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Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"

Curso de Licenciatura em Letras - Diurno


Linguística Aplicada
Prof. Dra. Patricia Fabiana Bedran
Discente: Beatriz Santos Mello

No artigo “Os estudos de letramento e a formação do professor de língua materna”, é


proposto uma reflexão acerca dos Estudos do Letramentos e como esse estudo pode
contribuir para a formação do professor de língua portuguesa.

Pode-se observar que nos últimos anos foram produzidas leis, normas e preceitos que
procuram reger e aprimorar o ensino fundamental e médio no país. Nesse sentido, esses
novos documentos governamentais impactam diretamente o sistema educacional em
andamento, visto que desequilibra o planejamento do docente de língua materna e o professor
alfabetizador. As novas condições e encargos favorecem um desânimo generalizado,
principalmente quando verifica-se que os docentes estão inseridos em um contexto de falta de
prestígio e valorização. Outro ponto importante é que os professores desconhecem as teorias
que estão nos documentos, já que esses não fazem parte da graduação, e isso leva a um
sentimento de inoperância.

Com isso em vista, o artigo possui o intento de apresentar as contribuições dos


Estudos de Letramento para a reflexão sobre a formação de docentes no contexto
mencionado.

De acordo com Kleiman (2008), o professor precisa saber ensinar a ler e escrever, mas
também ele próprio necessita fazer isso, isso é chamado de competência
linguístico-enunciativo-discursivo. E, é dever do pesquisador que atua na formação do
professor, possuir um parecer crítico e suas pesquisas precisam ser formuladas de forma a
evitar a propagação de um estereótipo de docente que não entende a matéria que leciona.
Nesse sentido, os Estudos de Letramento enuncia a diversidade de formas de usar a escrita,
em práticas socioculturais específicas, mesmo que exista a forma de escrita dominante que o
acesso é limitado. Por isso, os Estudos de Letramento vão assumir uma posição de defesa em
relação ao uso da língua escrita como algo pluralista e multicultural, evidenciando as relações
de poder em contextos sociais que podem ser modificados.

Além disso, a autora salienta que devem ser formados professores preparados para
introduzir seus alunos nas mais variadas práticas do uso da língua escrita, eles devem ter
conhecimento dos mundos de letramento e das histórias de leitura. Na aula, os docentes
precisam deixar em evidência as situações sociais que os textos são lidos e produzidos,
explicitar os valores e representações que podem ser conferidos. Dessa forma, o aluno
entende a indivisibilidade da língua escrita e os aspectos socioculturais e históricos,
compreende a importância de reconstruir a história e culturas locais. Ademais, o discente
concebe que cada texto possui metas de leitura e demandas conferidas ao leitor de acordo
com o que é proposto pelo autor. Nesse contexto, os Estudos de Letramento apresentam
reflexões constantes, propondo táticas para aqueles que não estão inseridos no contexto
dominante das práticas de letramento, possam alterar a sua realidade.

É necessário questionar-se sobre que conhecimentos os professores precisam ter para


atuar de maneira expressiva na aula de leitura e produção textual. Não basta possuir
conhecimentos básicos na área dos Estudos Linguísticos, o docente precisa reconhecer que a
linguagem não se trata exclusivamente como o único meio de comunicação. Atualmente, o
professor deve reconhecer a multimodalidade dos textos e ainda mais, a comunicação não
verbal que rodeia o cotidiano tecnológico dos alunos.

Kleiman (2008) também problematizar os concursos para o ingresso do docente nas


salas de aula, visto que verifica-se uma avaliação de saberes teóricos sobre como a língua
funciona, mas deixa de lado uma análise sobre a capacidade do profissional de conduzir uma
aula que assegura uma aprendizagem significativa do discente.

Outro ponto citado pela autora trata-se de saber ensinar um gênero, sendo que não
basta o docente saber como se produz o texto de determinado gênero, como deve ser
estruturado ou seus aspectos estilísticos. Esses saberes são obviamente necessários, mas no
ambiente escolar verifica-se um favorecimento dos fazeres analíticos invés de uma prática
situada. O ensino encontra-se atravancado em gêneros importantes para os alunos
participarem de prática social, enquanto o ensino precisa ser embasado diretamente na prática
social. As atividades que possuem o objetivo de ensinar a escrever determinado gênero,
precisam estar aliados ao intento de formar usuários de língua materna que são competentes,
emancipados e dotados de um posicionamento crítico acerca da realidade que os rodeiam.

Nesse sentido, quando o ensino é formulado com base na prática social, há um


sucesso significativo na formação dos docentes, conferindo um modelo que pode ser
constante atualizado em seu contexto escolar conforme novas demandas surgem. Desse
modo, o alicerce de um ensino estruturado na prática social é a ação dentro de sala de aula. É
a indispensabilidade de agir que define o gênero a ser ensinado, são as necessidades
iminentes de comunicação que demonstram como o aluno deve se expressar por meio da
linguagem escrita. Trata-se de escrever e atuar também, gerar uma mobilização sobre o tema
que permita o aluno refletir sobre o que pode ser feito na sua comunidade para a resolução de
um problema. O discente precisa entender integralmente a sua capacidade de modificação da
sua realidade social, usar a linguagem como um meio de transformação e problematização do
que o rodeia. A aula de língua materna é muito mais do que decorar gêneros e escrever com
base em um modelo insuficiente que apenas pode gerar pouco domínio da língua,
argumentação pobre e dependência de opiniões que já foram enunciadas. É dever do
professor permitir que seus alunos enxerguem a realidade crua do cotidiano e assegure que a
língua materna seja um instrumento de revolução para os discentes. É totalmente restritivo e
empobrecedor afirmar que a função do professor limita-se à transmissão do conhecimento,
como se o aluno não soubesse de nada e fosse ser preenchido como um quadro em branco.
Uma boa aula, embasada na prática social, vai reconhecer que o aluno possui uma bagagem
cultural e cada aluno está inserido em um contexto ímpar. O professor dá aula para vários
alunos, mas essa aula deve permitir que floresça resultados com base na realidade distinta de
cada aluno, valorizando suas vivências socioculturais. Tudo isso, essas mudanças que
precisam ser efetivadas devem começar na formação do professor, é preciso prepará-lo e
munir ele de liberdade para tratar de temas diversos, flexibilidade em todas as fases do
trabalho e a oportunização e aproveitamento de possibilidades.

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