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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

Instituto de Ciências Humanas


Graduação em Psicologia

Relatório Parcial de
Estágio Supervisionado em Atendimento Clínico na
Abordagem Fenomenológico-Existencial

Vilma Moreira de Queiroz. R.A: 933240-5

Campus – Brasília
2015
UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP
Instituto de Ciências Humanas
Graduação em Psicologia

Relatório Parcial de
Estágio Supervisionado em Atendimento Clínico na
Abordagem Fenomenológico-Existencial

Vilma Moreira de Queiroz. R.A: 933240-5

Relatório elaborado para fins de


avaliação em Atendimento Clínico na
Abordagem Fenomenológico-
Existencial do 9º Semestre do curso
de Psicologia, na Universidade
Paulista (UNIP/DF), sob orientação e
supervisão de Profª. Msc. Carolina
Brum

Campus – Brasília
2015.
Sumário
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................4

1.2Apresentação do Estágio..................................................................4

2 OBJETIVO.........................................................................................................4

2.1Objetivo Geral....................................................................................4

2.2 Objetivos Específicos.......................................................................5

3 ABORDAGEM...................................................................................................5

4 APRESENTAÇÃO DO CPA.............................................................................6

5 TRAJETÓRIA PESSOAL..................................................................................7

6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL...........7

6.1 Consciência intencional...................................................................9

6.2Redução fenomenológica................................................................10

6.3 Intersubjetividade............................................................................10

7 ESTUDO DE CASO.......................................................................................12

7.1 História clínica do paciente.............................................................13

8 HISTÓRIA DO PROCESSO DE ATENDIMENTO PSICOTERAPICO...........13

8.1 Relato sucinto das sessões de atendimento psicoterápico...........13

9 HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS.......................................................................19

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................24

REFERÊNCIAS..................................................................................................26
4

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização do trabalho

O presente relatório tem como proposta descrever as atividades de


estágio supervisionado, realizado no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da
Universidade Paulista (UNIP), Brasília-DF, como pré-requisito para formação
acadêmica no curso de Psicologia, tendo como base a Abordagem
Fenomenológica Existencial. O mesmo é supervisionado pela psicóloga profa.
Msc. Carolina Brum.

1.2Apresentação do Estágio
Sua prática está direcionada ao atendimento psicológico no CPA à
população que não dispõe de condições financeiras de investir em um
tratamento psicológico em clínicas particulares. Acontece através de
atendimentos psicoterápicos com supervisões semanais em grupo, estas
supervisões acontecem todas as quintas-feiras no horário de 8:00 às 10:30,
momento em que a supervisora lê e assina o relato da sessão do atendimento
do estagiário, cada aluno apresenta o caso do paciente que está atendendo e
recebe o feedback do orientador quanto as dúvidas apresentadas. Neste
momento acontece também a leitura textos e entrega quinzenais de resenhas,
que tem o objetivo de paramentar teoricamente o aluno quanto a abordagem
fenomenológica. O período do estágio compreende os meses de fevereiro a
junho/2015 e a carga horária estabelecida é 66 horas.

2 OBJETIVO
2.1Objetivo Geral

 O estágio tem por objetivo cumprir a determinação legal do Conselho


Federal de Psicologia;
5

 Desenvolver a competência do aluno-estagiário para o desempenho


profissional nas principais áreas da Psicologia;
 Oportunizar situações para o que o aluno-estagiário aplique
conhecimentos adquiridos durante o curso.

2.2 Objetivos Específicos


 Possibilitar ao aluno-estagiário vivência prática dos conteúdos teóricos
vistos durante sua formação acadêmica, assim como os adquiridos no
decorrer do estágio;
 Orientar o aluno-estagiário no sentido de desenvolver uma atitude
profissional e ética quanto à sua atuação como psicólogo no mercado de
trabalho;
 Mobilizar uma visão crítica de reflexão e questionamento em supervisão,
referente à prática realizada no campo de estágio, com o intuito de
aprimorar e amadurecer os conhecimentos obtidos durante sua
formação;
 Proporcionar ao aluno-estagiário, situações de convívio e trabalho
grupais, em que sejam observados a integração e respeito mútuo,
necessários para obtenção de objetivos comuns;
 Proporcionar o contato do aluno-estagiário com a comunidade para a
qual irá direcionar seu desempenho profissional;
 Desenvolver postura crítico-reflexiva e ética mediante o contexto e as
problemáticas apresentados em cada situação de estágio;
 Amparar as primeiras experiências profissionais por meio da supervisão
que facilite a compreensão dos fenômenos emergentes nessa
experiência;
 Utilizar os momentos de supervisão em grupo para compartilhar
experiências individuais do estágio ajudando a compreendê-las.

3 ABORDAGEM

O estágio apresentado neste trabalho toma por base a abordagem -


Fenomenológica Existencial. Seus fundamentos contribuem para uma melhor
6

percepção da realidade existencial do sujeito e seu histórico, o psicoterapeuta


caminha junto com o paciente a fim de busca experiências singulares do seu
existir afim de compreender a existência com seus significados, permitindo
assim uma reflexão do fenômeno que se apresenta e de suas escolhas.
Partindo-se dessa perspectiva, o processo de psicoterapia se propõe a
oferecer um momento no qual o sujeito que sofre se sinta verdadeiramente
acolhido.

4 APRESENTAÇÃO DO CPA
O CPA presta serviço psicológico e clínico tais como: Psicodiagnóstico,
psicoterapias e plantão psicológico. O Centro de Psicologia Aplicada também
tem a função de proporcionar o estágio supervisionado a alunos do curso de
psicologia e atender a demanda da comunidade. Para a formação de
psicólogos são organizadas atividades práticas acompanhas de supervisores
cujo o objetivo é levar o aluno a desenvolver habilidades importantes para o
desempenho da profissão.
O CPA também tem o objetivo de produzir conhecimento que cunho
científico, que alcancem uma resposta de proteção, reabilitação e promoção da
saúde. O atendimento é feito por estagiários sob a orientação de um psicólogo
supervisor. Os estágios passam por duas avaliações no primeiro e no
segundo bimestre que compõe a avaliação final do semestre. A conceituação
da avaliação do estágio é suficiente ou insuficiente.
O CPA atende a comunidade que não dispõe de condições
socioeconômicas para arcar com o tratamento, as pessoas chegam por
indicação de vizinhos, amigos, familiares e até mesmo de outros psicólogos,
médicos e até mesmo profissionais da própria instituição. Os critérios de
atendimento resumem-se em preenchimento de uma ficha que, após
preenchida a pessoa entra numa fila de espera. O contato para o atendimento
é realizado pelo estagiário por telefone, a pessoa é solicitada para comparecer
ao CPA para realização de entrevista de triagem.
Após a entrevista de triagem a pessoa é contactada novamente por
telefone para dá início ao tratamento psicológico. Que acontecem uma vez por
7

semana considerando sua disponibilidade de dia e horário para os


atendimentos.

5 TRAJETÓRIA PESSOAL
Eu sempre me interessei pelo sentimento do outro, talvez, a princípio,
tenha sido de uma forma bem geral, sendo paciente ao ouvir as pessoas,
dando alguns conselhos, ou seja, amenizando um sofrimento mesmo que
momentâneo. Mas, conforme o tempo foi passando, comecei a me interessar
pela Psicologia. O caminho até a chegada ao estágio, foram de grandes
descobertas, mesmo por motivos de força maior tendo que trancar o curso por
duas vezes, cá estou eu realizando um grande sonho pessoal.
A escolha por esse estágio dentre as outras modalidades de estágio
oferecidas se devem ao grande interesse que a área clínica − e mais
especificamente a Abordagem Fenomenológico-Existencial − desperta em
mim. Ao longo dos quatro anos de curso que antecederam o estágio, pude
conhecer um pouco cada uma das principais abordagens psicológicas
(Psicanálise, Cognitivo-Comportamental, Organizacional e Fenomenológico-
Existencial) e perceber que me identificava, enquanto estudante de Psicologia
e enquanto pessoa, mais com esta última do que com as demais.

6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL


A palavra fenomenologia significa “ciência” ou “teoria dos fenômenos”, é
um agrupamento da palavra “ciência” e “logos”, ou seja, estudo ou ciência do
fenômeno e a palavra fenômeno significa aquilo que se mostra que aparece a
nós. A fenomenologia é compreendida como um método (caminho) da crítica
do conhecimento universal das essências, capaz de “descrever” a estrutura dos
fenômenos da consciência. (Gallefi, 2000).
Surgiu na Alemanha na Segunda metade do século XIX, (1859-1938),
fruto da crítica de Edmund Husserl ao pensamento científico da época, que
reduzia a verdade ao empirismo (que acreditava que todo conhecimento
advinhada prática)e ao psicologismo (tendência naturalista a ciência). Duas
linhas filosóficas da época. Silva, Lopes e Diniz (2008).
8

O empirismo afirmava que o ser humano não possui nenhum


conhecimento prévio e todo o conhecimento era adquirido a partir das
experiências vividas.
Quanto a isto Rodrigues (2000), escreveu que ao criticar o empirismo,
Husserl questiona junto aos seus defensores qual era o conhecimento “prático”
que faria concluir que todo conhecimento advinha da prática. A ciência
naturalista do psicologismo reduzia o conhecimento a “um fenômeno natural
“explicado através da física ou da fisiologia”, ou seja, o psicologismo tentou
explicar o “ato de conhecer” de maneira fisiológica, que levava a confundir o
ato de conhecer com “o que se conhecia”.

“Por exemplo, quando eu olhava uma cadeira, eu


reconhecia este objeto enquanto tal, pela possibilidade dos
mecanismos neuronais do meu cérebro, em conjunto com o
sistema ocular na transmissão das informações, captando os
estímulos visuais deste objeto e os decodificando. Daí o
conhecimento - a cadeira – era adquirido através destes
mecanismos fisiológicos”. [...] “só que isto não explicava a
cadeira, mas apenas como eu a via, o próprio sentido, o conceito
do que é uma cadeira, é algo que transcendia tal explicação.
(Ribeiro 2000 p. 38).

Deste modo Husserl ao pensar sobre estas críticas quis atingir um


conhecimento certo, algo que não gerasse erro. Ao invés de buscar algo que
afastasse da verdade, deveria ao contrário voltar as coisas mesmas, para a
realidade que mostra: o fenômeno.
Segundo Feijoo (2011), Husserl criticou a atitude natural por considerá-la
confusa, obscura, ambígua e ingênua, pois considerava apenas experiências
vividas, ou por observação das coisas. Enfim, o filósofo criticou a falta de
posicionamento crítico frente ao conhecimento. Então Husserl propõe a
suspensão da atitude natural, por uma atitude antinatural (epoché), que seria
suspender ou colocar entre parêntese a atitude natural, a fim de desconstruir a
falsa ideia de estruturação natural da aparição do fenômeno e superação da
ingenuidade da atitude natural.
9

Para Zilles (2007), o filosofo alemão Edmund Husserl considera


inaceitável o postulado de que aquilo que aparece na experiência atual não é a
verdadeira coisa. O filósofo deu novo significado à fenomenologia, encerrando
o fenômeno no campo imanente da consciência. Portanto a fenomenologia
propõe apreender aquilo que acontece no momento imediato, sem intermédio
de teorias ou explicações que afastem o Homem de sua vivência.

Ribeiro (2009) diz que na ponte do caminho entre teoria e pratica


existem três questões essenciais que serve para melhor compressão do
método fenomenológico que são: a consciência intencional ou intencionalidade,
intersubjetividade e redução fenomenológica.

6.1 Consciência intencional


Quanto a isso Rodrigues (2000) relata que um dos primeiros conceitos
de fenomenologia criados por Husserl se dá quando Husserl faz da
fenomenologia um método de busca da verdade ele se pergunta como
perceber esta verdade? Ao responder esta pergunta, ele percebeu que
percebe e que, ao fazê-lo ele apreende a verdade originária. O ato de
“perceber o percebido”, assim se percebemos algo é porque existe algo e a ser
percebido, para todo pensar haverá um pensado, todo imaginar, um imaginado
e também para todo lembrar haverá um lembrado, ou seja, a consciência
sempre será “consciência de” uma consciência que visa ou intenciona algo.
Deste modo, Husserl supera a ingenuidade da atitude natural e
descortina a natureza intencional dos fenômenos psíquicos, ao que ele
denominou de consciência intencional. (FEIJJO, 2011).
Conforme Ribeiro (2009), a intencionalidade caracteriza o fenômeno
psíquico a presença intencional, a respeito deste assunto ele escreve:

“A intencionalidade é essencialmente o ato de atribuir um


sentido; e ela unifica a consciência e o objeto, o sujeito e o
mundo. Com a intencionalidade há o reconhecimento de que o
mundo não pura exterioridade e o sujeito não é pura interioridade,
mas é a saída de si para o mundo que tem significação”. (p.46).
10

A consciência é o princípio da intencionalidade, é o que significado as


coisas. É desta maneira, que o cliente percebe uma determinada situação, e
esta ainda não a essência da situação, mas é a forma que ele percebe é dá
significado. E é partir deste ponto que cliente pode dar novos significados as
experiências negativas para ele, chegando um equilíbrio interno. (ARAUJO
2010).
6.2 Redução fenomenológica
A redução fenomenologia consiste em uma ferramenta lógico-filosófica,
baseada no pressuposto da intencionalidade da consciência, a intencionalidade
conduz a redução, que é recurso da fenomenologia para chegar ao fenômeno,
ou a sua essência, Ribeiro (2009), a redução fenomenológica nos oferece a
possibilidade conhecer a realidade na sua singularidade, na sua essência,
porque nos permite perceber o fenômeno como parte de uma totalidade

“A redução fenomenológica consiste em colocar entre


parênteses a realidade tal como a concebe o senso comum. Ela
tem como objetivo chegar ao fenômeno. A redução
fenomenológica é um modo peculiar de prestar atenção, de ir ao
fenômeno. É uma abertura consciente e ativa de nós mesmos ao
fenômeno enquanto fenômeno. Neste aspecto, os discursos, as
opiniões, os juízos ou preconceitos referentes a um fenômeno se
colocam de lado, para então poder interrogá-lo” (Araújo 2010 p.3).

Quanto a isso Ribeiro (2009), descreveque a função da psicoterapia é


ultrapassar a coisa em si,a realidadedos sintomas.

6.3 Intersubjetividade

Para que se faça entender o conceito de intersubjetividade, trataremos


de falar sobre a subjetividade do sujeito afim de que haja um alinhamento no
entendimento de cada conceito e qual a sua função dentro da fenomenologia.
11

A constituição da subjetividade para Silva (2009), é entendida como


aquilo que é interno ao sujeito em relação dialética com a objetividade, ou seja,
diz respeito ao indivíduo, ao psiquismo ou a sua formação, também se é
compreendida como processo que constitui a singularidade da pessoa. Em
suma a subjetividade é o processo de tornar o que é universal singular, único,
isto é, de tornar o indivíduo pertencente ao gênero humano.

A subjetividade para Miranda (2005), é definida como qualidade daquilo


que é subjetivo, que indica uma relação essencial ao sujeito. Contrapondo
assim a objetividade, ou seja, aquilo que é externo a consciência, trata-se da
propriedade do que constitui o fenômeno psíquico do sujeito autoconsciente e
pensante que só ele pode experienciar.

Assim a subjetividade é composta pelas histórias de vida do sujeito,


pelas crenças, valores e experiências, estes hábitos e sentimentos variam de
pessoa para pessoa, pois cada indivíduo pensa, sente, age, se comporta e
opina de forma particular por isso é subjetivo.

Conforme Ribeiro (2009), os seres humanos em sua existência,


possuem formas peculiares de viver no mundo, porém todos vivem uns com os
outros no mesmo mundo, constituindo-o e sendo constituído por ele
simultaneamente. Com capacidade de se aproximarem e de se
compreenderem em suas vivencias. Assim através da intersubjetividade
constituída em um, constitui-se um mundo subjetivo comum a todos.

Acerca deste assunto Santo (2010) em seu artigo “A Questão da


Intersubjetividade em o Ser e o Nada”, escreve que:

“As conexões entre as consciências devem ser estabelecidas


internamente, com o outro desenvolvendo um papel constitutivo em relação a
minha própria consciência”.

Deste modo, o mundo recebe o seu sentido não somente por um


indivíduo, mas no intercambio das constituições dos vários indivíduos
existentes no mundo, realizado por um encontro entre eles. Assim nos atos de
reflexão psicológica pela consciência da própria subjetividade e do encontro
12

com a subjetividade do outro é que se dá o processo psicoterapêutico, esta


relação de intersubjetividade Ribeiro (2009).

Segundo Philippi (2004), no pensamento fenomenológico, o outro não é


acessado diretamente:

“Para a Fenomenologia, o outro não é acessível a nós de modo direto,


pois do outro, aquele corpo físico que está ali, não temos acesso direto. Então
temos que operar um vínculo intencional de semelhança entre aquele corpo
físico e o nosso próprio. É, então, por analogia que constituímos o outro como
alter ego, primeiro como corpo físico e depois uma unidade que possui um ego
como nós, e, então como um homem capaz de reduzir-se à sua própria
consciência e de ter acesso ao campo transcendental, da mesma forma que
nós. Desta forma, o outro é conhecido buscando conformar-se, por
semelhança, àquilo que foi originalmente conhecido”. (Philippi, 2004).

A explicação dos três conceitos que Ribeiro (2009), define como ponte
entre teoria e prática fenomenológica dá pistas de procedimentos imediatos da
prática psicoterápica cotidiana. E o objetivo de incluí-los neste relatório é para
que se faça entender como acontece na prática a psicoterapia na perspectiva
fenomenológica existencial.

7 ESTUDO DE CASO

O caso apresentado neste relatório diz respeito a N.J.S, sexo


feminino,52 anos, residente em Santa Maria Sul, conforme dados da entrevista
de anamnese a paciente é a nona filha de um casal que teve dez filhos, o pai
faleceu aos 89 anos e dois anos depois a mãe também faleceu aos 106 anos
de idade, N.J.S é mãe de quatro filhos, três mulheres e um homem, sendo que
a mais nova tem 30 anos e a mais velha 36 anos de idade, os filhos são frutos
do primeiro casamento que segundo ela não foi uma boa relação e o divórcio
foi inevitável, pois o marido era alcoólatra e a deixava cuidar dos filhos sozinha.
Ao se casar novamente a paciente relata ter sido muito feliz, mas o marido
faleceu a onze anos atrás, esta perda e também a perda dos pais ainda não
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foram elaboradas, diz que tem dificuldades em lidar com perdas e acredita que
esta dificuldade está relacionada a este fato.

7.1 História clínica do paciente

Paciente, chegou ao CPA por indicação da clínica particular no qual


havia iniciado um tratamento psicológico que no qual foi possível dar
continuidade por não dispor de condições financeiras no momento. A queixa
inicial apresentada é de crises neurológicas, depressão, esquecimento,
dificuldade em lidar com perdas, emoções fortes e mudanças. Faz uso de
Paroxetina 20 mg ½ comprimido ao dia, além de Propanolol 40 mg 1
comprimido ao dia, alodidipino 5 mg 1 comprimido ao dia, Lozartana 50 mg 1
comprimido ao dia.

Esteve afastada do trabalho por três meses em função da depressão,


mas decidiu voltar ao trabalho mesmo contra a indicação do psiquiatra, por
acreditar que seria melhor está no trabalho do em casa, pois enfrenta muito
conflitos com a filha e genro.

8 HISTÓRIA DO PROCESSO DE ATENDIMENTO PSICOTERAPICO


8.1 Relato sucinto das sessões de atendimento psicoterápico

O registro das sessões foi realizado por meio de relatos escritos com o
máximo de fidedignidade, com o objetivo de facilitar a compreensão e o
desenvolvimento do caso, para não perder aspectos importantes presentes na
sessão, a prática de redigir a sessão permite abrir um novo olhar do terapeuta
para os fenômenos apresentados e avaliar o a relação dialética estabelecida.

Neste sentido segue relato sucinto das sessões, a paciente faltou a


primeira sessão sem justificativa, no entanto, ao contato telefônico feito por
mim, ela justificou dizendo ter esquecido. Ao comparecer à sessão seguinte
N.J.S chegou 30 minutos mais cedo, durante acolhimento ela demostrou muita
preocupação com a saúde, relatou estar se sentindo desanimada, chorosa,
triste e "revoltada com as pessoas ao seu redor”, está enfrentando dificuldades
14

de adaptação no novo local de trabalho, fala com tristeza do lugar antigo, foi
transferida depois de 20 anos em um mesmo lugar.

Aqui a paciente demonstra a dificuldade de lidar com mudanças,


dificuldades para dormir e se alimentar, esquecimento, durante a sessão a

paciente esquecia em muitos momentos o que estava falando,


precisando de ajuda para dar continuidade ao assunto, inclusive disse que hoje
ao chegar ao ponto de ônibus, por um instante não sabia para onde estava
indo, pensou em ligar para filha, mas não o fez por não querer preocupa-la, as
questões conflituosas com os filhos é um motivo de muito sofrimento. A
paciente diz que só funciona se for conduzida por alguém, porque esquece das
coisas e porque não consegue dizer não. As intervenções foram mínimas, pois
a prioridade foi a execução de escuta efetiva, afim de proporcionar espaço
acolhedor e construção de relação de confiança e observar palavras que se
repetem.

A semana foi tranquila, que dormiu melhor e esta semana até comprou
uma roupa nova e um sapato de salto para ir à igreja. As coisas em casa estão
se organizando e que estava se sentindo bem em ter alguém para conversar
pois não é bom conversar com as colegas porque elas fazem críticas. Ao
executar a escuta fiz a seguinte pergunta: será que as coisas em casa estão se
organizando por que ela começou a se posicionar? Se ela consegue perceber
que ela mesma está se organizando internamente? Ela sorriu e disse sim, as
brigas diminuíram.

Também trouxe a reflexão que em todas as conversas ela se referia a


crítica de suas colegas, perguntei se quando ela diz esta frase vem alguma
cena em sua mente ao que ela respondeu que um dia abriu o coração para
uma colega de trabalho sobre sua saúde e sem que ela soubesse, essa colega
ligou para sua casa e relatou toda a conversa para sua filha e isto resultou em
brigas e confusões em casa. Neste momento perguntei o que ela sentia ao
relembrar este fato e ela respondeu que muito, muito chateada, sentia raiva e
não confiava mais em ninguém, entende que a intenção a colega foi de ajudar,
mas agora prefere se preservar mais. O objetivo desta intervenção foi trazer a
15

paciente do geral para o particular para que entrasse em contato com o


sentimento que estava por trás daquela frase.

Nesta sessão procurei buscar um pouco mais da individualidade da


paciente, uma vez que todos os assuntos tragos até agora diz respeito a tudo
menos a ela, como se falar dela não fosse importante. Trouxe a ela essa
reflexão e perguntei o que ela gosta de fazer, ao que me respondeu que gosta
de se reunir com a família. Disse que recebeu um convite para ir ao teatro com
as amigas, mais nunca foi, e lhe perguntei então o que impedia, a resposta foi
um sorriso meio sem graça, insisti na pergunta se existia mais alguma coisa
que ela gostasse de fazer.

Ela diz que gostava de fazer crochê, mais parou porque um dia quase foi
assaltada no portão de casa quando fazia crochê sentada em um banquinho.
Ela também relatou que gosta de dirigir, sair sozinha no seu carro, no entanto
quando comprou seu carro teve dificuldades para certar a marcha ré e por
causa disso nunca mais dirigiu, isso a mais de 5 anos. Então procurei que ela
relembrasse situações as quais ela tinha enfrentado obstáculos e também
medo, mas conseguiu sair bem, como exemplo quando ficou viúva e as
pessoas a pressionaram para que vendesse a casa pois não iria dar conta e
bateu o pé, não vendeu a casa e ainda comprou mais três. A intenção foi leva-
la a perceber que ela lutou pela casa, por causa dos filhos, e que todas as
vezes que enfrentou e venceu situações difíceis, era sempre em prol de
terceiros, as quando se trata dela mesma, o medo de não conseguir sempre a
paralisa. Deixei-a ir para casa com esta reflexão.

A paciente começou a sessão falando no feriado participou de uma festa


de teatro no qual fez o papel de Maria Madalena e encontrou dificuldade em
decorar o texto, pois era extenso e também já não participava da equipe a mais
de 4 anos então pensou em desistir, e ainda para complicar uma colega de
equipe disse para ela parar porque iria passar vexame, e que também iria
envergonhar a todos. Ela respondeu que não iria parar e que na hora ia dar
tudo certo, ela disse que nesta hora uma voz lá dentro dela lhe dizia que ela iria
conseguir. No final deu tudo certo e o coordenador da equipe a elogiou na
frente de todos. Ao executar a escuta, perguntei se ela sabia de quem era a
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voz que falava dentro dela e ela disse de Deus. Eu concordei com ela e disse
que esta voz também poderia representar outra pessoa e disse você sabe
quem pode ser esta pessoa, ela que não conseguia imaginar. Procurei fazê-la
refletir sem invalidar a resposta dela que aquela voz poderia ser sua, ela estava
dizendo para si que iria conseguir.

Como se sentiu ao ser elogiada, e ela respondeu rápido, “vitoriosa”.


Então completei que o mérito por essa vitória era de Deus, mas também era
dela, pois ela se empenhou em decorar o texto, se esforçou para desempenhar
um bom trabalho que acreditou nela mesma quando respondeu assertivamente
a uma crítica que em outros momentos a fizeram desistir.

Nesta sessão a paciente trouxe um discurso que está se sentindo muito


bem que se fosse para classificar diria que melhorou 99%, mas ainda não
conseguiu sair dirigindo seu carro. Pedi então que ela me contasse sobre a
última vez que dirigiu, então ela contou que estavam indo a cidade do Goiás e
a irmã estava no banco de traz do carro, dizendo que ela não conseguiria
passar por ponte que é conhecida como “mata burro”, ela não entregou o carro,
passou pela ponte, chegou ao destino, mas na volta já não veio dirigindo. E a
partir disso nunca mais pegou o carro. Perguntei-lhe se fosse sua irmã que
estivesse dirigindo e você no banco de trás, o que você diria a ela nesta hora?
A resposta foi “calma você vai conseguir”. Então disse a ela que ela poderia
dizer a ela mesma que iria conseguir. Diga a você mesma o diria a sua irmã
naquele dia.

Então com o objetivo de tentar diminuir o grau de dificuldade da paciente


em conseguir pegar a chave do carro para tentar sair dirigindo, usei a técnica
da configuração real do objeto. Perguntei se ela tinha qualquer chave na bolsa,
ela me entregou um molho de chaves e eu disse, agora essa chave representa
a chave do seu carro quero que você se levante e venha pega-la em minha
mão, quero você ouça dentro de você a voz que lhe disse que iria conseguir no
dia do teatro e repita em voz alta a você mesma. Ela pensou um pouco, houve
um silencio por um instante, respirou fundo e se levantou em minha direção e
disse eu vou conseguir, eu pego de volta, esta chave, pego de volta meu carro,
pego de volta o que é meu, ego de volta minha vida e minha autonomia.
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Este está bem me causou angustia e pensei rápido, como faria a


intervenção. O significa está bem? Ela falou da depressão que teve e como
estava encurvada, entre outras coisas que preciso relatar ainda, enfim mostrei
a ela que agora que está bem então é hora de trabalharmos o seu resgata, sua
autonomia, tratamos a doença ou estabilizamos, agora vamos trabalhar as
outras coisas ou seja, sua totalidade. A paciente diz que se sente bem, que não
saiu no feriado porque precisou ajudar a filha com o neto, pois a filha está
fazendo bolos decorados para festa e precisava entregar uma encomenda.
Teve o cuidado de dizer que só não saiu com o carro por isso, mas que está
ansiosa para tal. Ela falou do trabalho da filha com admiração, ao falar deste
neto ela lembrou dos outros netos e comentou que não conhece outra palavra
melhor do que ouro para descrevê-los.

Falou da alegria de ter uma família e emendou a história de uma


reportagem que viu na televisão de uma mulher que quando era criança havia
sido torturada pela mãe adotiva e justificou que a torturadora devia ter algum
problema mental e que talvez também não a mulher não citou o nome daquela
que lhe maltratava porquê de repente ela poderia estar assistindo o programa e
poderia ficar triste. Quando ela terminou, primeiro lhe perguntei em que essa
história mexia com ela, ao que ela respondeu que o a deixou perplexa foi a
crueldade do ser humano, e completou dizendo que desta vez não chorou,
sempre chorava quando via alguma coisa triste, e continuou contado que
sempre que assistia no programa do Gugu, o quadro de volta para minha terra
ela ficava muito emocionada e ao final ficava feliz com o retorno daquelas
pessoas a sua terra natal.

Após executar a escuta fiz a intervenção por partes, primeiro retomando


o assunto dos netos que ela tanto admirava por serem amorosos, obedientes,
estudiosos, não responderem a mãe, neste momento a paciente lamentou por
não ter conseguido criar os filhos tão bem como a filha cria. Então lhe trouxe a
reflexão de que ela criou bem a filha, por isso a filha tinha conteúdos para
passar os filhos, ela inseriu na filha coisas boas, bons princípios, e talvez a
paciente não tenha se dado conta porque estava tão preocupada com a
provisão dos filhos que não perceber como estava criando estes filhos. Ela é
18

uma arvore boas e seus filhos e netos são seus frutos, é uma boa arvora e só
poderia dar frutos bons. Ela criou os filhos sozinha, sem marido pois estava
viúva, mas a filha tem a ela para ajudá-la.

Quanto à primeira reportagem procurei com que a paciente percebesse


como ela sempre encontra uma maneira de justificar quando alguém a
machuca de alguma forma, disse que ali no consultório não era da moça que
ela estava falando, mas sim dela mesma. Já na segunda reportagem a primeira
pergunta foi de onde ela veio, qual era sua terra natal, ela disse que veio de
Minas ainda menina e u perguntei se ela tinha o desejo de voltar para lá, ela
disse que não, que os pais já morreram a família não mora mais lá. Então
conversei com ela no sentido de fazê-la perceber como em todo tempo ela
estava em busca de resgatar algo que estava dentro dela, voltar a si mesma, a
sua terra interna.

Hoje a paciente estava muito animada, tinha uma notícia muito boa,
depois de 5 anos ela voltou a dirigir, para isto enfrentou alguns obstáculos,
como se cena da última vez que dirigiu se repetisse em alguns momentos, pois
desta vez quem estava no banco de traz era a filha, que falava o tempo todo no
seu ouvido, não estava segura com a mãe no volante, estava chovendo e era
noite, com diz N.J.S , tudo fora do programado, mas disse que não sentiu
medo, as pernas não bambearam e nem o coração acelerou, agora se sente
segura depois desta experiência. Então eu a parabenizei, e perguntei como ela
estava se sentido e respondeu sorrindo muito feliz. Depois trouxe um assunto
novo, falou sobre o preconceito das colegas trabalho por ela está se tratando
com uma psicóloga, pedi que me contasse um pouco sobre as colegas, ela
falou um pouco dos problemas delas e frisou em uma que tem 12 filhos, não
tem marido, e é muito ferida com a família, vive uma vida de dificuldades, é
muito amarga com a vida. Eu lhe falei um pouco sobre a importância do
acompanhamento psicológico na elaboração de conflitos e sobre a resistência
do senso comum com o psicólogo e procurei assim mostra a paciente como ela
está bem em relação a colega, pois estar cuidando de si, das suas dores,
estava caminhando para um resgate, uma autonomia e entendeu que pode
19

sozinha ao buscar uma ajuda profissional. Ela está caminhando e a colega está
se afundando cada dia mais.

A paciente está um pouco assustada, com a mudança de


comportamento das filhas pois não esperava que fosse tão rápido, mais uma
vez lhe disse algo que havia dito na sessão passada, quando ela se posicionou
e ocupou o lugar dela como mãe, sua posição obrigou suas filhas a ficarem no
lugar delas e que isso também poderia significar o quanto suas filhas o amam e
se preocupam com ela, talvez ao verem a mãe buscar ajuda fora de casa, elas
tenham despertado a respeito dos comportamentos com a mãe. Finalizei
dizendo que se permitisse ser respeitada, amada e cuidada. Nas últimas
sessões a paciente encontra-se extremante ansiosa, preocupada com a nova
situações que está vivendo. Pois descobriu que a melhor amiga é sua sobrinha
de sangue, filha de sua irmã mais velha, este assunto tem deixado a paciente
desorganizada e ansiosa, demostrando que seus sentimentos estão
emaranhados uns nos outros, pois ao mesmo tempo que amiga é sua sobrinha,
também exerce o papel de filha, que suas filhas legitimas nunca o fizeram.

9 HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS

De acordo com os dados colhidos através de entrevista triagem e


anamnese e conteúdos presentes no setting terapêutico, a hipótese diagnóstica
apresentada pela paciente é um quadro de Transtorno Depressivo Maior),
conforme Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DiagnosticandStatistical Manual of Mental Disorders–DSM-5), e de acordo
com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID - 10.
Trata-se de Episódio Depressivo grave sem sintomas psicóticos (CID-10:
F32.2), usualmente em um episódio depressivo grave, o paciente apresenta
angustia ou agitação considerável, perde de auto-estima ou sentimentos de
inutilidade, culpa e em casos particularmente mais grave o perigo de suicídio,
com presença de síndrome somática.
Ainda que não seja a única forma de olhar o paciente, os manuais
diagnósticos colaboram para uma melhor compreensão a respeito do
transtorno depressivo. Utilizei o DSM-5 para apresentar a definição do
transtorno depressivo, pois é uma das principais ferramentas para diagnóstico.
20

A depressão é uma alteração do humor definida como um transtorno


depressivo, ocasionado por uma complexa interação entre fatores orgânicos,
psicológicos e ambientais. Caracterizado por angústia, rebaixamento do humor
e pela perda de interesse, prazer e energia diante da vida (SOUZA; LACERDA,
2013).
O termo depressão, segundo Souza e Lacerda (2013) está incorporado
a três diferentes significados. Em um primeiro momento pode referir-se a um
sintoma ou queixa, se igualando neste caso a “tristeza” ou “humor triste”. No
entanto, mesmo sendo um evento desagradável, a tristeza nem sempre está
relacionada a uma doença mental. A depressão também pode evidenciar uma
síndrome psiquiátrica que é definida como uma associação de sinais e
sintomas que vão evoluindo ao mesmo tempo e apresentam causas diversas.
Por fim a depressão também pode designar um transtorno mental: o transtorno
depressivo maior, porém há outros transtornos que se diferem de acordo com
os sintomas.

De acordo com Soares (2014) o número de pessoas depressivas vem


aumentando bastante nos últimos anos, esta é uma progressão que tem se
tornado cada vez mais ameaçadora. Devido a esta progressão alarmante, em
um futuro próximo, a depressão pode chegar a ser conhecida como uma
epidemia mortal, e se tornar a primeira ou segunda maior causa de morte em
pessoas com menos de 40 anos.
O transtorno depressivo maior nos dias atuais acomete cerca de 121
milhões de pessoas no mundo e é considerada a segunda maior causa de
incapacitação entre todas as condições médicas em indivíduos entre 15 e 44
anos de idade.
Através da quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DiagnosticandStatistical Manual of Mental Disorders–
DSM-5) é possível uma melhor comunicação entre outros profissionais da área
da saúde, a psicologia também utiliza essa forma de comunicação e considera
o diagnóstico, porém no seting analisa a relação terapêutica e a forma como se
apresenta o paciente no aqui agora, dessa forma pode identificar os sintomas e
a real demanda (FRAZÃO, 1996).
21

O DSM-5 apresenta os Transtornos Depressivos separados dos transtornos


de personalidade, antes encontrados juntos no DSM-IV-TR. No DSM-5 os
transtornos depressivos são classificados comotranstorno depressivo maior,
transtorno persistente (distímia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno
depressivo induzido por substância/medicamentos, transtorno depressivo
devido à outra condição médica, transtorno depressivo especificado e
transtorno depressivo não especificado. O que diferencia cada classificação
são apenas alguns aspectos como a duração do sintoma, momento ou um
agrupamento de sintomas(DSM-5, 2014).
As categorias diagnósticas não devem ser desconsideradas de uma terapia,
contudo, não se deve olhar o indivíduo apenas por meio destas. O tratamento
psicológico não descarta essa via que é o diagnóstico, mas também olha o
paciente em sua totalidade, sem a intenção de apenas enquadrá-lo em uma
classificação nosológica (MONTEIRO; LAGE, 2007).
O Transtorno Depressivo Maior é caracterizado por um humor deprimido
que gera perda de interesse ou prazer em atividades, pelo menos por duas
semanas consecutivas. Além destes, são adicionados mais quatro sintomas
que podem ser a perda de sono, alterações de apetite, sentimento de culpa,
dificuldade de concentração e tentativa de suicídio. Estes sintomas podem
gerar prejuízo e sofrimento em várias áreas da vida do indivíduo, por exemplo:
família, trabalho, escola e vida pessoal (DSM-5, 2014).
A forma como os pacientes percebem a depressão é caracterizada
através de relatos sobre sentimentos de angústia, tristeza e somatizações
como dores de cabeça. Em casos extremos pode existir falta de higiene
mínima. O paciente que utiliza drogas e medicamentos pode ter os mesmos
sintomas e não ser diagnosticado como depressivo.Os sintomas de tristeza
profunda e angústia também podem ser decorrentes de um processo de luto
que quando contínuo pode se transformar em um quadro depressivo (DSM-5,
2014).
Quando os sintomas permanecem por pelo menos dois anos
caracteriza-se o Transtorno Depressivo Persistente (distímia). Este transtorno é
caracterizado por falta de energia, fadiga, dificuldade de concentração.Também
observa-se perdas nacapacidade de percepção e autocríticaque gera prejuízos
em diversas áreas da vida do indivíduo (DSM-5, 2014).Torna-se relevante
22

salientar que segundo Moreno (2003) o transtorno depressivo maior e o


depressivo persistente aparecem com maior frequencia em indivíduos que
possuem parentes de primeiro grau também portadores destes transtornos.
As categorias diagnósticas não devem ser desconsideradas de uma
terapia, contudo, não se deve olhar o indivíduo apenas por meio destas. O
tratamento psicológico não descarta essa via que é o diagnóstico, mas também
olha o paciente em sua totalidade, sem a intenção de apenas enquadrá-lo em
uma classificação nosológica (MONTEIRO; LAGE, 2007).
Normalmente as pessoas procuram com mais facilidade um médico ao
perceberem alguma doença física, entretanto quando se trata de um
tratamento psicológico, a procura por tratamento é menos frequente. Esta
resistência se deve ao fato de haver uma busca por resultados imediatos, que
não existem no tratamento psicológico. Este requer um processo a fim de
ajudar o paciente a elaborar, compreender e conhecer a si mesmo, aprendendo
a lidar e superar tais sofrimentos, percebendo novas possibilidades e
oportunidades na vida (COSTA, 2006).
Segundo Costa (2006), por meio da terapia é possível que o paciente
desenvolva habilidades que lhe ofereçam a capacidade de lidar com situações
de conflitos, sendo proporcionada a elaboração de perdas e eventos
traumáticos, é possível também desenvolver um maior amadurecimento social
e psicológico.
Diante da hipótese diagnóstica aqui levantada, a indicação é que a
paciente dê continuidade ao acompanhamento psicológico em curso, não
desconsiderando a importância da medicação em uso, a paciente encontra-se
no meio do processoterapêutico, e já foram trabalhados muitos aspectos e
relação a doença psíquica e no momento o que está sendo trabalhado é
resgate se si mesma, elaboração de conflitos internos e descobertas de
recursos na elaboração dos mesmos, uma vez que estes são alguns dos
fatores responsáveis por desencadeamento da depressão apresentada. Para
que se obtenha um resultado efetivo do tratamento da depressão é,
fundamental o acompanhamento psicológico e caso a paciente não continue a
psicoterapia o prognóstico pode ser desfavorável não somente no que tange o
rompimento do vínculo terapêutico que uma importante ferramenta no
tratamento, como também no sentido de prejuízos das relações sociais, e
23

podendo chegar ao extremo de gravidade da doença, pois o paciente sem o


acompanhamento psicológico pode chegar um quadro recorrência e
cronicidade da depressão.
24

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fenomenologia é definida como uma nova forma de olhar o paciente, com


ênfase no fenômeno e como ele se manifesta, a abordagem fenomenológica
existencial foi à ponte para primeira experiência de contato direto com o
paciente, rompendo assim a fronteira entre a teoria e a prática.

Os textos apresentados durante o estágio, as resenhas elaboradas,


apesar de seus conteúdos ricos em teorias, não foram suficientes para diminuir
a expectativa da primeira experiência, o medo de não conseguir ajudar o outro
em sofrimento é um fenômeno que assola e muitas vezes bloqueiam o
estagiário em psicologia.

Mas é incrível como os autores dos textos lidos como Husserl,


heidegger, Perls, Carl Rogers, vem a nossa memória no consultório, ou como
eles se manifestam por assim dizer os conhecimentos adquiridos durante o
curso. A escolha por esta abordagem foi assertiva, produtiva para o
desenvolvimento da paciente no processo terapêutico, por possuir
características que fazem com que psicólogo e paciente descubram juntos o
rumo que a terapia vai seguir através de uma relação dialógica e intersubjetiva.

Segundo Giovanetti (1993), o encontro psicoterapêutico concretiza-se


por meio dessa relação que possibilita a troca de experiências e de vivências, é
uma relação psicológica que envolve pessoas diferentes com características
especiais, o que existe de específico nesta relação é o fato de veicular os
conteúdos subjetivos entre terapeuta e paciente, ou seja, é uma relação
interpessoal subjetiva.

Assim foi estabelecida a relação terapêutica neste caso clínico


apresentado, o fato de estar com a paciente, fazendo suspensão dos apriores,
foi fundamental para que se pudesse aliviar o sofrimento em cada fenômeno
presente nas sessões, passo a passo a paciente está caminhando para além
de agradar os outros, para um auto direção, para uma abertura da experiência,
para aceitação das outras pessoas, da confiança em si mesmo, rumo ao
encontro de si mesma, para ser o que realmente se é conforme Carl Rogers.
25

O caminho para o levantamento da hipótese diagnóstica trilhou por cada


encontro entre terapeuta e paciente, a transcendência do olhar
fenomenológico, prestando atenção em cada fenômeno existente no momento,
considerando os fatores dos manuais de classificação para o diagnóstico.

Alguns fatores contribuíram de forma muito importante para formular o


diagnóstico N.J.S, os sintomas apresentados pela paciente e classificados
pelo DSM- 5 e CID-10 foram separados em quatro níveis de análise, a nível
comportamental, foram observados a presença de agitação, linguagem
repetitiva sobre o mesmo problema; na esfera corporal a postura encontra-se
recaída, ombros decaídos, voz apagada, ritmo lento de fala; na esfera
interpessoal apresentou passividade, comportamento submissos em relação
aos outros, busca de validação externa do próprio valor e atividades de lazer
reduzidas.
A nível cognitivo existe um desvio de atenção e de memória, atenção
seletiva para aspectos negativos e dificuldades na recuperação de lembranças
positivas, ruminação constante sobre seus sintomas, suas causas ou suas
consequências, dificuldade para tomar decisão e de concentração, déficit em
habilidades de solução de problemas; a nível psicofisiológicos apresentou
alterações no sono, no apetite e males físicos. A nível emocional e
motivacional, tristeza, culpa, frustração, fracasso, irritação e anedonia
(dificuldade de experimentar emoções positivas), abulia (dificuldade para iniciar
tarefas, diminuição do interesse social e lazer).
A psicoterapia está em desenvolvimento, a paciente tem apresentado
melhoras significativas, e como a depressão é vista como uma totalidade e não
como um sintoma, este é desafio para o próximo semestre.
26

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