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Beatriz Babbeto

Nayane Dias

Tamires Oliveira

ESTUDO DE UMA GRAMÁTICA MAIS FUNCIONAL COMO


ALTERNATIVA DA GRAMÁTICA TRADICIONALISTA
ENSINADA NO ENSINO MÉDIO

Ibirité

2019
Resumo
O presente artigo tem por objetivo analisar e criticar a Gramática Tradicional
brasileira e também analisar novas formas de se ensinar a Língua Portuguesa nas salas
de aula do Ensino Médio no Brasil. A metodologia utilizada foi a análise de diferentes
estudiosos do tema, primeiramente, observando as atuais inviabilidades da Gramática
Tradicional através de seu conceito e aplicação. Em outro momento, o texto irá
demonstrar uma maneira mais válida de se ensinar o português em salas de aula e
também explicar a importância da contextualização dos compêndios gramaticais em sala
de aula.

Palavras-chave: Gramática Tradicional, gramática contextualizada, Ensino Médio,


Língua Portuguesa, compêndios gramaticais.

Introdução

É notória a defasagem de habilidades gramaticais entre alunos do Ensino Médio


no Brasil. Métodos de ensino ineficazes são aplicados a estes alunos, onde muitos
professores ainda priorizam o ensino de uma gramática normativa e engessada, se
fazendo ilógica (Rocha, 2008) para os estudantes por muitas vezes. Atualmente, este
ensino sistêmico e autoritário da gramática não se aplica, uma vez que as regras
aprendidas não estão presentes no dia-a-dia do indivíduo. O objetivo deste artigo é
encontrar uma melhor forma de inserir uma gramática não-tradicional, mais funcional e
pragmática dentro do Ensino Médio, a partir de pesquisas e experiências.
Pautado nessas questões, o presente texto abordará exemplos do porquê esta
gramática não ser apropriada para alunos do Ensino Médio (EM), através da exposição
de detalhes sobre a Gramática Tradicional (GT). Ao longo do texto, serão apresentados
alguns exemplos de como a gramática tradicional se aplica atualmente no Ensino Médio
e também algumas propostas pedagógicas intervencionistas de pesquisadores e
estudiosos da temática, que podem ser adotadas por professores dentro da sala de aula,
versando diferentes formas de ensino da gramática que se aplicariam mais no contexto
do educando.
Como referencial, textos de alguns teóricos da gramática brasileira foram
analisados. Publicações como as de Luiz Carlos de Assis Rocha autor de livros como
Estruturas Morfológicas do Português (2008), e da autora Irandé Antunes que se destaca
neste campo, uma vez que ela levanta questionamentos como o objetivo social do ensino
da língua portuguesa dentro de sala e como uma gramática contextualizada é necessária
no ambiente da sala de aula.
Ainda sobre a vivência em sala de aula, o texto contará com dois autores e
professores também importantes no campo, Clécio Bunzen e Márcia Mendonça, que
juntos publicaram o livro “Português no Ensino Médio e Formação do Professor”, que
aponta questões interessantes como uma aprendizagem real que reflita a vivência
escolar e também traz exemplos de alternativas metodológicas prático-funcionais para o
ensino do português.

1- A ilogicidade da Gramática Tradicional

Pioneiro nos estudos teóricos a respeito da gramática estruturalista e normativa,


Saussure (1857) afirmava, em seus estudos sobre a langue, que influências externas e
internas referentes a ela deveriam ser excluídas, focando apenas em suas regras
internas, sendo a língua estudada como um sistema independente.
Durante toda a vida escolar alunos brasileiros são inseridos em um contexto de
estudo da Gramática Tradicional da Língua Portuguesa. Ao iniciarem o Ensino Médio,
alunos se deparam com um estudo mais meticuloso de estruturas morfológicas da
Língua Portuguesa. É requerido pelo programa de Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) que o aprendizado do português no Ensino Médio não seja um objeto de estudo
estanque, que ele possa se integrar com as demais habilidades do aluno, como a análise
linguística, leitura e produção de texto, além de levar em consideração o contexto sócio-
histórico do aluno.
O ensino do português no Ensino Médio não condiz perfeitamente com o que é
exigido pelos PCNs, uma vez que atualmente uma gramática rígida, inflexível e
homogênea é ensinada aos alunos, sendo por muitas vezes apresentada
separadamente em livros da Língua Portuguesa e também no conteúdo dado pelos
professores. Para Rocha (2008), são válidos alguns questionamentos sobre compêndios
gramaticais correntes, que são praticamente cópias de gramáticas antigas, recorrendo
até mesmo à gramática grega. A gramática vigente é autoritária, onde listas e regras
gramaticais são apenas repassadas aos alunos, é muitas vezes ilógicas para os alunos,
pois misturam-se as normas; e é também omissa, já que nem sempre são dadas todas
as informações sobre a linguagem. A Gramática Tradicional é prescritiva, baseia-se nas
regras da gramática normativa tida como o manual do bem falar (ILARI, 1992).
Em sala de aula, os alunos aprendem classificações que apenas os induzem à
reprodução, não sendo capazes de produzir novos conteúdos, adaptar o assunto
aprendido para o seu cotidiano e ler e compreender textos. Ali, o professor é um
reprodutor do conteúdo, que desconsidera os contextos históricos e sociais dos
estudantes. O Brasil, assim como qualquer outro Estado, não possui somente uma única
forma linguística, é formado por diferentes contrastes e portanto, a heterogeneidade
linguística [que] está estabelecida no país e é influenciada tanto por fatores diatópicos,
geográficos, quanto por fatores diastráticos, sociais (SILVA, PILATI e DIAS, 2010) devem
também serem levadas em consideração.

3- Novas abordagens de uma gramática mais funcional

A gramática brasileira já sofreu diversas transformações, pois a língua está em


constante mudança por consequência do seu contexto histórico e social. Com isso, as
metodologias de aplicação de aula necessitam também serem modificadas.
Ao apresentar uma aula, é de suma importância trazer a bagagem emocional e
social do (s) aluno (s) em sala de aula, para que ele se identifique com o que foi trazido
e crie mais interesse de estar ali dentro. Esta interação pode ser por meio de textos,
livros, conteúdos, poemas, entre outros diversos materiais que podem ser utilizados. A
conexão com o que desperta o interesse nos alunos é sempre essencial para que se
atinja um aproveitamento significativo das aulas.
Um fator de extrema importância para as aplicações de aula (Mendonça, 2006) é
o conteúdo que vai ser abrangido dentro de sala e as direções que serão tomadas
através dos livros didáticos. Para escolhê-los é preciso um estudo e entendimento a
fundo de seu conteúdo, juntamente com o pensamento crítico e discussão do material
pelo lado do professor. São importantes questionamentos do tipo “este livro tem toda a
bagagem que eu preciso e quero levar para meus alunos?” ou “qual a melhor forma de
se trabalhar estes tópicos ?”.
Como alternativa de uma gramática normativa descontextualizada que é
observada nas escolas, se faz necessário o estímulo do senso crítico dos educandos,
que os possibilitem a fazer associações entre o que leem e ouvem ao contexto em que
os utilizam. Os compêndios gramaticais da gramática vigente focam no aprendizado de
frases soltas, ao mesmo tempo que professores são requeridos a trabalharem com
diferentes gêneros textuais, sem saber como aplicar esse método. Em um cenário ideal,
o ensino dessa gramática seria proposto contextualizando-se em práticas textuais, uma
vez que ela é um elemento da langue, e sua essência apenas se constitui se em meio a
interações sociais e em diferentes formas de comunicação.
É preciso que o ensino do português foque no treinamento e na prática das
habilidades discursivas de leitura e produção textual, formando alunos que o façam de
maneira fluida e natural. Instigar uma reflexão aos educandos sobre o que se aprende e
sobre como o conteúdo absorvido é parte importante do seu dia-a-dia fará com que esses
se interessem mais pelo estudo da língua, pois ela não seria mais ilógica e autoritária.
Para Irandé Antunes, é função da escola desenvolver habilidades comunicativas
e explorar a linguagem de maneira mais ampla, indo além da escrita e leitura,
considerando também o seu uso semântico e lexical. Antunes (2014) elucida que
Uma gramática contextualizada requer, também e sobretudo,
que as descrições que dela são feitas encontrem apoio nos usos reais,
orais e escritos, do português contemporâneo, ou seja, nos textos que
ouvimos e podemos ler na imprensa, nos documentos oficiais, nos livros
ou revistas de divulgação científica etc. Implica, pois, ter como respaldo o
que, de fato, pode ser comprovado nos textos que circulam aqui e ali por
esse Brasil afora. (ANTUNES, 2014, p.111).

A forma como os assuntos são tratados e transmitidos para os alunos é de até


maior relevância do que os conteúdos per si. Uma metodologia eficaz, funcional e que
possa ser colocada na vida dos alunos é de fundamental importância.
4-Considerações finais

É possível compreender neste artigo que a cada dia alunos têm mais dificuldade
em relação à aprendizagem da gramática tradicional. Ao se ensinar a mesma em sala
de aula, é preciso considerar a comunicação e com esta, quase nunca se utiliza a
gramática tradicional em fator de suas regras descontextualizadas. A gramática funcional
veio para dar uma praticidade à língua, portanto o foco é a comunicação e essa deveria
ser mais aderida dentro do ambiente escolar.
Deve-se sempre estar atento a como o conteúdo vai ser transmitido para o aluno.
Desenvolver novas metodologias funcionais e interativas e aplicá-las, sempre levando
em consideração o contexto social dos alunos para que melhor possa ser entendido o
que o professor está aplicando.
O material didático é um dos maiores aliados na hora de discorrer o conteúdo,
mas como já citado antes, há uma necessidade de conhecimento, pesquisa e avaliação
para ter a certeza do tipo de didática que será utilizada na hora de passar o conhecimento
a frente.
Contextualizar os aspectos linguísticos da Língua Portuguesa às diferentes
formas de interação social e discursivas dos alunos seria o principal marco para início da
transição entre a Gramática Tradicional e uma gramática mais contextualizada e
funcional, cabendo ao corpo docente serem os transformadores e mediadores de tal
mudança.
Referências bibliográficas

ROCHA, Luiz Carlos de Assis. (2008). Estruturas morfológicas do português, 2.ed.., São
Paulo: ED.WMF Martins Fontes.

ANTUNES, Irandé. Gramática contextualizada: limpando “o pó das ideias simples”. São


Paulo: Parábola, 2014.

BUNZEN, Clecio., MENDONÇA, Márcia. Português no Ensino Médio e Formação do


Professor. Parábola Editorial, 2006.

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Disponível em: <https://periodicos.unemat.br/index.php/ecos/article/download/722/726>.
Acesso em 22 out. 2019.

ANTONIO, D. Juliano.O ENSINO DE GRAMÁTICA NA ESCOLA: UMA NOVA


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Disponível em:
<http://www.gel.hospedagemdesites.ws/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-
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Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbla/v10n4/a08v10n4>. Acesso em 21 nov.
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SILVA, Bruna Costa; SILVA, Rodolfo Dantas. (Re)construindo a aula de língua


portuguesa: que gramática devemos ensinar?
Disponível em:
<http://www.entrepalavras.ufc.br/revista/index.php/Revista/article/view/648/397>.
Acesso em 29 nov. 2019.

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