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Resumo: O presente estudo procura desconstruir a figura do cash pooling, por forma a per-
ceber se este tipo de operações financeiras são, ou não, tributadas em sede de imposto do selo.
Para isso, não poderíamos deixar de abordar a génese deste imposto, para compreender a sua
ratio legis ao prever a tributação das operações financeiras. Para nos auxiliar no desenvolvimento
deste tema, analisaremos uma situação concreta, através do acórdão do CAAD no processo n.º
76/2013-T.
Sumário: 1. Introdução. 2. O cash pooling e a atividade financeira das empresas – breve en-
quadramento jurídico. 3. O imposto do selo e a tributação das operações financeiras. 4. Acórdão
do CAAD no processo n.º 76/2013-T; 4.1. A questão controvertida; 4.2. A questão jurídica: o
preenchimento dos pressupostos da isenção. 5. Conclusões.
1. Introdução
Acontece, porém, que este caso é muito mais do que uma mera questão de
preenchimento ou não de pressupostos de um preceito legal, pois um aprofun-
damento da questão faz-nos refletir sobre variadas temáticas em volta do imposto
do selo – desde a sua génese, por forma a perceber qual o seu objeto e qual o seu
objetivo, mas também sobre a tributação das operações financeiras.
De facto, a tributação das operações financeiras já é, por si só, problemática
(levantando mesmo questões ao nível da sua constitucionalidade), sendo a tribu-
tação da operação financeira frequentemente denominada de cash pooling especi-
ficamente mais questionada.
Esta incidência do imposto neste tipo de operações financeiras, bem como as
isenções de que podem beneficiar, faz com que a relevância prática da discussão
seja imensa devido às repercussões jurídico-económicas que podem originar e na
forma que podem influenciar em como os sujeitos passivos do imposto tomam as
suas opções de natureza financeira.
Tendo em conta a problemática de enquadramento jurídico-financeiro do re-
ferido conceito, propomo-nos inserir o cash pooling nas operações financeiras tri-
butadas em sede de imposto do selo e a analisar a sua legalidade. Para isso, deve-
mos, num primeiro momento, desmistificar o conceito de cash pooling, percebendo
quais as operações financeiras que estão aqui em causa – qual o facto tributário –
e quais os sujeitos da relação jurídica tributária aqui envolvidos.
Para a compreensão do problema, propomo-nos tratar, ainda, do imposto do
selo, abordando a sua génese do mesmo, por forma a compreender a sua ratio legis
ao prever a tributação das operações financeiras.
Não menos importante do que contextualizar as operações financeiras vul-
garmente denominadas de cash pooling, será perceber qual o enquadramento ju-
rídico das mesmas no âmbito do imposto do selo, bem como as isenções a que
podem ser sujeitas.
Só depois desta análise, estaremos elucidados para podermos analisar o referido
acórdão e a situação fáctica, bem como a questão jurídica que lhe está subjacente.
O que hoje podemos encontrar como assuntos na ordem do dia é, sem qual-
quer margem para dúvida, a redução dos custos das empresas, aliada a uma ges-
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tão cada vez mais eficiente dos recursos. Ora, para isso a gestão de tesouraria e a
redução dos custos operacionais, combinado com uma rentabilização dos saldos
disponíveis, são as principais vantagens associadas aos sistemas de cash pooling.
Neste sentido, o sistema de gestão centralizada de tesouraria (frequentemente
apelidado de cash pooling) funciona como uma estrutura que procura a viabiliza-
ção da otimização dos recursos disponíveis e a redução dos custos1. Para isso, um
grupo de empresas, titulares de diferentes contas bancárias, unem-se por forma
a consolidar saldos devedores e credores, transformandos-o num saldo único do
grupo empresarial, junto de apenas uma instituição financeira. Assim, o grupo
de sociedades, por um lado, reduz os seus custos e potencia os ganhos, como já
foi referido, mas ainda, por outro lado, aumenta a sua capacidade negocial junto
das instituições financeiras e melhora os resultados financeiros do grupo, pois são
afetados saldos positivos da tesouraria para cobrir défices e necessidades de te-
souraria de uma sociedade dominada do mesmo grupo.
Estar integrado num sistema de cash pooling é ver os seus saldos positivos, com
uma frequência quase diária, serem transferidos para uma conta-mãe (conta esta ti-
tulada pela empresa dominante, onde as restantes empresas dominadas alimentam
com os seus saldos diariamente), e ver, ainda, todas as suas despesas suportadas
pela conta da empresa dominante. Com esta concessão de fundos das sociedades
dominadas do mesmo grupo para a sociedade dominante há uma devolução de
juros, normalmente com taxas bem mais apelativas do que qualquer instituição ban-
cária poderia oferecer. Por um lado, as empresas dominadas inseridas num sistema
de gestão centralizada de tesouraria conseguem ter rentabilidade e, por outro lado,
liquidez (no sentido de disponibilidade de recursos). Destarte, essas empresas do-
minadas vêm as suas despesas com os juros associados a contas devedoras reduzidos
(pois os seus saldos estão quase sempre, no final do dia, a zero), bem como os juros
com as contas a descoberto também se mostram reduzidos. Há um reforço das de-
monstrações financeiras da empresa, revelado pela redução do nível de empréstimos
bancários, o que traz um aumento da sua capacidade negocial com a banca, bem
como um reforço do atrativo do grupo de sociedades junto dos mercados de capitais.
Aqui, podemos deparar-nos com duas estruturas diferentes de gestão centra-
FONSECA SANTOS, Estruturas de “cash pooling”, uma forma alternativa de valorizar recursos, artigo da socie-
dade de advogados Miranda Correia Amendoeira & Associados, 2010.
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Apelamos à definição de notional cash pooling desenvolvida pelo Dr. José Fernando Abreu Re-
bouta na sua tese de mestrado e já citada pelo CAAD no acórdão proferido no âmbito do processo n.º
55/2012-T, que nos diz que a uma fusão virtual de saldos de contas para o cálculo de juros, ou seja, os fundos
não são movidos mas a instituição financeira (o Banco) combinará os saldos das diferentes contas bancárias e co-
brará/pagará juros pelo somatório agregado dos saldos. (…) Este relacionamento é possível pelo estabelecimento
de relações “mães-filhas” das diferentes contas bancárias com a conta bancária “mãe”, que assume um papel vir-
tual – cfr. JOSÉ FERNANDO ABREU REBOUTA, Contextualização Fiscal da Gestão Centralizada de Tesouraria
(cash pooling) em ambiente internacional, Faculdade de Direito da Universidade do Porto, Outubro de
2005, p. 4, disponível em www.cije.up.pt/download-file/129.
3
Cfr. DANIELA DIAS NEVES GERALDES, Cash Pooling em Portugal. Desafios jurídico-fiscais, Lisboa, Fa-
culdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, 2014, disponível em http://repositorio.ucp.pt/bi-
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tstream/10400.14/20171/1/Tese%20Cash%20Pooling%20em%20Portugal%20desafios%20juridico-
fiscais_20140830.pdf.
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Para uma maior clareza na distinção entre instituições de crédito e sociedades financeiras, veja-
-se o art. 6.º do Regime Geral, com a redação introduzida pelo DL n.º 157/2014, de 24/10, e consulte-
-se a Instrução do Banco de Portugal n.º 4/96 de 17/6, que veio a ser alterada pela Instrução n.º
48/2012, disponíveis em http://www.bportugal.pt/sibap/application/app1/pesqman.asp?PVer=P. A referida
Instrução do Banco de Portugal vem, ainda, acrescentar que as sociedades financeiras não podem re-
ceber depósitos nem outros fundos mobilizáveis do público.
5
Cfr. o art. 13.º do Regime Geral das Instituições de Crédito e das Sociedades Financeiras foi re-
vogado pela alteração ao Regime Geral através do DL n.º 157/2014.
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Perante este quadro legal tendente à regulação das operações de cash pooling,
não é de difícil perceção de quão deficitário este se revela, apenas se concluindo
que estas operações são lícitas, desde que os seus atores estejam enquadrados
numa relação de domínio ou de grupo. Destarte, e prevenidos sobre a complexi-
dade deste tipo de operações financeiras e a mutação constante do mercado fi-
nanceiro em busca do lucro – aliado a uma globalização das operações –, torna-se
cada vez mais urgente o legislador debruçar-se sobre estas questões, tendo em
vista a criação de um regime jurídico específico6 e que, com isso, venha a resolver
os inúmeros problemas que estas novas formas de gestão centralizada de tesou-
raria acarretaram consigo para o campo fiscal. Quer ao nível da fraude ou da eva-
são fiscal, quer ao nível da correta submissão de determinadas operações à
incidência dos devidos impostos (como é o caso do imposto do selo), a definição
legal e o seu enquadramento reclama urgência, cabendo, para já, à jurisprudência
proceder à sua delimitação e à interpretação teleológica das normas por forma a
fazer face aos desafios que o mercado proporciona ao universo jurídico.
6
Atente-se o exemplo francês, que prevê disposições específicas tanto sobre a regulamentação
monetário-financeira como ao nível do regime aplicado às sociedades comerciais, exigindo, ainda,
uma especial atenção na estruturação dos contratos de gestão centralizada de tesouraria para se mi-
nimizarem os riscos relativos a quaisquer tipo de responsabilidades que possam advir. A este propó-
sito, cfr. Delloite Economists’ Debt Pricing Group, In Practice – Transfer Pricing Implications of Cash
Pooling Structures, Tax Management Pricing Report – Arlington, vol. 20, IBFB, 2012, p. 798.
7
O Imposto do Selo foi criado por alvará datado de 24/12/1960, tal como se depreende do preâm-
bulo introduzido pelo DL n.º 278/2003, de 12/11.
8
Sobre o enquadramento histórico do imposto do selo e a sua natureza, veja-se JOSÉ MARIA FER-
NANDES PIRES, Lições de impostos sobre o património e do selo, Almedina, 2.ª ed., 2013, pp. 421 e segs.
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SALDANHA SANCHES, ANSELMO TORRES, “A incidência de Selo sobre o trespasse de estabeleci-
mento”, Revista de Fiscalidade, 32, disponível em http://www.saldanhasanches.pt/Selo_trespasse.pdf.
10
Como se pode aferir do Preâmbulo introduzido pelo DL n.º 287/2003, que revê o Código do
Imposto do Selo e procede à sua republicação.
11
CARLOS BAPTISTA LOBO, “As operações financeiras no Imposto do Selo: enquadramento consti-
tucional e fiscal”, in Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal, ano I, n.º 1, Edições Almedina, Prima-
vera-2008, pp. 73 e segs.
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12
SILVÉRIO MATEUS e CORVELO DE FREITAS, Os impostos sobre o património imobiliário – o imposto do
selo, Engifisco, 2005, p. 733.
13
CARLOS BAPTISTA LOBO, “As operações financeiras no Imposto do Selo: enquadramento consti-
tucional e fiscal”, cit., pp. 73 e segs.
14
Afigura-se importante, no âmbito do cash pooling, não esquecer a incidência objetiva do imposto
sobre os juros e comissões cobrados por ou com intermediação de instituições de crédito e sociedades
financeiras, presente também na verba 17 da TGIS mas que, por uma questão de brevidade e do
mesmo não suscitar tantos problemas jurídicos como o primeiro caso, não iremos abordar.
15
Circular da AT n.º 15/2000, de 5/7.
16
Cfr. verba 17.1 da TGIS, com a redação dada pela Lei n.º 12-A/2010, de 30/6, disponível em
http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/codigos_tributarios/selo/ccod_selo_tabgiselo.htm.
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igualdade perante a lei, como se defendia há uns séculos atrás). Este princípio
acarreta uma dimensão, por um lado, de universalidade – o que significa que
todos os cidadãos se encontram adstritos a pagar impostos – e uma dimensão que
se pauta pela uniformidade, por outro lado – que este dever seja aferido pelo
mesmo critério, o critério da capacidade contributiva. Na aplicação deste critério
uniformizador, a consequência prática é simples: igual imposto para os que dis-
põem de igual capacidade contributiva e diferente imposto para os que dispõem
de diferente capacidade contributiva, na medida dessa diferença17. Desta forma,
a capacidade contributiva constitui o pressuposto e o critério da tributação18, encontrando
acolhimento na Lei Geral Tributária (LGT), ao dispor, no n.º 1 do seu art. 4.º, que
os impostos assentam essencialmente na capacidade contributiva revelada através
do rendimento ou da sua utilização e do património.
Então, devemos olhar para a capacidade contributiva que estar integrado nes-
tes sistemas de gestão centralizada de tesouraria nos dá, para pensarmos nesta
como pressuposto e critério da tributação. O problema encontra-se, desde logo,
em olharmos para as vantagens a longo prazo que o cash pooling traz para uma
sociedade como uma efetiva e real manifestação de capacidade contributiva que
possa servir de pressuposto à tributação.
CARLOS BAPTISTA LOBO, quando indaga sobre a manifestação da capacidade
contributiva na utilização do crédito, apelida esta capacidade contributiva de vir-
tual ou aparente19, por considerar que o sujeito passivo de imposto beneficia de um
aumento da sua capacidade contributiva momentâneo, sendo a sua situação pas-
siva colateral, isto é, os encargos que terá de suportar com a dívida, pulverizada
num determinado período de tempo.
Ter uma gestão centralizada de tesouraria pode ser, tão-somente, isso: num
grupo de sociedades existe uma sociedade que é responsável pela gestão dos flu-
xos monetários. Mas o que por muitos pode ser interpretado como uma questão
de organização e de redução de custos fixos num grupo societário, pelo legislador
foi interpretado como uma manifestação de capacidade contributiva. Quando há
17
Para mais desenvolvimentos sobre o princípio da igualdade fiscal, cfr. JOSÉ CASALTA NABAIS,
Direito Fiscal, Almedina, 7.ª ed., 2012, pp. 155 e segs.
18
JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, cit., p. 156.
19
CARLOS BAPTISTA LOBO, “As operações financeiras no Imposto do Selo: enquadramento consti-
tucional e fiscal”, cit., pp. 73 e segs.
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De notar o regime especial das Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS) previsto
pelo DL n.º 495/88, de 30/12, sucessivamente alterado, que prevê isenções de imposto do selo às ope-
rações financeiras com prazo não superior a um ano, destinadas exclusivamente à cobertura de ca-
rências de tesouraria entre SGPS e sociedades em que se estabelece uma relação de domínio ou de
grupo [cfr. n.º 2 do art. 1.º e nas alíneas b) e c) do n.º 3 do art. 3.º do referido diploma].
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CARLOS BAPTISTA LOBO, “As operações financeiras no Imposto do Selo: enquadramento consti-
tucional e fiscal”, cit., pp. 73 e segs.
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A este propósito, vejam-se os Acórdãos do Tribunal Constitucional n.os 634/93, 187/2001 e
632/2008, que desenvolvem o princípio constitucional da proporcionalidade e a vinculação de todos
os poderes públicos ao mesmo.
23
Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 632/2008, cit.
24
Apoiando-nos no texto do já referido acórdão do Tribunal Constitucional n.º 187/2001, o prin-
cípio da proporcionalidade desdobra-se em três subprincípios:
1. Princípio da adequação (as medidas restritivas de direitos, liberdades e garantias devem revelar-se como
um meio para a prossecução dos fins visados, com salvaguarda de outros direitos ou bens constitucionalmente
protegidos);
2. Princípio da exigibilidade (essas medidas restritivas têm de ser exigidas para alcançar os fins em vista,
por o legislador não dispor de outros meios menos restritivos para alcançar o mesmo desiderato);
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3. Princípio da justa medida ou proporcionalidade em sentido estrito (não poderão adoptar-se medidas ex-
cessivas, desproporcionadas para alcançar os fins pretendidos).
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Cfr. art. 103.º da CRP, que nos diz que o sistema fiscal visa a satisfação das necessidades finan-
ceiras do Estado e outras entidades públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza.
26
Para aprofundamento desta temática, veja-se JORGE REIS NOVAIS, Direitos Sociais: Teoria Jurídica
dos Direitos Sociais enquanto Direitos Fundamentais, 1.ª ed., Coimbra Editora, 2010.
27
Relembramos, a este propósito, que sempre que estejam em causa juros e comissões no âmbito
da realização de operações financeiras realizadas por sujeitos passivos de Imposto sobre o Rendimento
das Pessoas Coletivas, por um lado, ou se entenda terem sido obtidos em Portugal, por outro, serão
rendimentos ou gastos considerados ao nível do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas.
28
Corroborando a posição de Peter Lerche ao utilizar este termo, por se revelar mais abrangente.
29
Para um aprofundado desenvolvimento deste critério, veja-se JORGE REIS NOVAIS, As restrições
aos Direitos Fundamentais não expressamente autorizadas pela Constituição, Coimbra Editora, 2.ª ed., 2010,
pp. 765 e segs.
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N.º 1 e alínea b) do n.º 2 do art. 4.º do CIS.
31
Alínea f) do n.º 3 do art. 3.º do CIS.
32
Ou ainda, se o crédito for utilizado sobre alguma forma em que o prazo não seja determinado
nem determinável, no último dia de cada mês, conforme a alínea g) do n.º 1 do art. 5.º do CIS.
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prova da existência dos factos tributários em que assentou a liquidação adicional impug-
nada. Assim sendo, tendo a Administração verificado, através do exame à escrita, a exis-
tência de inexatidões ou omissões na declaração do impugnante, tem de ter-se por fundada
a liquidação adicional, já que àquela apenas cumpria fazer a prova da verificação dos res-
petivos indícios ou pressupostos da tributação, isto é, dos pressupostos legais da sua atua-
ção. Tendo efetuado uma transação intracomunitária que beneficia de isenção, cabia à
impugnante provar a existência dos factos tributários que alegou como fundamento do seu
direito, ou seja, a existência da alegada transmissão intracomunitária. Ou seja, o STA
decide com base na repartição do ónus da prova pela Administração Tributária e
pela requerente, cabendo a cada uma a prova da existência dos factos tributários
que alegam para fazerem valer os seus direitos.
Assim, não nos restam dúvidas em afirmar que cabia à requerente a prova
dos pressupostos da isenção de imposto do selo, e mais concretamente, a prova
de que as operações financeiras sobre que incide o imposto do selo se destinam,
exclusivamente, à cobertura de carências de tesouraria.
Como já tivemos oportunidade de referir, a requerente assenta toda a sua ar-
gumentação no entendimento de que, por natureza, tais operações se devem con-
siderar isentas, dado a existência do contrato de gestão de operações de tesouraria,
do qual decorreria que as operações levadas a bom porto no âmbito deste contrato
seriam exclusivamente destinadas à cobertura de carências de tesouraria. Sobre
esta questão em particular, considerou o Tribunal que o contrato é uma mera
forma jurídica, podendo ou não ter adesão com a realidade, até porque o mesmo
nada dispõe acerca da situação de tesouraria da requerente aquando do início da
sua vigência (o que seria relevante para demonstrar se aquele contrato foi acor-
dado devido às carências de tesouraria que a empresa dominada ultrapassava).
Assim, considera o Tribunal que a mera existência deste contrato de gestão
de operações de tesouraria na ordem jurídica não basta para demonstrar que os
pressupostos da isenção se verificam, efetivamente, na realidade.
Mas, ainda assim, a Administração Tributária aceitou que uma parte
substancial das operações realizadas no âmbito do contrato de gestão de opera-
ções de tesouraria estariam isentas de imposto do selo, pelo que anulou parte da
liquidação em sede de reclamação graciosa.
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5. Conclusões
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