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Ricardo Gorayeb
University of São Paulo
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All content following this page was uploaded by Ricardo Gorayeb on 25 February 2015.
Ricardo Gorayeb
A reprodução das práticas de consultório, que consiste em tentar levar para a beira do
leito a postura de psicoterapeura clássico, não floresceu e não poderia mesmo florescer,
por não trazer respostas às necessidades do paciente e da própria equipe. Além disto,
carecia de ambiente apropriado e não atendia às demandas de apoio e informação que o
paciente internado tem. É imprescindível, ao se trabalhar com Psicologia em ambiente
hospitalar, entender-se que ali não se faz somente Psicologia, mas sim Psicologia
Médica. E por psicologia médica se entende o estudo das situações psicológicas
envolvidas na questão mais ampla de saúde do paciente, com destaque para o aspecto da
saúde orgânica. Os aspectos psicológicos são vistos e tratados como associados à
questão de saúde física, não devendo desta ser dissociados. Não se trata de diminuir a
importância da psicologia, mas sim de adequá-la, para uma maior eficiência.
Dentro desta visão tradicional, a essência do atendimento era feita pelo médico, que
prescrevia medicamentos ou condutas que eram executados por ele próprio, (como nos
atos cirúrgicos), ou por outros profissionais, o enfermeiro e o auxiliar de enfermagem
(nos curativos e administração de remédios ou procedimentos) e eram recebidos pelo
paciente, sempre passivo. A compreensão nesta época, e, lamentavelmente, em algumas
práticas ainda vigentes hoje, era a de que se o doutor prescreveu, o paciente seguiria as
instruções fornecidas pelos profissionais, e se curaria. Porém, como hoje é sobejamente
conhecido, isto não é verdade.
Porém, a própria prática viria a demonstrar a necessidade de uma maior integração entre
estes profissionais. Passou-se, em seguida, a contar com a existência de algumas
equipes interdisciplinares, com os membros da equipe interagindo entre si, em busca de
uma melhor qualidade de vida para os pacientes. Hoje, no Brasil, ainda temos muitos
hospitais tradicionais, que funcionam somente com médicos, enfermeiros e auxiliares de
enfermagem, especialmente os hospitais privados ou de pequenas cidades. Temos
hospitais que já admitem a presença de outros profissionais da saúde, principalmente
nutricionistas e fisioterapeutas. Temos hospitais que admitem todos os profissionais
necessários, incluindo psicólogo biomédico, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas
ocupacionais e outros, mas que ainda vivem situações de equipes multiprofissionais,
sem grande interação entre os profissionais. E, finalmente temos hospitais, em geral
universitários ou em grandes centros urbanos, que possuem equipes interdisciplinares,
com grande interação entre os membros.
Além disto, o psicólogo deve fazer uma análise das condições relacionais que encontra
naquele ambulatório ou enfermaria. Quem fez o pedido para a presença do psicólogo?
Qual o nível de poder que este indivíduo detém? O quanto o trabalho do psicólogo é
realmente desejado e compreendido? Quanto de suas sugestões, seja de aspectos do
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Neste contexto de ter suas ações exercidas por outros profissionais, a situação da Psicologia é peculiar,
visco que o psicólogo trabalha basicamente com conselhos ou orientações de condutas que são verbais e,
conseqüentemente, não assumem formas concretas fisicamente, como uma prescrição de dietas, um
exercício ou um programa de atividades. E conselho, aparentemente, qualquer um pode dar. Esta talvez
seja uma das dificuldades pela qual a Psicologia passa, pois para exercer a ação do Psicólogo, sem sê-lo,
basta falar com as outras pessoas.
Assim, a atividade do Psicólogo era e é freqüentemente exercida por outros profissionais. Isto ainda é um
dos fatores geradores de ausência do psicólogo em muitos hospitais e em muitas práticas hospitalares e de
conflitos em muitas equipes onde trabalha o Psicólogo, mas onde ainda não existe uma verdadeira
interdisciplinariedade.
atendimento aos pacientes, seja de aspectos funcionais da enfermaria ou do ambulatório,
serão bem acolhidas?
O paciente cirúrgico
O Psicólogo deve atuar como estimulador de que o médico que vai fazer a cirurgia
esclareça ao "paciente os motivos desta, o tipo, a duração e as conseqüências. Cirurgias
são atos invasivos, radicais, programados para solucionar ou aliviar um problema do
paciente mas, pela própria natureza invasiva, deixam seqüelas que precisam ser bem
justificadas e explicadas. A responsabilidade da explicação e do principal agente do ato.
No caso da criança, cuja capacidade de abstração é menor, esta informação deve ser
dada de uma maneira concreta, para que se torne compreensível. Em nossa experiência
no H.C.F.M.R.P.U.S.P, a criança vivência, dias antes da cirurgia, concretamente, as
experiências que vai ter, enquanto estiver acordada, no dia da cirurgia, como o que e ir
ao centro cirúrgico, como é ver seu médico e enfermeiro usando roupas especiais e
máscaras e também qual é o efeito das pomadas anestésicas pré injeção de anestesia
(Gorayeb et al., 2000).
Todavia, a solução do problema do ponto de vista orgânico não é simples. Uma série de
exames, alguns dolorosos e de procedimentos demorados, são necessários para o
diagnóstico e preparatórios para o uso de uma técnica de fertilização assistida, como
inseminação artificial ou implantação de óvulos fertilizados "in vitro'', como tentativa e
solução do problema. E como isto toma tempo, envolve muitos gastos financeiros por
parte do casal e não há certeza do sucesso, cria-se condições ideais para o
desenvolvimento de uma situação extremamente estressante, se não houver o devido
apoio psicológico.
A experiência que temos é de lidar com casais no início de sua fase diagnostica, quando
vários exames físicos são necessários. Neste momento os pacientes são triados pelo
médico e assistente social, para participar do programa de Fertilização Assistida.
Colocamo-nos cormo membros da equipe propondo apoiar o casal, se este julgar
necessário. É interessante notar que, neste momento, os casais não têm demanda para o
atendimento psicológico e, somente uma pequena minoria, com alguma problemática
pessoal ou de relacionamento, decide usar o apoio psicológico. Depois de completados
os exames, quando o casal é encaminhado para o Laboratório de Ginecologia, onde se
dará o processo de fertilização assistida, novamente todos os casais são convidados a
participar de sessões de grupo de apoio psicológico e informação médica sobre os
procedimentos.
Grande parte dos casais convidados (cerca de 50%) comparece às sessões de apoio que
consistem de um conjunto de 4 a 5 reuniões de uma hora e meia de duração, com a
participação do psicólogo em todas as sessões e do medico ou enfermeiro em uma ou
duas sessões, para o esclarecimento de duvidas sobre diagnostico e/ou exames. Nestas
sessões criam-se condições para que haja um apoio psicológico, redução da tensão,
inclusive com treino de relaxamento muscular.
Nesta situação, o essencial da ação do psicólogo é ser capaz de fazer uma rápida análise
da situação para identificar a origem do problema e, mesmo não sendo membro
permanente da equipe, comportar-se provisoriamente como se fosse. Procurar envolver
os outros profissionais numa melhor relação médico-paciente ou enfermeiro-paciente,
identificar ações que possam surtir efeitos imediatos, como estimular o médico a melhor
esclarecer o problema do paciente, solicitar ao serviço social que providencie condições
para que os familiares venham visitar o paciente e, especialmente, ouvir, apoiar e
permitir ampla ventilação ao paciente.
O paciente terminal
Um tema que não poderia deixar de ser abordado nesta breve exposição e a questão do
papel do psicólogo Junto ao paciente cujo diagnóstico é extremamente grave e cujo
prognóstico é a terminalidade, breve ou remota. São pacientes que a princípio têm
dificuldade de aceitar seu diagnóstico ou prognóstico e para os quais a disponibilidade
da equipe deve ser grande. A Organização Mundial da Saúde recomenda que a
informação da terminalidade seja dada pelo medico responsável pelo atendimento (Worl
Health Organization, 1993). Mas o problema psicológico do paciente não termina com
esta comunicação. Na realidade, com a comunicação é que o problema psicológico do
paciente começa. A partir daí a presença continuada do psicólogo é fundamental para. o
paciente evoluir favoravelmente em seu processo de compreensão e aceitação do que
vai acontecer em sua vida. Este processo, pelo tempo que toma e pelas características
que tem, e o que mais se assemelha aos processos psicoterápicos tradicionais, com
sessões regulares repetindo-se sucessivamente.
A segunda é a necessidade de olhar para a equipe e tentar avaliar como esta se posiciona
perante os óbitos que ocorrem durante seu trabalho. Em algumas áreas da medicina,
como no tratamento de neoplasias, AIDS ou em procedimentos específicos como
transplante de medula óssea, radioterapia e quimioterapia, os profissionais da equipe são
expostos a índices elevados de óbitos. Isto, por mais que não se revele abertamente,
afeta o estado emocional dos profissionais envolvidos. O psicólogo precisa avaliar a
oportunidade de intervir terapeuticamente junto a. equipe, sem deixar de ser um
membro dela, ou mesmo, se avaliar que isto é necessário, propor que algum outro
profissional, estranho à equipe, o faça.
A clareza para lidar com este tema que na cultura ocidental constitui-se em um tabu
pouco conversado, facilita o trabalho do psicólogo junto à equipe e especialmente junto
ao paciente. Não deve o psicólogo desconsiderar as necessidades que os familiares,
especialmente de pacientes mais jovens, têm de receber apoio e orientação psicológica.
Considerações finais
Neste breve espaço destacaram-se aspectos considerados importantes para uma atuação
adequada do psicólogo hospitalar, analisando como isto poderia ocorrer em algumas
áreas de atuação. Mas algumas considerações finais precisam ser efetuadas.
Outra consideração que precisa ser feita é relativa ao fornecimento de informação aos
pacientes. A informação e outro direito essencial do paciente. Dar informação é
obrigação dos profissionais, principalmente do médico e um direito fundamental do
paciente. Garantir que a informação foi dada e compreendida é parte integrante do
trabalho do psicólogo. Este deve utilizar todo seu conhecimento, como um especialista
em aprendizagem, para que a informação chegue ao paciente em seu nível de
processamento e não dentro de uma linguagem técnica hermética, que às vezes só
esconde a incompetência para relacionamento interpessoal de quem a forneceu. É
imprescindível lembrar-se que informação é parte do processo terapêutico para o
paciente internado. Bem informado o paciente evolui melhor e mais rápido e sofre
menos psicologicamente.
Este relato cobriu uma série de áreas de atuação do psicólogo em hospitais, mas
certamente não todas. Não estão aqui descritas, por exemplo, as atuações possíveis de
psicólogos em unidades de Emergência, na internação infantil, (excetuada a internação
cirúrgica), na obstetrícia e em muitas outras clínicas médicas, cada uma com suas
peculiaridades. Também não estão descritas as possibilidades de atuação do psicólogo
como terapeuta de equipes especiais de saúde, que lidam com problemáticas dolorosas
para a própria equipe, como morte e desfiguração ou mesmo as possibilidades de atuar
terapeuticamente junto à problemática relacional de equipes.
Referências bibliográficas
The Psychology of Facial Disfigurement (The PFD). (1996). A guide for health
professionals. London: Changing Faces.