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INTRODUÇÃO

“Minha pátria é minha língua”. Nesse verso da canção “Língua”, num processo
intertextual com a obra de Fernando Pessoa, Caetano Veloso apresenta de forma belíssima o que
a língua é para cada sociedade: o meio que possibilita aos indivíduos se apresentarem aos
outros, ao mundo, transmitirem sua cultura. Cultura que ganha forma por meio das diversas
linguagens, especialmente a linguagem verbal. E, é cultura que forja a identidade de um povo.
Dessa forma, devemos pensar a língua como identidade e, sendo assim, não podemos mais
vê-la meramente como um sistema de signos, reduzida à classificação de palavras, frases,
classificação de classes gramaticais, mas passamos a enxergá-la como um elemento complexo
que integra o sistema em si mesmo e ao mesmo tempo a língua em uso, que está intimamente
ligada ao contexto histórico, social, cultural e político de cada indivíduo, de cada sociedade e,
por isso, não está pronta, acabada, mas se faz a cada interação.
Ensinar a língua em seus sistemas de uso é tão importante quanto ensinar o próprio
sistema, ou, nas palavras de Antunes: “Nessa concepção, a língua só pode ser vista como um
conjunto sistemático, mas heterogêneo, aberto, móvel, variável: um conjunto de falares, na
verdade, já que é regulado por uma comunidade de falantes”. (2009, p.22)
Entretanto, para que essa concepção de língua seja desenvolvida dentro do universo
escolar, é necessário que o docente ultrapasse a barreira do ensino das regras, do certo e do
errado, e capacite os estudantes para compreenderem a língua como um importante instrumento
de significação, de mediação das relações interpessoais.
Nesse ínterim, a língua nesse trabalho é compreendida “como um conjunto de práticas
sociais e cognitivas historicamente situadas” (MARCUSCHI, 2008, p.61), e por estar dentro
desse princípio traz para o debate a importância dos conectivos, especificamente, as conjunções,
dentro das produções dos alunos.
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Esses elementos são relevantes dentro da manutenção da textualidade, dando conta da


estruturação da sequência do texto, auxiliando a transmitir conhecimentos e sentidos e saem,
dessa forma, da simples sintaxe do texto.
Nesse sentido, é necessário que o professor seja o mediador, e que proponha práticas que
auxiliem o estudante a se apropriar da língua. Segundo Geraldi (2014), só se aprende a língua
praticando, e escrever um texto não é aprender regras, mas compreender que há princípios que
nortearão essa escrita (condições de produção, instrumentos de produção, relações de produção,
agentes de produção).
A partir dessas considerações, e incomodados com os resultados apresentados em provas
externas (SARESP, Prova Brasil, Avaliações da Aprendizagem em Processo) e produções
escritas internas (realizadas em sala de aula) pelos alunos de uma escola estadual de Jahu (interior
de São Paulo) em relação ao uso dos conectivos, o presente trabalho investiga como a “conexão
sequencial frástica” (KOCH, 2001), com foco nas conjunções, é trabalhada nos livros e materiais
didáticos. A partir da compreensão das possibilidades e limitações contidas nesses materiais,
propõe-se uma sequência didática que auxilia os estudantes a utilizarem esses mecanismos de
coesão para conseguirem aprimorar sua competência textual/discursiva e, por fim, faz uma
avaliação do que os alunos aprenderam após o desenvolvimento da Sequência Didática. Essa
avaliação acontece por meio da análise de produções escritas dos alunos participantes do projeto.

Problema de pesquisa

A linguagem é própria do ser humano e se constitui de sistemas simbólicos, por meio dos
quais o ser humano constrói o conhecimento e sua relação com o mundo que o cerca. Lerner
(2002, p. 17) coloca que participar na cultura escrita supõe apropriar-se de uma tradição de leitura
e escrita, supõe assumir uma herança cultural que envolve o exercício de diversas operações
com os textos e a colocação em ação de
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conhecimentos sobre as relações entre os textos; entre eles e seus autores; entre os
próprios autores; entre os autores, os textos e seu contexto.
Contudo, a autora afirma que o grande propósito educativo da escrita no
curso da educação obrigatória é o de incorporar as crianças à comunidade
escritores; é o de formar os alunos como cidadãos da cultura escrita. Desse modo,
explicitar as relações linguísticas é fundamental para auxiliá-los a tornarem-se
autônomos, pois perceberão que estas relações longe de serem uniformes marcam,
segundo Bourdieu (apud HANKS, 2008), o poder simbólico acumulado por seus
protagonistas. Ao utilizar a língua nos mais variados contextos sociais, o sujeito é
incorporado ao universo de caracterização, que tende a trazer as diferenças de
posição social e econômica, por meio do conhecimento desigual da língua, que
torna mais restrito a alguns indivíduos o acesso aos locais de prestígio social.

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