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Um dos principais desafios da psicologia hospitalar tem sido fundamen- tar e desenvolver

técnicas de intervenção psicológica que atendam às demandas específicas de ambientes


hospitalares diferenciados. A teoria que muito tem auxiliado na consecução dessa tarefa é
a teoria de crise, originada da teoria psicanalítica e de suas derivações em psicoterapia
breve*. As diferentes respostas emocionais e a gravidade das repercus- sões durante e
após a crise revelam a necessidade de aplicação de intervenções psicológicas.

A crise é compreendida como um estado psicológico transitório, em que o fator


desencadeante é o desequilíbrio entre a per- cepção da dificuldade, a importância do
problema e os recursos dispo- níveis para sua solução.

Entretanto, outras pessoas são propensas a desenvolver quadros emocionais mais graves
e crônicos, podendo até constituir novos modos de enfrentamen- to de vida após a crise.

As diferentes respostas clínicas diante das situações de crise tornam a intervenção


psicológica necessária não somente pelo caráter imediato de sua solução (objetivo de
algumas técnicas), mas também pelo caráter preventivo, pois podem ser realizadas
avaliação global de risco psicológi- co e intervenções com o objetivo de prevenir novos
episódios de crise.

As intervenções psicológicas com os pacientes em crise no contexto hospitalar devem


levar em conta, essencialmente, a avaliação das con- dições emocionais para tolerar
abordagens técnicas que sejam geradoras de ansiedade

No hospital-geral, há indicações frequentes para atendimentos de pa- cientes e/ou


familiares em situações como: • crise depressiva reacional; • ansiedade pré ou pós-
operatória; • diante de procedimentos invasivos; • adaptação a novas situações clínicas; •
reação emocional diante de decisões de tratamento clínico; • reação aguda de luto de
pacientes ou familiares.3 As contraindicações consistem em retardo mental severo,
transtor- nos factícios, prejuízo de memória recente significativa, agressividade
(oferecendo perigo ao terapeuta) e recusa do paciente em aderir ao tratamento. Entre as
técnicas supressoras de ansiedade, encontram-se diferentes modalidades
psicodinâmicas10,11 e de psicoterapia de apoio com utiliza- ção de técnicas cognitivo-
comportamentais e de aprendizagem.

escolha da intervenção psicológica deve ser fundamentada em uma avaliação inicial, que
deve considerar as possíveis inter-relações entre as manifestações atuais do paciente e os
seguintes aspectos:
local específico em que o paciente se encontra; “urgência” de atendimento e solução do
problema, que deve ser gra- duada, tendo como referência a necessidade psíquica e clínica
de tra- tamento; histórico e diagnóstico clínico atual; diagnóstico de dinâmica psíquica
desenvolvida com o foco inicial na identificação do funcionamento psíquico, de
mecanismos de defesas predominantes, do nível de organização estrutural da
personalidade bem como dos aspectos sadios ou adaptativos; fatores ambientais:
privações, perdas, doenças físicas, problemas evo- lutivos, ambiente familiar, recursos do
ambiente e da comunidade.

As técnicas e intervenções psicológicas também se diferenciam segun- do as


necessidades do paciente, as limitações do ambiente e do contexto e as interferências e
inter-relações com a equipe assistencial e a família. Para discutir esses aspectos, será
seguida uma sequência de intervenções por meio da apresentação.

MANEJO ASSISTENCIAL O manejo da situação de crise deve abranger, muitas vezes, o


trabalho di- reto com a equipe, a despeito da possibilidade de intervenção psicológica
diretamente com o paciente ou com seus familiares. Assim, a análise da dinâmica
hospitalar passa pelo reconhecimento de que a equipe de saú- de compõe o setting no
qual o psicólogo irá atuar, permitindo o manejo assistencial com a equipe
multiprofissional.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O conhecimento da interface físico-psíquica envolvida no


processo de adoecimento do paciente é de vital importância para que a intervenção
psicológica seja efetiva. Dessa forma, a tarefa do psicólogo é compreen- der e conciliar as
diferentes opiniões entre diversos sistemas conceituais de interpretação, sejam eles
psicodinâmicos ou biológicos.

ATENDIMENTO PSICOLÓGICO DE APOIO E MANEJO AMBIENTALAlém de ser indicada


para pacientes graves, a psicoterapia de apoio também pode ser indicada para aqueles
com bom nível de funcionamen- to psíquico prévio e em situações de crise aguda de
qualquer natureza.9 Nesse tipo de psicoterapia, não se trata de trazer à consciência os
con- flitos inconscientes, diante da incapacidade do ego de integrá-los ou de resolvê-los, o
que teria como consequência um aumento de ansiedade, a proposta é verificar as defesas
possíveis e úteis para cada paciente, re- forçando-as e encorajando-as em situação de
crise. Dessa maneira, os objetivos da psicoterapia de apoio são: • promover uma relação
paciente-terapeuta positiva e de apoio; • reforçar aspectos sadios do paciente, suas
habilidades e capacidades; • reduzir o desconforto subjetivo e o comportamental
disfuncional (sin- tomas); • auxiliar o paciente na independência e na autonomia, quando
estiver em estados de fragilidade egoica ou for caso psiquiátrico.
O papel do terapeuta caraceríza-se pela participação va em relação ao cuidado do
paciente, expressando concordância com suas ideias ou atitudes (quando pertinentes),
reforçando funções adaptativas do ego, reassegurando a boa percepção da realidade e
cla- rificando as características do paciente ou episódios de sua vida que po- dem estar
envolvidos nos conflitos atuais.

Além de ser indicada para pacientes graves, a psicoterapia de apoio também pode ser
indicada para aqueles com bom nível de funcionamen- to psíquico prévio e em situações
de crise aguda de qualquer natureza.

Os objetivos da psicoterapia de apoio são: • promover uma relação paciente-terapeuta


positiva e de apoio; • reforçar aspectos sadios do paciente, suas habilidades e
capacidades; • reduzir o desconforto subjetivo e o comportamental disfuncional (sin-
tomas); • auxiliar o paciente na independência e na autonomia, quando estiver em estados
de fragilidade egoica ou for caso psiquiátrico.

O psicólogo pode promover algumas mudanças favoráveis ao bem-estar e à reabilitação


do paciente, como

: solicitar a presença ou a retirada de objetos (livros, som ou fotos) ou de pessoas;


minimizar estressores (luz, barulho, privação de água ou de sono); sugerir mudanças de
leitos, unidades ou rotinas.19

TÉCNICAS COMPLEMENTARES Uso do relaxamento As técnicas de relaxamento


favorecem o bem-estar e a melhoria do es- tado emocional do paciente que se encontra
em situação de estresse prolongado ou de crise. Propiciam, ainda, o desenvolvimento de
estados emocionais que capacitem o paciente a tolerar níveis elevados de angús- tia e de
ansiedade, podendo ser indicadas no momento de um procedi- mento terapêutico invasivo
ou a pacientes que se encontram por tempo demasiado em ambientes desagregadores.

Imaginação ativa e respiratória A imagem é um dos componentes da memória e é utilizada


como téc- nica por muitas terapias, como um instrumento de resgate de vivências
prazerosas ou traumáticas.8,24,25 No contexto hospitalar e com pacientes em crise, a
imaginação ativa pode ser uma proposta de técnica desen- volvida com o propósito de
resgatar as boas referências internas de cada paciente.

INTERVENÇÃO FAMILIAR Em situações de adoecimento e de crise, o suporte familiar é de


funda- mental importância no auxílio ao paciente enfermo. A inclusão dos fami- liares no
tratamento e o reconhecimento de suas necessidades viabilizam intervenções
psicoterápicas efetivas, sejam elas informativas, de suporte ou psicodinâmicas. As
intervenções familiares que promovem o encora- jamento da expressão dos afetos
demonstram benefício na minimização da ansiedade e na qualidade de relação com a
equipe.

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