existencial e o silêncio em
adolescentes
30 de agosto de 2017 Maisa Barbosa Insight, Comportamento
“A fenomenologia é a ciência que procura abordar o fenômeno, aquilo que se manifesta por
si mesmo. Ela tem a intenção de abordá-lo, interrogá-lo, procurando descrevê-lo e
tentando captar sua essência. Ela estuda o fenômeno tal qual ele se apresenta a
consciência. O método fenomenológico consiste numa descrição sistemática dos fenômenos
até chegar a sua essência, ao ponto final e irredutível da percepção” (ARAÚJO, 2010, p.
2).
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Fonte: http://zip.net/bntL4V
Partindo dessa breve introdução nos atentaremos a descrever sobre o caso
clínico de adolescente de 14 (quatorze) anos com dificuldades em verbalizar
tanto em processo terapêutico como fora dele, tendo características
estabelecidas de dificuldades de locomoção, rigidez, embotamento afetivo.
Também descrevemos sobre o papel do terapeuta em sua abordagem
fenomenológico-existencial, a postura clínica diante do silêncio em
psicoterapia, considerando a adolescência como um período de crises e que
muitas vezes podem se tornar patológico.
Método
Fonte: http://zip.net/bftNsz
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A não diretividade utilizada nessa corrente teórica psicológica baseia-se no
sentido de que o cliente tem direito sobre suas escolhas, sejam elas
compatíveis ou não com a do profissional que lhe acompanha (AGUIAR,
2005). Para dar melhores condições ao atendimento foram utilizados de
recursos lúdicos como jogos, papeis, canetas, lápis de cor, alguns tipos de
brinquedos (família terapêutica, carrinhos), como meio de estabelecer
contato/comunicação com o adolescente.
Apresentação do Caso
Fonte: http://zip.net/bntNCY
Após alguns atendimentos com P.V sem muitas evoluções significativas, a
mãe foi chamada novamente para uma sessão, tendo como objetivo conhecer
o ambiente familiar e o atual contexto que o adolescente se encontra. A mãe
relatou brevemente sobre o desenvolvimento do filho fazendo sempre uma
comparação com os demais filhos, que se segundo ela se desenvolveram
normalmente.
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que P.V tem demonstrado tais comportamentos o pai se afastou bastante do
filho.
Após o atendimento com a mãe ter sido enfatizado nos aspectos familiares,
P.V teve duas faltas consecutivas, a primeira justificada pela mãe, devido
problemas no trabalho, a segunda sem nenhuma satisfação. A estagiária
retornou as ligações em busca de compreender tais faltas, porém não
conseguiu contato com os responsáveis. Diante dos fatos e seguindo regras da
clínica-escola, o cliente foi desligado do serviço psicológico tendo alcançado
apenas seis encontros com a psicóloga estagiária.
Mesmo se terapeuta e paciente iniciam a terapia pela fala, muitas mensagens são
transmitidas de forma não verbal ao longo do processo, e cada um, paciente como terapeuta,
aprende a “ler” e interpretar a linguagem silenciosa do outro no diálogo
terapêutico. (FIGUEIREDO, 2005, p.32).
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Miranda e Freire (2012), em seu artigo sobre comunicação terapêutica, nos
traz um pensamento do próprio Rogers, que em seu livro “Tornar-se Pessoa”
(1961-1997), relata seu entendimento sobre as maneiras de se comunicar, nos
dizendo que, normalmente uma pessoa desajustada possui muitas dificuldades
em falar, pois rompeu a comunicação consigo mesmo sendo, portanto o
resultado disso o prejuízo com a comunicação com os outros.
Fonte: http://zip.net/bltM22
É importante ressaltar antes de tudo que a adolescência por si só já se
caracteriza como uma fase crítica e complexa no desenvolvimento humano,
pois exige do sujeito que não é mais criança e ainda também não se reconhece
como adulto, algumas atitudes, decisões, escolhas muito severas e até mesmo
definitivas. Por isso torna-se necessário um contato mais sensível, sem
cobranças e imposições para que o tratamento seja bem aceito pelo cliente
(MIRANDA, 2012).
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que a adolescência é uma fase que se manifesta logo após a infância e
antecede a juventude, momento de total insegurança, instabilidade e
questionamentos. Caracterizando-se por uma intensa busca de si mesmo,
encontrando-se constantemente com crises e contradições, além disso, os
familiares, amigos e até mesmo a sociedade se prejudica com tal situação.
Quando essa energia já não é mais suficiente, nos deparamos muitas vezes
com quadros graves de doenças psicológicas como a depressão, ou seja, a falta
de vontade de enfrentar a vida é maior do que vontade de expressar seus
conflitos e problemáticas a serem melhoradas. É por meio do se manter calado
que sujeito, neste caso o adolescente, vai “enfrentando” as vicissitudes do seu
processo de desenvolvimento (JERUSALINSKY, 2004).
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temos uma nova forma de entrar em contato com o fenômeno, ou seja, por
meio da compreensão empática dos comportamentos não verbais.
“É preciso salientar que o terapeuta deve examinar e apreender a linguagem verbal e não
verbal do cliente, sempre baseado no contexto. Nas palavras de Erthal (1995), o silêncio, a
imobilidade ou qualquer outra forma de renúncia já em si uma comunicação” (ALMEIDA;
NETO, 2012). De frente a tal dificuldade é necessário um olhar mais
compreensivo do que interpretativo, e dar consciência ao cliente sobre essa
experiência de se calar. Fazemos isso por meio de intervenções mais
assertivas, ou seja, fazer com o que o cliente perceba os seus comportamentos,
sinalizando para ele suas condutas e a sua forma de comunicação não verbal.
Fonte: http://zip.net/bjtNsS
Em busca dessa compreensão utilizamos do conceito da redução
fenomenológica, ou seja, entrar em contato com o que é observado no
fenômeno de maneira limpa, sem se utilizar de qualquer juízo de valor
(époche), para dar significado às experiências do cliente (HOLANDA, 1997).
Nesse sentindo a redução é observar o fenômeno do silêncio e apreender para
além do não é dito, é considerar que sua totalidade existencial que vai além de
uma hipótese diagnóstica e interpretativa e sim lançando um olhar para o
sujeito integral que está em terapia.
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Outra característica expressa por esse adolescente está em estabelecida por
meio de um embotamento severo, onde o contato afetivo e social está sendo
negado pelo sujeito, suas experiências estão se voltando para um mundo
interno, impossibilitando o acesso do terapeuta por meio da fala. Tornando-se
apenas possível estabelecer o contato e possível vínculo, por meio de
perguntas diretas e objetivas, sendo correspondidas com “sim” ou “não”
expresso por movimentos com a cabeça. Mediante isso, o papel do terapeuta é
assinalar para o cliente que essa foi a maneira encontrada para lidar com o
vazio.
Considerações Finais
Fonte: http://zip.net/bttPcL
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Com relação ao desligamento do caso torna-se importante pensar que não se
trata de uma falha ou incapacidade do terapeuta em se vincular ao cliente ou
vise e versa, em muitos casos a não adesão ao tratamento – principalmente em
caso de menores de idade – a dificuldade de aceitar uma intervenção
profissional parte dos pais ou responsáveis. Diante disso cabe ao terapeuta
considerar as circunstâncias e entender que a percepção fundamental sobre o
tratamento cabe ao cliente e não ao profissional, a escolha e responsabilidade
sobre a terapia e dele e não nossa (AGUIAR, 2005).
O psicólogo tomando o seu papel de facilitador tem como função dar luz à
consciência do cliente, dando meios para que a sua existência tome forma e
sentindo, possibilitando uma nova perspectiva de ser e principalmente
exaltando as suas potencialidades diante dos conflitos existenciais. Para que
isso seja efetivado se torna necessário uma postura ativa e empática,
compreendendo o contexto simbólico do que esta sendo expresso pelos
comportamentos e pela forma que o cliente encontrou de ser no mundo.
REFERÊNCIAS:
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FIGUEIREDO, Evelyne Fauguet. Vínculos e Psicoterapia: a linguagem
silenciosa. 2005. 55f. (Monografia em Psicologia) – Centro Universitário de
Brasília, Brasília.2005.
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