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Objectivos específicos:
Apresentar os fundamentos teóricos que sustentam propostas de metodologias
para uso adequado do pronome pessoal
Descrever as metodologias para uso adequado do pronome pessoal dos alunos da
9ª classe do colégio Público BG nº1056 CDT Tomás Ferreira-Benguela.
Propor metodologias que visam melhorar uso adequado do pronome pessoal dos
alunos da 9ª classe do colégio Público BG nº1056 CDT Tomás Ferreira-
Benguela.
Perguntas de norteadora:
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesse sentido, Figueiredo (2007) citado por (Novais, 2018) considera que o latim
possuía uma forma própria de tratar os pronomes e que estes eram utilizados e
flexionados a partir da função sintática que exerciam. Segundo o autor, “o pronome
‘eu’ tem sua origem latina na forma eo (nominativo) por ego no latim clássico. O
pronome ‘mim’, por sua vez, tem sua origem latina na forma mi (dativo) por mihi no
latim clássico.”, como podemos observar no gráfico a seguir:
Entretanto, no uso real da língua latina, os pronomes pessoais tendiam a ser usados
de acordo com a vontade dos falantes, ou seja, não havia preocupação em encaixá-los
da maneira que as regras propunham e, ainda, poderiam desempenhar várias funções.
Nesse sentido, já havia, no próprio latim, o uso do pronome mim (dativo) em posição
de sujeito em detrimento a eu (nominativo), resultando, portanto, na variação
linguística. (Figueiredo, 2007) citado por (Novais, 2018)
Nesse sentido, a autora acrescenta que, por exemplo no Português Brasileiro, mesmo
com todas as transformações ocorridas ao longo do tempo, a herança que nos foi
dada pelo latim vulgar permanece viva. O uso do pronome mim na posição de sujeito
– no lugar de eu – tem sido cada vez mais frequente, como podemos ver nos
exemplos a seguir:
A Língua como produto cultural, historiada pelos interlocutores que dela se valem,
não pode ser concebida tão somente como um sistema autônomo; é mutável no
sentido de implicar um corpo social, pois os sujeitos interlocutores a constituem e se
constituem por meio dela, inserem-na nos eventos sociais e no tempo; os diferentes
usos da língua pressupõem um sujeito ativo no que diz respeito aos atos de dizer(se).
(Azevedo, 2020)
Azevedo, (2020) defende que para entender o uso dos pronomes, precisa-se entender
a sua sociolinguística, o que se refere ao estudo da relação entre a língua e a sua
sociedade, o que vem a ser um conjunto de associações no qual envolve todos os
aspectos de uma sociedade, fazendo um paralelo com suas normas culturais e
contexto, analisando a forma que sua linguagem é utilizada e o efeito que tem trazido
para sociedade.
1.2.1. Metodologia
De acordo com Demo (1987) citado por (Oliveira, 2011), a metodologia é uma
preocupação instrumental, que trata do caminho para a ciência tratar a realidade
teórica e prática e centra-se, geralmente, no esforço de transmitir uma iniciação aos
procedimentos lógicos voltados para questões da causalidade, dos princípios formais
da identidade, da dedução e da indução, da objetividade, etc.
1.2.3. Ensino
"Ensinar", escreve Israel Scheffler citado por (Passmore, 1980), "pode ser
caracterizado como uma actividade que visa promover a aprendizagem e que é
praticada de modo a respeitar a integridade intelectual do aluno e a sua capacidade
para julgar de modo independente".
Ensino, segundo Libâneo (2002) citado por (Rezende & Champangnatte, 2021) é
uma ação coletiva destinada a cumprir os fins específicos da educação, os quais
variam segundo as concepções pedagógicas vigentes em cada época e,
principalmente, as opções políticas que com elas se afinam. Logo, os fins da
educação dependem do papel que lhe é atribuído pela sociedade organizada e seus
problemas, ambos pertencentes a contextos históricos específicos, nos quais a
educação assume uma função política.
Exemplos:
a) Tu preferes ficar aqui numa miséria.
b) Um dos nadadores lançou-se à piscina e apanhou-o lá em baixo.
c) Já lhe tinha falado disso.
Quadro: Pronomes pessoais segundo Cegalla (2008, p. 180) citado por (Novais, 2018)
Quadro: Pronomes pessoais segundo Vilela & Koch (2001, p. 211) citado por (Novais, 2018)
se se/ (a) si
1.3. O léxico e sua estrutura
Assim, Cunha & Cintra, (2014) citado por (Arsénio, 2018) referem que os pronomes
pessoais podem caracterizar-se em três perspetivas:
Exemplo:
b) Leve-me a casa;
De acordo com Cunha & Cintra (2006) citado por (Arsénio, 2018), os pronomes
pessoais sofrem variação em caso que as designam como forma nominativa, com
função sintática de sujeito: eu, tu/você, ele/ela, nós, vós/vocês, eles/elas; forma
acusativa, função sintática de complemento direto: me, te, o/a, se, nos, vos, os/as, se;
forma dativa, função sintática de complemento indireto: me, te, lhe, se, nos, vos, lhes,
se; e, por último, a forma oblíqua, dependente da preposição: mim, ti, -, si, -, -, -, si.
Como se constata, no caso oblíquo existem apenas as formas da 1ª e das 2ª pessoas do
singular e a do pronome “se”. Após preposição, utilizam-se as formas nominativas nas
restantes pessoas
(Arsénio, 2018), É notório verificar nas formas acusativa e dativa dos pronomes a
combinação nas contrações mo, ma, mos, mas oriundas da adição entre as formas (me
+ o, a, os, as), to, ta, tos, tas, (te + o, a, os, as) e lho, lha, lhos, lhas (lhe ou lhes + o, a,
os, as). Um fenómeno que os gramáticos designam por apócope do pronome dativo nas
1ª e 2ª pessoas do plural, associada ao pronome acusativo por meio de hífen as formas
no-lo, no-la, no-los, no-las, vo-lo, vo-la, vo-los, vo-las. Consequentemente, quanto à
acentuação, os autores afirmam que os pronomes nos casos nominativos e oblíquos são
tónicos; nos casos acusativos e dativos são átonos. Dessa forma eles podem ser:
Nominativos
Exemplo: eu, tu, ele…;
Pronomes oblíquos átonos
Exemplo: me, te, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes,…;
Pronomes oblíquos tónicos
Exemplo: mim, comigo, ti, contigo, nós, connosco, vós, convosco, ele, ela,
eles, elas
Pronomes oblíquos átonos são aqueles cuja acentuação tónica é fraca. Eles
apresentam flexão de número, género e pessoa, sendo essa última a principal flexão,
porque marca a pessoa do discurso. Dessa forma, os pronomes oblíquos átonos são
apresentados de acordo com o quadro abaixo designado:
O termo oblíquo nem sempre representa apenas a subsessão dos complementos direto
e indireto, mas também dos complementos das preposições, de acordo com a
referência nº 7 da Gramática do Português onde se lê:
Nas gramáticas gregas e latinas, e nas de inspiração clássica em geral, a noção de
“caso oblíquo” é diferente daquela que se usa aqui e noutras gramáticas
contemporâneas. Na gramática clássica, opunha-se o caso nominativo, a que se
chamava o “caso reto” – próprio dos nomes e pronomes com a função de sujeito – a
todos os outros casos (acusativo, dativo, ablativo e genitivo), os quais recebiam o
nome geral de “casos oblíquos”. Modernamente, o termo gramatical “oblíquo” usa-se
com dois sentidos diferentes (embora relacionados), um morfológico e o outro
sintático, ambos adotados nesta gramática. Na aceção morfológica, o termo designa a
forma casual particular que os pronomes tomam quando têm a função de
complemento de uma preposição […] Raposo et al., (2013) citado por (Arsénio,
2018).
Com base no exposto, afirmamos que os pronomes oblíquos tónicos, para além de
serem aqueles cuja acentuação tónica é forte, também podem ser aqueles que em
termos de uso e em todas aceções são sempre precedidas por uma preposição e esta
é a caraterística que os diferenciam dos pronomes oblíquos átonos. Os pronomes
oblíquos tónicos apresentam flexão de número, género (apenas na 3ª pessoa) e
pessoa, sendo essa última a principal flexão, porque marca a pessoa do discurso.
Segundo os autores citados até agora, o quadro dos pronomes oblíquos tónicos é
assim apresentado:
Neste Sentido, (Filho, 2011) diz que o pronome oblíquo, quando exerce a função de
objeto direto, adquire formas especiais conforme a posição que ocupa na frase. Isso,
porém, só é válido para os pronomes oblíquos de terceira pessoa do singular e do
plural.
No entanto, o autor enfatiza que, quando o pronome oblíquo estiver antes do verbo
(próclise), as formas utilizadas são os padrões: o, a, os, as e quando o pronome
oblíquo estiver depois do verbo (ênclise), as formas do pronome variam de acordo
com o verbo que acompanham.
Neste contexto, segundo (Arsénio, 2018) é necessário prestar maior atenção a duas
situações básicas que comandam as duas terminações verbais que julgamos
representar o maior grau de dificuldade na compreensão deste fenómeno e que
pensamos ser a questão mais do que evidente das controvérsias no uso dos pronomes
clíticos. Contudo, a norma do português europeu é bastante rígida no sentido do uso
da clitização e estabelece parâmetros que não são facilitadores para um falante que
vem com a influência de uma língua com estrutura peculiar no que respeita à
clitização nas posições proclítica e enclítica, em que muitas vezes toma como padrão
a incerteza que remete a ênclise enquanto próclise e a próclise enquanto ênclise e
vice-versa. Nota-se um elevado número de registos de desvios quando se trata da
colocação proclítica.
Com base nessas aceções, (Arsénio, 2018) diz que o processo da pronominalização
apresenta vários contornos devido à obediência de alguns pressupostos que exige um
certo conhecimento da matéria. Todavia, torna-se difícil pelo facto de não haver
domínio das regras. Sendo assim, para dar resposta a essa questão é necessário
utilizar o processo da apócope que visa a queda do elemento que constitui o
infinitivo do verbo e atribuir um hífen seguido do pronome de terceira pessoa “lo” na
forma mais canónica. Este facto cabe apenas ao estudante com conhecimento das
regras, pois caso contrário optaria para a alínea a) que menos se ajusta às regras
estabelecidas, no âmbito da colocação dos pronomes em verbos terminados com as
formas não finitas.
II. Verbos terminados em ditongo nasal (-am, -em, -ão e -õe) acrescenta-se "-n"
antes da forma do pronome (-no, -na, -nos, -nas).
Exemplo: Eles tinham a casa como único património.
a) Eles tinham-a como único património.
b) Eles tinham-na como único património.
Este é um caso similar com o que acontece na frase anterior, pois a diferença neste
campo consiste apenas na adição do pronome clítico “na” na terminação nasal do
verbo. Assim, se quiséssemos continuar a exemplificar, verificaríamos que, de
acordo com a regra estabelecida, tínhamos pouca probabilidade em cometer qualquer
lapso/erro, sobretudo quando se fala de colocação pronominal das formas verbais
terminadas em ditongo nasal. Mas também é necessário que o estudante tenha
domínio das regras para que se torne simples o processo, pois nem sempre se
consegue realizar uma operação linguística se não nos detivermos nos princípios
normativos. Assim, verificam-se muitos atropelos nesse sentido por corresponder a
um padrão que requer um certo conhecimento profundo da matéria e do
acompanhamento de um professor formado na área. (Arsénio, 2018)
III. Verbos terminados em vogal ou ditongo oral, emprega-se as formas (o, -a, -
os, - as).
Exemplo: A Maria viu o livro
a) Viu-o
b) Ela viu-o
IV. Futuro do indicativo e no condicional, ocorre em mesóclise na forma lo, la,
los, las.
Exemplo: Eu cantaria uma música a Deus
a) Eu cantá-la-ia a Deus.
b) Eu cantá-la-ei a Deus.
É necessário que cada falante domine os princípios normativos da sua língua. Como
já referimos, os desvios que se registam na norma do português europeu falado em
Angola consistem principalmente na utilização da próclise de maneira desajustada e,
se por um lado há influências das línguas africanas, por outro lado, poderia ser o
facto de não haver uma academia em Angola que se dedique ao estudo mais
aprofundado para a normalização dos fenómenos que ocorrem na língua. (Arsénio,
2018)
1.8. Proposta metodológica para o ensino do uso adequado do pronome pessoal
oblíquo tónico “mim”.
Não podemos deixar, ainda, de citar o papel exercido pelo livro didático nas aulas de
gramática que é usado como suporte e apresenta, de um lado, os procedimentos,
informações, orientações e conceitos teóricos propostos no manual do professor; de
outro lado, os passos metodológicos de como conduzir os temas e conteúdos
trabalhados em cada série. Embora saibamos que os livros didáticos, em sua grande
maioria, ainda priorizam o ensino da norma padrão, enfatizando a norma culta, não
podemos negar que alguns já procuram considerar a variação linguística, apresentando
situações e contextos mais ou menos monitorados de uso da língua. (Moura, 2015)
Portanto a escolha do livro didático se torna de grande relevância, Bagno (2007, p.125-
140) citado por (Moura, 2015), em seu livro Nada na língua é por acaso: por uma
pedagogia da variação linguística, apresenta um roteiro que serve como parâmetro na
hora de selecionar o material que será usado em sala.
O primeiro passo, segundo o autor, é verificar se o livro trata da variação linguística ou
se menciona de algum modo à pluralidade de línguas que existe, em seguida, seria
necessário verificar se esse tratamento é apenas sobre as variedades rurais e/ou
regionais, limitando-se apenas com questões como sotaque e léxico, pois é necessário
que apresente também as variantes características das variedades prestigiadas, como
também, os fenômenos gramaticais. Além disso, é importante constatar se o livro
separa a norma-padrão da norma culta (variedades prestigiadas) ou continua
confundindo a norma-padrão com uma variedade real da língua. Outro aspecto
importante é verificar se o livro mostra coerência entre o que diz nos capítulos
dedicados a variação linguística e o tratamento que se dá aos fatos de gramática ou se
continua, nas outras seções, a tratar do “certo” e do “errado”, apresentando a escrita
como homogênea e a fala como lugar do erro.
É importante, portanto, segundo (Moura, 2015), que o ensino de gramática tenha como
objetivo a formação das habilidades cognitivas numa perspectiva mais geral de que a
apropriação do conhecimento está, diretamente, relacionada com o ato de pensar. O
professor, pois, poderia direcionar mais a sua atenção ao processo de ensino-
aprendizagem, criando espaços para que o aluno desenvolva a capacidade de pensar e
construir seu próprio saber.
Vale ressaltar as palavras de Perini (2005, p. 31) citado por (Moura, 2015) sobre os
estudos de gramática:
Assim, o autor explica que o ensino de gramática, desde que leve em conta essa
perspectiva, exerce um papel fundamental na formação e melhoria da capacidade
linguística dos alunos e consequentemente oferece um caminho mais seguro para
aprendizagem efetiva de novos conhecimentos.
Referencias bibliográficas
Azevedo, B. B. (2020). O uso do mim e eu nas orações intuitivas dos alunos da escola
Afranio Salgado Lages. DELMIRO GOUVEIA: Trabalho de conclusão de
curso apresentado a Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Paes, J. A., & Freitag, R. M. (2020). Pronomes, poder e solidariedade na sala de aula.