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DADOS PARA ELABORAÇÃO DA REFERENCIAL TEÓRICO…

Tema: Proposta metodológica para o ensino do uso adequado do pronome pessoal


oblíquo tónico “mim” pelos alunos da 9.ª classe do colégio público B.g nº1056 –
Cdt.Tomás Ferreira – Benguela

Problema de investigação: Quais são as razões que estão na base da dificuldade de


uso do pronome pessoal mim na produção de textos orais e escritos dos alunos da 9ª
classe do Colégio Público BG nº1056 – CDT. Tomás Ferreira – Benguela?

Objectivo geral: Investigar as propostas de metodologias para uso adequado do


pronome pessoal “Mim”.

Objectivos específicos:
 Apresentar os fundamentos teóricos que sustentam propostas de metodologias
para uso adequado do pronome pessoal
 Descrever as metodologias para uso adequado do pronome pessoal dos alunos da
9ª classe do colégio Público BG nº1056 CDT Tomás Ferreira-Benguela.
 Propor metodologias que visam melhorar uso adequado do pronome pessoal dos
alunos da 9ª classe do colégio Público BG nº1056 CDT Tomás Ferreira-
Benguela.

Perguntas de norteadora:

 Que fundamentos teóricos sustentam as metodologias para uso adequado do


pronome pessoal?
 Como descrever as metodologias para uso adequado do pronome pessoal dos
alunos da 9ª classe do colégio Público BG nº1056 CDT Tomás Ferreira-
Benguela?
 Que propostas visam melhorar o uso adequado do pronome pessoal dos alunos
da 9ª classe do colégio Público BG nº1056 CDT Tomás Ferreira-Benguela.
CAPÍTULO - I

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo pretende-se estudar, de forma sucinta e descritiva, aspectos


conceptuais sobre proposta metodológica para o ensino do uso adequado do pronome
pessoal oblíquo tónico “mim” tendo em conta os autores que se destacam neste
panorama.

1.1. Antecedentes históricos sobre Proposta metodológica para o ensino do uso


adequado do pronome pessoal oblíquo tónico “mim”.

O português, assim como as demais línguas românicas, originou-se do latim vulgar


propagado pelos soldados romanos no processo de conquista e expansão territorial de
Roma. Sendo assim, muitas palavras e termos do Português actual são de origem
latina, além de muitos elementos gramaticais, dentre eles: os pronomes. (Novais,
2018)

Nesse sentido, Figueiredo (2007) citado por (Novais, 2018) considera que o latim
possuía uma forma própria de tratar os pronomes e que estes eram utilizados e
flexionados a partir da função sintática que exerciam. Segundo o autor, “o pronome
‘eu’ tem sua origem latina na forma eo (nominativo) por ego no latim clássico. O
pronome ‘mim’, por sua vez, tem sua origem latina na forma mi (dativo) por mihi no
latim clássico.”, como podemos observar no gráfico a seguir:

Quadro 1: Os pronomes mim e eu na Língua Latina (Novais, 2018)

Latim clássico Latim vulgar Português


Ego Eo Eu
Mihi Mi Mim

Entretanto, no uso real da língua latina, os pronomes pessoais tendiam a ser usados
de acordo com a vontade dos falantes, ou seja, não havia preocupação em encaixá-los
da maneira que as regras propunham e, ainda, poderiam desempenhar várias funções.
Nesse sentido, já havia, no próprio latim, o uso do pronome mim (dativo) em posição
de sujeito em detrimento a eu (nominativo), resultando, portanto, na variação
linguística. (Figueiredo, 2007) citado por (Novais, 2018)

Nesse sentido, a autora acrescenta que, por exemplo no Português Brasileiro, mesmo
com todas as transformações ocorridas ao longo do tempo, a herança que nos foi
dada pelo latim vulgar permanece viva. O uso do pronome mim na posição de sujeito
– no lugar de eu – tem sido cada vez mais frequente, como podemos ver nos
exemplos a seguir:

1. Fizeram o possível para mim ir lá.


2. Isso é para mim fazer.
3. Mandaram os livros para mim entregar.

Percebe-se que muitas pessoas utilizam os pronomes de forma inadequada tanto na


escrita, quanto na pronúncia por sua vez, os brasileiros estão, cada vez mais,
observando níveis em situações formais e informais da língua, como em concurso,
entrevista de emprego, em rodas de conversas, as pessoas querem se comunicar com
palavras que realmente satisfaçam as suas necessidades. (Azevedo, 2020)

A Língua como produto cultural, historiada pelos interlocutores que dela se valem,
não pode ser concebida tão somente como um sistema autônomo; é mutável no
sentido de implicar um corpo social, pois os sujeitos interlocutores a constituem e se
constituem por meio dela, inserem-na nos eventos sociais e no tempo; os diferentes
usos da língua pressupõem um sujeito ativo no que diz respeito aos atos de dizer(se).
(Azevedo, 2020)

O estudo de variação linguística está presente na sociedade na qual ela está


profundamente ligada, havendo diversas formas de falar a mesma coisa. Vemos a
variação sendo influenciada tanto pelo nível linguístico quanto pelo nível
extralinguístico. Observamos uma crescente disputa de uma variante em detrimento
de outra. Nesse meio, os falantes se encontram, consciente e inconscientemente,
fazendo o uso de determinadas formas linguísticas em desvantagens de outras.
(Azevedo, 2020)

Azevedo, (2020) defende que para entender o uso dos pronomes, precisa-se entender
a sua sociolinguística, o que se refere ao estudo da relação entre a língua e a sua
sociedade, o que vem a ser um conjunto de associações no qual envolve todos os
aspectos de uma sociedade, fazendo um paralelo com suas normas culturais e
contexto, analisando a forma que sua linguagem é utilizada e o efeito que tem trazido
para sociedade.

Neste sentido, o renomado autor acrescenta que a sociolinguística, vem a ser um


conjunto, onde encontra-se a língua falada, descrita e observada, fazendo uma análise
no seu contexto social, ou seja, no momento do seu uso. Nesse caso ela vem sendo
adequada e adaptada ao uso de seus falantes, que nesse momento, ela passa por uma
adaptação e cada falante se adapta da sua forma, nesse andamento ela é subdividida
em Sociolinguística Variacionista, Sociolinguística Interacional e Sociolinguística
Educacional, que, no entanto, cada uma com um fundador abordando diversas
formas de entendê-la.

Quando se trata de poder clarificar ou justificar os reais motivos que levam à


anteposição dos clíticos no português de Angola, muitas vezes, falamos do
desconhecimento das regras, olhamos para a “violação” da estrutura da língua,
estabelecemos uma comparação entre as estruturas sintáticas das línguas africanas e a
portuguesa. Para tanto, muitas vezes recorremos a fatores que nem sempre justificam
concretamente tais razões, pois a falta de interesse político, o défice de
investigadores em linguística no país e a falta de uma academia que analisaria essas
questões poderiam ser bons motivos para, assim, proceder ou apresentar
justificações, mas de acordo com as razões diacrónicas da língua pode encontrar-se
um denominador comum para tal. (Arsénio, 2018)

Segundo (Arsénio, 2018), os gramáticos contemporâneos têm estabelecido várias


regras que, em algumas circunstâncias, ajudam a esclarecer as dúvidas e, por outra,
também colocam no seio estudantil muitas dúvidas, sobretudo para aqueles países
que têm o português como língua oficial, situação que não coloca Angola de fora,
uma vez que a falta de estudo sobre esta problemática consubstancia-se num
fracasso, principalmente para as instituições escolares que não contribuem
positivamente com obras que sirvam como fontes de esclarecimento dessas dúvidas,
porque há pouca produção e, concomitantemente, fazem-se poucos investimentos
para galvanizar a pesquisa literário-científica. E isto condiciona a realização de
estudos para normalizar a língua que constitui um património de todos. Neste
sentido, Angola, pelas razões históricas da língua, sempre foi fiel às normas do
português europeu e ao registar uma entrada considerável ou massiva de material
didático vindo do Brasil coloca-se na balança influências do português desse país,
tornando cada vez mais difícil para os estudantes compreender que regras seguir,
visto que aquilo que é considerado agramatical no padrão europeu é gramatical no
padrão brasileiro.

1.2. Definição dos termos chaves

1.2.1. Metodologia
De acordo com Demo (1987) citado por (Oliveira, 2011), a metodologia é uma
preocupação instrumental, que trata do caminho para a ciência tratar a realidade
teórica e prática e centra-se, geralmente, no esforço de transmitir uma iniciação aos
procedimentos lógicos voltados para questões da causalidade, dos princípios formais
da identidade, da dedução e da indução, da objetividade, etc.

Para Gil (1999), o método científico é um conjunto de procedimentos intelectuais e


técnicos utilizados para atingir o conhecimento. Para que seja considerado
conhecimento científico, é necessária a identificação dos passos para a sua
verificação, ou seja, determinar o método que possibilitou chegar ao conhecimento.

1.2.3. Ensino

"Ensinar", escreve Israel Scheffler citado por (Passmore, 1980), "pode ser
caracterizado como uma actividade que visa promover a aprendizagem e que é
praticada de modo a respeitar a integridade intelectual do aluno e a sua capacidade
para julgar de modo independente".

Ensino, segundo Libâneo (2002) citado por (Rezende & Champangnatte, 2021) é
uma ação coletiva destinada a cumprir os fins específicos da educação, os quais
variam segundo as concepções pedagógicas vigentes em cada época e,
principalmente, as opções políticas que com elas se afinam. Logo, os fins da
educação dependem do papel que lhe é atribuído pela sociedade organizada e seus
problemas, ambos pertencentes a contextos históricos específicos, nos quais a
educação assume uma função política.

1.2.4. Pronome pessoal

Etimologicamente, o termo pronome deriva do latim “pronomen” que significa


(“pro” = na vez de, e “nomen”= nome), logo pronome é a palavra que se emprega em
vez de um nome, ou pronome pode ser a palavra que é usada anaforicamente,
substitui ou remete para o nome, adjetivo, sintagma, frase empregados no mesmo
enunciado ou em enunciados anteriores. (Arsénio, 2018)

Os pronomes pessoais caracterizam-se por denotarem as três pessoas gramaticais,


isto é, quem fala (1.ª pessoa), com quem se fala (2.ª pessoa) e de quem se fala (3.ª
pessoa). Cegalla (2008) citado por (Novais, 2018)

Exemplos:
a) Tu preferes ficar aqui numa miséria.
b) Um dos nadadores lançou-se à piscina e apanhou-o lá em baixo.
c) Já lhe tinha falado disso.

Quadro: Pronomes pessoais segundo Cegalla (2008, p. 180) citado por (Novais, 2018)

Pessoas do discurso Pronomes retos Pronomes oblíquos


Função subjetiva Função objetiva

1º pessoa do singular Eu me, mim, comigo

2º pessoa do singular Tu te, ti, contigo

3º pessoa do singular ele/ela se, si, consigo, lhe, o, a

1º pessoa do plural Nós nos, conosco

2º pessoa do plural Vós vos, convosco

3º pessoa do plural eles/elas se, si, consigo, lhes, os,


as

Quadro: Pronomes pessoais segundo Vilela & Koch (2001, p. 211) citado por (Novais, 2018)

Pessoa Sujeito Objecto direto Objecto indireto

Singular: 1º eu me me, (a) mim


2º tu te te, (a) ti
3º ele/ela o/a lhe, (a) ele/ela

Plural: 1º nós nos nos, (a) nós


2º vós vos vos, (a) vós
3º eles/elas os/as lhes, (a) eles/elas

se se/ (a) si
1.3. O léxico e sua estrutura

1.4. Classe de palavras

1.5. Classe de pronomes

1.6. Caracterização dos pronomes Pessoais

Os pronomes pessoais podem ser distinguidos pela função que desempenham na


oração, podendo ser retos (sujeito) e oblíquos (complemento direto, complemento
indireto, complemento circunstancial ou agente da passiva) e pela acentuação (átono e
tónico). Sendo assim, existem várias formas de se descrever os pronomes pessoais.
Poderíamos a partir daqui apresentar perspetivas de vários autores que também
abordam essa temática. (Estrela et al., 2013) citado por (Arsénio, 2018)

Assim, Cunha & Cintra, (2014) citado por (Arsénio, 2018) referem que os pronomes
pessoais podem caracterizar-se em três perspetivas:

1. Por denotarem as três pessoas gramaticais, isto é, por terem a capacidade de


indicar no discurso:
a) Quem fala…1ª Pessoa: eu (singular), nós (plural)
b) Com quem se fala…2ª Pessoa: tu, você (singular), vós, vocês (plural)
c) De quem se fala……3ª Pessoa: ele, ela (singular) eles, elas (plural)
2. Por poderem representar, quando na 3.ª pessoa, uma forma nominal
anteriormente expressa.
Exemplo:
a) O António e o Jody são irmãos.
b) Eles são irmãos.
c) Levantaram Dona Rosário.
d) Levantaram-na.
3. Por variarem de forma, segundo:
a) a função que desempenham na oração;
b) acentuação que nela recebem.

Sendo um pronome reto ou oblíquo trazem consigo as características próprias dessa


classe gramatical, ou seja, é uma palavra que pode: substituir um nome como se
verifica no caso IIb em que o pronome reto faz uma substituição dos nomes que
constituem a frase do exemplo IIa. Independentemente destas circunstâncias, eles
também podem determinar a pessoa do discurso. (Arsénio, 2018)
Na realidade, segundo Rio-Torto, (1998) citado por (Arsénio, 2018) os pronomes
pessoais, distinguem-se as diferentes configurações que estes adquirem (pronomes
retos e oblíquo, tónicos e átonos) e a variação que os afeta. Deste modo, Cunha &
Cintra (2006) citado por (Arsénio, 2018) atestam que, essa variação na forma do
pronome indica tão somente a função diversa que eles desempenham na oração onde o
pronome reto funciona como sujeito da oração; o pronome oblíquo (átono e tónico)
empregam-se fundamentalmente como complementos direto e indireto verbal da
oração.

Exemplo:

a) Ela comprou chapéus;

b) Leve-me a casa;

c) Houve um momento entre nós.

De acordo com Cunha & Cintra (2006) citado por (Arsénio, 2018), os pronomes
pessoais sofrem variação em caso que as designam como forma nominativa, com
função sintática de sujeito: eu, tu/você, ele/ela, nós, vós/vocês, eles/elas; forma
acusativa, função sintática de complemento direto: me, te, o/a, se, nos, vos, os/as, se;
forma dativa, função sintática de complemento indireto: me, te, lhe, se, nos, vos, lhes,
se; e, por último, a forma oblíqua, dependente da preposição: mim, ti, -, si, -, -, -, si.
Como se constata, no caso oblíquo existem apenas as formas da 1ª e das 2ª pessoas do
singular e a do pronome “se”. Após preposição, utilizam-se as formas nominativas nas
restantes pessoas

(Arsénio, 2018), É notório verificar nas formas acusativa e dativa dos pronomes a
combinação nas contrações mo, ma, mos, mas oriundas da adição entre as formas (me
+ o, a, os, as), to, ta, tos, tas, (te + o, a, os, as) e lho, lha, lhos, lhas (lhe ou lhes + o, a,
os, as). Um fenómeno que os gramáticos designam por apócope do pronome dativo nas
1ª e 2ª pessoas do plural, associada ao pronome acusativo por meio de hífen as formas
no-lo, no-la, no-los, no-las, vo-lo, vo-la, vo-los, vo-las. Consequentemente, quanto à
acentuação, os autores afirmam que os pronomes nos casos nominativos e oblíquos são
tónicos; nos casos acusativos e dativos são átonos. Dessa forma eles podem ser:

 Nominativos
Exemplo: eu, tu, ele…;
 Pronomes oblíquos átonos
Exemplo: me, te, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes,…;
 Pronomes oblíquos tónicos
Exemplo: mim, comigo, ti, contigo, nós, connosco, vós, convosco, ele, ela,
eles, elas

Contudo, é importante conhecer algumas particularidades dos pronomes, com


referência à caracterização elaborada por (Borregana, 2012), que se apresenta no
quadro a seguir, sobre a configuração dos pronomes retos e oblíquos, abaixo
designados:

Quadro 2 – Pronomes pessoais retos e oblíquos (Borregana, 2012, p. 150)


Complemento indireto
Sujeito Complemento Director Sem Com preposição
preposição
1.ª Pessoa eu me me mim
2.ª Pessoa tu me te ti
masculino ele o ele
Singular 3.ª Pessoa se lhe si
feminino ela a ela

1.ª Pessoa nós nos nos nós


2.ª Pessoa vós vos vos vós
Plural masculino eles os eles
3.ª Pessoa feminino elas as se lhes elas se

Pronomes oblíquos átonos são aqueles cuja acentuação tónica é fraca. Eles
apresentam flexão de número, género e pessoa, sendo essa última a principal flexão,
porque marca a pessoa do discurso. Dessa forma, os pronomes oblíquos átonos são
apresentados de acordo com o quadro abaixo designado:

Quadro 3 - Pronomes oblíquos átonos (Borregana, 2012, p. 150)

Pronomes pessoais retos Pronomes pessoais oblíquos átonos


eu me
1.ª Pessoa tu te
Singular 2.ª Pessoa ele, ela o, a, lhe
3ª Pessoa
1.ª Pessoa nós nos,
Plural 2.ª Pessoa vós vos,
3.ª Pessoa eles elas os, as, lhes

O termo oblíquo nem sempre representa apenas a subsessão dos complementos direto
e indireto, mas também dos complementos das preposições, de acordo com a
referência nº 7 da Gramática do Português onde se lê:
Nas gramáticas gregas e latinas, e nas de inspiração clássica em geral, a noção de
“caso oblíquo” é diferente daquela que se usa aqui e noutras gramáticas
contemporâneas. Na gramática clássica, opunha-se o caso nominativo, a que se
chamava o “caso reto” – próprio dos nomes e pronomes com a função de sujeito – a
todos os outros casos (acusativo, dativo, ablativo e genitivo), os quais recebiam o
nome geral de “casos oblíquos”. Modernamente, o termo gramatical “oblíquo” usa-se
com dois sentidos diferentes (embora relacionados), um morfológico e o outro
sintático, ambos adotados nesta gramática. Na aceção morfológica, o termo designa a
forma casual particular que os pronomes tomam quando têm a função de
complemento de uma preposição […] Raposo et al., (2013) citado por (Arsénio,
2018).

Com base no exposto, afirmamos que os pronomes oblíquos tónicos, para além de
serem aqueles cuja acentuação tónica é forte, também podem ser aqueles que em
termos de uso e em todas aceções são sempre precedidas por uma preposição e esta
é a caraterística que os diferenciam dos pronomes oblíquos átonos. Os pronomes
oblíquos tónicos apresentam flexão de número, género (apenas na 3ª pessoa) e
pessoa, sendo essa última a principal flexão, porque marca a pessoa do discurso.
Segundo os autores citados até agora, o quadro dos pronomes oblíquos tónicos é
assim apresentado:

Quadro 4 - Pronomes oblíquos tónicos.

Pronomes pessoais retos Pronomes pessoais oblíquos tónicos


eu mim, comigo
1.ª Pessoa
tu ti, contigo
Singular 2.ª Pessoa
ele, ela ele, ela
3ª Pessoa
1.ª Pessoa nós): nós, connosco
Plural 2.ª Pessoa vós): vós, convosco
3.ª Pessoa eles, elas eles, elas

Os pronomes oblíquos tónicos, como já referimos, sempre acompanham uma


preposição, em geral, as preposições a, para, de e com. Por esse motivo, os pronomes
tónicos exercem a função de objeto indireto da oração63. Observa-se que as únicas
formas próprias do pronome tónico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa
(ti). As demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. A forma contraída
dos pronomes tónicos (comigo, contigo, connosco e convosco) é obrigatória na
construção dos pronomes de 1ª e 2ª pessoas do singular e do plural. A terceira pessoa
do singular e plural, por possuírem uma forma iniciada por vogal (ele, por exemplo),
apresentam-se separadas da preposição "com" (com ele, com elas e etc.). Os
pronomes oblíquos tónicos contraídos (contigo, por exemplo) frequentemente
exercem a função de adjunto adverbial de companhia (ex.: Ele carregava este nome
consigo. Ou, eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos). (Pessoa,
1993) citado por (Arsénio, 2018)

1.7. Formas Especiais do pronome oblíquo

Segundo, (Arsénio, 2018), os pronomes oblíquos apresentam três formas especiais


dentro dos padrões funcionais da língua portuguesa e essas formas favorecem-nos a
compreensão sem perder de vista as funções que exercem na frase. Deste modo,
podemos considerar essas formas especiais como a transformação dos elementos
complementares, direta ou indireta, conforme a posição que venha a ocupar no
contexto frásico de uma aceção.

Neste Sentido, (Filho, 2011) diz que o pronome oblíquo, quando exerce a função de
objeto direto, adquire formas especiais conforme a posição que ocupa na frase. Isso,
porém, só é válido para os pronomes oblíquos de terceira pessoa do singular e do
plural.

No entanto, o autor enfatiza que, quando o pronome oblíquo estiver antes do verbo
(próclise), as formas utilizadas são os padrões: o, a, os, as e quando o pronome
oblíquo estiver depois do verbo (ênclise), as formas do pronome variam de acordo
com o verbo que acompanham.

Neste contexto, segundo (Arsénio, 2018) é necessário prestar maior atenção a duas
situações básicas que comandam as duas terminações verbais que julgamos
representar o maior grau de dificuldade na compreensão deste fenómeno e que
pensamos ser a questão mais do que evidente das controvérsias no uso dos pronomes
clíticos. Contudo, a norma do português europeu é bastante rígida no sentido do uso
da clitização e estabelece parâmetros que não são facilitadores para um falante que
vem com a influência de uma língua com estrutura peculiar no que respeita à
clitização nas posições proclítica e enclítica, em que muitas vezes toma como padrão
a incerteza que remete a ênclise enquanto próclise e a próclise enquanto ênclise e
vice-versa. Nota-se um elevado número de registos de desvios quando se trata da
colocação proclítica.

Neste sentido, o português falado em Angola apresenta esta característica


problemática por ter falantes que suportam traços relevantes das línguas bantu,
apesar de nos centros urbanos haver falantes não escolarizados que procuram
esforçar-se para falar a língua portuguesa com maior grau de dificuldade,
principalmente no que diz respeito à utilização dos pronomes. (Arsénio, 2018)

Concretamente, os gramáticos contemporâneos têm estabelecido várias regras que,


em algumas circunstâncias, ajudam a esclarecer as dúvidas, assim (Arsénio, 2018)
afirma que são quatro as terminações verbais que regem o uso:

I. Verbos terminados em -r, -s ou –z acrescenta-se "-l" antes da forma do


pronome (-lo, -la, -los, -las).
Exemplo:  Todos podiam efetuar o trabalho de forma individual.
a) Todos podiam efetuar-o de forma individual.
b) Todos podiam efetuá-lo de forma individual.

Com base nessas aceções, (Arsénio, 2018) diz que o processo da pronominalização
apresenta vários contornos devido à obediência de alguns pressupostos que exige um
certo conhecimento da matéria. Todavia, torna-se difícil pelo facto de não haver
domínio das regras. Sendo assim, para dar resposta a essa questão é necessário
utilizar o processo da apócope que visa a queda do elemento que constitui o
infinitivo do verbo e atribuir um hífen seguido do pronome de terceira pessoa “lo” na
forma mais canónica. Este facto cabe apenas ao estudante com conhecimento das
regras, pois caso contrário optaria para a alínea a) que menos se ajusta às regras
estabelecidas, no âmbito da colocação dos pronomes em verbos terminados com as
formas não finitas.

II. Verbos terminados em ditongo nasal (-am, -em, -ão e -õe) acrescenta-se "-n"
antes da forma do pronome (-no, -na, -nos, -nas).
Exemplo:  Eles tinham a casa como único património.
a) Eles tinham-a como único património.
b) Eles tinham-na como único património.
Este é um caso similar com o que acontece na frase anterior, pois a diferença neste
campo consiste apenas na adição do pronome clítico “na” na terminação nasal do
verbo. Assim, se quiséssemos continuar a exemplificar, verificaríamos que, de
acordo com a regra estabelecida, tínhamos pouca probabilidade em cometer qualquer
lapso/erro, sobretudo quando se fala de colocação pronominal das formas verbais
terminadas em ditongo nasal. Mas também é necessário que o estudante tenha
domínio das regras para que se torne simples o processo, pois nem sempre se
consegue realizar uma operação linguística se não nos detivermos nos princípios
normativos. Assim, verificam-se muitos atropelos nesse sentido por corresponder a
um padrão que requer um certo conhecimento profundo da matéria e do
acompanhamento de um professor formado na área. (Arsénio, 2018)

III. Verbos terminados em vogal ou ditongo oral, emprega-se as formas (o, -a, -
os, - as).
Exemplo:  A Maria viu o livro
a) Viu-o
b) Ela viu-o
IV. Futuro do indicativo e no condicional, ocorre em mesóclise na forma lo, la,
los, las.
Exemplo:  Eu cantaria uma música a Deus
a) Eu cantá-la-ia a Deus.
b) Eu cantá-la-ei a Deus.

É necessário que cada falante domine os princípios normativos da sua língua. Como
já referimos, os desvios que se registam na norma do português europeu falado em
Angola consistem principalmente na utilização da próclise de maneira desajustada e,
se por um lado há influências das línguas africanas, por outro lado, poderia ser o
facto de não haver uma academia em Angola que se dedique ao estudo mais
aprofundado para a normalização dos fenómenos que ocorrem na língua. (Arsénio,
2018)
1.8. Proposta metodológica para o ensino do uso adequado do pronome pessoal
oblíquo tónico “mim”.

O principal desafio do ensino de gramática continua sendo o de mostrar o seu valor


como um recurso complementar nas atividades de ensino-aprendizagem da Língua
Portuguesa, desenvolvendo a tão almejada competência comunicativa que segundo
Travaglia (2004, p. 209) citado por (Moura, 2015), trata-se da “capacidade ou
habilidade de usar a língua de forma adequada às diferentes situações de interação
comunicativa a fim de produzir, usando textos, os efeitos de sentidos desejados em
cada situação de interação para se comunicar com o outro”. Daí, surge o
questionamento: como os conhecimentos gramaticais poderiam desenvolver essas
competências auxiliando o aluno em situações que envolvam escrita e oralidade?

De uma maneira geral, as aulas de gramática continuam ocupando a maior parte do


tempo das aulas de Língua Portuguesa e as atividades envolvendo leitura e produção
escrita são tratadas como coadjuvantes ao ensino-aprendizagem, e que a única forma
de desenvolver a competência linguística do aluno é fazê-lo entender como a língua
funciona, apresentandolhes conceitos e regras explícitos nos manuais de gramática,
embora, hoje em dia, haja uma menor preocupação com a memorização, as aulas
permanecem priorizando as repetições mecânicas alheias ao uso que os falantes fazem
da língua. (Moura, 2015)

Não podemos deixar, ainda, de citar o papel exercido pelo livro didático nas aulas de
gramática que é usado como suporte e apresenta, de um lado, os procedimentos,
informações, orientações e conceitos teóricos propostos no manual do professor; de
outro lado, os passos metodológicos de como conduzir os temas e conteúdos
trabalhados em cada série. Embora saibamos que os livros didáticos, em sua grande
maioria, ainda priorizam o ensino da norma padrão, enfatizando a norma culta, não
podemos negar que alguns já procuram considerar a variação linguística, apresentando
situações e contextos mais ou menos monitorados de uso da língua. (Moura, 2015)

Portanto a escolha do livro didático se torna de grande relevância, Bagno (2007, p.125-
140) citado por (Moura, 2015), em seu livro Nada na língua é por acaso: por uma
pedagogia da variação linguística, apresenta um roteiro que serve como parâmetro na
hora de selecionar o material que será usado em sala.
O primeiro passo, segundo o autor, é verificar se o livro trata da variação linguística ou
se menciona de algum modo à pluralidade de línguas que existe, em seguida, seria
necessário verificar se esse tratamento é apenas sobre as variedades rurais e/ou
regionais, limitando-se apenas com questões como sotaque e léxico, pois é necessário
que apresente também as variantes características das variedades prestigiadas, como
também, os fenômenos gramaticais. Além disso, é importante constatar se o livro
separa a norma-padrão da norma culta (variedades prestigiadas) ou continua
confundindo a norma-padrão com uma variedade real da língua. Outro aspecto
importante é verificar se o livro mostra coerência entre o que diz nos capítulos
dedicados a variação linguística e o tratamento que se dá aos fatos de gramática ou se
continua, nas outras seções, a tratar do “certo” e do “errado”, apresentando a escrita
como homogênea e a fala como lugar do erro.

As práticas pedagógicas precisam aliar os conhecimentos metalinguísticos a uma


reflexão crítica e contextualizada da língua em uso. “Essa postura respeitosa no trato
das diferenças socioculturais e linguísticas é um compromisso dos professores” (Coan
& Freitag, 2010, p. 180) citado por (Paes & Freitag, 2020). Um ensino eficaz da língua
deve explorar a sua sistematicidade, interatividade e heterogeneidade, ou seja, o tripé
proposto por Vieira (2017) citado por (Paes & Freitag, 2020). Tal prática exige
mudança de postura da escola e dos profissionais de educação.

As aulas de Língua Portuguesa não podem ficar restritas a um universo


homogeneizador da escrita e ao que se chama “norma padrão”, uma vez que, quando
se fala em ‘Língua Portuguesa’ está se falando de uma unidade que se constitui de
muitas variedades” (BRASIL, 1998, p. 29) citado por (Paes & Freitag, 2020). Nessa
perspectiva, a norma, considerada “padrão”, deve ser apreendida apenas como uma das
possibilidades de registro da língua, considerando a noção de adequação e não de
imposição linguística. Os professores de Língua Portuguesa devem buscar uma
aproximação das teorias e estudos linguísticos com a prática linguística dos alunos, a
fim de formar cidadãos capazes de se expressar de modo adequado e competente,
oralmente e por escrito, demonstrando uma verdadeira e efetiva educação linguística.

É importante, portanto, segundo (Moura, 2015), que o ensino de gramática tenha como
objetivo a formação das habilidades cognitivas numa perspectiva mais geral de que a
apropriação do conhecimento está, diretamente, relacionada com o ato de pensar. O
professor, pois, poderia direcionar mais a sua atenção ao processo de ensino-
aprendizagem, criando espaços para que o aluno desenvolva a capacidade de pensar e
construir seu próprio saber.

Vale ressaltar as palavras de Perini (2005, p. 31) citado por (Moura, 2015) sobre os
estudos de gramática:

“O estudo da gramática pode ser um instrumento para exercitar o raciocínio e a


observação; pode dar a capacidade de formular e testar hipóteses; e pode levar a
descoberta de fatias dessa admirável e complexa estrutura que é a língua natural. O
aluno pode sentir que está participando desse ato de descoberta, através da sua
contribuição à discussão, ao argumento, à procura de novos exemplos e contra-
exemplos cruciais para testagem de uma hipótese dada”.

Assim, o autor explica que o ensino de gramática, desde que leve em conta essa
perspectiva, exerce um papel fundamental na formação e melhoria da capacidade
linguística dos alunos e consequentemente oferece um caminho mais seguro para
aprendizagem efetiva de novos conhecimentos.

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