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Variedade linguística e relações lógico-discursivas em foco na


leitura: relato de experiência

Dayana Teles de Barcelos

Resumo: Este artigo apresenta as reflexões e aprendizagens produzidas com


a realização do Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa do curso de
Letras da Universidade Estadual de Goiás. Visando desenvolver habilidades de
leitura e escrita do aluno, fundamentada em Brito (2003), Oliveira (2010) e
Antunes (2010), propus uma sequência didática sobre os conteúdos Variedade
Linguística e Coesão e Coerência para turmas de 9º ano do Ensino
Fundamental, com objetivo de identificar as marcas lingüísticas que evidenciam
o locutor e o interlocutor de um texto e estabelecer relações lógico-discursivas
presentes no texto. Foram propostas atividades de leitura e interpretação de
textos, para que o aluno pudesse compreender os fatores socioculturais e
geográficos que influenciam a variação lingüística dos falantes da Língua
Portuguesa, bem como compreender, conceituar e empregar os mecanismos
de coesão e coerência nos textos lidos e produzidos por ele. Como resultado,
percebi que as aulas contribuíram para que o aluno aprimorasse tanto a leitura
quanto a escrita, compreendendo a linguagem adequada para cada situação
de comunicação, além da elaboração e organização textual. As atividades
desenvolvidas tiveram resultados satisfatórios, evidenciando a compreensão
das variações da língua portuguesa e das marcas textuais de um texto padrão
ou não padrão. Durante está experiência como regente de uma sala, pode
acrescentar em minha prática pedagógica a vivência de iniciar sequência
didática que contribui imensamente para o aprimoramento da escrita e fala dos
alunos. Acompanhar o desenvolvimento dos mesmos relatando e observando
em qual ponto as dificuldades aparecem e em como sanar as dúvidas. Assim
em como aprimorar a minha didática para ter êxito em minhas aulas.
Palavras Chave: Estágio Supervisionado. Leitura. Variedade Linguística.
Coesão e Coerência.

1. Introdução

Este artigo apresenta o relato detalhado da experiência de estágio de


Língua Portuguesa do curso de Letras da Universidade Estadual de Goiás,
campus Inhumas. O Estágio de Licenciatura é uma exigência da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9394/96), sendo indispensável
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para a formação profissional com o intuito de proporcionar experiências e


vivência que prepara o docente para o mercado de trabalho em que o
licenciado irá atuar.
O projeto de estágio foi desenvolvido em uma turma de 40 alunos de 9º
ano, em uma instituição na cidade de Goiânia, que estavam sendo preparados
para realizarem a Prova Brasil, portanto, as atividades das aulas visaram
aprimorar as habilidades de leitura e interpretação desses alunos, sobretudo
em relação a interpretação dos temos trabalhados percebi que alguns tiveram
dificuldades na interpretação, de acordo com as atividades e avaliações
aplicadas pela unidade escolar.
Abordando temas e conteúdos que seriam possíveis para estar na Prova
Brasil, foram realizadas aulas expositivas e explicativas mais dinâmicas e
descontraídas, proporcionando um ambiente agradável e promovendo o
interesse dos mesmos. A interação entre nós, alunos e professor, é nítido ter
um maior percentual de aprendizagem por meio deste método. Como um
processo de troca de saberes, assumindo ao professor o papel de orientador.
Ao longo deste período percebi a dificuldade da maioria dos alunos em
interpretação textual e lógica, então procurei estratégias para orientá-los e
sanar as duvidas existentes a cerca destes tópicos. Pois o foco a ser
desenvolvido era a leitura e compreensão da mesma, resultando em que os
alunos seriam capazes de fazer argumentações e discursos, critico reflexivos
acerca dos temas.
Quando se pensa em leitura e interpretação textual não pode esquecer
das variações da linguagem existentes, já que é por meio desta que existe
convivência em sociedade pelo homem e a perpetuação e transmissão dos
conhecimentos desenvolvidos e produzidos pela humanidade desde os
primórdios da civilização até as gerações futuras. Vygotsky reflete sobre a
teoria da linguagem nos dá uma grande contribuição para que possa entender
o processo de aprendizagem, por meio das mediações socioculturais na
formação da consciência.
Para Brito (1998), ”a leitura além do aspecto utilitário, que faz com que o
indivíduo ultrapasse os obstáculos impostos pelo cotidiano e facilite o acesso
ao mercado de trabalho, (…) assumiu uma função social, de resgate da
cidadania, uma vez que possibilita o autor conhecer, refletir e atuar sobre uma
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dada realidade”. A leitura é um processo de interação entre o leitor e o autor


que remetem ao texto, sendo assim é fundamental que o professor forneça
condições para que o aluno se torna um aluno-leitor e com isto adquir
estratégias de processamento da informação adequada às condições de
produção de leitura.
A Sociolinguística tem como objeto de estudo analisar os padrões de
comportamento linguistico que podem ser observados dentro de uma
comunidade de fala e os formaliza analiticamente através de um sistema
heterogêneo, constituído por unidades e regras variáveis. Esse modelo visa a
responder a questão central da mudança linguística a partir de dois princípios
teóricos fundamentais: o sistema linguístico que serve a uma comunidade
heterogênea e plural deve ser também heterogêneo e plural para desempenhar
plenamente as suas funções; rompendo-se assim a tradicional identificação
entre funcionalidade e homogeneidade; os processos de mudança que se
verificam em uma comunidade de fala se atualizam na variação observada em
cada momento nos padrões de comportamento linguístico observados nessa
comunidade, sendo que, se a mudança implica necessariamente variação, a
variação não implica necessariamente a mudança (cf. LABOV, 1972, 1974 e
1982 e 1994; e WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968).
Nesse sentido, a Variação considera a língua em seu contexto sócio-
cultural, uma vez baseia – se na explicação da heterogeneidade que emerge
nos usos linguísticos concretos pode ser encontrada em fatores externos ao
sistema linguístico e não só nos fatores internos à língua. Portanto, toda
variação lingüística é motiva por algum fator exposto dentro de uma
comunidade.
Na construção de um texto, usamos mecanismos para garantir ao interlocutor a
compreensão do que é dito, assim como na fala. Esses mecanismos linguísticos que
determinam a conectividade e retomada do que foi escrito ou dito, são os referentes
textuais e tem como objetivo garantir a coesão textual para que haja coerência, não só
entre os elementos que compõem a oração, como também entre a sequência de
orações dentro do texto.
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2. Metodologia

O projeto de estágio foi desenvolvido em seis aulas para uma


turma de nono ano. O conteúdo proposto na sequência didática foi a
leitura e interpretação de textos, a fim de estudar a variação linguística e
as relações lógico-discursivas presentes no texto, visando atender aos
objetivos contemplados pela avaliação da Prova Brasil. Dentre eles os
descritores D13, que tem como objetivo identificar as marcas lingüísticas
que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto e o D15, que
objetiva estabelecer relações lógico – discursivos presentes no texto
marcadas por conjuntos, advérbios, etc.
Nesse sentido, a partir dos textos propostos (de gêneros variados
– charge, tira, notícia...) a intenção foi discutir a variação linguística,
mostrando ao aluno que é, quem e quando se faz uso de uma
determinada variação e, apresentar os tipos de variação lingüística:
formal, informal, regional, cientifica, literária, jornalística, técnica. Além
disso, na análise dos textos foram abordados os conceitos de Coerência
e Coesão, mostrando o uso de classes gramaticais como advérbio,
conjunções, preposições, que funcionam como elementos de coesão
nos textos.
Em uma sequência de três aula trabalhando o tema variação
lingüística, sendo que a primeira aula foi discutido os conceitos da
mesma, na segunda aplicado uma lista com questões objetivas para os
alunos pudessem responder sem o auxilio do professor, justamente para
analisar os pontos que deveriam ser dado mais ênfase durante as aulas.
Na terceira, foi realizado a correção da lista com a interação entre
professor-aluno e decorrendo sobre cada tópico. Desde a leitura e
interpretação da questão até alternativa correta.
Os objetivos eram bem específicos para os alunos desenvolverem
a leitura e interpretação textual contextualizando a formação crítica
reflexiva de acordo com a comunidade inserida. Com o conteúdo,
identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o
interlocutor de um texto. E estabelecer relações lógico-discursivas
presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios etc.
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Por meio destas aulas pude avaliar a habilidade do aluno em identificar


quem fala no texto e para quem ele fala, essencialmente, por meio da presença
de marcas linguísticas (o tipo de vocabulário, o assunto, etc.), colocando em
discussão, também, a importância do domínio das variações linguísticas que
estão presentes na nossa sociedade.
Essa habilidade foi avaliada em textos nos quais os alunos foram
desafiados a identificar, o locutor e o interlocutor do texto nos diversos
domínios sociais, como também são exploradas as possíveis variações da fala:
linguagem rural, urbana, formal, informal, incluindo também as linguagens
relacionadas a determinados domínio sociais, como, por exemplo, cerimônias
religiosas, escola, clube, etc
O trabalho com variação linguística é muito importante para o
desenvolvimento de uma postura não preconceituosa dos alunos em relação a
usos lingüísticos distintos dos seus. Houve momentos de interação para que os
alunos refletissem sobre a interferência dos fatores variados, que se
manifestam tanto na fala quanto na escrita, que favorecem o desenvolvimento
da mesma.
Com isto, também desenvolvi em sala questões gramaticais ligadas a
leitura e interpretação textual, voltas para a escrita. Como em todo texto
aparecem conectores – sejam conjunções, preposições, advérbios e
respectivas locuções – que criam e sinalizam relações semânticas de
diferentes naturezas. Discutidas e analisadas as mais comuns, como as
relações de causalidade, de comparação, de concessão, de tempo, de
condição, de adição, de oposição etc. Os alunos do decorrer da sequência
didática tiveram que reconhecer o tipo de relação semântica estabelecida por
esses elementos de conexão observando que está é uma habilidade
fundamental para a apreensão da coerência do texto.
Os alunos começaram a ter percepção de relação lógico, enfatizada,
muitas vezes, pelas  expressões de tempo, de lugar, de comparação, de
oposição, de causalidade, de anterioridade, de posteridade, entre outros e,
quando necessário, a identificação dos  elementos que explicam essa relação.
As aulas foram expositivas e explicativas com interação entre professor – aluno
e aluno – professor. Após duas aulas com o tema D13 os alunos realizaram
uma lista de questões objetivas que pude avaliar como estavam em relação
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aos conceitos trabalhados e como reagiriam diante da Prova Brasil. Da mesma


forma para o D15. Logo após a execução e avaliação das listas ocorria a
correção da mesma e simultaneamente o tira duvidas das questões que
marcaram a alternativa incorreta.

3. Resultados e Discussão

Considero que a execução do projeto de estágio foi uma


experiência desafiadora, pois preparar uma turma para uma avaliação
externa da dimensão da Prova Brasilnão é uma tarefa fácil. Confesso
que me senti um pouco apreensiva para ministrar essas aulas, pois
aresponsabilidade é grande quando se trata de avaliar o ensino da
instituição na qual se trabalha.
Percebi um pouco de dificuldade dos alunos na interpretação
textual e também em questões gramaticais. Mas, os resultados foram
gratificantes, os alunos se empenharam bastante, assim como eu, para
conseguirmos elevar o índice de conhecimento.
Todas as quinzenas eram realizadas avaliações objetivas com 20
questões para analisar o crescimento da turma em relação a sequência
didática que foi desenvolvida e relatada por meio deste relato. Estas
avaliações não eram elaboradas por, foram elaboradas e aplicadas pela
coordenação pedagógica escolar, para analisar o desenvolvimento dos
alunos em relação a proposta didática que estava sendo desenvolvida
em sala, eu só tinha acesso ao resultado final.
Durante todo o bimestre o índice cresceu, tendo como média
inicial de 5,5 atingiu a média de 9,4 na última avaliação aplicada,
significando que os alunos conseguiram desenvolver a partir dos temas
levados para a sala de aula, como a leitura e interpretação textual. De
acordo com estes resultados fiquei contente pelo desenvolvimento tido
pelos alunos e conseqüentemente o meu.
O desenvolvimento dos alunos refletiu em todas as matérias, pois
trabalhei bastante com interpretação textual principalmente de sentido.
Houve vários debates sobre o efeito das conjunções nas orações. Como
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uma vírgula muda todo o sentido da expressão. Assim como as


variações da língua (regional, rural, cientifica, literária, formal, informal,
etc..) os resultados a cerca deste tema foram ótimos. Os alunos levaram
exemplos de falas, pedaços de textos que encontravam e achavam
interessante como a língua consegue se adaptar a cada contexto que
está inserido.

4. Considerações Finais

Para mim, aexperiência de reger aulas de língua


portuguesarepresentou um desafio, pois no início sempre há
questionamentos, ansiedade e dúvidas. Logo isso vai desaparecendo, a
partir do momento em que se percebe o desenvolvimento dos alunos
durante suas aulas, quando se percebe que está havendo
aprendizagem.
Considero que, assim como os alunos, eu também obtive muita
aprendizagem com essa experiência. Em relação aos planejamentos, a
partir da definição, da coordenação pedagógica, de qual descritor seria
trabalhado eu buscava textos e elaborava questões, a fim de que o
aluno pudesse compreender melhor a leitura dos textos, usando de
estratégias de leitura e de mediação pedagógica para haver a interação
do leitor com o texto. Assim, discutimos cada parte do texto e cada
questão, de modo que os alunos argumentassem e debatessem até
chegarmos a uma conclusão.
Os alunos estavam bem motivados e empenhados para
obterbons resultados. Foi de grande valia esta experiência, pois se
percebeu que houve melhora na interação entre os alunos e dos alunos
com o professor, um ajudando a sanar as dúvidasdo outro, fazendo
reflexões e indagações sobre os temas discutidos.
Pude perceber a importância do planejamento, pois fui capaz de
identificar conteúdos sobre os quais já tinha domínio e os que não
tinham, dessa forma pude ampliar meus conhecimentos, o que contribui
para maior segurança na prática docente.
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O que vou levar como aprendizagem para a minha formação


docente e para a atuação profissional é que, quanto mais conhecimento
sobre o assunto que será desenvolvido em sala mais segurança pode
ter e a aula terá melhor execução e resultado. Os alunos percebem
quando o professor sabe e tem domínio sobre o assunto, este fato torna
tudo mais agradável, a aula desenvolve melhor e os alunos se
interessam mais. Acredito que eles querem ter a compreensão tanto
quanto o professor que está ali à frente, tendo o mesmo não só como
exemplo educacional, mas como cidadão crítico e reflexivo.

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