielite crónica
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◼ Organismos
- Estafilococos aureus – o organismo mais comum em osteomielites, osteomielite aguda
hematogénica(90%) e infeção em leitos de implantes ortopédicos;
- Estreptococos Grupo B – Crianças com menos de 1 ano
Haemophilus influenza – Crianças 1 a 16 anos de idade
Pseudomonas aeruginosa – nasocomial, feridas punctiformes pés
Pasteurella multocida – Mordedura de animal
Eikinella corrodens – Mordedura humana
Salmonella – doença de células falciformes
Anaerobios – ulceras diabéticas
Candida albicans, Aspergillus e micobactérias atipicas – imunodeprimidos
Escherichia coli – neonatal
Neisseria gonorrhoeae – artrite séptica em adultos jovens sexualmente activos.
Clínica
Apresentam sinais e sintomas de inflamação aguda.
Exemplo: criança:
Criança com osteoalgias, mau estar e febre
Impotência funcional e redução movimentos articulares
Sinais precoces de inflamação são discretos
Infeção tardia com abcesso tecidos moles e fistula
35
Confirmação diagnóstico – aspiração de pús do abcesso dos tecidos moles ou da
metáfise
Laboratório
PCR elevada em 98% dos casos
VS elevada em 90% casos
Hemoculturas positivas 30%
Leucocitose 25%
Diagnóstico imagiológico
A radiologia não apresenta alterações antes do 7º dia (consenso 5 a 7 dias), mas pode
mostrar edema dos tecidos moles e perda da definição dos planos teciduais.
Cintigrafia – acuidade de 92% - identificação de foco ou focos
RMN – sensibilidade de 88 a 100%.
Identifica - edema medular e dos tecidos moles; presença de abcessos; planeamento
cirúrgico na ausência de resposta ao tratamento
TAC- formação de abcesso e alterações ósseas – útil numa fase mais tardia.
Diagnóstico diferencial
Celulite
Artrite supurada aguda
Sarcoma de Ewing
Febre reumática
Agudização em D. Falciforme
Tratamento
Abcesso subperióstico deve ser drenado (inicialmente por aspiração)
Imobilizar membro
Antibioterapia agressiva (Flucloxacilina 1ª escolha) – melhorias ao fim de 48 horas –
em caso negativo cirurgia
Duração total da antibioterapia (com ou sem cirurgia) – 4 a 6 semanas.
36
Analgesia e fluidos ev
Falência tratamento conservador – cirurgia:
- Evacuação de conteúdos purulentos
- Desbridamento tecidos desvitalizados; na osteomielite crónica um desbridamento
alargado deve ser realizado, com excisão de sequestros
- Furagens cortical metafisária
- Colheitas para bacteriologia e histologia
- Drenagem com ou sem VAC
50% - cirurgia
37
INFEÇÃO em LEITO de PRÓTESE ou INFEÇÕES PERIPROTÉSICAS
PREVALÊNCIA
O risco de infeção é mais elevado após cirurgias de revisão: 3% nas ancas e 6% nos
joelhos.
FATORES de RISCO
2. Complicações de cicatrização
3. Doença maligna
4. Artroplastia prévia
7. Artrite reumatoide
8. Psoríase
9. Diabetes
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CLASSIFICAÇÃO
Tipo I – Infeção pós-operatória – Surge durante o primeiro mês – O seu tratamento passa
por desbridamento e retenção da prótese.
Tipo II – Infeção crónica tardia – Infeção indolente crónica que surge no mínimo 1 mês ou
mais após a cirurgia. Tratamento passa por remoção da prótese.
Tipo III – Infeção hematogénica aguda. Sintomas de surgimento aguda numa articulação
com bom funcionamento. Tentativa de desbridamento e retenção da prótese ou remoção
da prótese.
1. Formação de biofilme
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Biofilme - Staphylococcus aureus em torno de implante
2. Colonização microbiana
APRESENTAÇÃO e ETIOLOGIA
Sintomas gerais
40
Sinais clássicos
• Calor
• Rubor
• Edema
• Dor
• Derrame
• Febre
Pode haver
MEIOS DIAGNÓSTICO
Sinais tardios
• Erosão
• Osteíte
• Reabsorção óssea
• Descolamento
• Radiolucência
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Devemos avaliar: Alinhamentos; Fraturas; Desgaste do polietileno; Outras falências.
TRATAMENTO
42
Doentes idosos, com bom estado dos tecidos moles, infeções não MRSA,
embora tardias e com curta duração
Substituição da prótese num só tempo cirúrgico
43
44
DOENÇA ÓSSEA METASTATICA
Dados Demográficos
Etiopatogenia
• Invasão venosa ou linfática de células do tumor primitivo
• Circulação de êmbolos e células tumorais
• Retenção de êmbolos tumorais circulatórios em plexos capilares medulares
• Extravasação de células tumorais
• Multiplicação de células tumorais com crescimento de estroma vascularizado
formando um tumor ósseo secundário
Mecanismos da metastização
• Neovascularização
• Capacidade invasão membrana basal e penetração endotélio vascular
• Capacidade de resistência ao fluxo sanguíneo e ao sistema imune
• Propriedades intrínsecas das células tumorais
45
• Predisposição anatómica do hospedeiro, que permite a deposição de células
tumorais em localizações ósseas específicas
• As propriedades imunológicas do hospedeiro quer sistémicas quer locais, e a sua
resposta à migração celular do tumor primitivo.
LOCALIZAÇÃO
46
CLÍNICA
A base para o diagnóstico alicerça-se numa HISTÓRIA CLÍNICA rigorosa e feita por
sistemas
1. História de cancro (pessoal ou familiar) 2. Perda de peso 3. Fadiga 4. Perda de apetite 5.
Mal estar geral 6. Sangramento gastrointestinal 7. Hematúria 8. Dificuldade respiratória 9.
Dor e sua tipologia (75%).
O EXAME FISICO, deve focar-se nos Big 5 – Mama; pulmão; próstata; tiroide e rim. Avaliar
os nódulos linfáticos.
ESTUDOS LABORATORIAIS
Bioquímica completa incluindo estudos eletrólitos – Ca; Fosfatase alcalina; Hemograma
com leucograma; PSA, CEA; α Feto; Ca19.9; Ca125; imunoelectroforese das proteínas
séricas e urinárias
IMAGIOLOGIA
RX local ósseo em 2planos
Ecografia mamária; vaginal e transrectal; tiroideia
TAC Toraco Abdomino Pélvico
Cintigrama ósseo
47
Fratura patológica é uma apresentação comum (25%)
48
2. Osteoblástica – Próstata; bexiga; meduloblastoma e carcinoma brônquico
BIÓPSIA
TRATAMENTO
1. Terapia da dor
• Radioterapia – diminuição efetiva da dor em 53% casos.
• Escalonamento progressivo dos regimes terapêuticos.
• Agentes não narcóticos; adjuvantes (corticóides, bifosfonados, neuropáticos,
antidepressivos e ansioliticos); opióides; bloqueios nervosos.
2. Tratamentos médicos
50
• Sobrevivência média em doentes com metástases:
3. Tratamento Ortopédico
O ortopedista é chamado a colaborar no tratamento de fraturas patológicas e no de
fraturas iminentes.
51
• Em doentes com lesões secundárias na coluna com deficites neurológicos, a cirurgia
deve descomprimir a medula.
• Metástases de surgimento precoce na evolução da doença – pior prognóstico
• Doentes com metástases únicas e tardias, melhor prognóstico, pelo que são
candidatos ideais para reconstruções duradouras e megapróteses.
• A extensão e o grau de dificuldade técnico da cirurgia deve ser considerado no que
diz respeito, ao estado geral do doente, expectativa de vida, tempo de recuperação
e resultado funcional. A intensidade da dor e o estado funcional do doente deve ser
considerado.
• A técnica programada deve melhorar a mobilidade, diminuir a dor, e facilitar os
cuidados gerais do doente
• A técnica a utilizar não deve igualar ou exceder em termos de proporcionar uma
recuperação funcional, a sobrevida previsível do doente.
• Fraturas patológicas em ossos chatos e corpos vertebrais são tratadas por métodos
conservadores
• Fraturas em ossos longos – estabilização cirúrgica.
52
INDICAÇÕES PARA CIRURGIA
Considerar:
EMBOLIZAÇÃO TUMORAL (24 a 36 horas antes da cirurgia)
◼ Ossos longos:
• Encavilhamento endomedular (sempre que possível)
• Cimento
• Placas
◼ Periarticular:
• Megapróteses com hastes longas
◼ Bacia e acetábulo:
• Artroplastia total da anca, ou de reconstrução
• Anéis
• Cimento aramado
◼ Coluna
53
Cavilha e
cimento
Encavilhamento Megaprótese
54
Espaçador e placas
Cimentoplastia
55
56
TUMORES
Conceitos essenciais
GENERALIDADES
• CLÍNICA
- Tumoração
- Fratura patológica
- Achado acidental
- Evolução temporal
Tumoração
Circulação venosa
colateral
57
PET – Invasão ganglionar; Carcinomas ocultos. RM corpo inteiro.
58
1- Onde está a lesão?
Corpo Vertebral
MALIGNAS
Elementos posteriores
BENIGNAS
59
2. O que está a lesão a fazer ao osso?
Esclerótica Osteolítica
61
DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA
• BIÓPSIA
- Atualmente as biópsias por radiologia de intervenção (TAC ou Eco) são a primeira opção
62
Existem de lesões de tratamento único e exclusivamente cirúrgico
63
Os objetivos de uma resseção cirúrgica são os de obter margens seguras, livres de tumor.
Essas margens dependem do tipo de lesão, da sua localização e de fatores dependentes do
doente e da sua atividade.
64
Depois da resseção, procede-se à reconstrução, sendo que esta não deve determinar a
primeira, mas sim ser a sua consequência.
Cimento (Metilmetacrilato)
65
Prótese endomodular
Resseção em bloco – Resseção do tumor pela zona circundante de osso reativo – indicada
em tumores benignos agressivos
O mesmo conceito se aplica aos tecidos moles – aqui a noção de compartimento (músculos
envolvidos num mesmo compartimento – anterior, posterior, externo ou interno da coxa,
por exemplo).
66
LESÕES QUISTICAS
PSEUDOTUMORAIS
Quisto ósseo simples, uma lesão óssea preenchida por líquido seroso
• DEMOGRAFIA:
• CLÍNICA
• IMAGIOLOGIA
- Os QOS começam metafisários, junto das placas de crescimento. E vão progredindo até à
diáfise acompanhando o crescimento ósseo
- Insuflação cortical
67
• TRATAMENTO
- Após fratura as lesões ocasionalmente serão preenchidas com osso nativo (15%).
- Lnesões do fémur proximal com ou sem fratura patológica, devem ser sujeitas a
curetagem/enxerto ósseo/fixação interna
Lesão óssea expansiva, destrutiva, preenchida com múltiplas cavidades contendo sangue.
DEMOGRAFIA:
- 75% dos doentes têm < 20 anos
- Pode estar associado a outra lesão (30% dos casos), como condroblastoma, TCG, fibroma
condromixóide, fibroma não ossificante, osteoblastoma e displasia fibrosa)
- Localização: as mais comuns – fémur distal, tíbia proximal, pélvis, coluna (elementos
posteriores)
CLÍNICA
- Dor e tumoração
- Raro apresentar-se como fratura patológica
- Sintomas neurológicos possíveis em lesões da coluna
IMAGIOLOGIA
- Lesões líticas metafisárias excêntricas
- Insuflam a cortical e podem destruí-la e estender-se aos tecidos moles
- A lesão pode invadir a placa epifisária
- Habitualmente mantem uma margem esclerótica em torno da lesão
- Sem matriz mineralizada
- Radiologicamente o diagnostico diferencial incluí o quisto ósseo simples e o
osteossarcoma teleangiectasico
TAC – permite ver nível líquido com separação e deposição do sangue e produtos
plasmasticos
RM – também visível, em T2 sem contraste maior intensidade na periferia da lesão
68
• TRATAMENTO
- Embolização isolada ou pré cirúrgica pode ser utilizada em lesões pélvicas ou da coluna
69
- Lesões de menores dimensões justa-articulares embolização e polidocanol (alccol)
DISPLASIA FIBROSA
• DEMOGRAFIA:
- Sexo: F > M
- Localização:
- Poliostotica – Generalizada
• PATOGENESE:
- Deficiência no desenvolvimento
• HISTÓRIA NATURAL:
70
• CLÍNICA
IMAGIOLOGIA
71
- Displasia monostotica – lesão em vidro esmerilado
Deformidade em cajado de pastor (Direita imagem com evolução arrastada – doente com
32 anos).
72
• Cintigrafia – hiperfixação isotópica
• TAC - padrão de vidro esmerilado; captação de contrate
• RM – fraca intensidade de sinal
TRATAMENTO
FIBROMA NÃO-OSSIFICANTE
DEMOGRAFIA:
- Idade: 5-15
- Sexo: M > F
- Localização:
HISTÓRIA NATURAL
TRATAMENTO
74
TUMORES BENIGNOS
OSTEOBLASTOMA
• DEMOGRAFIA:
- Idade: 15-30
- Sexo: M > F
- Localização:
• HISTÓRIA NATURAL:
• IMAGIOLOGIA
75
- Cintigrafia: Hiperfixação isotópico focal
T2 – Sinal Intenso
76
• TRATAMENTO
OSTEOMA OSTEÓIDE
• DEMOGRAFIA
- Idade: 8-18
- Sexo: M = F
• HISTÓRIA NATURAL
- Lesão dolorosa, ativa, exacerbada pelo álcool, aliviada pela aspirina (prostaglandinas)
77
- Não aumenta de dimensões, raramente excede 1cm
• IMAGIOLOGIA
- Uma grande zona de osso reativo, que frequentemente impede a visualização do nidus
Dta – Esponjosa
Baixo - Periarticular
78
Medular
- RM: T1 – sinal intemédio; T2 – sinal forte. Excelente para encontrar o nidus canal
medular
79
• TRATAMENTO
80
OSTEOCONDROMA DOENÇA EXOSTOSANTE
EXOSTOSE EXOSTOSE MÚLTIPLA HEREDITÁRIA
• CARACTERISTICAS CLÍNICAS
- Saliência óssea
- Massa indolor
81
Exostose múltipla hereditária:
- Deformidade variável
- Baixa estatura
- Dor
- Hiperfixação cintigráfica
• IMAGIOLOGIA
- Pediculado ou séssil
- Localização metafisária
TRATAMENTO
ENCONDROMA
• ETIOLOGIA e CLINÍCA
• IMAGIOLOGIA
- Cintigrafia: Hiperfixação
T1 T2
84
O diagnóstico diferencial com condrossarcoma grau I, é difícil, mesmo do ponto de vista
histológico.
- Lesões dolorosas
A conjugação destes fatores constituí indicação para cirurgia, com preenchimento da loca
com cimento.
CONDROBLASTOMA
• DEMOGRAFIA:
- M/F = 2:1
85
- Tumor cartilagíneo benigno, raro
• CLÍNICA
• IMAGIOLOGIA
- Expansão cortical é possível, mas com rara extensão aos tecidos moles.
86
• TRATAMENTO
- Recidiva 10 a 15%
• DIAGNOSTICO DIFERENCIAL
- TCG
87
TUMOR CELULAS GIGANTES
• DEMOGRAFIA
- Sexo: F=M
- Localização: Metáfises e epífises dos mais importantes ossos longos, corpos vertebrais.
54% ocorrem na região anatómica do joelho.
• CLÍNICA
• IMAGIOLOGIA
88
89
Não existe sistema de graduação histológica,
Ou forma de prever o seu comportamento e prognóstico.
É o tumor ósseo benigno mais implantável nos tecidos
moles.
• TRATAMENTO
- As lesões podem ser tratadas com curetagem, brocagem de alta rotação fenolização e
preenchimento com cimento.
90
EM RESUMO
• Displasia fibrosa
• Fibroma não ossificante
• Quisto ósseo simples
• Granuloma eosinófilo
• Condromas
• Exostoses
• Miosite ossificante
• Osteoma osteoide
• Osteoblastoma
• Condroblastoma
• Fibroma condromixóide
• Quisto ósseo aneurismático
• Tumor de células gigantes
91
TUMORES MALIGNOS
OSTEOSSARCOMA
• DEMOGRAFIA
- Idade: 2 picos:
Segunda década da vida
Sexta década
Tumor ósseo mais comum em crianças
- Sexo: M/F = 1.5:1
- Localização: Metáfises do fémur distal, tíbia proximal e úmero proximal; Pélvis.
• GENÉTICA/ETIOLOGIA
• CLÍNICA
- Dor intermitente, que progride para constante, com predomínio noturno, e que não cede
à medicação
92
• IMAGIOLOGIA
93
Microscopicamente o osteossarcoma é definido pela presença de osteoide maligno.
• TRATAMENTO
94
Imagem de peça de resseção cirúrgica e mapeamento para determinação da percentagem
de necrose induzida pela quimioterapia neoadjuvante.
• OSTEOSSARCOMA – Variantes
- Osteossarcoma perióstico
- Osteossarcoma teleangiectásico
- Osteossarcoma paraosteal
- Osteossarcoma extraesquelético
- Osteossarcoma multicêntrico
95
CONDROSSARCOMA
• Demografia:
- Idade: 40 – 75 anos
- Sexo: M>F
- Localização:
- Incidência:
Grau I – 60%
Grau 2 – 25%
Grau 3 – 5%
• CLÍNICA:
• IMAGIOLOGIA
- Lesões de baixo grau são semelhantes a encondromas, mas com erosão endostal,
corticais finas, e ocasionalmente massa de tecidos moles.
97
Condrossarcoma
alto grau
Condrossarcoma
Respetiva hiperfixação
cintigrafica
98
TAC – envolvimento ósseo e
da cortical
Massa de tecidos moles
RM envolvimento medular
Massa de tecidos moles
Relação com estruturas neuro-vasculares
• TRATAMENTO
- Lesões de baixo grau nas extremidades, podem ser tratadas com curetagem +
fenolização e cimentação
99
- Todas as lesões pélvicas mesmo de baixo grau, exigem resseção alargada
- Lesões de grau 2, 3 ou desdiferenciadas exigem resseções alargadas
independentemente da localização.
- As lesões que recidivam localmente podem progredir na malignidade
- Não respondem a quimio e radioterapia
- Quimioterapia só tem indicação em desdiferenciados pela presença de outras
células malignas, que não cartilagíneas.
- A sobrevida depende do tipo histológico do tumor: Grau 1 – 90%; Grau 2 – 60 a
70%; Grau 3 – 30 a 50%; desdiferenciado = 10%.
SARCOMA DE EWING
• DEMOGRAFIA:
- M/F = 3:2
• CLÍNICA
100
• IMAGIOLOGIA
- Massa extensa de tecidos moles frequente mesmo com destruição óssea subtil
101
• TRATAMENTO
- Quimioterapia neoadjuvante
- Doentes com sarcoma Ewing das extremidades 65-70% sobrevida aos 5 anos
MIELOMA MÚLTIPLO
• DEMOGRAFIA:
- M>F
• CLÍNICA
- Pode ocorrer em todo o esqueleto, mas é mais comum em ossos com medula
hematopoiética – crânio, coluna vertebral, e ossos longos.
- Biópsia
103
• IMAGIOLOGIA
• TRATAMENTO
PLASMOCITOMA
Comentários:
• Lesões menores que 5cm até prova em contrário são benignas; maiores que 5 cm
são malignas pelo mesmo raciocínio.
• Lesões abaixo da fáscia são malignas até prova contrária o mesmo se aplicando em
lesões suprafasciais que serão benignas.
• A ecografia permite unicamente estabelecer a dimensão da lesão e a sua localização
em relação com a fáscia.
• O exame de eleição é a RM
• A PET tem adquirido importância particularmente na invasão ganglionar
106
107
CLÍNICA
Sarcoma pleomórfico de alto grau – é o sarcoma de tecidos moles mais comum em adultos
dos 55 aos 80 anos.
108
COLUNA VERTEBRAL
Conceitos essenciais
COLUNA TRAUMÁTICA
AVALIAÇÃO INICIAL
109
3. Transporte para Hospital
1. RX simples em 2 planos
Exame físico
✓ Inspeção
111
▪ Tumefações
▪ Equimoses
▪ Alterações da postura
✓ Palpação
▪ Pontos dolorosos
✓ Exame neurológico
112
Teardrop fractures (Fraturas em lágrima)
Devem ser distinguidas da fratura avulsão de
pequeno fragmento anterior –lágrima -, que
representam uma fratura minor por extensão,
com um pequeno fragmento anterior
avulsionado pela junção anular, e que se trata
com ortótese cervical por 6 semanas.
A fratura teardrop, é uma fratura em flexão
axial, caraterizada por uma fratura da parte
anteroinferior da vértebra desviada
caudalmente em flexão, causando retropulsão
do restante corpo para o canal medular.
Tratamento idêntico ao das farturas
explosivas.
Cirurgia depende do
tipo de fratura
Exemplo de fixação
combinada
113
Fratura do Atlas – 7% das fraturas cervicais-
Jefferson frature
✓ Tratamento
• Usualmente conservador
• Tracção
• Colar de Minerva (3 meses)
114
Fratura da odontoide
15% das fraturas cervicais
✓ Tratamento
▪ Tipo I
➢ Estáveis - Colar cervical
▪ Tipo II
➢ Halo vest – 1. Jovens, estáveis; em doentes que não tolerem cirurgia
➢ Se pseudartrose - Fixação
115
▪ Tipo III
➢ Fixação cirúrgica
➢ Halo vest – estáveis 6 a 12 semanas
116
Espondilolistese traumática
Hangman’s fracture
117
✓ Tratamento
▪ Halo vest
▪ Fixação
118
Fraturas toracolombares
Clinica e Imagiologia
✓ Anamnese
▪ Dor
▪ Sintomas acompanhantes
➢ Sensibilidade
➢ Força muscular
119
✓ Exame físico
▪ Inspeção
➢ equimoses
▪ Pontos dolorosos
➢ Hematoma
▪ Avaliação neurológica
✓ Radiologia
▪ Rx coluna toraco-lombar
▪ TAC
120
Classificação
TEORIA de DENIS
121
Tipo C – lesões rotacionais – representadas pela letra D (fratura-luxação)
Fraturas por compressão - fraturas da coluna anterior com integridade da coluna média. A
coluna posterior pode estar lesada em tensão dependendo da redução da altura do corpo
vertebral >50%.
Fraturas explosivas - resultam de uma força axial sobre a coluna média e anterior levando
a uma separação divergente dos pedículos e retropulsão óssea no canal medular.
TRATAMENTO
O tratamento cirúrgico está indicado em fraturas instáveis e/ou em doentes com déficite
neurológico.
122
COLUNA NÃO TRAUMÁTICA
LOMBALGIA
1. Estruturais
1.1 Instabilidade segmentar; 1.2. Causa discogénica, roturas disco; 1.3. Artropatia
facetaria; 1.4 Rotura muscular; entorse ligamentar; 1.5 Espondilolistesis, 1.6 Estenose
canalar; 1.7 Fratura; 1.8 Infeção: 1.8.1 Discite; 1.8.2 Osteomielite vertebral; 1.9
Inflamatória: 1.9.1 Espondilite anquilosante; 1.9.2 Artrite reumatoide: 1.10 Tumores:
1.10.1 Primários (mieloma); 1.10.2 Secundários
2. Endocrinas
2.1 Osteomalacia; 2.2 Osteoporose; 2.3 Acromegalia
3. Hematologica
3.1 Doença de células falciformes
1. Viscerais
1.1 Cálculos renais, infeções urinárias, pielonefrites; 1.2 Úlcera duodenal; 1.3 Aneurisma
aórtico abdominal ou torácico; 1.4 Hipertrofia auricular esquerda na doença da válvula
mitral; 1.5 Pancreatite; 1.6 Neoplasia retroperitoneal; 1.7 Cólica biliar; 1.8 Ginecológica;
1.9 Gravidez ectópica; 1.10 Endometriose; 1.11 Crise de células falciformes
2. Medicamentosas
2.1 Osteoporose pós corticoterapia; 2.2 Fibrose retroperitoneal secundaria a maleato de
metisergide
3. Musculoesqueléticas
3.1 Patologia anca; 3.2 Doença sacroiliaca; 3.3 dor Escapulotorácica
4. Psicogénicos
124
CLINICA
✓ Dor região lombar
▪ Com ou sem irradiação
▪ Início brusco
▪ Associado ao levantar de pesos
▪ Agravado com a manobra de Valsalva
▪ Irradiação membro inferior (ciática)
AVALIAÇÃO
✓ História clínica
▪ Quando e como começou
▪ Localização e irradiação
▪ Ritmo
▪ Factores/posições de alívio/agravamento
✓ Exame físico
▪ Palpação abdominal
▪ Palpação local
▪ Marcha
▪ Posicionamento
▪ Manobra de Lásegue
▪ Exame neurológico
✓ Exames complementares de diagnóstico
▪ Raios X
▪ TAC
▪ RM
TRATAMENTO
✓ Essencial obter um diagnóstico exato sobre a origem da dor e tipo de lombalgia
✓ Tratamento sintomático
▪ Analgésico
▪ Miorelaxante
▪ Ansiolítico
✓ Tratamento da causa
125
HÉRNIA DISCAL LOMBAR
Morfologia da hérnia
126
▪ Etiologia
➢ Condições de trabalho
➢ Carregar cargas excessivamente pesadas
➢ Manutenção de posturas incorretas por muito tempo
➢ Fadiga muscular
➢ Pratica desportiva (halterofilismo; ginastas; tenistas; futebol)
▪ Clínica:
➢ Lombalgia
Início abrupto ou insidioso
Distribuição no território do nervo afetado
Pode irradiar para a perna e pé - ciática
Carácter disestésico (formigueiro, adormecimento, choque elétrico, sensação de pele
queimada, hipó óu hiperestesia…)
Agrava em pé e ao caminhar
Dificuldade em encontrar posição de conforto
Decúbito dorsal, com almofada colocada sob joelhos fletidos
▪ Diagnóstico:
➢ HC
➢ Inspeção:
Espasmo lombar marcado
Atitude escoliótica de defesa
Diminuição da flexão da coluna
➢ Ex. físico:
Teste de Laségue
Estiramento do ciático (L5 ou S1)
Estiramento do nervo femoral (L1 a L4)
Ex. neurológico ( alterações são tardias)
➢ Imagiologia
RX, TC, RM
127
Exame Neurológico
128
TAC
RM
O Exame de eleição para estudo da Hérnia discal lombar
Diagnóstico diferencial
Tratamento
➢ Médico (conservador)
Bons hábitos posturais
Repouso: 1 a 3 dias
AINEs
Miorrelaxantes: 7-10 dias
Fisioterapia
Corticoesteroides orais ou injecção epidural: aliviam a dor na perna nas primeiras 2
semanas
➢ Cirúrgico – discectomia (percutânea; mini-incisão)
laminectomia… prótese de disco
Quando os sintomas persistem para além de 6 semanas
Episódios recorrentes
Deficite neurológico progressivo
130
✓ Hérnia Lombar
▪ Prevenção
➢ evitar o excesso de peso corporal;
➢ manter uma boa postura
Em pé
Sentado
Deitado
Ao levantar um peso
➢ praticar exercício físico regularmente (andar a pé, bicicleta e nadar)
131
CANAL VERTEBRAL ESTREITO
Clínica
✓ Normalmente insidiosa
✓ Claudicação neurogénica
✓ Varia com a posição
▪ Extensão da coluna alivia (alargamento)
▪ Flexão da coluna agrava
✓ Dor após algum tempo de marcha
132
Diagnóstico
✓ Exame físico
▪ Exame neurológico
▪ Avaliação da pele
▪ Avaliação pulsos periféricos
✓ Exame radiográfico
▪ RX coluna
▪ TAC
▪ RM
▪ EMG
133
Diagnóstico Diferencial
✓ Aneurisma da aorta
✓ Insuficiência arterial
✓ Diabetes
✓ Tumor
Tratamento
✓ Conservador
▪ AINE
▪ Actividade física moderada
▪ Hidroterapia
▪ Bloqueio de facetas
▪ Bloqueio epidural
✓ Cirúrgico
▪ Laminectomia
▪ Fixação transpedicular
134
CERVICALGIA
CAUSAS
✓ Agudas
▪ Aparecimento repentino sem causa aparente
✓ Crónicas
▪ Permanecem no tempo, com dor de intensidade variável, como na
cervicartrose, discopatia vertebral, fibromialgia)
✓ Psicosomáticas
▪ Provocadas por estados de ansiedade
▪ Frequentemente os sintomas referidos não coincidem com o conhecimento
anatómico e fisiológico
✓ Traumáticas
▪ Por traumatismos directos, ou indirectos
135
RADICULOPATIA CERVICAL
CERVICOBRAQUIALGIA
Clínica
✓ Sintomatologia
▪ Cervicalgia e cervicobraquialgia
▪ Disestesias e parestesias
▪ Cefaleias
▪ Por vezes dificuldade em escrever
▪ Posição antálgica
▪ Mielopatia cervical
➢ Alteração tronco e pernas
Posição de alívio
136
✓ Exame físico
▪ Mobilidade cervical dolorosa
➢ Rotação axial e extensão podem desencadear dor
▪ Avaliação neurológica de C5 a T1
▪ Avaliação de sinais de alteração vascular e compressão nervosa
➢ Diferenciar de STC
Exame neurológico
C5
137
C6 e C7 C8 e T1
138
Flexão do punho
C8 4º e 5º dedos Flexores dedos -
T1 Antebraço ulnar Intrinsecos mão -
EXAMES COMPLEMENTARES
Radiografia
TAC
RM
Diagnóstico diferencial
✓ Ombro congelado
✓ Isquemia miocárdio (esquerda)
✓ STC
✓ Tendinopatia da coifa dos rotadores
✓ Sindrome do desfiladeiro toráxico
✓ Lesão plexo braquial
✓ Sindrome de Parson Turner
139
TRATAMENTO
✓ Conservador
▪ AINE
▪ Miorelaxante
▪ Analgésico narcótico
▪ Fisioterapia
✓ Cirúrgico
▪ Descompressão
▪ Prótese disco
▪ Fusão
ESCOLIOSE
140
Quanto mais precoce é o seu surgimento, maior é o potencial de crescimento das
curvas, e pior é o prognóstico.
Infantis
Têm repercussões graves sobre o desenvolvimento da caixa torácica com
alterações cardipulmonares significativas.
Sem predileção por sexo.
Idade <3 anos; representam 4% das EI
Maioria das curvas são torácicas e 75% são convexas esquerdas.
Juvenis
Mais frequentes em raparigas
Curvas torácicas direitas
Idade entre os 3 e os 10 anos
Representam 15% das EI
95% das curvas vão progredir
Adolescentes
Suspeita de interação poligenética
Idade >10 anos
Representam 80% das EI
Em curvas pequenas sem predomínio sexo; curvas <30º predomínio feminino 10:1
Aumento de crescimento da curva coincide com os picos de crescimento e o
desenvolvimento hormonal
Progressão da curva
141
O sinal de Risser avalia-se no RX da bacia em carga
Vértebra limite
Vértebra apical
Vértebra limite
Medições
COLUNA (escoliose)
143
Ângulo costovertebral de Metha - sobreposição da costela com a vértebra. Se >20º
risco de progressão da curva
RADIOGRAFIA DE FACE
144
RADIOGRAFIA DE PERFIL
TRATAMENTO
Conservador
Ortótese em infantis se curvas forem > 30º; Juvenis >20º e adolescentes >25º
Usar em doentes esqueléticamente imaturos (Rissser 0,1 ou 2), durante 16 a 23h dia, e
termina com o final do crescimento ósseo ou se a curva se torna >45ª (ineficaz).
Milwaukee
Cirúrgico
Adolescentes: Curvas torácicas 45º a 50º. Curvas lombares >45º ou desequilíbrio torácico
marcado com curvas >40º.
145
146
OMBRO
Conceitos essenciais
Ósseas e vasculares
A cabeça umeral possui a pequena e grande tuberosidades onde se insere a coifa dos
rotadores.
O ramo ascendente anterolateral da artéria circunflexa umeral anterior fornece o
suprimento vascular primário da cabeça. Localiza-se proximalmente na zona lateral da
goteira intertubercular. A porção intraóssea terminal da artéria, penetra na zona proximal
da goteira intertrabecular como artéria arqueda (arcuate artery).
147
Cápsula e Musculos
De entre estes músculos destacamos, pela sua importância como sede de algumas
patologias os constituintes da coifa dos rotadores, que funciona como uma convergência
148
de tendões em torno da cabeça umeral. Os tendões dos quatro musculos unem-se com a
cápsula articular da articulação glenoumeral.
Estes musculos são: 1. Supraespinhoso; 2. Infraespinhoso; 3. Pequeno Redondo; e
Subescapular.
Outros musculos importantes para a função do ombro são: Deltóide; Trapézio; Peitoral; e
Grande Dorsal.
Ombro – Mobilidades
149
LESÕES TRAUMÁTICAS
FRATURAS DA CLAVÍCULA
150
• Fraturas do 1/3 externo – podem ter ou não envolvimento ligamentar.
• Se este estiver presente necessitam de tratamento cirúrgico.
CLINICA
151
RX
TRATAMENTO
◼ Tratamento conservador
Cruzado posterior (3 semanas)
Complicações:
- Lesões neurovasculares
- Calo exuberante com lesão neurovascular crónica
- Pseudartroses
152
◼ Tratamento cirúrgico
- Complicadas com lesões neurovasculares.
- 1/3 externo com rotura do ligamento conóide e trapezóide
- Grandes deslocamentos
- Expostas
LESÕES ACRÓMIO-CLAVICULAR
ANATOMIA
153
Classificação:
GRAU 1 – ENTORSE
• Queda ou traumatismo directo sobre o ombro, sendo o acrómio empurrado
para baixo.
• Distensão cápsula AC; ligamentos íntegros.
• Extremidade da clavícula sem deslocamento.
• Dor + impotência funcional.
• Sem deformidade.
• RX negativo.
• Tratamento ortopédico.
• Suspensão membro 2 semanas.
GRAU 2 – SUBLUXAÇÃO
• Ligeiro deslocamento da clavícula para cima e para trás.
• Rotura da cápsula AC.
• Ligamentos íntegros.
• Dor + impotência funcional (+++ Abdução).
• Deformidade ligeira.
• RX discreta subida clavícula.
• RX de stress. Em casos de dúvida entre este Grau ou a luxação, aplicar peso
de 5 Kg apoiado em cada pulso, e obter RX de ambas as acrómio-
claviculares, e comparar entre elas.
• Tratamento ortopédico.
154
• Imobilização suspensão membro 2 semanas.
155
CIRURGIA
Fixação coracoclavicular com parafuso
LUXAÇÃO do OMBRO
◼ Fatores predisponentes:
o Cavidade glenóide 3 a 4 vezes < cabeça umeral.
o Cápsula articular pouco resistente.
◼ Associação com lesões ósseas.
◼ Complicações pouco frequentes:
o Lesão circunflexo
o Lesão plexo braquial
o Lesão artéria axilar
156
◼ Antes da redução e depois desta fazer uma observação clínica criteriosa para
despiste de lesão vascular e/ou nervosa.
(Avaliar pulsos periféricos e avaliar sensibilidade V deltoideu).
CLASSIFICAÇÃO
1. ANTERIORES
Correspondem a cerca de 90% das luxações.
Mais comum a subglenoideia. As bilaterais são muito raras.
2. POSTERIORES
Existe um outro tipo de luxação em que o úmero será deslocado para trás, chamada de
luxação posterior. Ela é muito mais rara (menos de 10%) e ocorre após convulsões,
choques elétricos ou acidentes automobilísticos em que o paciente se encontrava com o
braço esticado no volante e sofreu um trauma súbito.
Clinicamente traduz-se por um bloqueio na rotação externa do ombro.
157
3. INFERIORES ou ERECTAS
Surgem aquando de quedas em que o individuo se suspende pelo membro.
CLÍNICA – anteriores
158
REDUÇÃO
1. Hipócrates
159
INSTABILIDADES do OMBRO
CLINICA
Instabilidade unidireccional- episódio inicial de dor aguda, seguido de dor residual, dor no
esforço e laxidez ligamentar.
◼ Instabilidade multidirecional - Sem antecedente traumático. Doentes com laxidez
tecidual. Clinica é variável. Dor espontânea em esforço nalgumas posições.
Sensação de subluxação
TESTES
◼ Load and shift test.
Translação anterior para posterior do úmero. Promove centragem e
báscula da cabeça.
160
◼ Sinal de apreensão
O paciente demonstra apreensão em abdução e rotação externa
◼ Teste de Rowe
Testa as instabilidades multidireccionais. (inferior; anterior e posterior).
Trata-se de uma tentativa de luxar a cabeça umeral. Uma expressão de
apreensão/desconforto indica positividade do teste.
(Ex. Instabilidade anterior)
161
◼ Sinal do sulco
Cotovelo flectido a 90º, ombro em rotação neutra. Pressina-se inferiormente o
antebraço.
◼ Jerk Teste
Aplicar uma força posterior ao longo do eixo do úmero, com braço em abdução 90º
antepulsão e rotação interna. Causa subluxação posterior da cabeça. Quando o
braço passa a extensão sente-se um ressalto da redução.
IMAGIOLOGIA
162
163
• Lesão de Hill Sachs – lesão por compressão da parte superior do úmero ao entrar e
contacto com a glenóide durante o episódio de luxação.
164
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Instabilidades anteriores
Transferência da coracóide
165
Artroscopia
Instabilidades Multidirecionais
Reforços capsulares
Classificação
Canha
167
168
Fatores importantes a ter em atenção:
170
Avaliação
171
Tendinite calcificada
172
TESTES PROVOCATIVOS
Teste de Neer
173
Teste de Jobe
174
Ou na Omartrose
OMBRO CONGELADO
Fatores de risco
Idade (+ idosos); Atividades pesadas com barço elevado; desportos com sobrecargas
repetitivas; corticoterapia
Causas
Quedas com braço em extensão
Levantar objetos pesados
176
TRATAMENTO
Jovens e desportistas – cirurgico
Restantes e idosos - conservador
177
178
EXTREMIDADE SUPERIOR
Fig. 1.1. Região posterior do cotovelo: com o cotovelo flectido a 90º o epicôndilo, aepitróclea e a ponta do
olecrano formam um triângulo isósceles (triângulo de Nélaton). No cotovelo posicionado em extensão estas
referências anatómicas estãoalinhadas (linha de Heuter).
179
Outra etapa a atingir é o exame vascular e neurológico do membro superior, uma vez
que estruturas anatómicas importantes podem ser lesadas no decurso dos
traumatismos do cotovelo (Fig. 1.2).
Fig. 1.2. Vasos e nervos da região do cotovelo: artérias braquial, radial, ulnar;nervos ulnar,
mediano e radial (ramo motor e sensitivo).
Edema, hematoma, dor local ou difusa, crepitação e deformidade são osachados mais
cómuns, prócurandó avaliar ós “quatró póntós cardeais”: aspetó local, mobilidade,
estabilidade e força muscular.
O exame radiológico (frente, perfil e eventualmente incidências oblíquas) é
determinante para afirmar o diagnóstico e estabelecer a estratégia terapêutica mais
indicada. Na dúvida, é fundamental proceder ao exame comparativo com o cotovelo
contralateral, se aí não houver patologia. Por vezes, nas fraturas complexas do úmero
distal pode estar indicado efetuar uma TAC com reconstrução tridimensional,
documento de extrema importância para o conhecimento da “persónalidade da fratura”
e para a planificação pré-operatória. Por outro lado, a TAC pode, também, estar indicada
nas situações traumáticas em que as radiografias não foram esclarecedoras.
Um dos pontos a dar atenção tem a ver com a associação de lesões da articulação
radioulnar distal e fraturas do cotovelo, mormente as da cabeça do
180
rádió. Pór sua vez, póde ócórrer um quadró de “cótóveló flutuante” quandó a fraturas
complexas do úmero distal se associam fraturas do rádio e da ulna.
A preocupação maior nas fraturas com compromisso articular, nas fraturas
cominutivas e/ou com desvios significativos, tem a ver com a reconstituição da
anatomia do cotovelo e, desta forma, evitar a instalação progressiva de uma artrose.
Daí os objectivos da intervenção cirúrgica incluírem: redução anatómica das fraturas,
fixação estável da superfície articular, restauração do alinhamento do eixo articular,
alinhamento e fixação estável do segmento articular com a metáfise e a diáfise e, por
último e não menos importante, uma mobilização precoce do cotovelo de modo a evitar
a rigidez articular. Aliás, estes princípios aplicam-se, de um modo geral, ao tratamento
de qualquer tipo de fratura óssea. Ao cabo e ao resto com estas medidas tenta-se evitar
a instalação de um quadro clínico de doença fraturária óssea: atrofia das partes moles,
rigidez articular e osteoporose.
181
Fig.2.1. Classificação das fraturas da extremidade distal do úmero.
Fig.2.2. Fraturas supracondilianas de traço simples. Por flexão (1) e por extensão(2).
182
Fig.2.3. Exame radiográfico do cotovelo direito numa criança mostrando uma fratura
supracondiliana do úmero de traço simples por extensão, as mais frequentes.
As fraturas por extensão são de longe as mais frequentes. Nas fraturas supracondilianas
do úmero interessa realçar as lesões vasculares (artéria umeral/braquial), as lesões
nervosas, do nervo mediano, do nervo cubital e do nervo radial e a exposição cutânea
dos topos ósseos (Fig. 2.4).
Por isso, o exame vasculonervoso cuidadoso do membro superior assume a maior
importância, como em qualquer tipo de fratura. Na dúvida, pode estar indicado o estudo
da artéria braquial com eco-doppler ou eventualmente uma arteriografia, uma vez que
podem existir feridas arteriais e dissecções sub- adventícias traumáticas, que podem
justificar um gesto urgente de reconstrução vascular. Deste modo, podemos evitar
graves sequelas, desde uma amputação por isquemia a uma contractura isquémica de
Volkman.
183
O tratamento destas fraturas depende do desvio dos topos ósseos e da estabilidade da
fratura após a redução ortopédica.
Assim, as fraturas sem desvio e estáveis são imobilizadas com gesso braquipalmar (tala
gessada posterior) durante 3-4 semanas.
As fraturas instáveis, uma vez conseguida a redução ortopédica, são fixadas com fios
metálicos e imobilizadas com gesso braquipalmar. Por vezes, énecessário reduzir estas
fraturas por via aberta/cirúrgica e proceder à sua fixação igualmente com fios
metálicos, por forma a restabelecer a anatomia docotovelo (Fig. 2.5).
184
Fig. 2.6. Ilustrações representativas do tratamento de fraturas supracondilianas do úmero no adulto:
osteossíntese com placa e parafusos em fratura cominutiva e em fratura de traço simples.
Fig. 2.7. Osteossíntese de uma fratura supra e intercondiliana do úmero com placaem Y e parafusos.
185
Fig. 2.8. Osteossíntese de uma fratura supra e intercondiliana do úmero com placase parafusos.
Fig. 2.10. Artroplastia total do cotovelo no tratamento de uma fratura supra eintercondiliana
cominutiva, em doente idoso.
186
semanas, seguida de reabilitação funcional do cotovelo. Nas situações em que existe
deslocamento dos côndilos está indicada uma osteossíntese da fratura, por forma a
reconstituir a anatomia da superfície articular (Fig. 2.11).
Fig. 2.11. Osteossíntese com parafusos de fratura do côndilo lateral e fratura docôndilo medial.
187
Fig. 2.12. Fratura da epitróclea com o fragmento ósseo interposto “encarceradó” nazona da
interlinha articular do cotovelo.
Nas fraturas com desvio procede-se à redução e fixação do fragmento com fiosmetálicos
ou parafusos (Fig. 2.13). Nas crianças os fios metálicos são menos agressivos para a
cartilagem de crescimento. Uma imobilização braquipalmar durante 3 semanas é
suficiente no tratamento das fraturas da epitróclea sem desvio.
As fraturas do epicôndilo, com e sem desvio, tratam-se de forma semelhante às
fraturas da epitróclea.
188
No último tipo de fratura, se o fragmento for de reduzidas dimensões, não sendo
possível uma osteossíntese, deve ser removido cirurgicamente, por via aberta ou por
artroscopia, caso contrário constitui um corpo livre intra- articular. Nas fraturas com
grande fragmento deve-se proceder a uma osteossíntese do fragmento com parafusos,
por forma a restabelecer a anatomia da articulação.
189
Estas lesões podem também ocorrer por traumatismo direto, embora com menor
frequência.
Classificação das fraturas da cabeça do rádio (Fig. 3.1): traço simples (sem
deslocamento, com deslocamento <1 mm e com deslocamento >1 mm) e cominutivas
(sem deslocamento e com deslocamento).
O exame radiográfico com incidências oblíquas pode ser necessário para estabelecer o
diagnóstico.
Nas fraturas de traço simples sem deslocamento, o tratamento consiste na imobilização
do cotovelo com uma tala gessada ou uma ortótese suspensora do cotovelo durante 7-
10 dias, seguida mobilizações do cotovelo ativa e
190
passiva precoces. Aspirar o sangue do derrame articular se houver dor significativa.
As fraturas de traço simples com deslocamento <1 mm são tributárias de redução
cirúrgica e osteossíntese com parafusos ou com placas e parafusos no caso de a fratura
envolver mais de um terço da cabeça (Fig. 3.2). Deve-se conservar, sempre que seja
possível, a cabeça do rádio. Há sempre tempo para a sua excisão, se houver
sintomatologia e a evolução o justificar. Nos doentes idosos aceita-se um tratamento
conservador.
a b
c d
Fig. 3.2. a) Fratura da cabeça do rádio numa criança. b) c) e d). Esquema ilustrativo e exames
radiográficos de osteossíntese de fraturas da cabeça do rádio com parafusos.
As fraturas de traço simples com deslocamento >1 mm, têm indicação para a cirurgia
de ressecção da cabeça. No entanto, nos doentes adultos jovens pode-se proceder à
osteossíntese, desde que se consiga uma redução anatómica da fratura. Nos idosos,
considerar o tratamento conservador.
191
As fraturas cominutivas sem desvio são tributárias de tratamento conservador. Nas
cominutivas com desvio está indicada a excisão da cabeça do rádio. Contudo, nos
doentes adultos jovens considerar a osteossíntese da fratura, se possível, ou a
implantação de uma prótese metálica, por forma a evitar a subluxação radioulnar
inferior e a instabilidade do cotovelo (Fig. 3.3). Nas crianças a excisão da cabeça radial
está proscrita, porque origina deformidadessignificativas, cotovelo valgo.
Fig. 3.3. Osteossíntese de fratura da cabeça radial com placa e parafusos. Nas fraturas cominutivas
com desvio pode estar indicada a substituição da cabeça radialpor uma prótese metálica.
Classificação das fraturas do colo do rádio (Fig. 3.4): sem deslocamento, com
deslocamento moderado (báscula <30º), com deslocamento acentuado (báscula> 60º),
sem contacto das superfícies da fratura (báscula> 90º). Fraturas frequentes, sobretudo
em crianças.
As fraturas sem deslocamento ou com pequeno desvio (báscula <15º) são tratadas com
uma imobilização gessada braquipalmar durante 3 semanas.
Nas fraturas com desvio, procede-se a uma redução da fratura através de manobras
ortopédicas. No caso de não se conseguir a redução ortopédica, procede-se à redução e
fixação cirúrgicas da fratura. Em quaisquer das situações, o cotovelo deve ser
imobilizado durante 3 semanas, seguido por uma reabilitação funcional precoce para
evitar a rigidez articular.
192
Fig. 3.4. Classificação das fraturas do colo do rádio.
Por seu turno, as fraturas sem contacto das superfícies fraturárias requerem uma
redução cirúrgica seguida por uma fixação com fio metálico (Fig. 3.5 e 3.6). Recomenda-
se uma imobilização protetora do cotovelo durante 3-4 semanas.
Fig. 3.5. Fratura do colo do rádio com deslocamento acentuado, numa criança.Redução cirúrgica
e fixação com um fio metálico.
193
Fig. 3.6. Redução cirúrgica de fratura do colo do rádio e fixação com
fio metálico transcondiliano que deve ser removido precocemente (3
semanas) para evitar uma rigidez do cotovelo.
c) Fraturas do olecrano
194
Fig. 3.7. Classificação das fraturas do olecrano.
195
Fig. 3.9. Desenho ilustrativo e exames radiográficos de fraturas de traço simples doolecrano tratadas
através de uma osteossíntese com 2 fios metálicos e cabometálico em banda de tensão (cerclagem
em figura de oito).
196
As fraturas da ponta são tratadas com imobilização gessada durante 2-3semanas. No
caso de o fragmento penetrar na articulação do cotovelo está indicada a sua excisão
cirúrgica.
As fraturas da base têm indicação para fixação cirúrgica com parafusos ouplaca e
parafusos, porque são fraturas articulares e muito instáveis, pela ação do músculo
braquial anterior (Fig. 3.11). Para além disso, estão geralmente associadas a luxação
posterior do cotovelo.
197
Fig. 4.1. Luxação posterior e lateral do cotovelo esquerdo com fratura da cabeça dorádio.
Nas luxações do cotovelo procurar fraturas associadas (do olecrano, da cabeça do rádio,
da apófise coronoide, da epitróclea e do epicôndilo), ou seja, devem ser avaliadas no
contexto do quadro clínico de uma fratura-luxação do cotovelo.
O tratamento das luxações do cotovelo pode ser conservador, redução eimobilização
gessada durante 2-3 semanas, seguidas de reabilitação funcional precoce. No caso de
haver fraturas associadas, o tratamento depende do tipo de fratura, conservador ou
cirúrgico, por forma a reconstituir a anatomia articular perdida.
Complicações: lesões neurovasculares associadas, tumefação e síndrome das locas,
rigidez articular, instabilidade crónica por insuficiência do ligamento lateral interno,
ossificações ectópicas e subluxação residual.
Tem a ver com uma subluxação da cabeça radial que rompe o ligamento anular, numa
criança com 2-6 anos de idade, tendo como mecanismo uma tração exercida com o
antebraço em extensão e em pronação, no sentido longitudinal. É uma lesão específica
da criança.
198
Na maioria das situações é provocada pela mãe quando atravessam uma rua:a mãe
puxa a criança pela mão e levanta-a para subir o passeio. Outra situação semelhante é
quando os pais ajudam a criança a subir uma escada, ou quando balançam a criança
segurando-a pelas mãos (Fig. 5.1).
199
Movimentos de pronação e supinação alternados podem ser suficientes para conseguir
a redução. Considerar que a redução pode acontecer de formaespontânea. No caso
de não ser conseguida a redução da subluxação, pode ocorrer uma deformidade
permanente do cotovelo.
6. Bursite olecraniana
200
7. Epicondilite e epitrocleíte
Fig. 7.1. A epicondilite ocorre em jovens desportistas e também em trabalhadoresque exerçam força
manual.
201
epicondilite. A dor também pode surgir quando se ergue uma xícara cheia de café. Outro
sinal fidedigno é a presença de dor no epicôndilo quando seprocede à extensão contra
resistência do dedo médio da mão.
a) b) c)
Fig. 7.2. Na avaliação da epicondilite, a palpação do epicôndilo é dolorosa (a). Os movimentos de
extensão contrariada do punho e a pronação contrariada do antebraço (b) e a extensão contra
resistência do dedo médio da mão (c) causamdor no epicôndilo.
202
a) b)
Fig. 7.3. a) A epitrocleíte ocorre nos desportistas que praticam golfe (“gólfer elbów”) e nós que
lançam dardo. b) A prova da cadeira com punho em extensão (palma da mão virada para trás) orienta
para o diagnóstico de epicondilite.
203
Fig. 8.1. A palpação e percussão da goteira epitrócleo-olecraniana provocamparestesias.
a) b) c)
Fig. 8.2. Compressão do nervo ulnar a nível do cotovelo. a) Parestesias a nível do4º e 5º dedos. b)
Atrofia dos músculos interósseos. c) Garra cubital.
204
Fig. 8.3. Doente com compressão do nervo ulnar no cotovelo após traumatismo antigo (veja-se
cicatriz na face medial do cotovelo). Queixa-se de hipoestesia no lado medial da mão até metade ulnar
do 4º dedo e apresenta garra cubital.
Exames complementares
Radiografia do cotovelo: pode pôr em evidência uma artrose do cotovelo, um osteófito
agressivo que pode comprimir o nervo, uma malformação óssea ou uma deformidade
do cotovelo, como é o caso de cúbito valgo.
Eletromiografia: permite afirmar e determinar o nível da lesão do nervo. Ecografia e
RM: exames importantes para procurar e determinar a natureza deuma eventual lesão
tumoral.
Fig. 8.4. Descompressão do nervo ulnar a nível da goteira epitrócleo-olecraniana. A flexão do cotovelo
coloca o nervo sob tensão no seu trajeto na goteira (esquerda) eapós a libertação e transposição
anterior, o nervo deixa de ficar sob tensão (direita).
205
9. Fraturas diafisárias e fraturas-luxações dos ossos do antebraço
Classificação
As fraturas diafisárias são classificadas de acordo com a classificação doServiço de
Ortopedia dos HUC em tipos A, B, C e D (Fig. 9.1). Deve-se levar em linha de conta a
lesão óssea e a presença ou ausência de lesões das estruturas ligamentares do punho e
do cotovelo.
Pode ocorrer fratura isolada da ulna (choque direto com bastão, por exemplo), fratura
isolada do rádio ou fratura dos dois ossos do antebraço.
A fratura-luxação de Monteggia associa uma fratura proximal da ulna e uma luxação
radioulnar superior, ou melhor, e uma luxação da cabeça do rádio (anterior, posterior
ou lateral) (Fig. 9.2).
A fratura-luxação de Galeazzi associa uma fratura do rádio distal e uma
luxação/disjunção radioulnar distal (Fig. 9.3).
206
Fig. 9.1. Classificação das fraturas diafisárias do membro superior e inferior (HUC).
Fig. 9.2. Fratura-luxação de Monteggia: fratura proximal da ulna associada a umaluxação anterior
da cabeça do rádio.
207
A lesão de Essex-Lopresti ocorre por um mecanismo de compressão axial violenta
(queda sobre a palma da mão) e produzem-se, em simultâneo, uma fratura cominutiva
da cabeça radial e uma disjunção da articulação radioulnar distal. Neste caso existe
uma rotura da membrana interóssea que destabilizaos dois ossos do antebraço (Fig.
9.4).
Fig. 9.4. Lesão de Essex-Lopresti: por um mecanismo de compressão axial violenta (queda sobre a
palma da mão) produzem-se, em simultâneo, uma fratura cominutiva da cabeça radial e uma
luxação/disjunção da articulação radioulnar distal.
Diagnóstico clínico
Deve-se identificar o mecanismo da lesão e distinguir entre traumatismos de alta ou
baixa energia cinética. Podem-se encontrar deformidades segundo a natureza do
acidente. Deve-se examinar cuidadosamente o cotovelo e o punho procurando uma
lesão articular, vascular ou neurológica. Registar e repetir o exame vasculonervoso
distal. O exame radiográfico de frente e perfil deve abranger a articulação do cotovelo e
o punho (Fig. 9.5).
208
Fig. 9.5. Exame radiológico do antebraço onde se pode observar uma fratura daulna e luxação
anterior da cabeça radial. O exame deve abranger o cotovelo e o punho. Avaliar a congruência da
articulação radioulnar distal.
Tratamento
A maioria das situações são tributárias de tratamento cirúrgico através da
osteossíntese das fraturas com placas e parafusos (eventualmente com implantes
endomedulares) e correção das lesões radioulnares (Fig. 9.6). Deste modo, restabelece-
se o comprimento dos ossos do antebraço, a curvatura do rádio, a prono-supinação e,
em última análise, a anatomia e fisiologia perdidas. Por outro lado, a osteossíntese
autoriza uma mobilização e recuperação funcional precoces.
Fig. 9.6. Osteossíntese de fraturas de ambos os ossos do antebraço com placa e parafusos.
209
Nos casos de fraturas isoladas do rádio ou da ulna, sem desvio, o tratamento pode ser
conservador: gesso braquipalmar com cotovelo flectido a 90º, seguido por um gesso
funcional. A consolidação das fraturas diafisárias dos ossos do antebraço é demorada,
durante cerca de 3-4 meses, daí o tratamentocirúrgico ser o mais seguido. Contudo e de
uma forma geral, as fraturas diafisárias do terço superior devem ser imobilizadas em
supinação, as do terço médio em posição neutra e, as do terço inferior em pronação, por
forma a manterem a estabilidade mecânica.
Nas fratura-luxação de Monteggia procede-se à redução e osteossíntese da fratura da
ulna com placa e parafusos e redução da luxação da cabeça radial (com ou sem
reparação do ligamento anular) – Fig. 9.7.
Fig. 9.7. Tratamento cirúrgico de fraturas-luxações de Monteggia - osteossíntese daulna com placa e
parafusos e redução da luxação do rádio.
210
Fig. 9.8. Tratamento cirúrgico de fratura-luxação de Galeazzi (osteossíntese dorádio com placa
e parafuso, redução da luxação radioulnar distal e fixação temporária com fios de Kirschner).
Complicações
Síndrome compartimental (síndrome de Volkmann: mão em garra por
retração isquémica irreversível dos flexores das dedos).
Sinostose radioulnar (ossificação da membrana interóssea com perda da
prono-supinação).
Instabilidade radioulnar.
Limitação da prono-supinação em casos de consolidação viciosa em
rotação e/ou encurtamento do rádio e/ou da ulna.
Artrose do cotovelo e do punho.
211
B – Patologia cirúrgica do punho e mão
Fig. 10.1. O carpo é constituído por oito ossos distribuídos por duas fileiras.
212
hiperextensão de 20-30º. Em flexão os ligamentos laterais estão sob tensão e
distendem-se em extensão.
As articulações interfalângicas são verdadeiras trócleas permitindo o movimento de
flexão/extensão, exclusivamente.
A sensibilidade da mão depende predominantemente do nervo mediano (primeiro,
segundo, terceiro dedos e bordo radial do quarto dedo), do nervo ulnar (bordo ulnar do
quarto dedo e quinto dedo) e nervo radial (dorso da mão).
A pele dos dedos da mão está fixa à estrutura óssea através de ligamentos ede septos.
A irrigação sanguínea é assegurada predominantemente pela artéria ulnar,com a
formação dos arcos superficial e profundo por anastomose com a artériaradial.
A complexa anatomia da mão expressa as múltiplas funções que pode realizar e,
também, as diferentes lesões que pode apresentar. O estudo e tratamento das lesões da
mão constituem, em muitos países, uma especialidade cirúrgica. O tratamento das
lesões da mão tem como escopo primordial a recuperação dafunção. A perda da função
pode estar na origem de incapacidade assinalável, uma vez que a mão é um instrumento
de trabalho e de relação social.
213
a b c d
Fig. 10.2. A prova de Allen avalia a permeabilidade das artérias ulnar e radial. a) O doente eleva e
fecha a mão enquanto o examinador bloqueia o fluxo vascular de ambas as artérias. b) Após a
extensão dos dedos a mão apresenta palidez. c) Quando se desbloqueia apenas a artéria radial a cor
da mão volta ao normal se a artéria radial estiver permeável. d) Procede-se de igual forma para a
artéria ulnar: no caso de estar obstruída (trombose) a cor da mão permanece pálida e a prova é
positiva.
O exame da mão deve ser complementado com a exploração de todo omembro superior
e do pescoço, assim como por um exame geral, dado os sintomas locais poderem ser
uma manifestação de afeções do membro superior, da coluna cervical ou de uma doença
sistémica.
214
Neste contexto, torna-se importante conseguir a redução correta das fraturas e das
fraturas-luxações para evitar as sequelas, tais como as deformidadesrotacionais
e angulares e as alterações degenerativas articulares.
Os dedos fletidos convergem para a eminência tenar (escafoide), se assim não for, existe
um defeito da rotação das estruturas ósseas (Fig. 10.3). O arco longitudinal e transversal
da mão deve estar conservado.
Fig. 10.3. Os dedos flectidos convergem para a eminência tenar. Na figura dadireita observa-
se um defeito rotacional do dedo anelar (consolidação viciosa de fratura no 4º raio da mão)
215
Fig.10.4. Posição de segurança da mão e posição de função da mão.
Noutras situações a mão pode ser imobilizada em posição de função, uma vez que pode
prevenir igualmente a rigidez articular e ajudar no alívio da dor, ao permitir um melhor
relaxamento muscular e ligamentar: punho imobilizado em extensão, a
metacarpofalângica fletida a 60º, a articulação interfalângica proximal fletida a 25º-30º
e a articulação interfalângica distal fletida a 10º-20º(Fig. 10.4).
Imobilizar apenas as regiões anatómicas imprescindíveis e durante o menor tempo
possível (2-3 semanas é o indicado na maioria das situações traumáticas), para evitar a
rigidez articular. Manter os movimentos dos dedos não lesados, sempre que possível.
Não empregar movimentos forçados passivos nas articulações interfalângicas porque é
causa de stress e rigidez articulares. Manter a mão elevada para evitar o edema.
No que diz respeito à consolidação das fraturas da mão, a maioria das fraturas com
desvio, corretamente reduzidas e imobilizadas, ao fim de 3-4 semanas podem ser
mobilizadas, de uma forma prudente, sem esforço e sem carga, apesar de não haver
sinais radiográficos de consolidação óssea. Para isso, o dedo fraturado deve ser
sistematicamente solidarizado aos dedos sãos. Esta precaução deve ser aplicada o
tempo que for necessário, variando com a localização da fratura. Assim, nas fraturas
diafisárias da falange proximal pode ser necessário ir até às 7 semanas e nas fraturas
diafisárias da falange média um pouco mais.
Notar que a abertura do foco de fratura e a osteossíntese da fratura alongam otempo de
consolidação, e que no período pós-operatório não são dispensadas as precauções
acima referidas.
216
11. Fraturas da extremidade distal do rádio
Quadro nosográfico
Correspondem às fraturas metafisárias e epifisárias do rádio distal, articulares ou
extra-articulares. Englobam as fraturas do quarto distal dos dois ossos do antebraço e
as associações com um arrancamento da estiloide radial.
Acompanham-se por lesões radioulnares distais ou intracárpicas.
Epidemiologia
Ocupam o lugar cimeiro na frequência de fraturas traumáticas do aparelho locomotor.
Com um pico no adulto acima dos 60 anos, predominando nas mulheres com
osteoporose, são também frequentes em jovens que sofreram um traumatismo violento
(desporto, tráfico, trabalho).
Resultam de uma queda sobre a mão com o punho em hiperextensão (fraturas com
desvio dorsal), em hiperflexão (fraturas com desvio palmar), em inclinação radial
(fraturas da estiloide radial, chauffeur) ou em inclinação ulnar.
Classificação (Fig.11.1)
Fraturas por extensão (com ou sem envolvimento da superfície articular,com ou
sem desvio).
Fraturas por flexão (com ou sem envolvimento da superfície articular,com ou
sem desvio).
Fraturas marginais anteriores.
Fraturas marginais posteriores.
Fraturas da estiloide radial ou de chauffeur
217
Fig. 11.1. Classificação das fraturas da extremidade distal do rádio.
218
Tratamento
As fraturas do rádio distal consolidam em pouco tempo (4-6 semanas), a taxa de não
consolidação é baixa, devido ao facto de esta zona ser bem vascularizada (osso
esponjoso).
As fraturas por flexão ou por extensão sem desvio são tratadas com uma imobilização
com aparelho gessado braquipalmar durante 1-2 semanas, seguido por um punho
gessado até à estabilização das lesões, por volta das 4- 5 semanas.
As fraturas por flexão ou por extensão com desvio devem ser em primeirolugar
reduzidas e, depois, imobilizadas com um gesso braquipalmar ou fixadas com material
de osteossíntese (fios metálicos, fixadores externos), por forma a não perderem a
redução conseguida.
A redução da fratura pode ser conseguida por manobras externas ou por via aberta,
cirúrgica. A redução por manobras externas deve ser efetuada sob anestesia (plexo
braquial ou geral).
As fraturas por extensão com desvio, sem envolvimento da superfície articular, por
exemplo a fratura de Pouteau-Colles, são reduzidas e imobilizadas com um gesso
braquipalmar posicionando o antebraço em supinação relaxada, o punho em ligeira
flexão e desvio ulnar, durante 3 semanas. Depois, o gesso ésubstituído por um punho
gessado durante mais 3 semanas.
As manobras de redução compreendem três movimentos elementares, numa ordem
cronológica: tração do punho segundo o eixo do antebraço; flexão palmar da mão e
inclinação ulnar. Ao cabo e ao resto estas manobras consistem na realização dos
movimentos inversos aos que provocaram afratura.
No caso de não se conseguir uma redução aceitável da fratura ou a fratura mostrar-se
instável, é preferível recorrer a um tratamento cirúrgico: redução efixação da fratura
com fios metálicos e punho gessado que será removido às 4-5 semanas. Ao fim das 6
semanas retiram-se os fios metálicos e continua-se a reabilitação funcional do punho.
219
As fraturas por extensão com desvio, com envolvimento da superfície articular, são
tributárias de tratamento cirúrgico: redução e osteossíntese com fiosmetálicos, placas
e parafusos, osteotaxia ou osteotaxia e fios metálicos, por forma a restabelecer a
congruência articular (Fig. 11.3).
Fig. 11.3. Fratura da extremidade distal do rádio, com compromisso da superfíciearticular e com
desvio. Osteossíntese com placa e parafusos.
A osteotaxia com fixadores externos é usada por forma a conseguir uma redução
aceitável das fraturas cominutivas por um processo de ligamentotaxia (redução da
fratura óssea e manutenção do comprimento por intermédio da tração sobre os
ligamentos extrínsecos do punho). Depois, às 3-4 semanas retiram-se os fixadores
externos e continua-se a imobilização da fratura com aparelho gessado até às 6
semanas, por norma (Fig. 11.4).
a) b)
Fig. 11.4. Fraturas do rádio distal. a) Fratura-luxação cominutiva da extremidadedistal do rádio,
com envolvimento da superfície articular, com indicação cirúrgica.
b) Fratura do rádio distal com desvio, redução e estabilização com fixadoresexternos (osteotaxia).
220
As fraturas por flexão com desvio, sem envolvimento da superfície articular,são
tratadas de forma semelhante às fraturas por extensão, diferindo nas manobras de
redução e da posição de imobilização da mão, que são inversas. De igual modo, se
houver envolvimento da superfície articular, estas fraturas têm indicação cirúrgica.
Fig. 11.5 Fratura exposta da extremidade distal dos ossos do antebraço. Redução e estabilização com
fixadores externos. Fasciotomia do antebraço por síndrome comportamental.
221
Complicações das fraturas da extremidade inferior do rádio
• Algoneurodistrofia (atrofia óssea de Sudeck).
Qualquer dos ossos que constituem o carpo pode apresentar uma fratura. Contudo,
apenas descrevemos os aspetos mais salientes relacionados com as fraturas do
escafoide, por serem as mais frequentes.
Fig. 12.1. Classificação das fraturas do escafoide cárpico: polares superiores, docolo anatómico e
polares inferiores.
222
À semelhança do talus, o escafoide tem uma vascularização precária, nosentido distal
para proximal. A maioria dos vasos nutritivos penetra na metadedistal.
Cerca de quatro quintos do osso estão cobertos por cartilagem. Apenas uma pequena
área permite a penetração dos vasos sanguíneos, 80% dos vasos penetram na porção
distal e dorsal e 20% no tubérculo do escafoide (face palmar). Daí, as fraturas
localizadas em posição proximal à entrada dos vasos nutritivos comprometerem a
irrigação do fragmento proximal com o risco de necrose asséptica, ou seja, quanto mais
proximal for a fratura maior é o risco de pseudartrose e de necrose do fragmento
proximal.
a) b)
Fig. 12.2. Fratura do escafoide cárpico: a) aspeto radiológico nas incidências de frente e perfil de uma
fratura do colo do escafoide. A figura da direita (b)mostra uma fratura do escafoide cárpico de difícil
identificação na radiografia de frente o que não acontece na TAC. O exame mais sensível para o
despiste destas fraturas ”ócultas” é a RM.
Com efeito, perante a suspeita clínica de uma fratura do escafoide, o exame radiográfico
pode ser inconclusivo (fratura oculta). Na dúvida deve-se imobilizar o punho com um
aparelho antebraquipalmar (punho gessado)
223
durante 15 dias e voltar a radiografá-lo recomendando-se, para isso, efetuar a
radiografia sem gesso ou outro material, para melhor identificação da lesão. Sehouver
uma fissura/fratura o exame radiográfico mostra a lesão devido aoprocesso de
reabsorção dos topos ósseos e, então, continuamos o tratamento.Esta é uma atitude
aceitável, porque mesmo que não haja uma fratura aimobilização permite tratar
uma suposta lesão traumática (contusão, entorse). O exame com mais sensibilidade
para detetar uma fratura do escafoide é a RM,sendo, n o e n t a n t o , o mais
dispendioso e de mais difícil acesso. Um hipossinalem T1 e T2 identifica a
fratura/fissura.
224
a) b)
Fig. 12.3. Aparelhos gessados para tratamento de uma fratura do escafoide sem desvio a) Gesso
braquipalmar: polegar em posição de oponência com imobilização da primeira falange. b) Gesso
antebraquipalmar com o polegar livre e ligeira extensão do punho.
Seja como for, parece-nos que nas fraturas do escafoide sem desvio e estáveis uma
imobilização com aparelho antebraquipalmar (punho gessado), com o punho em
posição neutra e com o polegar livre, até à consolidação da fratura, é uma opção
terapêutica eficaz (Fig. 12.3.b). Para isso, torna-se importante controlar
radiograficamente a evolução da fratura, intervindo cirurgicamente se porventura
surgir um desvio inaceitável, ou pseudartrose.
As fraturas sem desvio e estáveis, como já referido, são geralmente tratadas com
imobilização gessada, podendo também ser tratadas por osteossíntese minimamente
invasiva (percutânea). Nas fraturas com desvio e instáveis procede-se a uma
osteossíntese (por via minimamente invasiva ou pelo método aberto com parafusos de
pequenos fragmentos ou parafusos autocompressivos de Herbert – Fig. 12.4).
225
Complicações: As fraturas do escafoide podem evoluir para pseudartrose. Se
localizadas no polo superior, aumenta o risco de necrose asséptica do fragmento
proximal. A história natural destas complicações se não foremtratadas em tempo útil é
a evolução para artrose do punho.
Quanto à pseudartrose do escafoide, o tratamento cirúrgico inclui uso de enxertos
ósseos, estando indicados os enxertos vascularizados no caso de necrose avascular do
polo proximal (Fig. 12.5).
Fig. 12.5. Tratamento de pseudartrose do escafoide cárpico. Na técnica de Matti- Russe usa-se um
autoenxerto cortico-esponjoso do ilíaco. O foco da pseudartrose é preenchido com o enxerto ósseo.
Fig. 12.6 Radiografia de artrodese intracárpica com exérese de escafoide como cirurgia paliativa após
pseudartrose avascular do escafoide
226
13. Fraturas dos metacárpicos
Fig.13.1. Tipos diversos de fraturas dos metacárpicos: oblíqua longa, oblíqua curta, cominutiva,
articular parcial e articular completa.
Fraturas do colo
Descritas classicamente cómó “fraturas dó bóxeur”. A fratura dó cóló dó 5º metacárpico
é a mais frequente.
A cabeça do metacárpico bascula em flexão para a palma da mão (Fig. 13.2), podendo
apresentar um desvio lateral e uma rotação radial (4º e 5º metacárpicos) ou rotação
ulnar (2º e 3º metacárpicos).
Fig. 13.2. Esquema ilustrativo de uma fratura do colo do 5º metacárpico com o desvio característico:
a cabeça do metacárpico bascula em flexão para a palma da mão. Ao lado ilustra-se a redução da
fratura.
227
As fraturas sem desvio ou com desvio mínimo justificam uma imobilização da
articulação metacarpofalângica em flexão (posição de estabilidade) durante 3 a 4
semanas.
No caso de haver desvio, procede-se à redução da fratura. Para isso, aprimeira falange
deve ser fletida a 90º em relação ao metacárpico, o que distende a cápsula articular.
Depois, pressiona-se a cabeça do metacárpico no sentido dorsal através da primeira
falange. Em seguida imobiliza-se a fratura com uma tala de alumínio maleável durante
3-4 semanas, incorporada ou não num gesso antebraquipalmar (Fig. 13.3). Fazer exame
radiográfico para controlo da redução da fratura.
Fig. 13.3. Aspecto clínico da redução e imobilização com tala de Zimmer de umafratura do colo do
5º metacárpico.
Fig.13.4. Fratura do colo do 5º metacárpico com desvio: redução e fixação cirúrgicada fratura com
fios de Kirschner, por via percutânea.
228
Fig. 13.5. Fratura do colo do 4º metacárpico com o desvio: redução e osteossíntesecom um parafuso.
Fraturas da base
As fraturas da base do primeiro metacárpico são frequentes e apresentam
particularidades clínicas. Por sua vez, as fraturas da base dos outros metacárpicos são
causadas por traumatismos diretos e em regra não apresentam desvios dos topos
ósseos.
Assim, estudaremos as fraturas articulares de Bennett e de Rolando e as fraturas extra-
articulares do primeiro metacárpico.
229
Fig. 13.6. Exame radiográfico de uma fratura-luxação de Bennett: redução e osteossíntese com dois
parafusos. Desenho representativo da redução e fixação do mesmo tipo de fratura, neste caso com
fios de Kirschner transversais (técnica de Islin).
230
Fig. 13.8. Esquema representativo de osteossíntese de uma fratura extra-articular do 1º metacárpico
com fios de Kirschner. Exame radiográfico do mesmo tipo de fratura: osteossíntese com placa e
parafusos.
Fraturas diafisárias
Os metacárpicos estão fortemente unidos entre si por ligamentos e músculos, de
maneira que a maioria das fraturas da diáfise é estável e pode ser tratada com uma
imobilização gessadas durante 3 semanas, deixando livres a articulações
metacarpofalângicas.
Por sua vez, nas fraturas com desvio, o fragmento distal báscula em flexão pela ação
dos músculos flexores e músculos interósseos (Fig. 13.9).
Fig. 13.9. Nas fraturas dos metacárpicos com desvio o fragmento distal bascula em flexão pela ação
dos músculos flexores e músculos interósseos, formando com o fragmento proximal um ângulo de
abertura palmar.
231
O tratamento destas fraturas consiste na sua redução, com controlo do desvio
rotacional. A contenção da fratura depende da estabilidade do foco da fratura após a
redução. No caso de estável e sem desvio, procede-se à imobilização com uma tala de
alumínio maleável durante 3 semanas, punho em extensão e metacarpofalângica em
flexão. As fraturas instáveis e as fraturas expostas têmcomo tratamento a osteossíntese,
adaptando-se a técnica ao tipo de fratura.
As fraturas oblíquas podem ser aparafusadas. Noutras, pode estar indicadouma
osteossíntese com placa e parafusos (cominutivas) (Fig. 13.10 e 13.11). Seja como for,
o encavilhamento percutâneo longitudinal com fios metálicos e a fixação cirúrgica
aberta das fraturas com fios metálicos são métodos muito divulgados e usados (Fig.
13.12).
232
Fig. 13.12. Encavilhamento percutâneo longitudinal de uma fratura do 4ºmetacárpico, que
conduziu à sua consolidação.
233
ação dos músculos interósseos e o fragmento distal em extensão por ação do aparelho
extensor (Fig. 14.1).
Fig. 14.1. Fraturas da falange proximal e média com desvio. a) Na falange proximala angulação da
fratura é de abertura dorsal b) Na falange médio a angulação da fratura depende da sua localização
em relação à inserção do tendão do flexor superficial
Nas fraturas diafisárias da falange média (F2) a angulação da fratura varia consoante a
localização do traço de fratura relativamente à inserção do tendão do flexor superficial.
Assim, a angulação é dorsal se estiver localizado numa posição distal à inserção
tendinosa e palmar se o traço estiver localizado numa posição proximal.
As fraturas diafisárias sem desvio tratam-se com uma imobilização em tala de alumínio
maleável (tala de Zimmer), durante 4-5 semanas, com o segmento digital em posição de
função ou, ainda melhor, usando a sindactilização de dois dedos com adesivo. Este
último método protege a falange fraturada e permiteo movimento das articulações
digitais, o que constitui, por si só, uma mais-valia (Fig. 17.1).
As fraturas com desvio devem ser reduzidas e imobilizadas em flexão ou em extensão
de acordo com o desvio inicialmente apresentado. Nas proximais o dedo deve ser
imobilizado em flexão marcada, especialmente a nível da
234
interfalângica proximal (Fig. 14.2). Nas da falange média, se a angulação for dorsal o
dedo imobiliza-se em flexão, se a angulação for palmar, deve-se imobilizar em extensão.
Fig. 14.2. Esquema ilustrativo de uma fratura da falange proximal com desvio. Redução e imobilização
com tala de Zimmer em posição de função da mão (articulação metacarpofalângica e interfalângica
proximal em flexão) permitindo o alinhamento da fratura. Este tipo de fratura também pode ser
reduzida e depois imobilizada na posição de segurança da mão (metacarpofalângica a 90º e
articulações interfalângicas em extensão).
Nas situações em que não se consegue uma redução aceitável da fratura, ou nos casos
em que ocorreu um desvio secundário no decurso do tratamento ortopédico, está
indicada a intervenção cirúrgica. Assim, procede-se a redução e fixação da fratura com
fios metálicos, parafusos ou placas e parafusos (Fig. 14.3).
235
a b c
Fig. 14.3. Osteossíntese de fraturas das falanges. a) Esquema ilustrativo de diferentes tipos de
osteossíntese com placas e parafusos de minifragmentos; b) Fratura diafisária da falange proximal
com fixada com parafusos; c) Fracturacominutiva fixada com placa e parafusos.
Nas fraturas articulares, salvo nas estáveis que não apresentam desvio, procura-se
sempre que possível uma redução anatómica e fixação por método cirúrgico (fios
metálicos, parafusos) por forma a evitar a doença fraturária óssea (atrofia das partes
moles, rigidez articular, osteoporose) e a evolução para a artrose. Se o fragmento da
fratura articular for de grande dimensão associam-se, em regra, uma subluxação ou
luxação da articulação, que é urgente reduzir e estabilizar.
236
As fraturas da base ocorrem, em geral, por avulsão/arrancamento de um fragmento
dorsal pela tração dos tendões extensóres (dedó “em marteló”) (Fig. 14.4) ou por
avulsão/arrancamento de um fragmento palmar provocado pela tração exercida pelos
tendões flexores profundos (raras) (Fig. 14.7).
Fig. 14.4. Fratura-arrancamento da base da falange distal. Aspecto clínico do dedo em martelo.
Se o fragmento dorsal for volumoso por forma a ocorrer a subluxação palmar da falange
distal, deve-se proceder à redução e fixação do fragmento com um parafuso ou fio
metálico (Fig. 14.5). Se o fragmento for de pequenas dimensões, o tratamento
ortopédico com uma tala de Stack (Fig. 14.6) durante 6-8 semanas, mantendo a
articulação interfalângica distal em extensão, constitui uma opção terapêutica
geralmente eficaz.
Fig. 14.5. Fratura-arrancamento da base da falange distal com um fragmento articular dorsal e com
desvio: redução e osteossíntese do fragmento articular com fios de Kirschner.
237
a) b) c)
Fig. 14.7. Fratura-arrancamento da base da falange distal com desvio, com um fragmento articular
palmar: redução e osteossíntese do fragmento articular.
238
15. Luxações do carpo
239
Fig. 15.1. Luxações do carpo. Em cima: luxação anterior do lunatum. Os outros ossos do carpo
mantêm a sua posição anatómica. A incidência de frente mostrauma diástase entre o escafoide e
o triquetrum devido à luxação do lunatum.
Em baixo: luxação retrolunar do carpo. O lunatum mantém a sua posição anatómica por baixo da
superfície do rádio, os outros ossos do carpo estão desviados para trás.
Como complicações pode haver compressão do nervo mediano, que regride após a
redução da luxação; mais tarde pode ocorrer necrose avascular do lunatum e artrose do
punho.
240
Existe rotura da cápsula articular – placa palmar -, por onde penetra a cabeça do
metacárpico de tal forma que pode haver um bloqueio a nível do colo do metacárpico.
Daí, poder ser difícil reduzir a luxação por método ortopédico e haver necessidade de
recorrer à redução cirúrgica, aberta. De forma semelhante pode ser impossível reduzir
uma luxação metacarpofalângica do indicador sem recorrer à cirurgia.
Fig. 16.1. Aspecto clínico de uma luxação metacarpofalângica do polegar. O dedo desloca-se para
cima e para trás. Imagem do polegar após a manipulação/reduçãoda luxação.
Fig. 16.2 Luxação metacarpofalângica do polegar. a) Aspecto radiológico antes da redução da luxação.
b) Redução ortopédica e imobilização com tala de alumínio maleável (tala de Zimmer).
241
17. Luxações interfalângicas
Fig. 17.1. Luxação da articulação interfalângica proximal do dedo médio. Redução e imobilização
através da sindactilização com adesivo do dedo médio ao dedo anelar são, permitindo uma
mobilização precoce e estável do dedo lesado.
242
18. Síndrome do canal cárpico
Etiologia
Aumento do conteúdo do canal: luxações ou fraturas dos ossos do carpo esuas
sequelas, depósito de material estranho (amiloidose, tofos gotosos, hematoma em
doentes anticoagulados), lesões paratumorais e tumores (quistos sinoviais, angioma),
trombose arterial, músculos aberrantes, aumento
243
do volume das bainhas tendinosas (tenossinovite reumatoide, tenossinovite
tuberculosa);
diabetes; alcoolismo; alterações do metabolismo hidroeletrolítico (gravidez,
menopausa, eclâmpsia, hipotiroidismo, insuficiência renal, obesidade, lúpus,
esclerodermia, doença de Paget); vibrações; pressão traumática direta; idiópática…
Quadro clínico
Parestesias, dor e diminuição da força muscular.
As parestesias no território digital do nervo mediano (na face palmar dosdedos
polegar, indicador, médio e metade radial do anelar) e a dor sãonoturnas, acordam o
paciente e aliviam/cessam com as mobilizações do punhoe dedos em pouco minutos
(móvimentó dó tipó “sacudir”). As parestesias podem irradiar para o antebraço e
inclusivamente até ao ombro e pescoço, levando alguns autores a descrevê-las num
quadro de braquialgia parestésica noturna. As parestesias podem estar localizadas no
território palmar, muito raramente, originando uma sensação de comichão na palma da
mão.
Dependente da evolução, a sintomatologia aparece, também, durante o dia e começa a
manifestar-se um défice sensitivo e uma paresia parcial dos músculos da eminência
tenar, que pode conduzir a uma atrofia muscular, com marcada dificuldade para a
realização de trabalho manual fino. A diminuição daforça de oponência do polegar e a
hipotrofia da eminência tenar devem-se aum compromisso do ramo motor do mediano
para o músculo curto abdutor do polegar.
A prova de Tinel e a prova de Phalen (Fig. 18.2) são importantes para afirmar o
diagnóstico. A primeira consiste na percussão do nervo mediano na face palmar do
punho, que desencadeia uma sensação de um choque elétricoirradiando até aos
dedos. A prova de Phalen consiste em manter a flexão forçada do punho durante 1 a 2
minutos. A prova é positiva no caso da presença de parestesias nos dedos, sobretudo
no dedo médio, isto é, a pressãono interior do canal cárpico aumenta e reproduzem-se
os sintomas. Esta prova pode ser realizada, também, com o punho em extensão (Phalen
invertido).
244
Fig. 18.2. A prova de Tinel e a prova de Phalen são importantes para o diagnósticode síndrome do
canal cárpico.
Tratamento
No estádio álgico, sem défice sensitivomotor, deve-se proceder ao tratamento
conservador/médico que consiste em: administração de anti-inflamatórios não
esteroides, analgésicos, infiltração intra-canalar com corticosteroides e aplicação de
uma ortótese antebraquipalmar com o punho em posição neutra, mesmo durante a
noite, porque durante o sono o punho posiciona-se espontaneamente em flexão com o
consequente aumento da pressão no canal cárpico.
Se a sintomatologia persistir ou houver défice sensitivomotor, está indicado proceder à
secção do retináculo anterior do carpo descomprimindo, destaforma, o nervo mediano
(Fig. 18.3). No caso de o fator etiológico ser
245
conhecido, o tratamento consiste na correção cirúrgica da causa da compressão do
nervo mediano (tenossinovectomia, osteotomia corretiva do rádio, remoção tumoral,
remoção de músculo aberrante...).
A secção do retináculo anterior do carpo pode ser efetuada por via aberta (incisão
cutânea clássica ou mini-incisão) ou por via endoscópica.
Fig. 18.3. A secção do retináculo anterior do carpo representa o gesto terapêuticomais usado para o
tratamento da síndrome do canal cárpico.
Etiologia
Pode estar relacionada com traumatismos (fraturas do hamatum, da base do quinto ou
quarto metacárpicos), tumores (lipoma, quistos sinoviais), variações das estruturas
anatómicas (músculós aberrantes), síndróme dó “marteló” na eminência hipotenar
(trombose da artéria ulnar e da arcada superficial por traumatismo), artrose radioulnar
inferior, entre outros. Torna-se extremamente difícil aceitar uma causa idiopática para
a síndrome do canal ulnar de Guyon.
Clínica
O quadro clínico pode variar de acordo com a localização da compressão: motora,
sensitivo-motora ou só sensitiva.
De uma forma geral, presença de dor moderada e persistente na região hipotenar
(podendo irradiar para o cotovelo), acompanhada por parestesias no bordo ulnar da
mão, nos dois lados do dedo mínimo e no bordo cubital do anelar. À medida que o
quadro compressivo evolui, pode haver paresia dos músculos inervados pelo nervo
ulnar e hipotrofia da mão, com exceção da região tenar dependente da inervação do
nervo mediano.
A prova de Allen negativa (Fig. 10.3) pode afastar um quadro de trombose da artéria
ulnar. Notar que é importante pesquisar a sensibilidade na regiãodorso-ulnar da
mão, que depende do ramo dorsal sensitivo do ulnar, que emerge num sítio proximal
ao canal de Guyon. Assim, se houver alterações é suposto haver uma compressão a nível
mais proximal, como no túnel ulnar do cotovelo, e não a nível do canal de Guyon.
O eletromiograma faz parte da avaliação do sofrimento do nervo ulnar, assim como uma
radiografia do punho para despiste de uma fratura ou das suas sequelas e, ainda, uma
ecografia (tumor, anomalia muscular) e o exame Doppler da artéria ulnar
(trombose). Em raros casos pode estar indicada uma RM para informação clínica
complementar (tumor).
Tratamento
247
O tratamento da síndrome do canal de Guyon é, frequentemente, cirúrgico tentando
evitar, sempre que seja possível, a instalação de alterações motoras. Consiste na
libertação da artéria ulnar, do nervo ulnar e dos seus ramos, deixando o canal aberto,
suturando-se apenas a aponevrose e a pele, ou na correção cirúrgica da causa da
compressão do nervo ulnar.
Fig. 20.1. A dor localizada sobre a apófise estiloide do rádio é a queixa principal da tenossinovite
estenosante de De Quervain sendo agravada pela prova de Finkelstein.
248
O tratamento começar por ser conservador, tala de repouso durante 15 dias,
administração de anti-inflamatórios não esteroides, imobilização do punho e infiltração
com corticosteroides, fisioterapia. O tratamento cirúrgico consiste na abertura do
primeiro compartimento dorsal do punho e secção da bainha tendinosa do longo
abdutor e curto extensor do polegar, e está indicado em caso de insucesso do
tratamento conservador ou, menos frequentemente,como medida terapêutica inicial.
Fig. 21.1. No dedo em gatilho deteta-se um “ressaltó” durante o movimento daflexão do dedo,
relacionado com a passagem do tendão espessado na polia A1.
249
Como causas descrevem-se os traumatismo e o uso excessivo da mão, embora nas
crianças possa ser de origem congénita. Mais frequente em mulheres, envolve na
maioria dos casos o dedo polegar, seguindo-se o dedo anelar e o médio.
A queixa inicial é uma dor na região metacarpofalângica, presença de um ressalto e, por
vezes, perda do movimento com o dedo em flexão ou extensão. As infiltrações com
corticosteroides e o repouso podem estar indicados na fase inicial. Todavia na fase
crónica, perante a presença de um ressalto tendinoso,a secção cirúrgica da polia A1 é
o procedimento mais recomendado permitindo,desta forma, a excursão livre do tendão
flexor (Fig. 21.2). Nas crianças adiar cirurgia até aos 18 meses, uma vez que pode haver
uma remissão espontânea.
Fig. 21.2. Libertação dos tendões flexores do 4º dedo após secção da polia A1.
250
Fig. 22.1. Quisto sinovial na região dorsal e na região palmar da mão.
Assintomáticos na maioria das vezes podem, no entanto, ser causa de dor (quando se
realizam movimentos de repetição e esforços) e podem causaruma compressão
vascular e nervosa. Com uma forma arredondada, costumamter consistência firme, ou
mole e flutuante, dependendo do seu conteúdo. Podem desaparecer de forma
espontânea.
Em caso de dor persistente ou de compressão vascular e nervosa, a excisão cirúrgica é
o tratamento mais efetivo, com uma taxa de recidiva de cerca de 20%. A punção e
infiltração do quisto com corticosteroides, a sua destruição por pressão, a transfixação
com agulha, são técnicas de índole conservadora com resultados variáveis. A simples
aspiração, uma vez em sítio facilmente acessível, é outro dos métodos de tratamento.
251
Fig. 23.1. A doença de Dupuytren pode levar a uma retração fibrosa acentuada dapalma da mão e a
uma flexão irredutível de um ou mais dedos.
Quadro clínico
O sinal mais precoce da doença é a presença de nódulos pré-tendinosos, indolores, a
nível das pregas de flexão da palma da mão. Contudo, é comum os pacientes
procurarem tratamento numa fase mais avançada da doença, onde é possível
identificar: cordões fibrosos, retrações grosseiras da palma da mão, depressões
cutâneas, flexão fixa dos dedos da mão, quer a nível das articulações
metacarpofalângicas, quer a nível das articulações interfalângicas proximais. O dedo
anelar é o mais afetado, seguido pelos dedos mínimo, polegar, médio e indicador.
Podem surgir nódulos subcutâneos no dorso das articulações digitais, tipo fibroma,
denominados por nódulos de Garrod.
252
Tratamento
O tratamento cirúrgico é atualmente a única solução terapêutica, e deve ser indicado
quando houver uma contratura articular, isto é, uma flexão articular fixa que origine
incapacidade funcional limitativa da atividade manual.
Dentre as várias técnicas cirúrgicas, a aponevrectomia / fasciectomia parcial, ou seja, a
excisão da fáscia patológica é a mais indicada (Fig. 23.2). Afasciotomia (incisão sem
excisão da fáscia) tem indicação no paciente idoso, é uma intervenção pouco agressiva.
A fasciotomia por agulha justifica-se nos casos em que a doença envolve, apenas, a
região palmar.
Fig. 23.2. A aponevrectomia parcial é o procedimento cirúrgico mais usado para otratamento da doença de
Dupuytren.
24. Rizartrose
253
Fig. 24.1. A dor de tipo mecânico localizada na base do polegar e o exameradiográfico da mão
permitem o diagnóstico de rizartrose.
a) b) c)
Fig. 24.2. Tratamento cirúrgico de rizartrose: a) aspecto radiográfico após a trapezectomia (seta
aponta o espaço de ressecção do trapézio); b) esquema de suspensão do tendão flexor radial do carpo
ao primeiro metacárpico; c) aspeto da preparação da interposição tendinosa no espaço da ressecção
do trapézio.
254
Outras soluções cirúrgicas incluem a artrodese trapézio-metacárpica ou aartroplastia
com implantação de uma prótese total ou parcial.
A artrodese pode ser uma solução para o trabalhador manual e de força, que necessite
de uma possante pinça pulpo-lateral do polegar.
Por sua vez, a artroplastia da articulação trapézio-metacárpica representa umasolução
elegante para os pacientes idosos, mau grado as suas complicações pós-operatórias
(luxaçãó, descólamentó e “silicónite”/rótura nós implantes em silicone).
255
Fig. 25.1. Exame radiológico e RM do punho mostrando uma necrose
asséptica do lunatum.
Estádios radiológicos
Estádio I: condensação do lunatum;
Estádio II: lunatum com um aspecto geódico;
Estádio III: deformação e reabsorção do lunatum com ou sem instabilidade docarpo;
Estádio IV: Artrose
Tratamento
O tratamento conservador comporta a imobilização do punho e farmacoterapia, as
furagens ósseas percutâneas, nomeadamente no estádio I, durante a fase dolorosa.
Nos estádios I e II: osteotomia descompressiva de encurtamento do rádio ou osteotomia
de alongamento da ulna, por forma a restabelecer o índice radiolunar inferior. No
estádio III, uma mão cheia de técnicas cirúrgicas foram tentadas com resultados
variáveis, de que são exemplos, a excisão da primeira fileira do carpo, a excisão do
lunatum e osteotomia-distração do capitatum (operação de Graner), técnicas de
revascularização do lunatum com ou sem artrodese intercárpica, assim como a
excisão do lunatum e sua substituiçãopor uma prótese (em silicone) ou por um retalho
capsular. No estádio IV a artrodese intercárpica ou mesmo a artrodese radiocárpica
encontram a melhor indicação (Fig. 25.2).
256
Fig. 25.2. Artrodese radiocárpica como tratamento paliativo de doença de Kienböckno grau IV.
Toda a infeção da mão deve ser considerada como uma urgência cirúrgica, se apesar de
um tratamento conservador bem conduzido (banhos antissépticos, anti-inflamatórios,
antibióticos) não se observar uma regressão rápida dos sinais de destruição tecidular
(24 horas). Assim, a intervenção cirúrgica pode incluir: uma drenagem de toda a coleção
purulenta, uma excisão dos tecidos necrosados, uma imobilização do segmento
infetado, a colheita de tecidos ou de exsudatos para exames bacteriológico e micológico,
uma antibioterapia de largo espectro de ação e a profilaxia antitetânica.
a) Infeções correntes/comuns
Panarícios
Por definição, panarício tem a ver com inflamação difusa do dedo de tipo fleimão,
superficial ou profunda, ou localizada em redor da unha. Estas infeções dos tecidos
moles da mão são frequentes e graves, porque na ausência de um tratamento correto
e precoce podem originar importantes sequelas. Assim, panarícios crónicos com
supuração, necroses cutâneas, reabsorções óssea significativas, podem ter indicação
para uma amputação dosdedos da mão.
A porta de entrada é geralmente uma ferida ou uma picada. O agente microbiano mais
frequente é o Staphylococcus aureus coagulase positivo
257
seguido pelo Streptococcus hemolítico, muito embora se possam identificar diversos
microrganismos em condições etiológicas particulares (picadas e mordeduras).
O diagnóstico deve ser efetuado precocemente, quer se trate de um panarício dos dedos
ou de um fleimão da mão. A infecção manifesta-se por uma dor lancinante, pulsátil,
espontânea, aliviada com a elevação da mão e, ainda, por edema e rubor (sinais
cardinais de Celsus).
Sob ponto de vista anatomopatológico descrevem-se quatro estádios: celulite,
supuração, difusão e necrose. Os princípios gerais do tratamento incluem: imobilização,
antibioterapia, profilaxia antitetânica e tratamento cirúrgico, sob anestesia,
respeitando os princípios da cirurgia da mão, nomeadamente nas vias de abordagem.
Em todos os casos deve ser pedida uma pesquisa de bactérias e fungos, com cultura e
antibiograma.
258
Fig. 26.1. Panarício periungueal.
Fig. 26.2. Fleimão no dorso da mão com necrose cutânea (Staphylococcus aureus).
259
Fig. 26.3. Fleimão das bainhas tendinosas.
Furúnculo
Desenvolve-se nos folículos pilosos do dorso da mão ou dos dedos (Fig. 26.4).
Tratamento: desbridamento alargado e antibioterapia.
260
Artrite séptica
Inoculação de um agente infecioso na articulação por via externa ou hematógena.
Presença de tumefação, dor local e impotência funcional. Tratamento: artrotomia,
lavagem articular, imobilização e antibioterapia.
b) Infeções particulares/específicas
Tuberculose
Tumefação sem sinais inflamatórios, não dolorosa, do tipo crónico com fístulas
cutâneas, roturas tendinosas e rigidez articular.
A artrite tuberculosa do punho (“tumór branco do punhó”) é uma formaclássica de
tuberculose osteoarticular.
A nível da mão, a infeção das falanges e dos metacárpicos tem um comportamento
característico: envolve o centro do canal medular, existe um alargamento do osso e uma
artrite secundária.
A tenossinovite tuberculosa é de difícil diagnóstico. Trata-se de uma sinovite riziforme
(sinovite crónica na forma de “grãós de arróz”) cóm crepitaçãó. Torna-se importante
fazer o diagnóstico diferencial com a sinovite reumatoide que pode apresentar,
também, uma forma riziforme.
Infeção herpética
Manifesta-se pela presença de pequenas vesículas cutâneas que causam dores de tipo
queimadura, na criança e em jovens adultos (Fig. 26.5). Evolução para a cura
espontânea, em alguns dias. Carácter recidivante. Na presença de sintomas gerais
(febre, cefaleias, mialgias, encefalite) pode estar indicada a administração de fármacos
antivirais.
261
Fig. 26.5. Infeção herpética na região palmar da mão.
Mordeduras
São consideradas como feridas contaminadas, desde o início, com alto risco séptico. Nas
mordeduras humanas pode cultivar-se o Eikenella corrodens, um anaeróbio gram
negativo, e nas mordeduras provocadas por animais domésticos a Pasturella multocida
um coco gram negativo sensível às cefalosporinas. Todavia, a infeção por Pasturella
causada pela mordedura de gato pode ser de difícil controlo.
Tratamento: deixar as feridas abertas, desbridamento cirúrgico, imobilização e
antibioterapia. Se indicado, realiza-se profilaxia antitetânica e antirrábica.
262
27. Malformações congénitas da mão
a) b) c)
Fig. 27.1. Malformações congénitas da mão: a) sindactilia entre os dedos médio e anelar; b) polidactilia
dedo mínimo; c) macrodactilia do dedo indicador.
263
Polidactilia: frequentemente hereditária, representa 15% das malformações.
Duplicação de um dedo (polegar, dedo mínimo) ou mais excepcionalmente deuma
mão (mão em espelho). A correção cirúrgica consiste em proceder à fusãodos
segmentos duplicados, ou a suprimir o ou os raios menos funcionais,levando em
conta o plano estético (Fig. 27.1.b).
a b c
Fig. 27.2. Malformações congénitas da mão: a) hipoplasia do polegar; b)ectrodactilia; c)
malformação congénita complexa.
Mão bota radial: Consiste na hipoplasia ou ausência do rádio, das partes moles e dos
dedos da metade lateral do antebraço e da mão (agenesia parcial longitudinal). O
membro superior apresenta-se, no seu conjunto, hipoplásico. A mão adquire uma
posição viciosa no sentido de uma inclinação lateral.
O tratamento é cirúrgico e precoce (1 a 2 anos): centralização ou radialização do carpo
com polegarização do indicador, se houver ausência do polegar.
265
Polegar em “ressalto” congénito: Trata-se de uma malformação particular, devido a
uma formação dura nodular do tendão do longo flexor do polegar, ao nível da polia
metacárpica, interditando a extensão ativa da articulação interfalângica, que se
apresenta bloqueada em flexão.
O tratamento é em princípio cirúrgico: secção da polia A1. Em certos casos pode-se
assistir a uma resolução espontânea e, como se disse, justifica-se adiar a cirurgia até aos
18 meses de idade. Se não houver resolução espontânea, deve ser operado antes dos 4
anos para evitar as deformidades permanentes.
266
Patologia Cirúrgica da Anca
Conceitos gerais
Anatomia
- A bacia óssea/pelve ou anel pélvico é constituída pela colunasacrococcígea
e dois ossos ilíacos (coxais) e pelas articulações e ligamentos que unem estes
ossos entre si (articulações sacroilíacas, sínfise púbica, ligamentos sacro-
tuberositários e sacro-espinhosos sendo o buraco obturado coberto pela
membrana obturadora). Os ligamentos sacro-tuberositários e sacro-
espinhosos são fundamentaisna integridade do pavimento pélvico.
- A estabilidade do anel pélvico é assegurada pelos complexos ligamentares
sacroilíacos (complexo ligamentar posterior++, complexo ligamentar
anterior+), ligamentos sacro-tuberositários, ligamentos sacro-espinhosos,
ligamentos iliolombares e pela sínfise púbica. Estas estruturas são cruciais
para a integridade ou para a perda da estabilidade do anel pélvico.
Mecanismo da lesão
- A maioria das fraturas do anel pélvico resultam de traumatismos debaixa
energia, são fraturas não complicadas.
- Traumatismos de alta energia (frequentes nos politraumatizados).
- Quedas de elevada altura, atropelamento na via pública, acidentes na
prática de ski, acidentes de viação.
- O tipo de lesão do anel pélvico depende da energia e direção das forças
traumáticas: os choques laterais provocam umafundamento/esmagamento,
os choques anteroposteriores e as forças de cinzelamento causam
deslocações ou aberturas do quadro pélvico, muito instáveis.
267
- Distinguem-se: as fraturas do anel pélvico sem envolvimento da
articulação da anca e as fraturas do acetábulo (envolvimento da congruência
da anca).
268
rotacional/horizontal de um ou dos dois ossos ilíacos.
A estabilidade vertical está conservada.Ex: lesões em
livro aberto (disjunção da sínfise púbica), lesões por
compressão lateral e por compressão ântero-
posterior. Lesão dosligamentos do pavimento pélvico.
Tipo C - Lesões instáveis no sentido vertical e rotacional. Rotura total do
arco pélvico posterior e do pavimento pélvico. Instabilidade pélvica total.
- Perda da estabilidade do arco posterior do anel (lesão
do complexo ligamentar posterior e anterior e dos
ligamentos do pavimento pélvico): instabilidade
rotacional/horizontal e vertical. Lesões potencialmente
mortais. Ex: fratura de Malgaigne, fratura em asa de
cesto, disjunções sacroilíacas.
Complicações
- Mortalidade elevada no jovem (10% a 20%), devido àshemorragias.
- Lesões orgânicas internas associadas, nos dois últimos tipos (lacerações
dos troncos venosos e arteriais, roturas da bexiga e da uretra, lesões do plexo
lombo-sagrado, lesões viscerais e do envelopecutâneo).
- Infeção secundária.
Clínica
- A estabilidade do anel pélvico é avaliada pela palpação/mobilização das
cristas ilíacas, sínfise púbica e sacroilíacas.
- Hematoma do escroto ou dos grandes lábios, um afastamento dos dois
ossos ilíacos é sinal clínico de hemorragia intrapélvica. Disjunçãoda sínfise
púbica.
- Sangue vivo no meato urinário ou ascensão da próstata ao toque rectal,
indicam lesão uretral.
- Exame neurológico
269
- Lesão vascular sobretudo venosa dos plexos pré-sagrados ou pré- vesicais,
hemorragia de origem óssea, hematoma retroperitoneal, síndrome
hemorrágica maciça, choque hipovolémico,
Imagiologia
- Exame radiológico da bacia (frente, incidências oblíqua superior
(inlet) e oblíqua inferior (outlet). TAC reconstrução tridimensional.
- Rx do tórax, Rx da coluna cervical (perfil++): politraumatizado.
- Ecografia.
- Imagiologia urológica em caso de hematúria ou suspeita de lesão
urológica.
Atitude em urgência
- A urgência/emergência depende da instabilidade óssea do anel e das suas
complicações. Pode ser necessário uma reanimação urgente
– Controlo do Dano - Damage Control -, nos doentes instáveis e in extremis, em
hipovolémia, com acidose metabólica, coagulopatia e hipotermia (tríade da morte)
- O aumento/expansão do hematoma pélvico/intraperitoneal provoca, em
regra, um efeito de autotamponamento, o qual contribui para a
redução/paragem da hemorragia. Isso não acontece numa bacia com fraturas
complexas, instável, em que o sangue passa para o espaço retroperitoneal,
que deixa de ser um espaço fechado, comunicando com o espaço
intraperitoneal e desta forma não existe oefeito de autotamponamento e o
paciente sangra, se nada se fizer, até à morte (efeito de chaminé).
- O controlo da hemorragia requer uma estabilização imediata doanel
pélvico: no local do acidente, cinta circunferencial da bacia; em ambiente
hóspitalar a ósteótáxis anteriór (fixadóres externós) e ó “C Clamp”, permitem
uma estabilização provisória eficaz do anel pélvico.
- O “C Clamp”, que pode ser aplicado com anestesia local, não dificulta a
realização de intervenções cirúrgicas urgentes/emergentes a outros níveis
(laparotomia, torácica, crânio-encefálica), no contexto do Damage Control.
Uma vez estabilizado o anel pélvico, nas 2semanas seguintes procede-se ao
tratamento definitivo das lesões.
270
- Abordagem de um politraumatizado em Damage Control:
período agudo ou de reanimação (0-3 horas), estabilização das funções vitais,
descompressão das cavidades e cirurgia de emergência para controlo das
hemorragias torácicas, abdominais,pélvicas ou externas;
período primário ou de estabilização (3-7 horas), estabilização temporária ou
definitiva (Early Total Care) das fraturas, estabilização definitiva em doentes
politraumatizados estáveis, estabilizaçãoprovisória (osteotáxis) no Damage Control;
período secundário ou de regeneração (3-8 dias) e período terciárioou de
reabilitação (a partir do 8º dia).
No caso do tratamento das lesões num contexto do Damage Controla fixação
definitiva das fraturas deve ser realizada depois da estabilização psicológica e
imunológica do politraumatizado, duranteo período secundário ou terciário, depois
do quinto dia após o trauma.
Tratamento
- Fraturas dos ramos isquiopúbicos e iliopúbicos, sem desvio: repouso
antiálgico durante algumas semanas.
- Fraturas-arrancamento nas zonas de inserção muscular: repouso
antiálgico durante algumas semanas. Fixação cirúrgica do fragmento ósseo,
excecional.
271
uma taxa elevada de sequelas a longo termo, assim como a umamortalidade
precoce considerável.
Anatomia
- Coluna anterior, coluna posterior.
- Rebordo/muro anterior, rebordo posterior, teto acetabular.
Mecanismo
- Lesões de alta energia cinética, jovens, politraumatizados.
- Depende da energia e da direção das forças transmitidas à bacia
através do fémur:
- Se o traumatismo for exercido sobre o grande trocânter,
fratura/fratura luxação central do acetábulo.
- Se o traumatismo for produzido no sentido do eixo do fémur, a
cabeça femoral luxa para trás, para cima ou para a frente, segundo a
posição da anca na altura do traumatismo.
- As fraturas do acetábulo associadas a luxação posterior da anca são
as lesões mais frequentes (choque do joelho contra o tablier do carro,
com a anca em flexão).
- Associação com fraturas/roturas do anel pélvico.
Classificação
Classificação segundo Judet et Letournel
- Fraturas de tipo simples (Fratura do rebordo posterior, fratura da coluna
posterior, fratura do rebordo anterior, fratura da coluna anterior, fratura
transversal).
- Fraturas de tipo complexas/ associadas (fraturas da coluna posterior +
rebordo posterior, fraturas transversa + rebordo posterior, fratura em T
envolvendo o buraco obturador; fraturas das duas colunas)
Clínica e complicações
272
- Dependem da energia do traumatismo. Dor na região da anca, impotência
funcional absoluta do membro inferior. Posição viciosa do membro.
- Complicações articulares: perda da congruência articular, lesões da
cartilagem articular da cabeça femoral, com risco elevado de coxartrose
secundária. Se associada a luxação da anca, risco de necrose assética da
cabeça femoral.
- Complicações pélvicas causadas pelas lesões associadas do anel pélvico.
- Lesões nervosas (ciático) e vasculares. Infeção, hemorragia, trombo-
embolia. Morte (politraumatismo, a fratura representa umdos fatores).
Imagiologia
- Rx da bacia, incidência ântero-posterior (frente) + incidências oblíquas da
articulação coxofemoral (alar – desenha a asa ilíaca, coluna
posterior/rebordo anterior – e obturadora (desenha o acetábulo – coluna
anterior/rebordo posterior -).
- TAC com reconstrução tridimensional (avaliação da fratura em três planos,
presença de fragmentos osteocondrais intra-articulares destacados/livres.
RM para avaliar as lesões da cartilagem articular, eventualmente.
- Os exames RX e a TAC são importantes para a planificação pré- operatória.
Tratamento
- A congruência articular determina o tipo de abordagem terapêutica;
conservadora ou cirúrgica.
- Tratamento conservador/ortopédico
Indicações: fratura articulares sem desvio ou com desvio <2 mm, fratura do rebordo
posterior (< 20%), fratura de ambas as colunas com uma congruência secundária,
fraturas baixas da coluna anterior, fraturas transversais baixas, contraindicação
cirúrgica devido ao estado geral do doente (raro), infeção local ou geral, osteoporose
extrema……..
273
Repouso no leito, marcha com apoio externo durante 6-8 semanas. Nos casos com
instabilidade da anca é necessário, por vezes, uma tração esquelética ao nível dos
côndilos femorais.
- Tratamento cirúrgico: o mais frequente, o único com a capacidade de
restituir a congruência anatómica articular perdida: redução e osteossíntese
das fraturas com placa e parafusos. Em determinadas situações pode estar
indicada, desde logo, uma prótese total da anca (doentes “senióres” com
coxartrose prévia).
- A cirurgia deve ser realizada logo após a estabilização hemodinâmica do
traumatizado e uma vez realizado o estudo imagiológico. Não é uma
intervenção urgente (até às 48-72 horas).
- Ao contrário, a redução da luxação da anca é uma urgência/emergência
(risco de necrose), sob anestesia geral.
- São intervenções longas e complexas conduzindo a um resultado
conseguido, em 80% dos casos. Todavia o risco de evolução para uma
coxartrose precoce situa-se entre os 20% e 30%, a qual pode requerer a
implantação de uma prótese total da anca, num jovem adulto, uma vez que,
entre nós, a artrodese da anca é uma solução pouco usada.
Complicações pós-tratamento
- necrose do acetábulo (pós-cirurgia, rara), ossificações/calcificações peri-
articulares, necrose assética da cabeça do fémur, artrose pós- traumática,
infeção, pseudartrose (muito rara), material de osteossíntese intra-
articular….
Notas importantes
- Uma fratura instável da bacia pode colocar em risco a vida do doente pela
grave hemorragia que provoca: é uma emergência, de acordo com os critérios
do Damage Control.
- Numa fratura do acetábulo deve-se procurar a perda da congruência
anatómica articular e, uma vez presente, restabelecê-la, se tal for possível.
- A redução da luxação da anca é uma emergência, num qualquer contexto
traumático.
274
1.3. Fraturas da coluna sacrococcígea
Anatomia
- O sacro é constituído por 5 vértebras sagradas, que estão soldadasentre
si.
- Buracos sagrados anteriores e posteriores.
- O cóccix é constituído por 4 ou 5 vértebras coccígeas, que estão
soldadas entre si.
Mecanismo
- As fraturas isoladas do sacro são raras (traumatismo direto).Fraturas do
idoso osteoporótico, fraturas de fadiga na criança.
- Ocorrem, frequentemente, em traumatismo de alta energia
associadas a outras roturas do anel pélvico.
-As fraturas do cóccix são raras, queda ou traumatismo direto.
Classificação
- Fraturas do sacro laterais ao buraco sagrado, fraturas através do buraco
sagrado (transforaminais), fraturas mediais ao buraco sagrado.
Longitudinais, transversais, em U.
- Traço das fraturas do cóccix: frequentemente transversal com um maior ou
menor desvio dos topos ósseos.
Clínica
- Fraturas do sacro
- Dor e equimose na região sagrada, dor ao toque rectal. Dor
exacerbada pela manobra de Valsava e pela posição de sentado, que
pode ser impossível.
- Exame neurológico cuidadoso.
- Considerar o quadro clínico de outras roturas do anel pélvico
associadas.
- Fraturas do cóccix
- Dor na região coccígea, dificuldade/impossibilidade em sentar-se.
O toque rectal desperta dor, pesquisa de mobilidadeentre os topos da
fratura.
275
Imagiologia
- Rx de frente e perfil, por vezes de difícil interpretação. A TAC é oexame
mais preciso para avaliar as fraturas do sacro.
Complicações
- Fraturas do sacro: alterações neurológicas, principalmente as mediais e as
transforaminais (ciatalgia, anestesia “em sela”,síndrome da cauda equina
por envolvimento do canal sagrado, alterações esfincterianas, disfunção
sexual). Dor crónica devido a artrite da articulação sacroilíaca. Distocia na
mulher, perfurações do reto. Pseudartrose.
- Fraturas do cóccix: dores residuais persistentes (coccigodinia), distocias
raras.
Tratamento
- Fraturas do sacro
- Fraturas isoladas, sem desvio, sem roturas do anel pélvico: repouso
até desaparecimento/alívio da dor.
- Associadas a rotura do anel pélvico/desvio > 1cm: fixação
indireta/osteossíntese (barras sagradas trans-ilíacas, parafusos
percutâneos sacroilíacos, placas e parafusos, osteossíntese em banda
de tensão).
- Persistência do défice neurológico: descompressão
foraminal/laminectomia precoce. A descompressão tardia é muitas
vezes acompanhada por fibrose epidural e uminsuficiente resultado
funcional.
- Fraturas do cóccix: repouso antiálgico, almofada adequada, infiltrações
anestésicas locais. A excisão da parte terminal do cóccix para o tratamento
da dor crónica persistente é uma intervenção raramente usada. Avaliar
cuidadosamente o perfil psicológico do doente.
276
2. TRAUMATOLOGIA DA ANCA DO ADULTO
Epidemiologia e mecanismo
- Jovens, traumatismo de alta energia. Excecionais nos doentes
osteoporóticos.
- A luxação posterior é a mais frequente (>85%). Choque axial sobre o fémur
com a anca fletida (tablier do automóvel).
- Luxação posterosuperior ou ilíaca- posição da banhista
envergonhada (extensão, adução, rotação interna). Encurtamento do
membro inferior.
- Luxação posteroinferior ou isquiática – posição em flexão, adução,
rotação interna.
- Luxação anterior, pouco frequente
- Luxação obturadora – flexão, abdução, rotação externa.
- Luxação púbica – extensão, abdução, rotação externa.
Clínica
- Dor intensa, impotência funcional, procura da posição antiálgica.
- Atitude viciosa (a luxação anterior apresenta-se com o membro
inferior em rotação externa; na posterior está em rotação interna).
- Lesões associadas: traumatismo do joelho, fratura do acetábulo.
Imagiologia
- Rx da bacia no plano frontal: medir os diâmetros das cabeças
femorais. Incidências oblíquas (alar e obturadora), eventualmente.
- TAC para avaliar fratura(s) associada(s) ou a presença de um
fragmento osteocondral intra-articular.
- RM para despiste de uma necrose assética da cabeça do fémur (atéaos 3
anos de evolução).
Complicações
- Luxação posterior associada a uma compressão do nervo ciático
(10%-20% dos casos).
277
- Necrose assética da cabeça femoral: principalmente em casos de
redução tardia da luxação da anca. Coxartrose.
- Luxação obturadora ou central associada a lesões viscerais pélvicas.
- Luxação e fratura do acetábulo.
- Luxação e fratura parcelar da cabeça femoral (cerca de 20% doscasos)
- Luxação e traumatismo craniano: risco de ossificação peri-articular.
Tratamento
- Redução fechada da anca sob anestesia geral, com relaxamento muscular
(existe uma intensa contratura muscular, não sendo recomendado proceder
à redução sem anestesia geral). Redução aberta se irredutível (fragmento
ósseo ou tecidos moles interpostos). Um ponto crucial a reter: proceder à
redução após o diagnóstico ser confirmado e apoiado no exame radiológico.
Notas importantes:
- luxação traumática da anca: procurar uma lesão associada.
- redução emergente (<6 horas) sob anestesia geral.
- sequelas (lesões do ciático, necrose assética da cabeça do fémur).
Considerações anatómicas
- Ângulo cervicodiafisário compreendido entre 125º e 130º; anteversão
(angulação do colo femoral em relação ao plano frontal) entre 10º e 20º.
Estes ângulos devem ser restabelecidos na osteossíntese das fraturas.
- Vascularização do maciço trocantérico: muito rica, com anastomoses
entre os sistemas circunflexo anterior e posterior.
- Vascularização da cabeça e do colo femoral: menos abundante e sobretudo
mais vulnerável, poucas anastomoses (circulação vicariante) em caso de
interrupção. Três sistemas. Pedículo póstero-
278
superior (o principal, com origem na artéria circunflexa posterior), pedículo inferior
(média importância - circunflexa anterior) e pedículo interno (artéria do ligamento
redondo, ramo da artéria obturadora, acessório, responsável por 10% da circulação
da cabeça).
- Fraturas intracapsulares e o risco de necrose assética da cabeça femoral.
Epidemiologia
- Representam as fraturas mais frequentes do membro inferior (cerca de
20% dos pacientes internados num Serviço de Ortopedia Geral); problema
de Saúde Pública.
- Mais frequentes na mulher (2/1). Doentes idosos e/ou osteoporóticos,
traumatismo de baixa energia (queda no domicílio).
- A prevenção é dirigida à osteoporose, às quedas e ao enquadramento
psicosocial.
- Nos doentes jovens e ativos são pouco frequentes; o traumatismo causal é
violento, muitas vezes um politraumatismo (acidente viação, desportivo,
trabalho). Em caso de traumatismo de baixa energiapesquisar a presença de
uma fratura patológica (lesão quística, tumores benignos ou malignos).
Mecanismo
- Indireto na maioria dos casos; direto sobretudo no jovem, num
contexto politraumático.
Classificação
O impacto sobre a anatomia vascular determina a fisiopatologia dalesão
traumática.
279
fratura da cabeça associada a fratura do colo femoral
fratura da cabeça associada a fratura acetabular
280
- Exemplos fraturas estáveis: cervicotrocanteriana (forma próxima das
fraturas basi-cervicais); per-trocanteriana de traço único,simples. Instáveis:
fraturas trocanterodiafisárias, subtrocanterianas, per-trocanterianas pluri-
fragmentárias.
Clínica
- Impotência funcional absoluta, dor inguinal, posição viciosa do membro
inferior. No caso de uma fratura do fémur proximal com desvio existe uma
tripla deformidade: encurtamento, adução, rotação externa do membro
inferior.
Ter em atenção que no caso de uma fratura encravada em valgo (ex:fratura subcapital
do colo femoral) ou no caso de uma fratura de “stress”/fadiga ó dóente póde andar,
mesmo sem auxílio de apoio externo. Não existe deformidade, naturalmente.
- Procurar lesões ósseas e articulares associadas, hematomas, equimoses.
Politraumatizado.
- Proceder a exame geral, sobretudo em doentes com deficiente estado geral
e se houve perda de conhecimento. Exames cardiovascular, pulmonar,
neurológico.
Imagiologia
- O Rx da bacia (frente) e um perfil da anca (de difícil realização pela dor) são
suficientes, em princípio. Por vezes, Rx da bacia de frente com o membro
inferior em rotação interna para definir o traço da fratura.
281
atrofia das partes moles; evitar a necrose assética da cabeça
femoral e a coxartrose.
Por isso, quer no jovem quer no idoso, o tratamento é quasi
sempre cirúrgico, no serviço de urgência ou logo que seja possível:
osteossíntese da fratura (com parafusos, placas aparafusadas, cravo de
compressão-placa, parafuso de compressão dinâmica- placa, cavilhas
endomedulares aparafusadas e bloqueadas, cravos elásticos, etc..) ou
artroplastia da anca (próteses totais, parciais, biarticuladas), de acordo
cóm a “persónalidade da fratura”, a idadedo paciente e o estado da
articulação coxofemoral, ou seja, presença ou ausência de coxartrose
incapacitante.
O tratamento conservador (descarga com apoio externo no caso
das fraturas subcapitais encravadas em valgo e a tração contínua no leito
seguindo a técnica de Russel ou outras nasfraturas trocanterianas, até à
estabilização/consolidação das fraturas), tem cada vez mais menos
indicações. De forma semelhante, a simples excisão da cabeça femoral
tem raras indicações (idosos com mau estado geral, com
contraindicaçãopara cirurgia). Todavia, as fraturas da cabeça femoral
com pequeno fragmento podem ser tributárias de uma abordagem
conservadora, como a seguir se descreve.
282
Nas fraturas da cabeça associadas a fratura do colo femoral/fratura acetabular está
indicado a osteossíntese das fraturas. Apenas nos doentes idosos (> 65 anos de idade,
considerar a idade biológica) é recomendado uma artroplastia da anca ad initio. A
cabeça femoral deve ser conservada, sempre que tal for possível, isto é, deve-se
proceder a uma osteossíntese.
Complicações
Gerais
Decúbito (síndrome de imobilização): risco tromboembólico elevado
(tromboprofilaxia desde a admissão); infeções pulmonar e urinária;
escaras localizadas na região sagrada e no calcanhar, hipotensão
ortostática, amiotrofia, rigidez articular, desmineralização óssea,
fecalomas, infeção urinária, depressãó….
283
Descompensação: cardiorrespiratória; da diabetes, da insuficiência
renal, do etilismo; agravamento de uma doença neurológica ou de
uma demência; perda da autonomia dodoente idoso; autonomia
condicionada pelo estado anterior(psíquico, dependência e idade),
hospitalização durante várias semanas.
Mortalidade: após os 80 anos, 20% dos doentes morrem durante o
primeiro ano do pós-operatório, devido à co- morbilidade associada,
às repercussões somáticas do próprio traumatismo, às complicações
ligadas à cirurgia sendo de acrescentar, também, as dificuldades da
reintegração do idoso no seu ambiente sociofamiliar (cuidados
continuadosinsuficientes). Uma forma do idoso falecer.
Locais
Necrose assética da cabeça femoral.
Pseudartrose/não consolidação do colo femoral, > 6 meses de
evolução pós-operatória.
Desvio secundário e consolidação viciosa das fraturas
trocanterianas.
Ciatalgia ou cruralgia por traumatismo intra-operatório dasestruturas
nervosas (passageira ou permanente).
284
Notas importantes
- As fraturas do fémur proximal continuam a representar um problema de
Saúde Pública. Aumento da esperança média de vida das populações
devido a melhores cuidados de saúde.
- Mortalidade elevada nas pessoas idosas (20% no primeiro ano).
- Fratura do colo femoral: risco de necrose assética da cabeça femoral,
pseudartrose.
- Fratura trocanteriana: falência do material de osteossíntese, consolidação
viciosa.
- Sempre que tal seja possível, as fraturas da extremidade proximal do fémur
devem ser operadas, por forma a permitir uma recuperação funcional
precoce, evitar as complicações do decúbito e restituir à sociedade o
traumatizado nas melhores condições, com uma autonomia igual ou próxima
da anterior ao acidente.
3. TRAUMATOLOGIA DA COXA
Anatomia
- A diáfise é o segmento mais resistente do fémur (linha áspera), estende-se
desde o pequeno trocânter até ao tubérculo dos adutores. É uma estrutura
bastante vascularizada por múltiplas inserções musculares e por uma artéria
nutritiva principal, ramo da artéria femoral profunda. O ciático e o nervo
femoral estão protegidos por uma espessa massa muscular.
285
Classificação
- Traço tranversal, oblíquo, com fragmento intermédio ou
multiesquirolosas.
Clínica
- Dor. Encurtamento do membro, deformidade, controlar pulso,
status neurológico, músculos e pele.
- Choque (hipovolémico, por hemorragia).
- Risco da síndrome de embolia gorda, doença tromboembólica, lesões
pulmonares (contusão), num contexto de um politraumatizado.
Imagiologia
- Rx do fémur (frente e perfil), da bacia (risco de fratura do colo
femoral e luxação da anca, em associação) e do joelho homolateral.
Tratamento
- Urgência cirúrgica: encavilhamento centromedular sem abrir o foco de
fratura (sem bloqueio, bloqueado/aparafusado proximal/distal ou ambos –
dinâmico proximal, dinâmico distal ou estático). Introdução da cavilha
através da zona do trocânter ou através do joelho (Ex: PFNR , DFNR)
consoante a personalidade da fratura.
As placas e parafusos são pouco usados, a não ser quando existeuma contusão
pulmonar/pneumotórax para evitar as complicações doencavilhamento
centromedular, mormente a embolia gorda que agrava o quadro pulmonar, ou ainda
quando é necessário uma intervenção cirúrgica rápida (politraumatizado). Contudo,
atualmente as placas bloqueadas (LCPR), que funcionam como um fixador interno,
têm vindo a ocupar um lugar cada vez mais importante na osteossíntese das fraturas
diafisárias do fémur e também da tíbia e do úmero, aplicadas por métodos
minimamente invasivos (MIPO). A implantação destas placas tenta provocar o menor
dano possível na vascularização óssea, ou seja, pretende-se respeitar os princípios da
reparação biológica da fratura.
286
A osteotáxis (fixadores externos) está indicada nas fraturas expostas,na estabilização
rápida do fémur antes da reparação vascular, ounum politraumatizado grave no
contexto do Damage Control.
Se houver motivo, a fratura pode ser imobilizada, provisoriamente, por tração
esquelética e ser submetida a tratamento cirúrgico assim que for possível.
O tratamento conservador com tração e posterior gesso funcional (gesso articulado)
representa, atualmente, uma solução de recurso (salvamento), podendo estar
indicado em pacientes que apresentem contraindicação anestésica, situação muito
pouco provável.
Complicações
- Comuns às fraturas dos ossos longos: atrasos de consolidação,
pseudartroses, encurtamentos, dismetrias, deformidades angulares e, neste
caso, aderências do quadricípite que produzem rigidez em extensão do
joelho.
Notas importantes
- O tratamento das fraturas diafisárias do fémur é uma urgência cirúrgica.
- Recomenda-se a realização do RX da bacia pela frequência de lesões
associadas.
-. As fraturas diafisárias do fémur podem estar na origem de importante perda
sanguínea.
- As fraturas diafisárias do fémur são tributárias de tratamento cirúrgico,
(na maior parte das vezes encavilhamento centromedularou osteotáxis nas
fraturas expostas).
287
4. ANCA NÃO TRAUMÁTICA
Conceito
- A doença luxante da anca, designada também por “luxaçãó congénita da
anca” óu melhór a displasia de desenvólvimentó da anca compreende um
espectro de alterações da anca, presentes à nascença ou no decorrer da
infância, que expressam uma incongruência articular da anca, incompleta
ou completa (instabilidade articular, subluxação, luxação e displasia
acetabular): 10% são verdadeiras luxações da anca (perda completa da
congruência articular). A instabilidade articular representa asituação mais
frequente nos primeiros dias ou meses de vida.
- Incidência de 0,5% a 1% à nascença. Bilateral em 50% dos casos.
- Um tratamento negligente ou ineficaz é causa de sequelas permanentes,
de difícil tratamento. Um diagnóstico precoce e um tratamento adequado
conduzem a um resultado favorável.
Etiopatogenia
- A etiologia não está completamente determinada: soma de fatores
genéticos e ambientais.
- Influência genética ligada ao sexo: mais frequente no sexo feminino –
4/1. Posição intrauterina (apresentação pélvica), laxidez ligamentar e
influência hormonal da mãe por via transplacentária (relaxina, estradiol,
estriol). Posição pós-natal favorecedora (adução-extensão das ancas).
- Alterações anatómicas do tipo cavidade acetabular pouco profunda(coxa
plana) com uma anteversão anormal, anteversão anormal do colo do fémur
e coxa valga, conduzem a uma luxação da anca.
- Obstáculos à penetração da cabeça femoral no acetábulo: interposição
do tendão do ílio-psoas; o limbus pode estar“invertidó” e interpóstó entre
a cabeça e o acetábulo; o aumento de volume da gordura do fundo
acetabular – pulvinar -; hipertrofia do ligamento redondo; istmo capsular.
288
- A luxação teratológica: rara, malformação óssea congénita do acetábulo
e/ou do fémur; primeiras fases do desenvolvimento embrionário; luxação
desde os primeiros meses de vida intrauterina; associada a outras
malformações, como a artrogripose múltipla congénita, disrafismos
espinhais…….
- Na maioria dos casos trata-se de uma anca instável, na qual a cabeça
desliza para dentro ou para fora do acetábulo, conforme a posição da anca
(manobras de Barlow e de Ortalani). Essa instabilidade pode desaparecer,
espontaneamente, nas primeiras semanas de vida, no período neo-natal.
Diagnóstico
- O diagnóstico é clínico e imagiológico.
A ecografia é atualmente o exame imagiológico de referência nos
primeiros 3 meses de vida. Permite um estudo morfológico da anca que a
radiografia não consegue. Trata-se de um exame não invasivo, permite
seguir o crescimento da anca. Tem interessecomo exame de despiste,
mesmo se o exame clínico forconsiderado normal à nascença mas
existam os fatores de risco taiscomo: apresentação pélvica, antecedentes
familiares diretos,diversas anomalias ortopédicas (torcicolo, joelho
recurvatum,deformação severa dos pés). A presença de uma anomalia ao
exame clínico ou de fatores de risco justificam a ecografia seletiva no final
do 1 mês-6 semanas.
- A idade do diagnóstico: peri-natal, pós-natal e tardio, estando o
prognóstico relacionado com a precocidade do diagnóstico e a precocidade
do tratamento.
- Classificação: anca instável; subluxada (a cabeça femoral cavalga sobre o
rebordo acetabular, podendo ser reduzida com facilidade); luxada (a
cabeça femoral encontra-se, totalmente, fora do acetábulo); displásica
(existe um desenvolvimento anormal e progressivo do acetábulo e da
cabeça femoral).
- O exame clínico para o despiste de doença luxante da anca é uma
manobra primordial: sinais de Ortalani, Barlow e limitação da abdução das
ancas (sinais “majór”). Assimetria de pregas inguinais
289
e das coxas, sinal de Galeazzi, sinal de telescopagem ou do piston,
assimetrias de rotação do membro inferior (sinais “minór”).
Imagiologia
- Ecografia nos primeiros 3 meses de vida, tem a capacidade de mostrar os
elementos da anca que são invisíveis na radiografia.Permite avaliar se a anca
é normal, imatura, displásica, excêntrica ouestá luxada.
- As radiografias precoces são pouco úteis, porque após o nascimento não
existe, ainda, a ossificação dos núcleos femorais proximais. Esta começa a
processar-se entre os 4 e 6 meses de idade.
- Artrografia da anca, TAC, RM, no tratamento de casos complexos e no
tratamento de sequelas.
-Exame radiográfico a partir dos 4 meses:
290
- Interrupção da linha de Shenton (suspeita de luxação)
- Linha de Hilgenreiner - linha horizontal que passa pelascartilagens
tri-irradiadas
- Linha de Perkins –linha vertical que passa pelo ponto mais externo
do rebordo acetabular
- As linhas de Hilgenreiner e de Perkins definem, ao cruzarem- se,
quatro quadrantes. Normalmente o núcleo de ossificaçãoda epífise
femoral superior situa-se no quadrante inferointerno.Se o núcleo se
encontrar nos quadrantes externos, sinal de luxação ou subluxação da
articulação coxofemoral.
- Ângulo acetabular (ângulo formado pela linha que une o ponto mais
externo do teto com o ponto mais interno e a linha horizontal que
passa pelas duas cartilagens tri-irradiadas, emY, do acetábulo); se
for > 30º é patológico, traduz displasia acetabular.
Diagnóstico diferencial
- As anomalias funcionais neonatais da anca, visíveis ou não nos
exames radiográfico e ecográfico:
luxação teratológica
luxação paralítica (malformação da coluna vertebral,
artrogripose, hipotonia)
luxação traumática (rara, traumatismos obstétricos)
luxação séptica (sequelas de uma artrite séptica mal
conhecida, no período neonatal)
Evolução
- Se nada for feito, durante as primeiras semanas de vida as situações de
instabilidade da anca diminuem rapidamente, dando lugar à contractura dos
músculos adutores da anca, a qual se manifesta por uma limitação da
abdução da anca. Assim, aos 3meses de idade, menos de 20% das ancas
patológicas apresentam uma instabilidade, mas 80% demonstram uma
limitação da abdução.
291
Por isso, é da maior importância que todo o médico que observe umacriança durante
os primeiros meses de vida proceda, em todas as ocasiões, ao exame físico das ancas.
Tratamento
- O tratamento tem um objetivo triplo: obter a redução da cabeça femoral
(ortopedicamente ou cirurgicamente); estabilizar a anca;corrigir a displasia
acetabular associada. O risco é a osteocondrite da cabeça femoral que é
preciso evitar.
- O tratamento da luxação da anca é tanto mais eficaz quanto mais
precocemente se efetuar uma redução estável da luxação, reduzindo desta
forma, também, o risco de uma displasia residual.
- No período neonatal, 50% das ancas instáveis tendem para uma
estabilização espontânea. Todavia recomenda-se o uso da tala de Pavlik.
- O tratamento consiste, em termos gerais e em função da idade e da
gravidade da situação, na imobilização funcional da anca e na cirurgia
corretiva. O objetivo é conseguir a congruência articular em posição
ortostática, assim como criar as condições para o normal desenvolvimento
da anca. Para isso, torna-se imprescindível conseguir a redução da luxação e
a estabilização da articulação.
292
de 60º a 70º (duração ± 4 semanas). O calção gessado é posteriormente substituído
por uma tala de abdução do tipo Dennis- Brown, a qual deve ser mantida até à
correção completa da displasia,isto é, até se conseguir uma morfologia articular que
possibilite o posicionamento ortostático das ancas.
- Se a redução da luxação/subluxação não se conseguir com o programa
anteriormente descrito, pode estar indicado uma redução sob anestesia geral
(gesso e depois tala de abdução) ou uma redução cirúrgica (depois dos 6
meses de idade devido ao risco de isquémiado núcleo epifisário femoral
superior).
- No caso de luxação teratológica, o tratamento é complexo,
frequentemente cirúrgico podendo, todavia, estar recomendada aabordagem
incruenta, acima referida.
- Nas crianças tratadas tardiamente, entre os 18 meses e os 3 anos, devem
ser sujeitas a uma tração aos membros inferiores, visando o relaxamento
muscular, seguindo-se uma redução cirúrgica com capsulorrafia. Se a
displasia da bacia for importante e a anca permanecer instável, pode estar
indicado realizar uma osteotomia da bacia, no mesmo tempo cirúrgico
(osteotomia de Salter e outras).
- Após os 3 anos de idade: intervenção cirúrgica complexa por forma a
conseguir-se a redução cirúrgica da luxação. Para isso pode estar indicado
uma osteotomia de encurtamento do fémur, que permite uma reorientação
do colo femoral e o relaxamento muscular, e uma osteotomia de reorientação
da bacia (do tipo Salter).
- No adulto: subluxação residual (osteotomia da bacia - de Chiari ou
periacetabular -, osteotomia da bacia associada a uma osteotomia femoral de
varização); luxação residual (prótese total da anca).
Prognóstico
- Complicações principais: necrose óssea avascular devido àcompressão da
artéria circunflexa posterior. A falta de um diagnóstico em tempo útil da
luxação/subluxação da anca conduz a luxações e subluxações residuais da
anca na idade adulta, as quais colocam problemas de ordem de técnica
cirúrgica, que podiam ser evitados se
293
a doença luxante da anca tivesse sido detetada e tratada nos primeiros meses de vida.
- O prognóstico depende da gravidade da doença, da precocidade do
diagnóstico, da eficácia e precocidade do tratamento e, ainda, da vigilância da
criança.
- O tratamento tardio após a idade da marcha, a redução não concêntrica da
anca, as displasias residuais não tratadas e a necrose avascular do núcleo
cefálico, comprometem o futuro funcional da anca (coxartrose secundária).
Notas importantes
- O prognóstico da doença luxante da anca está intimamente dependente da
precocidade do diagnóstico e da precocidade do tratamento.
- O exame clínico constitui a etapa nuclear para o despiste da doençaluxante
da anca. Todo o recém-nascido deve ser sujeito a um exame físico cuidadoso
das ancas.
- Na maioria dos casos estamos na presença de uma anca instável, fácil de
tratar e com um resultado muito satisfatório.
- O tratamento da luxação da anca é tanto mais eficaz quanto mais
precocemente se efetuar uma redução estável da luxação.
- O objetivo final do tratamento da doença luxante da anca é obter, no final
do crescimento, uma cabeça femoral esférica, congruente e bem coberta pelo
acetábulo, ou seja, o restabelecimento da anatomiae função da anca.
294
- Mais frequente nos rapazes (6/1), entre os 5-9/ 4-12 anos de idade, regra
geral. Quanto maior for a idade pior o prognóstico. Pode surgir até aos 16
anos, forma tardia.
- Bilateral em 10% a 15% dos casos.
- Trata-se de um compromisso vascular, de etiologia aindadesconhecida.
Diagnóstico
- A criança queixa-se de dores à marcha, localizadas à anca, à coxa ou ao
joelho. A claudicação aparece com a fadiga.
- O exame clínico é pobre: limitação da abdução e da rotação interna da anca.
Limitação da flexão da anca em adução (mau prognóstico). Ausência de sinais
inflamatórios, salvo no envolvimento bilateral.Sem compromisso das outras
articulações. Atrofia muscular, sinal de Thomas (rigidez articular), prova de
Trendelenburg (insuficiência muscular, médio glúteo), prova do
enrolamento (espasmo muscular).
- Torna-se importante eliminar: uma artrite séptica da anca (tuberculosa
ou a germes banais), mixedema congénito, displasia poliepifisária.
Imagiologia
- Na criança, toda a claudicação ou dor localizada no joelho deve conduzir à
realização de uma radiografia da bacia.
- Rx de frente e com incidência de Loewenstein (posição de rã). A RMé mais
precisa porque permite a visualização da cartilagem epifisária,do labrum e
das lesões metafisárias. O estudo das imagens da RM deve permitir: avaliar a
extensão da necrose epifisária, a importância da subluxação/excentração
lateral, envolvimento da cartilagem de crescimento/conjugação e
importância do envolvimento metafisário.
295
estádio 2: fragmentação do núcleo epifisário;
estádio 3: reconstrução;
estádio 4: remodelação cefálica, que se efetua até ao fim do
crescimento;
estádio 5: sequelas com risco de artrose, no adulto.
A evolução espontânea desta afeção é devida ao ciclo imutável da
reparação óssea. O tecido ósseo tem capacidade regenerativa, isto é, a
cicatrização óssea processa-se através da formação de osso novo e não
pela formação de tecido fibroso.
O compromisso vascular parcial ou total da cabeça femoral provoca uma
necrose. O estádio de condensação representa a presença de um
sequestro (morte celular) que será progressivamente reabsorvido,
durante a fase de fragmentação, e substituído por ossonovo, durante a
fase de reconstrução/reparação. O ciclo da doença processa-se entre 2
a 3 anos. O período de maior risco situa-se no estádio da fragmentação e
da reconstrução, porque nesse período o núcleo cefálico perde a sua
solidez mecânica,podendo deformar-se. Se isso acontecer, forma-se um
núcleo não esférico no final do estádio de reconstrução (que vai originar
uma coxa magna).
Conceito do grau ou grupo de Catterall: permite caracterizar a
importância da doença pela proporção do volume do núcleo cefálico
atingido. Embora existam outras classificações da doença mais precisas e
atuais ( Salter e Thompson baseada na extensão dafratura subcondral, a
de Herring fundamentada na integridade do pilar lateral e, ainda, a de
Stulberg que aprecia os resultados no fimda evolução da doença)
descreve-se a classificação de Catterall, por ser a mais conhecida:
296
Grau II: zona mais extensa de necrose (50%), região anteriore
lateral, pode haver colapso;
Grau III: apenas uma pequena zona não está envolvida,necrose 75%;
Grau IV: lesão completa da epífise.
Nos graus II, III e IV pode haver lesões da metáfise femoral Quanto
maior for o envolvimento da epífise femoral, mais elase deforma.
297
hipocaptação nas fases precoces e uma hipercaptação fase de reconstrução, não é um
exame específico da doença.
Em relação ao diagnóstico, a RM é mais precisa do que a cintigrafia. Por outro lado, a
RM é superior à radiologia na avaliação pré- operatória da doença, assim como no
controlo pós-operatório.
Tratamento
- Objetivo: manter a cabeça femoral esférica e centrada no acetábulo, que
serve de molde; prevenir a deformidade da cabeça femoral e evitar as
alterações degenerativas articulares, na vidaadulta. Em todas as modalidades
terapêuticas, o período de tratamento é longo, cerca de 18 meses.
- O grau I de Cattarall tem bom prognóstico, qualquer que seja a idade da
criança. Não precisa, em regra, de tratamento.
Da mesma forma as crianças com 3-4 anos de idade não necessitam de
tratamento, independentemente do grau de lesão radiológica (cartilagem
articular muito espessa, em relação ao núcleo de ossificação epifisário).
- As crianças com mais de 4 anos de idade, com lesões radiológicas nos
graus II, III ,IV, e cóm sinais de ”cabeça em riscó” requerem tratamento, por
forma a conseguir-se uma “recentragem” da cabeça femoral. Esta pode ser
conseguida através de meios ortopédicos ou cirúrgicos:
298
decurso do processo de reparação óssea isto é, uma “recentragem” e
contenção da epífise femoral. Assim, pode-se conseguir evitar uma
deformidade da cabeça femoral no final do crescimento ósseo.
Prognóstico
- A função da anca depende, a longo termo, da esfericidade congruente da
cabeça femoral, da sua mobilidade e de uma superfíciede contacto larga.
- O prógnósticó é mais reservadó na presença de: “cabeça em riscó”, criança
> 6 anos, obesidade e rigidez articular significativa.
- Sequelas: coxa magna e coxa plana (cabeça em cogumelo, achatamento da
parte superior da cabeça femoral, colo femoral curto,alargamento do espaço
articular); coxartrose secundária.
Notas importantes
- Efetuar uma radiografia da articulação coxofemoral, numa criança com
queixas referidas ao joelho.
- A etiopatogenia da doença de Legg-Calvé-Perthes não se encontra, ainda,
perfeitamente esclarecida sabendo-se, contudo, que se trata de um processo
de necrose isquémica do núcleo epifisário femoral superior.
- O prognóstico previsível da doença depende da idade, da área da epífíse
femoral atingida e da existência de sinais clínicos e de sinais radiológicos de
“cabeça em riscó”.
- A doença evolui segundo a sequência fisiológica imutável da
reparação/cicatrização óssea. A área inicial de necrose isquémica nãovaria
ao longo do processo fisiológico de reparação da epífise femoral, ou seja, a
sua dimensão inicial não aumenta, pese o facto de opiniões diferentes,
admitindo-se a ocorrência de mais episódios isquémicos.
299
4.3. Sinovite transitória da anca
Diagnóstico
- Impotência funcional, por vezes muito marcada, com recusa da marcha e
dores a nível da anca ou projetadas para a coxa e joelho. Claudicação
importante (coxeia).
- A mobilização passiva da anca é muito difícil, contractura muscular de
defesa.
- Unilateral, sem atrofia muscular.
- Análises laboratoriais normais.
- Ausência de lesões radiológicas. Afastamento das superfícies articulares
(aumento do espaço articular), provocado pela aumentodo volume líquido
sinovial. A ecografia deteta um derrame intra- articular característico.
Tratamento
- Sintomático, repouso, ácido acetilsalicílico. Se a anca apresenta uma
contractura significativa, hospitalização, tração percutânea ao membro
inferior, joelho em flexão de 20º a 30º, antiálgicos, anti- inflamatórios,
miorrelaxantes.
- Se não houver uma resposta, após 48 horas, punção articular da anca com
um duplo objetivo: descompressão articular, da cápsula articular (alívio da
dor, uma cápsula sob tensão pode provocar
300
isquémia) e despiste de uma artrite séptica da anca (exame direto dolíquido articular,
culturas com antibiograma).
Notas importantes
- A sinovite transitória da anca é muito frequente no serviço de urgência
pediátrica, porque pode apresentar um quadro clínico aparatoso (forma
súbita, dor intensa, claudicação, recusa à marcha). Todavia é uma situação
com uma evolução benigna.
- Considerar o diagnóstico diferencial com outras entidades patológicas
incluídas na designada “anca dólórósa na criança”: artrite séptica da anca;
osteocondrite primitiva da anca; reumatismo inflamatório; reumatismo
articular agudo (nas crianças de maior idade, a epifisiólise da cabeça do
fémur/epifisiólise superior do fémur).
Etiologia
- Não está completamente esclarecida. Fatores mecânicos (desporto,peso
corporal), fatores hormonais, genéticos, imunológicos,
301
vasculares, traumáticós….O deslizamento da cabeça femoral é favorecido por um
desequilíbrio entre as forças exercidas sobre a cabeça femoral e a menor resistência
mecânica da fise, bem como pela fraqueza dos meios de união cervico-cefálica,
capsuloperiósticos.
- Obesidade, Síndrome adiposo-genital, hipogenital, de Froliech. Pode
também envolver adolescentes altos e magros, com um surto rápido de
crescimento. Mais cedo nas raparigas do que nos rapazes, é raro depois da
menarca.
- Um deslizamento agudo pode provocar uma necrose epifisária.
Clínica
- Epifisiólise crónica (deslizamento progressivo), aguda, aguda sobre
crónica.
- Epifisiólise crónica: jovem adolescente, claudicação, dor (de tipo
mecânico) na região inguinal, trocantérica ou referida ao joelho homolateral.
Marcha em rotação externa. Ao exame clínico: diminuição da abdução e
rotação interna da anca. Sinal de Drehman (ao fazer a flexão da anca, a partir
dos 90º de flexão, a ancaposiciona-se em abdução e rotação externa).
- Epifisiólise aguda: pouco habitual, trata-se mais de uma fratura- epifisária
do tipo I de Salter. Desprendimento brusco da epífise acompanhado por
impotência funcional absoluta.
- Epifisiólise aguda sobre crónica: a epifisiólise aguda enxerta-se numa
epifisiólise crónica já existente.
Imagiologia
Rx em incidências de frente e perfil (posição de rã, projeção de
Loewenstein, ou segundo Dunn). RM nos casos duvidosos, Ecografia pode
ter interesse na identificação de situações agudas (derrame intra-articular e
imagem em degrau de escada na junção cabeça/colo femoral, a presença do
derrame é um sinal de instabilidade).
RM nos casos em que surjam dúvidas, nomeadamente nas formas bilaterais.
Permite o diagnóstico no estádio de pré-deslizamento.
Sinais radiológicos: normalmente a linha de Klein corta uma área da epífise
302
Femoral.
Tratamento
- Urgência ortopédica: redução ortopédica suave e fixação cirúrgicada
epífise femoral superior (parafusos, fios roscados).
- Nas crónicas
- Epifisiódese/fixação cirúrgica da epífise sem correção/sem redução
do seu deslizamento (ângulo de deslizamento até 30º/40º), com
parafuso. Alguns autores recomendam esta técnica mesmo até aos 60º.
- Epifisiódese com enxerto ósseo ilíaco. Ângulo de deslizamento até
30º/40º. Alguns autores recomendam esta técnica mesmo até aos 60º.
Usada quando a fixação in situ com parafuso édifícil de conseguir.
303
existirem fatores de risco (obesidade, surto rápido de crescimento
corporal, muito jovem, báscula posterior severa, endocrinopatia
conhecida, impossibilidade de seguir o doente de forma regular).
- Riscos: provocar uma rigidez articular, uma condrólise (coxite
laminar) ou uma necrose da epífise. Sequelas: coxartrose.
Notas importantes
- A epifisiólise femoral superior é uma afeção do adolescente.
- O exame radiológico em dois planos (frente e perfil) e o exame físico
constituem a base do diagnóstico. Nos casos duvidosos pedir RM.
- O diagnóstico deve ser precoce por forma a alcançar um bom resultado
(urgência ortopédica) e evitar a coxartrose no adulto.
- Complicações: necrose cefálica, condrólise e evolução para a coxartrose.
Conceito
- Necrose do tecido ósseo subcondral da cabeça femoral, devido a uma
redução/ausência de aporte sanguíneo, cujos mecanismos etiológicos
permanecem, ainda, controversos. Repercussão sobre a cartilagem
articular. Esta entidade patológica está associada a numerosas situações
clínicas, dentre as quais são de incluir o etilismo, a corticoterapia e as
fraturas traumáticas do colo e da cabeça femoral, para citar as mais
frequentes.
Etiologia
Fatores de risco possíveis:
- Traumatismo (fratura do colo femoral, fratura da cabeça femoral,
luxação da anca);
- Disfunção da vascularização óssea;
304
Doença dos mergulhadores (descompressões rápidas), doença de
Gaucher (células espumosas), anemia de células falciformes,
drepanocitose, pancreatite, etilismo,córticóterapia…
- Patologia vascular
Endocardite bacteriana subaguda, coagulação intravascular
disseminada, periartrite nodosa, policitémia vera, lúpus eritematoso
sistémico, poliartrite reumatóide, arterite de células gigantes,
sarcóidóse…
- Doenças metabólicas
Diabetes, hiperuricémia, perturbação lipídica (dislipidémias,
hipertrigliciridémia)
- Transplante renal, carcinomas, obesidade, gravidez, infeção pelo VIH..
- Idiopática só 10% são verdadeiramente primárias !!
Fisiopatologia controversa
- Teoria tromboembólica (isquemia óssea causada pela obstrução dosvasos
sanguíneos – gordura, bolhas de nitrogénio, hemácias falciformes da
dreponocitose -);
- Aumento da pressão intramedular (oclusão dos sinusoides
intramedulares originando uma síndrome compartimental – falência da
circulação intersticial por conflito de espaço, segundo o conceito de N.
Canha);
- Obstrução arterial e arteriolar por vasculite, obstrução da circulação
intraóssea, por lesões causadas pela irradiação ionizante ou por um efeito
vasoactivo;
- A obstrução da drenagem venosa e a potencial trombose, causariam
estase e anoxia retrógada; falência da drenagem linfática (N. Canha);
- Efeito citotóxico direto (radiações ionizantes, álcool, corticóides, agentes
quimioterapia);
- Fatores mecânicos, microtraumatismos, agravado pelo “efeitó Charcót”
(falta de resposta dolorosa propriocetiva) levariam à destruição da anca.
305
- Abordagem etiopatogénica multifatorial…..
Epidemiologia
- Diagnosticada entre os 20 e 60 anos. Envolvimento bilateral emcerca
de 50% a 80% dos casos. Mais frequente no sexo masculino.
Clínica
- Sinais clínicos: a dor é muitas vezes inguinal, como acontece na patologia
da anca; dor súbita de tipo mecânico (contudo, uma dor noturna permite a
suspeita de necrose, sobretudo na presença de fatores de risco,
sintomatologia mista, pseudoinflamatória); pode haver discrepância entre
a dor referida pelo doente e a mobilidade articular; podem decorrer muitos
meses entre o início dos sintomas e o aparecimento de lesões radiológicas;
claudicação antiálgica bemcomo o sinal de Trendelenburg positivo;
306
Diagnóstico
Suspeita clínica (anamnese, exame físico) confirmada pela imagiologia (Rx,
cintigrafia, RM). Procurar outras localizações de necrose óssea epifisária (na anca
contralateral, no ombro). Na fase inicial o diagnóstico pode ser difícil, pedir RM.
Diagnóstico diferencial
Fratura de fadiga do colo femoral; artrite séptica; doença sinovial proliferativa
(sinovite vilonodular, artrite inflamatória, artrite microcristalina); coxartrose;
tumores ósseos; conflito fémoroacetabular; algoneurodistrofia da anca ……
Prognóstico
A evolução natural da doença conduz a um colapso/afundamento da cabeça femoral,
que por sua vez evolui para um quadro de coxartrose. Alterações degenerativas a
nível do acetábulo.
307
Tratamento
O tratamento permanece controverso, dado que nenhum dos tratamentos
disponíveis, atualmente, deu provas científicas de modificar a evolução natural da
doença.
- No caso de necrose assética assintomática, com uma pequenaextensão
de necrose, o seu controlo clínico é uma opção aceitável (situação muito rara
e sujeita a controvérsia clínica);
- No caso de necrose asséptica sintomática (a maioria dos casos): cirurgia
conservadora, cirurgia de substituição articular. Os resultadosdo tratamento
ditós “de salvamentó da cabeça femóral” sãó mais eficazes nos estádios
precoces:
- furagem-descompressão da cabeça femoral, com o propósito de
diminuir a pressão intraóssea (estádios I e II, sem colapso da cabeça
femoral);
- Osteotomias do fémur proximal, com o objetivo de obter uma
descarga das zonas necróticas (doentes jovens, motivados,estádios II
e III idiopáticos);
- Enxertos ósseos vascularizados (crista ilíaca, diáfise fibular),
visando o restabelecimento do aporte sanguíneo nas zonas necróticas
(doentes jovens, motivados, estádios II e III). Trata-se de uma
operação exigente sob ponto de vista técnico;
- Artroplastia da anca: prótese total da anca (cimentada, não
cimentada, híbrida) artroplastia de revestimento (motivo de
controvérsia científica atual, devido à articulação metal-metal que
pode conduzir à formação de pseudotumores, osteólise e de reações
inflamatórias intensas com necrose dos tecidos moles, reações
retardadas de hipersensibilidade, do tipo IV – ALVAL-). Indicada no
estádio IV, coxartrose.
Complicações
- Complicações habituais da cirurgia da anca: infeção, doença
tromboembólica, lesões neurovasculares, falência do material de
osteossíntese. Para além destas, no caso de cirurgia protética: luxação da
prótese, desgaste dos biomateriais constituintes da prótese,
descolamento/desprendimento assético dos seus
308
componentes. A taxa de complicações é mais elevada nos doentesque apresentam
uma anemia de células falciformes.
Notas importantes
- A RM permite o diagnóstico precoce da necrose assética da cabeça do
fémur.
- O objetivo central do tratamento cirúrgico é prevenir/retardar, por todos
os meios, o colapso/afundamento do osso subcondral da cabeça femoral,
situação que conduz, inevitavelmente, a um quadro de coxartrose.
- Em doentes jovens (< 40-50 anos de idade), ativos, recomenda-se a
cirurgia conservadora reconstrutiva, sempre que houver indicação para tal,
uma vez que a duração da artroplastia de substituição articular é inferior à
duração de uma mesma artroplastia quando aplicada num doente idoso (há
maior desgaste, são mais ativos). Seja como for, tentar prolongar até ao
limite a vida da cabeçafemoral, antes de propor uma artroplastia da anca.
4.6. Coxartrose
Definição/etiologia
- A artrose é um processo degenerativo da cartilagem articular ligado ao
envelhecimento da articulação e influenciado pela morfologia articular,
assim como por fatores hereditários. Com o tempo, assiste- se a uma
fragmentação das fibras de colagénio com umahiperhidratação da cartilagem
(edema).
- A anca é uma articulação de carga que, devido à sobrecargamecânica, pode
envelhecer prematuramente. Este envelhecimento pode ser acelerado por
fatores mecânicos desfavoráveis. Assim, de acordo com H. Pauwels (1976),
no apoio monopodálico a cabeça femoral suporta forças que podem atingir
até três vezes o peso do corpo. Durante a marcha, na fase de ataque do
calcanhar ao solo,
309
essas forças são maiores, na ordem de 4,3 vezes o peso do corpo.Por outro lado, a
cartilagem está adaptada a suportar cargas na ordem de 20 kg/cm2. Esta solicitação
mecânica pode ser de maior valor se a zona de carga diminuir (no caso de uma
displasia acetabular ou femoral) ou se o peso corporal aumentar (obesidade). Acresce
ainda considerar que, com o avançar da idade, a resistência da cartilagem articular à
pressão vai decrescendo.
- Distinguem-se, classicamente, as coxartroses primárias ou idiopáticas
(40%) e as coxartroses secundárias (60%).
- Coxartroses primárias ou idiopáticas: a sua etiologia não é clara. Trata-se
de ancas que apresentam uma alteração mecânica e, em certos casos,
intervém certamente uma anomalia da cartilagem articular, de origem
genética.
- Coxartroses secundárias: displasia de desenvolvimento da anca, sequelas
de doença de Legg-Perthes (coxa plana), sequelas de epifisiólise femoral
superior (coxa retrotorsa), displasia protusiva,sequelas traumáticas, necrose
assética da cabeça femoral, conflitos femoroacetabulares,
osteocondromatose sinovial, sinovite vilonodular, doença de Paget,
hiperostose vertebral anquilosante (doença de Forestier), coxite
infeciosa/inflamatória ou microcristalina, coxopatia metabólica
(alcaptónúria……).
Epidemiologia
- A coxartrose é frequente. Estima-se que aos 40 anos, 90% da população
apresenta sinais degenerativos assintomáticos nas articulações de carga. A
obesidade aumenta a frequência de artrose nas articulações de carga.
Clínica
- Sinais clínicos: dores de tipo mecânico, localizadas à região inguinal, por
vezes, à região nadegueira/glútea. Dores referidas à coxa ou ao joelho, podem
corresponder a um processo patológico situado na anca. Considerar a
síndrome mista (dores de tipo mecânico e inflamatório, esta última devido a
uma sinovite da anca).
- Claudicação de Duchene.
- Sinal de Trendelenburg.
310
- Limitação da amplitude articular: tipicamente uma diminuição
inicial da rotação interna, com a anca posicionada em flexão a 90º.
- Sinal da “saudaçãó da anca”: tempo durante o qual o membro
inferior pode ser mantido na posição de extensão,com um ângulo
de 30º acima do plano da mesa de observação, (sem dor,
habitualmente um minuto).
- Diminuição do perímetro de marcha.
- A marcha com apoio externo (canadianas) alivia muitas vezesa dor.
(com o passar do tempo, a articulação vai perdendomobilidade,
evoluindo para um processo de rigidez articular grave e para um
processo de atrofia dos músculos peri- articulares. Nestes casos, o
doente apresenta muitasdificuldades para conseguir efetuar os
gestos correntes da vida
– vestir-se, calçar-se, fazer a higiene pessóal….-)
- Imagiologia: o Rx da bacia (frente, centrado sobre a sínfise púbica),permite
o diagnóstico, na grande maioria das situações. Os trêssinais de artrose
(estreitamento da interlinha articular, esclerose óssea subcondral e, por
vezes, quistos subcondrais (geodes), osteófitos.
- O Rx de perfil (falso perfil de Lequesne) permite uma visualização
das alterações degenerativas situadas na interlinha anterior ou
posterior, as quais não são detetadas no Rx de frente (coxartrose com
preservação da interlinha articular no Rx de frente).
- TAC raramente necessária. Uma análise mais fina das alterações
degenerativas precoces, anteriores e posteriores.
- Artro-RM com cortes coronais/radiais tem interesse nos casos de
conflitos femoroacetabulares, para o diagnóstico de roturas do
debrum/labrum cotiloideo, lesões da cartilagem articular acetabular
e malformações da cabeça/colo femoral.
311
Diagnóstico diferencial
Dor inguinal: hérnia inguinal/crural, coxartrose rapidamente destrutiva, necrose
assética da cabeça femoral, fratura de fadiga do colo femoral, artrite séptica (fase
inicial), doença proliferativa sinovial, tumores ósseos, conflitos femoroacetabulares,
uma irradiação para a região interna pode referenciar uma cruralgia com origem na
coluna vertebral, tendinopatia (ílio-psoas, adutores, outras).
Dor posterior/lateral: afeção da coluna vertebral, patologia sacroilíaca, bursite peri-
trocanteriana, tendinopatia (piramidal, outras).
Tratamento
- Tratamento médico (analgésicos, anti-inflamatórios não esteróides,
infiltrações intra-articulares com corticoides, glucósamina……) e fisioterapia.
- Despiste e tratamento em tempo útil da displasia de desenvolvimento da
anca, da doença de Legg-Calvé-Perthes e da epifisiólise femoral superior, por
forma a prevenir/retardar o processoda artrose.
- Tratamento cirúrgico (cirurgia conservadora, cirurgia com sacrifício da
articulação):
- cirurgia conservadora (osteotomias do fémur proximal,
osteotomias da bacia);
- cirurgia com sacrifício da articulação: artrodese da anca,
excisão/ressecção artroplástica, artroplastia da anca (prótese total da
anca – cimentada, não cimentada, híbrida), artroplastia total de
revestimento.
312
mobilidade da coluna vertebral e a do joelho homolateral estejam preservadas, assim
como a anca contralateral apresentar-se em bom estado anatomofuncional. Importa
dizer que uma artrodese da anca pode ser convertida, mais tarde, numa artroplastia
com as vantagensdaí decorrentes (desartrodese da anca).
313
qualidade dos cuidados de saúde prestados e à melhoria das condições de vida.
A coxartrose e a coxite inflamatória englobam numerosas patologias distintas, tanto
quanto à etiologia, como quanto aos mecanismos fisiopatológicos e evolução clínica.
Apesar dessa diversidade, existe uma destruição da cartilagem articular, a
característica maisproeminente e comum, responsável pela dor e perda de
mobilidade articular que acompanham estas afeções do aparelhomusculoesquelético.
Em situações de grau avançado de destruição articular, independentemente da idade
do paciente e dos avanços farmacológicos, a PTA representa a única solução eficaz
para o tratamento da coxite reumatóide.
A implantação de uma prótese total da anca (PTA) representa uma das intervenções
cirúrgicas de reconstrução articular de maior sucesso clínico em Ortopedia,
proporcionando o alívio da dor e o restabelecimento precoce da função articular a
milhões de pacientes em todo o mundo.
O Ortopedista dispõe, atualmente, de um leque alargado de endopróteses articulares
que incluem implantes cimentados, não cimentados, híbridos e de revestimento, e
com diversas cúpulas de fricção articular, cerâmico-cerâmico, cerâmico-polietileno
altamente reticulado, metal-polietileno altamente reticulado, metal-metal
(articulação envolvido em acesa controvérsia científica) e, mais recentemente, metal-
cerâmico. Os modelos protéticos atuais apresentam um desenho muito próximo da
anatomia normal da anca,permitindo alcançar um bom resultado clínico com uma
baixa frequência de complicações.
Não obstante encontrarmo-nos na parte superior de uma curva de progressão
assimptótica, a prótese da anca continuará a registar progressos. Uma melhoria dos
resultados clínicos supõe o aperfeiçoamento dos sistemas já existentes e a otimização
da técnicacirúrgica, mais do que o desenvolvimento de novos implantes.
Tudo leva a crer que a técnica cirúrgica será cada vez mais rigorosa, uma vez que é
de supor que num futuro próximo toda a cirurgia
314
protética passará a ser assistida por computador, método que não está, ainda,
suficientemente desenvolvido e avaliado. Neste âmbito, torna-se importante referir
que a engenharia genética terá, também, um papel importante no futuro, no âmbito
do tratamento biológico daartropatia degenerativa, como alternativa às modalidades
cirúrgicas.
Seja como for, a prótese total da anca não é uma solução definitiva. Apesar do valor
clínico da artroplastia da anca é importante considerá-la como uma operação
irreversível(reconstrutiva, mas destruidora), isto é, torna-se impossível regressar à
situação clínica anterior se o resultado alcançado não estiver, porventura, à altura das
expectativas do paciente ou do cirurgião. É da maior importância eleger a modalidade
de intervençãoterapêutica que é suposto trazer o melhor resultado a longo termo,
com um menor risco de complicações, tendo em conta o binómio risco/benefício e a
esperança de vida do paciente.
Assim, pode-se aceitar que o tempo médio de duração de uma PTA, funcionalmente
eficaz, situa-se acima dos 15 anos nas melhorescasuísticas. Isto quer dizer que a
implantação de uma PTA num doente jovem deve ser motivo de ponderação (levar a
abordagem terapêutica conservadora ao limite), uma vez que a sua substituição,
parcial ou total por uma nova prótese é inevitável. Ao contrário, num doente idoso
essa questão dilui-se na esperança média de vida da população. Contudo, deve levar-
se em linha de conta que esta é cadavez maior, fruto da qualidade dos cuidados de
saúde.
Os excelentes resultados alcançados a curto e médio prazo com as artroplastias totais
da anca não resistem à prova do tempo. Com efeito, à semelhança do que acontece
com todas as outras artroplastias de substituição articular aplicadas em cirurgia
ortopédica, o desgaste tribológico dos biomateriais incluídos na sua composição,
conduz à formação de partículas, as quais estão na origem de reações de intolerância
biológica, reações “a corpo estranhó” (nomeadamente as partículas do polietileno).
As partículas de polietileno, são fagocitadas pelas células macrofágicas, que não as
conseguem destruir, conduzindo à libertação de citoquinas inflamatórias
(interleucina 1 e 6, fator de necrose tumoral alfa), que por sua vez promovem a
cascata da osteoclastogénese-
315
A ação dos osteoclastos produz perdas de substância óssea (osteólises), as quais
causam um desprendimentoda prótese do suporte ósseo levando, a médio ou longo
termo, à inevitável falência mecânica da artroplastia.
Com o propósito de diminuir o número das partículas de desgaste do polietileno
resultantes do contacto tribológico articular surgiram, recentemente, os polietilenos
altamente reticuladós (“cróss-linking UHMWPE”) que expressam uma módificaçãó da
estrutura intrínseca, por irradiação. Os resultados no laboratório e clínicos,
particularmente em próteses da anca e do joelho, apontam no sentido de uma
melhoria em relação ao polietileno de muita alta densidade, muito embora não haja
tempo de recuo suficiente para confirmar estas primeiras impressões. De facto, a
reticulaçãó (“cróss-linking”) do polietileno reduz, também, as suas propriedades
mecânicas, incluindo a resistência à propagação de fissuras de fadiga.Para além disso,
as suas partículas, embora em menor número,apresentam uma maior reatividade
biológica.
Outras partículas de desgaste podem interferir, também, e em últimaanálise, na
fixação mecânica das artroplastias, como são exemplos aspartículas do cimento ósseo
(metacrilato de metilo), as metálicas, as da hidroxiapatite e da alumina (cerâmico).
Todavia, as reações de intolerância biológica que provocam são muito menos
intensas, quando comparadas com as provocadas pelas partículas de polietileno
estando, porém, condicionadas pelo perfil imunogenético de cada doente. Cada ser
humano é biologicamente único.
Neste contexto, a articulação metal-metal produz partículas metálicasque podem
conduzir à formação de pseudotumores, osteólise e de reações inflamatórias intensas
com necrose dos tecidos moles da anca, reações retardadas de hipersensibilidade, do
tipo IV –ALVAL-. Por isso as próteses da anca de grande diâmetro (cabeça da haste
femoral superior a 36 mm) com uma cúpula de fricção/articulação metal-metal, são
objeto de acesa discussão científica no sentido de serem ou não serem
descontinuadas. Sendo ou não um problema de orientação dos componentes
protéticos ou problemas relacionados com o desenho da prótese ou com o próprio
doente, é verdade que essas questões não tem sido colocadas nas próteses metal-
metal em que cabeça femoral tem o diâmetro de 28 mm ou de 32 mm.
316
Seja como for, é de considerar que os biomateriais constituintes da cúpula de fricção
articular (nos seus diversos tipos de combinação, cerâmico-cerâmico, cerâmico-
polietileno altamente reticulado, metal- polietileno altamente reticulado e, mais
recentemente, metal-cerâmico) registaram uma evolução significativa, no sentido de
libertarem menos partículas.
Para além disso, fatores mecânicos como o excesso de peso dodoente e, a pressão
provocada pelo líquido intra-articular podem conduzir ao descolamento assético da
prótese da anca. Com efeito, a pressão do líquido intra-articular leva à morte dos
osteócitos e à lise óssea que por sua vez causa um descolamento/desprendimento da
prótese na interface implante-osso, mormente a nível acetabular.
Como se disse, a longo prazo assiste-se a uma falência mecânica da artroplastia, com
desprendimento dos implantes do suporte ósseo, tornando-se necessário a
implantação de uma nova prótese. Uma recolocação artroplástica da anca levanta
aspetos particulares detécnica cirúrgica, por forma a criar uma condição estrutural
similar à da artroplastia primária. Para isso, é da maior importância reconstruiras
perdas de substância óssea e, ao mesmo tempo, conseguir uma fixação estável dos
novos implantes protéticos. Para a reconstrução das lises ósseas associadas ao
descolamento assético dos diversos tipos de próteses de substituição articular têm
sido aplicados, também, diversos tipos de aloenxertos ósseos e biomateriais de
substituição óssea, os substitutos do osso, sintéticos ou de origem animal. Neste
contexto, a aplicação de enxertos ósseos de origem humana é uma prática corrente
no nosso Serviço, o qual dispõe deum Banco de Tecidos. Dentre todos, são os
aloenxertos esponjosos sob a forma de grânulos os mais usados.
317
Principais complicações das artroplastias da anca: descolamento
assético de um ou dos dois componentes protéticos;luxação precoce (até
aos 6 meses do pós-operatório) ou mesmo tardia (ao fins de vários anos
superior a 5 anos por definição, denominando-se por luxação intermédia a
que surge num tempo > que 6 meses e < que 5 anos); infeção, dor, dismetria
dos membros inferiores, fraturas periprotéticas, fratura de fadiga dos seus
constituintes, lesões vasculonervosas (do nervo ciático, crural)…………
Notas importantes
- A coxartrose é a primeira causa de dores mecânicas localizadas à anca após
os 50 anos de idade. Pode não haver uma correspondênciaentre o grau de
destruição radiológica e a sintomatologia dolorosa.
- A implantação de uma prótese total representa a solução mais
frequentemente usada para o tratamento da coxartrose.
- Insistir na cirurgia conservadora da anca nos doentes jovens e ativos,
sempre que tal for possível (ganho precioso de tempo em relação a uma
futura artroplastia de substituição articular).
- Nos doentes jovens e ativos constata-se uma diminuição da longevidade
da artroplastia da anca, nomeadamente na coxartrose secundária a necrose
óssea. Neste grupo etário propor, quando indicada, uma artroplastia total não
cimentada.
- A artroplastia total é uma excelente opção para o tratamento da coxartrose
do idoso (>70 anos) e, também, para o tratamento da coxite reumatóide.
Nesta última situação, não existe atualmente, no contexto clínico da
poliartrite reumatóide, outra solução tão eficaz, independentemente da
idade. Levar o tratamento médico até ao seu limite.
318
- A causa mais frequente da falência de uma artroplastia total da anca, quer
seja cimentada ou não, é o descolamento assético/desprendimento da
prótese do suporte ósseo. Outras complicações incluem a infeção, a luxação
da prótese e as fraturas periprotéticas (per ou pós-operatórias).
- A causa mais devastadora é a infeção periprotética cujo tratamento pode
incluir a excisão da prótese e recolocação de uma nova artroplastia num
segundo tempo cirúrgico ou, então, na excisão da prótese e recolocação de
uma nova prótese no mesmo tempo cirúrgicó, de acórdó cóm “ a virulência”
do microrganismo em causa. Seja como, for o risco de reinfeção é uma
preocupação a levar em linha de conta, não se podendo esperar com
segurança a cura do processo infecioso. Com efeito, a recidiva da infeção é
um risco que todo o paciente corre, independentemente do tempo de
evolução.
319
(delaminação, alterações degenerativas irreversíveis) e, depois, lesões no
labrum acetabular (rotura, desinserção), quistos no colo femoral, podendo
conduzir a um quadro de coxartrose, por um mecanismo de conflito do tipo
cam.
O conflito pode ser também devido a um choque entre o rebordo acetabular
e a zona da junção cabeça-colo femoral, por um mecanismo de tipo pinça ou
tenaz. Nesta situação, é a morfologia acetabular que está alterada, existe um
excesso de cobertura acetabular por retroversão do acetábulo ou por um
excesso da cobertura acetabular generalizada, como acontece na coxa
profunda ou na coxa protusa. A primeira estrutura a ser lesada é o labrum
(alterações degenerativas, roturas, quistos, ossificações), podendo também
haver lesões quísticas a nível do colo femoral. A nível do acetábulo
posteroinferior formam-se lesões cartilagíneas, por um efeito de
contragolpe. Estas alterações podem conduzir, igualmente,a um quadro de
coxartrose. O tipo pinça causa menos danos na cartilagem articular quando
comparado com as lesões produzidas por situações de tipo cam.
Etiologia
A etiologia do CFA não se encontra suficientemente esclarecida. Primitivo e
secundário a patologias predisponentes como sequelas de:doença de Legg-
Calvé-Perthes, epifisiólise femoral superior, necrose assética da cabeça
femoral, fraturas do colo do fémur, displasia de desenvolvimento da anca,
coxa vara, protusão acetabular (a cabeça femoral ultrapassa a linha ílio-
isquiática no sentido medial), coxa profunda (o fundo do acetábulo está ao
nível ou ultrapassa a linha ílio-isquiática), retroversão acetabular….óu seja,
patologias onde existam alterações morfológicas na cabeça-colo femoral
e/ou no acetábulo.
Clínica
Patologia de adultos jovens, ativos, desportista (artes marciais, ginástica,
ballet..).
320
Dor localizada à região inguinal, aumenta com o exercício físico e coma
posição de sentado. A dor pode ser sentida também noutras regiões, a nível
da região glútea, região trocantérica ou na coxa. Os sintomas iniciam-se na
maioria das vezes, com um desconforto intermitente, durante ou a seguir a
períodos de movimentos repetitivos da anca (corrida, marcha), progredindo
para dor constantee intensa. A rigidez articular pode associar-se ao quadro
doloroso, com redução da flexão da anca e, particularmente, da rotação
interna. Os pacientes podem referir, também, sensação de ressalto, bloqueio
ou ruído articular.
Imagiologia
Realizar uma radiografia da bacia (pélvica) com uma incidência ântero-
posterior (frente) centrada no púbis, em rotação neutra, e outra com os pés
em rotação externa de 30º (a distância entre o púbis e o cóccix deve medir
cerca de 3-4 cm).
Pedir um projeção axial pura de Dunn e uma radiografia com uma projeção
crosstable lateral (mostra bem a giba óssea) e, eventualmente, falso perfil de
Lesquene e de Séze que representa uma projeção lateral pura.
O falso perfil da anca, avalia a zona posteroinferior da anca e o grau de
cobertura anterior.
321
Com estas radiografias (pelo menos a AP e a projeção axial pura) é possível
confirmar o diagnóstico clínico.
Todavia a artro-RM (contraste com gadolinium) representa o exame
imagiológico mais específico e sensível para o diagnóstico do CFA (lesões do
labrum, lesões cartilagíneas, quistós…). Faz parte do protocolo pré-
operatório.
A TAC pode ter interesse para estudar as lesões ósseas em situações
complexas (TAC tridimensional). Por sua vez a cintigrafia óssea e a
ecografia tem um valor limitado.
Diagnóstico
Dor na anca, síndrome mecânica, provas de conflito positivas.
CFA tipo cam: cabeça femóral dó tipó “fálicó”; presença de giba óssea na
junção cabeça-colo, deformidade em punho de pistola,diminuição do off-set
cabeça-colo (normal 9-10 mm); ângulo alfa maior que 50º na incidência
axial; retrotorsão femoral; ângulo cervico-diafisário menor do 125º; quistos
ósseos no colo femoral, delaminação cartilagem articular do acetábulo,
lesões do labrum, os acetabuli.
CFA tipo pinça: cabeça femoral esférica, protusão acetabular, coxa
profunda, ossificação do labrum, os acetabuli; quistos ósseos no colo
femoral; sinal do entalhe, aumento da espessura da cortical do colo femoral;
retroversão acetabular através da deteção no Rx da bacia ântero-
posterior do sinal do cruzamento ou do laço em forma de 8 ( as projeções
radiográficas das paredes anterior e posterior não se cruzam na bacia
normal, a parede posterior é mais lateral), do sinal da parede posterior (o
centro da cabeça femoral situa-se para fora daprojeção da parede
posterior), e do sinal da espinha ciática (a espinha ciática é visível na
cavidade pélvica o que não acontece na bacia normal).
Doentes com conflito femoroacetabular são, por vezes, tratados
incorretamente a outros tipos de patologia, como sejam dos adutores,
hérnia inguinal e a pubalgia.
322
Tratamento
O tratamento cirúrgico é o único que corrige as deformidades óssease
trata as lesões do labrum e osteocartilagíneas. Apenas devem ser sujeitas a
intervenção cirúrgica as ancas sintomáticas, dolorosas, isto é, as ancas
assintomáticas com alterações imagiológicas de conflito femoroacetabular
não encontram indicação para cirurgia.
De um modo geral, consiste:
na osteoplastia femoral e acetabular (remoção da anomalia óssea
morfológica que provoca o conflito, ou seja, da giba e do excesso de rebordo
acetabular); no tratamento das lesões do labrum (reinserção ou excisão); no
tratamento das lesões da cartilagem acetabular (remoção de cartilagem
articular delaminada, solta, ou na aplicação de técnicas de revascularização
osteocartilagínea como são as furagens e as microfraturas) e nas
osteotomias de reorientação acetabular no caso de existir uma retroversão
acetabular significativa.
Para isso, podem-se usar diversas técnicas cirúrgicas: a via aberta com
luxação controlada da anca, uma pequena via anterior com apoio
artroscópico ou usar a via artroscópica.
Não existe atualmente uma evidência que permita afirmar a superioridade
de uma técnica cirúrgica em relação à outra. Os resultados têm sido aceites
como muito satisfatórios.
Seja como for, a eleição da técnica cirúrgica está condicionada pela
preferência e experiência do cirurgião. A correção cirúrgica da causa do CFA
é o objetivo a alcançar, independentemente da técnica cirúrgica usada, por
forma a prevenir ou a interromper o processo evolutivo da doença
degenerativa articular, isto é, a coxartrose, apesar de não existem ainda
estudos científicos, com um recuolongo, que deem prova desses
resultados.
323
324
LESÕES TRAUMÁTICAS DA REGIÃO ANATÓMICA DO
JOELHO
FRATURAS DIAFISÁRIAS TIBIA
Conceitos essenciais
325
Fraturas condilianas representam 6% das fraturas, e estão associadas a um
mecanismo combinado de uma força axial associado a varo/valgo forçado.
CLÍNICA
• Dor
• Impotência funcional
• Hemartrose
• Avaliação
- Estado da pele
- Músculo-tendinosa
- Vasculo-nervosa
A – Supra condiliana
B – Supra e intercondiliana
326
C – Condiliana
Mecanismo lesional: Impacto axial
com o joelho em flexão
D - Hoffa
EPIDEMIOLOGIA
Dois picos de incidência: jovens e sexo masculino saudáveis (habitualmente em trauma
de alta energia cinética) e em idosas osteopenicas (traumatismos de baixa energia
cinética).
NOTAS
Avaliar corretamente o perfil radiológico na pesquisa de fratura de Hoffa.
A inserção femoral dos gastrocnemius carateristicamente puxa o fragmento distal em
extensão.
TRATAMENTO
327
fixação estável dos côndilos à diáfise femoral e permitir uma reabilitação pós-
operatória precoce.
Fraturas expostas
• 5-10% de todas as fraturas supracondilianas
• Frequentemente na zona anterior do joelho podendo atingir o aparelho
extensor
• Tratamento de acordo com os princípios gerais de tratamento das fraturas
expostas
328
Placas anguladas
Placas de
suporte
condilos
329
LISS – Less Invasive Stabilization System
O deslizamento desta placa através de
um túnel nos tecidos moles, ao longo da
superfície óssea, sobre o local da fratura.
2 incisões – distal para introdução da
placa e proximal para acesso sua
extremidade.
Técnica MIPO – Minimally invasive plate
ostheosynthesis.
330
Encavilhamento retrógrado – Muito utilizado no tratamento de fraturas
supracondilianas periprotésicas em PTJ.
FRATURAS PERIPROTÉSICAS
• Traumáticas
• Descolamento e osteólise
• AR e corticoterapia
331
Fratura periprotésica
Mais frequente
supracondiliana
Tratamento cirúrgico:
COMPLICAÇÕES
• Não união
• Infeção
• Rotura de material
332
Não união
Fratura do
prato medial da
tíbia
VARO FORÇADO
333
FRATURA DO PRATO LATERAL DA TIBIA – TIPO DE TRAÇO
334
EPIDEMIOLOGIA
• Representam 2%de todas as fraturas, com uma incidência bimodal, tanto em
homens como em mulheres, e uma idade média de 48 anos.
• Lesões associadas:
- Roturas meniscais associadas em 50% das fraturas pratos tibiais
- Lesão associada dos ligamentos cruzados ou colaterais presentes em 30% dos
caso
- Compromisso cutâneo pode estar presente em fraturas de alta energia cinética
CLÍNICA
• Hemartrose presente; no entanto, a rutura capsularpode permitir a sua
extravazação para os tecidos moles envolventes
• Doppler obrigatório na ausência de palpação de pulsos
• Pesquisa de sindrome compartimental
IMAGIOLOGIA
• RX em 2 planos
• TAC – avaliar o tipo de fratura, ajudar o planeamento cirúrgico, e visualizar os
fragmentos ósseos.
TRATAMENTO
• Conservador
- Em fraturas estáveis sem desvio
- Gesso articulado e mobilização precoce do joelho
- Carga parcial progressiva a partir das 8 semanas. Às 12 semanas carga total.
- Caso haja perda da redução indicada cirurgia
• Cirúrgico
- Em fraturas fechadas desde que haja afundamento articular e instabilidade
articular em extensão > 10º (comparando com o joelho contralateral)
- Fraturas expostas – lavagem e desbridamento seguidas de osteotaxis.
335
EXEMPLOS DE TRATAMENTO CIRÚRGICO
336
Nalgumas situações a possibilidade de realizar osteossintese percutânea assistida
por artroscopia
337
FRATURA da PATELA
EPIDEMIOLOGIA
• Representam 1% da totalidade das fraturas
• M:F 2:1
• Escalão etário mais frequente 20-50
• Lesões bilaterais são pouco frequentes
MECANISMO LESIONAL
• DIRETO: Por possível extensão ativa do joelho, com deslocamento mínimo
devido manutenção da integridade do retinácula lateral e medial. A extensão
ativa do joelho pode estar mantida.
• INDIRETO (o mais comum): ocorre secundario a uma contração forçada do
quadricipete, enquanto o joelho está numa posição de semiflexão. Impossível a
extensão ativa do joelho.
RX – Traço transversal, grande afastamento.
• CLÍNICA
• Impotência funcional, dor, edema. Um afastamento entre os topos pode ser
palpável.
338
• Presença de hemartrose com glóbulos de gordura
RADIOLOGIA
• Incidências – AP, perfil e axiais
• A presença de uma rótula bipartida congénita (presente em 8% da população),
que ocorre normalmente na porção superolateral e tem margens regulares,
sendo bilateral em 50% dos casos.
• No perfil as fraturas com desvio são evidentes
• As incidências axiais podem auxiliar a identificar fraturas osteocondrais ou
traços verticais – também designadas por fraturas ocultas.
339
Fratura marginal
da patela
Fratura subcondral da
patela
340
TRATAMENTO
• CONSERVADOR: Fraturas sem desvio; fraturas com desvio inferior a 3mm e
mecanismo extensor intacto.
• Imobilização com cilindro gessado ou Tala amovível em extensão, durante 4 a 6
semanas.
• CIRÚRGICO: Fraturas com desvio.
• Técnica variável e adaptada a cada caso. A mais utilizada – fios e cerclage com
efeito em tirante
341
ROTURAS DO TENDÃO PATELAR E DO QUADRICÍPETE
O paciente com rotura do quadricípite, pode fazer marcha segurando o joelho como em
A.
342
Gap quadricipital, patela baixa Gap rotura patelar, com patela alta.
343
344
LESÕES DO JOELHO
MEDICINA DESPORTIVA
EPIDEMIOLOGIA
345
MECANISMOS LESIONAIS
1 2
Tendo como base estes mecanismos lesionais, são sinais de gravidade das lesões:
• Sensação de estalido
• Lesão em apoio monopodal
• Edema e derrame articular imediato
• Impotência funcional total, com incapacidade de retoma da atividade desportiva
346
- Traumatismos de baixa energia cinética – lesões isoladas ligamentares ou meniscais.
- Traumatismos de alta energia cinética – associadas a lesões complexas incluindo
luxação do joelho.
ROTURA MENISCAL
MENISCO FUNÇÕES:
1. Absorção e distribuição das cargas
2. Absorção dos choques
3. Melhoria da congruência articular
4. Estabilização do joelho
5. Melhoria da distribuição do líquido sinovial
6. Proprioceptividade
MECANISMO
Combinação de forças de compressão e rotação axial em associação com valgo-varo e
flexão-extensão.
INCIDÊNCIA
• Sexo feminino – 70-80%
• Menisco medial – 74%
• Condropatia associada – 42-52%
• Lesão ligamentar – 11-47%
CLÍNICA
• Antecedente traumático
• Em idosos com meniscose trauma mínimo
• Saber data de início sintomas – Bloqueio (50%); Derrame sero-hemático em
situações agudas; sensação de rasgadura
• Falência articular
• Dor na interlinha
• Limitação do arco de movimento
MANOBRAS
• Manobra de Judet-Genety
Doente em decúbito ventral, joelho em extensão sobre maca, perna sem apoio, observa-
se um calcanhar elevado. Ao tentar reduzir essa diferença de altura, encontra-se uma
resistência que se opõe à extensão, acompanhada de dor na interlinha articular – lesão
meniscal.
347
• Manobra de Appley (Sensibilidade:0.97; Especificidade:0.87)
Doente colocado em decúbito dorsal com o joelho estabilizado. Faz-se rotação da tíbia
seguida de extensão do joelho enquanto se aplica uma carga em varo ou valgo. O teste é
positivo quando se encontra um click durante a extensão a nível médio indicando uma
rotura meniscal.
Diagnóstico Diferencial
• Rotura LCA
• Corpo livre
• Osteocondrite dissecante
• Fratura osteocondral
• Gota
• Osteoartrose
348
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
TRATAMENTO
Remodelação ou sutura meniscal artroscópica
349
LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR
FUNÇÕES
- Estabilizador primário do joelho
- Opõe-se à translação anterior da tíbia
INCIDÊNCIA
- 0.3 casos por 1.000 habitantes por ano
- Futebol, basquetebol, sky, são os desportos de maior risco
MECANISMO
Movimento combinado:
• Torsão com joelho em flexão
• Hiperextensão forçada sem apoio
CLÍNICA
• Dor intensa
• Estalido
• Sensação de rasgadura (the famous pop)
• Hemartrose sem glóbulos de gordura
EXAME FÍSICO
• Manobra da gaveta anterior (Sensibilidade .91; Especificidade: 1.0)
350
anterior da tíbia. A partir desta posição o examinador puxa a tíbia para si. Este teste é
considerado positivo se houver translação anterior excessiva. O examinador deve fazer
o mesmo teste com a outra perna como comparação.
Com o paciente em decúbito dorsal, coloque o joelho a cerca de 20-30º de flexão e rode
a perna externamente. O examinador deve colocar uma mão atrás da tíbia e outra na
coxa do doente. É importante que o polegar do examinador esteja na tuberosidade
tibial. Puxando anteriormente a tíbia, um LCA intacto deve impedir o movimento de
translação para a frente da tíbia sobre o fémur, pelo que a existir esta translação indica
um teste positivo.
EXAMES COMPLEMENTARES
- Radiologia (face, perfil e axial rótulas)
• Sinal de Segond
Fratura-avulsão tibial pela cápsula antero-externa (Fratura de Segond)
Quase sempre associada a rotura completa do LCA (Sinal)
351
Exame de eleição RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
TRATAMENTO
• INICIAL – RICE (Rest; Ice, Compression, Elevation)
• DEFINITIVO (diferir no mínimo 3 semanas – rotura cápsula – síndrome
compartimental por artroscopia).
- Reconstrução artroscópica do LCA:
1. Plastia musculotendinosa (ST.gracilis)
2. Plastia Osso-tendão-osso
- Lesões associadas:
Regularização meniscal
Sutura meniscal
Meniscectomia
Plastia musculotendinosa
352
Plastia osso-tendão-osso
Lesão rara
MECANISMO
Traumatismo posterior com joelho em flexão
Hiperflexão
Hiperextensão apoiada
Varo/Valgo
Combinação
353
EXAME FÍSICO
• Gaveta posterior
• Teste de contração ativa músculo quadricipital
• Recurvato rotação externa
354
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
(Meio auxiliar de diagnóstico de eleição)
TRATAMENTO
As opções terapêuticas (conservador vs. ortopédico), dependem da idade do doente,
nível de atividade, lesões associadas.
São consideradas indicações para cirurgia:
- Rotura do LCP associada a rotura do LCA;
- Rotura do LCP associada a outras lesões ligamentares (postero-externa), ou associada
a roturas meniscais.
- CIRURGIA:
• Fratura da espinha tibial – Reinserção
• Rotura do LCP – Plastia de reconstrução
Muito frequente
Por traumatismo direto
Por lesões sem contacto
Exploração clínica – Prova de Valgo Forçado (comparar com o joelho não lesado)
355
LIGAMENTO COLATERAL LATERAL
LESÕES COMPLEXAS
Pentada
356
Luxação do joelho – permanente.
357
358
LESÕES ORTOPÉDICAS DA REGIÃO ANATÓMICA DO
JOELHO
OSTEOARTROSE
Conceitos essenciais
OSTEOARTROSE DO JOELHO
Osteoartrose: Patogenia
• Agressão/reparação repetitiva da cartilagem
• Distúrbios do metabolismo do condrócito
• Alteração da composição da matriz cartilagínea
• Degradação funcional e estrutural da cartilagem
• Remodelação do osso subcondral
Osteoartrose: Etiologia
• Fatores genéticos (50-60%)
• Obesidade
• Fatores hormonais
• Displasia articular
• Doença articular prévia
• Fatores laborais
Osteoartrose: Clínica
SINTOMAS
• Dor articular mecânica
• Rigidez articular após inatividade
• Limitação da mobilidade articular
• Limitação funcional e incapacidade
SINAIS
• Dor à palpação da entrelinha articular
• Tumefação articular dura (óssea)
• Crepitação à mobilização articular
• Derrame articular não inflamatório (Líquido amarelo citrino na artrocentese)
• Mobilização articular dolorosa e limitada
• Instabilidade articular
359
• Deformidade angular
RADIOLOGIA
Pangonograma
avaliação de eixos
macânico e
anatómico dos
MInf.
360
Do ponto de vista radiológico existem 4 graus, cuja evolução é lenta e progressiva,
podendo a sua evolução ser determinada pelas etiologias anteriormente referidas.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Hérnia discal L3-L4
• Rotura meniscal
• Osteonecrose
• Coxartrose
• Artrite séptica
• Tendinopatia
CRITÉRIOS de REFERÊNCIAÇÃO
MGF
Efetua o diagnóstico e orientação da grande maioria dos doentes
MFR
O doente sintomático com osteoartrose em qualquer fase
ORTOPEDIA
O doente com osteoartrose grave, com sintomas intensos e/ou limitação funcional
importante que não foram controlados com terapêutica médica adequada deve ser
referenciado para decisão cirúrgica
REUMA
Dificuldades diagnósticas e osteoartrose sintomática grave com contraindicação para
cirurgia
TRATAMENTO
• Educação do doente
Explicação da natureza das lesões e suas perspetivas terapêuticas
Dieta (obesos)
Atividade e exercícios
• Terapêutica física
Medidas estimuladoras da autonomia
Hidroterapia
Agentes físicos
Fisioterapia
Ortóteses e auxiliares da marcha
• Terapêutica farmacológica
Sistémica – Analgésicos, AINES, corticoides, condroprotetores (sulfato de
glucosamina)
• Injectáveis
Corticóides intraarticulares associados ou não a viscossuplementação –
necessita uma seleção criteriosa dos doentes pois é pouco eficaz em
osteoartroses avançadas
• CIRÚRGICO
Dirigido à cartilagem
Correção das deformidades (osteotomias)
Substituição articular (próteses)
OSTEOTOMIAS
• Indivíduos com idade <55 anos
• Pouco obesos
• Varo ou valgo constitucional, com integridade do compartimento contralateral
361
• Ausência de laxidez cápsulo-ligamentar
• Rótula centrada e indolor
Osteotomia supratuberositária de
Osteotomia – evolução 13 anos Maquet
ARTROPLASTIAS
• A mais usada – artroplastia total do joelho
• Indicações PTJ (Artrose tricompertimental; AR; Artrose pós-traumática;
Falência de osteotomia; Falência de artroplastia parcial – unicompartimental)
• Contra-indicações: Absolutas – infeção articular ativa e artropatia neuropática/
Relativas – Indivíduos jovens; Indivíduos com atividade física pesada; mau
estado geral
362
SÍNDROME ROTULIANO DOLOROSO
CLÍNICA
• Manifesta-se pelo aparecimento insidioso de dores anteriores do joelho, ou em
ligação com um esforço
• Resiste habitualmente aos analgésicos
• As dores são mais frequentemente desencadeadas pela marcha em subidas ou
na descida de escadas
• Mais frequente em adultos jovens
• A avaliação radiológica não deteta uma lesão particular
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Artrose femoropatelar
• Instabilidade rotuliana (luxação)
1. Luxação traumática
2. Luxação não traumática – (trauma minor; e a presença dos seguintes
fatores predisponentes. Anamnese familiar com antecedentes de luxação
patela; idade <17 anos; trauma minor; hiperlaxidez; fatores anatómicos:
displasia tróclea, patela alta
3. Luxação congénita – luxação permanente numa rotula hipoplásica
4. Luxação habitual – a patela luxa a cada flexão do joelho
• Bursite rotuliana: que é uma reação inflamatória da bolsa serosa em seguimento
a microtraumatismos (trabalhador em posição de joelhos), uma infeção ou um
traumatismo agudo.
• Osteocondrite dissecante: surge em indivíduos jovens, do sexo masculino em
75% dos casos, sendo quase sempre localizado ao bordo axial do côndilo
femoral interno.
As suas características clínicas são: dores de esforço acompanhada de
claudicação de defesa. Síndrome de bloqueio, em qualquer posição do arco de
movimento, a que se segue habitualmente um derrame (esta fase surge quando
o fragmento se desprende do côndilo)
A RM é elemento essencial do seu estudo, particularmente na deteção da lesão e
do seu estado evolutivo.
363
O tratamento é variável e depende da fase em que se encontra o fragmento
osteocartilagíneo. Nas primeiras fases – descarga; quando fragmento se
encontra numa fase de desprendimento a sua fixação in situ está indicada (fig.
da esquerda); se o fragmento já se encontra livre dentro da articulação deve ser
removido e no seu local realizada uma mosaicoplastia (fig. da direita).
• Condromalácia patela
Significa um amolecimento da cartilagem da patela.
A cartilagem da patela amolece e vai perdendo sua capacidade de absorver as
forças às quais é submetida, levando a sobrecarga do osso abaixo, também
chamado de subcondral, causando dor.
Causas: envelhecimento; alterações anatómicas (patela alta); corrida em pisos
abrasivos; alterações biomecânicas (valgo dinâmico – aumento do valgo, mais
frequente em mulheres); portadores de hiperlaxidez; excesso de peso; pé plano;
lesões anteriores; alto nível de atividade física.
364
Tratamento: perda de peso nos casos justificados; diminuição das cargas;
aumento da tonificação do vasto medial.
OUTRAS PATOLOGIAS
Doença de Osgood-Schlatter
365
RX monstra no perfil nas fases iniciais edema dos tecidos moles; alguns meses
depois surge fragmentação óssea na tuberosidade anterior da tíbia.
O tratamento consiste na restrição da atividade desportiva, e AINES.
Evolução benigna.
Jumper knee
366
Tornozelo
e
Pé
Fratura cominutiva
367
Clinica
• Dor
• Impotência funcional
Exame físico
• Edema
• Envolvimento dos tecidos moles
• Avaliação do estado circulatório e nervoso local
Tratamento
1 – Conservador
Raro
Em fraturas sem desvio e naquelas sem atingimento articular
Tratamento consiste na redução e imobilização com bota gessada
2- Cirúrgico
- Osteotáxis
- Redução aberta e fixação interna
368
Complicações
369
Fraturas do tornozelo
• Fraturas que podem atingir a fíbula (maléolo lateral) e a tíbia (maléolo medial).
• Provocada por um movimento de báscula do astrágalo dentro da mortalha do
tornozelo
• Equivalentes de fratura (as roturas ligamentares - mediais ou laterais -quando
acompanham fraturas do outro maléolo, comportam-se como se de fraturas se
tratassem).
• Mecanismos lesionais (mais comuns) – inversão (lesões laterais seguindo-se o
atingimento medial), e eversão (lesões mediais seguindo-se o atingimento
lateral).
Classificação
• Tipo A
Abaixo da sindesmose
• Tipo B
A nível da sindesmose
• Tipo C
Proximal à sindesmose
370
Clínica
Exame físico
• Dor
• Tumefação
• Equimose
• Crepitação óssea
Radiologia
• RX face + RX perfil
Diagnóstico diferencial
• Entorse tornozelo
• Fratura da base do 5º metatársico
• Fratura de Maisonneuve (fratura do maléolo interno/ou rotura do ligamento
medial, com transmissão de força ao longo da membrana interóssea e fractura
proximal do perónio).
• Fratura osteocondral
371
Tratamento
Imediato
• Gelo local
• Imobilização com tala gessada
Definitivo
• Conservador
Bota gessada em fraturas estáveis
• Cirúrgico
- Placa e parafusos em fraturas instáveis
- Fixadores externos em fraturas complexas e cominutivas e em fraturas
expostas
Bota gessada/Walker
372
Tratamento Cirúrgico
Maléolo lateral
Maléolo medial
373
Osteotáxis
Fraturas do calcâneo
374
• Ocorrem sobretudo em casos de traumatismos graves, em acidentes de viação
ou quedas de altura.
• 2% (esqueleto)
• 60% (ossos do pé) COMPRESSÃO
• Homens 92%
•
•
•
Idades – 25 aos 55 anos
Intra-articulares – 75%
Extra-articulares – 25%
A
X
I
A
L
Clínica
• Dor
• Tumefação
• Deformidade
• Incapacidade da marcha
Imagiologia
• RX tornozelo e pé
- Face + perfil
- Axial do calcâneo
• TAC (calcâneo)
375
Diagnóstico diferencial
• Fraturas do tornozelo
• Excluir fraturas da coluna – transição dorsolombar (associação muito
frequente)
• Lesão renal (urina – Combur)
• Outras fraturas (pratos tibiais; colo fémur)
Tratamento
• Médico
Bota gessada com estribo
376
• Cirúrgico
Complicações
• Imediatas
Cutâneas
Infeção
377
• Tardias
Dor Marcha
Deformidade em varo
Artrose subtalar
Fratura do 5º metatársico
Mecanismo lesional
• Traumatismo direto
• Traumatismo indireto
Clínica
• Dor
• Edema
• Impotência funcional
• Equimose
Diagnóstico diferencial
• Fratura bimaleolar
• Entorse do tornozelo
Tratamento
ENTORSES do TORNOZELO
Entorse – Definição –
Rotura total ou parcial dos ligamentos articulares por mecanismo forçado em
inversão, ou, mais raramente em eversão.
Maior Risco
379
Mecanismo lesional em inversão – lesão inicial lig. Talofibular anterior
Seguidamente – cápsula articular – e com a continuação do mecanismo o
fibulocalcaneano.
O ligamento mais forte do complexo lateral é o talofibular posterior.
380
Exame físico
381
Classificação
- Edema ligeiro
- Perda funcional ligeira
- Sem instabilidade mecânica
- Dor discreta
- Equimoses raras
- Edema moderado
- Perda funcional moderada
- Ligeira instabilidade mecânica
- Dor moderada
- Equimoses frequentes
382
• Grau 3: rotura completa de um ligamento
- Edema severo
- Impotência funcional marcada
- Instabilidade mecânica
- Dor severa
- Equimoses significativas
Pedir RX se:
- Dor no maléolo
- Dor na base do 5º metatársico
- Dor escafoide társico
- Incapacidade de dar 4 passos com apoio
Pontos de referência
383
Critérios de Ottawa
Imagiologia
Diagnóstico diferencial
• Fratura bimaleolar
• Fratura da base do 5º metatársico
• Fractura Maisonneuve
• Fratura osteocondral
384
Tratamento
Grau 1
Protection
Rest
Ice
Compression – Diminuir edema junto lesão
Elevation – Facilitando drenagem venosa e linfática
Grau 2
RICE
Usar canadianas alguns dias – fase aguda 5 a 10 dias
Ortótese funcional
Carga precoce e mobilização
Recuperação entre 5 a um máximo de 2 semanas
Grau 3
- Conservador –
imobilização seguida de reabilitação
carga logo que tolerada
mobilizar progressivamente (dor limite)
recuperação 6 a 8 semanas
considerar tratamento similar a fratura
385
- Cirurgia –
pacientes jovens com alto nível de atividade atlética
envolvimento de mais do que um ligamento
entorses de repetição reveladores de alguma instabilidade
Complicações
Sem tratamento adequado, uma entorse aguda pode dar origem a uma instabilidade
articular crónica.
Se esta instabilidade for incapacitante e severa – cirurgia.
Se a instabilidade for ligeira – tratamento conservador, baseado em calçado estável,
contenção elástica e fisioterapia dirigida.
Clínica
Exame físico
• Tumefação
• Descontinuidade a nível do tendão (gap)
• Manobra de Thompson positiva
386
Palpação Queda
Manobra de Thompson
Imagiologia
• Radiologia negativa
• Ecografia, importante na urgência. Limitada pela subjetividade do observador, e
pouco precisa na distinção de rotura completa versus incompleta, e sua
extensão.
• RM – exame de eleição. Determinação precisa da extensão e tipo de rotura.
Essencial no planeamento do tratamento, particularmente do cirúrgico.
387
Tratamento
Conservador
Cirúrgico
388
Menor taxa de roturas após tratamento cirúrgico. Complicação – problemas cicatriciais
Hallux Valgus
Joanete
389
• Congénito
• Padrão familiar
• Uso de calçado inadequado – desvio de ângulo correto da articulação
• Mais frequente em mulheres 10/1
• Raro em indivíduos que não usem calçado
• A pressão do calçado na saliência óssea dá desconforto e dor.
• Pode surgir eritema, inflamação e infeção.
• O hallux sobrepõe-se ao 2º dedo deslocando-o e deformando a articulação
• Deixa de desempenhar a sua função, perturbando a marcha
• Promove desequilíbrio do pé, por aumento das cargas nas restantes estruturas
• Causa de dor e metatarsalgia
390
Tratamento
Cirurgia
391
Nevroma de Morton
Clinica
392
Tratamento
• Conservador
Calçado adequado
Palmilhas
Infiltração local
• Cirúrgico
Exérese do nevroma
Doença de Freiberg
Doença de Sever
• Osteocondrite localizada à apófise calcaneana
• Dor referida ao calcanhar, zona de interseção do Tendão de Aquiles, que
aumenta com o esforço, e é despertada à pressão digital.
• A epífise apresenta-se ao RX com um aspeto mais denso, irregular e por vezes
fragmentado.
• Causa de dor ao retropé, mais frequente em crianças (8 a 14 anos).
• Tratamento
Calçado adequado
Palmilhas
394
Tratamento
MÉTODO de PONSETI
395
Pé Plano
396
Na manobra da Dorsiflexão passiva do hallux, observa-se a elevação da arcada
plantar interna, indício de normalidade funcional.
Tratamento
Maioria dos casos não necessita de tratamento.
Cirurgia indicada em casos de persistência da deformidade da arcada, sem
provas de normalidade funcional. Pés rígidos com barras (mais comum
calcaneonavicular). Também em adolescentes e adultos (dolorosos).
397
Pé Cavo
398
399