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HOSPITALAR
Intervenções
breves e focais no
contexto hospitalar
Renata Beatriz da Silva
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A psicologia hospitalar surgiu com o propósito de recuperar a dimensão sub-
jetiva do indivíduo em contextos relacionados a enfermidades em ambientes
de saúde. Nesses contextos, o psicólogo precisa desempenhar seu papel com
mais agilidade e foco. Seu olhar deve se concentrar no sofrimento e nas con-
sequências que a doença acarreta durante a internação, com o objetivo de
proporcionar alívio e acolhimento tanto ao paciente quanto à sua família
(Mendes; Yamamoto; Rodrigues, 2021).
A atuação do psicólogo em hospitais se distingue daquela típica dos am-
bientes clínicos. A primeira diferença notável é o ambiente físico, que é agi-
tado, oferece pouca privacidade e está sujeito a interrupções frequentes por
outros profissionais. Além disso, surgem limitações institucionais que afetam
a aplicação de estratégias e técnicas que seriam utilizadas na psicoterapia
convencional, sendo necessário repensar a prática profissional. Outro aspecto
característico dos atendimentos nos hospitais é que eles requerem agilidade
2 Intervenções breves e focais no contexto hospitalar
Interconsultas e intervenções
No Brasil, as enfermarias psiquiátricas começaram a ser implantadas em
hospitais gerais nos anos 1950, mas seu reconhecimento efetivo só ocorreu
após a reforma psiquiátrica de 2001. Essa reforma incentivou a criação de
unidades psiquiátricas em hospitais gerais, tornando essa integração entre
a psiquiatria e outras especialidades médicas uma prática comum. Isso deu
origem à interconsulta, um campo de atuação que ganhou destaque nos anos
1980 (Carvalho; Lustosa, 2008).
A interconsulta é uma atividade multiprofissional e multidisciplinar que
envolve a presença de um psiquiatra e/ou psicólogo em uma unidade mé-
dica geral (a pedido de um médico de outra especialidade). Seus objetivos
incluem: disseminação do conhecimento psiquiátrico e psicológico; auxílio
no diagnóstico e no tratamento de pacientes com comorbidades médicas e
psiquiátricas; contribuição para a abordagem psicossocial dos pacientes;
e apoio às atividades de ensino e pesquisa (Carvalho; Lustosa, 2008).
Em termos gerais, a interconsulta pode ser descrita como uma ferramenta
utilizada pelo profissional para compreender e aprimorar o atendimento ao
paciente em um hospital geral. As solicitações de interconsulta são frequente-
mente feitas por enfermeiros e médicos, sendo que os principais motivos são
relacionados a quadros de humor depressivo e ansiedade. Logo, a interconsulta
representa uma aplicação prática do conceito de multidisciplinaridade —
e até mesmo do de interdisciplinaridade — na integração do psicólogo à equipe
de saúde. Nesse sentido, há certa deficiência na formação dos profissionais
com relação à padronização de condutas e habilidades para a realização
desse trabalho (Gazotti; Prebianchi, 2014).
Essa prática multiprofissional ainda pode ser compreendida como uma
intervenção psicológica que visa a apoiar profissionais de diferentes áreas
no diagnóstico e no tratamento de pacientes com problemas psiquiátricos
ou psicossociais, além de facilitar a comunicação entre a equipe de saúde,
os pacientes e seus familiares. O processo da interconsulta inclui quatro
etapas: coleta de informações junto a médicos, enfermeiros, pacientes e
familiares; elaboração de diagnósticos situacionais; devolução de informa-
ções e assessoramento; e acompanhamento diário da evolução da situação
(Gazotti; Prebianchi, 2014).
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dessa área não devem perder o otimismo: eles precisam continuar vigilantes
e promover mudanças positivas para aperfeiçoar o atendimento à população.
Os quatro principais setores nos quais um psicólogo pode desenvolver um
trabalho breve são: ambulatório, emergência, enfermaria e UTI. Na maioria das
ocasiões, o psicólogo realiza a escuta clínica de acolhimento das diferentes
demandas. A duração do atendimento está diretamente ligada ao tempo de
internação ou à duração do tratamento. A atuação deve se dar de forma ágil,
e deve haver intervenções de emergência, quando necessário, para ajudar
o paciente a lidar com a ansiedade e a elaborar seus sentimentos relativos
à doença que o levou ao hospital. Se ele precisar de alguma orientação ou
encaminhamento para tratamento posterior na comunidade, isso também é
parte do trabalho (Mendes; Yamamoto; Rodrigues, 2021).
Portanto, ao realizar a psicoterapia breve nos hospitais, o psicólogo atua
de forma ativa nessas unidades. Seu trabalho envolve: criar condições para
a comunicação, estabelecer uma escuta atenta das fontes de sofrimento e
fornecer esclarecimentos ao paciente sobre seu estado clínico, auxiliando
na reflexão, esclarecendo mal-entendidos e ajudando na desconstrução de
fantasias que geram experiências emocionais carregadas de medo e ameaça.
Além disso, o psicólogo avalia possíveis quadros psicopatológicos e oferece
apoio à família durante esse momento de angústia para todos os envolvidos.
Depois de conhecer os fundamentos teóricos da psicoterapia breve e se
familiarizar com seus objetivos e indicações, você já sabe quão útil pode ser
a atuação do psicólogo hospitalar. Ao longo desta seção, você também viu,
de forma breve, quais são as áreas e aplicações dessa atuação no hospital.
Na seção a seguir, você vai acompanhar exemplos práticos de intervenções
realizadas nesse contexto.
Referências
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Revista da SBPH, v. 13, n. 1, p. 94-106, 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/
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CANTARELLI, A. P. S. Novas abordagens da atuação do psicólogo no contexto hospitalar.
Revista da SBPH, v. 12, n. 2, p. 137-147, 2009. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/
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CARVALHO, M. R.; LUSTOSA, M. A. Interconsulta psicológica. Revista da SBPH, v. 11,
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arttext&pid=S1516-08582008000100004&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 8 out. 2023.
CASTAGNARO, A. L. P.; MOMBELLI, M. A.; MOURA, C. B. Psicoterapia breve na intervenção
de psicólogos e psiquiatras no Brasil: uma revisão integrativa da produção científica.
Revista Brasileira de Psicoterapia, v. 24, n. 1, p. 31-48, 2022. Disponível em: https://cdn.
publisher.gn1.link/rbp.celg.org.br/pdf/v24n1a03.pdf. Acesso em: 8 out. 2023
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências técnicas para atuação de psicólogas(os)
nos serviços hospitalares do SUS. Brasília: CFP, 2019. Disponível em: https://site.cfp.org.
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CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP nº 013/2007. Institui a consolidação
das resoluções relativas ao título profissional de especialista em psicologia e dispõe
sobre normas e procedimentos para seu registro. São Paulo: CFP, 2007. Disponível em:
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2008/08/Resolucao_CFP_nx_013-2007.pdf.
Acesso em: 8 out. 2023.
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Leituras recomendadas
LEÃO-MACHADO, F. C.; VACCARO, M. M.; FREITAS, S. M. P. Atendimentos psicológicos
breves em instituições públicas de saúde: contribuições do existencialismo sartriano.
Psicologia: Ciência e Profissão, v. 41, n. esp. 4, p. 1-12, 2021. Disponível em: https://www.
scielo.br/j/pcp/a/8BTGdfhXNHB3NPDWQZgfDvC/# . Acesso em: 8 out. 2023.
RAFIHI-FERREIRA, R. E. et al. Biblioterapia para medos noturnos em crianças: um estudo
de caso. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 41, p. 1-13, 2021. Disponível em: https://www.
scielo.br/j/pcp/a/Qbn5VLxJNpMyygDH5B8S9jP#. Acesso em: 8 out. 2023.