Você está na página 1de 5

RESENHA1

Joseleide Fonseca Moura;


Ruth Gabrielly Leão dos Santos2

SOUSA, I. V. Alunos no espelho: coesão e coerência textuais. 1 ed. Jundiaí-SP: Paco


Editorial, 2021. Recurso Digital. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/206728 Acesso em: 01 agosto 2023.

Ivan Vale de Sousa é Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Língua e


Cultura da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mestre em Letras pela Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará e especialista em Gramática da Língua Portuguesa pela
Universidade Federal de Minas Gerais. Nessa 1a edição do livro “Alunos no espelho: coesão e
coerência textuais", publicado pela Paco Editorial, o autor traz uma discussão acerca do papel
da coesão e da coerência na produção textual no decorrer do processo de ensino e evidencia
como esses fatores de textualidade possibilitam a compreensão dos sentidos do texto. Essa
obra é composta por oito capítulos: Escola e texto; Escola e sujeitos; O texto na alfabetização;
Coesão e Ensino; Coerencia e Ensino; Coesão, coerência e texto; Olhadela e análise de textos;
Para (não) finalizar.
Na primeira parte do livro, Escola e texto, Sousa apresenta uma reflexão crítica sobre
o papel da escola como agente de produção e problematização do conhecimento,
especialmente em relação às políticas de letramento e ao ensino da leitura, escrita e análise
reflexiva. Ademais, destaca a importância da escola como um espaço de múltiplas funções,
onde se espera que os sujeitos que ensinam também aprendam e vice-versa. Segundo ele a
escola deve ser aberta ao novo e disposta a reinventar a leitura, a escrita e a análise reflexiva,
para a formação de indivíduos capazes de pensar de forma plural e crítica além de
compreender as múltiplas perspectivas presentes na linguagem e na sociedade. Dessa forma,
destaca-se nesse capítulo os subtópicos “A escola e a leitura de textos”, “A escola e a
produção de textos” e “A escola e análise de textos”.
Em seguida, no capítulo Escola e sujeitos, o autor discorre sobre a importância da
escola e dos alunos serem vistos sob a perspectiva social da linguagem. Ela é essencial para
construir uma sociedade mais justa e inclusiva, onde as diferentes linguagens e conhecimentos
podem ser compartilhados. Enfatiza ainda que a escola pública enfrenta desafios, mas quando
valoriza seus profissionais e considera a identidade e a cultura dos alunos, pode proporcionar
um ensino de qualidade. No primeiro subtópico que compõe esse capitulo, “o papel da
linguagem na escola”, é discutido a importância da linguagem na escola e como ela pode
ajudar na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Em “As riquezas linguísticas
na escola”, o autor explica que deve-se valorizar a diversidade linguística dos alunos e
trabalhar com diferentes formas de linguagem nesse ambiente educacional. E no ultimo
subtópico desse capítulo, “A escola no processo de transformação dos sujeitos”, é colocado
em destaque que os modelos tradicionais de ensino, baseados apenas na figura do professor
que sabe tudo, não funcionam mais, enfatizando que a escola precisa se adaptar às mudanças
na sociedade e usar as tecnologias para ajudar no ensino atribuindo aos alunos o papel de
protagonistas de seu aprendizado.

1 Texto produzido como terceira avaliação da disciplina Linguística II ministrada pela professora Maria Eliza
Freitas, no curso de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, semestre letivo 2023.1.
2 Alunos/as matriculados na disciplina Linguística II, semestre 2023.1, no curso de Letras do turno
matutino/FALA/UERN.
Já no terceiro capítulo, O texto na alfabetização, o autor fala que o uso de textos é
essencial no processo de ensino e aprendizagem da alfabetização. Os textos permitem que as
crianças se familiarizem com a linguagem escrita e compreendam como as palavras e ideias
se conectam. Dessa forma no subtópico “A conciência fonológica na alfabetização”,
evidencia-se que desenvolver a habilidade de entender as sílabas e os sons individuais
(fonemas) que compõem as palavras é essencial na alfabetização, pois ajuda a criança a
associar os sons às letras e a aprender a ler e escrever. Em seguida no subtópico entitulado “A
conciência silábica na alfabetização” acrescenta que no desenvolvimento da consciência
silábica, entende-se como as palavras são formadas por sílabas, o que é fundamental para a
aprendizagem da leitura e escrita. Ainda nesse capítulo em “Leitura e escrita na alfabetização”
destaca-se também que o processo de leitura e escrita é visto como uma tarefa que envolve
reflexão sobre a linguagem e é importante para a vida acadêmica e social das crianças. Além
disso, no subtópico “Os textos trabalhados na alfabetização”, são apresentados vários
exemplos de textos enseridos em gêneros textuais e estratégias para trabalhá-los na
alfabetização.
Ivan Vale de Sousa, na quarta parte do livro, Coesão e Ensino, aborda a questão da
coesão no texto e a sua relevância no ensino. Como destaca, o ensino da coesão na escola é
um desafio complexo que vai além da simples ligação de termos no texto. A coesão envolve a
construção de relações linguísticas e estruturais entre partes-chave para garantir a coerência
do texto. Dessa forma, os alunos devem entender como os mecanismos coesivos são usados
nos diferentes gêneros textuais e como selecionar adequadamente os conectivos para alcançar
a proposta comunicativa do texto. Sendo assim, o trabalho eficaz no ensino da coesão implica
ajudar os alunos a reconhecerem um texto como coeso, compreender como suas partes estão
conectadas e como os conectivos contribuem para a estruturação e sentido do texto. O ensino
da coesão deve ser feito através de textos, incentivando o enriquecimento lexical e a
compreensão de como a coesão se estabelece em diferentes contextos sociais de comunicação.
Explica ainda que a coesão não é apenas uma questão de ligação entre termos, mas um
elemento essencial da textualização que contribui para a densidade do discurso. Ensinar
coesão visa capacitar os alunos a compreenderem a dependência entre os elementos textuais,
como retomadas e referências, e a utilizarem estratégias para a produção e compreensão de
textos nas práticas discursivas da linguagem. O ensino da coesão é importante para que os
alunos possam produzir textos com clareza e compreensão, considerando a interação entre o
produtor e o leitor e as finalidades comunicativas da linguagem textual.
No subtópico que compõe esse capítulo, “A coesão no texto”, o foco principal está na
coesão textual que é a maneira como as diferentes partes do texto se conectam de forma a
torná-lo claro e compreensível. Ela é alcançada por meio de recursos semânticos e regras
gramaticais que possibilitam a ligação entre as ideias apresentadas. O uso correto dos
mecanismos coesivos é essencial para garantir a progressão do texto e a construção de sentido
ao longo do discurso. Citando Halliday & Hasan (1976), o autor diz que os mecanismos de
coesão se classificam em cinco recursos: referência, substituição, elipse, conjunção e lexical.
Para melhor exemplificar como os elementos coesivos se contituem e são retomados, o autor
recorre a um texto de Rubem Alves (1984) destacando o uso de conectivos, pronomes,
advérbios e substantivos. Apresenta ainda um quadro resumitivo que mostra as relações
textuais, procedimentos e recursos utilizados na coesão textual.
Em seu quinto capítulo, Coerência e Ensino, Souza fala que a coerência nos textos é a
conexão dos sentidos, feita através de conhecimentos prévios e experiências do autor. No
ensino, é importante ensinar como a coerência é construída no texto e como identificar textos
coerentes. A gramática e o texto trabalham juntos para garantir a coerência e ensina-la implica
em dar propósito ao texto, mostrando que ele é uma unidade contínua de sentidos. Isso ajuda
os alunos a produzirem textos coerentes e adequados para diferentes contextos e propósitos.
Nesse mesmo capítulo, no subtópico “a coerência no texto”, o autor evidencia que ao
trabalharem na coerência textual, os alunos usam seus conhecimentos de mundo para criar
sentidos no texto. A coerência não pode ser vista isoladamente no texto, mas sim como uma
cadeia de sentidos que se integra e conecta. O objetivo da coerência é preservar os sentidos do
texto, garantindo que os períodos se interliguem de forma aceitável e contínua. Compreender
a coerência também envolve entender como as relações de comunicação entre os sujeitos
acontecem através do texto. O ensino da gramática é importante, mas não é o único fator que
contribui para a produção de textos. Os alunos precisam entender a relação entre a gramática e
a escrita para escrever com coerência.
A coerência textual é estabelecida ao considerarmos os interlocutores e os contextos
de uso da linguagem. É um princípio de interpretação entre o produtor e o leitor, marcando as
integrações de sentidos construídos pela linguagem. A coerência depende dos contextos de
elaboração do texto e visa preservar suas qualidades e inferências. É um fenômeno que resulta
da ação conjunta dos níveis semântico, estilístico, sintático e pragmático, e busca
proporcionar uma comunicação e interação claras entre o produtor e o leitor. A finalidade da
coerência é criar um texto compreensível e capaz de provocar reflexão e recriação de
experiências nos leitores.
A fim de exemplificar a coerência textual, coloca em evidência "Circuito fechado", de
Ricardo Ramos (2001), e explica que o texto mantém uma unidade de sentido pela sequência
de substantivos que descrevem a rotina do protagonista, um homem. O uso constante desses
substantivos cria uma imagem textual da profissão exercida pelo personagem. Mesmo sem
conectivos, o texto é coeso e coerente, pois as sequências são ligadas e retomadas pelos sinais
de pontuação. Pode ser usado em estratégias de ensino em diferentes níveis, desde a
alfabetização ao letramento, para trabalhar a escrita narrativa e discutir sobre os malefícios do
tabagismo.
Soma-se a esses o sexto capítulo, Coesão, coerência e texto, que versa sobre a
importância da coesão e coerência na construção da textualidade. A coesão refere-se à
conexão e ligação entre as palavras, frases e parágrafos dentro do texto, enquanto a coerência
diz respeito à organização lógica e sentido global do texto. Ambos são fundamentais para
garantir a efetivação do texto como um instrumento de comunicação e interação social. O
trabalho com o texto é essencial nas práticas escolares, onde os alunos têm a oportunidade de
conhecer e interagir com diferentes tipos de textos, estruturados e normatizados nas atividades
de ensino e aprendizagem. A interpretação e aceitação de um texto estão relacionadas ao
contexto social dos sujeitos, enquanto a coesão e coerência estão vinculadas ao trabalho direto
com o texto.
Ensinar a coesão e coerência significa oferecer aos alunos possibilidades de descobrir
o significado por trás de cada texto, contexto e finalidade social. O trabalho com esses
elementos é parte fundamental do processo de ensino e aprendizagem de língua materna,
permitindo aos alunos construírem textos autênticos. A coesão e coerência não estão apenas
na forma do texto, mas também na inscrição das proposições no mundo real, tornando o texto
inteligível e receptivo ao leitor. O ensino desses elementos deve ser integrado e
contextualizado, permitindo aos alunos desenvolverem suas competências de forma flexível.
No capítulo sete, Textos e contextos, o autor destaca a importância dos contextos de
produção para o sentido do texto e que deve-se reconhecer a diversidade textual que cerca os
indivíduos. Esclarece ainda, no subtópico “textos ou gêneros textuais?”, que texto e gênero
textual estão intrisecamente conectados, visto que o texto só existe quando associado a um
determinado gênero textual e precisa está estabelecido em um contexto de produção. No
segundo subtópico, “Os textos e a análise linguística”, Sousa evidencia que a aproximação
entre texto e análise linguística deve se direcionar a compreensão, análise, leitura e produção
de gêneros textuais na escola. O trabalho com a análise linguística dentro da proposta de
ensino de texto adequada aos contextos sociais e níveis dos alunos, implica amplos
conhecimentos da língua para que se compreenda todos os aspectos que envolvem o plano
textual. Ao final do capítulo, na parte “Os textos e a gramática”, pontua que a gramática
também está presente na produção de textos e destaca que para se produzir bons textos é
necessário conhecimentos inerentes a gramática como a variação da língua, as normas que
regem o idioma dos falantes e os conhecimentos gramaticais relacionados ao espaço escolar.
No que se refere ao capítulo Olhadela e análise de textos, o autor propõe uma análise
de seis textos produzidos por alunos da alfabetização até os anos finais do ensino fundamental
da escola pública, refletindo sobre os mecanismos de coesão e supondo os sentidos da
coerência textual, com o proposito de abordar a importância de trabalhar com a produção de
textos na alfabetização e como isso está relacionado com os processos de aquisição da escrita.
Destaca que os textos produzidos pelos alunos são ricos em questões da linguagem e podem
guiar as ações de aprendizagem. Além disso coloca em destaque a coesão e a coerência como
elementos essenciais na construção de textos, mostrando como os alunos utilizam
mecanismos para garantir a conexão entre as ideias. As análises de algumas produções de
alunos são apresentadas para ilustrar como a coesão e a coerência são aplicadas na prática.
Desse modo, enfatiza que o ensino de língua deve considerar a realidade dos alunos,
proporcionando um ambiente inclusivo e reflexivo, onde eles possam desenvolver suas
habilidades de leitura, escrita e análise de textos.
Por ultimo, em Para (não) finalizar, Souza destaca brevemente que nenhum texto está
definitivamente acabado em termos de discurso. Sempre que lemos um texto, fazemos
adaptações, ampliamos as discussões e realinhamos as formas como as reflexões foram
apresentadas para os interlocutores. Os textos são constantemente refeitos a partir de novas
leituras, discussões e reestruturações. Por essa razão, a riqueza de discussão sobre coesão e
coerência nunca será encontrada em uma única obra, pois esses elementos estão inseridos nos
sentidos da língua que compõem o texto.
A partir de uma linguagem acessivel e clara, o livro aborda de forma sucinta, mas
necessária, o trabalho com coesão e coerência nos textos escolares, especialmente nas aulas de
língua materna. Além disso, destaca a relevância da instituição escolar nesse contexto, já que
o processo de formação dos indivíduos passa pelas práticas realizadas nesse ambiente. De
maneira notável o autor mostra que escola é o lugar onde os sujeitos, com suas diferenças
linguísticas e sociais, encontram a possibilidade de compreender a língua e utilizá-la em
situações reais. Dessa forma, a obra é um material excelente para o profissional que queira
aprofundar esses conhecimentos e busca formas de trabalha-los em sala de aula, bem como
também para alunos de Letras que se interessam em compreender melhor a coesão e coerência
e como futuros professores, auxiliar seus alunos a analisar as produções textuais.

Você também pode gostar