Você está na página 1de 9

4.

As Contas

4.1 Noção de Conta

Em cada massa patrimonial, os respectivos elementos podem ser agrupados em


diversos subconjuntos com determinadas características comuns e específicas, de acordo com
a sua natureza e/ou função que desempenham na empresa. São precisamente esees
subconjuntos que se designam por conta.

Assim a Conta é um conjunto de elementos patrimoniais com determinadas caracter


´siticas comuns e específicas.

Deste modo, e por exemplo, formarão um conjunto diferenciado, ou uma conta, todas
as dívidas a receber originadas pela venda a prazo de existências. E, naturalmente, cada conta
será designada por um título que dá a conhecer a natureza e/ou função dos elementos nela
agrupados. Nesta ordem de ideias, a conta que reúne todas aquelas dívidas a receber poder-se-
á intitular «Dívidas de Clientes» ou, mais simplesmente, «Clientes», pois este termo é
suficiente para caracterizar os elementos agrupados na conta ( as dívidas dos clientes, pela
venda a prazo de existências ).
Então, não terá dificuldades em saber quais são os elementos agrupados na conta
«Fornecedores » - todas as dívidas a pagar a fornecedores, originadas pela compra a prazo de
existências, claro.

4.2 Compreensão e Extensão

Em qualquer conta haverá sempre a considerar os seus aspectos qualitativo e


quantitativo, ou seja, a sua compreensão e a sua extensão.

A compreensão de uma conta é determinada pelas características comuns e


específicas dos elementos nela agrupados, devendo ser evidenciada, o mais claramente
possível, pelo título dessa conta.

Entende-se por extensão o valor da conta, expresso em unidades menetárias.


O valor duma conta é essencialmente variável, pois a sua extensão inicial aumenta e
diminui com as operações e acontecimentos da vida da empresa, ou seja, com os factos
patrimoniais.

32
4.3 Representação Gráfica

Numa perspectiva prática, associamos a conta num aspecto gráfico em que os


elementos patrimoniais aparecem inscritos num quadro. Uma das mais populares e úteis
representações da conta é o chamado “T”, que se apresenta no exemplo seguinte:

Débito Caixa Crédito


Entrada de Capital 5.000.000 Pagamento de Renda 50.000
Serviços Prestados 150.000 Compra de Viatura 2.000.000
Compra de Computador 500.000
Pagamento de Salários 60.000

Como se vê, temos um total de 5.150.000 no lado esquerdo ou débito, que


corresponde às entradas de dinheiro, e um total de 2.610.000, no lado direito, ou crédito, que
corresponde às saídas de dinheiro. A diferença entre o débito e o crédito, denomina-se saldo
e corresponde ao valor (ou extensão) da conta. Neste exemplo o saldo é de 2.540.000 e
corresponde ao dinheiro existente em cofre.

4.4 Classificação e caracterização das contas

Numa conta existem dois elementos fundamentais. O título que define o âmbito dos
elementos englobados na conta, no nosso exemplo – Caixa – e a sua extensão que varia
continuamente de acordo com as transacções efectuadas.

Os requisitos essenciais de uma conta são:

Homogeneidade:
Uma conta só pode incluir os elementos que obedecem à característica comum que
ela abrange. Por exemplo a dívida de um cliente é registada na conta de Clientes que
serve para registar essas dívidas e não na conta Caixa onde se regista o dinheiro
existente na empresa.

Integralidade:
Todos os elementos com a característica definida devem ser incluídos na conta.

As contas podem distinguir-se de acordo com a natureza dos seus saldos:

33
Saldo devedor:
Quando o débito é superior ao crédito. As contas dos bens Activos têm saldo devedor.
Saldo nulo:
Quando o débito é igual ao crédito.
Saldo credor:
Quando o crédito é superior ao débito. As contas do Passivo têm saldo credor.

4.5 Métodos de registo contabilístico

Os registos das transacções efectua-se nas contas, debitando-as e creditando-as mas


de tal modo que a equação do balanço permaneça válida.
Para isso é necessário que os movimentos a débito sejam iguais aos movimentos a
crédito.
É esta a essência do chamado método digráfico cuja autoria é atribuída ao frade
franciscano Luca Paccioli que o teria descrito numa obra publicada no século XV.
Vejamos agora como as mesmas transacções podem ser registadas utilizando as
contas respectivas.
Supondo iniciar o negócio com 5.000.000, que poderemos considerar corresponde à
abertura da escrita. As contas envolvidas são Caixa para registar o dinheiro, uma conta do
Activo, e a conta de Capital, uma conta da Situação Líquida. Ambas as contas aumentam na
extensão em 5.000.000 devendo a Caixa ser debitada e o Capital creditado por igual
montante.

Esquematicamente utilizando os “tês”.

D Caixa C D Capital C
(1) 5.000.000 (1) 5.000.000

Tomando por base a equação do Balanço e os conceitos de débito e crédito como


definidos anteriormente, estabelecem-se as regras de movimentação de contas, como segue:

34
Activo = Passivo + Situação Líquida
Débito Crédito Débito Crédito Débito Crédito
Custos ( + ) Proveitos(+
)
Aumento Diminuiçõe Diminuções Aumentos Prejuízos Lucros
s s

O conhecimento destas regras é fundamental para o técnico contabilista proceder a


movimentação das contas. Vejamos seguidamente como tal se processa com o pagamento da
renda do escritório.
O primeiro passo na execução dos registos nas contas consiste em analisar
cuidadosamente qual ou quais os factos patromoniais subjacentes e identificar as contas que
deverão ser alteradas.
No caso do pagamento da renda verifica-se em primeiro lugar a saída de 50.000 do
dinheiro existente. Este resgista-se na conta Caixa, pelo que esta é a primeira a ser efectuada
tendo diminuído de extensão, pelo que sendo uma conta do Activo e considerando as regras
de movimentação deve ser creditada. Por outro lado, o pagamento da renda traduz-se na
assumpção de um custo ou seja de facto uma diminuição da situação líquida, e que se deve
registar numa conta subsidiária de resultados, Outros Custos, a qual deve ser debitada. Em
esquema temos:

Contas Natureza Montante Movimento


Caixa Activo 50.000 Diminui - C
Outros Custos Sit. Liquida Passiva 50.000 + Custos - D

Pelo que a nova situação é:

D Caixa C D Capital C D Outros Custos C


(1)5.000.000 (2) 50.000 (1)5.000.000 (2) 50.000

No caso das contas da Situação Líquida pode facilitar-se o raciocínio distinguindo as


contas onde se registam os aumentos da mesma situação líquida a que poderemos chamar de
contas de lucros ou contas de situação liquida activa. Estas contas são creditadas pelos
aumentos e debitadas pelas diminuições.

35
As contas onde se registam as diminuições da situação líquida a que poderemos
chamar contas de prejuízo ou de situação líquida passiva, são debitadas pelos aumentos ( dos
prejuízos ) e creditadas pelas diminuições ( dos prejuízos ).

As regras de movimentação de contas são em resumo:

Contas do Activo
Debitam-se pelos aumentos e creditam-se pelas diminuições
Contas do Passsivo
Debitam-se pelas diminuições e creditam-se pelos aumentos
Contas da Situação Líquida Passiva ( Custos e prejuízos )
Debitam-se pelos aumentos ( mais custos ou mais prejuízos ) e creditam-se pelas
diminuições ( menos custos ou menos prejuízos )
Contas da Situação Liquida Activa ( proveitos ou lucros )
Debitam-se pelas diminuições ( menos proveitos ou menos lucros ) e creditam-se
pelos aumentos ( mais proveito ou mais lucros ).

4.6 Contas Colectivas, Divisionárias e Singulares

As contas definem-se pelo seu título, que resume o âmbito dos elementos
patrimoniais por elas abrangidas. Ora este âmbito, pode ser mais alargado ou mais restrito
podendo contas de âmbito mais restrito ser agrupadas em contas com âmbito mais alargado.

Por exemplo os depósitos no Banco Austral são registados na conta Banco Austral,
enquanto os que se encontram no Banco Internacional se registam no Banco Internacional.
No caso do âmbito da conta ser os depósitos bancários independentemente do banco
em que se encontram, temos então a conta Depósitos à Ordem, que engloba as duas
anteriores.
Temos assim contas elementares, como as duas primeiras, e contas complexas,
colectivas ou gerais. As contas que são sub-divisões de contas chamam-se sub-contas ou
contas divisionárias. Por vezes a relação entre as contas mais gerais, e as elementares
exprime-se pelo grau. Assim dizem-se contas do segundo grau e, sucessivamente, terceiro,
quarto, etc.
Como é evidente o valor (saldo) de uma conta geral é igual à soma dos saldos das
contas divisionárias.

36
Por vezes a existência de contas com âmbito muito vasto exige, por uma necessidade
de análise que se criem contas do mesmo nível ou grau, onde se registam originariamente as
transacções e que depois se transferem, para a chamada conta principal. Estas contas
denominam-se contas subsidiárias. Por exemplo a conta Resultados do Exercício, tem como
contas subsidiárias as contas de Vendas onde se registam as vendas realizadas, Despesas com
o pessoal, onde se registam os custos com o pessoal, e muitas outras que opurtunamente serão
estudadas.

4.7 Sistemas de Contas

Outro aspecto muito importante é a definição clara das contas a serem utilizadas, o
seu âmbito e regras de movimentação, ou mais genericamente a definição do sistema
contabilístico a utilizar.

Noção de Plano de Contas

O sistema contabilístico abrange os documentos, registos, livros e relatórios emitidos,


mas igualmente os procedimentos, descritos ou não em manuais, e as instruções utilizadas no
processo. Dentro dos elementos essenciais dos sistemas contabilísticos deve existir uma
enumeração, exaustiva das contas a serem utilizadas, definindo o seu âmbito bem como as
regras gerais e particulares da sua movimentação.

Ao conjunto das contas, regras de movimentação e sua articulação chama-se Plano


de Contas. Todas as entidades necessitam deste plano para permitir executar os seus
movimentos contabilísticos, desde as de menor dimensão até aos grandes grupos económicos.
Estes últimos, que normalemnete abrangem elevado número de empresas, por vezes
espalhadas pelos mais diversos países, por necessidade de uniformidade no tratamento
contabilístico, alargam mesmo o conceito do plano de contas elaborando verdadeiros
manuais de contabilidade que descrevem os princípios contabilísticos adoptados, as
políticas contabilísticas, lista das contas, âmbito das mesmas, e regras de movimentação das
transacções menos vulgares.

Um plano de contas, para poder ser considerado como tal, e poder desempenhar as
suas funções, deve abranger: princípios contabilísticos adoptados, políticas contabilísticas,
listas das contas, âmbito das contas e regras específicas de movimentação. Os modelos dos
documentos e demonstrações financeiras são igualmente peças importantes para que o plano
de contas desempenhe a sua função.

37
4.8 As contas mais usadas a luz do Plano Geral de Contabilidade

As contas são utilizadas para registar todos os elementos patrimoniais, quer sejam
Activo, temos então contas do Activo, quer sejam do Passivo, contas do Passivo, ou da
Situação Líquida, contas da Situação Líquida. Estas últimas poderão ainda subdividir-se em
contas de Capital, Reservas e Resultados.
Vejamos seguidamente o âmbito de algumas das contas mais utilizadas de acordo
com a natureza dos elementos patrimoniais que englobam, (tal como se encontram definidas
no Plano Geral de Contabilidade):

Contas do Activo
Caixa:
Inclui as notas de banco, moedas e outros meios monetários equivalentes
Bancos:
Regista o movimento das contas bancárias.
Clientes:
Engloba as dívidas a receber resultantes da venda de mercadorias, produtos ou
serviços.
Mercadorias:
Bens adquiridos para venda sem que sofram transformações.
Produtos Acabados:
Bens produzidos pelas empresas que já estejam finalizados.
Matéria- Prima:
Bens adquiridos ou produzidos pela empresa destinados a serem incorporados no
processo produtivo.
Construções:
Engloba os edifícios e outras construções.
Equipamento:
Integra os instrumentos e máquinas utilizados na produção.
Ferramentas e utensílios:
Integra ferramentas e outros utensílios.

Encargos de Constituição:
Engloba os custos de constituição e que são incluídos no processo de constituição de
uma empresa.
Imobilizações Financeiras:
Incluem o valor das participações financeiras noutras empresas.

38
Contas do Passivo:
Créditos Bancários:
Engloba as dívidas provenientes de empréstimos bancários.
Fornecedores:
Engloba as dívidas a pagar às entidades a quem se adquirem produtos ou serviços.
Credor-Estado:
Para registar as dívidas para com o Estado resultantes de impostos.
Credores-Sócios:
Engloba as dívidas para com os sócios.

Contas da Situação Líquida


Capital:
Para as sociedades, respeita ao capital subscrito. Para as empresas em nome
individual compreende o capital inicial, mas também o capital adquirido.
Reservas:
Contas constituidas em geral à custa de retenção de lucros.
Lucros ou Prejuízos:
Serve para o apuramento do resultado de cada exercício económico.

Para apuramento de resultados, tal como vimos anteriormente, utilizam-se contas


subsidiárias das quais podemos destacar:

Contas de Custos:
Custos de Vendas:
Regista os custos das vendas de mercadorias.
Remunerações:
Engloba os valores pagos e outros custos com os trabalhadores.
Fornecimento de Terceiros:
Engloba os custos com as aquisições de bens e serviços como àgua, energia,
conbustíveis, artigos de expediente, etc.
Encargos Finaceiros:
Regista os juros e outros encargos de natureza financeira.
Amortizações do exercício.
Regista a depreciação das imobilizações atribuídas ao exercício.

39
Contas de Proveitos:
Vendas:
Engloba o valor resultante da venda de mercadorias e produtos.
Vendas de Serviços:
Engloba os valores resultantes dos serviços prestados.
Receitas financeiras:
Engloba os proveitos e ganhos de natureza financeira como juros, rendimentos de
capital, etc.
Outros proveitos:
Regista os proveitos que não sejam próprios dos objectivos principais da empresa.

40

Você também pode gostar