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Experiência de Estágio em Psicologia Hospitalar

Estudo de Caso

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Priscila Daniela da Costa ; Fabiana A. de A. Sene Silva
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Estudante de Psicologia; ² Professora/Supervisora do Curso de Psicologia

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo relatar e analisar uma experiência adquirida no estágio supervisionado
em Psicologia Hospitalar com base no estudo de caso de um paciente. A partir da prática do estágio
procurou-se retratar através do convívio psicoterapêutico com o paciente uma síntese da experiência de sua
vivência no âmbito hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, cujo objetivo central foi efetuar
intervenções cabíveis ao setting hospitalar e suas variáveis institucionais, estabelecendo estratégias e
manuseio com as demandas físicas e emocionais advindas do processo de internação.

Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; Paciente; Psicoterapia; saúde mental.

realizando atividades como atendimento


INTRODUÇÃO psicoterapêutico, psicoterapia de grupo,
atendimentos em ambulatório, pronto
O presente artigo tem como objetivo atendimento, enfermarias, e no ambiente
relatar a experiência de estágio em Psicologia hospitalar como um todo em diferentes
hospitalar no curso de graduação. Para esta aspectos de sua função.
análise, recorremos à própria experiência Dessa forma, o estágio com ênfase
enquanto aluna. em Saúde Mental procurou garantir a
O estágio em Psicologia Hospitalar absorção de diferentes saberes voltados para
objetiva, sobretudo a obtenção de atuação do psicólogo hospitalar, assim como
aprendizagem metodológica intermediária dos demais profissionais que atuam na área
entre os conteúdos teóricos e a prática em da saúde, enfatizando a importância do papel
campo ao psicólogo em formação, tais como a do psicólogo como facilitador dos processos
aprendizagem de conhecimentos específicos ligados a hospitalização, adoecimento,
de modalidades de intervenção junto a instalação e progressão da doença,
pacientes e familiares no contexto hospitalar. prognósticos e a relação interdisciplinar entre
Desse modo, as noções que a equipe como um todo. Além de realizar a
fundamentam a Psicologia Hospitalar vêm se mediação nas relações entre equipe X
tornando cada vez mais frequentes na prática paciente X família
dos profissionais que trabalham em diferentes Nessa perspectiva, Angerami (2011)
redes hospitalares na área da psicoterapia. afirma que o paciente hospitalizado sofre a
Nesta perspectiva, o psicólogo especialista em sintomatologia de determinada patologia e a
Psicologia Hospitalar tem sua função centrada família sofre as consequências emocionais
nos âmbitos secundário e terciário de atenção desse tratamento. Existe uma fusão de
à saúde, atuando em instituições de saúde e sentimentos, e a dor vivida pelo paciente é a
“mesma” dor vivida pela família. Nesse durante o 9º e 10º período de Psicologia com
sentido, é de fundamental importância que não ênfase em Saúde Mental, tendo como suporte
só o paciente, mas também a sua família a supervisão e orientação da Professora
recebam da equipe de saúde o apoio Fabiana Sene.
necessário para enfrentar todo o processo da Os recursos metodológicos utilizados
doença e da morte, quando esta ocorre. no estágio partiram do manejo com 01
Assim, conforme afirma Angerami paciente, variando para dois ou mais
(2011) temos que diante dos problemas pacientes de acordo com a demanda de
humanos que surgem com o adoecer e a tempo ou disponibilidade dos mesmos. Ao
internação hospitalar, o psicólogo hospitalar paciente foi trabalhado o acolhimento, a
tem um papel importante junto ao doente, aos vinculação, a escuta e a intervenção
familiares e à equipe de saúde. Junto aos psicológica como instrumentos do processo
familiares, a atuação deve se dar ao nível de psicoterapêutico. As sessões ocorriam uma
comunicação, reforçando o trabalho estrutural vez por semana com duração de 01 hora e 30
e de adaptação desses familiares ao minutos.
enfrentamento dessa imensa crise. A atuação O paciente a ser relatado na referida
deve se direcionar no nível de apoio, atenção, experiência de estágio encontra-se sob sigilo,
compreensão, suporte ao tratamento, tendo, portanto, seu nome e dados pessoais
clarificação de sentimentos, esclarecimentos alterados para sua maior segurança e ética
sobre a doença e fortalecimento dos vínculos para com o mesmo. A identidade utilizada
familiares. trata-se de um nome fictício S. C,
Assim, verifica-se a relevância da permanecendo somente seu gênero
experiência de estágio em Psicologia masculino, a idade de 48 anos e quadro
Hospitalar, uma vez que a realização do clínico de Neoplasia Proximal do Esôfago para
mesmo, bem como a supervisão a ele melhor elucidar o caso.
destinada oferece recursos técnicos e pré-
requisitos básicos para o atendimento RESULTADOS E DISCUSSÃO
facilitador e assertivo no âmbito hospitalar no
que concerne à compreensão da pessoa O atendimento psicológico realizado
humana X a doença nas diferentes ao paciente S. C, bem como por sua
circunstâncias a que é submetida durante o acompanhante seguiram os critérios da clinica
diagnóstico e tratamento clínico, e ainda ao se cirúrgica.
discutir os conceitos de saúde, doença e Esta unidade foca-se na prestação de
morte, vinculados a sua história de vida. atendimento/tratamento aos pacientes que
sofrerão ou sofreram procedimento cirúrgico.
MATERIAL E MÉTODOS O serviço de psicologia se concentrou
no auxílio pré-operatório e pós-operatório
A metodologia adotada seguiu com as sentido pelo paciente S. C, e os entraves
orientações técnicas advindas da supervisão psicossomáticos e/ou emocionais emergentes
em Psicologia Hospitalar. O estágio foi da condição da internação e posteriores aos
realizado na Santa Casa de Misericórdia de procedimentos.
Itajubá, pela aluna Priscila Daniela da Costa Segundo os relatos do paciente citado,

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ele foi internado para realizar exames de acreditava que S. C não tinha uma noção
sangue e estômago, não sabendo esclarecer o exata do seu diagnóstico, pois havia
motivo real de sua internação. Durante o questionado as enfermeiras de forma
processo de internação, apresentou ansiedade agressiva durante a semana, parecendo
extremada, além de emagrecimento intenso, e ansioso por notícias sobre sua situação.
falta de apetite. Embora, registrado por escrito Todavia, a equipe de enfermagem disse que já
no prontuário o diagnóstico de câncer de havia comunicado aos médicos responsáveis
Esôfago, o mesmo não obteve esta e que estes estariam elucidando melhor o
informação acerca do seu diagnóstico e caso para seu maior interessado, o paciente.
prognóstico. Após, as intervenções ao paciente e
O paciente S. C ainda sem maiores equipe geral (enfermagem e médicos), os
esclarecimentos foi submetido a introdução via esclarecimentos quanto a sua condição foram
nasal de uma sonda gástrica para posterior concedidos, garantindo a S. C seu
alimentação, já que seu quadro clinico reestabelecimento e recuperação, diminuindo
progrediu para inapetência total e afagia. Com ansiedades, amenizando seus temores e
isso, evoluiu emocionalmente para episódios acelerando seu processo de reabilitação frente
alternados de angústia e agressividade. a si e a doença em sua condição humana
Ainda, segundo informações colhidas total.
pela equipe de enfermagem, a S. C foi adiada Entretanto, o mesmo ainda sofreu
a comunicação de seu quadro clinico em outro processo cirúrgico, para retirada parcial
função de ser considerado “mais humilde”, do esôfago, porém, agora respaldado pela
contando somente o que lhe era preciso ouvir informação e orientações obtidas,
afim de se “manter protegido” até que se apresentando-se mais seguro e otimista diante
esclarecesse em qual estágio de avanço a de seu adoecimento.
doença se encontrava. Em síntese, ao longo do processo,
Em outro momento a S. C foi foram efetuadas intervenções com a equipe de
comunicado que faria uma cirurgia na enfermagem para assegurar o direito à
garganta para verificar “o porquê” da sua falta informação do diagnóstico e prognóstico do
de apetite e para ajudá-lo a voltar a se paciente em questão. Além disso, foram
alimentar. Todavia, o mesmo relatou que saiu efetuadas manobras de escuta, orientação e
da cirurgia com um “buraco na barriga” auxílio psicológico diante da angústia,
(jejunostomia) com um “canudo de borracha”, agressividade e ansiedade presentes.
sendo informado que aquilo servia para se Sendo assim, as intervenções
alimentar. realizadas no ambiente hospitalar visaram o
S. C por sua vez parecia não estar acolhimento e o manejo para com as
ciente de sua doença, ou ainda poderia estar diferentes formas de enfrentamento
apresentando “resistências” diante da mesma, identificadas frente à pessoa humana
já que o dissera que relatava que possuía “um (paciente S. C) X a doença (Neoplasia
problema complicadinho no esôfago”. Para Proximal de Esôfago) e os temores advindos
compreender melhor o caso a enfermagem foi da mesma, tais como os sentimentos de
ouvida. medo, insegurança, ansiedade, impotência,
A enfermagem informou que frustação, fuga entre outros mecanismos de

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defesa, além da própria instabilidade orgânica proposta de estágio estabelecida.
decorrente do adoecimento físico e psíquico. Num sentido geral, a prática do
Nesta perspectiva, o exercício em estágio, bem como seu empenho ao exercê-lo
campo possibilitou enquanto estagiária a e aqui retratá-lo garantiu qualidade no que se
execução do trabalho psicológico refere à proposta de intervenção psicológica
teórico/metodológico sobre uma vertente para com os pacientes, o qual foi alcançado
prática, introjetando e ampliando por meio de escutas, acolhimentos e
conhecimentos antes apenas vislumbrados orientações.
teoricamente, sobre a realidade dos pacientes, Desta forma, a estagiária seguiu à
amenizando o sofrimento destes em demanda da instituição, promovendo auxílio
decorrência da doença, da restrição ao aos pacientes requisitados, levando em
ambiente hospitalar e dos possíveis consideração diferentes tipos de adoecimento,
desajustes emocionais. estando sensível para com a condição
Ainda neste contexto, na experiência humana dos mesmos, para oferecer recursos
do referente estágio e análise do caso, foi psicológicos de forma que atingisse a todos no
notada, através da escuta do paciente que diz respeito ao seu contexto de vida,
“inúmeras fantasias” a cerca da doença, e forma de enfrentamento e mecanismos de
controvérsias ou falhas de defesa.
informação/orientação entre equipe médica X Em síntese, o estágio se mostrou
paciente no que se refere à comunicação do propício atuando como um intermediário entre
diagnóstico ou prognóstico deste paciente (o o campo teórico e prático, na associação e
qual se trata do maior interessado). Sendo experimentação de conhecimentos
assim, o trabalho da estagiária seguiu um específicos, além de redimensionar a visão do
modelo de orientação que confere com o trabalho e convívio no âmbito hospitalar.
conhecimento de algumas doenças e a
intermediação entre a equipe médica X o
paciente na importância de se comunicar a REFERÊNCIAS
este seu quadro clinico de forma clara e,
sobretudo na “linguagem” do paciente, bem
como retirar suas dúvidas e diminuir suas ANGERAMI-CAMON, Valdemar
ansiedades por falta de informação, ou por Augusto (Org.). Psicologia da saúde: um
excesso de mecanização, ou hierarquização novo significado para a prática clínica. 2.
do trabalho médico ou de enfermagem. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. 304
p. ISBN 978-85-221-1094-0.
CONCLUSÕES

A atuação em campo
conferida ao estudo de caso no estágio em
Psicologia Hospitalar realizado na Santa Casa
de Misericórdia de Itajubá repercutiu
positivamente para a aprendizagem da
estagiária, resultando significativamente na

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