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A comunicação na consulta para a empatia e a


capacitação

A Medicina Centrada na Pessoa e a Medicina


Baseada na Narrativa

REGENTE: INÊS ROSENDO


CORPO DOCENTE:
JOSÉ AUGUSTO SIMÕES, ANTÓNIO CRUZ FERREIRA, CARLOS CARDOSO, BEATRIZ SILVA

Comunicação na consulta de MGF

Tarefa: 2 grupos para 2 perspetivas da consulta


A pessoa na consulta:
Pude falar sobre os meus problemas?
O médico:
Tiraram-me as minhas dúvidas?
Capacitei?
Participei na discussão sobre o que fazer?
Empoderei?
Fiquei mais capaz de lidar com os meus
Fui empático? problemas e com a minha vida?
Comuniquei? Vou fazer o que acordei fazer?
Apliquei os meus No fim da consulta com me sinto?
conhecimentos?
O médico preocupou-se comigo?
Posso confiar neste médico?

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Conceitos

Capacitação
(enablement)
Empoderamento
(empowerment)

Capacitação (enablement): Ganho que o doente


adquire numa consulta para poder
compreender e lidar com a sua doença.
RevADSO 2013 (02):18-22


Empoderamento (empowerment): Ganho de
poder na relação médico/doente, capacidade
de intervenção na decisão partilhada.
Acta Med Port 2015 Mar-Apr;28(2):177-181

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Capacitação
O ganho por ter havido uma consulta. COMO medir?

EMP SIMPA
ATIA TIA

Empatia médica Efeitos do seu uso em consulta:


“atributo predominantemente • adesão dos doentes ao
tratamento
cognitivo (mais que
emocional), envolvendo a • níveis mais elevados de
compreensão (mais que o satisfação com o médico e
sentir) das experiências, com o sistema de saúde
preocupações e perspetivas • melhor memória e
compreensão da informação
do doente, em combinação
com a capacidade para médica
comunicar essa mesma • melhoria na qualidade de vida
compreensão”. e bem-estar psicológico, físico
e social.
Hojat

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Dimensões da empatia médica

“Tomada de Perspetiva” - empatia


cognitiva (perceber e compreender o que o
outro pensa)

“Capacidade de se colocar no lugar


do paciente” – empatia emocional
(perceber o que o outro sente/vive)

“Compaixão” - empatia compassiva


(envolver-se/querer ajudar o outro)

Como ESCALA JEFFERSON DE EMPATIA MÉDICA – VERSÃO PARA ESTUDANTES

medir? Por favor, indique o seu nível de concordância com as seguintes afirmações:
(Assinale a opção escolhida na seguinte escala com um ; em caso de engano, preencha por completo o quadrado e assinale com um a
opção correcta)
Discordo fortemente Concordo fortemente
1 2 3 4 5 6 7

1. A compreensão que os médicos têm dos sentimentos dos pacientes e das suas famílias não tem influência no

Auto-percepção tratamento médico ou cirúrgico.


2. Os pacientes sentem-se melhor quando os médicos compreendem os seus sentimentos
do aluno 3. É difícil para um médico ver as coisas na perspectiva dos pacientes
4. Perceber a linguagem não verbal é tão importante como a linguagem verbal nas relações entre médico e paciente
5. O sentido de humor de um médico contribui para um resultado clínico melhor
6. Porque as pessoas são diferentes, é difícil ver as coisas da perspectiva dos pacientes
7. Prestar atenção às emoções dos pacientes não é importante na recolha de uma história clínica
8. A atenção às experiências pessoais dos pacientes não influencia o resultado dos tratamentos
9. Os médicos deviam tentar “colocar-se no lugar” dos seus pacientes quando lhes estão a prestar cuidados
10. Os pacientes valorizam a compreensão que o médico tem dos seus sentimentos, o que é terapêutico em si mesmo
11. As doenças dos pacientes só podem ser curadas com tratamentos médicos ou cirúrgicos; assim, os laços emocionais
dos médicos com os seus pacientes não têm qualquer influência significativa no tratamento médico e cirúrgico
12. Fazer perguntas aos pacientes sobre o que se passa na sua vida privada não ajuda na compreensão das suas queixas
físicas
13. Os médicos deviam tentar compreender o que se passa na cabeça dos seus pacientes, prestando mais atenção às
listas não verbais e à sua linguagem corporal.
14. Eu acredito que a emoção não deve estar presente no tratamento de doenças orgânicas
15. A empatia é uma competência terapêutica sem a qual o sucesso do médico é limitado
16. A compreensão dos médicos acerca do estado emocional dos seus pacientes e das famílias dos seus pacientes é uma
componente importante da relação entre o médico e o doente
17. Os médicos deviam tentar pensar como os seus pacientes para prestarem melhores cuidados
18. Os médicos não se deviam deixar influenciar por relações pessoais fortes com os seus pacientes e as suas famílias
19. Não aprecio literatura não médica ou outras formas de arte
20. Eu acredito que a empatia é um factor terapêutico importante no tratamento médico

Portuguese translation (S-version) by Manuel João Costa, PhD, Universidado do Minho, Braga, Portugal © Jefferson Medical College

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Comparing empathy in medical


students of two Portuguese medicine
schools

Conclusion: The levels of empathy of FCS-UBI medical


students were higher than those found in FMUC students.
Comparing the results per year of MIM, the difference was
mainly in the 3rd year with better results in FCS-UBI.
By gender females score statistically different between the
two Schools, better in FCS-UBI.
These results support the need to reassess the learning
curriculum and the teaching context, with the objective
of promoting effective educational interventions in the
development of student empathy.

Santiago et al. BMC Medical Education (2020) 20:153


https://doi.org/10.1186/s12909-020-02034-3

Como
medir?

Percepção
da empatia
médica pelo
consulente
JSPPPE

Patient Preference and Adherence 2019:13 1–8

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Como
medir?

Percepção da
empatia
médica (na
consulta e
relacional pelo
consulente)
CARE

JSPPPE vs Care
Correlação Forte
e significativa
https://doi.org/10.1093/e
urpub/ckz034.015

Intervenção numa unidade de saúde


Impacto na empatia percebida pelos utentes

Média com desvio padrão e dinâmica de crescimento dos


resultados do JSPPPE (Resultado) e resultados por pergunta (E1,
E2, E3, E4, E5), em 2014, 2015 e 2016. UTSATUNOva
Média em Média em Δ 2014-
p
2014 2016 2016 (%)
E1 6,38±0,94 6,55±0,87 0,024 2,66

E2 5,92±1,26 6,06±1,26 0,407 2,36

E3 6,35±1,08 6,36±1,08 0,254 0,16

E4 6,18±1,06 6,26±1,12 0,317 1,29

E5 6,42±0,89 6,57±0,96 0,003 2,34

Resultado 6,25±0,83 6,36±0,90 0,201 1,76

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Aprender e testar comunicação


verbal de empatia

u ECCS (Empatic Comunication Coding System)

u Tarefa:
u Para cada frase que o médico é chamado a
dizer, escrevam o que diriam: Têm 10 segundos!

Sim Healthcare 11:181Y189, 2016


DOI: 10.1097/SIH.0000000000000142

Na consulta da D. Maria, 88 anos, que vive


só. O que diriam à Sra após cada frase?

Médico: Olá D. Maria. Então porque


marcou esta consulta?
D. Maria: Sinto-me muito mal. Sinto-me triste
e só desde que a minha gata morreu. E
não consigo dormir.
Médico: …
D. Maria: Sabe, era a minha única
companhia. E agora o que vou fazer
para não sentir a falta?
Médico: …

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Comunicação não verbal

É impossível não comunicar!

u A comunicação visual ocorre quando o corpo do


médico está dirigido para a pessoa (e por 10’’) olhando
para ela.

Classificação da escala
ECCS (Empatic Comunication Coding System)

6: Sentimento ou experiência compartilhados


Declaração de anterior experiência semelhante, de partilha emoções
do doente, do seu problema ou de necessidade de atuar) Implica:
Expressão de semelhante experiência que o médico já teve.
5: Confirmação
Mostra à pessoa que os seus sentimentos são justificados [congratular-
se, dar nota de que se aceitam os importantes problemas da
pessoa, apoiar as emoções da pessoa, ou referir que conhece casos
semelhantes]
4: Reconhecimento explícito e continuação
Explícito reconhecimento do que foi dito e até mesmo dar opinião ou
resumir o que a pessoa disse. O balbuciar ou menear prosseguindo
no tópico perguntando ou dando opinião.

Sim Healthcare 11:181Y189, 2016


DOI: 10.1097/SIH.0000000000000142

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Classificação da escala
ECCS (Empatic Comunication Coding System)

3: Reconhecimento (Reconhecimento do que a pessoa


disse mas sem prosseguir no tópico)
2: Reconhecimento implícito (Não se refere o problema
central da pessoa centrando-se o médico em assunto
periférico, não continuando no tópico da pessoa)
1: Reconhecimento mecânico=1 (Resposta automática
[“sim”, “Hãhã”, “claro” dando mínimo ou nenhum
reconhecimento ao problema, mas encarando a pessoa
ou ligando-lhe)
0: Negação da perspectiva do paciente=0 (Fazer uma
declaração em disconformidade com o que está em
causa)

Sim Healthcare 11:181Y189, 2016


DOI: 10.1097/SIH.0000000000000142

“Oh Sr Dr isto anda muito mal para os meus


lados. Sinto-me triste e desde que a minha
gata morreu que não consigo dormir!”

Sentimento ou experiência compartilhados=6:


Há tempos morreu o cão dos meus pais e também ficámos muito tristes.
Confirmação=5:
Quando desaparece uma companhia querida como o seu gato, fica-se triste. Está agora a passar por uma
fase aborrecida… Mas vai melhorar.
Reconhecimento e continuação=4 :
Lamento a morte do seu gato que pode causar o que sente. Mas tem dificuldade a adormecer ou acorda
muitas vezes?
Reconhecimento=3:
Pois, é aborrecido. E que mais a traz cá?
Reconhecimento implícito=2:
E tem em casa todos os seus medicamentos?

Reconhecimento mecânico=1:
Hãhã…
Negação da perspetiva do paciente=0:
Como precisa de companhia já pensou em encontrar outro animal?

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“E agora o que vou fazer para


não sentir a falta?”
Sentimento ou experiência compartilhados =6:

Quando morreu o cão dos meus pais retirou-se de casa tudo o que estava ligado ao cão.

Confirmação=5:

Ficar sem a companhia diária é aborrecido e triste. Mas vai passar… Vamos ajudar a ultrapassar.

Reconhecimento e continuação=4 :
Então morreu o seu gato e agora sente-se só… Sabe de alguém a quem tenha acontecido o
mesmo? O que é acha que deve ser feito?

Reconhecimento=3

Tem razão. Mas a vida continua!

Reconhecimento implícito=2:
E de resto como tem estado?

Reconhecimento mecânico=1:

Pois é...

Negação da perspetiva do paciente=0:

Então e como é que estão os netos?

https://www.youtube.com/watch
?v=-4STEozAH4o

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O conceito de Medicina
Centrada na Pessoa

u Introduzido por Balint em 1970


u Reconhecimento da pessoa que recorre aos
cuidados de saúde na sua globalidade:
u Experiências, valores, necessidades e preferências;
u Partilha do poder entre o médico e a pessoa - aliança
terapêutica - com doente com papel ativo quanto às
decisões terapêuticas e às responsabilidades.

Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. 2011; 27(5):482-6.

Medicina Centrada na Pessoa

Simultaneamente modelo
e método
Fundamenta-se em quatro
componentes que se
encontram dependentes
e interrelacionados

Moira Stewart

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Medicina Centrada na Pessoa

Explorar a
saúde, a Compre- Melhorar
doença e ender a Encontrar a
a pessoa entendim relação
experiênc como um ento médico-
i-a de todo doente
doença

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Como
medir?

Percepção
do paciente

Portuguese European
spoken cross-cultural
adaptation and
validation of the
patient perception of
patient-centredness
(PPPC)
https://doi.org/10.1093/e
urpub/ckab120.016

Como
medir?

Auto-
percepção
pelo médico
de praticar
MCP

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Estudo entre duas Unidades de CSP


MCP e capacitação em 2 Unidades de Saúde

USF C/Formação UCSP S/Formação

MCP-PT Total ICC/PEI Total MCP-PT Total ICC/PEI Total

Média ± desvio padrão 34,72 ± 2,37 13,39 ± 2.41 34,96 ± 3,03 12,25 ± 3,03

Mediana 36,00 13,00 36,00 12,00

Mínimo 20,00 6,00 24,00 6,00

Máximo 36,00 18,00 62,00 18,00

Tabela 5: Média, desvio padrão, mediana, mínimos e máximos do MCP-PT Total e do ICC/PEI Total
USF/UCSP p
Topázio
MCP-PT Total 0,488
Fernão Magalhães
Topázio
ICC/PEI Total 0,001
Fernão Magalhães
Tabela 6: Valores estatísticos do MCP-PT Total e do ICC/PEI Total, entre as duas instituições.

Medicina Baseada na
Narrativa

“Os médicos sabem de Medicina


mas esquecem que a dolência
altera tudo para a pessoa.”

Charon R. Narrative medicine. Honoring the stories of


illness. New York, NY: Oxford
University Press; 2006.

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As 7 capacidades para a
comunicação

u Conversar (deixar expressar)


u Curiosidade (perguntar)
u Contexto (holismo)
u Complexidade (sua análise)
u Competição (desafiar a encontrar respostas)
u Caução (cuidado/cautela, nas perguntas)
u Cuidado (não julgar e aceitar a pessoa)

Clinical uncertainty in primary care. The challenge of collaborative engagement. New York, NY: Springer; 2013. p.163-76.

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Senhor de 57 anos, casado, 6º ano,


soldador, dois filhos camionistas, vida
pacata, poucos amigos (*):

Estou muito triste e revoltado porque


a empresa onde trabalhei 30 anos
fechou e ficou-me a dever
dinheiro. Tudo me aborrece, não
durmo, irrito-me em casa e não
quero falar com ninguém e com
minha idade…

Senhor de 47 anos, 12º ano, mediador


imobiliário a quem damos o
diagnóstico de diabetes (*):

Isto de ter diabetes é um aborrecimento


muito grande. Não me conformo. Está bem
que não ando a pé. Mas não faço erros
alimentares. Porquê? Porquê eu? Já tenho
a cabeça vazia com isto!

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Practices to Foster Physician


Presence and Connection
With Patients
in the Clinical Encounter

Notas finais

u A comunicação é algo de complexo e


inato.
u A MCP prepara-nos para a empatia que
todos perseguimos.
u A empatia evita a sensação do vazio por
ter sido técnico e não humano a fazer
algo no nosso ramo da Medicina.

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Próxima aula:
Bibliografia específica e ferramentas úteis

Luís Rebelo, "A Família em


Medicina Geral e Familiar”,
conceitos e práticas. Almedina,
2018: 93-103

"Medicina Geral e Familiar”,


Almedina, 2020:169-192 Como fazer consulta a
uma mãe solteira de 5
(Capítulo 10) filhos adolescentes cujo
filho mais velho sofreu
um acidente grave?
Rev Port Clin Geral 2007;23:309-17
(genograma)

18

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