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Letramento, Produção de Sentidos e Escrita:

Explicação: Leva em consideração o conceito de letramento, que vai além da simples


aquisição da leitura e escrita, envolvendo a capacidade de compreender, interpretar e
produzir textos em diferentes contextos sociais. Relaciona-se à produção de sentidos por
meio da escrita, considerando a linguagem como prática social.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Soares, M. (1998). Letramento: um tema em três gêneros. Educação & Sociedade,
19(63), 47-68.

Gêneros Textuais e Ensino de Língua Portuguesa:


Explicação: Enfoca o estudo dos gêneros textuais como instrumento fundamental no
ensino de língua portuguesa, promovendo uma abordagem contextualizada da
linguagem e incentivando a produção de textos de acordo com diferentes situações
comunicativas.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Bakhtin, M. (2003). Estética da criação verbal. Martins Fontes.

Análise Linguística e Ensino de Gramática em Aulas de Língua Portuguesa:


Explicação: Aborda a relação entre análise linguística e ensino de gramática,
destacando a importância de uma abordagem reflexiva e contextualizada que promova a
compreensão das estruturas linguísticas no uso efetivo da língua.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Travaglia, L. C. (1997). Gramática e interação: uma proposta para o ensino de
gramática no 1º e 2º graus. Cortez Editora.

Análise Linguística e Ensino de Gramática em Aulas de Língua Portuguesa:


A abordagem da Análise Linguística no ensino de língua portuguesa busca uma
compreensão mais ampla e contextualizada das estruturas linguísticas, indo além da
tradicional transmissão de regras gramaticais isoladas. A relação entre análise
linguística e ensino de gramática destaca a importância de uma abordagem reflexiva,
crítica e voltada para o contexto de uso da língua, visando uma aprendizagem mais
significativa e aplicável.
Principais Aspectos:
1. Reflexão sobre o Uso Linguístico:
 A Análise Linguística propõe que os estudantes reflitam sobre como as
estruturas linguísticas são utilizadas em diferentes contextos. Em vez de
decorar regras, a ênfase está na compreensão de como essas estruturas
contribuem para a construção de significados.
2. Contextualização das Estruturas:
 As aulas de gramática não devem ser desvinculadas da realidade
comunicativa. A contextualização das estruturas linguísticas permite que
os alunos compreendam como as regras gramaticais se aplicam em
situações reais de uso da língua.
3. Análise Crítica:
 A abordagem crítica da Análise Linguística envolve a reflexão sobre
normas sociais, variação linguística e o papel da linguagem na sociedade.
Isso promove uma compreensão mais ampla da língua como fenômeno
social.
Exemplos de Análise Linguística:
1. Análise Sintática:
 Em vez de apenas identificar sujeito e predicado em uma frase, os
estudantes poderiam analisar como diferentes estruturas sintáticas afetam
o significado. Exemplo: Comparar "Maria ama João" com "João é amado
por Maria" e discutir as implicações de cada construção.
2. Análise Semântica:
 Analisar o significado de palavras em diferentes contextos. Exemplo:
Explorar como a palavra "banco" pode ter significados distintos em
"sentar em um banco" e "depositar dinheiro no banco".
3. Análise Morfológica:
 Em vez de apenas identificar classes de palavras, os alunos poderiam
analisar como as flexões verbais e nominais contribuem para a expressão
de tempo, modo e aspecto. Exemplo: Estudar as variações do verbo
"cantar" em diferentes tempos e modos.
4. Análise Fonológica:
 Analisar os fonemas e a entonação em diferentes gêneros textuais, como
discursos e poesias. Exemplo: Estudar como a entonação pode
influenciar na interpretação de uma mensagem.
5. Análise Pragmática:
 Compreender como as escolhas linguísticas são influenciadas pelo
contexto e propósito comunicativo. Exemplo: Analisar como a escolha
entre "você" e "senhor(a)" em uma interação reflete diferentes níveis de
formalidade e cortesia.
Referências Bibliográficas Sugeridas:
1. Travaglia, L. C. (1997). Gramática e interação: uma proposta para o ensino
de gramática no 1º e 2º graus. Cortez Editora.
2. Marcuschi, L. A. (2008). Produção textual, análise de gêneros e compreensão.
Parábola Editorial.
3. Koch, I. G. V. (2000). A inter-ação pela linguagem. Contextualização
discursiva. Contexto.
A proposta é que a análise linguística seja abordada de maneira integrada ao ensino de
gramática, proporcionando uma compreensão mais profunda e contextualizada das
estruturas linguísticas pelos alunos.

BNCC e as Novas Perspectivas no Ensino de Língua Portuguesa:


Explicação: Explora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como referencial
para o planejamento do ensino de língua portuguesa, considerando as competências e
habilidades a serem desenvolvidas pelos estudantes.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Brasil. (2018). Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação.

BNCC e as Novas Perspectivas no Ensino de Língua Portuguesa:


Explicação: A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento normativo
que estabelece as aprendizagens essenciais que todos os estudantes brasileiros devem
desenvolver ao longo de sua trajetória escolar. No contexto do ensino de língua
portuguesa, a BNCC se torna um guia fundamental para o planejamento curricular,
pautando-se em competências e habilidades que buscam proporcionar uma formação
mais abrangente e significativa.
Principais Aspectos:
1. Definição de Competências e Habilidades:
 A BNCC define competências e habilidades específicas que os
estudantes devem adquirir em cada etapa da educação básica. Para o
ensino de língua portuguesa, essas competências abrangem a
compreensão e produção de textos, a análise linguística, o
desenvolvimento da oralidade, a leitura e interpretação de diferentes
gêneros textuais, entre outros.
2. Ênfase na Comunicação e Expressão:
 A BNCC destaca a importância de desenvolver a capacidade dos
estudantes se comunicarem efetivamente, tanto oralmente quanto por
escrito. Isso implica o estímulo à expressão individual, à argumentação, à
interpretação crítica de textos e ao entendimento da linguagem como
meio de interação social.
3. Integração de Habilidades:
 Propõe a integração das diversas habilidades linguísticas, como leitura,
escrita, escuta e fala. A ideia é que o ensino de língua portuguesa não
seja compartimentado, mas sim uma prática integrada que simula
situações reais de uso da linguagem.
4. Inclusão da Diversidade Linguística e Cultural:
 A BNCC preconiza o respeito à diversidade linguística e cultural
presente no Brasil. Isso implica reconhecer e valorizar as diferentes
formas de falar, os variados gêneros textuais presentes nas diferentes
culturas e a pluralidade de vozes na sociedade.
5. Conexão com o Mundo Digital:
 Considera o papel das tecnologias da informação e comunicação no
contexto da língua portuguesa, incentivando o uso de recursos digitais
para aprimorar a leitura, a escrita, a pesquisa e a comunicação.
Implicações no Ensino de Língua Portuguesa:
1. Planejamento Curricular:
 A BNCC direciona o planejamento curricular, auxiliando na definição de
objetivos e metas para o ensino de língua portuguesa em cada etapa da
educação básica.
2. Currículos Alinhados:
 Proporciona a elaboração de currículos alinhados nacionalmente,
garantindo um padrão mínimo de aprendizagem em língua portuguesa
para todos os estudantes.
3. Avaliação Formativa:
 Orienta práticas avaliativas mais formativas, buscando não apenas medir
o conhecimento, mas também identificar o desenvolvimento das
competências linguísticas ao longo do tempo.
4. Desenvolvimento Integral do Estudante:
 Visa o desenvolvimento integral dos estudantes, não apenas no domínio
da língua, mas também na construção de cidadãos críticos, capazes de se
expressar e compreender o mundo ao seu redor.
Referência Bibliográfica Sugerida:
 Brasil. (2018). Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação.
A BNCC se torna, assim, uma ferramenta essencial para nortear a prática pedagógica
dos professores de língua portuguesa, alinhando o ensino às expectativas de
aprendizagem estabelecidas para a formação de cidadãos capazes de lidar com a
linguagem de forma crítica, reflexiva e contextualizada.

Variação e Mudança Linguística no Ensino de Língua Portuguesa:


Explicação: Trata da diversidade linguística, abordando a variação e a mudança na
língua portuguesa. Enfatiza a importância de reconhecer e respeitar as diferentes formas
de expressão linguística.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Bagno, M. (2002). A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. Parábola
Editorial.

Teorias Semânticas e Ensino de Língua Portuguesa: Processos Formais,


Enunciativos e Cognitivos:
Explicação: Explora teorias semânticas que abordam os processos formais,
enunciativos e cognitivos envolvidos na produção e compreensão de significados na
língua portuguesa.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Koch, I. G. V. (2000). A inter-ação pela linguagem. Contextualização discursiva.
Contextualização discursiva. Contexto.

Inicialmente: podemos falar de uma única Semântica?


De modo abrangente, a Semântica pode ser definida como a área dos Estudos
Linguísticos que se atém à análise dos significados expressos por entidades linguísticas.
Dessa maneira, trata-se de um ramo investigativo que incide sobre as representações
evocadas por morfemas, itens lexicais, sintagmas, sentenças, textos e discursos, na
medida em que considera o significado como um componente indispensável à função
primordial da linguagem humana: o estabelecimento de comunicação. Por isso, sendo a
Semântica uma vertente que toma como escopo a esfera da significância, sua
abrangência não pode ser percebida de modo homogêneo, já que as diferentes maneiras
de se contemplar o estudo do significado propiciarão abordagens diversas, com
objetivos e focos igualmente variados.
O termo “significado” certamente não se limita à esfera da Linguística, uma vez que,
como sociedade, convencionamos culturalmente determinados significados para
entidades diversas, inclusive não linguísticas. Podemos, então, entender o significado de
um olhar reprovativo em uma dada situação, ou de outros signos, como, por exemplo,
os comandos evocados pelas cores de um semáforo, uma placa de trânsito etc. No
entanto, em termos de significado linguístico, podemos notar certas especificidades, as
quais auxiliam na ornamentação de objetivos e metodologias de investigação semântica.
O significado linguístico, por assim dizer, comporta-se como um componente que, junto
de uma forma, detém-se à delimitação de uma convenção por meio da linguagem. Dessa
maneira, sua especificidade talvez mais relevante seja a questão de sua associação ao
material formal (e.g. palavras, expressões, padrões sintáticos etc.), o que remete à
definição de signo linguístico (Saussure, 1916), ou, em versões teóricas mais recentes, à
definição de pareamentos simbólicos de forma-sentido-uso (Goldberg, 1995; 2006).
A própria definição de significado é variável, a depender da filiação teórica do analista.
Para correntes formalistas, como a Semântica Estrutural e a Semântica Formal, por
exemplo, o significado pode ser entendido como uma propriedade de diferença e
individualização de entidades no mundo, ou como um componente que abarca duas
faces – o sentido e a referência –, as quais preveem a organização lógica de sentenças.
Por outro lado, já para outras vertentes, como a Semântica Enunciativa e a Semântica
Cognitiva, as quais consideram outras questões relativas à língua em uso, o significado
pode ser entendido, respectivamente, como resultado do jogo argumentativo criado pela
interação, ou como estruturação mental de experiências socioculturais.
Vemos, então, que as diferentes escolhas teóricas influenciam diretamente no estudo do
significado e dos fenômenos a ele relacionados. Por isso, em cada uma das vertentes
podem-se notar influências do Estruturalismo, do Gerativismo, da Análise de Discurso e
do Funcionalismo e da Linguística Cognitiva. Como veremos a seguir, essas
subdeterminações são verificadas desde as definições de significado a abordagens
metodológicas e teóricas para a descrição de determinados fenômenos semânticos, visto
que perpassam questões de compatibilidade teórica.
Não se pode afirmar, portanto, que todas as teorias linguísticas se interessam igualmente
pelos mesmos fatos da linguagem, pois, a depender do propósito ao qual se direcionam,
estas se concentrarão em determinados aspectos. Ainda assim, podem ser contemplados
dois proponentes essenciais e inerentes às teorias sobre a linguagem humana, quais
sejam: (a) capacidade descritiva e (b) potencial explanatório a respeito da natureza da
linguagem.
Tais prerrogativas, contudo, não pressupõem uniformidade entre as teorias, uma vez que
estas podem se valer de abordagens e concepções distintas para descrever e elucidar a
linguagem humana. Em outras palavras, um mesmo fenômeno linguístico pode ser
contemplado de diferentes maneiras a depender do modelo de gramática que se propõe
em cada vertente, sem que isso signifique primazia de uma dada visão em detrimento
das demais. Inclusive, é muito comum notarmos na historiografia da Linguística que
uma teoria pode partir dos pressupostos de outra para expandir explicações sobre fatos
da língua que não foram bem elucidados anteriormente – aspecto que ressalta o caráter
científico do estudo da linguagem.
Isso posto, não deve ser considerada factível a ideia de que todas as teorias propostas
para a investigação do significado linguístico, em diferentes vertentes de análise que
compõem a Linguística Moderna, oferecem bases e ferramentas capazes de contemplar
em sua totalidade quaisquer fenômenos semânticos. Ao contrário, a depender da base
teórica, isto é, de que Semântica se está falando, pressupõem-se focos distintos, os quais
esclarecerão, de modo mais enfático, determinados fenômenos atrelados à significância.
Portanto, apesar de haver diferenças entre cada teoria, é mais rentável para a pesquisa
que elas sejam vistas como complementares na tarefa incessante de desvendar os
pormenores do significado linguístico.
Um passeio pelo universo da Semântica
Nesta seção, a partir de considerações de Oliveira (2001), apresentamos as diferentes
visões e objetos das semânticas formal, cognitiva e enunciativa. Além disso, buscando
explanar tais conceituações, recorremos a dados do PB, a fim de ilustrarmos fenômenos
tratados por essas correntes.
Semântica Formal
Considerada a corrente investigativa do significado mais antiga na Linguística, a
Semântica Formal propõe que a análise do significado linguístico deve se estruturar em
torno “do postulado de que as sentenças se estruturam logicamente” (Oliveira, 2001, p.
19). De base gerativista, trata-se de uma escola de análise semântica que aloca a Sintaxe
em posição de superioridade em detrimento da Semântica por considerar a organização
linguística consoante a lógica de predicados.
Interessa à Semântica Formal a maneira como o sentido permite os falantes a chegarem
a uma referência no mundo físico (Frege, 1978). Como adverte Oliveira (2001, p. 22), o
sentido “só nos permite conhecer algo se a ele corresponder uma referência, isto é, o
sentido permite alcançarmos um objeto no mundo, mas é o objeto no mundo que nos
permite formular um juízo de valor, ou seja, que nos possibilita avaliar se o que dizemos
é falso ou verdadeiro”. Assim, ressalta-se a pertinência da dicotomia
sentido vs. referência para o contexto da análise formal do significado, uma vez que,
para essa perspectiva, a linguagem é uma janela de acesso ao mundo externo.
Também conhecida como Semântica de condições de verdade, a Semântica Formal
estrutura-se em torno de uma visão lógica sobre a constituição dos significados
linguísticos. Nesse sentido, destacam-se duas relações importantes a essa vertente, quais
sejam, o acarretamento e a pressuposição. Essas corroboram a visão objetivista para a
interpretação de significados aos quais fazem menção as sentenças de uma dada língua e
podem ser definidas, basicamente, como relações que consideram a correspondência
entre procedência factual e não factual de duas sentenças no mundo, sendo o
acarretamento dependente do valor de verdade da primeira sentença e a pressuposição
gerada por um gatilho (expressões linguísticas que acionam conteúdos pressupostos).
Para compreendermos o que significam essas operações lógicas e a maneira como essas
nos permitem a análise formal do significado de sentenças, examinemos os grupos a
seguir:
Conjunto A:
1. Foi a Ana Flávia quem deu aula de Semântica em 2020.
2. Alguém deu aula de Semântica em 2020.
Conjunto B:
3. Faustino ama Jane.
4. Jane é amada por Faustino.
Conjunto C:
5. Antes de ir para a faculdade, Danielle checou se sua gata tinha comida.
6. O pote de comida da gata estava cheio.
Os conjuntos de sentenças acima permitem-nos analisar as relações de acarretamento e
pressuposição difundidas pela Semântica Formal. No conjunto A, por exemplo, são
vistas ambas as relações entre as sentenças 1 e 2, uma vez que a primeira, quando
assumida como verdadeira no mundo, acarreta e pressupõe que o conteúdo da segunda
seja também verdadeiro. O mesmo não se pode dizer sobre os grupos B e C: em B, o
fato de 3 acarretar 4 não faz com que haja pressuposição entre as sentenças; da mesma
maneira, em C, o fato de 5 pressupor 6 não faz com que haja acarretamento.
Panoramicamente, percebemos que a Semântica Formal concebe a língua como uma
estrutura consubstanciada pelo pensamento lógico e que se mostra capaz de produzir
conhecimento e significado. Por ser a mais antiga na Linguística, é a que possibilitou a
abertura de um leque de críticas que garantiram a emergência de outras maneiras de se
contemplar o estudo do significado linguístico (Oliveira, 2001, p. 19). Passemos, agora,
à breve análise das principais ideias de duas outras dessas correntes: a Semântica
Cognitiva e a Semântica Enunciativa.
Semântica Cognitiva
Circunscrita no arcabouço da Linguística Cognitiva (Fillmore, 1975; Lakoff; Johnson,
1980; Langacker, 1991), a Semântica Cognitiva se afirma como uma vertente da análise
do significado linguístico que privilegia a Semântica em detrimento da Sintaxe, em uma
forte contraposição ao gerativismo. Assim, confere ênfase à maneira como a forma
deriva do significado, o qual é constantemente corroborado pelas experiências dos
falantes com o uso da língua em diferentes situações sociocomunicativas.
Sob essa premissa, pode-se compreender o significado como um componente motivado,
dependente de habilidades cognitivas de domínio geral (e.g. analogia, categorização,
associação transmodal etc.) e experiencial. Em termos mais específicos, “o significado
linguístico não é arbitrário, porque deriva de esquemas sensório-motores” (Oliveira,
2001, p. 34).
Há, nesta perspectiva, uma série de concepções teóricas que se prestam à descrição do
conhecimento linguístico. Grosso modo, podemos pensar que a cláusula central dessa
Escola consiste na definição da natureza metafórica do pensamento humano (Lakoff;
Johnson, 1980). Conceber a metáfora como um processo cognitivo mostra-se
imprescindível para a compreensão de como a língua se estrutura mentalmente a partir
de um modelo de categorização de exemplares, no sentido de que os conceitos se
estruturam por meio de protótipos na cognição.
Destacam-se, assim, os conceitos de frame, espaços mentais, metáforas conceptuais,
metonímias e mesclagens conceptuais. Tais postulados mostram-se imprescindíveis para
a compreensão da Linguística Cognitiva como uma teoria geral da linguagem humana e
podem ser mais bem elucidados, por exemplo, com a leitura de Ferrari (2016). Devido
ao curto espaço de que dispomos, dentre esses conceitos, chamemos atenção ao
primeiro, a fim de entender o modo como significados – metafóricos ou não – são
concebidos pela Semântica Cognitiva.
Segundo Duque (2015, p. 26), “frames são mecanismos cognitivos através dos quais
organizamos pensamentos, ideias e visões de mundo”. Especificamente quanto à
linguagem, essa concepção remete à clássica metáfora de Fauconnier (1999), para quem
“a linguagem visível é apenas a ponta do iceberg da construção invisível do sentido que
acontece enquanto pensamos e falamos” (Fauconnier, 1999).
Assumir a linguagem como tal diz respeito à incapacidade de encerramento do sentido
ao âmbito da forma linguística, na medida em que esta, na verdade, a depender do
contexto, pode abarcar diferentes estruturas semânticas subjacentes. Assim, Fauconnier
(1999) demonstra precisamente que uma análise meramente formal e isolada do
contexto de produção não corresponderia satisfatoriamente ao efeito de sentido a que ela
se propõe. Desse modo, é nesse sentido que o autor situa a linguagem como a ponta
do iceberg da construção do significado.
A título de exemplo, analisemos os conjuntos de sentenças abaixo:
Conjunto A:
1. Margarida entregou a redação para o professor de Português com atraso.
2. Carlos presenteou Mariana com uma viagem a Paris.
Conjunto B:
3. A política internacional brasileira chegou a um beco sem saída.
4. A situação do Brasil foi de mal a pior após as eleições presidenciais de 2018.
Conjunto C:
5. Minha avaliação está dentro das normas da ABNT.
6. A atitude de Maria não estava no combinado.
Para depreendermos significado das sentenças acima, acionamos frames específicos, os
quais traduzem a relação entre forma e significado verificada em cada caso. Nas
sentenças 1 e 2, por exemplo, percebemos a atuação do frame de transferência de posse
em que um agente transfere algo a um paciente. Por outro lado, nos exemplos 3 e 4, as
sentenças evocam o frame metafórico de percurso, o que permite que os falantes
compreendam a questão do deslocamento de estado. Da mesma maneira, mas ativando
o frame de contenção, as sentenças 5 e 6 são metafóricas e só podem ser interpretadas
pela correspondência implícita entre as ideias de “contenção física” e de “apresentação
de características específicas”.
Em suma, percebemos que o olhar cognitivista acerca do significado linguístico
distancia-se da visão formalista ao considerar a experiência sociocultural de falantes
com a linguagem como um componente basilar à busca pela pormenorização dos
fenômenos envolvendo a língua em seus diferentes níveis. Por isso, a Semântica
Cognitiva não se interessa, necessariamente, pela relação entre o significado e seus
referentes no mundo físico, mas sim pela maneira como este componente emerge e se
fixa na cognição por meio de relações simbólicas e intersubjetivas.
Semântica Enunciativa
Da mesma maneira que a Semântica Cognitiva, a vertente enunciativa destaca-se como
uma reação ao olhar objetivista da Semântica Formal para as relações que envolvem a
significância linguística e sua especificidade. Assumindo a impossibilidade de a
linguagem desvincular-se da realidade, ou seja, de esta ser somente uma forma de
marcar a referência a seres do mundo, a Semântica da Enunciação considera que a
linguagem é a principal construtora da realidade e aponta que o significado só pode ser
concebido nas situações de interlocuções (Ducrot, 1979).
À luz dessa perspectiva, privilegia-se o papel de enunciadores diversos na construção de
enunciados, os quais, segundo Bakhtin (2003), são a unidade da comunicação discursiva
que nasce a partir da interação no discurso em constante replicação. Então, analisar o
significado sob a concepção da Semântica Enunciativa pressupõe examinar criticamente
o discurso e os agentes nele envolvidos.
Um conceito essencial difundido na Semântica Enunciativa é o de polifonia. Este pode
ser definido como “a multiplicidade de vozes e consciências independentes e
imiscíveis” (Bakhtin, 2002, p. 4) que compõem um enunciado. Assim, percebemos que,
no contexto da análise semântica, tal conceito destaca-se como essencial, à medida que
considera aspectos do discurso e não puramente as relações lógico-semânticas.
Por isso, ao tomarmos um enunciado como “O presidente atual do Brasil é um
energúmeno”, devem ser considerados, pelo menos, três outros enunciados: (1) há uma
e apenas uma pessoa; (2) essa pessoa ocupa o cargo de presidente do Brasil; (3) essa
pessoa é uma energúmena. Dessa maneira, podemos perceber que (1) é um pressuposto,
enquanto (2) e (3) são enunciados dados no discurso.
Ademais, outro aspecto a ser considerado a respeito dessa escola é o fato de suas
prerrogativas incidirem sobre um estreitamento entre a Semântica e a Pragmática, uma
vez que, sendo o significado subvencionado pelas relações discursivas, a análise não
deverá deixar à parte questões relativas ao contexto de uso concreto da linguagem.
Um mesmo fenômeno em três perspectivas
Na seção anterior, debruçamo-nos panoramicamente sobre algumas das principais ideias
das vertentes formal, cognitivista e enunciativa da Semântica. Nesta, apresentaremos
brevemente a maneira como um mesmo fenômeno pode ser abordado à luz das
particularidades dessas mesmas correntes, de modo a ratificar a proposição saussureana
de que “é o ponto de vista que cria o objeto” (Saussure, 1916, p. 15). Elegemos, então, a
já mencionada pressuposição para figurar como protagonista desta curta explanação.
Em uma perspectiva formalista, o conceito de pressuposição alude às condições de uso
de uma sentença, sendo o conteúdo pressuposto impossível de ser questionado. Essa
relação é recuperada pela análise por gatilhos linguísticos específicos, os quais, quando
presentes, possibilitam a vinculação da sentença à pressuposição. Assim, nesta visão, o
pressuposto é assumido como condição de emprego da sentença que apresenta o posto.
Por outro lado, no quadro da Semântica Cognitiva, a pressuposição não é concebida
como fruto de relações lógicas entre sentenças. Nesse caso, defende-se que a ideia de
pressuposição deve estar atrelada à teoria dos espaços mentais (Fauconnier, 1994;
Fauconnier; Sweetser, 1996; Fauconnier; Turner, 2002). Assim, uma sentença
pressupõe outra quando há relações entre as estruturas construídas implícita e
naturalmente enquanto os falantes pensam e produzem linguagem.
Diferentemente, na perspectiva enunciativa, notamos uma substituição do conceito de
pressuposição pelo de enunciador, uma vez que, como vimos, um enunciado é
consubstanciado por diversas vozes no jogo polifônico em que se constitui. Assim,
privilegia-se uma análise a respeito do modo como o diálogo em que interlocutores
aceitam vozes pressupostas se desenvolve.
Em suma, este ensaio não se propôs a uma análise aprofundada acerca das correntes
semânticas, posto que isso demandaria um espaço de escopo muito mais abrangente.
Pretendemos, ao menos, que a apresentação dos principais conceitos aqui debatidos seja
eficaz para que o(a) leitor(a) conheça – ainda que inicialmente – a variedade presente na
investigação do significado linguístico e busque fontes mais elaboradas sobre o assunto.
Processos Morfossintáticos e Fonológicos no Ensino de Língua Portuguesa:
Explicação: Enfoca os processos morfossintáticos (relacionados à estrutura e formação
de palavras) e fonológicos (relacionados aos sons da língua) no ensino de língua
portuguesa.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Cagliari, L. C. (2005). Alfabetização e linguística. Scipione.

Concepções de Língua, Linguagem e Ensino:


Explicação: Aborda diferentes concepções sobre língua e linguagem, refletindo sobre
como essas concepções influenciam o ensino de língua portuguesa.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Saussure, F. (2006). Curso de linguística geral. Cultrix.

1. Concepção Estruturalista:
 Descrição: Enfoca a língua como um sistema formal, composto por
elementos estruturais como fonemas, morfemas e regras gramaticais.
 Influência no Ensino: Abordagem mais centrada na gramática
normativa, com foco nas regras e estruturas linguísticas. A avaliação
frequentemente destaca a correção gramatical.
2. Concepção Gerativista:
 Descrição: Proposta por Noam Chomsky, destaca a ideia de uma
gramática universal inata. Considera a competência linguística como
algo internalizado no falante.
 Influência no Ensino: Incentiva a exploração da complexidade sintática
e estruturas mais profundas da língua. Pode envolver uma abordagem
mais reflexiva e analítica.
3. Concepção Funcionalista:
 Descrição: Enfatiza a função comunicativa da linguagem. A língua é
vista como um meio de interação social e expressão de significados.
 Influência no Ensino: Valoriza a comunicação efetiva. Atividades
práticas, como simulações de situações reais, são enfatizadas. A
avaliação considera a eficácia comunicativa.
4. Concepção Sociolinguística:
 Descrição: Destaca a relação entre língua e sociedade, reconhecendo a
variação linguística e os diferentes registros conforme o contexto social.
 Influência no Ensino: Valoriza a diversidade linguística, incorporando
variedades regionais e socioculturais. Busca combater preconceitos
linguísticos.
5. Concepção Interacionista:
 Descrição: Baseia-se na interação como o principal meio de aprendizado
da linguagem. Destaca o papel da interação social na construção do
conhecimento linguístico.
 Influência no Ensino: Incentiva atividades colaborativas, discussões e
interações em sala de aula. A avaliação pode considerar a participação e
o desenvolvimento gradual das habilidades linguísticas.
6. Concepção Cognitivista:
 Descrição: Enfatiza os processos cognitivos envolvidos na
aprendizagem da língua, como a memória, a atenção e a resolução de
problemas linguísticos.
 Influência no Ensino: Incentiva estratégias de aprendizado,
metacognição e compreensão dos processos mentais na aquisição da
língua. Pode envolver práticas reflexivas.
Importância no Ensino de Língua Portuguesa:
1. Escolha de Metodologias:
 As diferentes concepções orientam a escolha de abordagens pedagógicas,
influenciando se a ênfase será na estrutura gramatical, na comunicação
efetiva ou em outros aspectos.
2. Consideração da Diversidade Linguística:
 Concepções como a sociolinguística promovem a valorização da
diversidade linguística, combatendo estigmas e preconceitos.
3. Desenvolvimento de Habilidades Comunicativas:
 Concepções funcionalistas e interacionistas priorizam o desenvolvimento
de habilidades comunicativas, preparando os estudantes para interagirem
de forma eficaz na sociedade.
4. Integração de Tecnologias e Recursos:
 Concepções cognitivistas podem favorecer a integração de tecnologias e
recursos educacionais que promovam a cognição e a metacognição.
5. Inclusão de Elementos Culturais:
 Abordagens que consideram a língua como parte integrante da cultura
incentivam a inclusão de elementos culturais no ensino de língua
portuguesa.

Texto e Discurso no Ensino de Língua Portuguesa:


Explicação: Explora a relação entre texto e discurso, considerando a importância de
compreender como os elementos linguísticos se organizam para construir significados
em diferentes contextos discursivos.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Marcuschi, L. A. (2008). Produção textual, análise de gêneros e compreensão. Parábola
Editorial.

Língua e Linguagem: Norma, Uso, Variação e Preconceito Linguístico:


Explicação: Aborda as diferentes perspectivas sobre a língua e a linguagem, incluindo
reflexões sobre norma linguística, variação linguística, uso da língua e preconceito
linguístico.
Referência Bibliográfica Sugerida:
Bagno, M. (2011). Preconceito linguístico: o que é, como se faz. Edições Loyola.

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