Você está na página 1de 18

LINGUÍSTICA

APLICADA AO
ENSINO DO INGLÊS

Dayse Cristina
Aquisição de segunda
língua: teorias e
abordagens
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as principais abordagens sobre aquisição de segunda língua.


 Reconhecer os conceitos teóricos básicos sobre a aquisição de se-
gunda língua.
 Desenvolver um pensamento crítico em relação às diferentes teorias
e abordagens sobre aquisição de segunda língua.

Introdução
A aquisição de uma segunda língua pode acontecer de maneira formal
ou informal. São muitas as teorias e as abordagens sobre aquisição de
segunda língua, e elas variam de acordo com o pensamento de cada
autor. Ao falar e escrever usando a segunda língua, por exemplo, você
considera, inevitavelmente, o contexto para se comunicar.
Neste capítulo, você vai estudar as principais abordagens sobre aqui-
sição de segunda língua e seus conceitos teóricos, além de aprender a
desenvolver um pensamento crítico em relação às diferentes teorias e
abordagens sobre o tema.

As principais abordagens sobre aquisição


de segunda língua
O processo de aquisição de segunda língua (L2) tem sido objeto de estudo de
muitos pesquisadores. Elaborar novas teorias sobre aquisição de segunda língua
tem levado estudiosos a pesquisarem sobre como a aquisição está ligada à
aprendizagem humana e, ao mesmo tempo, à comunicação (BEZERRA, 2003).
2 Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens

Essa curiosidade marca, também, um importante passo, que é o de tentar


explicar o processo de aprendizagem detalhadamente para melhor entender
os sucessos e insucessos que os estudantes de uma segunda língua enfrentam,
como afirma Bezerra (2003).
Os estudos linguísticos sobre aquisição de linguagem começaram a ganhar
mais destaque com a contribuição de Noam Chomsky. Entretanto, há contri-
buições sobre o processo de aquisição de segunda língua também relacionadas
à questão sociolinguística.
Na década de 1960, surgiram os estudos sobre a aprendizagem da segunda
língua, relacionando o assunto a aspectos das práticas de ensino de línguas.
No entanto, desde o movimento da reforma na área de ensino de línguas, no
final do século XIX, havia uma tendência de propor uma base teórica na área
de aprendizagem de línguas para fundamentar os métodos que surgissem
(BEZERRA, 2003). Chegou-se à conclusão, assim como Bezerra (2003, p.
32) ainda expõe, que:

[...] a aprendizagem de língua materna estaria equacionada à formação de


hábitos, a partir de um estímulo que acarretaria uma resposta que, por sua
vez, sofreria um reforço positivo caso a resposta fosse aquela esperada e que
devesse ser mantida. O reforço seria negativo caso a resposta não fosse a
esperada e não devesse ser mantida. No que diz respeito ao aprendizado de
L2, haveria um problema: substituir os hábitos linguísticos adquiridos em L1
por outros, podendo haver interferência positiva ou negativa.

Noam Chomsky é americano, linguista, professor e seu trabalho está relacionado à


linguagem. Para ele, o desenvolvimento da linguagem é feito por erros, até que se
consiga internalizar as estruturas linguísticas

Para Chomsky, as crianças, por exemplo, são criativas, ou seja, elas não só
reproduzem as frases que ouvem, mas internalizam as regras que aprendem
para criar novas combinações de frases e estruturas. Chomsky, então, propõe
a existência de uma gramática universal com uma perspectiva linguística
para compreender a aquisição da L2 (BEZERRA, 2003, p. 32), porque para
ele é preferível:
Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens 3

[...] trabalhar com a língua em abstração, ou seja, orientada para a compe-


tência (capacidade para produzir sentenças gramaticalmente corretas), pois a
produção (a efetivação daquela capacidade no uso) está cheia de incorreções.
Baseado nesse princípio, ele afirma que as crianças são portadoras de um
mecanismo de aquisição de linguagem, de sorte que são naturalmente pro-
gramadas para descobrir as regras da língua, de forma que não passa pelo
processo estímulo-resposta-reforço.

A gramática universal (GU) que Chomsky propõe é comum para todos os


seres humanos e é regida por aspectos que fazem as línguas serem similares
entre si; esses aspectos, por sua vez, restringem-se a partir de parâmetros que
são responsáveis por um conjunto de propriedades linguísticas. Dessa forma,

[...] as crianças desenvolveriam em L1 uma ‘gramática básica’ através do


insumo positivo de sentenças que auxiliam a modificar os princípios básicos
que elas já trazem consigo através da parametrização dos elementos não mar-
cados e “desenvolveriam também uma gramática periférica” para dar conta
de regras mais marcadas e específicas daquela L1, diferentes dos universais
linguísticos (BEZERRA, 2003, p. 33).

Para Mitchell e Myles (1998), a aquisição de L2 pode assumir algumas


possibilidades lógicas. São elas:

 Não acesso à hipótese: compreensão de que a GU não influencia a aquisição


de L2 em função de o aprendiz, que se atrofia com a idade, não ter mais
acesso a ela. Considera-se que há uma idade crítica para o aprendizado de
L2 depois da qual o aprendiz precisa utilizar outros recursos.
 Acesso total à hipótese: os processos de aquisição de L1 e L2 são
semelhantes, porque o aprendiz acessa diretamente a GU. Sem que
sejam constatadas limitações em função de algum período crítico, a
diferença está na maturidade cognitiva e nas necessidades do aprendiz.
 Acesso indireto à hipótese: embora a GU não esteja envolvida direta-
mente na aquisição de L2, o aprendiz tem acesso indireto por meio da
L1, a partir de parâmetros já fixados. No caso de a L2 apresentar parâ-
metros diferentes, o aprendiz deve basear-se em mecanismos diversos
para adequar os dados referentes à L2 às suas representações internas.
 Acesso parcial à hipótese: buscando conciliar fatos contraditórios no
processo de aquisição de L2, o aprendiz tem, à sua disposição, alguns
aspectos da GU.
4 Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens

Bezerra (2003) apresenta algumas críticas de autores em relação ao modelo


teórico de aquisição de linguagem, como Ellis (1994), que afirma que a hipótese da
gramática universal admite um conhecimento linguístico e homogêneo, ignorando
a variação; Mitchell e Myles (1998) apontam que é preocupante a limitação que se
dá à sintaxe, à semântica, à pragmática e ao discurso, porque, sob esse modelo, a
pesquisa não leva em consideração variáveis psicológicas e sociais; Larsen-Freeman
e Long (1994 apud BEZERRA, 2003, p. 34) questionam a afirmação de Chomsky
de que a aprendizagem de línguas ocorre rapidamente e de que está basicamente
completada por volta dos cinco anos de idade, “posto que há evidências empíricas
de que aspectos complexos de sintaxe são adquiridos bem mais tarde”. Entretanto,
podemos salientar que, conforme apontam Mitchell e Myles (1998, p. 70), esse
modelo teórico parece útil se considerado como uma ferramenta sofisticada para
análise linguística, permitindo aos pesquisadores formularem hipóteses bem
definidas que podem ser testadas em pesquisas empíricas.
Sob a perspectiva sociolinguística em aquisição de L2, Mitchell e Myles (1998,
p. 164) dizem que a etnografia da comunicação “[...] estuda os papéis sociais da
linguagem na estruturação da identidade dos indivíduos, na cultura de comunidades
e sociedades e nos contextos e eventos nos quais os participantes fazem um grande
esforço para atingir seus objetivos comunicativos através de uma L2”. Bezerra
(2003, p. 45) elenca temas de pesquisa da etnografia da comunicação, como:

 Controle de acesso e relações de poder na comunicação em L2 – estudos


que demonstram que aprendizes de L2, em contextos reais de comuni-
cação, podem ser objeto de abuso e discriminação racial devido a uma
assimetria de poder entre os que estão interagindo, especialmente entre
os representantes da classe dominante falante da L2;
 Divergências e mudanças em relação às expectativas culturais – estudos
que se debruçam sobre problemas na comunicação entre falantes nativos
e não nativos, especialmente no que se refere à interpretação das regras
particulares de conduta. Os conflitos analisados derivam de variados
contextos sociais em que, para que se interaja com cooperação e se evite
constrangimentos, algum conhecimento cultural deve ser compartilhado.
 Identidade e autoestima do aprendiz – estudos sobre esses fatores como
integrantes das trocas realizadas a partir da L2 e sobre sua interferência
na comunicação entre os participantes do processo de interação.
 Afeto e a emoção no uso de L2 – estudos que revisam a teoria do filtro
afetivo de Krashen mostram como ela não é suficiente para considerar
uma interface social que leve em conta questões ligadas ao afeto e à
Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens 5

emoção. Desse modo, a teoria do filtro afetivo não contribui com os


estudos etnográficos de aquisição/aprendizagem da L2.

Observe a Figura 1, que traz um exemplo de como a distância ou a proximi-


dade entre as línguas dificulta ou facilita a comunicação entre os indivíduos.

Figura 1. Proximidade e distância entre as línguas europeias.


Fonte: Dicionário e Gramática (2016, documento on-line).
6 Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens

Para Mitchell e Myles (1998), o processo de aquisição e uso de L2 sofre


grande influência social e não pode ser considerado como um processo que
ocorre de maneira neutra; por isso, aprender uma segunda língua apresenta
certas dificuldades. A tradição sociolinguística está relacionada à variação
que ocorre nos estudos sobre aquisição de L2 (BEZERRA, 2003), o que fez
Tarone (1988 apud BEZERRA, 2003, p. 47) detectar o seguinte:

[...] variação de acordo com o contexto linguístico; variação de acordo com


fatores psicológicos de processamento; variações de acordo com as caracte-
rísticas do contexto social (interlocutor, tarefa ou tópico, normas sociais) e
variações de acordo com a função da linguagem.

Os estudos referentes à L2 e à variação que ocorre na sua aprendizagem


estão sendo entendidos de maneira que permitam sugerir hipóteses quando
analisados.

Stephen Krashen é um linguista norte-americano e fundador do Modelo do Monitor,


modelo que destaca a hipótese da distinção entre aquisição e aprendizagem.

Conceitos básicos sobre aquisição


de segunda língua
Os estudos linguísticos têm dado ênfase a falantes que dominam uma língua, a
língua materna (L1) (SILVA, 2005). No entanto, os mesmos estudos linguísticos
apontam que há um grande número de falantes bilíngues, ou seja, falantes que
moram em países como o Canadá e a Suíça, onde são faladas duas ou três línguas.
A investigação sobre aquisição de segunda língua, mais precisamente da
língua inglesa como segunda língua, traz alguns conceitos de L2.

De uma forma simples, podemos definir Linguística como o estudo da linguagem


humana. Por seu turno, enquanto faculdade cerebral que nos permite a aquisição
de uma língua particular, a linguagem pode ser encarada como ‘um sistema de
conhecimentos geneticamente inscritos na mente humana, que a criança traz a
priori para o processo de aquisição de uma língua’, os quais serão moldados em
função do input linguístico a que a mesma é submetida (SILVA, 2005, p. 98).
Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens 7

A língua materna é aprendida na infância e, segundo Silva (2005), não


corresponde necessariamente à língua oficial do país em que a pessoa vive. Se
isso ocorre, podemos dizer que essa pessoa pode adquirir uma segunda língua,
ou seja, aprender a língua dominante do país onde ela vive, sendo a língua
dominante, nesse caso, a L2. Logo, a aquisição da L2 acontece simultaneamente
à L1, o que marca o bilinguismo de uma criança, no qual o aprendizado não é
o de uma língua estrangeira (adquirida em condições formais, no contexto de
escolas), e sim, efetivamente, de uma L2 (já que a criança a adquire como uma
língua materna, em função de ser exposta a essa língua desde os seus primeiros
meses e ao longo de seu desenvolvimento linguístico) (SILVA, 2005, p. 99).
A aquisição de L2 já é alvo de investigação desde a década de 1970, sendo
centrada, sobretudo, no domínio da sintaxe ou da fonologia, como afirma Silva
(2005), que ainda questiona se há uma sequência natural, mediante a qual os
aprendizes de L2 progridem, ou se o percurso na L2 varia de indivíduo para
indivíduo, sob a influência de fatores como as propriedades da sua L1?

Os estudos relativos à sintaxe de línguas próximas, mas com propriedades distintas


quanto à posição que os constituintes principais ocupam nas frases (como o Inglês
ou o Português, por exemplo) permitem dar uma resposta a esta questão, tornando
possível admitir que a sequência de aquisição é determinada principalmente pela
aquisição de uma ordem de palavras típica e pela aprendizagem subsequente
relativa à forma como os elementos se movem (SILVA, 2005, p. 102).

Observe o exemplo: Give me some more time, please (Dê-me mais tempo,
por favor). Em inglês, a posição do pronome oblíquo (nesse caso, me) é sempre
depois de um, principalmente quando esse verbo começa uma frase imperativa.
Em português, a regra é a mesma, caracterizando uma fala mais formal, pois
é mais comum dizer oralmente: “me dê mais tempo, por favor”. Em inglês,
Give me some more time, please é a única forma de se dizer essa frase. Então,
na aquisição do inglês como L2, aprende-se, subsequentemente, que não é
possível dizer me give, mas somente give me — enquanto, por aproximação
de sintaxe, diz-se naturalmente some more time, please.
Os estudos em linguística também procuram analisar se há semelhança entre
aquisição de L1 e L2, e esse é um tema recorrente na aquisição de L2. Como
exemplo (SILVA, 2005), é possível apontar o fato de estudos diversos revelarem
que os falantes de inglês como L1 cometem o mesmo tipo de erro morfológico e
sintático que os falantes de inglês como L2. Silva (2005, p. 103) também diz que

[...] uma questão subjacente a esta consiste em procurar perceber até que ponto
o processo de aquisição de L2 é, ou não, mais bem-sucedido do que o processo
8 Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens

envolvido na aquisição de L1, do ponto de vista do nível de domínio linguístico


alcançado pelos falantes. A literatura aponta ao processo de aquisição de L2
uma maior taxa de insucesso do que a resultante da aquisição de L1, invocando,
entre outras razões, as lacunas na construção de uma adequada gramática de L2.

Contudo, alegar que os falantes de L2 são malsucedidos no processo de aquisi-


ção de uma segunda língua é alegar um fracasso que depende de mais instrumentos
de medida que possam avaliar se realmente há sucesso ou insucesso em ambos os
processos de L1 e L2. Essa é uma tarefa que depende de mais fatores, como o de
adquirir um idioma em ambientes ou cenários distintos, afetando o nível de expo-
sição, dado que não pode ser usado para estabelecer uma comparação equivalente
de L1 e L2. Então, se é verdade que “[...] parece haver muitas semelhanças entre
o processo de aquisição de L1 e de L2, a variação encontrada também parece ser
responsável por muitas diferenças”, como afirma Silva (2005, p. 103).
Outros fatores envolvidos na aquisição de L2 são motivação, desenvolvimento
cognitivo, personalidade, idade, entre outros. A idade, por exemplo, tem apresen-
tado um aspecto decisivo nos estudos já realizados. Acredita-se que “[...] as crianças
tendem a obter melhores resultados no processo de aquisição de L2 do que os
adultos”; os estudos de Krashen, no entanto, mostram que “[...] os adultos parecem
adquirir L2 melhor a curto prazo e as crianças a longo prazo”, fazendo com que

[...] desde então, alguns trabalhos sejam questionados quanto à superioridade do


desempenho das crianças, alegando que, se relevarmos todas as diferenças entre
adultos e crianças para além da idade, os adultos frequentemente apresentam
melhores desempenhos do que as crianças (SILVA, 2005, p. 104).

Uma informação relevante que as pesquisas não costumam trazer é a melhor


idade para se aprender uma segunda língua, embora apontem estudos que mos-
tram que há vantagens em iniciar o estudo procecemente para alguns domínios
específicos, como a pronúncia e o sotaque, embora, para alcançar um nível
básico em pouco tempo, possa ser favorável um início mais tardio (SILVA, 2005).

Mais uma vez, o interesse dos estudos relacionados a L2 não reside nos dados,
como nas explicações que nos oferecem quanto ao processo de aquisição de
L2 e, no que se refere à questão da idade, parece claro que esse é um fator
determinante, mas qual é sua real dimensão e de que forma os seus efeitos ope-
ram sobre o processo de aquisição de segunda língua? (SILVA, 2005, p. 104).

Essa discussão também levanta a indagação sobre se é possível que um falante


de L2 consiga atingir o mesmo nível de desempenho que os falantes nativos.
Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens 9

Essa questão, como apresenta Silva (2005), está relacionada à idade, que, por
sua vez, inevitavelmente, levanta outra indagação: “[...] qual é o estágio final
que os falantes de L2 atingem quanto ao conhecimento de uma L2”? A resposta
para essa indagação deve ser direcionada à competência que o falante de L2
desempenhará. Logo, outra indagação surge em relação a até que ponto a com-
paração com o desempenho do falante nativo constitui uma medida apropriada
para avaliar o nível de desempenho de um falante de L2 (SILVA, 2005, p. 104).
O que se pode afirmar é que há influência da L1 no processo de aquisição
de L2, como garante Silva (2005, p. 105), e esse estudo tem sofrido influência
desde a década de 1950. Essa influência é denominada transferência, “[...]
termo que identifica a transposição de formas e significados de uma língua
para outra, resultando em interferência”.
Silva (2005, p. 106) ainda coloca que “[...] outro dos aspectos em que se
torna evidente a transferência de propriedades da L1 para L2 dizem respeito aos
erros ortográficos cuja origem podemos atribuir a dificuldades na articulação
de determinados sons”, fazendo parecer que a questão aqui lançada parece
poder admitir que a noção de transferência, entendida enquanto relação entre
duas línguas, constitui a essência da aquisição de uma L2 e, de fato, caso o
processo de aquisição de L2 fosse idêntico ao da aquisição de L1, não haveria
necessidade de uma disciplina distinta dedicada à investigação em aquisição
de L2”. Observe a Figura 2, que apresenta um modelo para o processamento
cognitivo relacionado à produção em L2.

Figura 2. Modelo para o processamento cognitivo em L2.


Fonte: Stanich e Meireles (2009, p. 191).
10 Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens

As críticas em relação às teorias de aquisição


de segunda língua
Podemos começar esta seção perguntando-nos sobre a importância do input
linguístico na aquisição de L2 (SILVA, 2005). Para a aquisição de L2, é óbvia a
constatação de que a exposição a essa língua se faz necessária para que, então,
tenha-se acesso ao seu sistema linguístico. Como Silva (2005, p. 107) expõe,

[...] uma língua seria assim adquirida mediante um esforço natural para atingir
a compreensão em comunicação: o sucesso das situações de imersão linguística
e das aprendizagens bilíngues, bem como o fato de alguns falantes passarem
por um período silencioso inicial, durante o qual preferem não falar, mas aos
poucos avançam no seu desenvolvimento linguístico, parecem assim constituir
evidência do papel privilegiado que o input linguístico desempenha.

Foram muitas as críticas em relação à valorização das competências com-


preensivas em detrimento das expressivas; mesmo assim, continua-se aplicando
esse modelo ao ensino de línguas por causa de sua natureza intuitiva. Outra
crítica bastante comum e debatida é em relação à importância do que se usa na
língua como input (SILVA, 2005, p. 107): trata-se de uma evidência positiva
ou negativa? A evidência positiva, o conjunto de dados com que o falante é
confrontado, sempre foi considerada com maior importância do que a evidência
negativa, ou seja, as correções efetuadas ou ainda o confronto com formas
linguísticas não existentes na língua a ser adquirida.
A crítica mais recente, como afirma Silva (2005), é referente às evidências
negativas sobre dados relevantes de aquisição de L2 principalmente sobre as cor-
reções e sobre a explicitação de informações relativas ao conhecimento da língua.

Podemos assim, em síntese, referir que o input linguístico parece desempenhar


um papel fundamental quer no processo de aquisição de L1, quer de L2, sendo
que, neste último caso, se torna igualmente relevante considerar dados prove-
nientes de evidência negativa, dado que permitem ao falante autorregular, até
certo ponto, o seu processo de desenvolvimento linguístico (SILVA, 2005, p. 107).

É difícil ilustrar com perguntas e respostas toda a complexidade envolvida


no processo de aquisição de segunda língua considerando apenas o processo
linguístico como um condicionante a se referir, sem mencionar outros condi-
cionantes de natureza sociocultural, por exemplo (SILVA, 2005). O professor
também é um influenciador e deve ser colocado diante do desafio de com-
preender e procurar respostas que direcionem o falante de L2 ao seu pleno
Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens 11

desenvolvimento, atendendo às suas motivações e especificidades individuais,


que, de certa forma, referem-se à L2 (SILVA, 2005).
Mesmo havendo diferenças entre L1 e L2, a investigação, nesse âmbito,
aproxima os dois processos de aquisição, uma vez que não são idênticos e
apresentam paralelismos evidentes, como parece demonstrar o fato de que os
falantes de L2 cometem erros semelhantes aos produzidos por falantes nativos
da L2 e manifestam a capacidade de compreender e processar uma L2 antes
de se exprimirem nesse mesmo idioma, tal como os falantes de um idioma
apenas” (SILVA, 2005, p. 108).
Um falante de L2 já tem acesso à sua primeira língua, logo, já é um falante
mais apto a desenvolver e ter uma percepção sobre a funcionalidade da língua
que está aprendendo, ou seja, esse falante percebe que a linguagem constitui
facilitadores para a aquisição da L2, como conclui Silva (2005, p. 108). Outro fato
exposto pela autora é o de que é um mito considerar que a causa de confusões,
atrasos ou outros prejuízos no desenvolvimento linguístico seja a exposição a duas
línguas no período de aquisição de uma L1. Pesquisas científicas não comprovam
essa hipótese e, pelo contrário, demonstram que o processo de bilinguismo pode,
inclusive, ser um potencializador do desenvolvimento linguístico.
Sendo esse um reflexo positivo que se estende às próprias competências de
leitura e escrita, Mitchell e Myles (1998 apud BEZERRA, 2003, p. 47) referem-
-se à “[...] possibilidade de o aprendiz produzir versões diferentes de uma mesma
construção, mais ou menos próxima da língua alvo, em um curto espaço de tempo”.
Quando o professor compreende as variáveis envolvidas no processo de
aquisição de segunda língua, pode ajudar com suas estratégias didáticas. A
formação de docentes nesse aspecto se faz urgente, pois esses profissionais
também precisam ser linguistas educacionais e precisam ter a percepção de
que são responsáveis educativos na aquisição de segunda língua e devem estar
atentos às necessidades sentidas pelos falantes com quem desenvolvem esse
trabalho (SILVA, 2005).

Acesse o link a seguir para ler o texto Abordagens de ensino de línguas: comunicativa e
intercultural, que discute as abordagens comunicativa e intercultural para o ensino e
aprendizagem de línguas.

https://goo.gl/75bnXa
12 Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens

1. A aquisição de segunda língua d) aprender uma segunda língua


revela muitas abordagens apresenta algumas dificuldades.
e teorias. Em relação a esse e) é impossível falar a L1 e
estudo, é correto afirmar que: a L2 corretamente.
a) todas as teorias são contraditórias 4. Imagine que um aprendiz de inglês
e não são satisfatórias como L2 fala a seguinte frase:
para aquisição de L2. *Depend of the people. Depois de
b) os professores são responsáveis estudar mais essa L2, consegue
pelo insucesso de um aluno formular a frase como It depends
ao não aprender a L2. on the people. Isso demonstra:
c) a língua materna influencia a) o contexto da frase e
a aquisição de uma seus significados.
segunda língua. b) o estudo sintático no processo
d) o processo de aquisição de aquisição da L2.
de segunda língua já c) problemas que aprender
esgotou seus estudos. inglês pode causar.
e) o ensino focado na gramática d) que o processo de aprendizagem
ajuda a desenvolver a L2. que não funciona para todos.
2. Na aquisição de segunda língua, e) o estudo de L2 sem contexto.
Chomsky, renomado linguista 5. Em relação a correções da
norte-americano, propôs: L2, pode-se afirmar que:
a) a gramática universal. a) feitas as correções, os erros
b) uma gramática alternativa. acontecem porque as pessoas
c) a gramática prescritiva. já estão acostumadas com eles.
d) uma gramática descritiva. b) os erros não acontecem
e) a gramática regional. quando os alunos estão
3. Há muitos questionamentos sobre estudando corretamente.
a aquisição de uma segunda c) os professores são
língua, e um deles revela que: responsáveis pelos erros
a) é impossível aprender inglês. que os alunos cometem.
b) aprender uma segunda língua d) as correções são assertivas com
apresenta muitas dúvidas. metodologias adequadas.
c) é impossível aprender e) há evidências negativas sobre
um terceiro idioma. dados relevantes à correção.
Aquisição de segunda língua: teorias e abordagens 13

BEZERRA, I. C. R. M. Aquisição de segunda língua de uma perspectiva lingüística a uma


perspectiva social. SOLETRAS, n. 5-6, 2003. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.
uerj.br/index.php/soletras/article/view/4455>. Acesso em: 12 ago. 2018.
DICIONÁRIO E GRAMÁTICA. Proximidade e distância entre as línguas europeias. 04 dez.
2016. Disponível em: <https://dicionarioegramatica.com.br/2016/12/04/proximidade-
-e-distancia-entre-as-linguas-europeias/>. Acesso em: 12 ago. 2018.
ELLIS, R. Understanding second language acquisition. Oxford: Oxford University Press, 1994.
MITCHELL, R.; MYLES, F. Second language learning theories. London: Arnold Publishers,
1998.
SILVA, M. C. V. A aquisição de uma Língua Segunda: muitas questões e algumas respostas.
Saber(e)Educar, n. 10, p. 97-110, 2005. Disponível em: <http://repositorio.esepf.pt/bits-
tream/20.500.11796/723/2/SeE10_Aquisi_oCristinaVieira.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2018.
STANICH, K.; MEIRELES, S. Processamento cognitivo relacionado à produção em lín-
gua estrangeira e aprendizagem de falantes não-nativos de alemão. Pandaemonium
germanicum, v.14, p. 179-205, 2009. Disponível em: <www.fflch.usp.br/dlm/alemao/
pandaemoniumgermanicum>. Acesso em: 12 ago. 2018.

Leituras recomendadas
GADIOLI, I. Aquisição de segunda língua: metodologia do ensino-aprendizagem de inglês
I – Aula 2. 2017. Disponível em: <http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCata
lago/11093606012017Metodologia_do_Ensino_Aprendizagem_de_Ingles_I._Aula_2.
pdf>. Acesso em: 12 ago. 2018.
LARSEN-FREEMAN, D.; LONG, M. An introduction to second language acquisition research.
London: Longman, 1994.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

Você também pode gostar