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CAPITULO 3: A PREVISAO FINANCEIRA

1. O ciclo de cash-flow (ciclo de caixa)

O ciclo de cash flow corresponde ao período de tempo que vai do ponto em que a empresa faz
um desembolso para adquirir matéria-prima, até ao ponto de recepção do dinheiro resultante da
venda do produto acabado fabricado com aquela matéria-prima.
Intimamente ligado a este conceito existe o de giro (rotação) de caixa.

Giro de caixa - é o número de vezes por ano que a caixa da empresa efectivamente se reveza.
Por outro lado, podemos ainda dizer que, o conceito de ciclo de cash-flow procura demonstrar as
implicações das estratégias de administração de cash flow (de caixa) dentro da empresa.

1.2. Estratégias de administração eficiente de caixa

A empresa deve adoptar, basicamente as seguintes estratégias:


1. Retardar, tanto quanto possível, o pagamento das dívidas, sem prejudicar o conceito de
crédito da empresa, aproveitando, porém quaisquer descontos financeiros favoráveis.
2. Girar os estoques com a maior rapidez possível, evitando, contudo faltas de stocks que
podem resultar na interrupção da linha de produção ou numa perda de vendas.
3. Receber o mais cedo possível as dívidas a receber, sem perder vendas futuras, devido as
técnicas severas de cobrança; usando os descontos financeiros para acelerar as cobranças
se tais descontos forem economicamente recomendáveis (isto é, favoráveis).

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CICLO DE CASH FLOW (JÁ DISTRIBUÍDO)

1.3. Cálculo da rotação de caixa (Giro de Caixa)

A rotação de caixa (Giro de caixa) consiste na relação de quociente entre o número de dias de
ano pelo ciclo de caixa:
Giro de caixa (GC) = N° de dias do ano (360)/ciclo de caixa(1)
Ou
GC = Desembolsos Anuais Totais/Saldo Médio de caixa(2)

Regra de Gestão: Quanto maior for a rotação de caixa, menor é o valor de caixa requerido
(lembre-se que caixa aqui refere-se `a meios circulantes líquidos, isto é, facilmente convertíveis
em dinheiro).

Porém, deve-se chamar atenção para que este critério não seja adoptado cegamente, sob pena de
se ficar sem caixa.
Esta chamada de atenção suscita a seguinte questão: “Qual deve ser, então, o montante de caixa
mínimo?”

1.4. Cálculo de caixa mínima operacional da empresa

O nível mínimo de caixa operacional necessário resulta do quociente entre os desembolsos


anuais totais e a taxa de rotação de caixa.
Assim, podemos perceber que o seu cálculo decorre da fórmula (2) anterior, de giro de caixa,
resolvida em ordem a saldo médio de caixa:

GC = Giro de Caixa
DAT = Desembolsos Anuais Totais
SMC = Saldo Médio de Caixa
CM = Caixa Mínimo

Onde

GC = DAT/SMC ; SMC = CM = DAT/GC

A interpretação correta de caixa mínima é:


Se a empresa iniciar o ano com um certo valor de CM (ou SMC) deve ter dinheiro suficiente para
pagar as suas contas no vencimento (pois nesta assunção as compras, produção e vendas da
empresa ocorrem a uma taxa constante durante o ano) sem precisar de tomar em empréstimo,
quaisquer fundos adicionais nessas circunstâncias.

1.5. Custo de manutenção de caixa mínimo

Pela manutenção de caixa mínimo incorre-se num custo de oportunidade, cujo montante em
valor se pode determinar:

Se K é a percentagem do custo de oportunidade anual de manter um caixa mínimo (CM) e, CCM


é o custo de caixa mínimo por ano, então, este custo pode ser determinado de modo seguinte:

CCM = CM* K

Onde:
CCM – Custo de Caixa Mínimo
CM – Caixa Mínimo
K – Custo de oportunidade anual para manter um caixa mínimo

1.6. Minimização de caixa necessária

Conforme visto anteriormente, este objectivo pode ser atingido com a aplicação das diferentes
estratégias de administração de caixa:

a) Retardamento do pagamento das dividas a pagar

Como qualquer outra estratégia de gestão de caixa, esta também permite a redução das
necessidades de caixa.
Ela consiste em aumentar o período de pagamento (X1 – no gráfico anterior) o que vai
resultar na diminuição do ciclo de caixa; mantendo todo o resto constante (X2 + X3 – X1<
X2 +X3 –X1 anterior).
Deve-se notar que nem sempre esses retardamentos são bem correspondidos pelos
fornecedores o que, leva a que as empresas tenham muitas restrições em retardar os
pagamentos.

Os retardamentos são fáceis de fazer quando:

 Os fornecedores são dependentes dos seus clientes para realizar vendas maiores ou
adequadas.
 Os fornecedores reconhecem que a empresa (seu cliente) e nova e, em crescimento, e que
se deve ajuda-la a crescer para ela conseguir maiores vendas futuras.

Não são fáceis de fazer quando:

 Os fornecedores são intransigentes no cumprimento de prazos previamente estabelecidos.


 A empresa não tem bom nível de endividamento ou é de maior risco financeiro (liquidez
comprometida)
 Os fornecedores oferecem descontos por antecipação de pagamento, e, a empresa
concluir que o aproveitamento desses descontos financeiros resulta numa maior vantagem
que o retardamento do pagamento.

b) Administração eficiente dos stocks-produção

A minimização da caixa necessária na base desta estratégia pode ser conseguida numa das
formas seguintes:

 Aumento de rotação de matérias primas


 Diminuição do ciclo de produção adoptando um melhor planeamento, programação e
técnicas de controle da produção. Isto permitira o aumento da rotação da produção em
curso.
 Aumento da rotação de produtos acabados, o que é possível com o aperfeiçoamento da
previsão da procura e o planeamento da produção, na tentativa de levar esta a, coincidir
com as previsões. Este procedimento permitira o tal aumento de rotação de produtos
acabados e consequente redução do ciclo de caixa.

c) Aceleração do processo de recebimento

As condições de crédito da empresa afectam não só o padrão de cobranças, mas também os


padrões de crédito e as politicas de cobrança.

Padrões de crédito são créditos da empresa usadas para determinar a quem se deve conceder
credito.

Politicas de cobrança determinam o esforço despendido pela empresa para aceder


prontamente as dividas a receber.
As mudanças nas condições de crédito, os padrões de crédito e as políticas de cobrança
podem ser usadas como recursos para diminuir o período médio de cobranças, enquanto se
mantêm ou aumentam os lucros globais.

A redução do período de cobrança pode ser por:

 Introdução de um desconto financeiro para pagamento antecipado.


 Uso de padrões mais restritivos do crédito
 Introdução de políticas mais agressivas de cobranças.
Porem, a empresa ao tomar estas medidas deve ter em atenção as consequências nas vendas e
lucros resultantes da tomada de cada uma das medidas ou todas em conjunto.

d) Combinação de estratégias na gestão de caixa

Depois de termos visto, isoladamente, os efeitos de implementação de cada uma das estratégias
da administração de caixa com vista a determinação da necessidade total de caixa operacional,
vimos e concluímos que cada uma delas favorece a gestão de caixa (i.e, rotação = giro de caixa).
Porém, as necessidades de caixa operacional da empresa terão uma redução mais significativa se
se combinarem as diferentes estratégias de administração de caixa. Essa é, deve ser, a
preocupação de qualquer empresa, tendo em conta os cuidados já referidos para cada uma das
estratégias, isto é:

Não prejudicar o conceito de credito da empresa – retardando demasiadamente os


pagamentos.
Evitar grandes faltas (ou roturas) de stocks o que pode prejudicar a continuidade da
produção.
Evitar a perda de vendas como consequência de padrões, condições e politicas de crédito-
supra-restritivas.
Tudo isto concorrendo para o aumento dos riscos financeiros e económico.

2. As necessidades e recursos financeiros

As necessidades e recursos financeiros têm a ver respectivamente com o active circulante e o


passivo circulante.

2.1. Necessidades financeiras

De acordo com a sua origem, as necessidades financeiras são de dois tipos:

a) Necessidades financeiras de exploração


 São as que decorrem directamente do ciclo de exploração.

b) Necessidades financeiras de extra-exploração


 As que resultam dos ciclos das operações de investimento e das operações
financeiras.

2.1.1. Características das necessidades financeiras

Estas necessidades financeiras são, de um modo geral, cíclicas ou incessantemente renováveis e,


materializam-se essencialmente através de:
 Crédito não titulado concedido aos clientes.
 Crédito titulado, mas não susceptível de mobilização (desconto bancário).
 Pagamentos adiantados exigidos pelos fornecedores correntes (matérias-primas e
subsidiárias, etc).
 Stocks de matérias-primas, matérias subsidiárias, produtos em vias de fabrico,
produtos semi-acabados, produtos acabados, mercadorias, embalagens, etc.

Como já foi dito na introdução, as necessidades financeiras de exploração não se identificam


com o activo circulante de exploração, pois, e segundo Caldeira Meneses, uma coisa é aquilo que
a empresa necessita para regular o funcionamento do ciclo de exploração e outra, completamente
distinta, é o que ela efectivamente investe (aplica) em capital circulante.

Exemplos de necessidades financeiras de exploração normais

 A margem de segurança de tesouraria


 O volume de crédito não titulado concedido aos clientes, corresponde às condições de
recebimento pré-negociados ou tradicionalmente praticados no sector de actividade
económica em que a empresa se encontra inserida.
 O montante do crédito titulado facultado aos clientes nas condições anteriormente
referidas, mas que seja momentaneamente insusceptível de desconto bancário ou
integrável nos plafonds de desconto negociados.
 Os adiantamentos efectuados aos fornecedores correntes e que sejam usualmente
praticados no sector em que a empresa se insere ou por esta negociados
 Os valores dos diversos stocks normais, i e, os geralmente exigidos para o regular
funcionamento da empresa (aprovisionamento, produção e comercialização dos produtos
acabados).

As necessidades financeiras de exploração normais podem não ter uma tradução efectiva no
capital circulante permanente de exploração ideal, pois é essencial a consideração das condições
concretas de organização e gestão da empresa.

2.1.1.2. De extra-exploração

São originados pelos ciclos das operações de investimento (imobilizações de exploração e


outras) e das operações financeiras, como por exemplo:

 Concessão de empréstimos aos trabalhadores da empresa


 Concessão de empréstimos às sociedades
 Aquisição de terrenos
 Construção de edifícios fabris
 Aquisição de uma quota numa nova sociedade

Na verdade elas integram a maior parte das rubricas do imobilizado total:


 Financeiro
 Corpóreo
 Incorpóreo e,
 Custos plurienais.
Nas necessidades financeiras que compõem o capital circulante extra-exploração importa
distinguir as que são incessante e anualmente renováveis daqueles que revelam uma natureza
conjuntural ou meramente esporádica.

2.2. Os recursos financeiros

Tal como as necessidades financeiras, os recursos financeiros também resultam do ciclo de


exploração ou ciclo das operações financeiras.
Eles podem ser:

1. De exploração
2. De extra-exploração

2.2.1. Os recursos financeiros de exploração (ou de funcionamento)

Decorrem directamente do ciclo das operações de exploração e são, em condições normais, geral
e permanentemente renováveis.
Eles abrangem:

 O crédito não titulado obtido dos fornecedores correntes (matérias primas, matérias
subsidiarias, embalagens, etc).
 O crédito concedido pelos trabalhadores da empresa.
 O crédito obtido do sector público Estatal: IRT, imposto de selo, IVA, etc.
 O crédito obtido da segurança social (INSS patronal e dos trabalhadores)
 As antecipações ou adiantamentos de clientes.

Os recursos financeiros de exploração (tal como as necessidades financeiras de exploracao)


podem ser:
a) Normais
b) Anormais
2.2.1.1. Normais
Os que não acarretam, por definição, custos explícitos, embora possam dar origem a
determinados custos implícitos (perda de um desconto de pronto pagamento como consequência
de retardamento dos pagamentos, optando por prazos mais longos).

Os recursos financeiros de exploração normais são:

 Os créditos obtidos dos fornecedores correntes (créditos titulados) com prazos pré-
negociados ou tradicionais.
 O crédito normal obtido dos trabalhadores da empresa
 Os créditos obtidos do sector público Estatal que resulte de situações litigiosas ou de
mora.
 Os adiantamentos normais (contratuais) dos clientes, i e, não forçados pela empresa.

Os recursos financeiros de exploração anormais

Resultam por via de regra da dilatação dos prazos de pagamento aos fornecedores correntes, aos
trabalhadores, ao sector público e aos organismos Estatais e, geralmente originam pesados custos
financeiros explícitos.

Estes recursos encontram-se, portanto, normalmente associados a problemas financeiros


estruturais (insuficiência de capitais permanentes).

2.2.2. Os recursos financeiros de extra-exploração (ou de financiamento)

Não são provenientes do ciclo de exploração, mas sim do ciclo das operações financeiras, como
por exemplo:

 Obtenção de um empréstimo bancário a curto prazo, em conta corrente e renovável


 Contracção de um empréstimo bancário a médio prazo
 Negociação de suprimentos junto dos detentores do capital social
 Aumento do capital social realizado em dinheiro

Os recursos financeiros extra-exploração também podem assumir uma natureza permanente ou


apresentarem características meramente conjunturais.
CAPÍTULO 4: ORÇAMENTO DE CAPITAL (ANÁLISE DE INVESTIMENTOS)

1. Noções de orçamento de capital


Segundo Brigham, é o conjunto de procedimentos técnicos que tem em vista definir o
montante ideal a investir na aquisição de activos fixos (AF), ou neles a investir, de modo
a maximizar no futuro, o seu valor presente. Tem muito a ver com a teoria clássica
(económica), segundo a qual deve-se investir quando a Rmg=Cmg.

É também definido como a previsão de receitas e despesas que terão lugar num
determinado período de tempo em relação aos activos fixos de exploração de uma
empresa.

2. Importância do Orçamento de capital


Reside no facto de qualquer sucesso futuro num projecto ou num investimento depende
também de maneira como foram feitos os investimentos, momento do Investimento, tipo
de investimento, etc, como mais tarde veremos.
A decisão de investimento é uma decisão de longo prazo, daí o cuidado no seu
planeamento.

3. Classificação e diferenciação de projectos de investimento


Existem vários critérios de classificação de projectos de investimentos, vamos analisar
aqueles que são importantes para o nosso estudo. Falaremos quanto ao objectivo, quanto
a sua dimensão, e quanto ao comportamento de fluxos de caixa. Quanto aos objectivos
podemos encontrar:
 Projectos de substituição, de expansão de produtos no mercado, projectos de
inovação para introdução de novos produtos e novos mercados, projectos de
segurança ou protecção do ambiente e outros projectos.

3.1. Projectos de substituição (manutenção da exploração/ou redução de custos)


Consistem na renovação do capital (AF) existente. Em princípio, não aumentam a
capacidade produtiva da empresa e, são os que apresentam menor grau de incerteza (ou
risco).

Causas que podem levar a substituição


a) Usura física que é geralmente a principal causa da depreciação.
b) Susceptibilidade de avarias frequentes e mais ou menos complexas.
c) Aqueles cuja depreciação é sobretudo devida ao progresso técnico (obsolescência
rápida).
3.2. Projectos de expansão de produtos existentes e mercados
Aumentam a capacidade da oferta e portanto, implicam estudos de rentabilidade,
comparando proveitos acrescidos com custos acrescidos (i e, marginais). Aconselham
também o estudo previsional do mercado: descobrindo novos consumidores.

3.3. Projectos de inovação para introdução de novos produtos ou mercados


(novos)
Tem por objectivo a redução de custos de funcionamento, a produção de novos produtos
ou atingir novos mercados, ou aperfeiçoar os existentes. Implica modificação nas linhas
de fabricação e, consequentemente, estudos de mercado e de rentabilidade.
3.4. Projectos de segurança ou de protecção do ambiente.
Destinam-se a cumprir ordens governamentais, acordos gerais de trabalho, garantindo a
segurança dos trabalhadores e da restante população circundante.
São exemplos:
 Projectos para investimentos destinados a destruição de produtos tóxicos,
poluição do meio ambiente, etc.
A decisão de investir depende do seu tamanho e não de garantia de retornos positivos
directos.

3.5. Outros projectos


São projectos secundários, como por exemplo, parques de estacionamento, equipamentos
sociais, etc.

4. Relação entre diversos projectos em análise


Os projectos podem ser:
 Independentes
 Mutuamente exclusivos
 Dependentes

4.1. Independentes
 Quando a aceitação ou rejeição de um projecto não é influenciável pela aceitação
ou rejeição de outro ou outros projectos.

4.2. Mutuamente exclusivos


Quando a aceitação de um implica a rejeição de outro ou outros projectos que formam o
conjunto em análise.

4.3. Dependentes
Quando a aceitação de um projecto depende da aceitação de outro ou outros projectos (há
complementaridade).

5. Fases metodológicas da análise dos investimentos

a. A detecção das oportunidades de investimento


b. A pré-selecção dos investimentos
c. A elaboração dos estudos dos investimentos
d. A avaliação da decisão económica de investimento
e. A avaliação da decisão de financiamento dos investimentos
f. A avaliação da decisão global de investimento
g. A gestão e controlo dos investimentos.

I. A detecção das oportunidades de investimento


A realização de novos investimentos em AF deve resultar dos objectivos e estratégias da
empresa e da existência de um processo de gestão participativa e, consequentemente,
aberta e motivadora.
Assim, o normativo dos investimentos da empresa deve claramente prever a possibilidade
e os gestores, posicionados nos graus hierárquicos inferiores, efectuarem propostas para a
realização de novos investimentos, dado que o comum é os gestores que se situam nos
níveis hierárquicos superiores são quem faz propostas de investimentos.

II. A pré-selecção dos investimentos


Decorre da política global da empresa e efectua-se com base em estudos preliminares e
com recurso aos chamados métodos empíricos de avaliação dos investimentos.

III. A elaboração dos estudos dos investimentos


Uma vez pré-seleccionados os investimentos em AF, devem ser objecto de um estudo a
incidir sobre as variáveis ou parâmetros económicos essenciais; permitindo a produção de
documentos relevantes à elaboração do mapa dos fluxos financeiros.

IV. A avaliação da decisão económica de investimento


Ao se fazer esta avaliação não se considera o seu aspecto financeiro de financiamento,
assume-se que os fundos de financiamento são capitais próprios. Sendo assim, a
preocupação é de ver se o projecto é rentável ou não tendo em conta a actualização dos
fluxos de caixa (método científico dos cash-flows descontados – DCF – que atende a
questão do valor temporal do dinheiro).

V. A avaliação da decisão de financiamento dos investimentos


Poderá (ou não) conduzir à alterações do pressuposto de que o financiamento é pelos
capitais próprios; permitindo-nos escolher a melhor forma de financiamento através do
estudo das alternativas realistas.

VI. A avaliação da decisão global de investimento


Consiste na observação e escolha entre várias alternativas de investimento tendo em
conta, por um lado, o seu risco económico e financeiro e, por outro, o seu impacto
económico e financeiros desses novos investimentos e, outros factores ponderáveis.

VII. A gestão e controlo dos investimentos


É uma fase tão importante quanto as anteriores, pois da gestão correcta depende o
sucesso de todo o esforço empreendido nas fases anteriores. Uma má gestão pode levar a
grandes desastres tanto económicos como financeiros.

6. Parâmetros económicos essenciais à decisão económica de investimento


Do tipo de investimento a fazer e do montante total das despesas em activos fixos e do
fundo de maneio necessário depende a extensão e a profundidade dos estudos a realizar
sobre os novos investimentos.
Porém os parâmetros essenciais à elaboração dos estudos dos investimentos são, regra
geral, os seguintes:
6.1. Os mercados (área para a qual convergem a oferta e a procura, com o fim de
determinar o preço de equilíbrio).
Os estudos do mercado abrangem as análises de procura global e oferta global dos
produtos acabados e, contempla a oferta e a procura de outros factores de produção
(Matéria-prima, Mao-de-obra, Matéria Subsidiária, Materiais Auxiliares, etc).

De entre as ofertas todas, a mais importante é a de produtos acabados e deve abordar


essencialmente os seguintes aspectos:
 O número e a localização geográfica dos concorrentes.
 A capacidade de produção (normal e real) dos concorrentes e as taxas de
crescimentos registadas no passado e previstas para o futuro.
 A organização global e o dinamismo comercial das despesas correntes.
 O preço, os descontos (comerciais e financeiros), a forma de recebimento, a
qualidade e as características das embalagens dos produtos acabados da
concorrência.
 As margens de lucros das empresas existentes.
 Os circuitos de distribuição utilizados pela concorrência.
 Os investimentos em capital fixo em curso da realização ou previstos pela
concorrência.

6.2. A tecnologia
Consiste na ponderação de toda a tecnologia alternativa existente, de modo a escolher a
adequada; tendo em conta a dimensão e a localização do investimento. A tecnologia a
utilizar determina o montante total, da despesa de investimento e, consequentemente, a
rendibilidade do projecto.

O estudo da tecnologia deve abranger com todo o pormenor os processos técnico-


produtivos, o layout dos edifícios, dos equipamentos e instalações, a circulação interna
dos materiais e dos PVF e acabados, e as especificações dos equipamentos e instalações
principais, o cronograma da realização dos investimentos, as despesas de montagem,
ensaio e arranque, os rendimentos e os consumos físicos horárias, as despesas de
manutenção e conservação futuras, as principais normas de segurança, as principais
exigências do controlo global da qualidade, etc.

6.3. A dimensão do projecto


É a sua capacidade física inicial de produção.
Existem vários conceitos de dimensão:

6.3.1. Dimensão teórica do projecto


É a sua capacidade física anual de produção normal, durante um certo período
de tempo e a um determinado ritmo diário, que geralmente é para as
actividades industriais de laboração não contínua, é quantificada em 225 d/ano
ao ritmo de 8 h/dia.

Os seus indicadores são:


 A sua capacidade física anual
 Número de trabalhadores
 Despesa total de investimento
 Volume de vendas/ano

6.3.2. Dimensão real do projecto


É a capacidade física anual de produção, as condições acima, deduzidas das
quebras de produção ou da produtividade originadas pelos tempos de paragem
e outras razões.

6.3.3. Dimensão económica ou dimensão óptima


É aquela que possibilita a maximização dos resultados anuais de exploração
(óptica empresarial) ou diferencial Benefício-Custo (óptica social).

Factores que condicionam a escolha da dimensão óptima:


 O mercado dos produtos acabados
 A tecnologia
 A localização
 As fracas disponibilidades de inputs e do pessoal técnico especializado
ou as reduzidas possibilidades de obtenção de uma adequada
assistência técnica
 A escassez das fontes de financiamento

Como criticar a dimensão óptima (ou avaliá-la)


A observação ou análise da dimensão da empresa, pode levar a conclusão de
que não se alcance a óptima e por isso a partida se classifique projectos “de
inviáveis”.
Assim várias são as técnicas que permitem criticar a dimensão e, destacamos a
Regra de Stigler.

Regra de Stigler
É uma regra que permite criticar a dimensão de projectos de investimentos,
embora seja uma regra empírica (pois não considera importantes diferenças
entre as empresas do mesmo sector de actividade) que permite aproximar à
realidade.

Nota: As empresas de determinado sector de actividade são todas


classificadas por escalões de dimensão, sendo posteriormente verificada a
contribuição de cada escalão para a produção sectorial total: Considerar-se-á
que a dimensão de cada escalão se aproxima da sua ineficiência, na medida
em que a sua contribuição para a produção global do sector for mais diminuta.

6.4. A localização
É óptima a localização de um projecto que permite minimizar os custos de exploração
(numa óptica empresarial) ou de maximizar o diferencial Benefícios-Custos (numa óptica
social).
Factores que determinam a localização de um projecto:
 As disponibilidades, características e custos dos factores produtivos necessários.
 As características dos produtos acabados
 Os custos de transporte e as facilidades de comunicação
 As economias externas de escala (caso dependa de subcontração) e as condições
socio-políticas e climatéricas de cada região ou país.
 Os estímulos e os benefícios de natureza fiscal

7. Semelhanças entre orçamento de capital e valoração de títulos

7.1. O custo do projecto pode ser determinado. O processo é o mesmo que o de obtenção
do preço que deve ser pago por uma acção ou uma obrigação.

A estimativa dos cash-flows esperados de um projecto incluindo o valor do activo num


determinado momento é semelhante a estimativa dos dividendos ou o juro pago numa acção ou
obrigação.

O risco de um projecto dos fluxos de caixa de um projecto pode ser estimado. Para isto o gestor
necessita de informação sobre a distribuição de probabilidades dos fluxos de caixa.

Conhecido o risco dos fluxos de caixa de um projecto, o gestor determina o custo de capital com
base no qual os fluxos de caixa são descontados ou actualizados.

Os fluxos de caixa de um projecto (conhecido o custo do capital) são actualizados (e comparados


com o investimento) a fim de saber o valor dos activos da firma. Este é o mesmo processo para
obtenção de valor presente dos dividendos futuros.

Finalmente, o valor presente dos fluxos de caixa futuros é comparado ao custo do projecto; se o
valor actual dos fluxos de caixa positivos excede o custo do projecto, então, este é aceite, o
contrário o projecto é rejeitado. Alternativamente a taxa de retorno esperada de um projecto pode
ser calculada, e se ela excede a taxa de retorno requerida (custo de capital), então o projecto é
aceite.

8. Como determinar as despesas totais de investimento (em A. Fixo)


8.1. O que são as despesas de investimento?
São a totalidade de gastos com: Estudos, decisão, preparação da implementação, período
de gestão, arranque, ritmo de cruzeiro e termo da vida útil; inclui também a aquisição de
activos fixos e do fundo de maneio de exploração ou A. Circulante).

Onde:
i. A preparação da implementação dos investimentos
Consiste essencialmente em definir as equipas e os responsáveis, e em estabelecer
adequados mecanismos de controlo: a este ponto, na prática, é igual à gestão do
projecto.
ii. O ritmo de cruzeiro
É atingido quando o projecto industrial atinge a sua capacidade normal de
produção ou quando o projecto comercial alcança os efeitos normais esperados.

iii. Vida útil de um projecto


É a duração económica (não física) dos principais componentes que integram a
despesa total de investimentos. Também pode ser quantificado pelo período de
obsolescência dos produtos acabados. Em regra, a vida útil, situa-se entre 5 a 10
anos.

8.2. Bases para estimar as despesas de investimentos


i. Preços correntes
Os custos e os proveitos previsionais dos projectos de investimento são
determinados durante toda a sua vida pela actuação de factores de natureza
técnico-produtiva ou económica e, ainda, pela influência da inflação ou
desvalorização da moeda; desta forma há que conceber cenários para o
comportamento futuro dos preços dos diversos inputs e outputs, como resultado
da influência da inflação ou da desvalorização da moeda.

Assim a decisão global de investimento depende de dois factores:


 A rendibilidade futura
 O custo médio ponderado das fontes de financiamento.

Vantagens de preços correntes


Pré-definir o comportamento futuro exigível aos preços de venda, cuja adesão a realidade
constitui uma condição primordial para o sucesso do projecto.
Porém, é inútil quando se utiliza uma taxa única anual de inflação para todos os preços:
de custos de exploração e os de venda o que significaria esperar que os preços de venda
terão um comportamento autónomo em relação aos custos de produção e que as margens
de vendas (bruta e líquida) serão implicitamente definidas e, não considerar os
desfasamentos dos custos dada a desvalorização e a repercussão.

ii. Preços constantes


 A inflação é obrigatoriamente contemplada, pelo menos até ao arranque
do projecto.
 Os custos e os proveitos dos novos investimentos em AF não são
influenciados durante toda a sua vida útil pela eventual actução da inflação
ou da desvalorização da moeda.

9. Critérios (ou regras) de decisão do orçamento de capital (ou métodos de


classificação e escolha de projectos).

São fundamentalmente quatro:


1. Pay-Back (ou Período de Recuperação do Investimento - PRI)
Consiste na determinação do número de anos necessários para se recuperar o
investimento líquido inicial com os seus fluxos de caixa.
Cálculo de Pay-Back (PRI)
Pode ser calculado segundo duas hipóteses:

1.1. Sem actualização de fluxos de caixa

Pay-Back (PRI) = (I0/∑Ri)*n;

Onde:
I0 = Investimento inicial
n = Vida útil do projecto
Ri = fluxos gerados pelo projecto

1.2. Actualizando os fluxos de caixa


Pay-Back (PRI) = [I0/∑(Ri / (1+K)t]*n

Onde:
K = custo de capital
I0 = Investimento inicial
n = Vida útil do projecto
Ri = fluxos gerados pelo projecto

1.3. Critério progressivo


Aplica-se quer para fluxos de caixa não actualizados, quer nos actualizados

Procedimentos de cálculo
 Calcular os valores acumulados dos cash-flow do projecto mediante a
soma ao longo dos anos
 Identificar o ano em que ocorre a mudança do sinal, de negativo para
positivo.
 Adicionar o quociente entre o último valor negativo e o valor do ano
imediatamente a seguir, ao número de períodos em que a soma dos fluxos
de caixa permaneceu negativo devido ao sinal negativo do investimento
inicial (e subsequentes se existirem).

PB
Ex: __0____1_____2__.__3____
CF -100 40 40 40
CFAC -100 -60 -20 20
0

Neste caso PB = 2 + 20/40 = 2,5 anos

Pressuposto: A produção ocorrerá uniformemente durante o ano

Regra de decisão pelo Pay-Back


Toma-se o projecto com menor Pay-Back.

1.4. Problemas do método do Pay-Back/Vantagens

1.4.1. Inconvenientes (problemas)


São basicamente dois:
1. Ocorre com o cálculo do PB, sem actualizar os fluxos de
caixa (FC). Ao não o fazer ignora o factor tempo no valor
do dinheiro, levando em consideração apenas
implicitamente o momento de ocorrência dos fluxos de
caixa.
2. Ocorre quer actualize ou não os FC – consiste no facto de
não reconhecer fluxos de caixa que ocorrem após o período
de Pay-Back; podendo por isso optar por um projecto que
realmente oferece menores retornos adicionais (os que se
dão após Pay-Back) que o alternativo rejeitado.

Exemplo: Sejam dois projectos que carecem de um investimento igual de 1000 Mt, os
seus FC são:
Anos
_______1_____2_____3_____4______5__
Y 500 500 100 10 10
Z 300 400 300 400 300

Y tem um PB (PRI) = 2 anos, enquanto Z tem PB = 3 anos, ora pelo PB, escolhe-se o Y,
porém considerando os FC posteriores Z gera maiores excedentes (700 Mt) que Y (120
Mt).

1.4.2. Vantagens (ou prós)


1. Em caso de investimentos no estrangeiro, em países de altas
taxas de inflação, ou governos instáveis, é um óptimo critério
de decisão por ser difícil ou impossível prever ou medir riscos
(inflação e instabilidade dos governos).
2. Por considerar FC em vez de lucros contábeis (note que só os
FC pagarão as contas da empresa) torna-se uma melhor medida
que o uso da taxa média de retornos.
3. O PB é uma medida de risco, logo é sempre aconselhável
utilizá-lo pelo menos como suplemento das outras medidas de
decisão (VAL ou TIR).
4. Se o cálculo do Pay-Back, considerar o valor do dinheiro no
tempo pode ser preferível à taxa média de retorno.

Interpretação do Pay-Back

O PB é um indicador de liquidez e de risco


Liquidez: é um indicador de liquidez na medida em que se atingirmos o PB, num dado
momento da vida útil do projecto, continuando este a gerar fluxos de caixa positivos,
estes fluxos são excedente de dinheiro (financeiro) e permitem à empresa um maior grau
de liquidez.

Risco
Quanto menor for o PB, menor é o risco do projecto, pois a incerteza de ocorrência futura
de fenómenos económicos danosos torna-se reduzida e, por conseguinte, reduz a
preocupação de não recuperar pelo menos o valor investido no projecto.

2. Método do Valor Actual Líquido (VAL)


Consiste em calcular o valor actual dos fluxos de caixa líquidos esperados de um
investimento, descontados (actualizados) ao custo de capital e subtraindo dele o
custo inicial de desembolsos do projecto.

 A sua fórmula analítica (matemática) é:

n
t
VAL = ∑ [ Ri / (1 + K*) ] - I0
i=1
 A utilizar sempre em fluxos de caixa mistos

Se os fluxos de caixa são constantes (i é, uma anuidade), podemos


transformar a primeira parcela, evidenciando a Ri
n
VAL = Ri ∑ [ 1 / (1 + K*)t] - I0
i=1

 Uso de calculadoras financeiras

Decisão: Toma-se o projecto com o maior VAL

Interpretação do Valor Actual Líquido (VAL)

a) Se VAL = o (nulo) – Indeterminado; os cash-flows do projecto são exactamente


suficientes para amortizar o capital investido e garantir a taxa de retorno do
capital requerido.

b) Se VAL> 0 - Os cash-flows geram um excedente financeiro líquido a favor dos


accionistas, posto que o retorno dos credores é fixo.
Por esta via (VAL> 0) o valor da empresa aumenta e consigo a dimensão e o
preço das acções – cumpre-se com o objectivo primordial da organização: A
maximização do seu valor; Ao passo que se escolhemos projectos com VAL = 0,
cresce somente a dimensão (tamanho) da empresa, mas o preço das acções
permanece inalterável.
c) Se VAL <0 – O projecto é inviável.

3. Taxa Interna de Retorno (TIR)


É a taxa de desconto que leva o valor actual das entradas de caixa a igualar-se aos
investimentos líquidos do projecto (admitindo-se a possibilidade de actualizar
todos os investimentos).

 A sua expressão matemática é:

VAL = 0;

n
∑ [ Ri / (1 + K*)t] - I0 = 0
i=1

n
∑ [ Ri / (1 + K*)t] = I0
i=1
onde K* = TIR

3.1. Critério de decisão, escolhe-se o projecto com maior TIR, ou se TIR > K

3.1.2. Métodos de cálculo da TIR


 Para fluxos de caixa constantes
 Por interpolação ou extrapolação
 Método gráfico
 Método gráfico ou simular

Interpretação lógica da TIR


a) Se a TIR = K – Indeterminado; nenhum valor adicional resultará do projecto;
isto é, VAL = 0

b) Se TIR> K, o projecto produz excedentes financeiros

c) Se TIR <K, projecto inviável

4. Índice de rendibilidade do projecto


É a relação existente entre os fluxos de tesouraria esperados e o custo de
investimento inicial.

 A sua expressão matemática é:

Sem a taxa de actualização


n
IRP = ∑ Ri / I0
i=1
Com a taxa de actualização

n
t
IRP = ∑ [Ri /(1 + K) ] / I0
i=1
O IRP mostra a rendibilidade do projecto por cada dólar investido

Regra de decisão: escolhe o projecto com o maior índice de

Interpretação lógica da TIR


a) Se a IRP> 1, o projecto é viável

b) Se IRP = 1, Indeterminado

c) Se IRP <1, projecto inviável

10. Alguns problemas na análise de investimentos


Vimos quatro critérios de decisão (ou selecção) de investimentos. Porém, nem sempre
todos eles nos conduzirão a mesma decisão.

A questão é: Qual será o melhor método?


1. Os projectos aceitáveis segundo o método do VAL são, também, aceitáveis
segundo o critério da TIR, porque o VAL será positivo se, e apenas se, a TIR for
maior que o custo de capital.

2. Pode haver conflito entre o VAL e a TIR, como critérios de decisão de


investimentos entre projectos alternativos (mutuamente exclusivos).
VAL

Proj A

Proj B

Zona de conflito
K
Ki KA KB TIR B

TIR A
Eventuais conflitos devem ser resolvidos, usando como critério de resolução o VAL

3. O crescimento é preferível à expansão


O valor de uma empresa pode aumentar ao longo do tempo, mesmo que ela
invista em projectos com VAL igual a zero ou mesmo negativo.
De notar que o VAL de um projecto é negativo quando a TIR é inferior ao custo
de capital. Porém, se a TIR for positiva e o projecto financiado com lucros
retidos, então a sua concretização contribuirá para aumentar o valor da empresa.
Mas, a razão de não realizar projectos com um VAL = 0 ou negativo tem a ver
com os custos de oportunidade dos accionistas.
No caso de um VAL <0, teríamos uma situação de crescimento, a única que pode
satisfazer os interesses dos accionistas.

4. É possível encontrar num projecto múltiplas taxas internas de rendibilidade (TIR)


Em certas condições, um projecto pode possuir mais do que uma taxa interna de
rendibilidade.

Tomemos, por exemplo, o seguinte projecto:

i Ri
0 -1.600
1 +10.000
2 -10.000

Realizados os cálculos, vamos encontrar duas taxas internas de rendibilidade:

TIR 1 = 25% e TIR 2 = 400%

A representação gráfica do VAL é:

Para K = 0; VAL = -1.600


Para K = 400%; VAL = 0
Para K = 25%; VAL = 0

VAL

0 K
25% 400%
-1600

Observações
1. Normalmente o VAL é uma função decrescente da taxa de actualização.

2. O número de taxas internas de rendibilidade de um projecto é igual ao


número de inversões de sinal dos fluxos gerados de tesouraria. Assim a
ocorrência de inversões de sinal dos fluxos gerados é uma condição
necessária mas não suficiente. A ocorrência de múltiplas taxas internas
de rendibilidade depende também do valor dos fluxos gerados de
tesouraria.

Exemplo:
i Tempo

Ri -1000 1400 -100

Este projecto só admite uma TIR (K*) = 32,5%

A fórmula que nos dá a TIR (K*)

n
t
VAL = 0 = ∑ [ Ri / (1 + K*) ] - I0
i=1

É um polinómio de grau n, admitindo, portanto n raízes. Porém, em condições


normais, n-1 raízes são negativas ou imaginárias, enquanto que apenas uma é real
e positiva.
Por isso se diz, nestes casos, que existe, apenas, uma única TIR.

Quando confrontado com múltiplas TIRs, a solução será determinar o custo de


capital e adoptar como critério de análise e decisão o VAL.
11. Conflito entre o VAL e a TIR
Há, essencialmente duas razões que podem estar na origem de um conflito entre o VAL e
a TIR.

a) O efeito dimensão do projecto


b) O efeito distribuição, no tempo, dos fluxos gerados.

Embora a dimensão e a distribuição dos rendimentos no tempo sejam as condições


geradoras do conflito, a causa básica é o facto de a utilização dos métodos VAL e TIR
terem pressupostos diferentes acerca da taxa a que os rendimentos dos projectos podem
ser reinvestidos.

11.1. O efeito dimensão dos projectos

Os resultados da TIR são expressos, como é óbvio, em termos percentuais,


ignorando a dimensão dos projectos. Ao contrário, os resultados do VAL são
expressos em termos absolutos.

Exemplo:

Projecto A (em Mt) Projecto B(em Mt)


I0 1.000.000 300.000
VAL 200.000 100.000
TIR 20% 25%

A diferença entre os dois projectos (A e B) pode ser analisada como um novo projecto
“C”, com I0 = 70.000Mt e o VAL = 100.000Mt. A opção pelo projecto B, só porque tem a
TIR superior, corresponderá a prescindir de um investimento de 700.000 a que
corresponde um VAL positivo igual a 100.000 Mt.

Seria então preferível, usando o critério do VAL, optar pelo projecto A.

11.2. O efeito distribuição, no tempo, dos fluxos gerados


A distribuição dos rendimentos dos projectos no tempo pode originar diferentes
inclinações das respectivas curvas do VAL.

No exemplo gráfico a seguir apresentado, a existência ou não de conflito entre o VAL e a


TIR como critérios de decisão dependerá da posição relativa do custo de capital, em
comparação com a taxa de indiferença (Ki).
Só para as taxas de custo de capital superiores a Ki, é que não existiria qualquer conflito.

Exemplo gráfico:
VAL

TIR A < TIR B


VAL A > VAL B, se K < Ki
A VAL A < VAL B, se K > Ki
B VAL A = VAL B, se K = Ki

Zina de conflito

K
Ki TIR A TIR B

11.3. A taxa de reinvestimento


O método de VAL pressupõe, implicitamente, a possibilidade de reinvestir os
rendimentos, do projecto a uma taxa igual ao custo do capital.

No método TIR, o pressuposto é que os rendimentos do projecto são reinvestidos


à própria TIR.

Quer o VAL, quer a TIR envolvem o uso de factores de actualização e a


determinação de valores actualizados. O valor actual de qualquer rendimento
futuro é definido como o montante inicial que, capitalizado a uma certa taxa,
aumentará até igualar o montante futuro, no termo do período estabelecido. A
própria construção das tabelas de actualização ou capitalização pressupõe o
processo de reinvestimento. Ora, uma vez que, quer o VAL, quer a TIR envolvem
o uso de tabelas de juros compostos, o conceito de reinvestimento está por detrás
de ambos os métodos.

11.3.1. Valores futuros


Na tomada de decisões de investimento, bem como em muitas outras decisões
financeiras, utiliza-se, geralmente, valores actualizados como critérios de decisão.

No entanto, os valores futuros podem tornar-se, igualmente, úteis, especialmente


para comparar o VAL e a TIR.

Exemplo
Ki Taxa de 3
Projecto Custo reinvestimen VF = ∑Ri (1 + K)i-4 VA = VF/(1+i)3
i=1 i=2 i=3
to 1
A 10.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 6,00% 15.918,00 13.365,00
10,00% 16.550,00 13.896,00
18,30% 17.912,00 15.040,00
20,00% 18.200,00 15.281,00
23,40% 18.784,00 15.771,00
B 10.000,00 0,00 0,00 16.550,00 6,00% 16.550,00 13.896,00
10,00% 16.550,00 13.896,00
18,30% 16.550,00 13.896,00
20,00% 16.550,00 13.896,00
23,40% 16.550,00 13.896,00

Para k = 6%
VAL A = 13.365 – 10.000 = 3.365
VAL B = 13.896 – 10.000 = 3.896

Ignorando a taxa de reinvestimento a TIR A = 23,4%, caso contrário, teríamos


cinco taxas internas de rendibilidade (TIR), tantos quantos os valores futuros
encontrados (TIR A):

3
t
5000 * ∑ [ 1 / (1 + K*) ] -10.000 = 0
i=1

Note-se que o contributo para o valor da empresa é o valor futuro do projecto,


actualizado à taxa de custo de capital (6%).

11.3.2. Qual é a melhor taxa de reinvestimento?


O pressuposto do reinvestimento à taxa do custo de capital, que está implícito,
como vimos, no critério VAL, é o mais adequado.
Isto torna o método do VAL mais adequado na análise de investimento, pois,
dificilmente a TIR será uma taxa relevante para o reinvestimento.

No entanto, quando a taxa de reinvestimento diferir da taxa de custo de capital, é


aquela que deve ser utilizada, ou então deve recorrer-se ao método do valor
futuro.

Assim, podemos usar o conceito do valor futuro para redefinir o VAL e a TIR:

VAL* = [Valor futuro / (1 + r)n] – I0


e
TIR* = [Valor futuro / (1 + K*)n] – I0

Neste caso o VF é determinado com base nas melhores taxas de reinvestimento a


que um investidor pode ter acesso.
CONCLUSÃO

Por todas as razões apontadas e, ainda, pelo facto de só o VAL atender ao efeito do custo
de capital, o critério do VAL é o mais indicado para a decisão do projecto de
investimento.

No entanto alguns gestores afirmam que a TIR é mais fácil visualizar e interpretar que o
VAL.

12. Interacções entre projectos


Este tema vem, ainda, a propósito de investimentos (ou projectos) mutuamente
exclusivos.
A interacção entre projectos pode ter origem de várias formas.

Analisaremos, porem, somente cinco casos simples, mais importantes.

 Caso 1: O “timing” óptimo dos investimentos (ou projecto).

 Caso 2: A escolha entre equipamentos de longa e curta duração.

 Caso 3: Decisão sobre a substituição de um equipamento existente.

 Caso 4: Custos da capacidade excedentária.

 Caso 5: Flutuação dos níveis de utilização.

12.1. O “timing” óptimo do projecto


Um projecto pode ter um VAL> 0, sem que isso signifique que agora é o melhor
momento para realizá-lo. Igualmente, um projecto pode ter um VAL <0 agora,
mas se em vez de investir já, esperarmos um pouco e, realizá-lo mais tarde, a
situação muda.

Daqui podemos concluir que um projecto em função do “timing”, apresenta duas


alternativas:
a) Realizá-lo agora ou;
b) Esperar e investir mais tarde.
Quando se tem certeza a definição do melhor tempo torna-se fácil.

12.1.1 Procedimentos para definir o “timing” óptimo dos investimentos


1. Examinar datas alternativas (t) para investir
2. Calcular o valor líquido futuro do investimento para cada uma das datas.
3. Calcular (partindo dos valores futuros) o valor presente da empresa ou do
investimento, para ver a melhor alternativa hoje.

VAL = VLFt / (1+k)t


Consideremos o seguinte exemplo
Você possui um terreno com árvores inacessíveis. O acesso nele envolve uma
grande despesa de investimento em estradas e outros serviços. Quanto mais tempo
esperar, maior será o investimento necessário. Por outro lado, os preços de
madeira vão aumentando enquanto se espera, e, as árvores continuarão a crescer,
embora a uma taxa gradualmente decrescente.

Considere que o Valor líquido futuro (VLF) em diferentes datas é:


em cts
Ano do abate 0 1 2 3 4 5
VLF 50.0 64.4 77.5 89.4 100.0 109.4
Variação do VLF em relação ao
anterior   28.8% 20.3% 15.4% 11.9% 9.4%

Quanto mais tempo adia o corte de madeira, maior será o VFL

A questão que se coloca é: quando maximiza esse valor?

A resposta a essa questão é encontrada actualizando os VFL


Considerando 10% como a taxa de actualização apropriada teremos os seguintes
VALs.
em cts
Ano do abate 0 1 2 3 4 5
VAL (em cts) 50.0 58.5 64.0 67.2 68.3 67.9

Pela tabela podemos ver que o momento óptimo para o corte de madeira é o ano
4, pois aí maximiza o valor. E até o ano 4, o VFL aumenta mais de 10%. Depois
do ano 4 o ganho em valor absoluto é positivo, mas menor que o custo de capital.

Assim em termos percentuais maximizará o valor logo que K = a taxa de


crescimento do valor futuro líquido (VFL)

Este exemplo não considera a seguinte situação prática e realista:


Quanto mais depressa abater as primeiras árvores, mais depressa terá uma
segunda plantação a crescer. Assim, o valor das segundas depende da altura em
que corta as primeiras. Este problema, mais complexo e realista, poderá ser
resolvido de uma das seguintes maneiras:
1. Determine a data de abate que maximiza o valor actual de uma série de
cortes, tomando em consideração as diferentes taxas de crescimento das
árvores novas e velhas.
2. Repita os nossos cálculos, tendo em conta o valor futuros de mercado do
terreno limpo de árvores, como parte dos rendimentos do primeiro corte de
árvores. O valor do terreno limpo inclui o valor actual de todos os cortes
subsequentes.
A segunda solução é de longe a mais simples, se conseguir prever o valor do
terreno limpo de árvores.
O Timing óptimo em circunstâncias de incerteza
A solução do timing de um projecto nas condições de incerteza é de difícil
obtenção e, raramente existe uma maneira de o saber com segurança.

12.2. A escolha entre equipamentos de longa e curta duração


Nestas circunstâncias escolhe-se o equipamento com o menor custo anual
equivalente.

Exemplo:
Suponha que tem de escolher entre duas máquinas, A e B.
As duas máquinas têm uma concepção diferente, mas tem capacidades idênticas e
executam exactamente a mesma função.
 A máquina A custa 15.000 cts e tem uma duração de 3 anos. O seu
funcionamento custa 4000 cts/ano.
 A máquina B é um modelo “económico” que custa apenas 10.000 cts, mas
só dura 2 anos e o seu funcionamento custa 6.000 cts/ano. Estes são fluxos
de tesouraria reais: os custos são previstos em cts de poder de compra
constantes.

Cálculo do valor actual do custo

Custos em milhões de cts Valor actual a


Máquina
C0 C1 C2 C3 6%
A 15 4 4 4 25.69
B 10 6 6   21.00

Se só tivéssemos que decidir em função do custo actual, somente a máquina seria


a B.
Porém, na escolha hoje entre a A e B existe a possibilidade de uma decisão futura
de investimento, ou por outra, neste caso B terá de ser substituída um ano mais
cedo que A.

Assim, uma máquina com VA total (custos) de 21.000 cts distribuídos por 3 anos
(0 a 2) não é necessariamente melhor do que uma máquina competitiva com VA
(custos) de 25.690 cts distribuídos por 4 anos (0 a 3).

Deste modo temos de converter o VA (custos) num custo anual. Isto é, teremos
que determinar qual deverá ser a justa renda anual ou custo anual equivalente) que
seria pago a partir do ano1 caso a máquina fosse alugada, de modo que o valor
actual total das mesmas seja igual ao valor actual total do custo da máquina.
Ao mesmo tempo que nos certificamos que as vendas resultantes igualam à esse
VA total (custo).

VA da anuidade = PMT*PviFAk,n

PMT (ou renda) = VA/PviFAk,n


Máquina Custos em milhões de cts Valor actual a
C0 C1 C2 C3 6%
A 15 4 4 4 25.69
B 10 6 6 - 21.00
Custo anual equivalente A 9.61 9.61 9.61 25.69
Custo anual equivalente B   11.45 11.45  - 21.00
25,69 =»Pv; 3=»n; 6%=»i, g; End, PMT? =» 9,61 ; ou PMT = 25,69/2,673 =» 9,6

Conclusão: A máquina A é melhor, porque o seu custo anual equivalente é menor


(9.610 cts vs 11.500 cts da máquina), ou seja, a máquina A poderá ser arrendada
para o gestor de produção por menos do que a máquina B.

Este método, que não pode ser abrangente por tão simples que, pressupõe que
determinada máquina será substituída por outra igual – que nenhuma máquina
mais barata surgirá nos anos 2 e 3. Se esta surgisse, então a escolha entre as
máquinas A e B no ano zero, teria que ter em conta a outra máquina porque a
escolhida deve ser substituída.

Ora, lembre-se também que a razão ou a necessidade dos custos anuais


equivalentes deve-se ao facto de que A e B serão substituídos no futuro em datas
diferentes; portanto, a escolha entre eles irá afectar decisões futuras de
investimento.

Quando é que não é necessário o Custo anual Equivalente?

Não é necessário se as decisões futuras não forem afectadas pela escolha inicial.
Assim, não havendo substituição de qualquer máquina, teremos que ter em conta
a receita suplementar gerada pela máquina A, no seu terceiro ano, quando ainda
está a funcionar, ao contrário de B.

12.3. Decisão sobre a substituição de um equipamento existente

No ponto 12.2, consideramos que o tempo de vida de cada máquina é fixo. Porém,
na prática a substituição de equipamento depende mais dos aspectos económicos
do que a sua usura física.

Então, nós é que devemos decidir quando substituir.


Este problema também se resolve com base na determinação de anuidades
equivalentes (entradas) para obter um VA total (retornos) do projecto da nova
máquina.

Exemplo:

Está a utilizar uma máquina já velha e da qual se espera um fluxo positivo de


tesouraria líquido de 4.000 cts no próximo ano e mais 4.000 cts no seguinte.
Depois disso a máquina começa a ter problemas de avarias. Poderá substituí-la
agora por uma máquina nova, que custa 15.000 cts, mas que é muito mais
eficiente e proporciona um fluxo positivo de tesouraria de 8.000 cts por ano,
durante 3 anos.

Quer saber se deve substituir o equipamento agora ou se deve esperar um ano.

Fluxos de tesouraria em milhões de cts Valor actual a


  6% (milhões de
C0 C1 C2 C3 cts)
Máquina Nova -15 8 8 8 6.38
Anuidade equivalente durante 3
anos   2.387 2.387 2.387 6.38

Os fluxos de tesouraria da nova máquina são equivalentes a uma anuidade de


2.378 cts.

A decisão é não substituí-la pois a nova só gera 2.387 cts de fluxo de tesouraria,
enquanto a velha gera maiores fluxos (4.000 cts/ano).

Como resolver o problema considerando valores residuais da Velha máquina

Exemplo: Considere que o presente valor residual é de 8.000 cts e que no próximo
ano será de 7.000 cts.

Vendendo no próximo ano acontecerá:


Ganhará 7.000 cts, mas perderá o valor residual de hoje mais a rendibilidade
decorrente da aplicação da quantia durante um ano (8.000*1,06 = 8.480).

O seu prejuízo líquido será:

8.480-7000 = 1.480 cts, também a conclusão é de que a substituição não deverá,


ainda, ser efectuada.

13. Selecção de um programa de investimentos com recursos limitados


O pressuposto que está na base da discussão sobre os critérios de decisão de projectos é
que, a riqueza dos accionistas de uma empresa será maior se a empresa aceitar todos os
projectos que tenham VAL positivo.
Havendo limitações de recursos impõe-se a necessidade de um método de selecção para
escolher o pacote de projectos com maior VAL possível.

O método a considerar é i índice de rendibilidade ou rácio custo-benifício (IR = VA/I 0),


uma vez que o VAL não se mostra adequado.

Exemplo:
Suponha que o custo de oportunidade do capital é de 10%, que a nossa empresa
dispõe de 10.000 cts na totalidade e que tem as seguintes oportunidades:

Fluxos de tesouraria em milhões de cts VAL a


  VA IR
C0 C1 C2 10%
A -10 30 5 21 31.00 3.1
B -5 5 20 16 21.00 4.2
C -5 5 15 12 17.00 3.4
A empresa só pode investir em A ou então em B e C. Apesar de B e C,
individualmente, terem valores actuais líquidos mais baixos que A, quando
considerados conjuntamente tem o VAL mais alto (B+C = 16+12 = 28). Torna-se
evidente que não se pode escolher projectos só com base no seu VAL individual.

Assim, a melhor forma é adoptar o projecto ou associação de projectos


(realizáveis com os recursos disponíveis) que têm a maior rendibilidade.

Limitações do método
Quando é relacionado mais do que recurso, o método falha bastante.

Exemplo:
Suponhamos que o limite orçamental de 10.000 cts se aplica aos fluxos de
tesouraria em cada um dos anos 0 e 1 e que a nossa lista de projectos é assim
aplicada:

Fluxos de tesouraria em milhões de


VAL a
  cts IR
10%
C0 C1 C2
A -10 30 5 21 3.1
B -5 5 20 16 4.2
C -5 5 15 12 3.4
D 0 -40 60 13 1,4

Uma estratégia será a de aceitar os projectos B e C; no entanto e se assim


fizermos, não poderemos aceitar também D, que custa mais do que o nosso limite
orçamental para o período 1. Uma alternativa, será aceitar o projecto A no período
0. Embora este tenha um VAL mais baixo do que a combinação B e C, dará
origem a um fluxo positivo de tesouraria no período 1 de 30.000 cts. Isto somado
ao orçamento de 10.000 cts, também já nos permite empreender D. A e D têm
índices de rendibilidade mais baixos que B e C, mas estes têm um VAL total mais
alto (A+D); 21+13 = 34.

Aqui neste exemplo falhou a hierarquização com base no IR, porque os recursos
são restritos em cada um dos períodos. Aliás, este método (de IR) de selecção é
inadequado sempre que haja qualquer outra restrição à escolha de projectos. Daí
que este método não se aplique quando os projectos são mutuamente exclusivos,
ou quando um projecto depende do outro (dependentes).

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