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2008
Fátima Lucchesi *
Paula Costa Mosca Macedo **
Mario Alfredo De Marco***
RESUMO
A UTI é um setor que oferece cuidados aos pacientes que apresentam instabilidade
estado geral de saúde dos pacientes. Este ambiente também expõe o paciente a situações
numa modificação da dinâmica familiar. A equipe também poderá vir a ser bastante
solicitada pelo paciente e familiares, tanto do ponto de vista técnico como também do ponto
tudo que envolve este cuidado causam impacto na equipe cuidadora e faz com que esta
Ligação em Saúde Mental na UTI do Hospital São Paulo/UNIFESP atua na tríade paciente-
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ABSTRACT
This Intensive Care Unit is a service that gives care to the patients presenter serious
clinical instability, and complication treatment’s for survive and improvement patients
health. These place exposes the patient to the difficult emotional situations and is necessary
especial attention. The sickening a complicate time for a person and this family dynamic.
The multidisciplinary health team is an essential support regarding both the physical and
emotional aspects. An intensive care situation exposes doctors, patient and patient’s family
to emotionally difficult stances, which may reflect on a less than optimal health care
delivery. The São Paulo Hospital Mental Health in the Intensive Care Unit Program
focusing on doctors, patient and patient’s family aims at showing doctors the impact of
both the good handling of emotional stress and the psycho-social orientation delivered to
the patient’s family on patient recovery. Having doctors discussing the issue and helping
them to improve their communications and emotional skills, are the main activities
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Introdução
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um setor que oferece cuidados aos pacientes
Seu ambiente frequentemente é avaliado como altamente estressante tanto pelos pacientes e
seus familiares, quanto pela equipe de saúde que atua na unidade. É uma unidade
sedação, porém observa-se que aqueles pacientes que permanecem conscientes e são
modificação da dinâmica familiar. A angústia que emerge do contato mais próximo com o
dinâmica familiar.
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tomada de decisões em momentos críticos, além dos dilemas éticos como a questão sobre o
prolongamento ou não da vida em casos sem prognóstico. Outro aspecto fundamental neste
que para tal objetivo estão incluídos outros aspectos relacionados a condições clínicas do
O Paciente na UTI
submetido a situações que podem gerar ansiedade, tais como: a dor, o sofrimento, a solidão
e o medo da morte. Outro fator gerador de angústias são as influências do ambiente, com
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dos ciclos circadianos, procedimentos invasivos, desconforto e as privações sensório-
motoras.
necessário que as causas para tais alterações dos níveis de consciência e de comportamento
sejam identificadas e tratadas, ao mesmo tempo em que a equipe seja treinada para fazer
intervenções no ambiente como, por exemplo, a diminuição dos estímulos táteis, visuais e
Desta forma a equipe proporcionará ao paciente um ambiente de cuidado para que ele possa
agressividade, alterações de sono ou apetite, merecem atenção especial, pois podem indicar
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suas emoções, sentimentos, esclarecer fantasias que possam prejudicar seu tratamento (ex:
estar na UTI necessariamente não implica em morrer), ajudá-lo a buscar recursos internos
para enfrentar suas dificuldades, fortalecer as motivações de sua vida (ex: vínculos
sua tarefa assistencial, para que desta forma o profissional seja um facilitador para a
preciso que todos ali, independentemente de sua função, se aprimorem ainda mais em
psicológicas latentes.
O Cuidado à Família
A família pode ser compreendida como um sistema, onde cada membro exerce uma
função e possibilita a existência de uma dinâmica que tem seu próprio funcionamento. No
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Geralmente a equipe médica que cuida do paciente concentra nele seus investimentos,
dedicando à família menos tempo. Tal fato pode ser compreendido pela própria
especificidade do trabalho que é o cuidado do doente grave, mas também, pelo uso intenso
Outras fontes de ansiedade para a família, além do próprio abalo do estado de saúde do
A maneira como a família irá lidar com tal situação depende de sua história familiar,
do quanto o sistema era saudável emocionalmente e dos mecanismos de defesa que utilizam
de sensação de desespero, que poderá ser substituído gradativamente por uma capacidade
maior de suportar e de lidar com a realidade. Os sentimentos envolvidos neste processo são
relação à equipe, medo, preocupação, raiva, exaustão, entre outros. Acrescenta-se ainda a
dificuldade desta em compreender com clareza as informações médicas que lhe são
condições do paciente, mas é importante lembrarmos que as famílias possuem uma escuta
seletiva, ou seja, em situações de estresse alto, escutam aquilo que é menos difícil de
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especializado, acessar suas necessidades momentâneas, assim como planejar e executar
intervenções que irão refletir no bem-estar dos familiares. Observa-se na prática, que frente
na mesma condição e mesmo por experiências outrora vividas, e aqui cabe identificar uma
diferenciar as realidades de cada caso como, por exemplo, quando há piora ou óbito de
algum paciente na UTI, as outras famílias podem se sentir ameaçadas, identificadas e mais
angustiadas.
grupo aquele(s) que mostrar ter mais estrutura de personalidade e recursos internos mais
preservados, pois esta aliança poderá ser de grande valia durante o percurso da internação
na UTI, uma vez que esta pessoa poderá ser um elo facilitador da relação equipe-família.
espera são muito importantes, pois promovem acolhimento e alívio da angústia por eles
vínculos de confiança.
magnitude da tarefa à qual estamos nos referindo, o tratamento de pacientes críticos, que
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equipe; além é claro da atenção aos familiares, que solicitam esta mesma equipe e
equipe multiprofissional na UTI propõe uma necessária integração entre as diferentes áreas
de trabalho.
Um fator importante a ser considerado diz respeito aos processos de comunicação entre
cuidadosa das particularidades do caso, visando uma abrangência maior da situação, dentro
estratégia resiliente para lidar com as angústias que são mobilizadas e as dificuldades que
emergem do contato direto com os pacientes graves, com seus familiares, e com as
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situações de trabalho que suscitam sentimentos muito fortes e contraditórios, como por
exemplo, aqueles pacientes que respondem com hostilidade e agressividade aos cuidados.
insatisfação tanto para o profissional como para os clientes externos (familiares e pacientes)
sentimentos, que se expressa por um embotamento emocional traduzido por uma aparente
"frieza" no contato com os pacientes e com as pessoas de um modo geral, ou ainda o uso de
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então a circulação das informações, a interdisciplinariedade e a tomada de melhores
condutas. As diferenças de formação dos profissionais de cada área poderão ser adaptadas e
atender as demandas desta unidade. Desta forma a importância deste tipo de abordagem
visa ressaltar a pertinência das intervenções oferecidas pelo serviço de saúde mental no
Leituras Recomendadas:
- DEJOURS, C - A Loucura do Trabalho. Estudo sobre a psicopatologia do trabalho.
ED. Cortez - Oboré. São Paulo, 1987.
- DE MARCO, M A (org). A Face Humana da Medicina. Ed Casa do Psicólogo, 2004.
- DE MARCO, M A - Do Modelo Biomédico ao Modelo Biopsicossocial: Um Projeto de
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- PITTA, AMF - Hospital, dor e morte como ofício. Hucitec, 2°ed.,São Paulo, 1991.
- ZIMMERMAN, PR; BERTUOL, CS – O paciente na UTI. In Pratica Psiquiátrica no
Hospital Geral: Interconsulta e Emergência. Botega, NJ. (org).– Porto Alegre: Artmed
Editora, 2002.
Sobre os autores:
*Psicóloga do Serviço de Atenção Psicossocial Integrada em Saúde (SAPIS/UNIFESP).
Responsável pelo Programa de Ligação em Saúde Mental da Unidade de Terapia Intensiva
Geral do Hospital São Paulo.
**Psicóloga do Serviço de Atenção Psicossocial Integrada em Saúde (SAPIS/UNIFESP),
Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Mestre em Saúde Mental pela UNIFESP.
Coordenadora do Programa de Capacitação e Assessoria ao Profissional de Saúde do
SAPIS. paulammacedo@gmail.com
***Professor Associado do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Coordenador
Geral do Serviço de Atenção Psicossocial Integrada em Saúde (SAPIS). Vice-chefe do
Departamento de Psiquiatria, EPM-UNIFESP.
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