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Finalidade
Nesta unidade, prepararemos os profissionais de saúde para desenvolverem habilidades para comunicar más
notícias aos pacientes e familiares, entendendo o possível impacto emocional que poderá ocorrer com todos
os envolvidos.
Objetivos:
Ao final desta unidade, você estará apto a:
• Apresentar o conceito de más notícias;
• Apresentar os diferentes tipos de más notícias;
• Conhecer o impacto de uma notícia em si mesmo, assim como as possíveis reações no paciente e em seus
familiares.
Índice
Índice............................................................................................................................ 1
Referências Bibliográficas............................................................................................ 16
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Seção 1: Conceito de Más Notícias
Impacto da Notícia
Nesta seção será abordado o conceito de Más Notícias, para tanto, é importante que você considere e analise
o impacto da notícia para todos os envolvidos.
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Impacto da Notícia: Do Médico ao Paciente
Confira a seguir como a literatura aborda a relação do impacto da notícia.
Lino et al (2010) afirma que os médicos, ao transmitirem uma má noticia ao paciente, se veem na difícil situação de lidar
com as emoções dos pacientes e familiares e suas reações. Em contrapartida, o médico também tem que se deparar com
suas próprias emoções e receios, devendo enfrentar sua própria finitude. Ressalta-se também que os médicos não
receberam nenhum treinamento em sua formação profissional no auxílio deste processo.
De acordo com Guerra e Cols (2010), comunicar más notícias aos pacientes vêm sendo discutido por vários especialistas,
considerando os aspectos éticos, físicos, psicológicos e legais deste processo. Estudos apontam que os médicos, na maioria
das vezes, não estão preparados para dar uma má notícia e, consequentemente, os pacientes acabam se traumatizando pela
notícia propriamente dita e pela forma em que é notificada.
Muitos médicos, por medo de enfrentar a angústia propriamente dita do paciente, escolhem dar a má notícia para
os familiares, omitindo a verdade para o paciente e auxiliando os familiares a também esconderem a notícia do
ente querido.
Souza e Souza (2012) afirmam que saber o que falar para o paciente e de que maneira transmitir essa má notícia para ele e sua família
implica em uma situação limite, que muitas vezes se revela pela falta de habilidade de comunicação e de capacitação deste
profissional para tal momento da assistência.
Quem comunica também vivenciará fortes emoções como angústia, ansiedade, uma intensa carga de
responsabilidade e o receio a possível resposta negativa, podendo resultar em uma certa relutância ou
resistência na transmissão de informações difíceis para paciente e familiares.
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cada notícia, muitos sentimentos podem se manifestar para si e seus familiares.
Porém, com o uso adequado de estratégias e técnicas de comunicação, pode-se alinhar a percepção do
paciente com o dos profissionais.
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O impacto emocional A má relação As promessas A frustração
da família e do entre médico que não podem do próprio
paciente; e paciente; ser mantidas; médico.
Concluindo
Nesta seção, ressaltamos que a comunicação de uma má notícia pode gerar muitos sentimentos impactantes
tanto para o médico que irá comunicar, quanto para os demais profissionais da equipe multiprofissional que
participarão do processo, como também, para o paciente e família.
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Seção 2: Tipos de Más Notícias
A Má Notícia
Quando se pensa em más notícias, a primeira notícia que vem a mente é a comunicação de morte, por
exemplo. Mas a má notícia é qualquer situação que afetará a qualidade de vida do paciente e sua família. Pode-
se pensar nas perdas de maneira geral, com diagnósticos, prognósticos e até quaisquer outras intervenções
clínicas.
Pereira (2005) aponta em uma pesquisa realizada com profissionais da saúde que os assuntos que são
representados como más notícias no âmbito da saúde são:
Segundo Sales e Cols (2012), diante deste cenário e da quantidade de novos casos que surgem anualmente
em nosso país, é crescente e frequente o número de familiares que terão que vivenciar esse momento
estressante, permeado por dúvidas, medos e incertezas ao receberem o diagnóstico de um câncer em um
dos membros de sua família.
Este acontecimento fará os pais emergirem em um abismo de inquietações: Haverá sequela? Haverá cura?
Como será o tratamento? Quanto tempo terá o tratamento?
Por fim, experienciam a possibilidade concreta de perderem parte de si, a partir da probabilidade da morte
do filho, criando situações de grande conflito no seio familiar, pois “existe um inter-relacionamento entre
sintomas psicológicos apresentados pelo paciente e pela família. A família é afetada pela doença e a dinâmica
familiar afeta o paciente.
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Guerra e Cols (2010) discorrem que na área obstétrica, descobrir uma
anormalidade fetal é inevitável. Qualquer médico que atenda gestantes,
um dia, terá que comunicar uma má notícia. Poder refletir sobre este
acontecimento em toda sua experiência, se torna extremamente útil para o
seu desenvolvimento profissional.
O luto de um bebê idealizado pode ser vivenciado também por um casal que
tenta diversas vezes engravidar e não consegue. O diagnóstico médico realizado
a posteriori é de que um dos dois possa apresentar algum comprometimento
em que um bebê não pode ser gerado.
O casal que recebe essa notícia vive a morte simbólica do desejo de ter um
bebê, impossibilitando a vivência de desempenharem o papel de pais naturais.
Antes e Agora
Neste momento será abordado a evolução da relação do médico-paciente.
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Nos dias atuais, a saúde vem se especializando e, para cada demanda, há um
médico ou exame específico, sendo assim, a relação com o paciente acontece
de forma mais pontual, e muitas vezes sem o acompanhamento da história
clínica e pessoal de seu paciente.
Devido as tantas especialidades, a necessidade da rapidez do diagnóstico, a
existência de exames e recursos tecnológicos sofisticados, podem distanciar a
relação médico-paciente.
Nos dias atuais, Rocha e Cols (2011) apontam que o médico se depara com
maior autonomia do paciente na busca de mais informações sobre seu
adoecimento.
O paciente tem acesso imediato a diversos meios de comunicação que
proporcionam informação sobre sua condição de saúde. Desta maneira, ele
não é mais um indivíduo passivo, mas sim busca conhecer o que tem e discute
as possibilidades de intervenção a partir do conhecimento adquirido.
Neste sentido, os médicos têm, cada vez mais, sido estimulados a praticar decisão compartilhada com seus
pacientes e familiares. (Charles, Gafni, Whelan, 2004)
Saiba mais
Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal “The Journal of the American Medical Association”:
• 43% dos entrevistados afirmaram que a internet é capaz de mudar a opinião sobre determinado
médico; e
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• 83% acham a internet uma fonte mais variável de conhecimento de saúde do que o próprio
profissional.
No Recebimento da Má Notícia
Segundo Victorino e Cols (2007), os fatores mais importantes que o profissional de saúde deve apresentar ao
comunicar uma má notícia ao paciente são:
Competência
Objetividade
Empatia
Clareza
Honestidade
Humanização da Relação
Estamos vivendo um momento na área da saúde que se faz necessário o resgate e valorização de uma relação
mais humanizada entre os profissionais de saúde e o paciente.
Rocha e Cols (2011), afirmam que os médicos buscam estratégias de tratamento ao paciente que possam
proporcionar uma melhor qualidade de vida, principalmente em tratamentos de longa duração e que
necessitam da participação mais ativa do próprio paciente. Desta maneira, a relação médico-paciente se
apresenta como extremamente relevante à adesão ao plano terapêutico.
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O que os Pacientes Esperam do Médico
A pesquisa realizada por Ismael (2002) com 30 pessoas entre 30 e 65 anos revela que os pacientes esperam
do médico os seguintes fatores:
CONFORTAR
O médico deve apoiar, consolar e amparar o paciente principalmente neste momento que o mesmo está
bastante fragilizado. “Ele necessita do suporte como se fosse uma criança na necessidade da proteção dos pais.”
Poder escutar o paciente com atenção de forma paciente e com muito interesse em seus pensamentos,
ESCUTAR
sentimentos e preocupações. “Cada paciente tem uma história, que para ele é a mais original e sofrida entre
todas as que o médico ouviu sem escutar, pois para ele se trata de mais um relato.”
O paciente precisa ser olhado, e perceber que ele existe para o médico, de que não é mero portador de tal
OLHAR
doença. “O médico ‘informatizado’, ao consultar o prontuário exibido no monitor, conduz a consulta hipnotizado
por ele, enquanto o paciente, ansioso e desamparado, espera que lhe dirija o olhar.”
O paciente apresenta uma grande necessidade de ser tocado, acolhido, desde o aperto de mão, através de uma
TOCAR
comunicação não verbal. “O toque como que legitima a existência de quem tocou e de quem foi tocado.”
Concluindo
Portanto, uma boa relação entre profissional de saúde e paciente é essencial para o processo de uma
comunicação eficaz e sensível. O acolhimento e escuta do paciente auxiliará em um maior conforto e cuidado
humanizado para o paciente.
O Impacto da Má Notícia
A comunicação de más notícias é impactante, tanto para o paciente e família quanto para a equipe, visto que
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são permeados por sentimentos de muito estresse, angústias, medos e tristezas.
História Particular
Cada paciente e família apresentam uma história particular, incluindo valores, crenças, vivências e tipos de
relações inerentes de cada biografia. Esta construção é individual e singular de cada paciente e de cada
família.
Lamnno-Adamo apud Botega (2002) afirma que:
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“O aparelho psíquico familiar pode oferecer uma para-excitação às angústias insuportáveis, as quais,
posteriormente, podem ser restituídas em vivências psíquicas, na medida em que haja uma contínua
comunicação entre consciente e inconsciente, realidade interna e realidade externa. Mas pode também
ocorrer (com maior ou menor grau de duração e de intensidade), a utilização de mecanismos como negação,
cisão, idealização e identificação projetiva. No sentido de minimizar e ou anular a experiência emocional
dolorosa”.
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Um exemplo que pode ser citado é de uma esposa que, ao receber
uma notícia da equipe médica da UTI de que seu marido sofreu um
traumatismo craniano por uma queda e posteriormente evoluiu para
uma morte encefálica, nega eminentemente esta situação, questionando
o médico sobre o resultado dos testes que devem ser realizados e uma
convicção da reversibilidade do quadro.
Um exemplo que pode ser citado é de um adulto de 30 anos que, tendo passado por uma
recém cirurgia, dá entrada no PA por insuficiência respiratória e é levado para UTI, e no
mesmo dia apresenta uma parada cardíaca.
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Os pais e a esposa mostram-se extremamente revoltados e angustiados com quadro do
paciente e referem maior estresse por ouvirem várias notícias diferentes de cada médico,
deixando-os mais confusos, inseguros e com medo.
Essas angústias são relatadas pela família para a psicóloga da UTI que orienta a equipe a
importância de haver uma comunicação alinhada de forma clara e objetiva em comum
acordo com os médicos e demais profissionais da unidade.
EQUIPE DE
FAMÍLIA PACIENTE
SAÚDE
Comunicação
A comunicação de más notícias impacta de forma bastante significativa a todos os envolvidos - paciente,
família e equipe. O sentimento que permeia, na maior parte das vezes, esta situação é a perda. Diante da
possibilidade de perdas, observa-se a vivência do luto, podendo este ser caracterizado por um luto simbólico
em que é idealizado algo e simbolicamente a realidade que os envolvidos se deparam é outra, bem como o
luto real, como por exemplo, uma perda física de um ente querido ou de sua própria morte.
A morte se torna inerente quando nos referimos à comunicação de más notícias. A partir da literatura, apesar
da má notícia não ser somente a morte efetiva, uma das maiores demandas e dificuldades na comunicação
são em pacientes graves e sem possibilidades terapêuticas de cura, nos quais o luto e a morte estão mais
evidentes e reais, desestruturando a relação dos três elos importantes na comunicação paciente, equipe e
família.
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Segundo o INCA (2010), é comum que os profissionais da saúde levem suas angústias para seus próprios
familiares, porém estes não conseguem ouvi-los. Este profissional, muitas vezes, permanece solitário
com seus sentimentos, pois não tem quem possa escutá-lo e com quem compartilhar toda sua angústia,
permanecendo assim em uma “solidão profissional”.
Muitas vezes, esses profissionais se sentem também culpados por verem que sua formação acadêmica estava
voltada para busca pela cura, sem considerar as perdas e o sentimento de impotência.
De acordo com Pereira (2005), o profissional da saúde que se depara com a situação de comunicar uma má
noticia também apresenta medos. Estes medos podem estar relacionados ao:
• “medo de ser culpado ou de lhe atribuírem responsabilidades”;
• “medo de expressar uma reação emocional”;
• “medo de não saber todas as respostas colocadas pelo doente e familiares e/ou outras pessoas
significativas”;
• “medos pessoais acerca da doença e da morte”;
• “medo das reações do doente e família”.
Isso é chamado de comportamento counterphobic, o qual significa que cada vez que há um contato com uma
pessoa doente, é reforçado a própria ilusão da imortalidade e invulnerabilidade.
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Concluindo
Comunicar más notícias é considerada uma das tarefas mais frequentes e complexas que os profissionais
de saúde se deparam em sua rotina. A maneira com que se transmite uma notícia difícil poderá afetar o
paciente e seus familiares quanto ao entendimento sobre o curso de sua doença, os tratamentos propostos,
a satisfação em relação à assistência oferecida, além do vínculo de confiança e de segurança construído entre
todos envolvidos.
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