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A PERSPECTIVA SUBJETIVA DE IDOSOS EM INTERNAÇÃO HOSPITALAR

ANA Cecilia Lopes FERNANDES; DÉBORA Eduarda MOTA; FERNANDA Lacerda


CORDEIRO, KAROLINE Vitória Soares de JESUS; STEFFANY Carine de OLIVEIRA;
THALYTA Amaral ROSA

Curso de Psicologia do Centro Universitário de Patos de Minas. E-mails: analopes1@unipam.edu.br;


deboramota@unipam.ed.br; fernandacordeiro@unipam.edu.br; karolinesoares@unipam.edu.br;
steffanyoliveira381@unipam.edu.br; thalytaamaral@unipam.edu.br.

RESUMO

A psicologia hospitalar tem construído sua história, passo a passo, considerando que há
menos de duas décadas, a atuação do psicólogo em instituições hospitalares não estava
regulamentada como uma ampla e necessária práxis psicológica. Nos hospitais gerais, a
escuta terapêutica com usuários e familiares é imprescindível. Este estudo teve como
objetivo, notar a realidade do idoso na questão hospitalar, como são tratados, como lidam
com a falta ou a presença de seus familiares e com o processo de internação. Portanto, foram
entrevistados 6 idosos que estão em processo de internação, realizadas de forma presencial e
com perguntas direcionadas ao tema. Os entrevistados destacam a importância da visita
dentro do contexto hospitalar, a importância da equipe multidisciplinar que se encontra no
local e por fim o atendimento recebido e sua qualidade.

Palavras-chave: Psicologia Hospitalar, idosos, psicogerontologia, entrevista psicológica

1. INTRODUÇÃO

A psicologia hospitalar busca o acolhimento referente a sofrimentos psíquicos


resultantes de patologias e internações, ações, pesquisas, assistência aos pacientes de todas as
idades e seus familiares. (NETO, 2017). De acordo com o Conselho Regional de Psicologia –
CFP (2007) o acompanhamento psicológico pode ser realizado em diferentes especialidades
médicas e em diferentes modalidades.
Cabe ao psicólogo e outros profissionais de saúde no contexto hospitalar, atenção
ao estado do paciente e seus familiares, assim como a negação, passividade, inconformismo e
outras reações emocionais. Objetivando dar voz a subjetividade, aproximação ao paciente,
trabalhando na elaboração e validação de sentimentos presentes. Em uma equipe
multidisciplinar, busca atuar favorecendo novas compreensões do paciente adoecido.
(CFP,2019).
Segundo Simonetti (2004) cabe principalmente ao psicólogo avaliar e intervir,
através do acompanhamento sistemático, da ajuda e do tratamento na realidade psíquica do
paciente. Portanto, é necessário compreender que o doente vai além de saber apenas o nome,
filiação, estado civil, profissão, idade. No que se refere a população de idosos no Brasil, entre
2020 e 2025, o país pode ser o sexto no mundo com 12,4% da população (30 milhões) acima
de 60 anos. (Veras, 2009; Ramos, 2009; Campolina, Dini & Ciconelli, 2011 apud Neves et al,
2013).
Considerando esse contexto, Morais (2009) aponta que o envelhecimento

“[...]é marcado por peculiaridades de cada indivíduo, tornando-se necessário


levar em consideração a capacidade de manutenção funcional ou
disfuncional do idoso para realizar suas atividades cotidianas, já que a
maneira de enfrentar o processo desencadeado pelo envelhecimento
contribui para a qualidade de vida na velhice” (MORAIS, 2009, p.848).

Portanto, a atuação do psicólogo hospitalar ao idoso tem características


específicas, que envolvem fatores relacionados ao contexto familiar, a equipe de saúde, a
medicalização, fisiologia, tratamentos, contexto social, além de outras questões que podem
afetar significativamente nas estratégias adotadas pelo psicólogo hospitalar. Assim, é de
extrema importância o contato com outras equipes multidisciplinares, contato com a família
do idoso que pode proceder de ansiedade, preocupação com seu familiar e vice-versa
(LUSTOSA, 2007).
De acordo com Giacomini (2010), na pesquisa realizada com pacientes idosas,
observaram queixas sobre a ausência dos filhos e netos, evidenciando o quanto que a presença
da família na enfermaria a deixavam felizes, por estarem na companhia de pessoas que
amavam. Além disso, relataram estar contentes com a equipe de enfermagem, mas que nem
todos agiam de forma agradável. Algumas participantes da pesquisa também relacionaram a
internação com a falta de liberdade.
Sendo assim, este trabalho, por meio de entrevistas psicológicas no contexto
hospitalar, buscou compreender como o idoso vivencia o processo de internação.

2. METODOLOGIA
Para a construção do trabalho foi realizada inicialmente uma pesquisa
bibliográfica nos sites Scielo, Google Acadêmico, utilizando como parâmetro para a busca as
palavras-chaves: Psicologia Hospitalar, idosos, psicogerontologia, entrevista psicológica. Em
seguida, o grupo realizou seis entrevistas semiestruturadas com idosos(as) em processo de
internação em um hospital público localizado no interior de Minas Gerais. A entrevista foi
composta por perguntas relacionadas ao tema. Todas foram realizadas de forma presencial,
após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos(as)
participantes.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Um ambiente hospitalar adequado para um idoso, requer muitas particularidades.


Diante de como o processo de internação foi vivenciado por eles, destacamos a
importância das visitas no ambiente hospitalar, o atendimento que o mesmo recebe no local e
a importância da equipe multidisciplinar.

3.1 A importância das visitas com idosos

Durante as entrevistas ficaram evidentes a importância das visitas dos familiares


para o paciente que se encontra em processo de internação. Na maior parte das respostas, os
entrevistados relataram que recebem visitas diariamente e que tem um acompanhante. É
importante salientar como as visitas no ambiente hospitalar são importantes, ajudando no
prognóstico e na distração do paciente durante aquele espaço de tempo. A visita o deixa mais
próximo de seu contexto social, e do mundo externo por meio de notícias. Portanto, através de
nossas entrevistas e pesquisas feitas em artigos científicos, foi possível perceber que visitas
auxiliam no processo de internação.
Quando o indivíduo adoece, sendo necessária à sua internação, ele perde parte do
contato com sua família, o que pode fazer com que se desestruture física e emocionalmente.
Por isso, é tão importante sempre ser frequente a visita de alguém, principalmente da família.
Esta tarefa e a arte de cuidar de um familiar doente, seja ele adulto ou idoso, são exercidas
tanto no âmbito hospitalar como no domicílio. José1, 75 anos, relata que durante o período em

1
Para garantir o anonimato dos(as) entrevistados(as) foram utilizados nomes fictícios.
que estava na UTI, recebeu muitas visitas diárias. No entanto, após ser transferido para o leito
normal, por ser recente, o entrevistado relata que ainda não recebeu visitas, com exceção da
presença do acompanhante, que mesmo sendo cada dia um acompanhante diferente é um
suporte valioso para o entrevistado durante sua internação.

3.2 Atendimento a idosos

O atendimento no hospital com idosos requer uma abordagem especializada e


sensível às necessidades dessa população. A complexidade das condições de saúde associadas
ao envelhecimento demanda uma equipe de profissionais capacitados, incluindo médicos
geriatras, enfermeiros especializados em cuidados geriátricos e fisioterapeutas especializados
em reabilitação geriátrica. É essencial considerar as particularidades físicas, cognitivas e
emocionais dos idosos durante todo o processo de atendimento hospitalar, desde a admissão
até a alta. Simone, 84 anos relatou: “Eu falo assim é um hotel cinco estrelas, as meninas é
uma maravilha. Os médicos a gente não sabe nem quem é quem, tudo carinhoso, tudo bom
pra gente.”
Assim, Albuquerque et al. (2012) enfoca a importância do treinamento
especializado dos profissionais de saúde para aprimorar a qualidade do atendimento aos
idosos hospitalizados. Essas evidências respaldam a necessidade de uma abordagem holística
e individualizada para promover a segurança, o conforto e a recuperação adequada dos idosos
durante sua estadia hospitalar.
Além disso, é importante garantir uma comunicação efetiva com os pacientes
idosos, promovendo a compreensão e participação ativa no plano de cuidados. Estudos como
o de Paulin et al. (2014) destacam a importância de estratégias de atendimento centradas no
idoso, com ênfase no uso de abordagens multidisciplinares para otimizar os resultados e a
experiência do paciente.
Rogério, 64 anos, relatou: “O tratamento é excelente, todos os profissionais muito
atenciosos e prestativos, gosto de todos os profissionais que trabalham neste hospital”
Francisco, 78 anos, avaliou “o atendimento é bom, gosto muito, todos me tratam
muito bem, sempre vem algum profissional me ver.”
Todos os entrevistados relataram ótimo atendimento do hospital.

3.3 A importância da Equipe Multidisciplinar


A abordagem da equipe multidisciplinar em gerontogeriatria garante ao paciente
idoso um acompanhamento de todas as suas necessidades e dos diversos aspectos que
envolvem o envelhecimento (BARRETO et al., 2019 apud DA SILVA, 2017). Os
profissionais que compõe a equipe interdisciplinar podem ter: fisioterapeuta, enfermeiro(a),
terapeuta ocupacional, entre outros. Dessa forma, a qualidade de vida do paciente é prezada e
promove-se uma finitude digna. A teoria do autocuidado pode ser implementada pela equipe
interdisciplinar relacionada com a qualidade de vida do idoso, a fim de proporcionar a prática
de atividades, nas quais o indivíduo inicia e executa em seu próprio benefício, manutenção da
vida, a saúde e o bem bestar (DA CRUZ et al., 2021 apud DA SILVA, 2017).
Com a ajuda dos profissionais abordagem da equipe, ajudam a melhorar
alimentação e controle do peso, diminuição dos fatores de risco para doenças cardíacas,
orientar o processo de recuperação de doenças musculares e articulares, orientar os
participantes na prática de atividade física para melhor condicionamento físico, dentre outras
atividades proporcionadas para os idosos.
Francisco citou: “já fui acolhido por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e
psicólogos”.
Além disso, ao perguntar o que gostava de fazer ao tempo livre, disse: “gosto de
conversar com os funcionários, me ajuda a distrair um pouco.”
Assim, o conceito de qualidade de vida está relacionado à autoestima e ao bem-
estar pessoal e abrange um amplo espectro como: capacidade funcional, nível
socioeconômico, estado emocional, interação social, atividade intelectual, autocuidado,
suporte familiar, vários outros. A interação com a equipe multiprofissional e a abordagem
com que a equipe de profissionais da saúde proporciona maior segurança no desempenho aos
idosos.
José salientou: “fui acolhido por muitos profissionais, médicos, enfermeiros,
fisioterapeutas e psicólogos”. Embora ele não consiga se lembrar de todos os profissionais
que o atenderam, destacou que foram os enfermeiros que tiveram uma presente mais
constante em sua jornada hospitalar.
Portanto, a atuação conjunta proporciona diversos benefícios ao paciente, nos
principais pilares do envelhecimento com saúde e a qualidade de vida ao longo de todo o
processo do envelhecimento biopsicossocial, com melhor controle e diminuição de fatores de
riscos para diversas doenças, trazendo um envelhecimento saudável para esses idosos
(PULGA et al., 2019 apud DA SILVA, 2017).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da problemática exposta, foi possível percebermos a importância de visitas


regulares a pessoas internadas no contexto hospitalar. Ao longo dessas entrevistas, valiosas
considerações foram feitas por parte dos entrevistados.
Nesse sentido, é perceptível a ligação entre visitas ao hospital com a maior
aceitação dos tratamentos ali propostos.
Foi relatado durante a entrevista pelos pacientes a importância do atendimento, foi
dito o quanto o atendimento por parte das mais diversas áreas e profissionais é excelente. A
qualidade do atendimento também faz a diferença para que esse processo de internação seja
mais humanizado.
Entretanto, é fundamental um conjunto de fatores, como, familiares, equipe
multidisciplinar para uma maior qualidade do tratamento do idoso tanto no contexto
hospitalar, quanto fora deste contexto.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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participantes e participantes de grupos de intervenção multidisciplinar na atenção primária à
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