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UMA ANÁLISE NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

Ingrid do Nascimento Pereira

Resumo: Esta análise será pautada nas variações linguísticas no ensino de


língua portuguesa: uma proposta para uma cultura linguística realista positiva,
equilibrada e que dê sustentação adequada ao ensino e a difusão das práticas
da cultura escrita e da norma culta comum nos livros didáticos na perspectiva
de uma estudante de Letras Língua Portuguesa. Os autores apresentados
serão: ALMEIDA, ANTUNES, BAGNO, BORTONI. Ao longo do trabalho serão
destacados o autoritarismo gramatical, como superar a cultura do erro e
também o conceito de norma, e a análise de dois livros didáticos da editora
moderna.
Palavras-chave: Variações linguísticas, ensino, língua portuguesa,
autoritarismo gramatical, preconceito linguístico, competência comunicativa.

1 INTRODUÇÃO

A língua portuguesa é uma língua dinâmica e heterogênea, com


diferentes formas de falar e escrever. Esta diversidade linguística é resultado
de diversos fatores, como a região geográfica, o grupo social, o contexto da
comunicação, a idade, o nível de escolaridade, a profissão, o gênero, a etnia, a
religião e a ideologia. No entanto, por mais que a cultura do país seja
diversificada não se encontra essa heterogeneidade nos livros didáticos na
escola pública.
O que é preocupante, pois os alunos não aprendem sobre as variantes e
sentem-se inferiorizados perante o ensino rígido focado na gramática
normativa, uma imposição do grupo dominante. Nesse sentido, ao longo do
texto serão discutidos alguns conceitos como: as consequências do
autoritarismo gramatical, como superar a cultura do erro, será feita uma análise
sobre livros didáticos e como foram escritos e qual é o viés do recorte de cada
livro.

1.1 As consequências do autoritarismo gramatical


O autoritarismo gramatical é uma postura que considera a norma culta
como a única forma correta de falar e escrever a língua portuguesa. Essa
postura pode ter consequências negativas para o ensino da língua portuguesa,
pois:
1. Pode levar ao preconceito linguístico, que é a discriminação
contra pessoas que falam variedades não-cultas da língua
portuguesa.

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2. Pode desmotivar os alunos a aprender a língua portuguesa, pois
eles podem se sentir inferiorizados por não falarem a norma culta.
A cultura do erro que está presente em nossas escolas é um dos
maiores obstáculos para o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa
(Antunes, 2008, p. 106).
Pode dificultar o desenvolvimento da competência comunicativa dos
alunos, pois eles podem concentrar-se em aprender as regras gramaticais, em
detrimento da prática da comunicação.

1.2 Como superar a cultura do erro


Para superar a cultura do erro, é importante que os professores:
Valorizem a diversidade linguística, reconhecendo que existem
diferentes formas de falar e escrever a língua portuguesa.
Ensinem as normas gramaticais e ortográficas de forma contextualizada,
mostrando a sua importância em diferentes contextos de comunicação.
Estimulam os alunos a refletir sobre as suas próprias práticas
linguísticas, para que eles possam compreender melhor a língua e a usar de
forma mais consciente.
Criando condições para um ensino mais eficaz da língua portuguesa
para criar condições para um ensino mais eficaz da língua portuguesa, é
importante que:
Os professores sejam formados em uma perspectiva crítica da língua,
que valorize a diversidade linguística e o desenvolvimento da competência
comunicativa dos alunos.
Os livros didáticos abordem a variação linguística de forma adequada,
valorizando a diversidade linguística e promovendo o desenvolvimento da
competência comunicativa dos alunos.
As políticas públicas de educação adotem uma perspectiva crítica da
língua, valorizando a diversidade linguística e o desenvolvimento da
competência comunicativa dos alunos
Quando os professores só valorizam a norma culta, eles criam um clima
de desmotivação para os alunos que falam variedades não-cultas (Antunes,
2008, p. 107).
É importante a construção e a consolidação de uma cultura linguística
realista positiva, equilibrada e que dê sustentação adequada ao ensino e a
difusão das práticas da cultura escrita e da norma culta comum exige um
esforço conjunto de professores, alunos e sociedade.

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1.3 Conceito de norma culta
Segundo o gramático Napoleão Mendes de Almeida, a norma culta é “o
conjunto de formas e construções que, em determinado momento da história
de uma língua, são consideradas como corretas por um grupo social que detém
o poder e a influência cultural”.
A norma culta é um conjunto de regras gramaticais e vocabulário que é
considerado como correto e formal. Ela é geralmente associada à classe média
alta, e é frequentemente utilizada em contextos formais, como no ambiente de
trabalho ou na escola.
No entanto, é importante ressaltar que a norma culta não é a única
forma correta de falar e escrever a língua portuguesa. Existem outras variantes
da língua portuguesa que são igualmente válidas. Como afirma o linguista
Marcos Bagno: “a norma culta é uma construção social, que não tem valor
intrínseco, mas que é socialmente valorizada”.
A imposição da norma culta como a única forma correta de falar e
escrever a língua portuguesa pode levar a uma discriminação linguística. Os
estudantes que falam variantes da língua portuguesa que não são
consideradas como corretas podem ser discriminados por professores, colegas
e empregadores.
Almeida (1999) defende a importância do respeito às diferentes
variedades da língua portuguesa. Ele afirma que “é importante que todos os
falantes da língua portuguesa sejam capazes de entender e respeitar as
diferentes variedades da língua” (p. 16). Essa afirmação destaca o fato de que
o respeito às diferentes variedades da língua é importante para a convivência
social e para a construção de uma sociedade mais democrática.
É importante que as escolas e os professores promovam o respeito às
diferentes variantes da língua portuguesa. Os estudantes devem aprender a
usar a norma culta em situações formais, mas também devem respeitar as
diferentes variantes da língua portuguesa que são utilizadas em contextos
informais.
“A norma culta é uma variedade da língua que é considerada correta por
um grupo social que detém o poder e a influência cultural. [...] A norma culta
não é superior às outras variedades da língua, mas é socialmente valorizada
por um determinado grupo social” (Bagno, 2009, p. 12).

2 RECORTES DE LIVROS

2.1 Recortes de livros didáticos em que predomina a língua padrão


Aqui estão alguns exemplos de recortes de livros didáticos que
predominam a língua padrão:
Livro didático “Se liga na língua” da editora Moderna.

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No capítulo “A língua e seus usos”, o livro apresenta as diferentes
variedades da língua portuguesa, incluindo a norma culta. No entanto, o foco
do capítulo é a norma culta, que é apresentada como a variedade mais
importante da língua.
Figura 1: Ilustração da capa do livro “Se liga na língua”.

Fonte: Moderna, 2018.

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Figura 2: Sumário.

Fonte: Moderna, 2018.

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Figura 3: Critérios de avaliação do professor

Fonte: Moderna, 2018.

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Figura 4: Atividade de escrita de diário

Fonte: Moderna, 2018.

Na página 28, o livro pede para que o estudante produza um diário


contando um pouco de sua rotina e escreva o seu texto na primeira pessoa,
isto é uma atividade interessante, entretanto, quando chega na página 29, que
é destinada ao professor pede para que o professor faça a avaliação
observando os parágrafos, a ausência de acentuação e para que avalie a
norma culta padrão.
O livro é dinâmico, mas ainda é pautado na norma padrão ao observar o
livro o leitor percebe que o ensino tradicional prevalece na maneira de ensinar,
o livro presente engessa a avaliação do docente.

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Figura 5: Atividade de gramática normativa

Fonte: Moderna, 2018.


Nesse contexto, na página 41 observa-se que o assunto é o uso do “se
não” separado e do “senão” junto e qual é a forma correta de se escrever.
Entende-se que o ensino da gramática normativa ainda é visto como o
mais importante em várias escolas pelo país.

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O livro “Se liga na língua” no sumário apresenta uma proposta diferente,
a sua intenção é tornar a leitura como algo prazeroso sem regras gramaticais
como nos antigos livros didáticos, ao longo do livro o aluno conhecerá várias
tipologias textuais. O foco é mostrar para os estudantes poemas, tirinhas,
músicas e muitas outras formas da expressão da cultura brasileira e da
literatura portuguesa. Entretanto, apesar de propor tudo o que se expôs o leitor
quase não encontra as variedades da linguagem oral e escrita, o livro inteiro é
composto por uma linguagem voltada à norma culta da língua portuguesa.
Figura 6: Capa do livro “Se liga na língua”.

Fonte: Moderna, 2018.

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Figura 7: Atividade de variedades linguísticas

Fonte: Moderna, 2018.

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2.1 Análise dos Recortes de livros didáticos
Esses recortes demonstram que, em geral, nos livros didáticos de língua
portuguesa predomina a língua padrão. Isso pode ser explicado por diversos
fatores, como o fato de que a norma culta é a variedade da língua que é
valorizada socialmente e pela necessidade de preparar os alunos para o uso
da língua em contextos formais. No entanto, no segundo livro autor pauta sobre
as variedades linguísticas, mas o uso da norma culta ainda é privilegiado no
livro apontando somente um pouco do assunto.
No entanto, é importante ressaltar que a abordagem da variação
linguística é essencial para o ensino de língua portuguesa. A valorização da
diversidade linguística e o ensino contextualizado das normas gramaticais e
ortográficas podem contribuir para superar o autoritarismo gramatical e criar
condições para um ensino mais eficaz da língua portuguesa.

6 CONCLUSÃO

A análise dos recortes dos livros didáticos apresentados neste trabalho


demonstram que, em geral, estes livros de língua portuguesa ainda privilegiam
a norma culta. Isto pode ser explicado por diversos fatores, como o fato de que
a norma culta é a variedade da língua que é valorizada socialmente e pela
necessidade de preparar os alunos para o uso da língua em contextos formais.
No entanto, é importante ressaltar que a abordagem da variação
linguística é essencial para o ensino de língua portuguesa. A valorização da
diversidade linguística e o ensino contextualizado das normas gramaticais e
ortográficas podem contribuir para superar o autoritarismo gramatical e criar
condições para um ensino mais eficaz da língua portuguesa.

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REFERÊNCIAS

Almeida, Napoleão Mendes de. Gramática portuguesa. 36. Ed. Rio de Janeiro:
Editora Nova Fronteira, 1999.
Antunes, I. (2008). Aula de Português: encontro e interação. São Paulo:
Parábola.
Bagno, M. (2009). A norma culta: língua e poder na sociedade brasileira. São
Paulo: Parábola.
Bortoni-Ricardo, S. M. (2005). Nós cheguemu na escola, e agora?
Sociolinguística e educação. São Paulo: Parábola
Bagno, M. (2004). Português brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo:
Parábola.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Brasília, 2017.
CAVALCANTE, Maria Marta. Variação linguística: uma abordagem
sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2014.
MOURA, Maria Luiza de. Preconceito linguístico: o que é, como se manifesta e
como combatê-lo. São Paulo: Contexto, 2017.
Português: Aprendendo a língua. Autoria coletiva. 9. Ed. São Paulo: Moderna,
2023.

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