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2.

A CIÊNCIA DA CONTABILIDADE

2.1 Técnica e ciência

2.1.1. Natureza

O registo da actividade económica de qualquer unidade económica faz-se de acordo com a


chamada técnica contabilística, a qual compreende a captação, medição e representação dos factos
observados e o seu tratamento com vista a obtenção de determinadas informações.
No entanto, essa técnica apoia-se actualmente numa automatização, isto é, num conjunto
coerente de difinições, postulados e requisitos, conducentes por via inferencial a teoremas e leis que
apresentam uma apreciável potencialidade explicativa e preditiva, e que conferem a contabilidade um
carácter científico, tanto mais que, como veremos, esta disciplina utiliza um método específico,
distinto de qualquer outro.
Podemos dizer, portanto que a contabilidade é uma ciência de natureza económica.

2.1.2 Objecto

Mas qual será o objecto da contabilidade?


Que se estudará nesta ciência?
Vamos considerar a unidade económica que melhor conhecemos - a família - e pensemos no
que será, ou poderia ser, a contabilidade familiar ou contabilidade doméstica.
Fundamentalmente, essa contabilidade há - de registar as receitas da família (ordenados dos
membros da família e quaisquer outros rendimentos) e as despesas da família (renda da casa,
alimentação,vestuário combustíveis, diversões,etc), comparando as receitas actuais com as do passado
e planeando as receitas e despesas futuras.
Assim, as informações fornecidas pela contabilidade permitirão a familia:

-Recordar a sua actividade passada;


-Tomar decisões no presente;
-Programar o futuro, elaborando um plano de actividades, cuja tradução monetária se
designa por orçamento.

Depois, pelos registos efectuados posteriormente, a familia poderá controlar as suas despesas
e receitas, comparando as anteriores previsões com a realidade, analisando os eventuais desvios e
tomando as decisões convenientes.
Ora, em qualquer unidade económica existem estes mesmos problemas e outros análogos.

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Assim, o objecto da ciência da contabilidade é a realidade económica, passada, presente
e futura, de qualquer unidade económica.
Naturalmente, essa realidade económica será analisada, essencialmente, em termos
quantitativos.

2.1.3 Finalidade

A - Informações - suporte das decisões

Qual será o interesse da contabilidade doméstica?

Para além do mais, fornecer as informações indispensáveis para a família:


- saber, em qualquer momento, o que lhe devem e o que deve, informações estas que
traduzem a situação familiar;
-Apreciar o resultado da sua actividade, relativamente a origem e aplicação dos recursos
familiares;
-analisar os desvios entre a actividade anteriormente programada e a realidade (controlo);
-tomar as decisões mais convenientes;
-elaborar novo orçamento.

Como é evidente, estas informações interessam principalmente aos membros da própria


família, mas não só, poderão interessar também a eventuais financiadores (no caso da família solicitar
ou ter obtido um empréstimo) e, até, ao Estado, na medida em que os rendimentos familiares estejam
sujeitos a impostos.

Ora, o mesmo acontece com as restantes unidades económicas.


Então, podemos afirmar que a finalidade da ciência da contabilidade é a obtenção de
informações úteis para todos os interessados, com vista a uma racional tomada de decisões.

B - Classificação das informações

Para melhor compreender a classificação das informações contabilísticas, será conveniente


deixar a unidade familiar e considerar, agora, a unidade típica de produção - empresa - pensando
especialmente numa empresa industrial.

Então, poderemos distinguir:

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a) As informações que respeitam às operações realizadas com o exterior (operações
externas)
Estas informações, de carácter económico-financeiro, são dirigidas não só aos responsáveis
pela administração da unidade económica, mas também a todos os interessados em conhecer os
resultados obtidos e a situação da unidade: sócios, pessoal, clientes e forcecedores, financiadores e
até o próprio Estado, por duas razões fundamentais: primeiro, porque alguns dos impostos lançados
sobre as unidades económicas são baseados nos lucros obtidos; depois, e sobretudo, porque só é
possível conhecer a actividade económica sectorial e nacional pela agregação das informações
relativas a cada unidade económica.

b) As informações respeitantes às operações realizadas no interior da própria empresa


(operações internas).
Estas informações, de carácter económico-técnico, são dirigidas exclusivamente aos vários
responsáveis da unidade económica, a todos os níveis (administradores, directores, chefes de secção,
encarregados das oficinas, etc.), especialmente interessados em conhecer os resultados por funções,
secções e produtos.
Sócios Pessoal Financiadores

ZONA DE CONTACTOS

Orçamento

Zona das Operações Internas


Fornecedores Clientes
Controlo

COM O EXTERIOR

Estado

C - Requisitos das informações

Naturalmente que as informações fornecidas pela contabilidade apenas serão úteis na medida
em que satisfaçam os seguintes requisitos:

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a) Relevância
A informação deve fornecer um elemento de resposta a uma questão e orientar a acção.
Então, a contabilidade deve ser organizada em função das necessidades sentidas ou
previsíveis dos utilizadores das informações.

b) Oportunidade (ou actualidade)


A informação deve ser fornecida no momento em que é necessária, pois em caso contrário
será mais que inútil.
De facto, o valor duma informação contabilística decresce com o quadrado do tempo
decorrido até a sua recepção pelo destinatário.

c) Quantificação
A informação deve ser quantificável, traduzida em números, geralmente representativos de
unidades monetárias, mas algumas vezes de unidades físicas.
Uma informação qualitativa corre o risco de ser diferentemente interpretada por cada pessoa.

d) Economicidade
O custo da informação deverá ser inferior a vantagem que ela proporciona.
Em caso contrário, será preferível prescindir dessa informação.

2.1.4 Definição

A contabilidade é uma ciencia de natureza económica, cujo objecto é a realidade


económica de qualquer entidade pública ou privada, analisada em termos quantitativos e por
método específico, com o fim de obter as informações indispensáveis a gestão dessa entidade,
nomeadamente ao conhecimento da situação patrimonial e dos resultados obtidos e ao planeamento e
controlo das suas actividades.

2.2 Hipóteses básicas

A contabilidade pressupõe a existência dos seguintes fenómenos (postulados), com base nos
quais se definem os conceitos fundamentais e inferem as regras de funcionamento;

UNIDADE ECONÓMICA: existe uma pessoa jurídica, singular (indivíduo) ou colectiva


(associação de indivíduos);

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PATRIMÓNIO: cada unidade económica possui e/ou administra um conjunto de objectos
económicos ( bens, direitos e obrigações), susceptíveis de expressão monetária;

CONTAS: existe um sistema hierarquizado de subconjunto de valores patrimoniais, com


determinadas características comuns e específicas, que representa a estrutura patrimonial;

FACTOS PATRIMONIAIS: existe uma série de fenómenos que originam variações na


estrutura patrimonial e, portanto nas respectivas contas;

DUALISMO PATRIMONIAL: todo o facto patrimonial implica sempre variações em duas


contas, variações de igual valor, mas de efeito contrário;

FORMA DE REPRESENTAÇÃO: existe pelo menos uma forma de representar os factos


patrimoniais, que permite registar as variações da estrutura patrimonial e das contas.

Estes postulados só adquirem plena revelância quando associados a este outro:

FINALIDADE: existem e são conhecidos alguns objectos específicos ou necessidades de


informação, para orientar a administração da unidade económica, necessidades que devem ser
satisfeitas por determinado sistema contabilístico.

Ora, todas as unidades económicas se debatem, pelo menos, com as seguintes necessidades de
informação:

- conhecer, a todo momento, a sua situação patrimonial, a qual pode ser periodicamente
resumida num documento chamado BALANÇO, síntese agregativa de determinado conjunto
de contas;

- conhecer, a todo o momento, a natureza dos resultados obtidos em determinado período, a


qual pode ser periodicamente patenteada num documento chamado DEMONSTRAÇÃO
DOS RESULTADOS LIQUIDOS, síntese agregativa doutro conjunto de contas.

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2.3. Divisões

Tal como acontece em todas as outras ciências, também no tronco comum da contabilidade
podemos contemplar vários ramos disciplinares.

2.3.1.A contabilidade geral

O tronco comum será constituído pela contabilidade geral, que compreende os conceitos
básicos, as regras de funcionamento e os princípios contabilisticos (teoria da contabilidade) e as
formas de representação, ou seja, a escrituração propriamente dita (técnica contabilística geral).

CONTABILIDADE TEORIA da Contabilidade

GERAL TECNICA Contabilística Geral

2.3.2 A contabilidade aplicada

As ramificações do tronco comum, em seu conjunto, correspondem a aplicação da


contabilidade geral (teoria e técnica) a unidades económicas de variada natureza, dimensão e
objectivos, com distintas necessidades de informação.
Antes de mais, podemos distinguir a contabilidade aplicada a unidades económicas privadas
(famílias,empresas e outros organismos), a unidades económicas públicas ( Estado, autarquias locais e
organismos autónomos) e ao respectivo conjunto (Nação).

Contabilidade PRIVADA
CONTABILIDADE
Contabilidade PUBLICA
APLICADA
Contabilidade NACIONAL

Convém salientar, entretanto, que a Contabilidade da empresa se distingue da contabilidade


doméstica e naturalmente, da contabilidade pública, na medida em que, estando aqui em causa a
satisfação de necessidades sem comprometer o equilíbrio entre as receitas e as despesas, se
privilegiam os fluxos financeiros, característica fundamental da chamada Contabilidade
Administrativa.

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2.3.3 A contabilidade da empresa

Na contabilidade da empresa podemos distinguir: a contabilidade das relações com o exterior


(contabilidade financeira), do movimento interno ou de produção (contabilidade de custos) e do
planeamento e controlo (contabilidade orçamental).

Convém salientar que:

- na maior parte das empresas apenas existe a contabilidade financeira;


- nem todas as empresas industriais dispõem de contabilidade de custos;
- em poucas empresas existe uma contabildade orçamental, mas em contrapartida, ela é
obrigatória na contabilidade pública.

Contabilidade Financeira
Contabilidade
Contabilidade de Custos
da
Empresa Contabilidade Orçamental

Note-se que as expressões “ contabilidade agrícola,” “contabilidade industrial”,


contabilidade bancária”, “contabilidade de seguros”, etc., nada mais significam que a
contabilidade aplicada as empresas daqueles ramos de actividade, muito especialmente aos seus
problemas específicos.

2.3.4 As informações como objecto da contabilidade

Todos os ramos disciplinares até agora considerados têm como objecto a realidade económica
e por finalidade a obtenção de determinadas informações.
No entanto, essas próprias informações podem ser objecto de certos ramos disciplinares.
De facto, as informações contabilísticas podem ser:
- estudadas para delas se extrairem novas informações (análise contabilística);
- examinadas para verificar e confirmar a sua veracidade e exactidão (revisão contabilística
ou auditoria);
-agrupadas com as informações relativas a outras empresas (consolidação contabilística)
para obter a contabilidade de um “ grupo de sociedades” ( excluindo, naturalmente, as relações entre
as sociedades do grupo).

Note-se que toda a contabilidade aplicada pode ser objecto de análise contabilística e que a
revisão contabilística também é habitual na contabilidade pública.

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Análise Contabilística

Revisão Contabilística
Contabilidade
Consolidação Contabilística

Acabamos de ver como é vasto e diversificado o mundo da contabilidade, muito embora nos
limitemos, por enquanto, a estudar a contabilidade geral (teoria e técnica) e a sua aplicação a empresa,
simplesmente porque esta abarca a maior parte da problemática contabilística.

2.3.5 Esquema geral

C C Cont. Financeira Análise Contabilíst.


o
o n
EMPRESAS Cont. de Custos Revisão Contabil.
C n t Contabilidade Cont. Orçamental Consolidação
O t Teoria a Privada
b A
N a da C d
T b Contabilidade i FAMILIAS
l o m
A i i Org.Autóno- n i
B l t n
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2.4 Relações com as outras disciplinas

2.4.1 Relações formais

Tendo por objectivo a realidade decorrente da actividade económica, exercida pelo homem,
numa sociedade complexa, caracterizada pela divisão do trabalho, a contabilidade não pode deixar de
estar relacionada com o Direito (conjunto de leis ou preceitos reguladores da vida social).
De facto, se os registos contabilísticos gozam de determinada eficácia jurídica ( força
probatória), se as informações contabilísticas interessam a generalidade das pessoas, nomeadamente
aos administradores, sócios, pessoal, financiadores e Estado, compreende-se que o Direito imponha
determinadas formas para a obtenção e apresentação dessas informações contabilísticas, muito

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especialmente o Direito Comercial, regulador das relações comerciais, e o Direito Fiscal, regulador
das relações entre o Estado e os contribuintes.

2.4.2 Relações instrumentais

Tendo por finalidade o conhecimento da realidade, económica, através da sua captação,


medição e representação, sempre em termos quantitativos, a Contabilidade também estará relacionada
com a Matemática, a Estatística e outras técnicas quantitativas, na medida em que utiliza estas
ciências como instrumentos para a consecução dos seus fins.

2.4.3 Relações essenciais

Sendo uma ciência de natureza económica, a Contabilidade não pode deixar de estar
essencialmente relacionada com a Economia, muito especialmente com a economia da Empresa,
com a qual chega a ser confundida.
No entanto, para além da não limitação da Contabilidade à empresa, poder-se-ão evidenciar as
seguintes diferenças:

a) Enquanto a Economia da empresa estuda a natureza dos fenómenos económicos


empresariais, a contabilidade apenas estuda os seus efeitos quantitativos;
b) Enquanto a Economia estuda a combinação óptima dos factores de produção, com vista a
obtenção dos melhores resultados, a contabilidade apenas estuda a captação, medição e
representação da realidade observada e os desvios entre o que devia ser e o que foi;
c) Enquanto a Economia da Empresa se preocupa essencialmente com a tomada de decisões,
a Contabilidade apenas se preocupa com a obtenção das informações que possam servir
de base àquelas decisões.

2.5 Evolução

2.5.1 Período empírico (dos primeiros tempos a 1494)

Produzir, contar e trocar são próprios da natureza humana.


Desde sempre, o homem foi um agente produtor e transformador da natureza, que logo foi
obrigado a resolver o problema da contagem e que, cedo, se apercebeu das vantagens da troca.
Por outro lado, havemos de considerar a limitada capacidade de memória do homem, que o
obrigou a tomar nota ou registar os factos relacionados com a sua actividade, enquanto um inato
sentimento de propriedade o levava a valorizar o resultado dessa mesma actividade.

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Assim, deste conjunto de actividades, faculdades e sentimentos, nasceu espontaneamente a
contabilidade.
Mas,embora a técnica de registo se tenha aperfeiçoado progressivamente, acompanhado a
crescente complexidade das trocas, a verdade é que, até 1494, a contabilidade teve um carácter
empírico, essencialmente prático, não ultrapassando o registo simplista e incompleto da realidade
económica observada.

2.5.2 Período científico

A - Fase legalista (de 1494 a 1920)

A fase científica da contabilidade inicia-se em 1494, com o aparecimento da obra “Summa de


arithmetica, geometria proportioni et proportionalita”, do italiano Luca Pacioli.
Nesta obra se descreve, pela primeira vez, o célebre princípio das“ partidas dobradas”, que
veio revolucionar a técnica contabilística, possibilitando aos comerciantes e mercadores um melhor
conhecimento da sua situação financeira, muito especialmente das suas dívidas a receber e a pagar.
No entanto, as informações fornecidas pela contabilidade da época estavam dominadas por
preocupações de ordem jurídica, na medida em que os registos eram considerados, sobretudo, como
meio de prova das operações realizadas, e o conhecimento da situação do comerciante ( determinada
pelos seus bens, direitos e obrigações, ou seja, pela relação entre os recursos próprios e alheios)
interessava, especialmente, para avaliar as possibilidades de cumprimento das obrigações actuais e
futuras, porquanto os seus bens e direitos constituiam a melhor garantia dos credores.
Como é evidente, as informações contabilísticas relativas a situação do comerciante e aos
resultados obtidos não podiam deixar de, em maior ou menor grau, influenciar as suas decisões
económicas, mas este aspecto era meramente acessório em relação ao carácter eminentemente
legalista da contabilidade, que iria perdurar por vários séculos.

B - Fase económica (de 1920 a 1950)

Quando, no final da primeira Grande Guerra (1914-18), surgiu na Alemanha uma inflação
galopante, (subida vertiginosa e permanente dos preços), verifica-se que a contabilidade, embora
desse a conhecer os direitos e ogrigações do comerciante perante terceiros, ja não podia oferecer uma
imagem válida da situação da empresa, na medida em que o valor contabilístico dos bens ficava, dia a
dia, cada vez mais desactualizado. Então, as informações contabilísticas deixam de representar
qualquer garantia para terceiros, até porque empresas que continuavam a apresentar elevados lucros se
iam encontrando em situação financeira cada vez mais difícil, em consequência da sua progressiva
descapitalização.

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Perante esta quase falência da contabilidade, muitos autores alemães começam a por em causa
a subordinação das informações contabilísticas aos aspectos jurídicos, passando a dar maior
importãncia aos aspectos económicos, numa séria tentativa para conferir validade àquelas
informações, até que, em 1919, Eugenne Schmalenbach, com a sua obra “O Balanço Dinâmico”,
acaba por inverter, definivamente, a importância relativa das finalidades da informação contabilística:
agora, a qualidade dessas informações fica estreitamente vinculada ao conhecimento da realidade
económica, tanto de ordem empresarial como nacional, devendo proporcionar aos responsáveis, a
todos os níveis, uma adequada tomada de decisões, enquanto os aspectos legalistas passam para uma
posição secundária.
A contabilidade deixa de preocupar-se exclusivamente com o passado e começa a considerar
seriamente o presente, na medida em que possa servir de predição ao futuro - as tomadas de decisões
passam a apoiar-se numa base informativa substancialmente mais ampla, aspecto que vem enriquecer
notavelmente a contabilidade.
Abrem-se, portanto, novos horizontes a ciência contabilística, que rapidamente recupera e
alarga o seu prestígio, sendo a época em que aparecem alguns conceitos fundamentais e se começam a
aplicar critérios mais válidos, os quais acabam por impôr a actualização da respectiva legislação,
completamente alheada das novas realidades económico-empresariais, muito embora não tenham
conseguido eliminar radicalmente o anterior princípio da “objectividade” legalista.
No entanto, dever-se-á reconhecer que os contabilistas desta época começaram a preocupar-se
demasiadamente com a elaboração de complicados mecanismos de cálculo, sem qualquer
identificação com a realidade económica, de modo que os respectivos resultados, ou não
correspondiam às necessidades dos responsáveis, ou conduziam a previsões constantemente
desmentidas pelos factos.

C - Fase formalista (de 1950 aos nossos dias)

Infelizmente, vai ser precisa outra Grande Guerra (1939-45) para que a contabilidade encontre
novos rumos.
De facto, a complexidade de certos problemas bélicos e a necessidade da sua rápida resolução
(pensemos, por exemplo, na determinação da ordem de aterragem de uma esquadrilha de aviões que,
após uma missão de combate, se encontra sobre o campo de aviação, dispondo os aparelhos de
reduzidas, mas diferentes, quantidades de combustível), obrigaram os cientistas que trabalhavam no
pentágono ( edifício de forma pentagonal, em Washington, onde funciona o Secretarido de Defesa e o
Estado-Maior-General das Forças Armadas dos Estados Unidos da América) a desenvolverem um
conjunto de novas técnicas quantitativas, designadas por Investigação Operacional, com o auxílio de
computadores cada vez mais aperfeiçoados, pois também nessa data se verifica uma verdadeira
revolução no campo da Informação e da Cibernética.

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Ora, em breve se constactou que essas técnicas de investigação operacional poderiam ser
aplicadas, com resultados surpreendentes, nos mais diversos ramos de actividade científica, sempre
que estivesse em causa a escolha da melhor entre várias soluções possíveis.
No campo empresarial, essas novas técnicas permitiam a optimização da conduta do
empresário, sempre e quando as informações fornecidas pela contabilidade fossem correctas e
suficientes, mas aqui a sua imediata aplicação estava prejudicada pelo atrsaso em que se encontravam
os estudos metodológicos da ciência da contabilidade - raros tratadistas se haviam preocupado, até
então, com o estudo dos principios fundamentais que serviam de base à técnica contabilística.
Assim, a partir de 1950, vários autores passam a dedicar-se ao estudo da análise formal da
contabilidade, estabelecendo axiomas, definições, teoremas e requisitos, susceptíveis de tratamento
lógico e matemático, para chegar a resultados cada vez mais ricos de pontecialidades explicativas e
preditivas.
No entanto, a formalização rigorosa da teoria contabilística só é estabelecida em 1964, pelo
canadiano Richard Mattessich, com a sua notavel obra “Accouting and Analytical Methods -
Measurement and projection of Income and wealth in the Micro and Macro Economy”.
Actualmente, a principal característica dos programas de investigação da ciência da
contabilidade é animar a sua formalização, explorando todas as possibilidades de tratamento lógico e
matemático dos dados e das informações, aproveitando o instrumental oferecido pela informática e
pela investigação operacional, estas também em franco progresso, pelo que será de prever para as
últimas décadas do seculo xx uma evolução rápida e substancial nos domínios da contabilidade.

2.5.3 Resumo

Fases Nomes e Livros


Períodos Designação Limites Notáveis Características
….
Empírico ____ a _____ Registo simplista de dados
1494
C 1494 Luca Pacioli Registo das operações como meio de prova e
i Legalista a (Italiano) conhecimento da situação da empresa como garantia dos
e 1920 “Summa de seus credores
n arithmética,…”
t 1920 E.Schmalenbach Conhecimento da realidade económica passada, presente
í Económica a (Alemão) e futura, para obtenção das informações indispensáveis a
f 1950 “O Balanço uma consciente tomada de decisões
i Dinâmico”
c R.Mattessich Elaboração dos princípios contabilísticos, formalizando
o 1950 (Canadiano) as suas posições, submetendo-as a tratamento lógico e
Formalista a “Accounting and matemático, para obter informações com maior
…… Analytical potencialidade explicativa e preditiva.
Methods”

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2.6 A Contabilidade na República de Moçambique

As unidades económicas, qualquer que seja a sua natureza - empresas, associações -


necessitam de ter informação sobre o seu património, os seus rendimentos e custos. O fornecimento
desta informação que normalmente se apresenta na forma quantitativa é desempenhada pela
contabilidade, sendo a sua natureza predominantemente financeira, isto é expressa em unidades
monetárias, normalmente, no país em que a unidade económica actua, e tem como objectivo principal
poder ser utilizada na tomada de decisões sobre a entidade a que se refere.

Informação sobre os bens propriedade de uma empresa, as suas dívidas, as suas vendas os
seus custos e outras de idêntica natureza, necessárias para a gestão desempenhar a sua função são
exemplos do papel que a contabilidade, nas suas diversas vertentes, desempenha.

O Estado por sua vez, para garantir uma correcta planificação do País, recorre às informações
prestadas pela Contabilidade.

A Contabilidade na República de Moçambique, é regulada pelo Plano Geral de Contabilidade


aprovado pela resolução nº 13/84 de 14 de Dezembro, que é o instrumento legal que define as linhas
mestras de orientação a serem observadas na preparação das Demonstrações Financeiras.

Para além do Plano Geral de Contabilidade (Decreto 14/84 e Diploma Ministerial 221/98) há
que ter em conta o código dos Impostos sobre o Rendimento ( CIR ), o código do Imposto sobre o
Valor acrescentado (IVA) – Decreto 51/98 e 16/99, a legislação sobre Reintegrações e Amortizações
(portaria nº 20817 de 27 de Janeiro de 1968) e a legislação sobre as Provisões ( portaria nº 20779 de
30 de Dezembro de 1967 ).

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