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Acadêmica: Micheline Ertal Trindade

Data: 24/11/2018
Disciplina: Intervenção em situação de crise / Aula semi-presencial
Professora: Claudia Mazoni

INTERVENÇÕES EM UTI E DOENÇAS CRÔNICAS

1) Unidade de Terapia Intensiva (UTI)


1.1 História
A UTI, como atualmente é conhecida foi implantada no Brasil a partir de 1970 em hospitais
privados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Hoje em dia, é um recurso disponível na grande maioria
dos hospitais de grande porte (Haberkorn, 2004).
Segundo Silva (2009), a UTI surgiu da necessidade de proporcionar condições adequadas ao
atendimento do paciente crítico, com quadros clínicos possíveis de recuperação, considerando a
dificuldade da equipe médica e da enfermagem em prestar assistência em unidades de intervenção,
devido a complexidade do tratamento, ao número de pacientes internados e aos recursos materiais e
humanos reduzidos.

1.2 Contexto da UTI


A unidade de terapia intensiva (UTI) é um ambiente de alta complexidade, que oferece
monitoria 24 horas por dia, destinado a pacientes graves ou que se encontram em uma situação
limite (vida e morte), que necessitam de atendimento médico e de enfermagem ininterruptos, com
equipamentos específicos, recursos técnicos e humanos especializados para sua recuperação
(Almeida et al., 2009; Silva, 2009). A equipe de atendimento é multiprofissional, composta por
diversos profissionais como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e
assistentes sociais.

1.3 Sentimentos despertados nos pacientes e seus familiares

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Ao ser admitido em uma Unidade de Terepia Intensiva, o paciente fica exposto a uma série de
agentes estressores (confinamento, restrição ao leito, cirurgias, além das alterações em sua rotina e
afastamento do trabalho). Diante do sofrimento, da dor e da iminência de morte, os pacientes e seus
familiares podem apresentar reações emocionais, tais como a ansiedade, medo, conflitos,
insegurança, irritabilidade, dentre outras frequentemente relacionadas ao contexto da internação
(Santos, Santos, Rossi, Lélis & Vasconcelos, 2011; Silva, 2009). Tais reações emocionais variam de
indivíduo para indivíduo, de acordo com o diagnóstico médico, estrutura psíquica, dinâmica
familiar e do contexto no qual cada sujeito estará inserido.
É comum ocorrer de o paciente permanecer sedado e na medida em que vai recuperando sua
consciência se deparar com o ambiente de uma UTI, podendo ocasionar quadros de privação
sensorial (Zimmermann et al., 2006). A alteração psicológica mais frequente em UTIs é o Delirium,
que pode ser definido como “uma perturbação da cognição, acompanhada de uma desordem
concomitantemente fundamental da consciência, que não se deve a uma demência preexistente ou
em evolução” (Haberkorn, 2004, p. 101).

1.4 Atuação do Psicólogo em UTI


O atendimento da Psicologia ao paciente crônico em contexto de UTI deverá observar,
principalmente, o desencadeamento de reações advindas da patologia, do tratamento e das
particularidades do ambiente (Silva, 2007).
O psicólogo na UTI tem entre suas funções, a assistência psicológica ao paciente, a atenção a
fatores que podem influenciar sua estabilidade emocional e a avaliação da adaptação do paciente à
hospitalização, contribuindo assim com os aspectos psíquicos e sociais na compreensão desta
demanda (Santos, et al., 2011). Além disso, deve-se ficar atento, durante a avaliação do paciente,
para seu exame de estado mental, sua compreensão com relação ao diagnóstico, além das reações
emocionais desencadeadas frente à sua doença, oferecendo tanto para o paciente quanto para seus
familiares um espaço para expressarem seus sentimentos e questionamentos sobre o processo de
hospitalização do paciente (Pregnolatto & Agostinho, 2003).
Sendo assim, segundo Silva (2009), os objetivos da atuação do Psicólogo na UTI constituem-
se por uma tríade (paciente – família – equipe), pois diante do adoecimento de um membro, todo o
sistema familiar se vê afetado ao vivenciar a hospitalização diariamente (Almeida, et al., 2009).

1.5 A crise frente a internação em UTI


Frente à hospitalização, o paciente se depara com um problema em que seus recursos de
enfrentamento entram em desequilíbrio, aumentando a tensão e a ansiedade diante desta situação,
ocorrendo a crise (Vivian, et al., 2013). Atenta-se para o fato de que, a maioria das hospitalizações

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ocorre em situação de emergência, envolvendo risco de morte, o que precisa ser considerado como
um momento de crise.
Silva (2009) refere que, em algumas situações, estas crises produzem demandas urgentes e
necessitam de intervenções rápida. Um exemplo importante está relacionado a ansiedade, que pode
contribuir para a ativação do sistema de estresse, provocando mudanças no organismo, aumentando
a chance de infecções e de complicações
Torna-se necessário então, promover intervenções em situações de crise, a fim de auxiliar a
readaptação do paciente e de seus familiares frente ao novo contexto vivenciado.

1.6 Intervenção em Situação de Crise em UTI


1.6.1 Pacientes contatuantes com a realidade, com disponibilidade ou não de
comunicação verbal:
Conforme Fregonese et al (2004), é realizado com esses pacientes uma entrevista inicial que
visa, principalmente, avaliar o seu estado emocional, sua compreensão a respeito da doença e dos
tratamentos realizados, a presença de mecanismos de enfrentamento diante da situação, a relação
com sua doença, o vínculo com a equipe que o assiste, a relação com a UTI e a rede de apoio
familiar ou social.
Diante de pacientes terminais, deve-se estabelecer um diferencial no atendimento, focando a
atuação para o acolhimento das emoções provenientes da possibilidade iminente da morte, da
ansiedade pela possibilidade da separação (de pessoas queridas, de situações, de lugares), da dor
física e da dor psíquica. Além disso, quando possível, fazemos junto ao doente uma reflexão a
respeito dos pontos principais de sua história de vida, como por exemplo, projetos realizados e não
realizados, vínculos afetivos estabelecidos e representações a respeito da morte. Com isso,
pretende-se oferecer, mediante um atendimento humanizado, auxílio no enfrentamento da situação
atual.
Com pacientes que não estão possibilitados de falar (traqueostomizados ou intubados),
utilizamos como recurso de comunicação a escrita, a leitura labial ou a laringe eletrônica. Ao
facilitar a comunicação, procuramos diminuir a ansiedade pela impossibilidade de verbalizar e
também facilitar a expressão de suas dificuldades frente ao momento de crise.

1.6.2 Pacientes não contatuantes com a realidade devido a estado comatoso:


Sanvito e Niculitcheff (1978) definem coma como um estado de inconsciência, geralmente
prolongado, que não pode ser revertido por estímulos externos comuns, do qual o paciente pode ou
não emergir. Um dos critérios utilizados para classificação do coma é segundo o grau de

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profundidade: grau I ou estupor, grau II ou coma superficial, grau II ou coma profundo e grau IV ou
coma dépassé (Sanvito & Pinto, 1978).
Os atendimentos aos pacientes de coma grau I e II objetiva um tratamento humanizado,
estimula o contato com a realidade, propicia sentimento de segurança e sensação de existência,
orienta sobre rotinas realizadas, conscientiza sobre o esquema corporal e tentar colaborar na
reversão do estado atual, visando auxiliar na melhoria do quadro clínico e tentar uma forma de
comunicação para que o doente não se sinta só nesse momento crítico de vida. Os atendimentos são
realizados no mínimo uma vez por dia, sendo o mais indicado duas vezes ao dia, sendo fundamental
para que seja estabelecido um vínculo mais sólido de confiança e proximidade com o paciente.
Segundo Bennum (2001), o ultimo órgão do sentido que é afetado no paciente comatoso é a
audição, dessa forma, a fala se torna o principal instrumento de trabalho do psicólogo, para orientar
o paciente em relação ao tempo e espaço, dia da semana e do mês, hora, local, tempo de internação,
informações sobre o ambiente, aparelhos a ele conectados, etc.

1.6.3 Pacientes não contatuantes com a realidade por sedação:


Segundo Fregonese et al (2004), os atendimentos são voltados prioritariamente para pacientes
com grau leve de sedação, constando de orientação de tempo e espaço e informações do ambiente
externo, com a finalidade de que, se em algum momento o paciente estiver escutando o que lhe é
dito, tenha conhecimento e segurança a respeito do que está sendo feito com ele. É solicitado
também a participação do familiar nessa tarefa, durante o horário de visita, estimulando-o a falar ao
paciente sobre assuntos que lhe tragam conforto e orientação, visando estimular o paciente,
colaborando com a sua melhora clínica e a auxiliar a família, fazendo-a sentir-se mais próxima e
participantes.

2) Doenças crônicas
2.1 Caracterização da Doença Crônica
Doença crônica é uma doença que persiste por períodos superiores a seis meses e não se
resolve em um curto espaço de tempo. Exemplos de doenças crônica são: diabetes, doença de
Alzheimer, hipertensão, asma, AIDS, doenças autoimunes etc. Nas crianças, a asma é a doença
crônica mais comum.
As doenças crônicas acompanham o indivíduo durante um tempo relativo da sua vida e, em
muitos casos não há cura, apenas tratamentos periódicos, tornando-se assim um agravante no bem-
estar e qualidade de vida do indivíduo. Apesar de uma doença crônica não ser uma emergência, ela
pode ser extremamente séria em determinadas doenças respiratórias, doenças cardiovasculares,
entre outras.
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Em alguns casos, as doenças crônicas são assintomáticas (o portador não possui nenhum
sintoma), mas quando se manifestam, as crises podem ser intensas, dolorosas e muito incômodas.
Em geral, as doenças crônicas não podem ser resolvidas apenas com um medicamento, exigem
tratamentos maiores, como é o caso de doenças infecciosas ou doenças como AIDS, o mal de
Alzheimer etc.

2.2 Intervenção nas Doenças Crônicas


Diante das características que as doenças crônicas apresentam, como sua longa duração e
impossibilidade de cura, falamos implicitamente em tratamento de longo prazo, que na maioria das
vezes, acarretam em adaptações a limitações físicas, alimentares e de socialização, tornando assim a
doença crônica uma fonte estressora.
A complexidade e gravidade da doença, afeta diretamente o equilíbrio da estrutura familiar e
do desenvolvimento de estratégias de enfrentamento que todos os envolvidos (cuidador, profissional
de saúde e paciente) irão utilizar. Sendo as estratégias de enfrentamento (coping) parte fundamental
para uma melhor vivencia do curso da doença e seus desdobramentos.
O coping segundo Savóia (1999) é caracterizado como os esforços, numa busca adaptativa,
perante determinada situação de estresse que se sobrepõem as capacidades do sujeito, a fim de
manter a percepção do controle pessoal. O coping pode ser dividido como centrado no problema,
que visa atuar sobre o fator de estresse, e coping centrado na emoção, que visa adequar a resposta
emocional ao evento estressante, pois este não pode ser mudado.
As pessoas tendem a escolher uma determinada estratégia de coping dependendo do
repertório individual e de experiências em que estas se baseiam. Muitas estratégias podem ser úteis
para uma mesma situação, sendo que na doença crônica, é preciso considerar que existem aspectos
que são inevitáveis, como o impacto emocional do diagnóstico, a convivência diária o portador da
doença e as consequências desta.
A percepção de maiores consequências negativas da doença associa-se a uma maior
utilização da estratégia de coping de fuga e esquiva. Por outro lado, aqueles que percebem a doença
com maior clareza em termos de sintomas, apresentam menor utilização da estratégia de Fuga e
esquiva. Um maior controle pessoal associa-se a uma utilização mais frequente da estratégia de
afastamento.
Outro fatores como, idade, nível sócio cultural, acesso a tratamento e constelação familiar,
nível de bem-estar constituem aspectos importantes na percepção da doença e escolhas de
estratégias de enfrentamento dos sujeitos.

Referências

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Almeida, A. S., Aragão, N. R. O., Moura, E., Lima, G. C., Hora, E. C. & Silva, L. A. S. M. (2009).
Sentimentos dos familiares em relação ao paciente internado na unidade de terapia intensiva.
Rev. Brasileira de Enfermagem, 62(6), 844-849.
Coletto, M. & Câmara S. (2009). Estratégias de coping e percepção da doença em pais de crianças
com doença crônica: o contexto do cuidador. Revista Diversitas – Perspectiva em Psicologia -
Vol. 5, No 1, 2009.
Fregonese, A. A. et al. (2004). A prática da Psicologia Hospitalar na Santa Casa de São Paulo:
novas páginas em uma antiga história. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Haberkorn, A. (2004). A atuação psicológica na UTI. In W. Bruscato & C. Benedetti, S. Lopes
(Org.). A prática da psicologia hospitalar na Santa Casa de São Paulo: novas páginas em
uma história antiga. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Lino, M. M. & Silva, S.C. (2001). Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva: a história como
explicação de uma prática. Rev. Nursing, 4(41), 25-29.
Pregnolatto, A. P., & Agostinho, V. B. (2003). O psicólogo na unidade de terapia intensiva –
Adulto. In M. N. Batista & R. R. Dias (Eds.). Psicologia Hospitalar: Teoria, aplicação e
casos clínicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Santos, S. N., Santos, L. S. R. L., Rossi, A. S. U., Lélis, J. A., Vasconcellos, S. C. (2011).
Intervenção psicológica numa unidade de terapia intensiva de cardiologia. Rev. SBPH, 14(2),
50-66.
Silva, M. G. C. da (2009). Atendimento biopsicossocial em unidade de terapia intensiva de adulto:
um olhar através da psicologia. Monografia apresentada ao programa de aprimoramento
profissional/SES, Faculdade de Medicina de Marília, Marília, SP, Brasil.
Silva, R. R. (2007). Psicologia e Unidade de Terapia Intensiva. Revista Salus-Guarapuava, 1(1),
39-41.
Vivian, A. G., Rocha, C. C. da, Agra, K. P., Krummenauer, C., Benvenutti, D. K., Timm, J. S. &
Souza, F. P. de (2013). “Conversando com os pais”: relato de experiência de intervenção em
grupo em UTI pediátrica. Aletheia, 40(1), 174-184.
Zimmermann, P. R. et al. (2006). O paciente na UTI. In N. J. Botega (Org., 2ª ed.). Prática
psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. Porto Alegre: Artmed.

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