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UNIVERSIDADE METODISTA UNIDA DE MOÇAMBIQUE


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CAMBINE
1. CONTA
1.1. Noção
O património de uma empresa é constituído por um grande e complexo número de elementos
de natureza diferente. Contudo esses elementos podem ser mensuráveis, ou seja, expressos
numa unidade de valor comum. O que quer dizer que os diferentes elementos (matérias, ou
objectos), possibilitando a sua comensurabilidade, ou seja, a comparação entre si. Um televisor
e um livro apresentam-se com características diferentes, mas graças a sua quantificação podem
facilmente ser comparáveis.

Segundo Borges at all (2000), consoante a natureza ou função que desempenham na empresa,
os valores patrimoniais podem se agrupar em classes com características comuns.

Hugo (2003), afirma que os elementos das massas patrimoniais podem ser agrupadas em diversos
subconjuntos com determinadas características comuns e específicas, de acordo com a sua
natureza e/ou a função que desempenham na empresa.

Segundo Pereira (1978), “um conjunto de elementos patrimoniais com determinadas


características comuns e específicas”.
Exemplo: Dívidas a receber originadas pela venda a prazo de existências1; Dívidas a pagar
originadas pela compra a prazo de existências.
1.2. Elementos Constituintes Da Conta
Numa conta há que considerar como partes constitutivas Título (denominação própria) e Valor
(extensão).
Título: é a expressão (palavra) por que se designa a conta. Deve ser escolhido de tal forma que
revele imediatamente a natureza dos elementos que a compõem. Tem como finalidade
identificar a conta e distingui-la de todas as outras, pelo que será fixo e imutável.
O título é o nome da conta inclui além da palavra nominativa um código composto por conjunto
de números ou dígitos que a identificam.

1Existências – bens que se destinam à venda ou consumo, sem ou com qualquer transformação de
natureza industrial.

Docente: dr. Milton Gove Monitor: Feliciano Cumbe UMUM-2023


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Exemplo: uma empresa vocacionada a venda de equipamento informático e acessórios possui


Computadores portáteis e de mesa, impressoras, scanner, monitores teclados, flashes como bens
destinados à venda, portanto mercadorias. Assim este grupo de bens destinados a venda
chamaremos de mercadorias e a conta será 2.2 Mercadorias (PGC-PE/NIRF).
Extensão – é o valor de uma conta (expresso em unidades monetárias). Podemos assim, dizer
que é o valor total, em dinheiro, dos elementos que compõem uma determinada conta.
Exemplo: Mercadorias....................................................................20.000,00Mt
O valor de uma conta é essencialmente variável, pois a sua extensão inicial aumenta ou
diminui em função das operações dos factos patrimoniais.

1.3. Requisitos Da Conta


A conta constitui a base de toda escrituração contabilística, dado que é a parte dela que se
desenvolve todo trabalho contabilístico. Como tal, para que o trabalho se processe com
fundamento e regularidade, ela deve obedecer a requisitos próprios, que são essencialmente:
▪ A Homogeneidade - Na conta, devem ser integrados apenas elementos com
características comuns e específicas; por exemplo a dívida de um cliente à empresa,
nunca poderá ser registada numa conta que não indique uma dívida de um cliente a
receber, ou seja, a conta em que aquela for registada deve incluir apenas os
elementos que possuam a mesma característica: valor que a empresa tem direito a
receber.

▪ A Integralidade - Todos os elementos que reúnem uma determinada característica


específica devem ser agrupados na conta, por exemplo a conta mercadorias, deverá
incluir todos os tipos de mercadorias transacionadas pela empresa assim como as suas
variações.
Em suma, a conta deve ser "homogénea " e "integral" dado que só poderá admitir movimentos
ligados com a respectiva classe de valores, não excluído qualquer deles.

1.4. Classificação Das Contas


1.4.1. Quanto a natureza
Contas singulares ou elementares – são aquelas que não se decompõem noutras contas, isto é,
não se encontram subdivididas noutras contas.
Exemplo: Conta 1.1 Caixa
Contas colectivas ou contas mãe – são aquelas que pela reunião de várias subcontas da mesma
natureza, mas de menor grau, se encontram subdivididas noutras contas designadas contas
divisionárias ou subcontas, ou ainda contas filhas.
1.2.1 Depósitos à ordem;
Exemplo: Conta 1.2 Banco 1.2.2 Depósitos com pré-aviso;
1.2.3 Depósitos a prazo.

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Contas divisionárias ou subcontas – são aquelas que resultam da decomposição das contas
colectivas, ou seja, aquelas que nascem das contas colectivas e são denominadas contas filhas.
Ex: Contas 1.2.1 Depósitos à ordem; 1.2.2 Depósitos com pré-aviso; 1.2.3 Depósitos a prazo.

Contas Subsidiárias – são do mesmo grau que a conta principal, onde são registados os factos
patrimoniais durante o período e no final, os saldos são transferidos para as respectivas contas
principais. Segundo Perreira (1980, P. 107), contas subsidiárias são todas aquelas contas cuja
extensão se transfere periodicamente para outra conta, dita principal.
Exemplos: As contas das Classes 6 Gastos e Perdas e 7 Rendimentos e Ganhos são subsidiarias das
contas de Resultados pois transferem os seus saldos no final do período para as contas principais
da Classe 8 Resultados, para se apurarem resultados do exercício.

1.4.2. Quanto ao grau


▪ Contas do 1º grau – são contas de maior generalidade (singulares e colectivas) e no geral,
apresentam dois dígitos.
Exemplos: Conta 1.1 Caixa; Conta 1.2 Banco; 4.4 Estado
▪ Contas do 2º grau – são decomposições das contas do 1º grau e usualmente, apresentam
três dígitos.
Exemplos: Conta 1.2.1 Depósitos à ordem; 4.4.1 Imposto Sobre o Rendimento
▪ Contas do 3º grau – são decomposições das contas do 2º grau e comummente apresentam
quatro dígitos.
Exemplo: Conta 4.4.1.1 Estimativa do Imposto;

1.4.3. Representação gráfica da conta


Geralmente a conta é representada por meio de um dispositivo que tem a forma de um “T”.
Sobre o traço horizontal indica-se o título da conta podendo-se distinguir um lado esquerdo e um
lado direito.
Em esquema, temos:

Deve – D Título da conta C – Haver


Secção do débito ou deve Secção do crédito ou haver

Saldo credor (Sc) Saldo devedor (Sd)

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O lado esquerdo é designado de Débito ou Deve e o lado direito de Crédito ou Haver2. Os valores
registados no débito denominam-se débitos e os registados no crédito denominam-se créditos.
Assim:
▪ Debitar uma conta – é inscrever qualquer importância na secção ou no lado do débito
ou do DEVE.
▪ Creditar uma conta - é inscrever qualquer importância na secção do crédito ou HAVER.
▪ Saldo de uma conta – é a diferença entre o débito e o crédito da mesma, podendo ser
devedor, credor ou nulo.
Os saldos das contas podem adoptar 3 (três) características diferentes, a saber:
▪ Saldo devedor – quando o débito é maior em relação ao crédito (D>C)
▪ Saldo credor – quando o crédito é maior em relação ao débito (D<C)
▪ Saldo nulo – quando o débito é igual ao crédito (D=C)

D 1.2 Bancos C D 1.2 Bancos C D 1.2 Bancos C


15.000,00 8.000,00 10.000,00 15.000,00 10.000,00 10.000,00
Sd= 7.000,00 Sc=5.000,00
Saldo devedor Saldo credor Saldo nulo

O saldo da conta corresponde à sua extensão, ou valor num determinado momento.


Fechar ou balancear uma conta – é o acto contabilístico que consiste em evidenciar (destacar
ou determinar) o saldo dessa conta na coluna de menor valor.
Uma conta fechada apresenta: o seu saldo, os valores totais de crédito e de débito (que devem
ser iguais) sublinhados por duas linhas.
Exemplo
D 1.2 Bancos C D 4.2 Fornecedores C D 1.2 Bancos C
25.000,00 18.000,00 5.000,00 10.000,00 15.000,00 15.000,00
Sd= 7.000,00 Sc=5.000,00
25.000,00 25.000,00 10,000,00 10.000,00
SN

Reabrir uma conta – consiste em inscrever a importância do saldo na coluna ou secção dos
débitos (se o saldo da conta fechada for devedor) ou na coluna dos créditos (se o saldo da conta
fechada for credor).

2 Os termos Debito ou Deve e Crédito ou Haver provem de um processo onomatológico ligado à historia da
contabilidade, na fase em que as contas representavam exclusivamente as pessoas dos devedores e dos credores. Sendo
que as variações aumentativas de uma pessoa devedora, constituíam o seu débito (aumentando o débito de um devedor,
ele deve mais) e as diminutivas o seu crédito, tal como as variações aumentativas da conta de uma pessoa
credora(aumentando o crédito de um credor, ele tem haver mais e as diminutivas constituem o seu débito. Borges at
all (2000, p. 48)

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Para tal, deve-se antepor ao valor da conta, o sinal Si ou So que significa Saldo inicial com que a
conta iniciou as actividades de respectivo período.
Exemplo:
D 1.2 Bancos C D 4.2 Fornecedores C
Si) 7.000,00 Si) 5.000,00

1.4.4. Regras De Movimentação Das Contas


A movimentação das contas segue o Princípio das partidas dobradas. segundo este princípio,
“Todo débito de uma conta origina o crédito noutra ou noutras contas e vice-versa, isto é cada
facto patrimonial determina um registo de duas ou mais contas, de modo que ao valor de cada
débito(ou débitos) corresponda sempre um crédito (ou créditos) de igual valor” 3 . Este
princípio desenrola-se, em termos práticos, sobre as diferentes contas, regulando assim o
comportamento geral da dinâmica patrimonial.

Em termos gerais, as regras de movimentação de contas são vistas em grupo de classes, o que
significa que todas as contas de uma determinada classe tendem a ter o mesmo comportamento
quando movimentadas:
▪ As contas do Activo (classe I, II e III e IV4) debitam-se pelo valor ou extensão inicial e
pelos aumentos e, creditam-se pelas diminuições.
▪ As contas do Passivo (classe IV 5 ) creditam-se pelo valor inicial e pelos aumentos e,
debitam-se pelas diminuições.
▪ As contas de Capital próprio (classe V) creditam-se pelo valor inicial e pelos aumentos e,
debitam-se pelas diminuições – movimentam-se como as contas do Passivo.
▪ As contas de Gastos e Perdas (classe VI) debitam-se pelo valor inicial e pelos aumentos
e, creditam-se pelas diminuições – movimentam-se como as contas do Activo.
▪ As contas de Rendimentos e Ganhos (classe VII) creditam-se pelo valor inicial e pelos
aumentos e, debitam-se pelas diminuições – movimentam-se como as contas do Passivo.
▪ As contas de Resultado (classe VIII) debitam-se pelos Gastos e perdas e creditam-se pelos
Rendimentos e ganhos.

1.4.5. Variações das contas


Qualquer facto patrimonial implica sempre a variação de duas ou mais contas, originando uma
íntima conexão das contas. Daí que, pode se dizer que:
A variação de uma conta é sempre equilibrada pela variação de uma ou de outras contas, ou por
outras, qualquer débito ou crédito de uma conta, corresponde a um crédito ou débito de uma
outra, de igual valor.

3 Vide Borges obra citada pag.59.


4 excluindo as contas a pagar, nos termos do PGC NIRF.
5 Excluindo as contas a receber, àluz do PGC-NIRF.

Docente: dr. Milton Gove Monitor: Feliciano Cumbe UMUM-2023


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Esse fenómeno designa-se de Princípio de partidas dobradas ou duplas. Segundo este princípio,
"todo o facto patrimonial implica variações em duas contas, variações de igual valor, mas de
efeito contrário".
As variações da conta podem ser: Simples e Complexas.
Diz-se. Simples, quando variam apenas duas contas.
Exemplos: Quando compramos um veículo a prazo, no valor de 15.000,00MT
A conta 2.1 Compras - aumenta a sua extensão em mais 15.000,00MT e a conta 4.2 Fornecedores
- aumenta a sua extensão em 15.000,00MT Total de Débito = Total de Crédito
São complexas quando variam mais de duas contas.
Exemplos: Quando compramos mercadorias a pronto pagamento no valor de 10.000,00MT com
5% de desconto.
A conta 2.1 Compras - aumenta sua extensão em 10.000,00MT (Debita)
A conta 1.1 Caixa - reduz a sua extensão em 9.500,00MT (Credita)
A conta 7.8.5. Descontos de pronto pagamento obtidos – aumenta sua extensão em 500,00MT
(Credita)
Total de débitos = Total de Créditos
Nas variações das contas, os factos patrimoniais qualitativos ou permutativo, implicam variações
em contas do Activo e/ou do Passivo, enquanto que os factos patrimoniais quantitativos ou
modificativos, implicam variações em contas do Activo e/ou do Passivo bem como nas contas da
Situação Líquida, pois alteram o valor do património.
Registo das variações das Contas
As contas estão sujeitas a movimentos e transformações e, essas variações podem ser positivas
(sinal +) e negativas (sinal -).

Exemplo Prático
A Empresa CAG a DISTÂNCIA, Lda. Vocacionada a comercialização e reparação de pneus,
iniciou a sua actividade comercial em 01 de Junho de 2023 com os seguintes elementos
patrimoniais (valores em meticais):

Elementos Valor
Numerário 22.500,00
Deposito a ordem 55.500,00
Empréstimo Obtido no Banco Terra 123.850,00
Clientes 60.000,00
Fornecedores 480.000,00
Credores diversos 45.000,00
20 Pneus Goodyear 110.000,00

Docente: dr. Milton Gove Monitor: Feliciano Cumbe UMUM-2023


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10 Pneus Firestone 5.350@


1 Armazém 320.000,00
2 Computadores para o uso 52.000,00
1 Viaturas 380.000,00
Cheques De Clientes 48.000,00

Dos livros de contabilidade da empresa extraíram-se informações referentes aos movimentos


realizados durante o mês de JUNHO:
Dia 04: Depósito no Banco BCI dos cheques em carteira;
Dia 09: Compra de uma máquina de concertação de pneus por 50.000Mt, por Cheque.
Dia 10: Doação de 5 Pneus Firestone ao Hospital de Cambine, no âmbito da responsabilidade
Social da empresa.
Dia 12: Obtenção de um empréstimo no Banco Terra a pagar em um ano e seis meses no valor
de 83.300,00mt.
Dia 20: Venda de 5 peneus Gooyear a 6.000mt @, com desconto de 5% de pronto pagamento.
Valor pago 25% em numerário e o remanescente em Cheque.
Pretende-se:
a) Classificação em BDO’s os elementos patrimoniais e a codificação com base no PGC-
PE/NIRF
b) A abertura dos lançamentos, contabilização das operações e enceramento das contas no
Razão esquemático “T”.
c) Classificação dos factos patrimoniais.

Resolução
a) Classificação em BDO’s os elementos patrimoniais e a codificação com base no PGC-
PE/NIRF
Elementos Patrimoniais Valor Classificação em codificação com base no PGC-
BDO’s (Activo, PE/NIRF
Passivo e SL)
Numerário 22.500,00 Activo-Bem 1.1
Deposito à ordem 55.500,00 Activo-Bem 1.2.1
Empréstimo Obtido no Banco Terra 123.850,00 Passivo-Obrigação 4.3.1.2
(pagável em 18 meses)
Clientes 60.000,00 Activo-Direito 4.1.2
Fornecedores 480.000,00 Passivo-Obrigação 4.2.2
Credores diversos 45.000,00 Passivo-Obrigação 4.6.9
20 Pneus Goodyear 110.000,00 Activo-Bem 2.2.1
10 Pneus Firestone 5.350@ Activo-Bem 2.2.1
1 Armazém 320.000,00 Activo-Bem 3.2.1.2
2 Computadores para o uso 52.000,00 Activo-Bem 3.2.3
1 Viaturas 380.000,00 Activi-Bem 3.2.4
Cheques De Clientes 48.000,00 Activo-Bem 1.1

B) A abertura dos lançamentos, contabilização das operações e enceramento das contas


no Razão esquemático “T”.

Docente: dr. Milton Gove Monitor: Feliciano Cumbe UMUM-2023


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c) Classificação dos factos patrimoniais.

Factos patrimoniais Classificação


(Permutativos/Modificativos)
Dia 04: Depósito no Banco BCI dos cheques em carteira. Permutativo
Dia 09: Compra de uma máquina de concertação de pneus por 50.000Mt, Permutativo
por Cheque.
Dia 10: Doação de 5 Pneus Firestone ao Hospital de Cambine, no âmbito Modificativos
da responsabilidade Social da empresa.
Dia 12: Obtenção de um empréstimo no Banco Terra a pagar em um ano Permutativos
e seis meses no valor de 83.300,00mt.
Dia 20: Venda de 5 peneus Gooyear a 6.000mt @, com desconto de 5% de Modificativos (Misto)
pronto pagamento. Valor pago 25% em numerário e o remanescente em
Cheque.

Docente: dr. Milton Gove Monitor: Feliciano Cumbe UMUM-2023

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