Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Phenomenological Studies
ISSN: 1809-6867
revista@itgt.com.br
Instituto de Treinamento e Pesquisa em
Gestalt Terapia de Goiânia
Brasil
Resumo: O texto pretende elucidar a questão da solidão, queixa permanente nos consultórios de
psicologia. Trata-se de uma solidão que reflete um homem que se perdeu na multidão, ao ver-se
privado do sentido de comunidade e comunhão. Para tanto, busca-se contextualizar o sentimento
de solidão do homem no mundo contemporâneo, discutindo os efeitos provocados pela sociedade
atual, uma época que paulatina e inexoravelmente se deixa tomar por um esquecimento sistemático
daquilo que é mais característico do homem – sua humanidade. O resgate do homem pode ser
alcançado na busca do sentido de sua existência, tão favorecida pelo processo psicoterápico.
Pressupõe-se que a nostalgia do humano possa instigar o homem a resgatar, na organização
societária em que vive, um modo de ser mais comunitário, e começar, assim, a sentir-se novamente
em casa, acompanhado de seus semelhantes e, conseqüentemente, menos solitário.
Abstract: This text intends to elucidate the issue of loneliness, a permanent complaint in
psychology offices. It is about a loneliness which reflects a man who has gotten lost in the crowd,
when noticing himself deprived from the senses of community and communion. On that matter
there is the urge to contextualize the feeling of loneliness of the men in the contemporary world,
arguing on the effects provoked by the current society, an age which slowly and in an inexorable
manner gives place to a systematic forgetting of what is most characteristic of a man: his humanity.
The ransom of the man may be achieved on the search of a sense for his existence, highly favored
by the psychotherapy process. We presuppose that the nostalgia of the humane might instigate men
to rescue, in the societal organization in which he lives, a more communitarian way of being, thus
beginning to feel ‘at home’ again, in the companion of his alike, and, hence, less lonely.
84 ITGT
A solidão na contemporaneidade
se sente solitário como homem, em sua essência de homem, e além deste fato
fundamental é solitário como indivíduo no mundo humano. De fato, esta so-
ciedade na qual fala o coletivismo, não é aquela comunidade nativa que envol-
ve o homem e o abriga, protege e ampara, comunidade na qual o homem ainda
viveu há alguns séculos e talvez há algumas gerações. (p. 124)
86 ITGT
A solidão na contemporaneidade
tizado, a solidão decorrente da idéia da morte. Somente a presença ativa do outro ser
humano pode dar sentido ao vazio da solidão, o que é descrito em linguagem poética
por Mendonça (2005):
Pressupõe-se que o homem precisa sentir a nostalgia para viver sua humani-
dade mais profundamente. A nostalgia do humano, provocada por situações de pro-
88 ITGT
A solidão na contemporaneidade
funda crise no mundo dos homens, em que imperam controvérsias e cisões, alia-se a
uma profunda esperança no poder da relação, na força do diálogo, pois o homem atu-
al, tão abastado das coisas materiais, está desprovido da presença do outro. Vive-se
em uma sociedade individualista, na qual prevalece a solidão. Os sujeitos que sofrem
e se queixam da solidão estão, paradoxalmente, cultuando sua privacidade, sua per-
sonalidade, desvinculando-se da vida pública, ignorando a ética coletiva e, ao mes-
mo tempo, vivendo os infortúnios da falta desse espaço coletivo, o qual possibilita o
reconhecimento de si mesmo. Surge então o ideal de aprender a viver só no meio da
multidão, e o exercício da privacidade é entendido como a verdadeira liberdade. Hei-
degger (1953) aponta o dilema vivido pelo homem nessa passagem tão significativa:
em todos (...) assim a humanidade que teve sua origem em uma comunidade
primitiva (...) passou pela crescente escravidão da sociedade, chegará a uma
nova comunidade que, diferentemente da primeira, não terá mais como base
laços de sangue, mas laços de escolha. (p. 39)
Referências bibliográficas
Frankl, V. (1976). Psicoterapia: uma casuística para médicos. São Paulo: EPU.
Friedman, M. S. (1955/2002). Martin Buber: the life of dialogue (4ª ed.). New York/
London: Routledge.
90 ITGT
A solidão na contemporaneidade
Zuben, N. A. von (2003). Martin Buber: cumplicidade e diálogo. Bauru, SP: Edusc.