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Empatia e Comunicação

Comunicação de Más Notícias

Finalidade
Nesta unidade, prepararemos os profissionais de saúde para desenvolverem habilidades para comunicar más
notícias aos pacientes e familiares, entendendo o possível impacto emocional que poderá ocorrer com todos
os envolvidos.

Objetivos:
Ao final desta unidade, você estará apto a:
• Apresentar o conceito de más notícias;
• Apresentar os diferentes tipos de más notícias;
• Conhecer o impacto de uma notícia em si mesmo, assim como as possíveis reações no paciente e em seus
familiares.
Índice
Índice............................................................................................................................ 1

Seção 1: Conceito de Más Notícias............................................................................... 2


1. Impacto da Notícia........................................................................................... 2
2. Impacto da Notícia: Para o Profissional de Saúde............................................ 2
3. Impacto da Notícia: Do Médico para o Paciente.............................................. 3
4. Fatores do Processo de Comunicação.............................................................. 4
5. Concluindo...................................................................................................... 4

Seção 2: Tipos de Más Notícias.....................................................................................5


1. A Má Notícia.....................................................................................................5
2. Tipo de Diagnóstico: Câncer Infantil................................................................ 5
3. Tipo de Diagnóstico: DPOC em Idoso............................................................... 6
4. Tipo de Diagnóstico: Má Formação Fetal......................................................... 6
5. Cuidados Paliativos e Cuidados de Fim de Vida............................................... 7

Seção 3: Relação Médico-Paciente............................................................................... 7


1. Antes e Agora................................................................................................... 7
2. Acesso à Informação sobre a Doença.............................................................. 8
3. Acesso à Informação sobre a Doença.............................................................. 9
4. No Recebimento da Má Notícia...................................................................... 9
5. Humanização da Relação................................................................................. 9
6. O Que o Pacientes Esperam do Médico........................................................... 10
7. Aprenda a Escutar os Pacientes....................................................................... 10
8. Concluindo....................................................................................................... 10

Seção 4: Impacto da Má Notícia para o Paciente, Família e Equipe Multiprofissional. 10


1. O Impacto da Má Notícia................................................................................. 10
2. História Particular............................................................................................. 11
3. Mecanismos de Defesa - Paciente/Família.......................................................12
4. Equilíbrio na Relação com Paciente................................................................. 13
5. Comunicação Paciente/Família e Equipe......................................................... 14
6. Para o Profissional de Saúde............................................................................ 14
7. Concluindo....................................................................................................... 16

Referências Bibliográficas............................................................................................ 16

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Seção 1: Conceito de Más Notícias

Impacto da Notícia

Nesta seção será abordado o conceito de Más Notícias, para tanto, é importante que você considere e analise
o impacto da notícia para todos os envolvidos.

Comunicar qualquer situação difícil pode gerar muitos sentimentos, tanto


para quem recebe a notícia quanto para quem a transmite.
Uma má notícia pode ser considerada aquela que altera drástica e
negativamente a perspectiva do paciente em relação ao seu futuro
(Vandekief, 2001; Muller, 2002) ou quando traz uma ameaça ao seu
estado mental ou físico, com riscos na qualidade de vida (Almanza-Munos
e Holland, 1999).
A reação do paciente e seus familiares a essa notícia dependerá, entre
muitas coisas, de suas perspectivas em relação ao futuro, sendo esta única,
individual e influenciada pelo contexto emocional e social dos mesmos.
(Baile et al., 2000; R. A. Buckman, 2005; Gibello & Amarins Blanco, 2017.)

Impacto da Notícia: Para o Profissional de Saúde


Geralmente, esta tarefa de comunicar a má notícia é de responsabilidade do médico, o qual na maioria das
vezes não apresenta preparo emocional nem habilidades para tal situação, visto que toda sua formação está
voltada principalmente para questões técnicas e a busca pelo processo de cura.
Sabe-se que comunicar uma má notícia é, provavelmente, uma das tarefas mais difíceis que os profissionais
de saúde têm que enfrentar, pois implica em um forte impacto emocional no paciente e sua rede de apoio, ou
seja, quem receber esta notícia dificilmente esquecerá onde, como, quando e por quem ela foi comunicada
(Espinoza, Zapata,Mejía, 2017).
A dificuldade e a frequência com que comunicar uma má notícia acontecem contrasta com a deficiente
preparação e inabilidade das equipes de saúde em termos gerais de comunicação, principalmente na maneira
de transmitir informações inesperadas e resultados, na maioria das vezes, negativos na evolução de uma
doença e seu plano de cuidados (Troug et al, 2008). Os profissionais de saúde, em sua formação acadêmica,
foram preparados de acordo com o modelo biomédico, enfatizando e valorizando mais o desenvolvimento de
habilidades técnicas (sinais, sintomas, intervenções, tratamentos) do que de comunicação (Rosen S, Tesser
A., 1970).

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Impacto da Notícia: Do Médico ao Paciente
Confira a seguir como a literatura aborda a relação do impacto da notícia.

Lino et al (2010) afirma que os médicos, ao transmitirem uma má noticia ao paciente, se veem na difícil situação de lidar
com as emoções dos pacientes e familiares e suas reações. Em contrapartida, o médico também tem que se deparar com
suas próprias emoções e receios, devendo enfrentar sua própria finitude. Ressalta-se também que os médicos não
receberam nenhum treinamento em sua formação profissional no auxílio deste processo.

De acordo com Guerra e Cols (2010), comunicar más notícias aos pacientes vêm sendo discutido por vários especialistas,
considerando os aspectos éticos, físicos, psicológicos e legais deste processo. Estudos apontam que os médicos, na maioria
das vezes, não estão preparados para dar uma má notícia e, consequentemente, os pacientes acabam se traumatizando pela
notícia propriamente dita e pela forma em que é notificada.

Muitos médicos, por medo de enfrentar a angústia propriamente dita do paciente, escolhem dar a má notícia para
os familiares, omitindo a verdade para o paciente e auxiliando os familiares a também esconderem a notícia do
ente querido.

Souza e Souza (2012) afirmam que saber o que falar para o paciente e de que maneira transmitir essa má notícia para ele e sua família
implica em uma situação limite, que muitas vezes se revela pela falta de habilidade de comunicação e de capacitação deste
profissional para tal momento da assistência.

Quem comunica também vivenciará fortes emoções como angústia, ansiedade, uma intensa carga de
responsabilidade e o receio a possível resposta negativa, podendo resultar em uma certa relutância ou
resistência na transmissão de informações difíceis para paciente e familiares.

Segundo Victorino e Cols (2007), as preocupações que envolvem


os profissionais da saúde estão voltadas para uma preocupação de
que maneira uma má notícia pode influenciar negativamente seu
estado emocional e também, biológico. Muitas vezes os profissionais
permanecem em silêncio e omitem informações por receio das possíveis
consequências.
Marcus e Cols (2014) afirmam que na visão dos profissionais da
saúde, a doença pode ser pensada como um processo linear em que
um diagnóstico pode ser considerado fatal, com um tratamento que
apenas prolongue a vida, mas de forma agressiva. No entanto, para
os pacientes, este processo raramente se torna linear, pois diante de

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cada notícia, muitos sentimentos podem se manifestar para si e seus familiares.
Porém, com o uso adequado de estratégias e técnicas de comunicação, pode-se alinhar a percepção do
paciente com o dos profissionais.

Fatores do Processo de Comunicação


Muitos fatores podem influenciar no processo de Comunicação de Más Notícias, tais como:

1 2 3 4
O impacto emocional A má relação As promessas A frustração
da família e do entre médico que não podem do próprio
paciente; e paciente; ser mantidas; médico.

Em contrapartida, quando a equipe multiprofissional consegue enfrentar e reconhecer seus medos e


ansiedades, se sentirá mais à vontade diante das reações dos pacientes e familiares.
Borges e Cols (2012) referem que a má notícia por si só, como um diagnóstico, um prognóstico ou as
possibilidades terapêuticas, é algo que não existe isoladamente. A notícia pode ser considerada como “má” a
partir da consequência das reações emocionais que produz nas pessoas envolvidas, conforme suas crenças
e valores sociais do grupo profissional.

Um caso que pode exemplificar esse processo é de uma criança que


tenta suicídio, se jogando de um prédio e fica paraplégica. Durante
toda a internação, a equipe, inclusive os médicos, demonstram muita
angústia em cuidar de uma criança nessas condições. Todos os médicos
ficaram receosos e se esquivaram em contar a notícia de sua paraplegia.
Até que a própria criança pergunta sobre sua volta em andar e uma
médica explicou todo o processo, conseguindo acolher o choro da
criança e respeitar seu luto. A médica, ao sair do quarto, se emocionou
e precisou de suporte da equipe.

Concluindo
Nesta seção, ressaltamos que a comunicação de uma má notícia pode gerar muitos sentimentos impactantes
tanto para o médico que irá comunicar, quanto para os demais profissionais da equipe multiprofissional que
participarão do processo, como também, para o paciente e família.

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Seção 2: Tipos de Más Notícias

A Má Notícia
Quando se pensa em más notícias, a primeira notícia que vem a mente é a comunicação de morte, por
exemplo. Mas a má notícia é qualquer situação que afetará a qualidade de vida do paciente e sua família. Pode-
se pensar nas perdas de maneira geral, com diagnósticos, prognósticos e até quaisquer outras intervenções
clínicas.

Pereira (2005) aponta em uma pesquisa realizada com profissionais da saúde que os assuntos que são
representados como más notícias no âmbito da saúde são:

Doença Internações Acidente Perda da Agravamento Morte


(oncológica, Capacidade da Situação (esperada, não
doença crônica, Física esperada, não
grave, sem cura, específica)
AVC, não
específica)

A comunicação de um agravamento, de uma recidiva de um câncer, por exemplo, apresentando um mau


prognóstico, impacta de forma expressiva o paciente, a família e a equipe, em que a situação estava permeada
por esperanças quanto à “cura” e de repente é gerado sentimentos de desesperança e angústias com a
proximidade da morte.
Dos seis principais assuntos mencionados anteriormente, confira a seguir alguns exemplos de adoecimentos
que podem ocasionar más notícias.

Tipo de Diagnóstico: Câncer Infantil


Uma internação em que uma criança, por exemplo, apresenta sintomas inesperados e incomuns, deixam seus
pais e familiares extremamente angustiados e preocupados pela incerteza do que está acontecendo. Neste
caso, o médico ao diagnosticar um câncer infantil sabe o quanto esses pais ficarão impactados. Ao saber
do diagnóstico, o mundo desses pais desaba, tendo sensações e sentimentos ambivalentes, principalmente
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medo de perder seu filho. Esses pais, além de terem a necessidade de se organizarem internamente, precisam
dar suporte à criança que, independente da idade, sentirá mudanças significativas em seu corpo e cotidiano.

Segundo Sales e Cols (2012), diante deste cenário e da quantidade de novos casos que surgem anualmente
em nosso país, é crescente e frequente o número de familiares que terão que vivenciar esse momento
estressante, permeado por dúvidas, medos e incertezas ao receberem o diagnóstico de um câncer em um
dos membros de sua família.
Este acontecimento fará os pais emergirem em um abismo de inquietações: Haverá sequela? Haverá cura?
Como será o tratamento? Quanto tempo terá o tratamento?
Por fim, experienciam a possibilidade concreta de perderem parte de si, a partir da probabilidade da morte
do filho, criando situações de grande conflito no seio familiar, pois “existe um inter-relacionamento entre
sintomas psicológicos apresentados pelo paciente e pela família. A família é afetada pela doença e a dinâmica
familiar afeta o paciente.

Tipo de Diagnóstico: DPOC no idoso


Um idoso de 90 anos com diagnóstico de DPOC é internado na unidade de terapia intensiva por piora do
padrão respiratório e rebaixamento do nível de consciência. Já tinha sua funcionalidade comprometida
pela doença e era cuidado pela única filha de 55 anos; era viúvo há 10 anos. A filha estava muito chorosa,
angustiada e apresentava comportamento demandante e ansioso com a equipe. Para a equipe de saúde,
este motivo de internação é rotineiro, mas para a filha parecia desesperador, uma vez que tinha muito medo
que seu pai morresse. A psicóloga da unidade foi acionada para suporte emocional e em conversa com a
filha, compreendeu que a mesma tinha um vínculo afetivo com seu pai muito forte e como não havia casado
e nem tido filhos, entrava em desespero com medo de perdê-lo. Além de ser a principal cuidadora, ela tinha
uma dependência afetiva significativa com este pai.

Tipo de Diagnóstico: Má Formação Fetal


Outra má notícia que pode ser citada é uma má formação fetal, a qual se torna extremamente impactante à
família que apresenta uma expectativa de um bebê idealizado e, também, ao profissional de saúde que irá
ajudar a desconstruir esta expectativa.

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Guerra e Cols (2010) discorrem que na área obstétrica, descobrir uma
anormalidade fetal é inevitável. Qualquer médico que atenda gestantes,
um dia, terá que comunicar uma má notícia. Poder refletir sobre este
acontecimento em toda sua experiência, se torna extremamente útil para o
seu desenvolvimento profissional.
O luto de um bebê idealizado pode ser vivenciado também por um casal que
tenta diversas vezes engravidar e não consegue. O diagnóstico médico realizado
a posteriori é de que um dos dois possa apresentar algum comprometimento
em que um bebê não pode ser gerado.
O casal que recebe essa notícia vive a morte simbólica do desejo de ter um
bebê, impossibilitando a vivência de desempenharem o papel de pais naturais.

Cuidados Paliativos e Cuidados de fim de vida


Enfrentar uma doença grave implica todo um processo de elaboração e aceitação, que, se não for alcançado,
poderá gerar sofrimento e frustração diante de uma expectativa distante de melhora, cura ou recuperação.
Este processo requer acompanhamento e orientação para o paciente, sua família e, em muitos casos, para a
equipe de profissionais que cuidam do paciente. (ANCP, 2012)
O papel da comunicação com pacientes com doenças potencialmente sem possibilidades de cura e seus
familiares está associado a oferecer apoio emocional, melhorar as estratégias de enfrentamento em relação
as mudanças geradas na dinâmica familiar e os diferentes sintomas frente a essa doença. Neste sentido, a
comunicação favorece a tomada de decisões adequadas e o trabalho de cuidados da equipe interdisciplinar.
Além disso, vale ressaltar, que a equipe que cuida diretamente do paciente, deve estimular sua participação
ativa favorecendo com que sua autonomia seja preservada e respeitada e caso não seja possível, que a família
possa assumir tais decisões sobre a direção do tratamento juntamente com a equipe de saúde (Espinoza-
Suárez, Zapata, Mejía Pérez, 2017).

Seção 3: Relação Médico-Paciente

Antes e Agora
Neste momento será abordado a evolução da relação do médico-paciente.

Até então, o médico era visto praticamente como um “deus”, detentor de


todo o saber, tendo em vista que as famílias eram sempre acompanhadas por
um médico de sua confiança (“o médico da família”).
O médico tinha que realizar uma boa anamnese e exame clínico e se atentar
a detalhes importantes do paciente, uma vez que, sendo a “clínica soberana”
não tinham tecnologias, exames ou recursos para auxiliá-lo.

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Nos dias atuais, a saúde vem se especializando e, para cada demanda, há um
médico ou exame específico, sendo assim, a relação com o paciente acontece
de forma mais pontual, e muitas vezes sem o acompanhamento da história
clínica e pessoal de seu paciente.
Devido as tantas especialidades, a necessidade da rapidez do diagnóstico, a
existência de exames e recursos tecnológicos sofisticados, podem distanciar a
relação médico-paciente.

Acesso às Informações sobre a Doença


Nas últimas décadas, observa-se que o modelo de cuidado paternalista vem dando lugar ao cuidado que
enfatiza a autonomia e proatividade do paciente sobre seu tratamento. Entende-se por cuidado paternalista,
o médico tomar decisões sobre o tratamento com pouca ou nenhuma participação do paciente e da família.
(Azoulay, Chaize, & Kentish-Barnes, 2014; Scheunemann, Cunningham, Arnold, Buddadhumaruk, & White,
2015)

O paciente, até então, era extremamente passivo e dependia das informações


que seu próprio médico transmitia sobre o seu tratamento, seus efeitos
colaterais e seu prognóstico.

Nos dias atuais, Rocha e Cols (2011) apontam que o médico se depara com
maior autonomia do paciente na busca de mais informações sobre seu
adoecimento.
O paciente tem acesso imediato a diversos meios de comunicação que
proporcionam informação sobre sua condição de saúde. Desta maneira, ele
não é mais um indivíduo passivo, mas sim busca conhecer o que tem e discute
as possibilidades de intervenção a partir do conhecimento adquirido.

Neste sentido, os médicos têm, cada vez mais, sido estimulados a praticar decisão compartilhada com seus
pacientes e familiares. (Charles, Gafni, Whelan, 2004)

Saiba mais
Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal “The Journal of the American Medical Association”:
• 43% dos entrevistados afirmaram que a internet é capaz de mudar a opinião sobre determinado
médico; e

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• 83% acham a internet uma fonte mais variável de conhecimento de saúde do que o próprio
profissional.

Acesso às Informações sobre a Doença

Um exemplo que pode ser citado é de um adolescente que acaba de


ser internado por sentir dores nos seios faciais e realiza uma tomografia
em que é visualizado um tumor. Os pais recebem a má notícia do
diagnóstico de câncer e preferem não contar todas as informações ao
filho. Logo após a tensão no quarto, o adolescente decide procurar na
Internet sobre seus sintomas e seu adoecimento, tendo a percepção
que é mais sério do que seus pais haviam contado.

No Recebimento da Má Notícia
Segundo Victorino e Cols (2007), os fatores mais importantes que o profissional de saúde deve apresentar ao
comunicar uma má notícia ao paciente são:

Competência
Objetividade

Empatia
Clareza
Honestidade

Conhecer bem o paciente e saber sua história


auxiliam na diminuição do impacto da má notícia

Humanização da Relação
Estamos vivendo um momento na área da saúde que se faz necessário o resgate e valorização de uma relação
mais humanizada entre os profissionais de saúde e o paciente.
Rocha e Cols (2011), afirmam que os médicos buscam estratégias de tratamento ao paciente que possam
proporcionar uma melhor qualidade de vida, principalmente em tratamentos de longa duração e que
necessitam da participação mais ativa do próprio paciente. Desta maneira, a relação médico-paciente se
apresenta como extremamente relevante à adesão ao plano terapêutico.
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O que os Pacientes Esperam do Médico
A pesquisa realizada por Ismael (2002) com 30 pessoas entre 30 e 65 anos revela que os pacientes esperam
do médico os seguintes fatores:
CONFORTAR

O médico deve apoiar, consolar e amparar o paciente principalmente neste momento que o mesmo está
bastante fragilizado. “Ele necessita do suporte como se fosse uma criança na necessidade da proteção dos pais.”

Poder escutar o paciente com atenção de forma paciente e com muito interesse em seus pensamentos,
ESCUTAR

sentimentos e preocupações. “Cada paciente tem uma história, que para ele é a mais original e sofrida entre
todas as que o médico ouviu sem escutar, pois para ele se trata de mais um relato.”

O paciente precisa ser olhado, e perceber que ele existe para o médico, de que não é mero portador de tal
OLHAR

doença. “O médico ‘informatizado’, ao consultar o prontuário exibido no monitor, conduz a consulta hipnotizado
por ele, enquanto o paciente, ansioso e desamparado, espera que lhe dirija o olhar.”

O paciente apresenta uma grande necessidade de ser tocado, acolhido, desde o aperto de mão, através de uma
TOCAR

comunicação não verbal. “O toque como que legitima a existência de quem tocou e de quem foi tocado.”

Aprenda a escutar os pacientes


A importância da escuta se estende muito além do ambiente acadêmico e profissional e é extremamente
importante na criação de uma relação médico-paciente confiável, que é um pré-requisito para o sucesso
terapêutico. É um processo ativo que envolve absorver todas as informações expressas verbalmente ou
não verbalmente pelo paciente. É uma parte importante do processo de comunicação. Ajuda a entender
melhor o problema do paciente e a encontrar melhores decisões. Ouvir envolve não apenas compreender o
componente verbal, mas também extrair atitudes, necessidades e motivos do paciente por trás das palavras.
O objetivo da escuta é, também, investigar o impacto físico, social e emocional desses problemas na qualidade
de vida do paciente, de modo a fornecer um cuidado e satisfação integrados.

Concluindo
Portanto, uma boa relação entre profissional de saúde e paciente é essencial para o processo de uma
comunicação eficaz e sensível. O acolhimento e escuta do paciente auxiliará em um maior conforto e cuidado
humanizado para o paciente.

Seção 4: Impacto da Má Notícia para Pacientes, Família e


Equipe Multiprofissional

O Impacto da Má Notícia
A comunicação de más notícias é impactante, tanto para o paciente e família quanto para a equipe, visto que
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são permeados por sentimentos de muito estresse, angústias, medos e tristezas.

Segundo Prado e Cols (2013), antes mesmo da comunicação da má notícia


propriamente dita, o paciente tem a percepção de uma comunicação
não verbal, através da postura do médico e sua feição de que algo não
está bem. Um exemplo clássico são as crianças ou adolescentes que
percebem a alteração emocional dos pais que demonstram tensão e
tristeza mesmo não explicitando na frente delas.

Muitos estudos apontam que, ao receber a má notícia, o paciente


demonstra diversas reações, tanto físicas quanto psicológicas. Podem
apresentar um choro incontrolável, dor de barriga e de estômago, bem
como sentimentos de medo e muita angústia. Na maioria das vezes,
o impacto é tão intenso que o paciente só consegue processar uma
informação, as outras não serão ser assimiladas.
Um exemplo ocorre quando o médico diz ao paciente que ele tem um
diagnóstico de câncer a partir dos exames realizados e não sequência,
apresenta todo o tratamento que será realizado. Muito provavelmente,
o paciente escutará apenas até a palavra “câncer” e todo o resto, não
conseguirá assimilar.

Estes sentimentos são inerentes ao impacto da má notícia não só nos


pacientes, mas também em seus familiares. De acordo com Romano
(1999), a hospitalização de um dos membros da família gera muito
estresse e ameaças, pois o equilíbrio do sistema familiar é quebrado,
gerando uma instabilidade. Os membros da família podem apresentar
alterações fisiológicas e psicológicas. Há uma quebra na rotina
(alimentação e o sono), bem como surgem os medos e angústias diante
da morte.

História Particular
Cada paciente e família apresentam uma história particular, incluindo valores, crenças, vivências e tipos de
relações inerentes de cada biografia. Esta construção é individual e singular de cada paciente e de cada
família.
Lamnno-Adamo apud Botega (2002) afirma que:

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“O aparelho psíquico familiar pode oferecer uma para-excitação às angústias insuportáveis, as quais,
posteriormente, podem ser restituídas em vivências psíquicas, na medida em que haja uma contínua
comunicação entre consciente e inconsciente, realidade interna e realidade externa. Mas pode também
ocorrer (com maior ou menor grau de duração e de intensidade), a utilização de mecanismos como negação,
cisão, idealização e identificação projetiva. No sentido de minimizar e ou anular a experiência emocional
dolorosa”.

Mecanismos de Defesa – Paciente/Família


O ego pode ser considerado o agente dos mecanismos de defesa, visto que representa, por definição, o polo
defensivo da personalidade. Entretanto, na maioria das vezes, os mecanismos de defesa são empregados
inconscientemente pelo ego. Por essa razão, cada sujeito possui, conforme Kusnetzoff (1982), um repertório
defensivo relativamente restrito. Mas vale salientar que utilizar essas operações psíquicas quando da
deflagração de eventos altamente ansiogênicos não deve ser considerado um processo psicopatológico a
priori, pois a sobrevivência do aparelho psíquico encontra-se intimamente relacionada à sua capacidade de
se proteger. É nesse sentido que autores como Vaillant (2001) sustentam que o funcionamento defensivo de
um sujeito pode ser considerado um indicador de seu desenvolvimento egoico, mas não necessariamente
de uma eventual psicopatologia.
Freud (1895/1996) propôs que a utilização de um determinado mecanismo de defesa poderá ser
considerada psicopatológica apenas quando remeter à revivescência de sentimentos penosos — associados
a acontecimentos prévios — dos quais o ego, quando da experiência original, não foi capaz de se defender
mediante a execução de investimentos laterais. Além de gerar tensões internas que provocam desprazer,
essa revivescência fomenta uma intensa regressão egoica, influenciando negativamente o equilíbrio da
personalidade e o ajustamento do sujeito à realidade externa.
Lewis (1991) afirma que é comum o uso de mecanismos de defesa por pacientes ou familiares tais como:
negação, dissociação e projeção.
Isto significa que quando um sofrimento é insuportável e há conflitos entre os membros da família envolvendo
o paciente, muitas vezes, pelo sentimento de culpa, por exemplo, costumam negar a gravidade da doença.
Observa-se em muitos casos, que os familiares e/ou pacientes dissociam todo o conhecimento que
aprenderam sobre a doença e o projetam na equipe, de forma que a mesma seja responsável por alguma
piora inesperada da doença, demora em alguma investigação diagnóstica em paralelo ou até mesmo
procedimentos mau sucedidos que ocasionem um prognóstico ruim.
Assim, muitos familiares ou pacientes, ao receberem uma má notícia, podem desenvolver mecanismos de
defesa frente à situação tão dolorosa.

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Um exemplo que pode ser citado é de uma esposa que, ao receber
uma notícia da equipe médica da UTI de que seu marido sofreu um
traumatismo craniano por uma queda e posteriormente evoluiu para
uma morte encefálica, nega eminentemente esta situação, questionando
o médico sobre o resultado dos testes que devem ser realizados e uma
convicção da reversibilidade do quadro.

Equilíbrio na Relação com o Paciente


Estas reações emocionais da família e do paciente refletem diretamente em toda a equipe, tanto médica
quanto multiprofissional. Se a equipe não conseguir compreender que algumas reações emocionais da
família e/ou do paciente estão relacionadas a angústia, medo, preocupação, entre outras, podem se sentir
acusados injustamente por negligência ao tratamento e, consequentemente, apresentam como resposta
comportamentos de hostilidade e rejeição ao paciente e familiar.

Em contrapartida, se a equipe conseguir identificar este emaranhado de sentimentos e reações distorcidas


pelo paciente e família, poderá auxiliá-los com uma comunicação clara, verdadeira e acolhedora.
É preciso que a equipe consiga manter um equilíbrio entre manter a família na realidade difícil neste contexto
de adoecimento e tratamentos, bem como poder respeitar as crenças, valores e sentimentos de esperança
e confiança que toda família apresenta, possibilitando que sejam acionados seus mecanismos de defesa
quando a dor psíquica for insuportável.

Um exemplo que pode ser citado é de um adulto de 30 anos que, tendo passado por uma
recém cirurgia, dá entrada no PA por insuficiência respiratória e é levado para UTI, e no
mesmo dia apresenta uma parada cardíaca.

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Os pais e a esposa mostram-se extremamente revoltados e angustiados com quadro do
paciente e referem maior estresse por ouvirem várias notícias diferentes de cada médico,
deixando-os mais confusos, inseguros e com medo.

Essas angústias são relatadas pela família para a psicóloga da UTI que orienta a equipe a
importância de haver uma comunicação alinhada de forma clara e objetiva em comum
acordo com os médicos e demais profissionais da unidade.

Assim, após a percepção da equipe sobre as reações emocionais da família, a relação


entre todos pode ser de confiança, mesmo diante de muitos sentimentos ambivalentes
em relação a melhora clínica do paciente.

Comunicação Paciente/Família e Equipe

EQUIPE DE
FAMÍLIA PACIENTE
SAÚDE

Comunicação

A comunicação de más notícias impacta de forma bastante significativa a todos os envolvidos - paciente,
família e equipe. O sentimento que permeia, na maior parte das vezes, esta situação é a perda. Diante da
possibilidade de perdas, observa-se a vivência do luto, podendo este ser caracterizado por um luto simbólico
em que é idealizado algo e simbolicamente a realidade que os envolvidos se deparam é outra, bem como o
luto real, como por exemplo, uma perda física de um ente querido ou de sua própria morte.
A morte se torna inerente quando nos referimos à comunicação de más notícias. A partir da literatura, apesar
da má notícia não ser somente a morte efetiva, uma das maiores demandas e dificuldades na comunicação
são em pacientes graves e sem possibilidades terapêuticas de cura, nos quais o luto e a morte estão mais
evidentes e reais, desestruturando a relação dos três elos importantes na comunicação paciente, equipe e
família.

Para o Profissional de Saúde


Quando os profissionais da saúde se deparam com as questões dos pacientes, automaticamente se deparam
com suas próprias angústias e medos.

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Segundo o INCA (2010), é comum que os profissionais da saúde levem suas angústias para seus próprios
familiares, porém estes não conseguem ouvi-los. Este profissional, muitas vezes, permanece solitário
com seus sentimentos, pois não tem quem possa escutá-lo e com quem compartilhar toda sua angústia,
permanecendo assim em uma “solidão profissional”.

Muitas vezes, esses profissionais se sentem também culpados por verem que sua formação acadêmica estava
voltada para busca pela cura, sem considerar as perdas e o sentimento de impotência.
De acordo com Pereira (2005), o profissional da saúde que se depara com a situação de comunicar uma má
noticia também apresenta medos. Estes medos podem estar relacionados ao:
• “medo de ser culpado ou de lhe atribuírem responsabilidades”;
• “medo de expressar uma reação emocional”;
• “medo de não saber todas as respostas colocadas pelo doente e familiares e/ou outras pessoas
significativas”;
• “medos pessoais acerca da doença e da morte”;
• “medo das reações do doente e família”.

O profissional, ao comunicar uma má notícia, se depara com a não


consciência de sua própria morte. Buckman (1992) afirma que a maioria
dos profissionais tem algum grau de medo sobre alguma doença grave
ou sobre a própria morte.
Na verdade, alguns psicólogos sugerem que o desejo de cada profissional
de saúde em ser um médico ou enfermeiro é parcialmente baseado em
um desejo de negar a própria mortalidade e vulnerabilidade à doença.

Isso é chamado de comportamento counterphobic, o qual significa que cada vez que há um contato com uma
pessoa doente, é reforçado a própria ilusão da imortalidade e invulnerabilidade.

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Concluindo
Comunicar más notícias é considerada uma das tarefas mais frequentes e complexas que os profissionais
de saúde se deparam em sua rotina. A maneira com que se transmite uma notícia difícil poderá afetar o
paciente e seus familiares quanto ao entendimento sobre o curso de sua doença, os tratamentos propostos,
a satisfação em relação à assistência oferecida, além do vínculo de confiança e de segurança construído entre
todos envolvidos.

Referências Bibliográficas
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clima emocional en un hospital universitario de Andalucía, España. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,
30(3):546-558, mar, 2014.
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