Os PCN consideram o ensino da língua portuguesa oral como uma prioridade
no currículo escolar. No entanto, os PCN não oferecem propostas pedagógicas específicas para o ensino da oralidade, deixando essa responsabilidade para as escolas. Há lacunas na formação dos professores em relação ao ensino da oralidade, e faltam instrumentos para ajudá-los a compreender, ensinar e avaliar o oral em sua plenitude. O texto discute as diferentes representações da oralidade, como a associação com atividades de leitura e recitação ou com a fala cotidiana. Existe uma dependência do oral em relação à norma escrita, em que o oral é subjugado pela escrita, o que é denominado "oralização da escrita". Alguns autores argumentam que o ensino da oralidade pode ser considerado inútil, já que o oral "puro" é aprendido naturalmente em situações comunicativas. É importante compreender a oralidade como um objeto autônomo do trabalho escolar, embora ainda ocupe um espaço limitado na escola. O desempenho oral em contextos de interlocução é fundamental para a inserção linguística do indivíduo em uma cultura, e a escola tem um papel relevante nesse processo. O ensino da oralidade apresenta desafios, como tornar o oral ensinável, escolher uma referência para o ensino, torná-lo acessível aos alunos e selecionar as dimensões a serem trabalhadas para facilitar a aprendizagem. O primeiro passo para o ensino da oralidade é ter clareza sobre as características do oral a ser ensinado e até que ponto esses aspectos podem ser objeto de ensino explícito e consciente.
Tópicos: 1 desfazendo equívocos:
O ensino do oral deve adotar uma concepção ampla e complexa, superando ideias equivocadas sobre sua relação com a fala espontânea e reconhecendo a possibilidade de desenvolver habilidades orais formais na escola. É fundamental identificar a diversidade de usos da linguagem oral no cotidiano, abandonando a visão de que o oral é uma realidade única associada apenas à conversa informal. O enfoque deve ser nos gêneros orais específicos, reconhecendo que não existe um "saber falar" geral e observando as características de cada gênero para uma intervenção didática adequada. Há desafios no trabalho com os gêneros orais na sala de aula, pois é preciso equilibrar o caráter comunicativo do gênero com sua objetivação como objeto de estudo linguístico, buscando manter seu funcionamento real. Simular situações de uso dos gêneros orais e contextualizá-los são importantes para explorar seu funcionamento e evitar atividades meramente identificatórias e classificatórias. Decisões didáticas devem ser tomadas para alcançar objetivos de aprendizagem ao trabalhar com os gêneros orais, mesmo na leitura e análise, que podem ser vistas como simulações para a aprendizagem do aluno. É relevante privilegiar o ensino dos gêneros orais formais públicos, como apresentações, debates, júris simulados e entrevistas, tanto no texto quanto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Questões importantes devem ser consideradas na abordagem do ensino dos gêneros orais, como a seleção dos gêneros a serem trabalhados, a forma de trabalhá-los, a relação entre fala e escuta, e a relação entre o oral e o escrito.
2.Por que trabalhar com gêneros orais públicos:
1. Importância dos gêneros orais públicos: Os gêneros orais públicos são
significativos na vida dos alunos e devem ser compreendidos e dominados como objetos autônomos no ensino do oral. 2. Gêneros orais na aprendizagem escolar: Alguns gêneros orais, como exposições, relatos de experiência, entrevistas e apresentações de seminários, são relevantes para a aprendizagem escolar. É crucial que os alunos dominem esses gêneros, pois serão solicitados a realizá-los durante o ano letivo. 3. Limitações das atividades com gêneros orais: As atividades com gêneros orais geralmente se limitam a fornecer apenas o nome do gênero, sem uma reflexão consistente sobre suas características. Poucas situações exploram os contextos sociais de uso e familiarizam os alunos com as composições textuais e estilos dos gêneros. 4. Orientação para o domínio dos gêneros orais: Para ter sucesso em tarefas com gêneros orais, os alunos precisam ser orientados sobre os contextos sociais de uso, características textuais e práticas associadas a cada gênero. Apresentar um seminário, por exemplo, envolve mais do que ler um texto escrito ou conversar informalmente com os colegas. 5. Gêneros orais públicos tradicionais: Além dos gêneros mencionados, debates, entrevistas, negociações e testemunhos diante de instâncias oficiais são importantes para o exercício da cidadania dos alunos. 6. Relação entre gêneros orais e cidadania: Os gêneros orais públicos estão diretamente ligados ao exercício da cidadania, pois envolvem práticas de participação em debates, entrevistas e negociações em contextos públicos. O domínio desses gêneros contribui para o desenvolvimento das habilidades comunicativas necessárias para a vida em sociedade. 3. Como trabalhar com gêneros orais:
1. Avaliação como ato discursivo: A avaliação é entendida como um ato
discursivo que requer interpretação, discussão e crítica dos resultados, pois eles não são definitivos. 2. Avaliação formativa e papel do professor: A abordagem da avaliação formativa destaca o caráter processual da prática avaliativa, onde o professor estrutura a comunicação pedagógica, confronta dados e informações, toma decisões e dinamiza novas situações de aprendizagem. 3. Categorias analíticas para avaliação da oralidade: São apresentadas algumas categorias analíticas que devem ser consideradas na avaliação da oralidade, por exemplo, clareza, coesão, adequação ao gênero, domínio da situação comunicativa, entre outros.