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Boletim do Instituto de Saúde

Volume 21, Número 1, Julho 2020, Páginas 63-69.

Relato de casos

Comunicando Más Notícias


Communicating Bad News

Juliana Gibello1, Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso2

Resumo Abstract

A comunicação de más notícias segue como um desafio para os The communication of bad news remains a challenge for health
profissionais na área da saúde. A possibilidade de estar diante de professionals. The possibility of facing a potentially incurable
uma doença potencialmente sem cura, por vezes, impossibilita um disease sometimes makes it impossible to provide comprehensive
cuidado de forma integral, uma vez que os receios e as angústias care, since fears and anxieties can take on greater proportions
podem adquirir proporções maiores do que de fato a realidade se
than the reality is. However, much more can be done by the team to
mostra. Muito, no entanto, pode ser feito pela equipe para melhorar
improve the quality of care for patients with serious illnesses and
a qualidade do cuidado assistencial de pacientes com doenças
their families. In this sense, health teams must promote constant
graves e suas famílias. Nesse sentido, as equipes de saúde
education for improvement of communication skills, which will have
devem promover educação constante, para o aprimoramento das
a significant influence on the management of cases, by all involved
habilidades de comunicação, pois elas têm influência significativa
na condução dos casos, por parte de todos envolvidos, sejam - doctors, psychologists, nurses, physiotherapists, social workers,
médicos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes among others. Interdisciplinary work through effective, careful
sociais, dentre outros. O trabalho interdisciplinar, através de uma and ethical assistance, with an aligned communication, will favor
assistência efetiva, cuidadosa, ética, e uma comunicação alinhada the possibility of an integrated care, considering all the important
entre todos favorecem a possibilidade de um cuidado integrado dimensions for patients and their families: clinical, emotional,
considerando todas as dimensões importantes para o paciente social and spiritual.
e sua família: clínica, emocional, social e espiritual. O objetivo do
presente relato foi apresentar dois casos clínicos exemplificando Keywords: Communication; bad news; interdisciplinarity.
as possibilidades e os limites das práticas de comunicação de
notícias difíceis no contexto na área da saúde e como as equipes
de saúde podem se preparar para desenvolver habilidades que
fortaleçam a relação paciente, família e equipe.

Palavras-chave: Comunicação; más notícias; interdisciplinaridade.

1
Psicóloga Hospitalar, Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil 2
Médica geriatra, Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil
(juliana.gibello@einstein.br). (ana.tommaso@einstein.br).

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Introdução essa notícia dificilmente esquecerá onde, como,
quando e por quem ela foi comunicada.4

A
comunicação pode ser considerada uma Além disso, quem comunica também viven-
das mais importantes necessidades do ciará fortes emoções como angústia, ansieda-
ser humano, pois sendo o indivíduo um de, uma intensa carga de responsabilidade e o
ser social, ao se comunicar, precisará de uma receio a possível resposta negativa, podendo re-
outra pessoa para completar este processo. sultar em uma certa relutância ou resistência
Assim, será através dessa interação com outra na transmissão de informações difíceis para pa-
pessoa, que o desenvolvimento biopsicosso- ciente e familiares.5
cial será possível, iniciando desde o nascimen- Assim, a dificuldade e a frequência com que
to através da linguagem corporal e posterior- comunicar uma má notícia acontece, contrasta
mente, através da linguagem oral ao longo do com a deficiente preparação e inabilidade das
desenvolvimento do ciclo vital. equipes de saúde em termos gerais de comunica-
A origem da palavra comunicar vem no la- ção, principalmente na maneira de transmitir in-
tim comunicare, que tem por significado “pôr formações inesperadas e resultados, na maioria
em comum’’. Ela pressupõe o entendimento das das vezes, negativos na evolução de uma doen-
partes envolvidas, pois é sabido que não existi- ça e seu plano de cuidados.5 Os profissionais de
rá entendimento se não houver, anteriormente, a saúde, em sua formação acadêmica, foram pre-
compreensão.1 parados de acordo com o modelo biomédico, en-
Sendo assim, a comunicação em saúde, fatizando e valorizando mais o desenvolvimento
principalmente nos hospitais, seja na área clíni- de habilidades técnicas (sinais, sintomas, inter-
ca, na cirúrgica ou no centro de terapia intensi- venções, tratamentos) do que de comunicação.6
va, apresenta diversos desafios, pois na maioria Dessa forma, na comunicação de más notí-
das vezes, serão os médicos que transmitirão cias será fundamental que haja uma construção
notícias difíceis a seus pacientes e familiares significativa e sólida na relação paciente, família
sobre diagnóstico, tratamentos (clínicos ou ci- e equipe de saúde, enfatizando aspectos de se-
rúrgicos) e prognóstico, sendo que as mais va- gurança, confiança, empatia, acolhimento emo-
riadas reações podem acontecer, como medo, cional com enfoque total nos cuidados centrados
tristeza, negação ou raiva.2 no paciente e não mais apenas em sua doença.
A má notícia pode ser definida como “aque- Assim, fica evidente que as equipes de
la que altera drástica e negativamente a perspec- saúde necessitam de formação através do de-
tiva do paciente em relação ao seu futuro”. A res- senvolvimento de habilidades técnicas, habili-
posta do paciente e de seus familiares a essa dades de comunicação, identificação de deman-
notícia dependerá, entre muitas coisas, de suas das emocionais, sociais, espirituais para pode-
perspectivas em relação ao futuro, sendo que es- rem cuidar de pacientes ao longo do processo
sa é única, individual e influenciada pelo contexto de adoecimento, seja em início de um diagnósti-
psicossocial dos mesmos.3 co ou em fim de vida.
Sabe-se que comunicar uma má notícia é, Nesse sentido, este texto tem como objetivo
provavelmente, uma das tarefas mais difíceis que apresentar relatos de dois casos clínicos exempli-
os profissionais de saúde têm que enfrentar, pois ficando as possibilidades e limites da comunica-
implica em um forte impacto emocional no pa- ção de notícias difíceis no contexto na área da
ciente e sua rede de apoio, ou seja, quem receber saúde e como as equipes de saúde podem se

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preparar para desenvolver habilidades que forta- relação à utilidade das medicações e solicitou
leçam a relação paciente, família e equipe. que seus filhos marcassem uma consulta com
médico geriatra para ser avaliada e cuidada de
forma integral. Após uma longa avaliação ge-
Descrição dos Casos Clínicos
riátrica, após três consultas e duas reuniões
familiares, houve a confirmação do diagnóstico
CASO 1- Diagnóstico de uma doença grave e de APP com a sugestão de uso das medicações
sua progressão já orientadas pelo neurologista, além de fonote-
Cleonice, 63 anos, representante comer- rapia e suporte familiar para que todos fossem
cial de uma empresa estrangeira, vinha apre- preparados para a rápida progressão do quadro
sentando nos últimos meses, alguns episódios cognitivo. A não aceitação por parte da família
de confusão com dificuldade progressiva de ficou muito clara ao longo da convivência com o
fala. Procurou seu médico ginecologista que neurologista e com o geriatra que sentiam cla-
concluiu que ela estava mais cansada nos últi- ramente que todos negavam o diagnóstico por
mos tempos e que deveria diminuir sua carga acreditarem que poderiam estar diante de um
de trabalho. Seu marido e filhos concordaram quadro grave de depressão.
com o ginecologista, uma vez que ela vinha se Durante aproximadamente um ano, Cleonice
mostrando menos paciente e mais desgastada deixou de frequentar as consultas do neurologista
no dia a dia. Chegou inclusive a se irritar com e do geriatra. Foi à psiquiatras, psicólogos, clíni-
clientes, fato inimaginável tempos atrás. Após cos e, por fim, começou um tratamento alternati-
um ajuste em sua agenda com importante di- vo “para melhora completa dos sintomas”, através
minuição de compromissos, Cleonice manteve do uso de altas doses de vitaminas. Durante es-
o quadro de afasia de expressão e os episó- se ano, tornou-se dependente para todas as ativi-
dios eventuais de confusão tornaram-se mais dades básicas de vida diária e apresentou diver-
sos episódios de infecção pulmonar, sendo que,
frequentes. Nesse momento, os familiares
no último quadro de pneumonia, veio a falecer no
procuraram ajuda de um neurologista que fez
hospital. Uma consulta domiciliar com o médico
o diagnóstico de afasia primária progressiva
geriatra havia sido marcada naquela semana para
(APP), um quadro de comprometimento cogni-
retorno do acompanhamento, agora em domicílio,
tivo de rápida progressão. Na consulta neuro-
dessa vez, com olhar de finitude diante da nítida
lógica, o médico foi muito preciso e objetivo,
progressão. Essa consulta não chegou a aconte-
dizendo que a paciente tinha um caso clássico
cer pois Cleonice faleceu dois dias antes.
de uma rara demência e que não havia trata-
mento a ser feito. Receitou medicações e su-
geriu que fossem usadas até o final da vida. CASO 2 – Um novo diagnóstico
Deixou marcado um retorno em 45 dias para Lucas tem 37 anos e mora com os pais em
avaliar os efeitos colaterais da medicação. Cle- um bairro de classe média alta de uma cidade
onice não entendia como poderia ser possível grande. Desde seus 23 anos é portador de HIV
ser portadora de um quadro demencial estan- e seus pais sempre souberam do diagnóstico e
do com a memória preservada (dado que essa foram muito parceiros desde o início da doença.
demência pode não comprometer a memória Lucas vinha muito estável do ponto de vis-
em um primeiro momento), ficou confusa em ta clínico, fazendo uso da terapia antirretroviral

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corretamente. Há 8 meses, após um episódio de ficar preso à máquinas caso não pudesse viver
forte resfriado, Lucas notou demora em recupe- de forma plena posteriormente
rar a sua capacidade pulmonar, apresentando di-
versos episódios de falta de ar intensa. Seu in- Refletindo os sobre os casos
fectologista observou uma alteração no exame Os dois casos mostram contextos de doen-
de imagem pulmonar e as investigações radioló- ças graves e progressivas, sem uma comunica-
gicas e por biópsia, evidenciaram um tumor de ção efetiva que pudesse de fato promover o cui-
pulmão já em fase avançada. dado de forma integral.
“Doenças graves não me assustam” - essa Em um primeiro olhar podemos pensar que
era a frase que Lucas dizia a todos da equipe de os pacientes e suas famílias não estavam dis-
saúde que tentavam conversar de maneira mais postos a ouvir o que as equipes tinham a dizer.
objetiva sobre a gravidade do seu quadro. Mes- Erra quem considera que o problema reside
mo seu infectologista, que tinha um ótimo vínculo apenas no ouvinte. Em ambos os casos, as equi-
com Lucas, por conta dos anos de convivência, pes não conseguiram promover uma comunica-
não conseguia acessá-lo de forma clara para dis- ção efetiva e interromperam esse canal à medida
cussões sobre progressão da doença e a impos- que não foram capazes de ir além das tentativas
sibilidade de cura. Para Lucas, o tumor pulmonar de disseminar as informações de forma exclusi-
era muito grave, porém poderia ser controlado vamente técnica. Do ponto de vista técnico, fica
com medicações, da mesma forma como pensava claro que não houve desvios, porém muito pode-
ser o comportamento do HIV em seu organismo. ria ter sido feito caso o diálogo de fato estivesse
Diante de tanta resistência de Lucas, dis- aberto para trocas.
cussões sobre diretivas antecipadas de vontade O grande ponto da comunicação não é de
e ortotanásia nunca puderam ser realizadas. Lu- fato a fala e sim, a escuta. Essa resistência ou
cas morreu 8 meses depois do diagnóstico do recusa em relação às informações por parte dos
câncer, em uma unidade de terapia intensiva, pacientes ou familiares pode também estar rela-
com cânula orotraqueal, em uso de drogas va- cionada àquilo que o profissional de saúde está
soativas e recebendo sessões diárias de hemo- aberto a escutar. Lembrando que o escutar está
diálise. Seus pais sentiram que as suas últimas para além do ouvir. Há uma grande diferença entre
semanas de vida foram extremamente sofridas, “quero saber de você” e “quero saber sobre você”.
considerando como um sofrimento sem sentido. No caso 1, o neurologista e o geriatra po-
Essa reflexão por parte dos familiares se deu em deriam ter indagado como foi o impacto do diag-
função da convivência com a equipe interdiscipli- nóstico de forma a compartilhar as estratégias de
nar de cuidados paliativos do hospital. Em con- cuidado com todos os envolvidos, uma vez que a
versas com o psicólogo desta equipe, os pais doença em questão de fato não possui uma estra-
de Lucas puderam perceber que talvez o filho tégia de cura conhecida, até o presente momento.
não tivesse aceitação plena sobre seus proces- Nesse sentido, teria sido muito importante para
sos de adoecimento (HIV e câncer) ao longo dos a equipe médica, independente da especialida-
anos, o que impossibilitou que seus cuidados de, considerar a paciente e sua família como cor-
fossem planejados de acordo com seus desejos responsáveis pelo cuidado, levando em conside-
reais e sua biografia. Sua mãe, nos últimos dias ração não apenas a assistência clínica, mas tam-
de vida, reforçou que Lucas jamais aceitaria bém os aspectos psíquicos, sociais e espirituais.

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Nesse caso, fica nítida a busca por uma estratégia aceitação, que, se não for bem cuidado, pode-
de cuidado que pudesse promover a cura, fato que rá gerar intenso sofrimento e frustração diante
ao longo da progressão da doença os familiares da expectativa de melhora ou cura. Esse pro-
puderam perceber não ser possível. Isso a equipe cesso requer acompanhamento e orientação
de saúde já sabia e poderia ter estado ao lado de para o paciente, sua família e, em muitos ca-
todos e não apenas à disposição. sos, para a equipe de profissionais responsá-
No caso 2, podemos perceber, por outro veis por esse cuidado.
lado, que a morte e a finitude não eram con- O papel da comunicação com pacientes com
siderados tabus para o paciente, uma vez que doenças potencialmente sem cura e seus familia-
seus familiares inclusive sabiam quais os pro- res, está relacionado à oferta de apoio emocional,
cedimentos que não seriam aceitáveis por ele melhora das estratégias de enfrentamento em re-
caso não houvesse possibilidade de cura. Es- lação às mudanças geradas na dinâmica familiar
sas informações só foram reveladas pela famí- e ao manejo dos diferentes sintomas frente a uma
lia para a psicóloga e o médico intensivista em doença progressiva. Nesse sentido, o processo
uma reunião familiar na Unidade de Terapia In- de comunicação favorece a tomada de decisões
tensiva. A atitude de não aceitação da gravida- adequadas e o trabalho da equipe interdisciplinar
de do câncer e da própria progressão com HIV/ no suporte de todo cuidado assistencial. Além dis-
AIDS, fizeram com que Lucas não se aproprias- so, vale destacar, que a equipe que cuida direta-
se dos seus cuidados e das decisões, fato que mente do paciente, deve estimulá-lo a participar
promoveu sua ida à UTI mesmo sem indicação ativamente de seu tratamento, favorecendo com
técnica diante da finitude. Caso Lucas tivesse que sua autonomia seja respeitada e preservada
compartilhado dos seus desejos de como gos- e caso não seja possível, que um familiar possa
taria de ser cuidado quando não pudesse mais ser referência na tomada de decisão.4
responder por si, muito provavelmente, teria As habilidades de comunicação do profissio-
construído suas Diretivas Antecipadas de Von- nal de saúde durante a abordagem do paciente
tade e não teria falecido em um leito de terapia e de sua família poderão ter um impacto positi-
intensiva com tratamentos fúteis que não lhe vo na satisfação dos mesmos, especificamente
trouxeram nenhum benefício. ao longo do tratamento. Essas habilidades con-
Nessa situação, fica claro que não exis- seguem evitar sofrimentos desnecessários, uma
te um cuidado pleno sem o trabalho em equi- vez que favorecem o fortalecimento da relação e
pe interdisciplinar. Cada membro desta equipe do vínculo médico-paciente e família.
tem papel fundamental no sentido de encon- Em função da carência na educação dos pro-
trar formas de acessar contextos complexos fissionais para lidar e conversar com seus pacien-
promovendo um cuidado de fato integrado, fa- tes e familiares sobre momentos e decisões difí-
vorecendo assim, uma comunicação alinhada e ceis, pesquisadores criaram protocolos de comuni-
um vínculo de confiança e de segurança entre cação com objetivo de desenvolver tais habilidades,
paciente, família e equipe. principalmente quando se trata de uma má notícia.
Os protocolos de comunicação são guias me-
Desenvolvendo habilidades de comunicação todológicos para profissionais de saúde, auxiliando
Enfrentar o diagnóstico de uma doen- principalmente nas chamadas “Comunicação de
ça grave e potencialmente sem cura, impli- Más Notícias”, favorecendo e fortalecendo a qua-
ca um processo de elaboração interna e de lidade da relação do profissional de saúde com o

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paciente e auxiliando para que haja uma comuni- conhecer os valores e as crenças do paciente e
cação sincera, honesta, clara e empática. Um dos da família. Além disso, a equipe precisará estar
protocolos mais utilizados é o SPIKES que foi de- muito alinhada acerca do processo de adoeci-
senhado especialmente para auxiliar os médicos (e mento do paciente, do prognóstico e das opções
equipe interdisciplinar) no acesso e na escuta às de tratamento, antes da reunião. Outro ponto im-
expectativas dos pacientes antes de compartilhar portante, deverão participar da reunião apenas
as informações importantes e necessárias relacio- os profissionais que estão diretamente envolvi-
nadas a seu adoecimento e tratamento.7–9 dos no cuidado do paciente. O quadro 2 apresen-
Esse protocolo segue seis passos e reco- ta componentes relevantes para uma reunião fa-
mendações de como organizar um atendimento miliar sobre cuidados paliativos e de fim de vida.4
de forma empática e efetiva. O quadro 1 descre- Quadro 2 – Estratégias para a realização de reunião
ve a sequência de cada um desses passos.10-11 familiar sobre cuidados paliativos e de fim de vida.

Quadro 1 – SPIKES - Protocolo em seis etapas para a ANTES DA REUNIÃO FAMILIAR


comunicação de más notícias.
Preparar
Preparar adequadamente
adequadamente oo ambiente
ambiente
Contexto físico/ cenário: definir ••Realizar uma
Realizar umareunião
reuniãoprévia com
prévia osos
com membros
membros
o local, a postura profissional da equipe interdisciplinar, assegurando que todos
S SETTING tenham o mesmo nível de entendimento da doença,
e mobilizar as habilidades de
escuta. prognóstico, opções de tratamento e dos objetivos
da reunião familiar.
Percepção: avaliar qual a
percepção do paciente em
P PERCEPTION DURANTE A REUNIÃO
relação a seu processo de
adoecimento e aos tratamentos.
Apresentar a equipe interdisciplinar à família e ao
paciente, através de nomes e de funções.
Convite: convidar o paciente para • Perguntar o que conhecem sobre a situação atual.
I INVITATION
a troca de informações. • Discutir e esclarecer o prognóstico de maneira
franca e compreensível.
• Enfatize: O que você quer/deseja saber? O que é
Conhecimento: explicar fatos importante para você?
K KNOWLEDGE clínicos e possibilidades de • Realizar recomendações sobre o tratamento.
tratamento.
• Dar suporte à decisão do paciente e da família.
• Esclarecer que tratamento fúteis serão evitados.
Explorar emoções e empatia:
EXPLORE • Discutir como possivelmente será a morte do paciente
Acolhimento, com empatia, das
E EMOTIONS AND e o uso de medidas de suporte proporcionais.
reações emocionais do paciente
EMPATHIZE • Abordar e incentivar que o paciente e a família cuidem
após a notícia.
de questões emocionais, sociais e espirituais.
• Permitir os silêncios para elaboração interna desse
Estratégia e síntese: Síntese
STRATEGY AND momento tão delicado.
S da conversa e apresentar
SUMARY
estratégias de cuidados
RESUMINDO A REUNIÃO
Fonte: Baile;10 Gibello, Amarins Blanco.11
Sintetizar o que foi discutido e qual plano terapêutico.
• Esclarecer dúvidas que possam surgir.
Outra possibilidade de comunicação, é quan- • Enfatize o plano básico de acompanhamento
do organizamos uma reunião para conversar so- e assegure-se de que tenham como entrar em
contato com a equipe responsável.
bre decisões de cuidados proporcionais ou de
• Sempre documentar as decisões e o plano no
fim de vida. Nessas reuniões, é muito importante prontuário.
compreender quem serão as pessoas que farão
parte desse momento, além de ser fundamental Fonte: Espinoza-Suárez.4

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Considerações finais 02. Gilligan T, Coyle N, Frankel RM, Berry DL, Bohlke K,
Epstein RM, et al. Patient-clinician communication:
Naturalmente, as habilidades de comunica- American society of clinical oncology consensus
ção são desenvolvidas ao longo da prática clínica guideline. J Clin Oncol. 2017;35(31):3618–32.
e tornam-se muito pessoais, de acordo com a for- 03. Tavares de Carvalho R, Afonseca Parsons H,
organizadores. Manual de Cuidados Paliativos ANCP.
ma de agir de cada profissional de saúde. Isso não
Acad Nac Cuid Paliativos. 2012;1–592.
invalida o fato de que existem diversas técnicas e 04. Espinoza-Suárez NR, Zapata del Mar CM, Mejía Pérez LA.
inúmeras estratégias para a melhora e o aperfei- Conspiración de silencio: una barrera en la comunicación
çoamento das formas de comunicar más notícias. médico, paciente y familia. Rev Neuropsiquiatr
As equipes assistenciais devem compreen- [internet]. 2017 [acesso em 30 mar 2020];80(2):125–
36. Disponível: http://www.scielo.org.pe/scielo.
der quais as necessidades de cada indivíduo e do
php?script=sci_arttext&pid=S0034-859720170
seu núcleo familiar. Assim, poderá ser construído 00200006&lng=en&nrm=iso&tlng=en.
um relacionamento profissional sólido e efetivo 05. Truog R, Campbell M, Curtis JR, Haas C, Luce JM,
através da experiência e do amadurecimento de Rubenfeld GD, et al. Recommendations for end-of-life
care in the intensive care unit: a consensus statement
cada um dos participantes nas tomadas de deci-
by the American College of Critical Care Medicine.
sões. Vale ressaltar, a importância extrema do in- Crit Care Med. 2008 [acesso em 30 mar 2020];
vestimento em educação continuada ao longo de 36(3): 953-963. Disponível:http://journals.lww.com/
toda a vida profissional daqueles que trabalham ccmjournal/Abstract/2008/03000/Recommendations_
na área da saúde e, em especial, com doenças for_end_of_life_care_in_the.41.aspx.
06. Rosen S, Tesser A. On reluctance to communicate
graves e potencialmente sem cura.
undesirable information: The MUM Effect. Sociometry
Existe um desafio em compreender que es- [internet]. 1970 [acesso em 30 mar 2020];33(3):253–
taremos diante de casos diferentes, com valores, 63. Disponível: http://psycnet.apa.org/psycinfo/1971-
crenças singulares, ou seja, com uma biografia 26781-001%5Cnhttp://www.jstor.org/stable/2786156?
que terá influência nas decisões sobre os cuida- origin=crossref.
07. Konstantis A, Exiara T. Breaking bad news in cancer
dos e não apenas, diante de um corpo adoecido.
patients. Indian J Palliat Care. 2015;21(1).
Assim, será através dos desafios, que os profis- 08. Caprara A, Rodrigues J. A relação assimétrica médico-
sionais de saúde construirão possibilidades pa- paciente: repensando o vínculo terapêutico. Cien
ra desenvolvimentos de um cuidado assistencial Saude Colet. 2004;9(1):139–46.
com qualidade, segurança e centrado no paciente 09. Baile WF, Buckman R, Lenzi R, Glober G, Beale EA,
Kudelka AP. SPIKES-A six-step protocol for delivering
e família.
bad news: application to the patient with cancer.
Oncologist. 2000;5(4):302–11.
Declaração de conflito de interesses 10. Baile WF. SPIKES: a Six-Step Protocol for Delivering
Bad News: Application to the Patient with Cancer.
Os autores declaram não haver conflitos de Oncologist. 2000;5(4):302-11.
interesse, em relação ao presente estudo. 11. Gibello J, Amarins Blanco M. Comunicação de más
notícias no contexto hospitalar. In: Kernkraut A,
Gibello J, Silva A, editores. O psicólogo no hospital: da
prática assistencial à gestão de serviço. São Paulo:
Referências Blucher; 2017. p. 145-60.
01. Silva MJP. O papel da comunicação na humanização
da atenção à saúde. Rev Bioética [Internet]. 2009
[acesso em 30 mar 2020];10(2):73–88. Disponível:
http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/
revista_bioetica/article/view/215.

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