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Como (e quais) os gêneros orais têm sido trabalhada nas aulas de Língua

portuguesa?

A abordagem dos gêneros orais no ensino de Língua Portuguesa pode ser


comparada à prática com os gêneros escritos. Expressões como relatar,
descrever, narrar e argumentar são comuns em ambos os casos. Antes mesmo
da escrita formal, a oralidade desempenha um papel fundamental. Quando os
alunos compreendem e interpretam textos, estão, de fato, utilizando esses
gêneros dependendo do contexto.

Contudo, há uma indefinição sobre a natureza dos gêneros orais, já que alguns
argumentam que é possível trabalhar com eles utilizando gêneros escritos. Isso
sugere uma visão que não distingue claramente entre modalidades oral e
escrita. A ideia de que "Gêneros orais pode-se trabalhar com os mesmos
gêneros escritos" reflete essa percepção. Igualmente, a noção de que "Sempre
antes da escrita vem a oralidade" reforça essa concepção sequencial.

No contexto do ensino, a organização do trabalho com os gêneros orais requer


um planejamento cuidadoso, sujeito a ajustes conforme a dinâmica da aula. A
flexibilidade é fundamental, e é importante ter estratégias alternativas
disponíveis. Durante discussões e questionamentos, os alunos frequentemente
produzem gêneros orais de forma natural. Nesses momentos, é necessário
conscientizá-los sobre essa produção e sua relevância no contexto da
aprendizagem.

O professor destaca a importância do planejamento prévio das aulas, embora


reconheça que a dinâmica da sala de aula pode exigir ajustes imprevistos.
Essa flexibilidade é valorizada, evidenciada pela expressão "Sempre deve ser
planejado, mesmo que muitas vezes dependendo do desenvolver da aula é
necessário modificar o nosso planejamento". Ademais, ressalta-se a vantagem
de ter estratégias alternativas disponíveis, expressa na metáfora "É sempre
bom ter uma ‘carta na manga’".

Quanto à produção de gêneros orais pelos alunos durante discussões e


questionamentos em sala de aula, o professor reconhece que isso ocorre de
forma natural, mesmo que os alunos não estejam conscientes disso. A
necessidade de conscientizá-los sobre essa produção oral é destacada como
uma responsabilidade do professor.

Ao abordar as diferenças entre o trabalho com gêneros orais e escritos, o


professor ressalta que os alunos geralmente demonstram mais facilidade na
produção oral, enquanto enfrentam certa resistência na escrita. Destaca-se a
necessidade de convencê-los da importância da prática da escrita, enfatizando
que essa habilidade é tão crucial quanto a oralidade.

Aborda-se as dificuldades que interferem no trabalho com os gêneros orais. O


entrevistado aponta como principais entraves o uso inadequado ou a falta de
direcionamento dos livros didáticos para esses gêneros, além da suposta falta
de vontade por parte dos professores.

O entrevistado destaca a inadequação frequente dos livros didáticos, afirmando


que muitas vezes eles não contemplam os diversos tipos de gêneros orais. Ele
atribui tanto aos responsáveis pela elaboração quanto aos professores a
responsabilidade por esse cenário. Ao fazê-lo, emite uma crítica negativa e
utiliza expressões apreciativas para descrever a situação do livro didático.
Também enfatiza a falta de motivação por parte dos professores, destacando a
expressão "falta de vontade do professor", o que denota uma atitude
pragmática.

Ao analisar as respostas, percebe-se um predomínio da modalização


apreciativa, indicando que as avaliações do entrevistado são influenciadas por
sua subjetividade, experiência profissional e vivências pessoais. Em
determinado momento, ao discutir as dificuldades no trabalho com os gêneros
orais, o entrevistado atribui responsabilidades a outras partes, mencionando a
suposta falta de empenho por parte dos professores e a inadequação dos
materiais didáticos. Além disso, utiliza modalizações deônticas para ressaltar
as obrigações sociais dos professores, como a necessidade de trabalhar com a
variedade culta da língua e de ajustar o planejamento conforme necessário. Ele
também enfatiza a importância de explicar aos alunos o uso dos gêneros orais
e de convencê-los sobre a relevância da prática da escrita.
Ao revisitar as questões centrais da pesquisa, é importante destacar alguns
aspectos relacionados à compreensão da linguagem por parte dos professores
de Língua Portuguesa e sua aplicação prática na sala de aula.

Ao percorrer a trajetória histórica analisada neste estudo, torna-se evidente a


importância de compreender a linguagem como um processo de interação
entre os sujeitos, uma ação social viva e dinâmica. A linguagem é o meio pelo
qual os sujeitos se relacionam e constroem suas identidades. No entanto,
observa-se que muitos professores de Língua Portuguesa ainda enxergam a
língua apenas como um sistema de regras, o que se reflete na ênfase dada ao
ensino da variedade padrão, especialmente na escrita.

Quanto ao uso dos gêneros orais como objeto de ensino, a análise revela que
os professores trabalham com diferentes tipos de gêneros textuais em suas
aulas. No entanto, percebe-se uma falta de clareza na concepção desses
gêneros, pois em alguns momentos não há uma definição precisa do que são
os gêneros orais. Algumas vezes, acredita-se que é possível trabalhar com a
modalidade oral utilizando gêneros escritos, o que indica uma confusão
conceitual. Por exemplo, a leitura de textos escritos é interpretada como um
trabalho com gêneros orais.

Quanto às razões que podem dificultar o trabalho com os gêneros orais,


destaca-se a falta de interesse dos professores, mesmo que os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) proponham tal abordagem. Na prática,
prevalece a ênfase no ensino da escrita, pois os textos escritos são mais
aceitos pelos alunos. Essa distância entre o que é prescrito e o que é
efetivamente realizado em sala de aula levanta questões sobre a importância
atribuída ao trabalho com os gêneros orais nos documentos curriculares.

A falta de embasamento teórico-metodológico sobre os gêneros orais também


contribui para a restrição do espaço dedicado a eles nas aulas de Língua
Portuguesa. Além disso, muitos documentos educacionais mencionam os
gêneros orais, mas não oferecem propostas específicas para trabalhá-los, o
que mantém o texto escrito como foco principal. Essa resistência em valorizar a
modalidade oral reflete uma visão arraigada de que a escrita é superior à fala,
e de que o aluno deve priorizar o aprimoramento da escrita. A língua falada
muitas vezes é percebida como menos importante em comparação com a
escrita, que é vista como correta e padrão.

Como deveria ser o trabalho com esse gêneros?

As potencialidades de incorporação dos gêneros orais no ensino de língua


portuguesa são vastas. Eles costumam ser mais utilizados quando se busca
introduzir a apreciação de textos literários na sala de aula de língua, por meio
de atividades como encenações teatrais, leituras em voz alta, contação e
reconto de histórias, entre outras. Essas práticas contribuem para o
desenvolvimento das habilidades linguísticas dos alunos, proporcionando uma
experiência concreta com os diferentes usos da linguagem.

No entanto, é importante destacar que também há oportunidades de explorar


os gêneros orais para aprimorar o conhecimento linguístico-discursivo dos
alunos, por exemplo, através do estudo da diversidade linguística. Dessa
forma, os gêneros orais podem ser utilizados de maneira transversal,
abordando não apenas aspectos literários, mas também linguísticos, sociais e
culturais.

Conforme ilustrado no quadro abaixo, uma variedade de gêneros orais pode


ser de grande utilidade para o ensino de língua portuguesa em todos os níveis
educacionais, desde que sejam incorporados de forma adequada pelos
professores:
Embora alguns gêneros possam não ser considerados diretamente ensináveis,
como indicado no quadro, é viável trazê-los para a sala de aula em momentos
específicos. O ensino de línguas oferece uma ampla gama de possibilidades
para o uso tanto da oralidade quanto da escrita, pois a linguagem é usada em
enunciados concretos e únicos, originados das diferentes esferas da atividade
humana.

Portanto, é relevante que haja um conjunto de práticas situadas com objetivos


específicos, alinhados às necessidades dos alunos no que diz respeito ao
conhecimento e à sua identidade linguística. Essas práticas são moldadas ao
longo dos anos por meio das experiências escolares no ensino de língua
portuguesa.

É fundamental que os professores criem espaços reflexivos durante essas


práticas, para que questões tão pertinentes não se tornem apenas atividades
rotineiras na sala de aula de língua materna. Temas como a diversidade
linguística devem ser abordados de forma constante, uma vez que a formação
do perfil social dos alunos é influenciada pela aprendizagem desenvolvida no
ambiente escolar, onde o ensino da língua materna desempenha um papel
central e significativo no dia a dia.

Nesse contexto, é importante ressaltar a falta de compreensão por parte de


muitos professores em relação às práticas orais, incluindo os gêneros orais, na
sala de aula.
 O ensino do oral muitas vezes é encarado apenas como uma etapa
intermediária para a aprendizagem da escrita.
 Os professores tendem a analisar o oral a partir da perspectiva da
escrita.
 Embora o oral esteja presente de forma significativa nas aulas, ele é
frequentemente abordado dentro das variantes e normas escolares,
servindo como suporte para a estrutura formal escrita da língua.
 A leitura em voz alta, que pode ser considerada uma forma de escrita
oralizada, é a atividade oral mais comum na prática pedagógica.

Até os dias atuais, a realidade do uso dos gêneros orais em sala de aula
permanece semelhante. Muitos professores ainda veem o uso desses gêneros
como algo que deve ser derivado da escrita. Isso evidencia uma compreensão
da linguagem que prioriza a escrita como sua forma principal. No entanto, é
importante lembrar que a escrita é apenas uma das modalidades da linguagem,
e que a oralidade também possui um impacto social significativo,
especialmente no estudo da linguagem em diferentes contextos.

Observa-se, portanto, uma forte interdependência entre o oral e o escrito -


assim, defender a pureza do oral, completamente independente de influências
da língua escrita, não tem sido viável em nosso ensino, dada a grande
interação entre essas duas modalidades.

Considerando tudo o que foi discutido até agora sobre a contínua evolução do
trabalho com os gêneros orais no ensino de língua portuguesa, fica evidente a
importância de integrar uma visão da linguagem como um fenômeno concreto
com a necessidade de inovar as práticas de ensino. Isso é especialmente
relevante diante da persistência de abordagens formalistas que priorizam o
estudo restrito da gramática normativa nas aulas de língua portuguesa. Além
disso, fica claro que as possibilidades de aplicação dos gêneros orais no
ensino contribuem para tornar o processo de aprendizagem mais rico e
gratificante em termos de conhecimento linguístico-discursivo. Olhando com
uma perspectiva mais crítica para as reflexões feitas até agora, percebemos
que isso também nos leva a considerar com mais cautela a formação dos
professores.

Valorização da cultura local dos alunos com o uso da oralidade na aula de


língua portuguesa

Explorar a cultura local dos alunos através da oralidade na aula de língua


portuguesa é uma forma enriquecedora de envolvê-los em atividades
significativas. Levando em consideração o conhecimento prévio dos alunos
sobre suas comunidades, é possível desenvolver uma série de atividades que
os incentivem a refletir sobre questões sociais, econômicas, culturais e políticas
que afetam suas vidas.

Por exemplo, utilizando o gênero oral do debate, os alunos podem discutir


temas como o desenvolvimento econômico da cidade, as questões culturais,
incluindo tradições religiosas e costumes locais, a política local e suas
propostas, além de questões relacionadas à educação e saúde.

Após o debate, os alunos podem produzir vídeos de relatos de experiência,


onde cada grupo se concentra em um dos aspectos discutidos. Esses vídeos
podem ser compartilhados com toda a turma, promovendo a troca de
informações e conhecimentos entre os alunos.

Outra possibilidade é realizar seminários, onde os alunos apresentam suas


pesquisas sobre os temas abordados, incluindo dados linguísticos da
comunidade local. Essa abordagem amplia a compreensão dos alunos sobre a
diversidade linguística e cultural do município.

É importante ressaltar que o trabalho com a oralidade não se limita a um único


gênero, mas sim a uma variedade de práticas que se complementam. Ao
integrar gêneros "ensináveis" e "não-ensináveis", os alunos têm a oportunidade
de explorar diferentes formas de expressão e desenvolver habilidades
comunicativas essenciais.

Inter-relações de culturas em sala de aula


Quando abordamos as interações entre culturas e valores na sala de aula, é
importante considerar que não se trata apenas de uma simples mistura ou
miscigenação. Reconhecemos que, ao discutir uma cultura específica, seja ela
local, regional, nacional ou global, é essencial começar pela língua e
linguagem, pois é por meio delas que podemos compreender as distinções e
semelhanças entre diferentes culturas.

Nesse contexto, é relevante explorar os gêneros chamados "não-ensináveis"


em atividades que enfatizem a oralidade dos alunos. Através de gêneros como
piadas ou contos orais, podemos abordar uma variedade de temas que são
relevantes para a sociedade, tais como igualdade de gênero, direitos das
mulheres, quebra de tabus sobre sexualidade, entre outros assuntos
importantes que contribuem para a formação humanística dos estudantes, um
aspecto fundamental do ambiente escolar.

Os níveis de formalidade estão presentes também no gêneros orais?

Associar a oralidade à informalidade e a escrita à formalidade é um equívoco,


pois os níveis de formalidade estão relacionados aos gêneros e às situações
de interação, não à modalidade da linguagem. Para desfazer essa associação,
podemos explorar uma variedade de gêneros, como entrevistas e reportagens
de revistas voltadas para adolescentes, charges em jornais ou até mesmo
conversas entre amigos em redes sociais. Estes gêneros, devido às
características específicas do suporte ou da situação de comunicação, muitas
vezes apresentam linguagem informal, com gírias e expressões coloquiais. Da
mesma forma, é possível apresentar gêneros orais mais formais em sala de
aula, como debates políticos transmitidos pela televisão durante as eleições.

Os níveis de formalidade desempenham um papel significativo tanto nos


gêneros escritos quanto nos gêneros orais, refletindo as nuances da
comunicação humana em diferentes contextos sociais e situacionais. Ao
considerar a presença dos níveis de formalidade nos gêneros orais, é essencial
explorar como esses aspectos são manifestados e como influenciam a
interação verbal em diversas situações.

Primeiramente, é importante compreender que a formalidade se refere ao grau


de elaboração, seriedade e respeito exigidos em uma determinada interação
comunicativa. Nos gêneros orais, essa formalidade pode variar
significativamente, dependendo do contexto, do público-alvo, do propósito da
comunicação e das normas sociais estabelecidas.

Em situações formais, como discursos políticos, apresentações acadêmicas ou


entrevistas de emprego, os falantes tendem a adotar um tom mais formal,
utilizando vocabulário técnico, estruturas gramaticais elaboradas e uma
linguagem mais culta. Nesses contextos, a linguagem é cuidadosamente
planejada e controlada para transmitir autoridade, credibilidade e
profissionalismo.

Por outro lado, em situações informais, como conversas entre amigos, bate-
papos em redes sociais ou interações familiares, a linguagem tende a ser mais
descontraída, coloquial e familiar. Os falantes podem usar gírias, expressões
idiomáticas e até mesmo linguagem não padrão para se comunicar de forma
mais próxima e informal.

Além disso, dentro de um mesmo contexto, os níveis de formalidade podem


variar dependendo da relação entre os interlocutores e do tema discutido. Por
exemplo, em uma reunião de trabalho, um gerente pode adotar um tom mais
formal ao se dirigir aos subordinados, enquanto mantém uma linguagem mais
amigável e informal com colegas de mesmo nível hierárquico.

A variação nos níveis de formalidade nos gêneros orais também pode ser
observada em diferentes registros linguísticos. Os registros linguísticos se
referem à escolha de palavras, estruturas gramaticais e entonação que os
falantes utilizam para se adaptar ao contexto específico de comunicação.
Assim, um discurso formal pode exigir o uso de um registro mais culto e
padrão, enquanto uma conversa informal pode permitir maior flexibilidade e
informalidade no uso da linguagem.
Além disso, é importante destacar que a compreensão dos níveis de
formalidade nos gêneros orais é crucial para uma comunicação eficaz e
adequada. Falantes proficientes são capazes de ajustar seu registro linguístico
de acordo com a situação, demonstrando sensibilidade cultural e social e
garantindo que sua mensagem seja compreendida da maneira desejada.

As variações de menos prestígio e o preconceito linguístico.

A questão do prestígio linguístico e do preconceito linguístico é um tema central


na pesquisa sociolinguística, mas não se limita apenas a esse campo de
estudo. Outras áreas do conhecimento também abordam esse conceito. O
prestígio linguístico pode ser compreendido em pelo menos três perspectivas:
sociológica, linguística e sociolinguística. Na abordagem sociológica, esse
conceito é definido a partir da estratificação social, que considera quatro
variáveis principais: ocupação, classe social, status e poder. A ocupação se
refere às atividades que geram renda, formal ou informalmente; a classe social
está relacionada à quantidade e à fonte de renda necessárias para a
sobrevivência; o status está ligado ao respeito obtido na sociedade; e o poder
diz respeito à capacidade de impor a vontade, muitas vezes à custa da vontade
dos outros. No entanto, o prestígio não é alcançado apenas através do
exercício do poder sobre os demais. Na abordagem funcional, também dentro
da perspectiva sociológica, considera-se que o prestígio está diretamente
relacionado à importância funcional de uma posição social e ao desempenho
satisfatório dessa função na sociedade. Por exemplo, um trabalhador só
poderia aumentar seu prestígio se seu desempenho fosse amplamente aceito
pela sociedade. Assim, há uma forte relação entre prestígio e funcionalidade na
sociedade.

No campo da linguística, o prestígio linguístico está relacionado tanto a


influências sociais (extralinguísticas) quanto a características linguísticas que
definem uma variedade e determinam se seu uso é considerado prestigioso,
padronizado ou estigmatizado. A atribuição de prestígio é influenciada pelo
grau de influência de agências simbolicamente emblemáticas e
institucionalizadas, como a norma acadêmica, a correção gramatical, a
adequação pragmático-linguística dos enunciados às situações de
comunicação e a aceitação sintático-semântica (que não deve ser confundida
com a norma, pois está relacionada às diferentes opções sintático-semânticas
disponíveis para os usuários da língua dentro de um sistema de produção de
significados em um determinado grupo sociocultural. Assim, um uso pode ser
aceito em uma comunidade linguística ou falante, mas rejeitado em outra). No
contexto sociolinguístico, o prestígio pode ser avaliado com base na ocupação
(o prestígio individual, os atributos de sua reputação e sua posição social) e na
atitude (o prestígio como comportamento, determinado pelo uso de formas e
posturas social e culturalmente valorizadas e conferido através da interação
entre membros de diferentes grupos). Nesse domínio, também se distingue
entre prestígio vertical ou externo (entre classes ou grupos sociais,
influenciando, por exemplo, a imitação de comportamentos de classes mais
altas por aquelas de classes mais baixas) e horizontal ou interno (dentro de
cada classe ou grupo social, influenciando, por exemplo, a disseminação de
inovações ou mudanças linguísticas).

A questão da avaliação linguística é essencial para compreendermos o


preconceito e o prestígio linguísticos, bem como temas relacionados, como
testes de atitudes e crenças linguísticas. Esta avaliação refere-se ao nível de
atenção dos falantes em relação à linguagem e busca entender como os
membros de uma comunidade linguística avaliam determinada mudança, qual
o impacto dessa avaliação na mudança e até que ponto o estigma social
influencia diretamente o rumo da mudança linguística. É importante discutir os
aspectos metateóricos que envolvem a noção de prestígio e preconceito
linguísticos, especialmente no contexto sociolinguístico.

O campo da Sociolinguística aborda cinco questões fundamentais para


compreender a dinâmica da mudança linguística: os condicionamentos, a
transição, o encaixamento e a avaliação linguística. A avaliação linguística é
particularmente relevante para entender como os membros de uma
comunidade reagem diante das mudanças na língua. Essas reações podem
variar desde discussões explícitas até respostas subconscientes, muitas vezes
universalmente negativas.

Existem dois níveis de avaliação: a percepção da mudança pelos membros da


comunidade e a avaliação realizada pelos linguistas. Os valores sociais
atribuídos a diferentes formas linguísticas frequentemente refletem oposições
sociais mais amplas. Esses valores podem se tornar estereótipos conscientes
ou permanecer como marcadores inconscientes. Às vezes, a forma inovadora
não prevalece, resultando em uma mudança regressiva em vez de progressiva.

Ao longo do processo de mudança, diferentes estágios são observados, desde


a implementação até a extinção completa da forma linguística anterior. A
variação linguística pode ocorrer tanto no indivíduo quanto na comunidade, e
os estágios de mudança podem ser identificados com base na sua
implementação e detecção.

No contexto linguístico, há uma difusão das formas ou variantes que partem de


contextos mais restritos para alcançar contextos mais amplos ao longo do
tempo. Isso resulta em uma competição evolutiva entre as formas novas e as
antigas, com as novas se espalhando entre os falantes e os contextos
linguísticos.

Os estágios iniciais da mudança frequentemente ocorrem abaixo do nível de


consciência dos membros de uma comunidade linguística, sendo difícil
perceber ou reconhecer a mudança. Nos estágios mais avançados, os grupos
sociais menos progressistas tendem a adotar a mudança em uma taxa mais
alta do que os grupos líderes, onde a mudança já está estabelecida. Nesses
estágios, surgem diferenças estilísticas e sociais.

À medida que a mudança progride, o reconhecimento social e a tendência à


correção se tornam mais evidentes, geralmente favorecendo a forma mais
conservadora. Estereótipos negativos podem estar associados a essas
mudanças. Isso sugere uma tendência universal de rejeição à mudança
linguística à medida que os falantes se tornam mais conscientes dela.

A mudança linguística considera o prestígio das diferentes variantes em


diferentes estágios de propagação. No entanto, nem sempre uma variante é
menos prestigiada que outra, e a variação pode ocorrer entre formas
igualmente aceitas pela norma linguística. Fatores como educação, exposição
à escrita, mídia e origem social influenciam a ocorrência de formas padrão.

A educação deve promover a autonomia do aluno

Desenvolver a autonomia dos alunos é fundamental para atender às demandas


do mundo atual, que requer uma formação integral a partir do desenvolvimento
de competências e habilidades específicas. As transformações ocorridas na
sociedade, decorrentes da Quarta Revolução Industrial, trouxeram a expansão
da tecnologia e estabeleceu a era digital, alterando a forma como as pessoas
se comportam, trabalham e aprendem.

Gerações mais novas, têm a tecnologia integrada às suas vidas, o que


demanda que as escolas se adaptem e passem a utilizá-la como ferramenta
pedagógica, adotando práticas inovadoras que possam transformar e melhorar
o ensino com esses recursos. O modelo tradicional de educação, em que os
alunos eram somente espectadores, tornou-se ineficaz para a aprendizagem,
visto que a participação dos alunos na construção do próprio conhecimento é
essencial.

As práticas educacionais inovadoras vão além dos aspectos acadêmicos,


voltados para a memorização ou o nível de raciocínio lógico do aluno, e
consideram outras inteligências que permitem uma formação global, incluindo
aspectos sociais, comportamentais, esportivos, emocionais, artísticos e tudo
mais que abrange o ambiente no qual o aluno está inserido, a fim de que os
alunos obtenham conhecimentos de forma integrada e contextualizada,
permitindo que o aprendizado aconteça por meio de ações e transformando o
professor em uma ferramenta facilitadora do processo de ensino-
aprendizagem.

Por que desenvolver a autonomia dos alunos?

A autonomia no processo de ensino e aprendizagem refere-se à participação


ativa dos alunos na construção do próprio conhecimento, para se tornarem
protagonistas do seu projeto de vida.

Entre as competências gerais da Educação Básica propostas pela BNCC, a


autonomia é citada como componente na construção de conhecimentos, no
desenvolvimento de habilidades e na formação de atitudes e valores:

“Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de


conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações
próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da
cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência
crítica e responsabilidade”.

“Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade,


resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos,
democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários”.

A autonomia também é fundamental para uma formação integral, que é outro


compromisso da BNCC, pois somente o acúmulo de informações não oferece
as habilidades essenciais para o aluno atuar na sociedade, como:

 Reconhecer-se em seus contextos histórico e cultural.


 Comunicar-se de forma assertiva.
 Ser criativo.
 Ter um pensamento analítico e crítico.
 Ser participativo.
 Estar aberto ao novo.
 Postura colaborativa.
 Resiliência.
 Ser produtivo.
 Responsabilidade.

Na Educação infantil, os campos de experiência devem promover o


desenvolvimento da autonomia, já que ela está relacionada aos saberes e
conhecimentos fundamentais a serem propiciados às crianças. Para tanto, elas
precisam de campos de experiências para aprender através do conviver,
brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se, como eixos
estruturantes de sua formação.

É importante fortalecer a autonomia dos adolescentes, oferecendo condições e


ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes
conhecimentos e fontes de informação, bem como maior autonomia nos
movimentos e deslocamentos para ampliar suas interações com o mundo. Com
isso, os jovens constroem sua identidade, seus princípios e valores.

No Ensino fundamental, o intuito é ampliar a autonomia intelectual, para que o


aluno possa compreender normas e configurar seus interesses pela vida social,
seu relacionamento consigo e com os outros, com a natureza, com a história,
com a cultura, com as tecnologias e com o ambiente.

No Ensino médio, a autonomia dos estudantes deve estar direcionada ao


desenvolvimento do projeto de vida, pois é a última fase para guiar o estudante
para a vida adulta, e a escola deve introduzir uma reflexão mais profunda sobre
o papel social do indivíduo.

A necessidade de desenvolver a autonomia nos alunos se baseia nas


transformações ocorridas na educação, na sociedade e no mercado de
trabalho, que definem as habilidades do profissional do futuro. Sem autonomia
não é possível desenvolver essas habilidades:

 Pensamento crítico e aprendizagem ativa.


 Criatividade e originalidade.
 Resolução de problemas complexos.
 Flexibilidade cognitiva.
 Inteligência emocional.
 Trabalho em equipe.
 Gestão de pessoas.
 Negociação.
 Tomada de decisões.
 Orientação a serviços.

A autonomia também promove o protagonismo dos jovens em sua


aprendizagem e na construção de seu projeto de vida, para que utilizem seus
conhecimentos para agir e participar na sociedade. O protagonismo juvenil
trata do envolvimento do estudante em atividades que vão além dos âmbitos
pessoal e familiar, é sua contribuição na vida comunitária, gerando efeitos na
sociedade.

Os benefícios de desenvolver a autonomia e o protagonismos dos alunos


incluem:

 Reforço do compromisso das escolas com a formação integral dos


estudantes.
 Promove o engajamento dos estudantes com o conteúdo e a prática
pedagógica.
 Desenvolve a capacidade de tomar decisões e a responsabilidade dos
jovens alunos.
 Contribui para o desenho do Projeto de Vida e a preparação do
estudante para o futuro.
 Estimula a participação dos jovens nas esferas política, social,
econômica e cultural.

Como estimular a autonomia dos alunos em sala de aula?

Visto que o modelo tradicional de ensino não permitia a autonomia dos alunos,
nessa nova visão do processo educacional o papel do professor é orientar e
guiar o estudante ao longo de sua formação básica, como um mediador no
processo de ensino e aprendizagem, a fim de modificar gradualmente a relação
de dependência entre aluno e professor (em que apenas o professor define e
orienta as ações) para uma relação colaborativa e eventualmente de autonomia
do jovem estudante.
Com isso, para estimular a autonomia dos alunos em sala de aula e promover
uma participação ativa no processo de ensino e aprendizagem, as
metodologias ativas têm sido adotadas pelas escolas como um novo modelo
educacional, tendo como base a inteligência em todos os seus aspectos:
cognitivo, social e afetivo. Trata-se de um método de ensino que propõe aos
alunos uma aprendizagem a partir da prática, pois esta possibilita uma maior
assimilação dos conhecimentos e consolidação do aprendizado. Os métodos
ativos preparam os alunos para atuar na sociedade, pois envolvem
o conhecimento teórico aliado à prática e, devido ao seu modo dinâmico e à
utilização da tecnologia, estimulam o engajamento acadêmico e social.

Dentre os vários meios para aquisição de conhecimento, a prática apresenta os


melhores resultados, de acordo com uma pesquisa realizada pelo psiquiatra
americano William Glasser, que estabelece uma pirâmide de aprendizagem.
Segundo ele, a eficácia desses meios para a aprendizagem é a seguinte:

 10% se dá através da leitura.


 20% pela escrita.
 50% a partir da observação e da escuta.
 70% com uma discussão acerca do tema.
 80% ocorre na prática.
 95% ensinando.

A tecnologia também favorece a autonomia, pois permite maior acesso a


informações e oferece recursos para que os estudantes busquem por si
próprios o conhecimento.

As práticas pedagógicas inovadoras com estratégias de aprendizagem voltadas


à promoção da autonomia incluem:

Autonomia dos alunos: Ensino Híbrido

É a combinação entre o ensino presencial e remoto. Permite estudar


presencialmente, em sala de aula com o professor e os colegas, e de forma
remota e autônoma, fora do ambiente escolar com o uso de recursos digitais.
Essa modalidade de estudo estimula o desenvolvimento do pensamento crítico,
pois possibilita um acesso mais amplo ao conteúdo e estabelece uma conexão
entre a teoria e a prática.

Sala de aula invertida

A sala de aula invertida tem a proposta de substituir parte das aulas expositivas
por conteúdos virtuais. O aluno tem acesso ao material digitalmente, fora do
ambiente escolar, e discute em sala de aula com os colegas e o professor
sobre o que aprendeu sozinho. Desse modo, ele utiliza o conhecimento prévio
que obteve estudando sozinho, expõe suas ideias em sala de aula e pode
relacioná-las com as demais e construir um aprendizado significativo.

Autonomia dos alunos: Cultura maker

A cultura maker refere-se ao “faça você mesmo”, permitindo que os alunos


realizem atividades práticas para aprender, construindo materiais, elaborando
projetos e indo a campo conhecer e interagir com seu objeto de estudo. Além
de estimular a autonomia e o protagonismo, também amplia a criatividade –
habilidade essencial nos dias atuais – e torna mais dinâmicas e interessantes
as atividades escolares comuns do currículo.

Aprendizagem baseada em projetos

É uma técnica de aprendizagem que propõe a elaboração de projetos para


solucionar um problema de forma prática, estimulando a participação ativa dos
alunos na construção de um plano de ação, buscando o conhecimento através
de um trabalho contínuo e bem elaborado a partir de hipóteses e discussões
com o desenvolvimento de recursos necessários para atingir o objetivo. A
aprendizagem baseada em projetos une de forma eficaz a teoria e a prática,
tornando mais significativa e interessante a atividade, ao passo que estimula as
interações interpessoais.
O gênero entrevista

A entrevista é um gênero textual amplamente utilizado em diversas áreas da


comunicação, como jornalismo, pesquisa acadêmica, recrutamento profissional
e até mesmo em contextos informais. Trata-se de uma forma de diálogo
estruturado, no qual um entrevistador faz uma série de perguntas a um
entrevistado com o objetivo de obter informações específicas sobre
determinado tema.

Na esfera jornalística, a entrevista é uma ferramenta essencial para a produção


de reportagens, artigos e matérias, permitindo aos repórteres obterem
declarações e opiniões de fontes especializadas, personalidades públicas,
autoridades e pessoas comuns. A partir das respostas dos entrevistados, os
jornalistas constroem narrativas informativas e analíticas, fornecendo ao
público uma visão mais completa e contextualizada dos assuntos em pauta.

No contexto acadêmico, a entrevista é frequentemente utilizada como uma


técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Pesquisadores
entrevistam participantes para obter insights, opiniões e experiências sobre um
determinado tema de estudo. Essas entrevistas podem ser estruturadas, com
perguntas predefinidas, ou não estruturadas, permitindo que os entrevistados
expressem livremente suas ideias.

No recrutamento profissional, as entrevistas são realizadas por recrutadores ou


gestores de RH para avaliar as habilidades, experiências e competências dos
candidatos a uma vaga de emprego. Essa interação permite aos recrutadores
conhecer melhor os candidatos, suas motivações, valores e adequação à
cultura organizacional da empresa.

Além disso, as entrevistas também são comumente utilizadas em contextos


informais, como em conversas entre amigos, programas de entretenimento,
podcasts e vlogs. Nessas situações, as entrevistas podem ser mais
descontraídas e flexíveis, proporcionando um espaço para compartilhar
histórias, opiniões e experiências pessoais.

Independentemente do contexto em que são utilizadas, as entrevistas


desempenham um papel crucial na troca de informações, no entendimento de
diferentes perspectivas e na construção de relações interpessoais. São
ferramentas poderosas de comunicação que contribuem para a disseminação
do conhecimento, o desenvolvimento de pesquisas e o fortalecimento dos laços

A ferramenta podcast

Os podcasts são uma forma de conteúdo digital em áudio que ganhou enorme
popularidade nos últimos anos, oferecendo uma ampla variedade de temas e
formatos para os ouvintes. Originados no início dos anos 2000, os podcasts
evoluíram para se tornar uma ferramenta poderosa de comunicação,
entretenimento, educação e informação.

No contexto atual, os podcasts são acessados por meio de plataformas de


streaming ou de download, permitindo que os ouvintes acompanhem episódios
de seus programas favoritos sob demanda. Essa flexibilidade de consumo
torna os podcasts uma opção conveniente para quem deseja aprender algo
novo, se entreter durante deslocamentos ou realizar outras atividades enquanto
ouve.

Uma das principais vantagens dos podcasts é a sua diversidade de conteúdo.


Existem programas sobre praticamente todos os temas imagináveis, desde
notícias e política até comédia, cultura pop, ciência, tecnologia, saúde,
educação, empreendedorismo e muito mais. Isso significa que há algo para
todos os gostos e interesses, tornando os podcasts uma ferramenta acessível e
inclusiva.

Além disso, os podcasts oferecem benefícios significativos para criadores de


conteúdo e ouvintes. Para os produtores, os podcasts representam uma
oportunidade de alcançar um público global, compartilhar conhecimento e
construir uma comunidade em torno de seus temas específicos. Para os
ouvintes, os podcasts oferecem uma maneira conveniente de acessar
informações e entretenimento de alta qualidade, muitas vezes de forma
gratuita.

Os podcasts também têm sido amplamente utilizados como ferramenta


educacional, tanto em ambientes formais quanto informais. Professores,
educadores e instituições de ensino têm criado podcasts para complementar o
aprendizado em sala de aula, fornecer recursos adicionais aos alunos e
promover a educação continuada. Da mesma forma, empresas e organizações
utilizam podcasts para treinamento de funcionários, divulgação de informações
internas e comunicação com stakeholders.

Além disso, os podcasts oferecem uma plataforma valiosa para contar


histórias, dar voz a diferentes perspectivas e promover o diálogo sobre
questões importantes. Eles podem ser uma ferramenta poderosa para
promover a diversidade, a inclusão e a conscientização sobre temas sociais
relevantes.

Em resumo, os podcasts são uma forma versátil e acessível de comunicação


que oferece uma ampla gama de benefícios para criadores de conteúdo,
ouvintes e comunidades em geral. Com sua crescente popularidade e
influência, os podcasts continuam a desempenhar um papel importante na
maneira como consumimos informações, nos conectamos com os outros e
exploramos o mundo ao nosso redor.
Referências

Bagno, M. (1999). Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola.

Antunes, I. (2003). Aulas de português: lugar de encontro e interação. São Paulo:


Parábola Editorial.

Faraco, C. A. (2008). Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola
Editorial.

Freire, P. (1996). Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São


Paulo: Paz e Terra.

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