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HOSPITALAR
Atuação do psicólogo
no hospital
Maria Beatriz Rodrigues
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A vida preserva momentos de crescimento e de crise durante o desenvolvimento
humano. Em momentos críticos, esse desenvolvimento pode sofrer interrupções
abruptas quando o sujeito enfrenta riscos e ameaças à vida. Essas crises,
ou momentos críticos, muitas vezes são vividas no hospital, onde as pessoas
que o frequentam, doentes ou não, estão sujeitas a alta ansiedade, tristeza,
desespero, angústia e inúmeros outros sentimentos diante de perdas.
O trabalho do psicólogo hospitalar ocorre nessa realidade, com o atendi-
mento de diferentes pessoas – pacientes, familiares e equipe hospitalar – em
ambientes nem sempre adequados, devido à pressão do tempo de internação
e de outros procedimentos necessários para o tratamento clínico. Portanto,
o atendimento do psicólogo no hospital é flexível e adaptável às condições
específicas de cada caso. Isso exige um preparo especial do profissional que
atua nesse campo, pois ele deve ter paciência, tolerância e compreensão, bem
como habilidades de relacionamento, olhar crítico, escuta atenta e presteza
na tomada de decisões.
2 Atuação do psicólogo no hospital
Diminuição do estigma.
Maior proximidade e acesso.
Maior transparência nos cuidados.
Melhor atenção à saúde física.
Possibilidade de intercâmbio disciplinar.
Formulação diagnóstica
O paciente tem um transtorno mental?
Em caso afirmativo, qual é a provável etiologia?
Como o paciente reage à doença e à hospitalização?
Ele tem esperança, deseja viver?
Com quem ele pode contar para ajudá-lo?
Há dificuldades na relação do médico e da equipe assistencial com o
paciente?
Há problemas institucionais agudos que estejam afetando os cuidados
dedicados ao paciente?
Manejo
O que de mais urgente precisa ser feito?
Como reduzir o impacto de fatores estressantes?
Como ajudar o paciente a enfrentá-los?
Qual é o tratamento adequado para o transtorno mental específico?
Qual medicamento é o mais indicado nessa condição clínica?
Há risco de auto ou heteroagressão?
O paciente pode ser considerado capaz de aceitar ou recusar tratamento?
Quanto à continuidade do tratamento: qual, em que local, por meio de
quem?
Memória
Episódica recente: verifique se o paciente se recorda que está doente e
com qual detalhamento. Questione se ele tem se esquecido de onde guarda
pertences, de compromissos ou de pagar contas. Verifique se ele tem
dificuldades para registrar conversas e leituras e se está falando de forma
repetitiva.
Episódica remota: pergunte em que escola ele estudou, qual era o nome dos
professores, quem foram seus antigos namorados, em que cidades viveu,
quais empregos teve, para onde viajou.
Semântica: questione sobre o significado de determinadas palavras.
Verifique conhecimentos gerais e fatos históricos e se o paciente apresenta
discurso vazio, com o uso de palavras genéricas.
De trabalho: verifique se o paciente esquece o fogão ligado ou o que
planejou pegar no armário. Peça a ele que repita uma sequência em ordem
direta e inversa.
Procedural: indague sobre as dificuldades do paciente em andar de
bicicleta, dirigir, escrever, usar talheres e manusear ferramentas e
utensílios de cozinha.
(Continua)
12 Atuação do psicólogo no hospital
(Continuação)
Linguagem
Afasia fluente: verifique se o paciente está compreendendo a conversa.
Observe discursos vazios, com circunlóquios e parafasias semânticas (p.
ex., dizer “chefe”, em vez de “presidente”). Teste o paciente, solicitando
a ele siga que instruções como “toque a sua perna direita com a sua mão
esquerda”.
Afasia não fluente: verifique se há hesitação na fala, disprosódia (perda
de entonação), erros fonêmicos e sintáticos de linguagem, parafasias
fonêmicas (dizer “sefalote”, em vez de “elefante”). Teste se ele apresenta
dificuldades em repetir frases.
Anomia: observe se ele tem dificuldades em nomear objetos, lugares e
pessoas (“está na ponta da língua”).
Habilidades visuoespaciais
Questione sobre dificuldades de reconhecimento visual de lugares
(desorientação espacial) e faces (prosopagnosia). Teste se ele tem
dificuldades de leitura (alexia) ou em copiar desenhos (cubos, pentágonos
interceptados, etc.).
Atenção
Déficits de atenção podem causar sintomas semelhantes aos de déficit de
memória de trabalho, como esquecer torneiras abertas, gás ligado, portas
abertas, etc. Teste o paciente, solicitando a ele que faça cálculos do tipo
subtração simples e que diga os meses do ano de trás para a frente.
Funções executivas
Pergunte se ele tem dificuldades para lavar roupas, cozinhar, calcular o
troco, usar o caixa eletrônico, tomar banho. Teste a capacidade do paciente
de julgamento, com noções de perigo, de conduta social e de abstração,
com a interpretação de provérbios, semelhanças e diferenças.
Praxias
Verifique se o paciente tem dificuldades para escrever uma sentença,
desenhar, assinar documentos, dirigir, caminhar, digitar, usar talheres,
escovar os dentes, acenar, pentear o cabelo.
Referências
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Leituras recomendadas
AZEVÊDO, A. V. S.; CREPALDI, M. A. A psicologia no hospital geral: aspectos históricos,
conceituais e práticos. Estudos de Psicologia, v. 33, n. 4, 2016.