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Por Marcelo Sebastião, MSc

0. Introdução

O uso da língua portuguesa nas instituições de ensino da República de Angola é


legitimado por regra constitucional no seu artigo 19.º que dispõe:

1. A língua oficial da República de Angola é o português.

No ponto 2 deste mesmo artigo também deixa claro a legitimação do papel do Estado
no que diz respeito a política linguística e declara que o Estado “valoriza e promove o
estudo, o ensino e utilização das demais línguas de Angola e de comunicação
internacional”.
Em Angola o ensino da língua portuguesa está estruturado em três níveis, a saber:
o primário, o secundário e o superior. No ensino secundário o aluno obedece ao ritmo de
aprendizagem que consiste nos processos de operacionalização do carácter, estrutura e
escrita do texto argumentativo, assim como o funcionamento da língua. No último ano do
ensino secundário há um processo de consolidação, aprofundamento e aplicação das
noções apreendidas no I ciclo do ensino secundário e outras composições e estratégia
argumentativa, em que o aluno adquire competências metalinguísticas e metadiscursivas
quer na elaboração de enunciados orais quer na elaboração de enunciados escritos.

0.1 Ensino das disciplinas de Língua Portuguesa e Retórica e Argumentação

A chegada do estudante ao nível superior, o ensino das disciplinas de Língua


Portuguesa e Retórica e Argumentação permitem a qualificação do estudante,
proporcionando-lhe oportunidades para desenvolver de forma equilibrada as competências
adquiridas ao longo do desenrolar da estrutura curricular do 1.º e 2.º ciclo do ensino
secundário, destacando-se a importância da competência metalinguística e textual para
a formulação do raciocínio lógico e crítico, fazendo recurso ao discurso argumentativo na
sua expressão oral e escrita.

0.2 Objectivos da Retórica e Argumentação

O ensino da Retórica e Argumentação visam aprofundar os conteúdos cognitivos em


relação com o texto argumentativo através dos quais se pode cultivar o pensamento crítico
e desenvolver competências específicas no plano linguístico e textual. Como podemos
deduzir a intencionalidade da comunicação no domínio de ensino é que os objectivos

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fulcrais do subsistema de ensino superior consiste em “preparar e assegurar o exercício da


reflexão crítica”, pelo caminho da argumentação, do pensamento crítico, da racionalidade,
assim como encorajar os estudantes à compreensão de como é que a linguagem funciona
na oralidade e na escrita para se tornarem eficientes na aplicação da riqueza do uso da
língua no seu próprio discurso e contexto, bem como instaurar a instituição da linguagem
como poder social e intelectual, tendo em conta as seguintes competências a alcançar:

1. Compreender enunciados orais e escritos:

a) Interpretar diferentes tipos de enunciados escritos e orais;


b) Reflectir sobre a informação captada, relacionando-a com outras informações da
sua própria experiência;
c) Deduzir sentidos implícitos;
d) Avaliar a intencionalidade e a eficácia comunicativa.

2. Produzir enunciados orais:

a) Utilizar uma expressão oral fluente, correcta adequada a diversas situações de


comunicação;
b) Participar em distintas situações de comunicação oral, de acordo com as normas
e as técnicas específicas;
c) Mobilizar de forma activa os recursos expressivos, linguísticos e não linguísticos.

3. Produzir enunciados escritos:

a) Utilizar as técnicas basilares da composição de diversos géneros textuais, com


vista a um progresssivo aperfeiçoamento da expressão escrita;
b) Produzir textos de diferentes géneros – expressivos, informativos, utilitários e
argumentativos – demonstrando o domínio das capacidades linguísticas e
técnicas requeridas;
c) Elaborar textos argumentativos respeitando as regras e emitir opinião dentro da
razão, raciocínio de bom senso.
d) Realizar uma reflexão linguística, a partir de situações de uso, em actividades de
compreensão e de expressão;

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e) Adquirir métodos e técnicas de pesquisa, registo e tratamento de informação.

4. Diversificar as suas experiências de leitura:

a) Ler de forma expressiva, respeitando os sinais gráficos;


b) Utilizar a leitura como fonte de informação para múltiplas finalidades;
c) Relacionar o que lê com as experiências, sentimentos e valores próprios e dos
outros;
d) Reconhecer afinidades e/ou contrastes entre vários espaços, épocas e tipos
textuais;
e) Apreciar criticamente diferentes tipos de texto, suportando critérios pessoais e
não pessoais;
f) Integrar as realizações linguísticas e as produções literárias na história e na
cultura nacional e universal;

Como se pode deduzir o ensino superior em Angola no domínio não deve somente
privilegiar o ensino da língua por via metalinguística, isto é, o ensino do português preso na
gramática, mas também metadiscursiva: o Uso da Língua nos mais variados contextos
situacionais, isto é, produzir textos de diferentes géneros – expressivos, informativos,
utilitários e argumentativos – demonstrando o domínio das capacidades linguísticas e
técnicas requeridas. A apreensão do conhecimento teórico e prático permite ao estudante
demonstrar competências e progredir na consolidação de raciocínio crítico e razoável de
bom senso, fazer inferências no desenrolar das implicaturas conversacionais, estar
consciente do bem-fazer o uso da língua obedecendo aos seus princípios, interpretar1,
argumentar e emitir opinião.
A estrutura da Sebenta divide-se em:
I Uso da Língua em discurso – Pragmática Linguística
II Retórica e Argumentação – Estrutura do Discurso Argumentativo

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A hermenêutica remete-nos a ideia de interpretação de dar voz a conteúdos fisicamente mudos (espirituais)
através da linguagem. No Ensaio de uma Hernenêutica Universal (1757), de Georg Meier citado por Rui
Magalhães (2002), distingue dois tipos de hermenêutica: a em sentido lato, que é a “ciência das regras cuja
observação deve permitir reconhecer as significações a partir dos seus signos” e a hermenêutica em sentido
estrito que é a “ciência das regras que é preciso observar para conhecer o sentido de um discurso e explicá-
lo a outro” (Magalhães, 2002: 30). A compreensão constituiu sempre o objectivo de todas as hermenêuticas
consbstanciada no acto de compreender dentro de uma relação que estabelece entre o texto e o espírito que
o gera. Dali que o intérprete deve passar da manifestação vital do autor ao “dinamismo da criação, do juízo,
da acção, da expresssão, da objectivação que procura realizar-se”. O esforço de um estudante procurar
descobrir as coisas, pela filosofia, sem a ajuda do professor não deixa de ser um hermeneuta.

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1. USO DA LÍNGUA EM CONTEXTO SITUACIONAL. NOÇÃO DE PRAGMÁTICA

Em análise está “o funcionamento significativo e comunicativo da linguagem no


seu uso real em discursos e textos, e a intencionalidade comunicativa de quem neles fala
ou escreve”. Certos empregos de certas palavras só podem ser compreendidos dentro do
seu uso. Numa situação de comunicação, o falante tem a possibilidade de comunicar algo
diverso ou que vai para além daquilo que as palavras que usam significam. Exemplos:

Frase 1: Seguiu-se uma chuva de protestos.


Certamente que este falante não está a querer dizer com a palavra chuva aquilo
que a palavra chuva significa e vem registado no dicionário. O que o falante quer comunicar
diverge daquilo que as palavras significam.
Frase 2, falante A: Vamos passar o fim-de-semana fora de Luanda!”; ao que B retorque: “Só
recebo o ordenado na quarta-feira.”
Evidentemente que o que B quis dizer não foi só o que as suas palavras significam,
mas – além disso – também quis provavelmente dizer que não podia aceitar a proposta de
A. Portanto, ele não só quis dizer o que disse, mas também quis dizer algo mais do que
aquilo que disse.
Se um estudante chegar atrasado numa aula e o professor perguntar com voz
ríspida:
Frase 3: Você sabe que horas são?, podemos, pelo contexto, entender que isso é uma
repreensão pelo atraso e não um pedido de informação sobre as horas.
De igual modo, se um de nós estiver num jantar com um(a) amigo(a) que precisa ir
ao encontro de uma outra pessoa e ele(a) nos disser:
Frase 4: Você sabe que horas são?, saberemos que isso quer dizer que o nosso(a) amigo(a)
precisa de ir embora logo.
A conclusão a tirar deste exemplo é que devemos sempre distinguir entre dois
níveis: a língua como sistema de unidades que têm significados, e que por isso podem ser
usadas para comunicar, e a comunicação real, isto é, o que as pessoas podem querer
alcançar ao usar a língua. É deste segundo nível – o da prática ou acções linguísticas –
que trata à pragmática. A competência pragmática diz respeito à capacidade de
compreender a capacidade do alocutário nas trocas sociais cingidas no contexto e na
intencionalidade comunicativa.

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1.1. Contexto no discurso


Para o Grande Dicionário de Língua Portuguesa (2010: 415), contexto é um s. m.
(do lat. contextu) e sugere-nos oito distinções de acepções, mas aqui interessa assinalar
as 3 seguintes: 6- Linguística: conjunto de características exteriores à língua que
determinam a produção do discurso (o grau de familiaridade entre os falantes, o local mais
ou menos formal onde se encontram, 7- situação comunicativa, tempo, 8- totalidade das
circunstâncias e dos factores históricos, sociais e culturais, que possibilitam, condicionam
ou determinam a produção e a recepção de um texto.
Para Paz e Moniz (2004), contexto é um termo que designa tanto palavras que
acompanham determinado enunciado (contexto literal) como as realidades a que se
referem às palavras de um texto (contexto extraverbal). Em qualquer destas acepções é
fundamental a noção de contexto para o entendimento da mensagem em causa.
Discurso é a língua no acto, na execução individual. E, como cada indivíduo tem em
si um ideal linguístico, procura extrair do sistema idiomático de que se serve as formas de
enunciado que melhor lhe exprimam o gosto e o pensamento. Essa escolha entre os
diversos meios de expressão que lhe oferece o rico repertório de possibiliddes, que é a
língua, denomina-se Estilo. Se concordarmos com a distinção de Jules Marouzeau2 (1946),
podemos dizer que a Língua é a «soma dos meios de expressão de que dispomos para
formar o enunciado» e o Estilo «o aspecto e a qualidade que resultam da escolha entre
esses meios de expressão.
Indispensável referir às diferenças para não confundir discurso3 e texto. Segundo
Patrick Charaudeau (2008), o texto deve ser considerado como um objecto que representa
a materialização da encenação do acto de linguagem. Ele é o resultado singular de um
processo que depende do sujeito falante particular e de circunstâncias de produção
particulares. Cada texto é, assim, atravessado por vários discursos relacionados a géneros
ou a situações diferentes. Por exemplo, o género literário pode ser atravessado por um
discurso jurídico, político, didáctico e humorístico.
O termo discurso é, segundo opiniões de Gomes e Baptista (1995), “o enunciado
ou sequência de enunciados considerados na sua situação de enunciação (locutor,

2
Marouzeau, Jules (1946). Prés de stylistique française, 2.ª ed. Paris, Masson, 1946, p. 10)
3 Peça oratória proferida em pública (de improviso ou escrita). Pode significar ainda, em sentido lato, o método
ordenado de exprimir ideias acerca de determinado(s) assunto(s). É mensagem na base de código, cuja unidade é a
frase.

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alocutário, tempo e espaço determinados) e na dinâmica da sua produção (factores sociais,


ideológicos, dentre outros.)” é o que veremos a seguir.

1.1.1 Cotexto linguístico


O co-texto engloba todos os parâmetros de natureza extralinguística que são
relevantes, de forma mediata ou imediata, na produção e interpretação de um texto. É
basilar no âmbito do uso da língua. Engloba também a própria situação de comunicação,
definida pelas relações intersubjectivas e espácio-temporais que se criam no e pelo acto de
fala e inclui ainda o perfil sócio-económico e sócio-cultural dos interlocutores, o universo de
crenças e conhecimentos que alicerçam a sua visão no mundo, a conjuntura histórico-
ideológica que envolve o acto comunicativo, as intenções e objectivos dos falantes.
O contexto linguístico ou cotexto retira qualquer dúvida sobre o significado do signo,
servindo-se de referências cotextuais. Pode-se descodificar o signicado do signo mesa nos
enunciados seguintes, tendo em conta diferentes pontos de referências:

Frase 5: – A mesa aprovou o licenciando com distinção.


Frase 6: – A mesa está posta para acolher o licenciado com familiares e amigos.
Frase 7: – Aeroporto-banco BIC: dois lugares na gileira (sic) do quadadrinho!

Assim, o contexto pode ser entendido como a situação comunicativa em que o texto
é produzido: local, época, situações histórica, social, política, estética, ideológica.

1.2. Noção de Pragmática

1. Do grego «pragmatikê», «acção», «prática» é a disciplina linguística que estuda a


linguagem na sua função comunicativa, em situação contextualizada, através dos
chamados Actos de fala ou actos ilocutórios, expressão de J. Austin e J.R. Searle,
que abrangem três tipos: os Actos locutórios, que têm uma função informativa; os
Actos ilocutórios, que têm uma função orientadora (advertência, súplica, pergunta,
conselho, ordem…); os Actos perlocutórios, que aludem aos efeitos provocados
pelo enunciado (aceitação, recusa, dúvida, perplexidade, inquietação, entre outros.
Como devemos saber a linguagem é um conjunto de palavras associadas entre si
para formar frases a fim de trocar mensagens e ideias.
2. A Pragmática é o estudo do SIGNIFICADO e CONTEXTO, distinta da SEMÂNTICA.

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3. Pragmática é o estudo, não só do que o LOCUTOR diz, mas também do que o LOCUTOR
quer dizer com o seu ACTO DE FALA.
4. A pragmática é o estudo de como as oralizações são usadas (literalmente,
figurativamente ou de quaisquer outras maneiras) nos actos comunicativos.
5. A Pragmática estuda: a relação entre o que é falado e o que se diz com isso sobre
o mundo; a relação entre o que é falado e as intenções/motivações comunicativas
do falante e a maneira como os participantes de comunicação organizam a sua
interacção linguística; como isso reflecte a posição social dos falantes.
6. A Pragmática propõe-se estudar a linguagem, não segundo o ponto de vista do seu
conteúdo ou da sua estrutura, mas dos seus efeitos na comunicação. “É uma
corrente do pensamento oriunda da linguística e da filosofia da linguagem. O filósofo
inglês, John L. Austin, é a sua principal figura”, mais adiante conheceremos a sua
teoria4.
As seis acepções do termo pragmática convergem e um deles pode servir de resposta
correcta.
A pragmática está, pois, relacionada com os utilizadores da linguagem, já que a
língua em situação de uso está para além do conhecimento gramatical dessa mesma
língua. São os princípios reguladores da actividade verbal que constituem o objecto do
estudo da pragmática, como disciplina linguística. Daqui, deduz-se que o enunciado, o
contexto e todo um conjunto de circunstâncias nele envolvido ocupam um papel primordial
na interpretação dos signos.

1.3. Princípios do uso da língua


O Uso da Língua é regido por Princípios, ao contrário do que acontece com o
Conhecimento da Língua que obedece a um determinado conjunto de Regras. O Princípio
de Cooperação é constituído por um conjunto de máximas que regulam o comportamento
discursivo dos falantes. Faz parte da competência conversacional a correcta aplicação das
máximas, segundo Paul Grice subdivide o Princípio de Cooperação em Máximas
Conversacionais em quatro categorias, designadamente:

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A filosofia da Linguagem não se trata de um estudo empírico da língua, mas da construção de uma teoria da linguagem
a partir de uma análise, não do sentido de um trecho do discurso, mas da estrutura produtora da comunicação,
preocupando-se primordialmente, não do significado linguístico de um acto, mas como ele chega a significar dentro de
um determinado contexto de discurso, descrever a forma como o sentido foi usado, fundamentando-se sobre uma
“teoria do significado”, onde qualquer análise conceitual a pressupõe (https://www.puc-rio.br).

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i) Máxima de Qualidade: procura dar uma contribuição verdadeira. a) Não diga o


que crê ser falso; b) Não diga aquilo de que não tem prova ou aquilo que desconhece.
Exemplos: ….

ii) Máxima de Quantidade: Faça o esforço de tornar a sua contribuição tão


informativa quanto é requerido (tendo em conta o propósito da troca). a) Não torne a sua
contribuição mais informativa do que é requerido.
Exemplos: …

iii) Máxima de Relação ou Relevância: Sê relevante. É necessário que o


participante de uma determinada conversa intervenha com pertinência. Isto é, não se pode
afastar do tema ou assunto que estiver a ser tratado.
Exemplos: ….
iv) Máxima de Modo: Sê claro. Quer dizer, o sujeito que intervém num diálogo com
outra pessoa deve: a) Evitar a obscuridade de expressão; b) Evitar ambiguidades; c)
Ser breve e evitar a prolixidade desnecessária; d) Ser metódico ao abordar o assunto.

Tabela 1 – Quadro Geral das Máximas Conversacionais e os Seus Princípios


As máximas conversacionais Seus Princípios
1. Torna a tua contribuição tão informativa
quanto é requerido (para o presente propósito
Máxima de quantidade da troca).
2. Não tornes a tua contribuição mais
informativa do que é requerido.
Tenta fazer com que a tua contribuição seja
uma contribuição verdadeira.
Máxima de qualidade 1. Não digas o que crês ser falso.
2. Não digas aquilo para que não tens
provas adequadas.
Máxima de relação (ou relevância) Sê relevante
Sê perspícuo.
1. Evita obscuridade de expressão.
Máxima de modo 2. Evita ambiguidades.
3. Sê breve (evita a prolixidade).
4. Sê metódico.
Fonte: In Faria e et al. (1996: 403)
A comunicação comanda a vida das pessoas, é dela que as pessoas podem se
relacionar, conversar, dialogar, conviver. A convivência acontece entre famílias, vizinhos,
amigos, colegas; nos mercados, nas igrejas, nas escolas, nas ruas. Contudo, os sujeitos
falantes usam maioritariamente a língua. É desta que as pessoas fazem enunciações,
através dos quais expressam seus pensamentos, suas emoções e sentimentos.

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Segundo Reis e Lopes (2001: 122) enunciação é o acto de conversão da língua em


discurso, ou, ainda, o acto individual de actualização da língua num determinado contexto
comunicativo.
Ao usar a língua para a converter em discurso, o sujeito falante assume de imediato
o estatuto de emissor, referenciado pelo pronome eu (mesmo que não venha expresso), e
postula automaticamente a presença de um tu, o receptor, a quem o discurso se dirige
através das relações espácio-temporais, pelo que tudo se ordena, nascendo as noções de
aqui e de agora.

1.4 Princípios de Delicadeza Verbal

Os falantes ao utilizarem os meios indirectos de expressão conseguem chegar à


delicadeza ou cortesia. Mas, por que razão pode levar um falante a preferir enunciar:
Frase 8: – Podias fazer-me o favor de entregar estas fotocópias à Africana?
E um outro falante preferir enunciar:
Frase 9: – Entrega estas pastas de arquivo à Africana.

A preferência por formas indirectas como o exemplo da frase 8) tem a ver com a
preocupação dos falantes exprimirem-se com certos preceitos de delicadeza que é o
fenómeno frequente na comunicação quotidiana. A enunciação 8) contém um maior grau
de delicadeza em relação com a 9), uma frase com menor grau de cortesia. O enunciador
8) sabe que ao dirigir-se ao seu destinatário está a praticar um acto directivo, está a solicitar
uma tarefa do destinatário que ao responder a solicitação vai ter de fazer algo que não tinha
planeado ou vai ocupar-se algum tempo com algo que não é do seu interesse directo. Então
o enunciador a) tem o cuidado de usar uma expressão que «apague», ou mitigue, o facto
de ele estar a pôr o seu destinatário ou alocutório perante algo que pode ser incómodo,
mesmo que pequeno. O enunciador 8) tem vantagem em usar uma expressão que torne
claro que ele não está a impor nada ao destinatário. É por isso que ele usa três estratégias
de delicadeza:
a) qualifica a acção pedida como fazer um favor;
b) dissimula o pedido sob a forma de uma pergunta sobre se destinatário pode fazer
esse favor, deixando abertura para uma resposta negativa;
c) Não usa o verbo poder no presente do indicativo, mas na forma, mas distanciada,
do imperfeito (podias).

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Cada estratégia aumenta o grau de delicadeza final da expressão usada.


Divergente ou muito contrário, se o enunciador 8) usasse a frase 9), poderia ser interpretado
por destinatário ou alocutório como estando a impor-se-lhe e a limitar indevidamente a
sua liberdade. Se considerarmos que cada indivíduo tem uma imagem pública, uma
expressão menos delicada poderia ser interpretada como ameaçando essa imagem. O
recurso à delicadeza tem basicamente como finalidade proteger a face do alocutário.
O conceito de face, em termo técnico, usa-se em pragmática para explicar os
fenómenos de delicadeza, aproxima-se do uso comum que se faz da palavra em
expressões como «perder a face (perante alguém)» ou «perder a cara».
Portanto, o falante em falta de delicadeza verbal costuma ser, na sociedade actual,
considerado de autoritário, no contexto conhecido por muitos estudantes-trabalhadores em
que os patrões e chefes dirigem-se aos seus empregados ou subordinados a praticar um
acto ameaçador da face criando um mal estar e barreiras na cooperação entre ambos. E,
muitas vezes sem o chefe dar conta dos efeitos perlocutórios, os quais não protegem a
face.

1.5 Actos linguísticos indirectos ou Acto Ilocutório Indirecto

Acto ilocutório indirecto é o acto de fala em que um emissor transmite no seu


enunciado mais do que aquilo que realmente diz, ou transmite algo diferente, o falante não
transmite o que quer dizer de forma directa ou literal, mas de forma indirecta.
Suponhamos que o delegado da nossa turma está visitar o Museu da História
Militar, à saída, diz à funcionária:
Ainda não vi a memória da Batalha do Kuito Kuanavale. Volto cá amanhã. Ao que
a funcionária recepcionista retorque: Amanhã é segunda-feira.
Não há dúvida de que, a um nível básico, o que a funcionária quis dizer corresponde
exactamente àquilo que disse: ela quis dizer que no dia seguinte era segunda-feira e disse
isso mesmo. Contudo, a nível mais elaborado, o que a funcionária do Museu quis dizer foi
algo substancialmente diferente daquilo que disse. Se a funcionária pressupôs que o
visitante (nosso delegado de turma) sabe que os museus em Luanda encerram à Segunda-
feira (para trabalhos internos), então ela também quis dar a entender com a sua frase que
o Museu estaria fechado no dia seguinte e quis, muito provavelmente, que a frase fosse
tomada como um aviso de que o visitante (delegado) encontraria o Museu fechado nauqele
dia.

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Temos deste modo um caso em que uma pessoa pratica pelo menos dois actos
ilocutórios através da enunciação de uma só frase. A funcionária afirmou que o dia seguinte
ao da conversa era uma segunda-feira e, ao fazê-lo, avisou o interlocutor de que o Museu
estaria fechado no dia seguinte. Mas evidente que o seu objectivo principal foi mesmo
veicular um aviso ao ouvinte, na medida em que a afirmação foi apenas feita como um meio
de possibilitar ao ouvinte inferir que ela o queria avisar. Podemos, portanto, dizer que, nesta
enunciação da frase Amanhã é segunda-feira, o acto ilocutório primário e o acto de afirmar
foi o acto ilocutório secundário. O acto de avisar é um acto ilocutório indirecto, pois foi
praticado a partir de outro, directo.
Que tipo de conhecimentos deve possuir o ouvinte, e que tipo de inferências (isto
é, raciocínios) deve ele fazer a partir desses conhecimentos, para chegar a compreender
o acto primário, indirecto?
Chamemos A o visistante do Museu e B à funcionária, respectivamente. Na
sequência de A ter dito que tencionava voltar ao Museu no dia seguinte, B diz Amanhã é
segunda-feira. Que conhecimentos possui A que lhe tornam possível, a partir desta
enunciação, compreendê-la como um aviso? E que passos segue A nas suas inferências
para chegar a essa compreensão?
1. A primeira condição, muito geral, para que possa haver compreensão, é que A e B
conheçam uma língua comum, neste caso a língua portuguesa, o que vai permitir a
compreender o significado literal da frase enunciada por B e tomá-la como expressão
da afirmação segundo a qual o dia seguinte é segunda-feira.
2. A compreende que esta afirmação de B não é uma reacção adequada à sua
afirmação de que iria ao Museu no dia seguinte. De acordo com o seu conhecimento
de actos linguísticos, A sabe que reacções adequadas de B seriam, por exemplo:
a) Simplesmente não dizer nada, já que não lhe foi feita uma pergunta, nem
praticado qualquer acto que exija uma resposta ou acção;
b) Ou a prática de um acto expressivo, tal como exprimir satisfação pelo interesse
demonstrado por A pelo Museu, expressão essa que poderia ser simples sorriso,
ou então a enunciação de frases adequadas a actos expressivos de satisfação,
como «Ainda bem que vai voltar» ou «Obrigada pelo seu interesse»;
c) Ou então – visto que a afirmação «Volto cá amanhã» diz respeito a um acto futuro
de A – uma reacção adequada seria um conselho sobre como praticar esse acto
ou um aviso sobre as consequências de o praticar.

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Mas o que B literalmente fez não foi nada disto, mas sim uma afirmação sobre o dia da
semana, o que parece inadequado.
3. Contudo, A acredita que a afirmação de B não foi feita «no ar»: ele acredita que B
está a querer cooperar na conversação e que a sua afirmação é relevante. A conclui
isto pelo que sabe sobre os princípios gerais da cooperação na conversação.
4. Ao procurar descobrir a relevância do que B disse, ocorre a A que os museus em
Luanda geralmente estão fechados às segundas-feiras (conhecimentos sobre o
mundo). A partir deste conhecimento, juntamente com o conteúdo da afirmação de
B (de que dia seguinte seria segunda-feira), A infere que B lhe quis dizer que o
Museu estaria fechado no dia seguinte.
5. Além disso, A sabe que deslocar-se a um local e encontrá-lo fechado é contrário aos
interesses de quem se desloca (conhecimento sobre o mundo) e sabe também que
avisar alguém acerca de uma situação é dizer-lhe que essa situação é contrária aos
seus interesses (conhecimento de actos linguísticos).
6. Assim, a partir de 4 e 5, A infere que ao afirmar o que afirmou, estava a avisá-lo de
que o Museu estaria fechado no dia seguinte.
Esta explicitação de como é possível a um falante tomar como um aviso aquilo que
literalmente é uma afirmação e, mais geralmente, de como é possível a um falante
compreender um acto linguístico indirecto, depende de dois factores:
a) A posse de certos conhecimentos, que são de vários tipos: conhecimento de
uma língua, conhecimento de actos linguísticos, conhecimento de
princípios de cooperação conversacional e conhecimentos sobre o
mundo;
b) A capacidade de fazer inferências, a partir desses conhecimentos.
Há muitos outras formas, mais ou menos convencionalizadas, de praticar actos linguísticos
indirectos. Habitualmente usamos, muitas vezes sem nos apercebermos, actos directivos
indirectos através de perguntas ou de afirmações com formas convencionais, como por
exemplo:
Podia abrir a janela?
Gostaria de contar com uma ajuda.
Queria o depósito do carro atestado.
Importa-se de me dar o jornal?
As palavras em itálico são verbos convencionalmente usados na prática de actos
directivos indirectos. A principal razão para o uso destas formas indirectas é a delicadeza

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ou cortesia abordados no subcapítulo sobre delicadeza verbal. No exemplo acima o último


emissor, por delicadeza ou cortesia, usa uma frase interrogativa que, num contexto, pode
ser entendida como uma ordem, quando o enunciador for um hiarárquico, ou um pedido ao
receptor.

1.6 Estrutura Teórica de Actos Ilocutórios

As pessoas, ao comunicarem entre si, trocam frases de uma língua. Com elas, as
pessoas praticam actos locutórios (também chamados actos de enunciação) em que são
pronunciadas palavras que fazem sentido. O sentido dessas frases nem sempre é
convencional, às vezes é contextual, dependendo de factores muito relevantes como o
contexto, a intenção comunicativa do falante para com o ouvinte e o conhecimento do
mundo. Desses factores, o contexto corresponde a um dos maiores avanços para se
compreender o significado pretendido. Este último sentido é o objecto da Pragmática
Linguística. Esta componente linguística estuda, assim, as relações existentes entre os
signos e os sujeitos falantes no sentido de descrever o uso que estes fazem da língua nas
mais diversas situações de comunicação. Ela procura compreender a prática da
comunicação, os princípios que a regulam e as condições para que o falante e o ouvinte
possam interagir de forma simples e natural.
A intenção comunicativa é central para a interacção social, porque, quando falamos,
permitimos ao outro que conheça nossos pensamentos, sentimentos, necessidades e
passamos a conhecer os sentimentos, pensamentos e necessidades do outro.
De acordo com Oliveira (2000) diz que no momento da produção linguística em
comunicação, estabelecem-se relações entre o que é dito, a intenção com que é dito, a
localização no espaço e no tempo, as funções sociais, as atitudes, os comportamentos e
as crenças dos participantes.
As acções praticadas, via enunciados, são, de modo geral, chamadas de actos de
fala, e mais especificamente de pedido, cumprimento, desculpa, resposta, convite,
promessa e outros. Acto de fala é, portanto, um comportamento verbal, governado por
regras que asseguram que as intenções comunicativas venham a ser adequadamente
interpretadas. Algumas dessas regras definem os próprios tipos de actos que podem ser
realizados pela fala.
Portanto, faz parte da competência comunicativa, para além daquelas estudadas
atrás, de um falante distinguir uma ordem de um pedido, uma intenção de compromisso,
uma asserção de uma representação de um estado emocional. Existe, pois, um significado

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Língua Portuguesa e TCE (domínio discursivo oral e escrito/da comunicação à expressão)
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subjacente a cada acto de fala. Esses diferentes tipos de actos de fala estão relacionados
com a intenção comunicativa, isto é, todo e qualquer acto ou pensamento que leva a uma
comunicação do falante quando produz o seu enunciado.

Acto Locutório
O acto locutório é o comportamento verbal governado por regras que permitem a
realização da intenção comunicativa. Corresponde ao acto de pronunciação de palavras e
frases que veiculam determinado conteúdo proposicional/mensagem, ou seja, corresponde
ao acto de pronunciar um enunciado.
Ex.: Eu sou um bom atleta.

Acto Ilocutório
Acto ilocutório é a realização de uma acção linguística produzido num determinado
contexto comunicativo, com determinadas intenções e sob certas condições, tais como
ordenar, avisar, convidar descrever, criticar, perguntar, declarar, aconselhar, cumprimentar,
despedir-se, baptizar, ameaçar. Assim, num acto ilocutório, a intenção comunicativa de
execução vem associada ao significado de determinado enunciado.
À sua tipologia, este acto pode ser assertivo, directivo, compromissivo, expressivo,
declarativo e indirecto. Num acto ilocutório, a intenção comunicativa de execução vem
associada ao significado de determinado enunciado.
Ex.: Vá pedir a esferográfica.
Não faça essa brincadeira.

Assertivo – o objectivo ilocutório dos assertivos é comprometer o falante em menor ou


maior grau, à verdade do que diz, isto é, à verdade da proposição expressa, ou seja,
relacionar o locutor com a verdade daquilo que ele próprio expressa no seu enunciado.
Pois, os assertivos são susceptíveis de serem avaliados em termos da dimensão
verdadeiro/falso.
Ex.: O meu carro é amarelo.

Exemplos de actos assertivos


afirmar, assertar, negar, relatar, informar, responder, jurar, avaliar, concluir, admitir,
confessor, asseverar, assegurar, confirmar, desmentir, notificar, argumentar, refutar, objectar,
predizer, ressalvar, acusar, queixar-se (de), criticar, censurar, louvar, gabar-se (de)…

Directivo – o objectivo ilocutório dos directivos é tentar levar o alocutário ou interlocutor a


praticar uma acção (verbal ou não verbal) que o locutor expressa no seu enunciado.

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Ex.: Passa-me esse livro.

Exemplos de actos directivos


pedir, solicitar, ordenar, mandar, requestar, suplicar, implorar, rogar, convidar, desafiar,
aconselhar, permitir, proibir, …

Compromissivo – o objectivo ilocutório dos actos compromissivos (comissivos) é colocar


o falante sob a obrigação de praticar uma acção, ou seja, comprometer o locutor com a
realização da acção (futura) expressa no seu enunciado.

Ex.: Trago-te o livro amanhã.


Juro que guardei o bife.

Exemplos de actos compromissivos


prometer, comprometer-ser (a), jurar (fazer algo), aceitar (fazer algo), ameaçar (fazer algo),
recusar, …

Mas se o falante tenciona que a sua proposição expressa seja tomada como
verdadeiro ou falso, jurar e aceitar são actos assertivos, como em:
Ex.: Juro que não devorei o bife.
Aceito que o excesso alcoólico causa muitos acidentes.

Um outro comissivo interessante é ameaçar. Ele é parecido com prometer, mas a


diferença está em que, ao prometer, o falante exprime a intenção de fazer algo em benefício
do ouvinte, enquanto ao ameaçar o falante exprime a intenção de fazer algo em prejuízo
do ouvinte.

Expressivo – o objectivo ilocutório dos actos expressivos é expressarem um estado


psicológico acerca de um estado de coisas referido no conteúdo propocional, ou seja,
exprimir o estado psicológico do locutor acerca da realidade expressa no seu enunciado.

Ex.: Parabéns pelo prémio.

Exemplos de actos expressivos


agradecer, dar os parabéns, felicitar, dar os pêsames, pedir desculpas, dar as boas-
vindas, lamentar, …

Declarações – o objectivo ilocutório das declarações é produzir um novo estado de coisas,


nomeadamente o estado de coisas referido na proposição expressa. Se uma declaração é
bem sucedida, então ela produz uma correspondência entre a proposição expressa e a
realidade.
Se um país declara a guerra a outro pelos meios oficiais, então esses países passam a
estar em guerra.
Se um soba grande disser perante a comunidade «Nomeio Beltrano soba» ou um padre
disser:

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Declaro-vos marido e mulher.

Exemplos de declarações
nomear (alguém para um cargo), declarar aberta uma sessão, declarar (alguém
culpado/inocente), declarar (um jogador fora do jogo), declarar a Guerra, demitir-se (de um
cargo), despedir (alguém do emprego), baptizar, excomungar, …

Acto Perlocutório

Este acto corresponde ao resultado ou efeito que um Acto de Fala provoca no


ALOCUTÁRIO por um determinado acto ILOCUTÓRIO. Verbos como convencer, persuadir ou
assustar ocorrem neste tipo de actos de fala, pois, informa-nos do efeito causado ao
alocutário.
Ex.: Ele conveceu-me a não desistir.
Está bem, já vou pedir.
Sai daqui. Ou Ordeno-te que saia dele…
O último acto de enunciação, pretende-se alcançar um determinado efeito que é o
de levar o alocutário a sair. Aí em termos de função de linguagem estamos perante a
função «conativa», por meio da qual a linguagem permite agir sobre o interlocutor.
Essas frases tornam explícito o efeito obtido por um enunciado anterior com
determinada força ilocutória. O acto perlocutório é praticado através de um acto ilocutório
e tem a ver com os efeitos causados no interlocutor pelo acto ilocutário. Por isso, o acto de
fala bem sucedido é aquele em que o efeito perlocutório pretendido coincide com o efeito
perlocutório alcançado.

1.7 Frase e enunciado

A frase (gr. ‘enunciado’; ‘enunciação’; ‘expressão’), ou período, é uma sequência


de palavras coerente e coesa, estruturada formalmente como unidade de sentido
autónoma. Completa para a comunicação, independentemente do contexto da enunciação,
facto que torna o número de frase praticamente infinito (uma frase é uma sequência de
palavras através das quais podemos afirmar ou negar algo, perguntar, dar ordens, exprimir
desejos ou intenções,…), mas também uma única palavra pode constituir uma frase se tiver
sentido completo.
Quando um atleta exclama água!, expressa uma frase. Contudo as frases são, na maioria,
constituídas por mais de uma palavra, às vezes por muitas palavras: Quando tiver vagar e

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o tempo estiver melhor, vou visitar os meus amigos que moram em Cabinda. A frase pode
conter, só uma oração (frase simples) ou várias orações (frase completa). A cada verbo da
frase corresponde, em regra, uma oração.
O enunciado5 é a frase enquadrada no contexto, único, em que foi utilizada para
a comunicação e, portanto, um produto da fala. A frase estou mal de barriga, presta-se a
enunciados diferentes, pois tem uma significação particular consoante for dita a um médico,
à mãe ou ao professor, ou ocorrer numa festa.
A enunciação é, portanto, o acto por meio do qual um locutor produz um enunciado:
papapapá é um enunciado distante de ser uma frase.

1.7.1 Frases declarativas e proposições

Numa primeira abordagem, uma proposição é aquilo que é expresso por meio de
uma frase. Uma proposição não é uma forma, mas aquilo que se pode exprimir através de
uma forma (uma frase). Como exprimir uma proposição é algo que o falante faz, podemos
dizer que exprimir uma proposição é um acto linguístico.
No entanto, devemos saber ainda que nem todas as frases exprimem proposições.
Vamos explicar isto partindo de exemplos:
1a) Abram as janelas!
1b) Prometo cumprir as minhas obrigações.
1c) É verdade que a rã é saborosa?
1d) O carro dormiu na garagem.
1e) Luanda é a cidade capital de Angola.

Entre os exemplos de 1a) a 1e) nem todas as frases transmitem uma proposição.
Apenas a frase declarativa tem essa propriedade. Trata-se de 1e). As restantes frases não
exprimem proposições. 1a) é uma ordem; 1b) é uma promessa; 1c) é uma pergunta; 1d) é
ambígua do ponto de vista semântico, Apesar de ser gramaticalmente bem formada.
Ao exprimirem proposições, as frases declarativas recebem um valor de verdade. Assim, o
valor de verdade de uma proposição consiste no facto de ser verdadeira ou falsa.

5
Com o surgimento da pragmática trouxe uma nova compreensão de haver uma dimensão contextual para
além das de sintáctica e semântica na análise do processo sígnico. Pois, o signo não é independente da sua
utilização, porque o processo de expressão, de comunicação e de interpretação dos signos apresenta-os
objectivados num tempo, num espaço e numa cultura. A pragmática encara a língua não como um sistema
formal, mas sim como instrumento de acção e de comportamento. Daí a distinção básica e essencial entre
frase e enunciado: a frase é a uma unidade estrutural (unidade de sintaxe), ligada ao conhecimento
linguístico enquanto o enunciado, pertence ao domínio da produção individual, é uma unidade de discurso.
Assim, a pragmática dá conta da actualização da língua em situações de uso.

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Portanto, não exprimem proposições as frases que exprimem: perguntas (1c), exclamações,
ordens, conselhos (1a), desejos, promessas (1b). Exprime proposição a frase (1e) declarativa (isto
é, que exprime ideia, pensamento) e com valor de verdade (isto é, que podem ser verdadeira ou
falsa) – dito de outro modo: que têm sentido. (Repare que nenhuma das frases 1a) – 1d) obedece
estas características).

1.8. Competência linguística e comunicativa. Competência metalinguística

A competência linguística de um falante manifesta-se na capacidade de usar a


lígua materna, respeitando as regras que lhe são próprias.
No entanto, para comunicar correctamente, não basta essa competência: o falante
tem de adequar o que diz à situação de comunicação. Por exemplo, se tivermos que nos
dirigir a um colega, recorremos a uma forma de tratamento diferente da que utilizaríamos
se estivéssemos a falar com o responsável pela direcção da nossa universidade;
empregaríamos expressões diferentes se a nossa intenção fosse dar uma ordem, dar uma
simples informação ou se quisermos exprimir um pedido.
Exemplos6:

Nestes exemplos, constatamos o modo como é formulado o pedido adaptada aos


diferentes destinatários, de acordo com a relação que estabelecem com o locutor, ou
também de acordo ao contexto tal como apreendemos em o Princípios de Delicadeza ou
Cortesia Verbal.
A ordem por que é apresentada determinada informação também pode ter a ver
com a estratégia discursiva: se tivermos uma má notícia a dar, podemos optar por atenuar
o seu efeito, apresentando-a depois de informações mais agradáveis para o nosso
interlocutor.
A competência discursiva manifesta-se num uso correcto e dequado (ao contexto,
ao receptor…) das estruturas da língua.
Esta capacidade que o falante tem de usar a competência linguística de forma
adequada a diferentes situações (graças ao seu domínio de conhecimentos
extralinguísticos e contextuais) chama-se competência comunicativa. Ou seja, a
competência comunicativa é a capacidade que o falante tem de usar a língua de forma

6
Fecha a porta. – disse a Maria ao miúdo. Podia, por favor, fechar a porta? – pediu a Maria à enfermeira.

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adequada às situações de comunicação em que se encontra; para além da competência


linguística, o falante tem que dominar conhecimentos extraliguísticos e contextuais.
Para o efeito, não devemos deixar de aprofundar o conhecimento da língua para
podermos reflectir sobre os processos e regras da gramáticais que a rege. A essa
capacidade de reflexão e domínio das estruturas gramaticais (exercidos ao longo do
percurso escolar) dá-se o nome de Competência metalinguística. Quanto maior for a
competência metalinguística maior pode ser a competência comunicativa ou discursiva.

1.9. Conversa e Diálogo Argumentativo

Como vimos na matéria de princípio de cooperação, uma conversa, conversação


ou um diálogo é sempre uma interacção verbal, algumas vezes acompanhadas de gestos
e mímicas, em que os sujeitos falantes cooperam, trocam mensagens, pontos de vistas,
perguntas e respostas.
O diálogo ou conversa realiza-se normalmente em determinada situação de discurso
ou contexto. E convenhamos apreender que, antes de considerarmos a tipologia de
diálogos e respectivo contexto, a conversação tem sido alvo de investigação chama-se
análise conversacional e o seu objecto de estudo é a estrutura conversacional. A
análise conversacional revelou que certos fenómenos que ocorrem na conversação – e a
que a linguística da frase não prestava grande atenção – tinham afinal um papel
fundamental na explicação da comunicação. Entre estes fenómenos estão i) as formas
pelas quais os falantes iniciam e terminam uma conversa; ii) as pausas que se fazem em
certos momentos da conversação; iii) as hesitações (que podem originar a intervenção do
interlocutor), iv) a enunciação de interjeições e partículas, (v) as repetições de certas
palavras, ou mesmo de frases inteiras (pelo falante ou pelo interlocutor), (vi) as correcções
ou «melhoramentos» que os falantes fazem do que os outros disseram, ou do que eles
próprios (por vezes, a enunciação é interrompida a meio de uma frase, ou mesmo de uma
palavra, ou após uma hesitação, para a introdução do «melhoramento»). Estes fénomenos
não são meros «acidentes», mas obedecem a regularidades e desempenham funções
convencionais específicas na conversação.
O trabalho empírico em análise conversacional revelou existirem, ao longo do fio
de uma conversação, pontos bem definidos, destinados à tomada de vez: são os LRT’s –
locais relevantes de transição e são de vária natureza:

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Língua Portuguesa e TCE (domínio discursivo oral e escrito/da comunicação à expressão)
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Um falante pode (a) fazer uma pausa (para respirar, por exemplo hmm, ahn, …
); (b) afinar a voz através de um tossir; (c) sinalizar a presença de um local relevante de
transição por meio de expressões como pronto, ‘tá, etc.; (d) declarar que a sua vez terminou
(por exemplo, usando expressões como e é assim, e é isto (assim), já disse (o que tinha a
dizer) tenho dito; (e) simplesmente não ter nada mais a dizer e calar-se; etc.
Por outro lado, a tomada de vez durante uma conversação pelo falante seguinte
também é frequentemente sinalizada: por exemplo, através de expressões como Pois…,
Bem…, Sim…, etc. Além disso, quando um falante está na sua vez, isso não implica o
absoluto silêncio do interlocutor. Por vezes, este sinaliza que está a seguir o discurso do
falante através de enunciações de partículas como pois, hmm, sim (às vezes com
reiteração: pois-pois; hmm-hmm; sim-sim) ou expressões de reforço como certo, exacto,
estou a ver, etc.
A esta actividade, pela qual o participante passivo indica ao activo que está atento
e que o canal da comunicação está aberto, chama-se actividade fática e às expressões
usadas marcadores fáticos ou partículas fáticas.
Agora, impõe-se conhecer os cinco tipos de Diálogo Argumentativo e respectivos
contextos:

1) Discussão com ataques pessoais;


2) Debate forense;
3) Diálogo persuasivo ou discussão crítica;
4) Diálogo de investigação;
5) Diálogo de negociação;
6) Diálogo educacional.

A discussão com ataques pessoais (ataque ad hominem – ataque contra a


pessoa e não contra o argumento) é caracterizada pela vontade de ofender agressivamente
o interlocutor sem medir os meios a que se recorrer. Atacar verbalmente o oponente a
quaisquer meios ou custos, sejam eles razoáveis e justos ou não, representam o objectivo
principal. Aqui somos expostos a um diálogo atípico durante o qual os falantes proferem,
invocam, ejaculam ataques pessoais com forte carga emocional, recorrem a argumentos
falaciosos, palavras obscenas e partículas fáticas, interjeições, gestos e mímicas reforçam
este tipo de conversação verbal. Altercação não é amiga da lógica, pois as lições lógicas
que se podem extrair dela são patológicas. Ela representa o mau argumento, o argumento
exaltado, instrumento de falácias, ataques cruéis e críticas unilaterais que são

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completamente evitados ou desestimulados pelo diálogo racional. Quando um argumento


desce ao nível da altercação, geralmente se encontra em grande dificuldade.

Exemplo:
“As chamadas teorias de Einstein não passam de delírios de uma mente poluída por
besteiras democráticas e liberais, coisa totalmente inaceitável para homens de ciência
alemães.”
O debate forense geralmente tem lugar nos tribunais de acordo as normas
processuais. É mais ordenado do que a altercação. Nele intervêm juízes, advogados,
procuradores e as partes interessadas. O debate trava-se entre as partes interessadas na
solução da questão jurídica, designadamante, o autor da causa, o queixoso ou lesado, de
um lado, e o responsável pelo dano causado, o réu, de outro lado. Dependendo da natureza
da acção que sustenta o debate, ambas as partes podem ser representadas por um
procurador e por um advogado.
O objectivo principal do debate forense consiste em alcançar uma decisão
favorável do tribunal através da sentença proferida pelo juiz. Pode dizer-se que o debate
forense recorre a procedimentos que se aproximam do raciocínio lógico.
O diálogo persuasivo ou discussão crítica constitui o contexto em que se
desenvolve uma conversa entre os dois interlocutores, pretendendo cada um deles
convencer o outro, defender o seu ponto de vista com recurso a provas que são
susceptíveis de livre aceitação ou refutação por outro interlocutor. As provas podem ser
internas ou externas. As provas internas são obtidas a partir das inferências realizadas com
base numa proposição resultante da interacção verbal. As provas externas resultam do
recurso a outras fontes ou autoridades especializadas.
O diálogo de investigação caracteriza-se pelo facto de obedecer às
necessidades de alcançar novos conhecimentos em determinada disciplina ou ramo do
saber. A finalidade não é propriamente descobrir provas definitivas ou conclusivas numa
lógica competetiva. Por serem investigadores que pugnam pela neutralidade, as partes que
intervêm neste tipo de diálogo prosseguem uma verdade objectiva.
O diálogo de negociação visa a obtenção de uma vantagem pessoal através de
acordos alcançados a partir das posições de cada uma das partes.
Por isso, trata-se de um diálogo verdadeiramente competitivo. A seu respeito não se pode
falar de neutralidade, o que importa é chegar ao fim com a certeza de ter realizado um bom
negócio.

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O diálogo educacional ocorre entre o professor e o aluno. Cabe ao professor


transmitir conhecimento para a outra parte (o aluno).

1.9. Texto conversacional versus Texto escrito


A eficácia da comunicação depende de uma correcta adaptação do que dizemos à
situação de comunicação, o que implica, por exemplo, optar pelo uso do texto
conversacional ou escrito da língua, com as suas marcas diferenciadoras, por uma forma
de tratamento ou por outra. O seu uso oral como os interlocutores numa mesma situação,
num momento dado e num local preciso, com emissão e recepção alternadas, o que lhe
dá características próprias.
Quando um dos dois utiliza a primeira pessoa ou termos como aqui e agora, não se
verifica nenhum problema de compreensão (gestos, mímica, entoação…) que permitem a
compreensão dos enunciados produzidos:
– Dá-me essa coisa. (+ gesto)
– Ele fez assim. (+ mímica ou gesto)
– Que esperto! (segundo a entoação, pode ter significados diferentes)

Agora, vamos ler o enunciado que se segue em que se procurou transcrever a


gravação de um diálogo entre colegas, mantendo o mais possível às marcas da oralidade:

– ‘Tamos a fazer um trabalho prà iscola e podias colaborar, tá?


– Colaborá? Hum… Qué qu’queres que faça?
– Podias imprestar a tua câmra…
– Pra quê? Pra dares cabo dela?
– Pra quê? Ã… ã…. Hãã inda não sei bem. … Talvez… O Valente tev’a ideia e
nós. … Talvez pra filmar algumas coisas… à… alguns monumentos da
cidade… Percebes?... Mas prometo… nã ta’strago! É só prum dia.
– Prum dia, né? Sei lá… mas… tá bem! Depois vê-s’isso milhor…
– Fixe, muito fixe pá! Epá chau! Agora vou-m’imbora. Vou prà aula.

Compara agora com a sua versão na língua escrita:


– Estamos a fazer um trabalho para a escola. Acho que podias coloborar.
– O que queres que faça?
– Podias emprestar-me a tua câmara de vídeo.
– Para quê? Para me dares cabo dela?
– Ainda não sei bem, mas talvez para filmar monumentos da cidade. Mas
prometo que não a estrago até porque só preciso dela por um dia.
– Está bem. Então, até mais logo, porque agora vou para a aula.

Verifica-se que há diferenças, evidentemente, marcas da escrita com a utilização de


grafemas a substituir os fonemas e de vários sinais de pontuação através dos quais se
procura dar indicações sobre entoação, assinalar pausas e ritmo. Por outro lado, na escrita
há a ausência da mímica e gestos. Mesmo assim, no primeiro texto há marcas de oralidade:
frases curtas, repetições de palavras e expressões, suspensões, contrações de palavras…

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No segundo enunciado, a mensagem está mais elaborada, ordenada e mais


logicamente e por isso, não verificamos repetições nem interrupções de frases.
Podemos ainda trazer outro exemplo do “dialecto futebolístico”, como lhe chama o
jornalista com certa graça, é um exemplo do uso da língua restrito a um grupo
socioprofissional – a gíria. Não é chinês, apenas um pedaço seleccionado do dialecto
futebolístico.
Akuá mata no peito e cola na relva, Paulaaaão corta in extremis e
dispara, mas tem Túbia à ilharga, Jota bate no esférico, rodopia, faz
um bonito, éeee lançamento longo… Akuá recebe e progride no
terreno, remata do meio da rua… não é gooooolo… Buta sobe e
agarra, ripa na rapaqueca e…

Aqui temos a tradução:

… a bola bate no peito de Akuá e cai no chão. Paulão evita o golo


mesmo no último minuto e dá um pontapé na bola com bastante força.
Túbia não o larga. Entretanto Jota despista o adversário ao mudar a
direcção da jogada, mandando o esférico para longe. Akuá fica com a
bola, avança até à baliza do adversário, chuta, mas está demasiado
afastado para marcar golo. Buta, o guarda-redes, defende, pula,
agarra na bola, dá-lhe uns toques e…

Atentamente, vamos confrontar as características mais marcantes do texto conversacional


e do escrito sintetizadas no quadro:
Texto conversacional Texto escrito
Transmissão e recepção imediatas da Transmissão e recepção diferida da mensagem
mensagem
Emissor e receptor estão inseridos no mesmo Maior necessidade de referência à situação em
contexto que ocorre a comunicação
- presença de numerosos elementos
deícticos Descrição de gestos e mímica
- emprego de gestos e mímicas
Uso de pontuação e de sinais gráficos auxiliares,
Entoação, ritmo, acento de intensidade mas que não podemos reproduzir exactamente o
ritmo, o acento de intensidade do oral
Frases curtas Frases geralmente mais longas
Frases incompletas cortadas por suspensões Ordenação mais lógica da mensagem, com frase
e repetições completas e articuladas – maior abundância de
- presença de marcadores discursivos que elementos de coesão (marcadores discursivos)
funcionam como bordões7
Predomínio das frases simples e Uso mais frequente de subordinação
coordenadas
Vocabulário menos rico apurado Vocabulário mais rico e variado
Contracção e distorção de palavras Domínio das regras da ortografia e da sintaxe

7
Palavras-bordões são palavras de que o falante se serve inadvertidamente para se apoiar no discurso. O
seu abuso constitui um flagrante e irritante vício de linguagem: pá, portanto, pois, coisa, efectivamente. Alguns
ao fazerem o uso oral tornam-se cacoeteiros que é o hábito de repetir, com demasiada frequência, a mesma
palavra ou expressão: Estou finalmente portanto em férias e vou portanto aproveitar para portanto
descansar um pouco e dar portanto alguns passeios. É um hábito desagradável e ridículo, actualmente muito
em voga.

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O texto conversacional apresenta as características informais e a escrita as


formais. “Muitos pensam erradamente que o texto escrito é o modelo ideal para se seguir
quando se fala. Na prática, aqueles que tentam seguir este preceito acabam por parecer
estranhos senão mesmo ridículos” (AITCHISON, 1993:126)
Os estudantes devem ter a consciência que ninguém fala tal igual como se
escreve, mas se deve buscar conhecimentos e práticas para chegar à competência
comunicativa, metadiscursiva aproximando-se a língua-padrão.

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RETÓRICA E ARGUMENTAÇÃO

2. RETÓRICA

2.1. Breve história da Retórica


O aparecimento da RETÓRICA como disciplina específica é o primeiro
testemunho, na tradição ocidental, duma reflexão sobre a linguagem. Encontramo-la pela
primeira vez no século V a. C., na Grécia, com a preocupação pelo domínio da expressão
verbal que surgiu a oratória. Naquela época, os cidadãos comuns, usurpados de suas
propriedades e de outros direitos, precisavam de se defender dos ataques dos tiranos de
Siracusa. Então, Tísias (c. 460- c.400) discipulo de Córax (um logógrafo que era discipulo
de Empédocles (c. 483-482 a.C.) instruíram os advogados dessas vítimas a sustentarem
suas razões nos tribunais da cidade por meio de uma boa argumentação. Esses dois
pioneiros teriam criado a retórica elaborando o primeiro Manual de Arte Oratória contend
técnicas argumentativas que deviam ser usadas em tribunal. Começa-se a estudar a
linguagem não enquanto «língua» (tal como se aprende uma língua estrangeira), mas
enquanto «discurso».
Na obra daqueles autores e que não se tem registo, mas lhes foi atribuído o mérito
de iniciar a retórica, era definida como arte cujo objecto é a persuasão, tendo como
instrumento a verosimilhança, o que levava os autores a atribuir maior valor à probabilidade
do que à evidência e a considerar que uma tese seria tanto mais aceitável quanto mais
provável se apresentasse. Foi daí definida a estrutura do discurso retórico compreendendo
o exórdio, a apresentação dos factos, a discussão e peroração.
Nessa época, dois sofistas gregos imprimiam um outro rumo à retórica com o seu
Manual de Retórica. Trata-se de Protágoras (c.486-410 a.C) e Górgias (c.485-c.580)
Depois a consistente teorização de Aristóteles com os seus dois livros Retórica (entre 360
e 325 a.C.) e Tópicos (antes de 347 a.C.) que constituem o legado aristotélico, a tradição
chega a Roma quando se publica Retórica a Herenniuns (c.84 a.C.) de que não se
conhece o autor. Mas é com Cícero (106-43 a.C.), autores de obras como De Oratore e
Partitiones Oratoriae, que a retórica recupera o seu prestígio antigo.

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2.2. O que é a Retórica

As definições de retórica têm-se multiplicado ao longo da história, pois todos


usamos retórica na comunicação humana, dia após dia. Pode-se dizer que retórica é o
estudo de bem falar e bem escrever, de persuadir por meio de um discurso. A etimologia
da palavra rehêtorikê, em que “ikê” significa “arte ou habilidade de e “rhêtór”, um orador
político/público experiente.
No entanto, a definição mais comum e mais aceite é a da retórica como arte da
persuasão, entende-se o termo “arte”, não no sentido antigo de uma técnica ou de um
sistema regras práticas que possibilitam ao orador obter o assentimento do auditório por
intermédio do discurso.
Para os gregos do tempo de Platão (428-347 a. C), a retórica estava muito ligada à
política da democracia (liberdade de expressão), sendo os cidadãos preparados para os
assuntos políticos pela força da palavra (persuasão) e não pela violência.
A persuasão é usada em domínios da vida pública em que é possível deliberar,
quando se trata dos interesses da sociedade e dos cidadãos, e em assembleias públicas e
tribunais, embora, também possa ser usada em diálogos e em conversas privadas.
Retórica em sentido lato: De acordo com Henri Lausberg é a “arte do discurso em
geral” praticada por qualquer indivíduo activamente participante na vida de uma sociedade
(Lausberg, 1963: 75).
Retórica em sentido estrito ou retórica escolar: é a arte do discurso que consiste
na defesa das partes de um conflito e que constitui objecto de ensino (Ibid.).
Pode dizer-se que a retórica é um sistema mais ou menos bem elaborado de formas
de pensamento e de linguagem, as quais podem servir à finalidade de quem discursa para
obter, em determinada situação, o efeito que pretende (Idem).
Portanto, a retórica é a “ars bene dicendi, designando bene a virtus específica do
discurso partidário, constituída pelo sucesso da persuasão” (Idem:86).
Em suma, a retórica é uma técnica ou um sistema de regras de comunicação que
visam à persuasão e tem por base um conhecimento prático, científico ou na opinião de
alguns, empírico.

2.3. Diacronia da retórica

O percurso da retórica até aos dias de hoje processa-se em três períodos: i)


fundador, ii) período da maturidade e iv) período do declínio.

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O fundador emerge da Pólis por volta de 450 a. C., Atenas era o centro cultural do
mundo grego, os grandes mentores da retórica os sofistas, Córax, Tísias e Platão marcam
este período. Os mestres de retórica contribuíram para que a democracia e liberdade de
debate se tornassem um símbolo da organização do mundo grego
Aristóteles é o pai do período da maturidade com ele a retórica é a ténica da
argumentação do verosímil e já não apenas da verdade. A ossatura do seu discurso
compreende: exórdio (introdução geral), enunciação da tese, prova e epílogo. Os meios
de prova podem ser não-artísticos e artísticos.
Os meios de prova artísticos podem ser de três espécies: logos, o apelo ao
raciocínio; pathos, o apelo à emoção; ethos, o apelo ao carácter moral do orador que se
deve apresentar seguro do assunto a tratar e benevolente.
Aristóteles apresenta, na sua obra Retórica, a retórica como arte genuína, como uma
teoria da argumentação persuasiva, nos seus aspectos relevantes da prova, do raciocínio
e do silogismo retórico (o entimema), ao tratar da arte da comunicação quotidiana, do
discurso em público, pois em assuntos humanos a argumentação não se pode basear
apenas no que é verdadeiro, mas também no verosímil.
O contributo de Aristóteles elevou a retórica clássica à categoria de disciplina nobre,
influenciando o progresso da cultura da argumentação no Império Romano com Cícero, o
primeiro grande orador de Roma (106-43) a. C.
Cícero, advogado, tribuno, político, orador e filósofo de exemplar virtude,
estabeleceu determinados aspectos retóricos a partes específicas do discurso. No exórdio
ou introdução, deve ser afirmada a autoridade do orador para atrair a credibilidade da
audiência (ethos), nas outras partes do discurso: narratio (narração), partitio-confirmatio
(argumentação-prova), refutatio (digressão) e peroratio (epílogo, peroração, conclusão), o
orador deve usar principalmente argumentos lógicos (logos).
Com Quintiliano (século I) emerge o encontro entre a retórica e a escrita. Ele foi o
último grande mestre de retórica da Antiguidade Clássica. Cícero e Quintiliano recusaram
o dogmatismo a favor do probabilismo.
O declínio da retórica8 no mundo ocidental teve início no século XVI, intensifica-se
com o ascendente do pensamento cartesiano, inspirado nas ideias do filósofo francês René
Descartes, século XVII e culmina no século XIX. O Discurso do Método, considera quase

8
Predominantemente a retórica era “a arte do discurso expressivo” ou “ a ciência da persuasão”; agora a palavra está
muito desgastada, com a origem relacionada a “oratória”, que tem sido muito usada em flayer publicitários a persuadir
apreendizes desejosos de aprender retórica…

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como falso tudo quanto era apenas verosímil. Foi o pensamento cartesiano que, fazendo
da evidência a marca da razão, não quis considerar racionais senão as demonstrações que,
a apartir de ideias claras e distintas, estendia, mercê de provas apodícticas, a evidência
dos axiomas a todos os teoremas. A Retórica passa a ser considerada como “ornamento”
e “não um instrumento de raciocínio para convencer” (Breton, 1998: 17).
Assim, a retórica europeia ganha novo fôlego com a publicação de três livros: Tópica
e Jurisprudência de Theodor Viehweg (1958); Tratado de Argumentação e a Nova Retórica
de Chaim Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca (1958); e Os Usos do Argumento de Stephen
Toulmin (1958).
A obra de Chaim Perelman (1912-1984) é a mais importante nesse período de
renascimento no século XX. Para Perelman as técnicas argumentativas devem ter em
consideração: a) estrutura do discurso; b) o efeito do mesmo discurso sobre o auditório.
Portanto, o percurso histórico da retórica é longo, a primeira etapa a dos sofistas e
do esforço da democracia grega; a segunda atingido na pessoa de Aristóteles, inspirador
da cultura da argumentação desenvolvida na República e nos primeiros tempos do Império
Romano com oradores célebres como Cécero e Quintiliano; a terceira etapa período do
declínio, que se prolongou desde finais do Império Romano até meados do século XX com
renascimento da teoria da argumentação.

2.3.1 Géneros de discurso retórico


Existem, segundo Aristóteles, três géneros de discurso retórico: o deliberativo, o
judicial e o epidíctico. Cada um destes géneros tem características específicas que
ajudam a caracterizá-los e, ao mesmo tempo, a distingui-los uns dos outros:
1) O discurso deliberativo que tem em vista a tomada de uma decisão;
2) O discurso forense ou judicial cujo fim é dar uma sentença;
3) O discurso epidíctico que se destina a avaliar, reprovar ou louvar.
O primeiro tem por auditório os membros da assembleia, a que, procura aconselhar
ou dissuadir, mostrando por meio do exemplo que uma qualquer acção possível futura (uma
vez que só podemos deliberar sobre o que ainda não aconteceu) é conveniente ou
prejudicial. Esta é a forma por excelência do discurso político.

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O segundo é usado pelos oradores nos tribunais. Tem por auditório os juízes e como
intenção acusar ou defender, mostrando por meio do entimema9 que uma determinada
acção ocorrida no passado (uma vez que só podemos julgar o que já aconteceu) é justa ou
injusta.
A terceira tem por auditório os espectadores no conselho e a sua intenção é elogiar
ou censurar, mostrando por meio da amplificação que alguém, devido às acções que
praticou, é virtuoso ou vicioso, belo ou feio.

2.4. Nova Retórica /Teoria da Argumentação

Chaim Perelman (1912-1984), filósofo e jurista, inaugurou, na segunda metade do


século XX, o período da nova retórica. Esse filósofo jurista tem sido considerado «o autor
mais expressivo para uma análise da retórica e da ciência, incluindo a retórica do Direito, é
quem anunciou o período de renovação da retórica, no início da sua obra Tratado da
Argumentação/a Nova Retórica10. Com o aparecimento da Nova Retórica, inicia-se o
período de renovação da retórica como Teoria da Argumentação. A partir de Chaim
Perelman muitos estudiosos ganharam interesse em perceber a teoria da Argumentação

9O entimema é uma forma de argumento dedutivo que permite no domínio dos discursos públicos demonstrar
ou provar uma proposição a partir de premissas que são sempre ou quase sempre prováveis. Como todos os
argumentos, o entimema tem premissas e conclusão. Normalmente, um entimema é constituído pela
proposição que se quer provar e por uma outra que fornece a razão ou justificação da primeira, como neste
exemplo: “Ela deu à luz, uma vez que tem leite”. Há duas espécies de entimemas: os demonstrativos e os
refutativos. Os primeiros são aqueles que demonstram que algo é ou não é, enquanto os segundos são
aqueles que refutam que algo seja ou não seja. Tanto no entimema demonstrativo como no refutativo, a
conclusão é obtida a partir de premissas com as quais quer o orador quer o seu adversário estão de acordo,
mas o entimema refutativo conduz a conclusões com que o adversário está em desacordo. Além dos
entimemas, que são argumentos válidos, há também os entimemas aparentes. Estes entimemas são os que
parecem e pretendem ser formas válidas de dedução, mas que na verdade não são. Fazem parte desta
categoria algumas das falácias estudadas na lógica formal. A outra forma de prova admitida por Aristóteles é
o exemplo. O exemplo é semelhante à indução do particular para o particular e pode basear-se em factos
passados ou em histórias inventadas pelo próprio orador. Neste último caso, os exemplos podem ser
parábolas ou fábulas. Aos entimemas e aos exemplos Aristóteles junta ainda as máximas. As máximas são
afirmações gerais que podem ser aceites ou rejeitadas e que se referem a acções. No entanto, diz Aristóteles,
se à máxima se juntar a causa e o porquê, transforma-se num entimema. Assim, a máxima é uma espécie de
entimema truncado, isto, uma afirmação cuja justificação é omitida. Por exemplo: “Não há homem que seja
inteiramente feliz” e “Não há homem que seja livre” são máximas, mas passam a entimemas, se lhe
acrescentarmos “Porque o homem é escravo da riqueza ou da fortuna”.
10
Chaim Perelman apresenta o seu Tratado da Argumentação com a seguinte afirmação introdutória: «A
publicação de um tratado consagrado à argumentação e sua vinculação a uma velha tradição, a da retórica e
da dialéctica gregas, constituem uma ruptura com uma concepção da razão e do raciocínio, oriunda de
Descartes, que marcou com o seu cunho a filosofia ocidental dos três últimos séculos.» É de notar que a
escola pragmatista americana foi a única que sempre ensinou a retórica juntamente com a disciplina de língua
inglesa, preocupando-se com arte de bem dizer.

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como é o caso da obra de Rui Alexandre Grácio (2013) em Perspetivismo e Argumentação


apresenta caminhos de como teorizar a argumentação.

2.4.1. O que distingue Retórica de Argumentação

A diferença entre retórica e a argumentação consiste nos fundamentos da «arte


de convencer». Actualmente, a retórica caracteriza-se pelos apelos que faz à dimensão
afectiva (meios de natureza afectiva) ao passo que a argumentação recorre a meios
racionais. É neste domínio que os estudantes terão de recorrer a inferências tendo em
conta a obediência das convenções em provar o que se afirma no texto argumentativo.
O termo argumentação é o modo de apresentar e de dispor os argumentos, ou
seja, os raciocínios destinados a provar ou a refutar determinada proposição, uma tese, um
ponto de vista qualquer. A sua finalidade é a de persuadir e convencer, ao mostrar que
todos os argumentos utilizados tendem para uma única conclusão.
A discussão é o campo propício para a inserção dos argumentos visando defender
uma tese. Consideremos os meios racionais para provar o que se afirma, através dos tipos
de argumentos. Os mais evidentes são:

Argumentação por citação


Quando estivermos no acto de enunciação para defender um ideia, assunto devemos
procurar pessoas “consagradas”, pensam ou concordam como nós acerca do assunto a pôr
em evidência.
Para isso teremos de apresentar no corpo do nosso texto a menção de uma
informação extraída de outra fonte.
A citação pode ser apresentada assim: sobre a coexistência linguística na linguagem
verbal em português visa valorizar e memorizar os aspectos culturais do contexto
circundante e pertença dos falantes nativos “…” (Neto, 1990: 3).
O texto citado deve estar de acordo com as ideias do texto, assim, tal estratégia
funcionará bem.

Argumentação por comprovação


A sustentação do argumentação se dará a partir das informações apresentadas
(dados estatísticos, relatórios, regulamentos, convenções, etc) que a acompanham. Esse
recurso é explorado quando o objectivo é contextar para melhorar uma realidade.
Vejamos:
O ministro da Educação apresentou hoje um relatório da Exclusão Educional. Estudo
do MED, feito a partir de dados do INIDE e do Censo Educacional do MED, publicado em
2016, mostra o número de crianças dos cinco aos dezasseis anos que estão fora das
escolas em cada província.

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Segundo o relatório, em Angola, 2 milhões crianças, ou 4,3% da população nesta


faixa etária (cinco a dezasseis anos), para a qual o ensino é obrigatório, não frequentam as
salas de aula.
O pior índice é a província do cunene: 2, 1% das crianças estão fora da escola.
O melhor, a província da Huíla com apenas __% de crianças excluídas, seguido por
Benguela, com __% e Huambo, com ___%.
A partir desse tipo de citação o autor precisa de dados que demonstrem a sua tese
– para mostrar que Cunene também pode melhorar.
Esse recurso de buscar ou trazer evidências para sustentar a proposição
argumentativa do texto pode servir também para a refutação que é o “argumento que
pretende destruir ou invalidar outro a que se opõe, procurando demonstrar a sua falsidade,
a sua incoerência, ou reduzi-lo ao absurdo.”

Argumentação por raciocínio lógico


A criação de relações de causa e efeito é um recurso utilizado para demonstrar que
uma conclusão (afirmada no texto) é necessário, e não fruto de uma hermenêutica pessoal
que pode ser contestada.
Vejamos:
“O fumo e as bebidas alcoólicas são o mais grave problema de
saúde pública nas zonas urbanas de Angola. Assim como não
admitimos que os comerciantes de tabaco e bebidas alcoólicas
façam propaganda para os nossos filhos na TV, todas as formas de
publicidade de bebidas alcoólicas e cigarros deveriam ser proibidos
terminantemente. Para os desobedientes, cadeia.”

Para a construção de um texto argumentativo é necessário o conhecimento do tema,


o assunto da questão para o êxito.

Argumentação por conhecimento empírico


Este tipo de argumentação é sustentada pela experiência que o emissor terá vivido,
presenciado num determinado período, época ou momento quer dentro de gurpo ou
organização específica, quer na comunidade ou instituição enquanto estruturais sociais na
qual o indivíduo se enquadra. Argumentação por conhecimento empírico é prática
indispensável para a produção de conhecimento científico.

2.5. Definições argumentação

Argumentação – é o encadeado de argumentos, o percurso com que o raciocínio clarifica


e demonstra a verdade ou falsidade de uma tese, a aceitabilidade, ou não, de uma ideia ou ponto
de vista.
Argumentação – é uma técnica (arte) discursiva que visa intervir sobre opiniões, atitudes
ou comportamentos de um interlocutor individual ou colectivo, tornando credível ou aceitável uma
tese.
O texto argumentativo tem a intencionalidade – força ilocutória e perlocutória – de
argumentar de forma a alcançar o efeito de persuasão, de modificação de opiniões ou crenças

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O argumento – é o termo que designa os elementos que entram numa relação de


justificação de uma opinião.
Um argumento é um conjunto de afirmações organizadas de tal forma que uma delas, a
que se chama conclusão, seja apoiada pelas outras, a que se chamam premissas.
Os argumentos podem revestir um carácter subjectivo ou objectivo:
– Os argumentos subjectivos exprimem raciocínios pessoais, normalmente de causa e efeito:
Fazer desporto é importante porque isso faz bem ao físico e ao espírito; comer é um prazer;
– Os argumentos objectivos apoiam-se em factos observáveis (quantitativos, científicos,
sociológicos): Um em cada três portugueses é gordo; Até hoje, só tivemos um nobel da literatura;
O último censo é de 2001.
Argumento válido é a prova capaz de afirmar ou negar algo; o mesmo é dizer: a força que
impele a razão a aceitar algo como verdadeiro ou falso.
O desenvolvimento de uma argumentação pode comportar a seguinte estrutura
hierarquizada: Tese: argumentos, conclusão.
1. Tese (ou opinião pessoal): A imigração é um fenómeno complicado para Angola (…).
2. Argumentos (enumerados segundo uma ordem crescente e com a ajuda de conectores
lógicos): (…) primeiro, porque Angola não tem uma rede de acolhimento social eficaz;
depois, porque não há um controlo de entradas de acordo com as disponibilidades de
emprego; e, por último, porque a rede escolar não está preparada para absorver os filhos
dos jovens imigrantes, oriundos das mais diversas culturas, no sistema de ensino angolano
(…).
3. Conclusão: logo, o governo angolano tem que, rapidamente, olhar a questão de frente e
proporcionar aos imigrantes, àqueles de que o país tem necessidade, uma integração
humana e plena na sociedade de acolhimento.

2.6. Estrutura da argumentação e o exercício da elaboração do ensaio

Qualquer texto argumentativo pode basear-se na estrutura seguinte:


Introdução – “uma só matéria” – esta deverá ocupar um parágrafo, no qual se fará a
apresentação do tema ou assunto. Ou seja, no parágrafo inicial, o autor do texto apresenta a tese.
Esta deve ser apresentada num estilo assertivo, claro e preciso, sem, no entanto, mencionar
quaisquer razões ou provas.
Discussão – “declará-la, confirmá-la com o exemplo, amplificá-la” – proceder-se-á à
apresentação da tese e, ao longo dos vários parágrafos, à exposição dos vários argumentos ou
provas que a justificam. A contra-argumentação pode também ser útili para reforçar a tese inicial.
Recorre-se ainda à exemplificação, factos, a citações, testemunhos ou mesmo dados estatísticos e

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eventualmente ao relato de alguns dados que ilustrem os argumentos referidos, assim, como aos
articuladores do discurso, para facilitar o encadeamento lógico dos parágrafos.
Peroração – “concluir” – no último parágrafo, retoma-se a tese inicial e procede-se ao fecho
do discurso, através de uma breve síntese. Ou seja, o autor estabelece uma síntese da
demonstração feita no segmento da discussão.
A partir desta estrutura pode-se elaborar textos ensaísticos de pendor científico e não só.
O termo ensaio remete-nos ao texto literário breve, situado entre o poético e o didáctico, expondo
ideias, críticas e reflexões éticas e filosóficas a respeito de certo tema. Consiste também na defesa
de um ponto de vista pessoal e académico sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social,
cultural, moral, comportamental, literário, religioso, entre outros), que se paute em formalidades
como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de carácter científico.
O ensaio assume a forma livre e assistemática sem um estilo definido. Um ensaio
argumentativo é um género textual, discursivo expositivo-argumentativo que versa sobre um tema
específico em profundidade, no entanto, sem esgotá-lo. Pode ser ou não escrito a partir da recolha
de dados bibliográficos que se constituirão em argumentos para a sustentabilidade do mesmo a
respeito de um tema. Entretanto, fundamenta um ponto de vista relativo com um assunto de
interesse científico, social, dentre outros. O ensaio documentado estrutura-se, geralmente, em
secções que recebem títulos relacionados com o tema e o(s) objectivo(s) da discussão.
Referências bibliográficas: referencia-se o autor pelo seu sobrenome em maiúsculas
seguido de vírgula e espaço e o prenome em minúscula. As referências bibliográficas podem ser
incluídas no final do texto ou no final de cada uma das suas secções (capítulos, partes, etc.).
Formas de citação directa e indirecta
Quando se usa um testemunho de autoridade, a voz de um profissional, um especialista num
determinado assunto, podemos escolher citaremos directa ou indirectamente suas palavras.
A citação directa consiste na cópia fiel das palavras do autor. Se essa citação for feita num
discurso académico (ensaio, resumo, artigo, TFC ou resenha crítica):
▪ texto da citação deve ser colocada entre aspas (se ocupar de 1 a 3 linhas) ou formatada em
bloco (se ultrapassar 3 linhas), com o tamanho da letra reduzida;
▪ antes ou depois da citação, informar o sobrenome do autor, o ano de publicação da obra de
que foi extraída a citação e a página no original;
▪ se o autor optar em colocar a fonte entre parênteses, o sobrenome do autor deve vir em
caixa alta (todas letras maiúsculas); quando o sobrenome do autor estiver fora de
parênteses, grafa-se apenas a primeira letra em maiúsculas.
Exemplo:
No ponto de vista de Halliday & Hasan o termo texto "é usado em linguística para referir
qualquer passagem, oral ou escrita, de qualquer extensão, que forme um todo" (Halliday &
Hasan,1995, p. 01),

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A citação indirecta consiste na paráfrase das ideias do autor, ou seja, a reescrita do texto
do autor em outras palavras, conforme o entendimento de quem está citando. Nesse caso, é
necessário informar apenas o sobrenome do autor e o ano de publicação da obra. Dispensa-se o
uso de aspas e de bloco. A citação indirecta é indicada por um verbo discendi, como "afirmou que",
"propõe que", "argumenta que", “refutou que”.
Exemplo:
Ainda sobre a disciplina no acto comunicativo, Grice (1982) propôs o Princípio Cooperativo,
que se constitui da obediência do falante as regras de conduta, chamadas por ele de máximas
conversacionais.

2.6.1 Análise do discurso: do literário ao discurso politico e jurídica


Dentro do discurso literário o estudante vai assumir o papel de hermeneuta ou crítico para
interpreter as acções de injustiça humana dada a conhecer pelo narrador sobre a vida do mais-
velho da Samba Kimôngua, no conto “Náusea”11, de Agostinho Neto publicado no n.º 2-4, de
Outubro de 1952, da revista Mensagem, órgão da Associação dos Naturais de Angola (Anangola).

2.6.2 Estrutura canónica


A estrutura de argumentação canónica apresenta-se numa formalização parcial da lógica
(lógica proposicional), argumento válido, seguinte:

▪ Se P, então Q.
▪ P.
▪ Logo, Q.

Esta representação formal obedece à regra modus ponens (o modo de pôr). Afirmando
(ponendo) o antecedente, afirma-se (ponens) o consequente. É um tipo de argumento dedutivo
válido. Mas se pode construir com uma argumentação falaciosa, por exemplo:
Se as estradas têm gelo, o correio está atrasado.
As estradas não têm gelo.
Logo, o correio não está atrasado.
Ambas as premissas podem ser verdadeiras e a conclusão ser, mesmo assim, falsa. O correio pode
estar atrasado por outras razões para além do gelo nas estradas. O argumento não considera
explicações alternativas.
O argumento comporta três elementos: Premissa Maior; Premissa Menor e Conclusão.
Premissas – são afirmações com as quais apresentamos razões que nos conduzem à
conclusão. Mais adiante em 2.8 falaremos sobre premissas.

11 “Náusea” texto narrativo literário único de Agostinho Neto, escrito em 1950. Neto andava pelos vinte e
poucos anos de idade. É um dos marcos da história da literatura angolana, cabendo os estudiosos extrair
lições para as várias áreas do saber.

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As premissas são um ou dois juízos que precedem a conclusão e dos quais ela decorre
como consequente necessário dos antecedentes, dos quais se infere a consequência. É
evidenciada por um silogismo que é estruturado do seguinte modo:
▪ Todo homem é mortal (premissa maior)
▪ Homem é o sujeito lógico, e fica atrás da cópula;
é representa a cópula, isto é, o verbo que exprime a relação entre sujeito e predicado;
▪ mortal é o predicado lógico, e fica após a cópula.
▪ Sócrates é homem (premissa menor)
Sócrates é mortal (conclusão). = (homem é o termo médio)
Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor (sujeito da
conclusão) são comparados com o termo médio, e assim temos a premissa maior e a premissa
menor segundo a extensão dos seus termos. Ficaríamos com o seguinte argumento:

“Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal.”

2.6.3 Formas de raciocínio ou de argumentação

São formas de raciocínio ou de argumentação:


▪ a demonstração – processos lógico-discursivo pelo qual, de afirmações certas ou de factos,
se retira a certeza ou validade de uma conclusão – como um investigador que retira
conclusões a partir dos dados obtidos e confirmados;

▪ a dedução – forma de racicínio baseada no princípio de identidade e que conclui do


universal para o particular. Ou seja, a dedução parte de um antecedente – afirmação ou
proposição ou premissa conhecida –, daí concluindo necessariamente um consequente
(uma proposição ou afirmação desconhecida. Nota-se a conclusão é nova, mas, de modo
implícito, já está contida nas premissas. A forma de dedução mais conhecida e estudada é
o silogismo.);

▪ o silogismo – raciocínio de demonstração em que há três proposições, sendo duas


premissas e uma a conclusão, ou, por outras palavras, o silogismo é um processo com que
a razão passa de uma verdade a outra – que inequivocamente deduz da primeira, como se
demonstra no clássico exemplo:
“Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal”(7);
Nota: Quando se suprime a conclusão ou uma das premissas (antecedentes), o silogismo tem o
nome de entimema (vocábulo que vem do grego, com o significado de reflexão, consideração). O
entimema não é uma demonstração. Ocorre quando se apresentam princípios universais – aceites
como tais, sem discussão (por exemplo: O ser humano é sociável); ocorre também quando se fazem
generalizações arbitrárias do géneros: O Miguel é um mau estudante, portanto não irá longe.

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– a indução – forma de raciocínio que, fundamentando-se na relação de causalidade,


passa da consideração dos factos particulares à formulação de uma lei geral. É o método das
ciências positivas, em que as leis(8) (proposições ou afirmações universais) são obtidas através do
processo: observação, hipótese, verificação ou confirmação da hipótese, lei.

(7)Estes esquemas de raciocínio dedutivo foram estruturados pela primeira vez por Aristóteles (séc. IV a. C.
Grécia); recentemente, remodelados, estão generalizados pelos novos cálculos da Lógica matemática.
(8) No âmbito das grandes questões da Ciência, problemas como os da indução e dedução são,

presentemente, mais complexos, como o documentam, por exemplo, as palavras de Einstein: “A tarefa
suprema do físico consiste na procura das leis elementares não há caminho lógico algum que conduza, mas
tão-somente a intuição, que se apoia num sentimento de profunda simpatia com a experiência”. Apud J.
Resina Rodrigues, “Indução”, in Logos – Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Lisboa, Editorial Verbo,
1990, Vol. 2, p. 1415.

– o raciocínio causal: forma de raciocínio pelo qual o espírito humano aceita como
evidente o princípio da causalidade, isto é: que todo o ser contigente (que de facto existe mas que
poderia não existir) e tudo o que é contigente exigem uma causa que justifique a sua existência;
– o exemplo, a comparação, a analogia: forma de rciocínio que recorre ao que é
semelhante para concluir acerca do que lhe é comparável. Trata-se de uma forma de indução.
– a reflexão crítica: a vigilância ou controle que a mente exerce sobre si própria no
percurso do raciocínio, para que não deixe introduzir a contradição, o não lógico, o erro(9).

(9) São erros de lógica:

– Raciocínio viciado (consiste em a partir de uma afirmação falsa e, a partir dela, pretender retirar
conclusões como verdadeiras. Chama-se sofisma ou falácia, quando é intencional; se é involuntário, tem o
nome de paralogismo);
– Equívoco (quando uma mesma palavra é usada com diferentes sentidos, fugindo ao rigor do raciocínio
lógico que a deve empregar sempre com um mesmo sentido, o mesmo é dizer sempre com um mesmo
sentido, o mesmo é dizer sempre num sentido unívoco. Exemplo de equívoco: cão – “animal doméstico”,
“constelação”, “peça de arma de fogo”);
– Circulo vicioso ou petição de princípio (sofisma, argumentação falaciosa, em que se apresenta como
prova a própria suposição de que se partiu);
– Erro acerca da causa (consiste em confundir a verdadeira causa com aquilo que é apenas uma
circunstância);
– Ignorância do estado da questão (não identificar o que é efectivamente negado ou afirmado, passando
a produzir uma argumentação à margem da discussão, como seja: tentar provar o que não é negado ou negar
o que não é afirmado).

2.7. Falácias mais frequentes

A lógica informal identifica erros de argumentação – falácias, as quais podem ser


de:
Ad hominem – atacar pessoalmente e não os argumentos ou suas qualificações.
Ad personam – consiste em desvalorizar e desautorizar o discurso do outro por
meio de ataques sobre o passado da pessoa pouco abonatório para descredibilizar o

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oponente antes da tomada de vez. Ao procurar descredibilizar o oponente enquanto pessoa


visa desvalorizar a sua iniciativa argumentativa como algo que não merece ser ouvido ou
acreditado, por não ter autoridade para se pronunciar sobre o assunto em questão.
Ad baculum – apelar à força, recorre-se à força ou à ameaça (intimidação) para
impor a sua conclusão sem ter apresentado argumentos adequados para sustentá-la;
Ad ignorantiam – apelo à ignorância. Argumentar que uma afirmação é verdadeira
só porque não se mostrou ser falsa. O senador americano Joseph McCarthy quando lhe
foram exigidas provas para sustentar a sua acusação de que uma certa pessoa era
comunista:
Não tenho muita informação sobre isso, excepto a declaração
genérica da CIA de que nada existe nos seus ficheiros que refute os
seus possíveis contactos comunistas.
Este é um exemplo extremo de «argumentar» a partir de informação incompleta:
aqui não há pura e simplesmente informação.
Ad misericodiam – apelo à compaixão, apelar à compaixão como argumento para
obter um tratamento especial.
Sei que tive negativas em todos os testes, mas, se não passar de ano,
terei de frequentar o curso de Verão e o dinheiro será a dobrar. Tem
de deixar-me passar!
Ad populum – apelar às emoções da multidão e também o apelo para que alguém
«se deixe ir» com a multidão. Por exemplo: «Mas toda a gente o faz!». Ad populum é um
bom exemplo de um mau argumento de autoridade: não se oferecem razões para mostrar
que «toda a gente» é um fonte informada e imparcial;
Ad verecundiam – apelar à modéstia, e o mau uso que um participante faz da
opinião de um perito ou autoridade na tentativa de se furtar à própria opinião, já que pode
alegar que não ousa discutir a palavra de uma autoridade no assunto.

2.8. Função semântica dos articuladores do discurso argumentativo


Os conectores, marcadaores ou articuladores discursivos são uma classe de
marcadores discursivos, que ligam um enunciado a outro enunciado ou uma sequência de
enunciados a outra sequência, estabelecendo uma relação semântica e pragmática entre os
membros da cadeia discursiva, tanto na realização oral como realização escrita. São unidades
linguísticas invariáveis, pertencendo a diferentes categorias gramaticais – interjeições, advérbios ou
conjunções. Têm a mesma distribuição da classe de palavras a que pertencem e contribuem de
modo relevante para a coerência textual, orientando o receptor na interpretação dos enunciados,
na construção das inferências, no desenvolvimento dos argumentos e dos contra-argumentios.
Os conectores do discurso argumentativos da tabela abaixo requerem um domínio de quem
vai prática o discurso argumentativo escrito e oral. A breve lista de marcadores

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discursivos/conectores, organizando-os em blocos ou colunas, indicando o seu sentido


argumentativo, introduzindo novos temas, mantendo e orientando o contacto do locutor com o
interlocutor, chama a atenção para o facto de alguns deles poderem pertencer a categoria
diferentes, consoante os contextos:

Tabela 1 –Articuladores ou conectores do discurso


FUNÇÃO EXEMPLOS
Conversacionais ou fáticos aló!..., está?..., não é…?, olha!..., percebes?..., atenção.
primeiro, em seguida, então, mais tarde, depois, ao mesmo tempo,
Ligação Temporal quando, logo que, ao mesmo tempo que, depois que/ de, ao passo que,
assim que, enquanto não, desde que…
Referências espaciais ali, aqui, lá, acolá, além, mais adiante…
é que, como já foi dito, de acordo com, noutros termos, ou seja, ou
Explicativos ou explicitação antes, por outras palavras, quer dizer, a saber, de outro modo, sendo
assim, isto, visto que…
Enumerativos ou em primeiro lugar, primeiramente, em seguida, finalmente, por último,
Ordenação enfim…
Ilustrativos ou por exemplo, mais concretamente, nomeadamente, em particular,
exemplificação entre outro, assim, isto é, é o caso de, como se pode ver…
E, além disso, além do mais, não só… mas também, ainda por cima,
Aditivos/sumativos do mesmo modo, igualmente, de novo, ora, ainda, e, como se disse, por
um lado… por outro lado…
– para introduzir um argumento – de facto, na realidade, com
efeito, aliás, porque…
– para introduzir um contra-argumento (oposição/refutação) –
mas, todavia, no entanto, contudo, pelo contrário, em todo o caso, sem
Argumentativos embargo, não obstante…
– para introduzir uma conclusão decorrente de uma afirmação
– portanto, por consequência, assim, é por isso que…
– para introduzir uma síntese, a partir de diferentes pontos de vista –
em suma, no fundo, finalmente…
a fim de, a fim de que, para que, para que não, para, com a finalidade
Finalidade de, com o propósito de, com intuito de…
é por isso que, portanto, logo, por consequência, de modo que, donde
Conclusivos e se segue, assim, pois, com efeito, em consequência, em conclusão, por
explicativos/Causativos estas razões, em síntese, por conseguinte, assim, para terminar…
todavia, contudo, mas, embora, ao contrário, em contrapartida, de
Concessivas/adversativas outro modo, apesar de, mesmo se, se bem que, nem que, entretanto…
Comparação como, igualmente, tal como, conforme, assim como… assim, mais /
menos que / do que, pela mesma razão…
se, no caso de, na hipótese de, na eventualidade de, contanto que,
Hipótese/condição salvo se, desde que, a menos que, a não ser que, suposto que, supondo
que, excepto se, se é verdade que, admitindo que…
As conjunções dizer que…, garantir que…, esperar que…
subordinativas que e se ver se…, não saber se…, perguntar se…
Resumativos em suma, enfim…
Reiteração/reafirmação penso que, entendo que, insisto que…
Certeza efectivamente, evidentemente, obviamente, na verdade…
Chamar a atenção note-se, rapare-se, veja-se…

2.9. Argumentação versus texto expositivo-argumentativo

Aqui, convém situarmos a existência do texto argumentativo e de texto expositivo-


argumentativo conhecendo as poucas características que as distinguem. Pois, enquanto o
objectivo do texto argumentativo é essencialmente impor um juízo ou defender uma tese

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e persuadir o destinatário adoptar essa mesma tese, o texto expositivo-argumentativo parte


sobre ele, podendo o autor apresentar também o seu ponto de vista.
No entanto, os dois textos recorrem às mesmas técnicas discursivas, como acontece
com a exemplificação e com os conectores de discurso, e utilizam a mesma disposição
estrutural (introdução, desenvolvimento e conclusão).
O texto expositivo-argumentativo é um texto híbrido, pois resulta da ligação entre o
texto expositivo e o texto argumentativo.

2.10 Paremiologia angolana – uma proposição argumentativa


O estudo da pragmática dos provérbios chama-se paremiologia, palavra que é
derivada da “paroimia”, do grego e é sinonímia de provérbio. Respeito ao tempo quando
surgiu, de acordo com Houaiss, (apud Xatara e Succi (2008). É a área que se preocupa
especialmente com a colectânea, classificação dos provérbios, dentre outros aspectos,
embora segundo Amadeu Amaral (1976) paremiologia é o estudo das formas de
expressões colectivas e tradicionais incorporadas à linguagem quotidiana. A origem da
palavra provérbio vem do latim proverbium.
O menosprezo da tradição oral por parte de alguns intelectuais não atribuir muito
valor à literatura que se ocupa do estudo da mesma. Eles chamam esta literatura
“paraliteratura”, “subliteratura” ou “infraliteratura”. Hoje, graças a um grande número de
publicações que se dedicam ao seu estudo, os provérbios mantêm-se vivos.
A paremiologia estuda a informação que está contida nos provérbios. A mesma pode
ser de diferentes tipos: sociológica, meteorológica, histórica, zoológica, entre outros. Xatara
e Succi adiciona que o objectivo da paremiologia é, “conceituar, descrever, analisar e
inventariar provérbios é tema relevante na fraseologia popular ou, em termos ainda mais
específicos, nos estudos paremiológicos”. Além disso a paremiologia ocupa-se da origem
dos provérbios. Tarefa nada fácil de responder porque muitos provérbios são anónimos. O
autor muitas vezes é desconhecido sendo que os provérbios provêem da língua falada e
não ter fontes onde procurar.
O provérbio é um género da literatura oral angolana e africana chamada “Oratura”,
termo forjado nos anos 60 pelo linguista ugandês Pio Zirimu (apud Kandjimbo, 2013: 227).
E pode ser definida como um conjunto de textos com perfeição estética que um povo põe
a disposição dos locutores duma língua para melhor dizer o seu pensamento, os seus
sentimentos, a sua história, as suas crenças e a sua filosofia. E têm segundo Cláudia Maria
Xatara e Thais Marini Succi a função de ensinar, advertir, aconselhar, repreender,

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persuadir ou até mesmo praguejar. Nesta mesma linha, o ensaísta angolano Luís
Kandjimbu reconhece que “mais de quarenta anos passados, são muitos defensores da
ideia segundo a qual a oratura não é apenas uma vertente das literaturas modernas em
África. Encerra em si as conotações de um sistema estético, um método e uma filosofia.”
(2012: 227).
No contexto plurilinguístico angolano, o provérbio tem diferentes desigações
segundo Antóno Fonseca(13): diz-se Olusapo na língua umbundu; Omuhe ou Omuse em
Nyaneka-humbi; Ingana em Kikongo; Jisabu em Kimbundu; Ikuma ou Cikuma em cokwé(8).
Dentro da classificação de textos literários orais, o provérbio representa o tipo de
textos que, apesar da sua autonomia, pode no entanto entrar na construção de outros
textos. Constituindo uma categoria que inclui ditados e máximas, caracteriza-se pela
brevidade, asssociando-se-lhe uma estética da transmissão de pensamentos, crenças,
ideias, valores e sentimentos. No que à sua estrutura diz respeito, o provérbio é um texto
sintético e de uma grande densidade semântica. Xatara e Succi afirmam que “provérbio é
uma unidade fraseológica fixa e, consagrada por determinada comunidade linguística, que
recolhe experiências vivenciadas em comum e as formula como um enunciado conotativo,
sucinto e completo.
Um provérbio carrega sempre dois sentidos: um sentido literal e um sentido
conotativo. A passagem do primeiro ao significado secundário, cuja coerência é possível
detectar em determinadas circunstâncias, constitui o núcleo da sua beleza, justuficando por
isso o esforço de interpretação que ele exige.
A estrutura dos provérbios normalmente é bipartida, apresentando premissas em
dois membros ou orações da frase, numa configuração aparentemente silogística. Ou seja,
A e B?. O sinal de interrogação omite a conclusão a que chega o intérprete. Mais se
assemelha a um entimema ou silogismo categórico reduzido.
Além do sentido literal e do sentido conotativo, há que referir o tema, isto é, a lição
a reter, síntese, a síntese do que subjaz ao significado das palavras e de que se parte
para extracção da ideia, do valor, do pensamento, enfim o ensinamento moral ou filosófico.
Ao incidirmos sobre o tema, destacamos a sua natureza pedagógica. E por isso a eles se
recorre para se exprimir algo que diga respeito aos diferentes e relevantes aspectos da
vida.
Com o elenco que se segue, exemplifica-se o exercício de interpretação dos
provérbios veiculados em umbundu, kimbundu, kikongo e Cokwe.

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Provérbio angolano de língua Umbundu: Longa ochinhama, kukase omunu.


Tradução literal: Alveje o animal, mas não apedreje a pessoa humana.

Densidade semântica do provérbio: O animal pode ser alvo de caça. Porém, a


vida da pessoa humana deve merecer respeito. A pessoa nem sequer deve ser
apedrejada.

Provérbio angolano de língua Umbundu: omunu nda ῆgo wafa ondalu, ava
vasyala vayota.
Tradução literal: a pessoa que morre não extingue o fogo, os vivos continuam a
server-se dele (o fogo) como meio de aquecimento.

Densidade semântica do provérbio: Apesar da morte, uma contigência que afecta


irremedialvemnte os homens, a vida prossegue com os vivos. A substituição e a
sucessão são incontornáveis nas relações sociais. A morte não põe termo à
sobrevivência comunitária. Não há pessoas insubstituíveis.

Provérbio angolano de língua Kimbundu: Usukula mutué ú hima kujiba nzabá.


Tradução: Lavar a cabeça do macaco é disperdiçar sabão.

Densidade semântica do provérbio: Este provérbio pode ser proferido quando se


pretende advertir alguém, a sua dimensão semântica remete-nos ao sentido
conotativo de que, por mais conselho que se dê ao tolo, jamas chegará a sábio.

Provérbio angolano em Kimbundu: O ixi kuajie uxikama ku mbila ya ukoue.


Tradução: Em terra estranha corremos o risco de sentar sobre a sepultar de nosso
sogro.
Densidade semântica do provérbio: Quando alguém chega à aldeia pela primeira
vez com intenção de construir um projecto para a comunidade ou para fins pessoais deve
recorrer às autoridades tradicionais para se evitar de correr o risco de construir por cima de
túmulos dos ancestrais – monumento cultural e espiritual dos aldeãos de uma determinada
aldeia.

Provérbio angolano de língua Kimbundu: Mutwe ki uzwelé, ubiluka kibaka.


Tradução: Cabeça que não fala, em assento se transforma.
Densidade semântica do provérbio: A quem não protesta, não lhe conferem os
seus direitos. Quando estamos em posição de nos defendermos, a boca estará ao serviço
do seu dono, para que conseguir o que muitas vezes só se segue reivindicando.

Provérbio angolano de língua Kikongo: Dyambu ndeko, mbizi nkonda.


Tradução: Para caçar um animal é preciso cautela.

Densidade semântica do provérbio: Este provérbio pode ser proferido quando se


pretende solucionar um problema pois, para tratar de um assunto qualquer que seja, é
preciso ter cautela, habilidades, é preciso estar alerta. O provérbio mostra que o sucesso
de um assunto depende da maneira como é tratado. Mostra como a precipitação pode

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prejudicar a caça, de igual modo, a falta de ordem e de habilidade pode comprometer o


resultado de uma questão que, à primeira vista pode parecer oportuna.

Provérbio angolano de língua Cokwe: Ciputa kola ny mafo; mwana kola ny mana
Tradução: A erva cresce com folhagem; a criança com conhecimentos.

Densidade semântica do provérbio: Este provérbio pode ser proferido quando se


pretende realçar um sentido pedagógico, repara-se que há uma comparação explícita,
directa entre a erva e a criança e, entre a folhagem e o conhecimento.
Em todos os trabalhos de pesquisa realizados sobre a literatura oral angolana nos
séculos XIX e XX, as canções (poesia em sentido estrito) e os provérbios ocuparam sempre
um lugar de destaque. Merecem referências as seguintes obras:
Elementos Gramaticais da Língua Mbundu (1864), de Saturnino de Sousa e
Oliveira/Manuel Alves de Castro Francina;
Kimbundu Grammar – Gramática Elementar do Kimbundu ou Língua de Angola
(1888-1889), de Héli Chatelain;
Philosophia Popular em Provérbios Angolenses. Jisabu, Jihengele, Ifika ni
Jinongonongo Josoneke mu Kimbundu ni Putu Kua mon’ Angola (1891), de Cordeiro da
Matta;
A Collection of Umbundu Proverbs, Adages and Conundrums (1914), da West
Central African Mission A. B. C. F. M;
Missosso, volume I (1961), de Óscar Ribas;
Selecção de Provérbios e Adivinhas em Umbundu (1964), do Padre José Francisco
Valente;
Sabedoria Cabinda – Símbolos e Provérbios (1968), do Padre Joaquim Martins;
Filosofia Tradicional dos Cabindas (1969-1970), do Padre José Martins Vaz;
Provérbios em Nyaneka de António Joaquim da Silva;
Dizer Assim (versões em português de provérbios da língua umbundu, 1986), de
Costa Andrade; Cantares do Nosso Povo de Raul David (umbundu, 1987); Poesia Pastoril
do Cuanhama e A Sabedoria do Povo Cuanhama em Provérbios e Adivinhas do padre
Charles Mittelberger (1991); Da Criação Popular Angolana de Gonzaga Lambo (umbundu,
1996); Ingana Ye Mvovo Mya Bakongo (Provérbios e Máximas dos Bakongo) (Kikongo,
1998) de Miguel Barroso Kyala; Provérbios em Kikongo (s.d.) de Diogo António; O Mundo
Cultural dos Ngangelas, obra colectiva publicado pelo Secretariado de Pastoral da Diocese
de Menongue (2000); Alupolo – Adivinhas de Henrique Etaungo Daniel (umbundu, 2002.

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