Você está na página 1de 7

https://www.cedesa.

pt/2020/03/13/um-plano-para-combater-o-desemprego/

A situação do desemprego em Angola


Em Setembro de 2019, o Instituto Nacional de Estatística angolano situava a taxa
de desemprego nos 29%[i].  Decompondo esses números, verifica-se que a
realidade subjacente é ainda mais preocupante, pois o desemprego nas zonas
urbanas atinge os 39,3 %, e entre os 15-24 anos de idade está estimada em
53,8%. Não há como ignorar que estes números, mesmo considerando a
imprecisão das estatísticas em Angola, são terríficos e necessitam de uma
especial atenção dos poderes públicos.
Figura n.º 1-Taxas de Desemprego em Angola/Setembro 2019 (Fonte:INE)

Taxa de desemprego global 29%

Taxa de desemprego urbana 39,3%

Taxa de desemprego jovem (15-24) 53,8%

Aos números desanimadores junta-se um valor de inflação elevado, com números


homólogos para Dezembro de 2019 situados nos 16,9%[ii], e uma recessão em termos de
produto. O valor do PIB no terceiro trimestre de 2019 desceu 0,85 em termos
homólogos.
As características do mercado de trabalho e a política governamental

A política governamental parece ser de apostar em medidas conjunturais recomendadas


pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de consolidação fiscal, controlo da dívida e
estabilização macroeconómica, deixando a resolução dos problemas para a actuação do
mercado. Sendo certo que estas políticas têm razão de ser, numa situação como a
angolana não serão suficientes, tornando-se necessária uma visão simultaneamente mais
abrangente e focada, em que as actividades do Estado e do sector privado sejam
complementares e não mutuamente excludentes.
O mercado de trabalho não obedece na sua plenitude às leis puras da oferta e da
procura, contendo variados elementos de rigidez ou das denominadas falhas de
mercado, que tornam necessária a sua correção. Basta lembrar que descer salários é
extremamente difícil ou realizar despedimentos obedece a uma série de
constrangimentos legais. Na verdade, no mundo real os mercados de trabalho raramente
são perfeitamente competitivos. Isso ocorre porque os trabalhadores ou empresas,
geralmente têm o poder de definir e influenciar salários e, portanto, os salários podem
atingir níveis diferentes dos previstos pela teoria clássica. As imperfeições no mercado
de trabalho fazem com que os salários difiram de um equilíbrio competitivo. Como
exemplo dessas imperfeições temos várias situações como o monopsónio, o papel dos
sindicatos, a discriminação, a dificuldade de medir a produtividade, a existência de
empresas ineficientes, imobilizações geográficas ou ocupacionais e má informação.

Assim, torna-se óbvio que o aumento de emprego não é, nem pode ser o resultado do
mero funcionamento do mercado, embora, por outro lado, sem um mercado a funcionar
e uma economia vibrante não haverá uma diminuição do desemprego, por muito esforço
que o Estado faça.
Há assim um equilíbrio entre Estado e empresas privadas que deve ser alcançado na
promoção de trabalho para todos.

O plano para combater o desemprego[iii]

Um plano para combater o desemprego, sobretudo atendendo aos números acentuados


existentes em Angola, tem de ser um plano compreensivo contendo vários aspectos de
colaboração entre Estado e sector privado. Acreditando que só uma economia em
crescimento propulsionada por empresas competitivas será o garante de emprego, a
verdade é que o Estado tem de ter um papel essencial de kick-start (pontapé de saída) na
promoção do emprego.

Vislumbramos um Plano assente em três sectores, nos quais o Estado tem sempre um
papel, embora diferenciado:

 reforma do próprio Estado:A velha máquina pesada deve ser desmontada e


recalibrada, criando-se um Estado ágil, terminando com as acumulações de salários
que se sucedem e com os funcionários fantasmas. O término destes abusos permitirá
admitir uma série nova de jovens que renovarão os quadros do Estado com novas
perspectivas. De facto, a resolução do problema do desemprego começa pela
reforma/reestruturação do próprio Estado e a admissão de quadros não contaminados
pelos vícios do passado. É necessário um programa de reforma e contratação de
jovens no Estado.
 características puramente Keynesianas. Como se sabe John Keynes foi o
economista inglês que nos anos 1930 salvou o capitalismo da derrocada, ao explicar
que em certas circunstâncias, tecnicamente chamadas de equilíbrio em sub-emprego,
era necessário um empurrão do Estado para resolver aquilo que o mercado não
estava a conseguir solucionar. É evidente que esse empurrão é necessário aqui e
agora em Angola. Keynes até defendia que em último caso se poderia contratar
pessoas para abrir e tapar buracos de seguida. Em Angola não é necessário tal, uma
vez que já há muitos buracos abertos, basta contratar alguém para os tapar. Em rigor,
é necessário um programa de obras públicas, construção de infra-estruturas e
melhoria das condições de vida da população que necessite obrigatoriamente de
contratar mão-de-obra nacional.

Consequentemente, além da reforma do Estado e da contratação de novos quadros é


fundamental criar um plano geral de actividades do Estado que necessite de mão-de-
obra adicional a ser contratada.

 É no terceiro ponto que entra uma acentuada parceria entre o Estado e o sector
privado. O Estado deve fomentar o empreendedorismo, criando condições para
surgirem empresários. Na verdade, é no papel do empresário e na sua capacidade de
inovação, como assinalou Schumpeter, que reside o fundamental do
desenvolvimento económico. Mas para aparecerem empresários é necessário, pelo
menos, o acesso ao crédito e um sistema bancário a funcionar, bem como formação
profissional dos jovens. Nestes aspectos também o Estado tem um papel a
desenvolver.

Em nosso entender, as condições para combater o desemprego e fomentar o


empresariado são as três que acabámos de expôr e que exigem muito mais do Governo
do que aquilo que está a ser afirmado.
Taxa de desemprego abranda no
segundo trimestre para 30,2%
JA Online

A taxa de desemprego em Angola registou, no segundo trimestre de 2022, uma


ligeira descida em termos homólogos, para 30,2%, diminuição que foi também
observada na população entre os 15 e 24 anos.

15/08/2022  ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO 22H25
 
 

© Fotografia por: DR | Arquivo

Segundo o inquérito ao emprego do Instituto Nacional de Estatística de Angola


(INE), a taxa de desemprego na população com 15 ou mais anos foi estimada
em 30,2% entre Abril e Junho de 2022, menos 1,5 pontos percentuais do que
no período homólogo de 2021, correspondente a menos 46.682
desempregados.

Em termos trimestrais, observou-se uma diminuição de 0,6 pontos percentuais


face ao trimestre anterior (30,8%) e menos 82.511 desempregados

https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/taxa-de-desemprego-abranda-no-segundo-
trimestre-para-30-2/.

https://www.dw.com/pt-002/angola-falar-de-desemprego-%C3%A9-falar-

de-instabilidade-social-e-pol%C3%ADtica/a-61335129

Angola: "Falar de
desemprego é falar de
instabilidade social e política"
O alerta é de um dos jovens angolanos desempregados ouvidos pela DW.
Em ano de eleições, jovens de Ndalatando dizem estar cada vez mais
descontentes com as "políticas falhadas" do Executivo em vários setores.
    

Protesto em Ndalatando contra o governo, outubro de 2021


Valéria Americano tem 25 anos e está desempregada. É o marido que a sustenta,
bem como ao filho. À DW, a jovem afirma que esta é uma situação humilhante e
acrescenta: "o fenómeno do desemprego acaba por afetar de maneira direta as
mulheres. Não é que os homens não sofram com o índice do desemprego, mas
acabamos por nos tornar mais lesadas".
A ativista política diz que as famílias angolanas vivem em extrema pobreza. E que
mais uma vez há uma agravante para as mulheres: "a maioria dos filhos são
educados apenas pelas mães, porque o fenómeno do desemprego faz com que
muitos pais acabem por abandonar os seus lares".
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), 52% da população
angolana são mulheres, sendo também elas mais afetadas pelo desemprego do que
os homens.

Por falta de oportunidades de emprego, Joaquim Lutambi depende da ajuda da família para
sobreviver
Os jovens estão também entre os mais afetados, de acordo com o INE. Dos cerca de
33% de desempregados em Angola, 75% são jovens.
Joaquim Lutambi, ativista angolano, é um deles. Por falta de oportunidades de
emprego, depende de pequenos trabalhos e da ajuda da família para sobreviver. 
"Na verdade resistimos, nós sobrevivemos com o nosso próprio esforços lutando,
fazendo um biscate aí, biscate aqui, é a forma de não morrermos no dia seguinte.
Também estamos aqui falar de ajuda de familiares que quando não conseguimos
nos dão uma gorjetazinha para comprar uma fubá", conta.
Falta de visão governativa
Joaquim Lutambi diz ainda que, na sua opinião, "falar de desemprego é falar de um
fator de instabilidade social e instabilidade política". "A incompetência governativa.
Temos muita mão de obra formada, licenciados, ensino médio concluído, mas que
não têm emprego. Então, é uma questão de falta de visão governativa", frisa.
Com as eleições gerais à porta, o ativista cívico espera ver o Movimento Popular de
Libertação de Angola, MPLA, desalojado do poder:
"O meu sonho é não morrer sem ver o MPLA na oposição. Acho que é a ansiedade
de todo e qualquer jovem angolano. Não espero nada do programa de governo do
MPLA porque não trará nada de novo na minha vida".
Recentemente, os jovens afetos ao Movimento de Estudantes Angolanos no Kwanza
Norte saíram à rua para protestar contra o elevado índice de desemprego e
apontaram o dedo ao Governo do MPLA, que dizem ser o responsável pelas
políticas públicas falhadas e a falta de oportunidades.
Angola: "O meu voto vai para a juventude e
não para os mais velhos"
LEIA MAIS

Angola: Desemprego leva jovens a fazer apostas desportivas


Desemprego e baixos salários são os principais motivos para as apostas desportivas. São
sobretudo jovens e mulheres que usam as casas de apostas numa tentativa de aumentar os
rendimentos.  

Governo de Angola aprova incentivos à contratação de desempregados e jovens


Desempregados, jovens e cidadãos portadores de deficiência são abrangidos pelos
incentivos aprovados pela Comissão Económica do Conselho de Ministros de Angola, entre
outras medidas de apoio à retoma da economia.  
Bispos criticam "ambiente sombrio e nefasto" em Angola
Os bispos católicos alertam para um "perigoso" vazio de diálogo entre governantes e
governados. Apelam ainda à Comissão Nacional Eleitoral que garanta a verdade e a
transparência nas eleições gerais de agosto.  

 Data 03.04.2022
 Autoria António Domingos (Ndalatando)
 Assuntos relacionados Eleições em Angola de 2022, João Lourenço, Eleições de 2017
em Angola, Eleições em Cabo Verde, Eleições na Guiné-Bissau, General
"Kopelipa", Manifestação, 27 de maio de 1977 , Eleições em Moçambique, Eleições em São
Tomé e Príncipe
 Palavras-chave Angola, Ndalatando, INE, Instituto Nacional de
Estatística, desemprego, desemprego jovem, Mulheres, Governo
angolano, eleições, eleições
presidenciais, MPLA, presidenciais, protestos, manifestação, instabilidade
política, instabilidade social
 Feedback : Envie seu comentário!
 Imprimir Imprimir a página
 Link permanente https://p.dw.com/p/49M4H

 Data 03.04.2022
 Autoria António Domingos (Ndalatando)
 Assuntos relacionados Eleições em Angola de 2022, João Lourenço, Eleições de 2017
em Angola, Eleições em Cabo Verde, Eleições na Guiné-Bissau, General
"Kopelipa", Manifestação, 27 de maio de 1977 , Eleições em Moçambique, Eleições em São
Tomé e Príncipe
 Palavras-chave Angola, Ndalatando, INE, Instituto Nacional de
Estatística, desemprego, desemprego jovem, Mulheres, Governo
angolano, eleições, eleições
presidenciais, MPLA, presidenciais, protestos, manifestação, instabilidade
política, instabilidade social
 Envie seu comentário!
 Imprimir Imprimir a página
 Link permanente https://p.dw.com/p/49M4H

 NOTÍCIAS
 Angola
 Moçambique
 Guiné-Bissau
 Cabo Verde
 São Tomé e Príncipe
 Internacional
 Especiais
  
 Destaques de A a Z
 MEDIATECA
 Ao vivo
 Todo o conteúdo
 RÁDIO
 APRENDER ALEMÃO
 EXPLORE A DW
 App para Telemóveis
 Newsletter
 Podcast e Feed RSS
 Redes Sociais
 Quem Somos
© 2022 Deutsche Welle | Proteção de dados | Declaração de Acessibilidade | Expediente | Contato | Versão para
celular

Você também pode gostar