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SINOPSE DO CASE: A experiência da restrição de visitas durante a internação

para o paciente e família.

Marina Candeira Correia²

Dra. Izabella Paes³

1. DESCRIÇÃO DO CASO

Carlos tem 63 anos e está internado na UTI de um hospital público há 20 dias,


devido a um quadro de infecção urinária que afetou fortemente a função renal. Ele é
casado com Angelina (55 anos) e tem dois filhos, João Vitor com 25 anos e Vitória
com 37 anos. Durante o período de internação, Carlos tem se mostrado entristecido
e compartilhou que é muito difícil não ver os netos e ver tão pouco a esposa. Vitória
tem passado os dias com o pai, pois a mãe tem problemas na coluna e é muito
complicado se deslocar. Ela se sente exausta, mas faz questão de ficar com ele.
Além disso, preocupa-se com a mãe que tem se mostrado ansiosa, sempre
reclamando que vê pouco o marido e que as visitas são muito rápidas. O irmão
sempre acompanha a mãe nas visitas que ela faz a cada dois dias.

No entanto, a restrição de visitas e as normas do hospital têm gerado impacto


emocional nos envolvidos, em especial em Carlos e sua família. Carlos apresenta
tristeza e saudade dos familiares, enquanto Angelina e Vitória demonstram
preocupação e exaustão por conta da rotina cansativa no hospital e da
impossibilidade de visitas prolongadas. É possível que a ansiedade e o estresse
emocional afetem o quadro de saúde de Carlos e prejudiquem sua recuperação.

Mediante ao exposto, faz-se notório a importância das visitas como uma fonte de
apoio emocional para o paciente. Nesse sentido, estabelece-se o questionamento:
Quais intervenções podem ser realizadas junto ao paciente (e/ou à família), a fim de
oferecer recursos para enfrentarem a situação?

1 Case apresentado à disciplina de Psicologia Hospitalar, na Unidade de Ensino Superior Dom Bosco –
UNDB. 2 Aluna do 6 Período do curso de Psicologia, da UNDB. 3 Professora Doutora, orientadora.
2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO

2.1 Descrição da possível decisão:

2.1.1. Possíveis intervenções no contexto hospitalar.

2.2. Argumentos capazes de fundamentar cada decisão

2.2.1 Possíveis intervenções no contexto hospitalar.

A internação em UTI pode ser uma experiência traumática e estressante para


pacientes e seus familiares, especialmente quando há restrições para visitas e
acompanhantes, como no caso apresentado de Carlos e sua família. Na medida em
que, como ratifica SILVA et al (2017)

O adoecimento pode produzir mudanças significativas na vida dos pacientes e de


seus familiares, o que pode levar ao surgimento de reações emocionais intensas,
como ansiedade, depressão, medo, desespero e desesperança. Diante desse
cenário, é importante que a equipe de saúde, incluindo o psicólogo, esteja
preparada para oferecer suporte emocional e intervenções adequadas.

Nesse sentido, é fundamental que a equipe médica adote medidas para


promover o conforto e a segurança do paciente, bem como a aproximação da família
com o doente. Em primeiro lugar, é necessário que os profissionais de saúde
envolvidos no caso estabeleçam uma comunicação clara e transparente com a
família, explicando detalhadamente o quadro clínico do paciente, as intervenções
realizadas e as possíveis complicações. Isso permitirá que a família compreenda
melhor a situação e possa colaborar com o tratamento.

Ademais, é importante que a equipe médica disponibilize recursos para que o


paciente possa se comunicar com a família, seja por meio de ligações telefônicas,
videochamadas ou outros meios virtuais. Essa iniciativa pode amenizar a angústia
do paciente, que se sente afastado de seus entes queridos, bem como oferecer à
família a oportunidade de manter contato com o doente, mesmo à distância.

No que tange a atuação do psicólogo neste contexto, destacam-se algumas


intervenções recomendáveis como: oferecer suporte emocional ao paciente e à
família por meio de escuta qualificada (que, permite ao psicólogo compreender as
angústias e preocupações do paciente e da família. ); trabalhar as crenças e
pensamentos disfuncionais que possam estar gerando sofrimento; desenvolver
estratégias de enfrentamento(coping) para lidar com a ausência da família e as
limitações de visitas impostas pela UTI; trabalhar as dinâmicas familiares que
possam estar influenciando no bem-estar do paciente; e oferecer orientações para
cuidados com a saúde mental.

Outra intervenção que pode ser útil é o uso de terapia ocupacional. Muitos
pacientes na UTI têm dificuldade em manter suas rotinas e atividades cotidianas, o
que pode levar à depressão e isolamento social. A terapia ocupacional pode ajudar o
paciente a manter sua identidade e independência, através de atividades que sejam
compatíveis com o ambiente da UTI.

Ademais, torna-se necessário uma atenção também aos acompanhantes. Ao


passo que, ‘’o acompanhante é visto como um elo entre o paciente e a equipe de
saúde, pois oferece a possibilidade de auxiliar no cuidado do doente, além de
proporcionar suporte emocional e afetivo." (NASCIMENTO, 2018, p.129)

No caso apresentado, é possível identificar diversos personagens que demandam


intervenção psicológica. O paciente, Carlos, manifesta tristeza e saudade da família,
o que pode ser agravado pela falta de contato com os netos e pela limitação de
visitas. Sua filha, Vitória, também se mostra exausta e preocupada com a mãe, que
apresenta sintomas de ansiedade. João Vitor, irmão de Vitória, acompanha a mãe
nas visitas, o que sugere um possível apoio emocional à família. A esposa de
Carlos, Angelina, que se mostra ansiosa com a situação, também pode se beneficiar
de intervenções psicológicas.

Nesse sentido, além das intervenções já mencionadas, existem outras possíveis


estratégias que podem ser utilizadas pelo psicólogo para ajudar o paciente e a
família a enfrentarem a situação de internação na UTI. Como, por exemplo, a terapia
de apoio psicológico, que pode ser oferecida tanto ao paciente quanto à sua família.
A terapia de apoio consiste em uma abordagem psicológica breve, cujo objetivo é
ajudar o paciente e a família a lidarem com os desafios da internação na UTI. Essa
abordagem pode incluir o uso de técnicas de aconselhamento e a promoção de
habilidades de enfrentamento.
Finalmente, vale destacar que a atuação multiprofissional é fundamental para
garantir uma assistência integral e adequada, considerando as necessidades físicas
e emocionais do paciente e de seus familiares. Na medida em que,

em ambientes hospitalares, a atuação multiprofissional é essencial para garantir


uma assistência integral e de qualidade ao paciente e sua família, considerando as
diversas dimensões do cuidado, incluindo a psicológica e emocional. A
interdisciplinaridade permite que os profissionais trabalhem de forma integrada,
complementar e harmônica, possibilitando uma assistência mais eficiente e
humanizada." (SCHMIDT et al., 2018)

Dessa forma, a equipe de saúde deve trabalhar de forma interdisciplinar, com a


colaboração de psicólogos, médicos, enfermeiros, assistentes sociais e demais
profissionais, a fim de garantir o melhor cuidado possível.

Por fim, nota-se que a intervenção psicológica no contexto da UTI pode ser uma
importante ferramenta para ajudar pacientes e suas famílias a enfrentarem situações
difíceis e desafiadoras. Por meio de uma escuta qualificada e intervenções focadas
nas necessidades específicas de cada caso, é possível oferecer suporte emocional
e recursos que ajudem a minimizar o sofrimento e a promover o bem-estar.

3.Descrição dos critérios e valores contidos em cada decisão possível

Psicologia hospitalar é uma especialidade que visa promover a saúde mental e


emocional dos pacientes, familiares e profissionais da saúde no contexto hospitalar.
A experiência de internação pode ser um momento de grande estresse e ansiedade
para o paciente, que se encontra em um ambiente desconhecido, com rotinas e
regras diferentes do seu cotidiano. A psicologia hospitalar busca ajudar o paciente a
lidar com essas emoções e a adaptar-se ao ambiente hospitalar, além de trabalhar
questões emocionais que possam interferir no processo de tratamento.

Recursos de enfrentamento: os recursos de enfrentamento são estratégias utilizadas


pelas pessoas para lidar com situações difíceis e estressantes. A psicologia utiliza o
conceito de coping para referir-se a esses recursos de enfrentamento. Existem
diversas estratégias de coping, como o apoio social, o uso de religião ou
espiritualidade, o humor, a busca por informações, entre outros. O objetivo do uso
desses recursos é ajudar a pessoa a lidar com as emoções e estresse da situação e
a manter-se resiliente.

Relação paciente/família: a relação entre paciente e família é fundamental no


contexto hospitalar. A família é uma fonte de apoio emocional para o paciente, além
de ser responsável por sua tomada de decisão em muitos casos. A psicologia
hospitalar busca trabalhar essa relação, ajudando a família a lidar com as emoções
e estresse decorrentes da internação do paciente, além de oferecer informações
sobre o tratamento e a condição de saúde do paciente. A comunicação entre
profissionais da saúde, paciente e família é essencial para o bom andamento do
tratamento e para o bem-estar de todos os envolvidos.
REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, E. C. DO N.. O psicólogo na UTI: reflexões sobre a saúde, vida e morte


nossa de cada dia. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 22, n. Psicol. cienc. prof.,
2002 22(2), p. 30–41, jun. 2002.

Silva, K. C. A., Rodrigues, A. R., Vieira, A. F., & Fumincelli, L. (2017). A importância
do suporte psicológico em unidades de terapia intensiva. Revista de
Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, 7(3), 2695-2703.

Nascimento, L. D. (2018). A importância do acompanhante para o paciente em


UTI. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 30(1), 128-131.

Oliveira, A. L. A., & Oliveira, C. F. (2021). Psicologia Hospitalar na UTI: Uma


revisão sistemática da literatura. Revista de Psicologia da IMED, 13(1), 161-177.

Souza, L. C. R., Santos, T. M. L., & Ferreira, A. T. (2020). Psicologia hospitalar em


UTI: um olhar para o cuidado emocional dos familiares. Revista Psicologia:
Organizações e Trabalho, 20(2), 153-162.

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