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Lições de Contabilidade Financeira I

AULA TEÓRICA
Estudo da Conta do IVA

Introdução

Esta lição trata dos aspectos contabilísticos inerentes ao IVA (Imposto sobre o Valor
Acrescentado), buscando conhecer detalhadamente as contas deste imposto, sua
movimentação, bem como o processo de apuramento contabilístico desta obrigação
fiscal que as empresas em Moçambique estão obrigadas a cumprir. Desta forma, a lição
perspectiva dotar seus leitores de conhecimentos sobre as práticas contabilísticas
decorrentes da aplicação do Código do IVA e das disposições do PGC-NIRF (Plano de
Contabilidade – Normas Internacionais de Relato Financeiro), aprovados no País.

O que é Imposto?

Actualmente, costuma definir-se o imposto como uma prestação pecuniária 1:

a) coactiva – o facto gerador, ou seja, o nascimento do imposto prescinde da vontade


de quem está vinculado ao seu cumprimento.

b) definitiva – o que é pago a título de imposto legalmente devido não mais é


restituído ao sujeito passivo2.

1
Prestação pecuniária – relativa a dinheiro, constitui neste contexto uma obrigação de entrega de dinheiro.
2
Sujeito Passivo – aquele que está obrigado a pagar um imposto. Pode ser uma pessoa jurídica (ex: Empresa MM
Car, Lda) ou uma pessoa singular (ex: João).

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c) unilateral – o imposto não dá lugar a nenhuma contraprestação individualizada,


ou seja, nenhuma contrapartida pode exigir quem paga o imposto em troca do que
pagou.

d) estabelecida pela lei – A criação de impostos está sujeita ao princípio da


legalidade. Os impostos são criados por lei.

e) a favor do Estado – a prestação do imposto é paga ao Estado, que nesta relação


é comummente designado por sujeito activo.

f) para a realização de fins públicos – exemplo: construção de escolas, hospitais,


pagamentos de professores do Estado, entre outros bens e despesas públicos.

g) sem carácter de sanção – a prestação do imposto não é paga ou devida em


consequência de um acto ilícito (como o caso de coimas 3), mas sim por uma
obrigação imposta a qualquer pessoa física ou jurídica elegível para o efeito, de
acordo com princípios de justiça social4.

Portanto, as alíneas acima apresentadas constituem um conjunto de elementos


indispensáveis para conceituação do imposto. Com o conceito de imposto apresentado
o leitor desta lição está em condições mínimas para conhecer do ponto de vista
contabilístico a aplicação do código do IVA em Moçambique, uma vez que ficou claro de
que o Imposto é uma prestação que deve ser paga em dinheiro, sendo assim relevante
para contabilidade tanto por que afecta o património das empresas, mas também porque
em primeiro propicia evidências da ocorrência do facto gerador dos impostos.

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Coima – Multa, pena pecuniária.
4
Justiça social – igualdade de direitos e deveres dos cidadãos de uma sociedade.

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O que é facto gerador de um imposto?

Conforme CHAVES, 2008, o facto gerador do Imposto representa um facto ou conjunto


de factos a que o legislador 5 vincula o nascimento da obrigação jurídica de pagar um
tributo6 determinado. Pelo que, facto gerador pode ser classificado como a seguir se
apresenta:

a) Quanto a quantidade de actos: Simples (constituídos de um só elemento) ou


Complexos (constituídos por um conjunto de factos);
b) Quanto ao momento de ocorrência:
 Instantâneos (quando se consuma em momento dado. Como por exemplo,
no caso do imposto sobre produtos industrializados); ou Periódicos
(quando o seu ciclo de formação se completa dentro de um determinado
período de tempo, como no caso do IRPC);
 Espacial (local onde ocorre o facto gerador. Exemplo do desembaraço
aduaneiro) ou Temporal (momento em que ocorre o facto gerador. No caso
de ser previsto pela legislação).

Depois de compreender de facto o que é um imposto, e adicionalmente saber como


classificam-se as formas de nascimento da obrigação de pagar um imposto, importa em
diante apresentar o IVA e a partir dai demonstrar as práticas contabilísticas que estão
por detrás do cumprimento desta obrigação fiscal, demonstrando paralelamente, como
as empresas devem aplicar o código do IVA em Moçambique, apoiando-se das
disposições do PGC-NIRF que harmoniza a contabilidade internacional.

5
Legislador – autor de leis
6
Tributo – corresponde a impostos, mas é mais abrangentes, pois inclui na sua definição outros tipos de
contribuição diferentes do imposto, como taxas, contribuições especiais, entre outros.

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O que é o Imposto sobre o Valor Acrescentado?

O IVA é um imposto indirecto porque incide sobre o consumo e não sobre o rendimento,
também considerado plurifásico, pois incide sobre todas as fazes do circuito económico,
desde o produtor, passando pelo grossista e consumidor final. Este imposto atende o
princípio do destino, pois a tributação ocorre no local de destino. O IVA é um imposto
Estadual, pois tem aplicação em todo o território nacional. Nos termos do n o 1 do Art. 1
do CIVA (Código do IVA), aprovado pela lei no 32/2007, de 31 de Dezembro, estão
sujeitas a IVA as transmissões de bens e prestações de serviços7 efectuados a título
oneroso no território nacional8 por um sujeito passivo agindo nessa qualidade e as
importações de bens.

Nas aquisições de bens e serviços o imposto pago aos fornecedores pode ser dedutível,
com excepção do previsto nos art. 9 a 12 do CIVA.

Qual é o mecanismo de arrecadação da receita fiscal do IVA pelo Estado?

Antes de mais, importa referir que a carga fiscal do IVA é suportada pelo consumidor
final de um bem ou serviço, no caso as pessoas singulares, mas em algumas
circunstâncias pode ser uma pessoa jurídica (empresa), em casos em que esta seja um
consumidor final de tal bem ou serviço de acordo com as disposições da lei, ou seja,
quando a empresa não tem direito a dedução9. Assim, basicamente o papel das unidades

7
Transmissões de bens e prestação de serviços – facto gerador, classificado quanto a quantidade de actos como
complexo (pois é constituído por um conjunto de factos: a transmissão de bens e/ou serviços e importações).
8
Território nacional – facto gerador, classificado quanto ao momento de ocorrência como espacial (pois o território
nacional entende-se como o local onde ocorre o facto gerador) e instantâneo (pois se consuma no momento da
transmissão de bens e/ou serviços)
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Direito a dedução – possibilidade legal de diminuir o imposto recebido das vendas pelo imposto suportado nas
compras, de forma a reduzir o imposto a entregar ao Estado.

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económicas é o de canalizar este imposto ao Estado e não necessariamente suportá-lo


como um encargo fiscal.

A tabela e a figura que se seguem demonstram com claridade como funciona o processo
de arrecadação do IVA pelo Estado:

Exemplo 1:

Valores em Meticais
Total de
Consumidor
Produtor Grossista Retalhista Entregas
Final
ao Estado
20% Margem de lucro 10% Margem de lucro 5% Margem de lucro
Produção Venda Compra Venda Compra Venda Compra
10,000.00 12,000.00 12,000.00 13,200.00 13,200.00 13,860.00 13,860.00
IVA Pago/Recebido (17%) 2,040.00 2,040.00 2,244.00 2,244.00 2,356.20 2,356.20
Valor total da Factura 14,040.00 14,040.00 15,444.00 15,444.00 16,216.20 16,216.20
Entrega ao Estado 2,040.00 204.00 112.20 2,356.20

Exemplo 2:

http://direito-fiscal.blogspot.com/2005/09/noo-de-imposto.html .
Acessado em 26/02/2017

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Nos exemplos acima, presumiu-se que os primeiros intervenientes não tem nenhum
insumo sujeito a IVA. Cada interveniente remete ao Estado a diferença entre o IVA pago
(o IVA que deduz) e o IVA que cobra (o IVA que liquida sobre vendas). O consumidor
não tem o direito de recuperar o IVA, suportando todo imposto, sendo por isso o IVA
denominado de imposto sobre o consumo/despesa 10. É importante salientar que os
intervenientes na cadeia, o produtor, grossista e retalhista no exemplo 1 e as empresas
A e B no exemplo 2, somente serviram como mecanismo de transmissão e não sofrem
qualquer impacto directo de tributação.

Contudo, estes exemplos demonstram que a carga fiscal do IVA é suportada pelo
consumidor final e as empresas têm o papel de canalizar este imposto para o Estado.
Deve se dizer que o IVA não tem influência directa nos resultados da empresa (lucros ou
prejuízos), salvo em casos que este não possa ser deduzido, pois pode afectar os
resultados por via da depreciação de bens com IVA suportado ou nos serviços ou bens
adquiridos também sem direito a dedução.

Importa acrescentar que os exemplos acima ilustram uma situação em que o IVA
funciona plenamente, ou seja, todos os intervenientes pagam e conseguem repassar o
IVA. No entanto, na realidade, o IVA pode não funcionar de forma linear devido as
isenções11 introduzidas por vários regimes de tributação. Em Moçambique existem
essencialmente dois regimes: regime normal e os regimes especiais. Os regimes
especiais dividem-se em dois grupos: regime de isenção e regime de tributação
simplificada. O importante é que a coexistência de diferentes regimes na mesma
economia cria uma serie de distorções que fazem com que o IVA deixe de agir da forma

10
O que torna o IVA um imposto indirecto.
11
Isenções são situações em que um sector, uma empresa ou um produto é dispensada da obrigação de liquidação
do IVA e consequentemente fica também dispensado o sujeito passivo de realizar entrega do imposto ao Estado.

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original, ou seja, como uma tributação ao consumo e passe a constituir um imposto sobre
a produção. Outra consequência dos regimes especiais é a ocorrência de situações em
que o Estado tem de reembolsar o IVA aos agentes económicos.

Como as empresas procedem contabilisticamente o apuramento do IVA?

O apuramento do IVA consiste em determinar, tendo em vista as disposições do CIVA o


imposto mensal devido por um agente económico, nos casos em que o IVA das vendas
seja superior ao IVA das compras, bem como determinar o Imposto mensal a
recuperar/receber12, nos casos em que o IVA das compras é maior que o IVA das
vendas.

O IVA é tratado contabilisticamente pela conta 4.4.3 – Imposto sobre o valor


acrescentado, assim o PGC-NIRF prevê o seguinte desdobramento para esta conta:

Desdobramento/subcontas da conta 4.4.3 – Imposto sobre o acrescentado

4.4.3 Imposto sobre o Valor Acrescentado


4.4.3.1 – IVA Suportado
4.4.3.2 – IVA Dedutível
4.4.3.3 – IVA Liquidado
4.4.3.4 – IVA Regularizações
4.4.3.5 – IVA Apuramento

12
Nos casos em que uma empresa tenha um IVA mensal de compras superior ao valor do IVA das vendas, este tem
um direito ou activo relativamente ao Estado, podendo optar por duas alternativas. Recuperar o IVA que significa
usar esse valor para reduzir o imposto a pagar no mês/meses seguintes ou efectuar um pedido de reembolso que
consiste em receber em dinheiro a quantia de imposto devida pelo Estado. Contudo, esta última alternativa é menos
comum na prática e para que o sujeito passivo se beneficie dela é necessário preencher alguns requisitos
estabelecidos nos Art. 21° do CIVA e Art. 22° do RCPRIVA (Regulamento da Cobrança do Pagamento e do
Reembolso do IVA).

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4.4.3.6 – IVA Liquidações oficiosas


4.4.3.7 – IVA a pagar
4.4.3.8 – IVA a recuperar
4.4.3.9 – IVA Reembolsos pedidos
Fonte: PGC-NIRF – Códigos de Contas

A Conta 4.4.3.1 – IVA Suportado é de uso facultativo, destina-se a registar o IVA


suportado em todas as aquisições de inventários, activos tangíveis e intangíveis e outros
bens e serviços nos casos em que o sujeito passivo não tem integral direito a dedução
do imposto que lhe foi facturado, ou seja quando pratique operações que conferem direito
à dedução e outras que lhe vedam esse direito (método pro rata) o uso desta conta torna-
se relevante. Caso o sujeito passivo use a afetacção real, ou não esteja no âmbito de
dupla sujeição o uso desta conta torna-se irrelevante.

Assim, pode compreender-se que a conta 4.4.3.1 – IVA suportado é uma conta transitória
e facultativa e permite uma entidade separar os valores de IVA dedutível e do IVA
incorporado em activos ou reconhecidos como custos do exercício. Esta conta desdobra-
se em:

4.4.3.1.1 – Inventários

4.4.3.1.2 – Activos tangíveis e intangíveis

4.4.3.1.3 – Outros bens e serviços

Estas contas movimentam-se a débito:

 por todas as aquisições efectuadas, discriminadas pelas diferentes subcontas de


acorco com a sua origem, por contrapartida de 1.1 – Caixa, 1.2 – Bancos, ou por
contas de terceiros.

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a crédito:

 por contrapartida das correspondentes subcontas da conta 4.4.3.2 – IVA


dedutível, quando as aquisições conferirem direito a dedução parcial ou total.

 por contrapartida das contas apropriadas das classes 2 – Inventários, 3 –


Investimentos de capital e 6 – Gastos e perdas, para aquisições que não
conferirem direito a dedução parcial ou total, sempre que tiver utilizado esta conta
nas aquisições efectuadas.

 por contrapartida da conta 6.8.2.2 – Imposto sobre o Valor Acrescentado quando


as aquisições não conferirem direito a dedução parcial ou total e houver
dificuldade em imputá-lo a contas especificas, sempre que tiver utilizado estas
contas nas aquisições efectuadas.

A Conta 4.4.3.2 – IVA dedutível, revela o valor do IVA, que, dada a natureza das
operações subjacentes à actividade exercida, seja susceptível de dedução nos termos
previstos no CIVA. Esta conta deve ser desdobrada como segue:

4.4.3.2.1 – Inventários

4.4.3.2.2 – Activos tangíveis e intangíveis

4.4.3.2.3 – Outros bens e serviços

Estas contas movimentam-se a débito:

 por contrapartida da conta 4.4.3.1 – IVA suportado, nos casos em que o sujeito
passivo utilize esta conta.

 por todas aquisições efectuadas, discriminadas pelas diferentes subcontas de


acordo com a sua origem, por contrapartida de 1.1 – Caixa, 1.2 – Bancos, ou

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ainda por contas de terceiros nos casos em que o sujeito passivo não utilize a
conta 4.4.3.1 – IVA suportado.

a crédito:

 pela transferência do saldo relativo ao período de tributação por contrapartida da


conta 4.4.3.5 – IVA apuramento.

A Conta 4.4.3.3 – IVA liquidado regista o valor facturado aos clientes por operações
gerais de vendas de bens e serviços sujeitos a tributação, bem como por autoconsumo
e operações gratuitas e ainda por operações especiais nos termos do CIVA. Deve ser
desdobrada pelas seguintes subcontas:

 4.4.3.3.1 – Operações gerais – esta conta movimenta-se a débito pela


transferência do saldo relativo ao período de tributação, por contrapartida da conta
4.4.3.5 – IVA apuramento. A crédito pelo imposto liquidado nas facturas ou
documentos equivalentes decorrentes da actividade normal da empresa por
contrapartida das contas de 1.1 – Caixa ou 1.2 – Bancos quando as vendas
tenham sido a pronto pagamento, ou por uma conta apropriada de terceiros
quando as vendas tenham sido a crédito; pelo imposto liquidado em
adiantamentos e pagamentos parciais de vendas de bens e serviços decorrentes
da actividade normal da empresa, mesmo que seja anterior à emissão da factura
ou documento equivalente, por contrapartida das contas de 1.1 Caixa ou 1.2
Bancos; e também por contrapartida dos saldos referentes ao período das contas
7.1.5 – IVA das vendas com imposto incluído e 7.2.1 – IVA da prestação de
serviços com imposto incluído.

 4.4.3.3.2 – Autoconsumos e operações gratuitas – a movimentação desta


subconta está reservada às situações previstas no parágrafo 3 do artigo 3 do
CIVA, ou seja, quando houver lugar à liquidação do IVA por força da afectação ou

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da utilização de bens afins estranhos à empresa, de transmissão de bens e


serviços gratuitos ou de afectação de bens a sectores isentos quando
relativamente a esses bens tenha havido dedução de imposto.

Não obstante o CIVA definir que em geral uma transmissão de bens corresponde
a uma transmissão onerosa, considera-se também transmissão de bens (BRITO
E FERREIRA, 2014):

a) As transmissões gratuitas quando relativamente aos bens transmitidos


tenha havido dedução total ou parcial do imposto.

b) A afectação permanente de bens da empresa a uso próprio do seu titular,


do pessoal ou, em geral, a fins alheios à mesma, quando o imposto tiver
sido total ou parcialmente deduzido.

c) A afectação de bens a um sector de actividade isento quando relativamente


a esses bens tenha havido igualmente a dedução total ou parcial do IVA.

Estas excluídas do regime estabelecido as amostras e ofertas de pequeno


valor.

Esta conta movimenta-se a débito pela transferência do saldo relativo ao período


de tributação, por contrapartida da conta 4.4.3.5 – IVA apuramento; e a crédito
pelo imposto liquidado por força da afectação ou da utilização de bens afins
estranhos à empresa, de transmissão de bens e serviços gratuitos ou de
afectação de bens a sectores isentos quando relativamente a esses bens tenha
havido dedução de imposto, por contrapartida das contas apropriadas das classes
2 – Inventários, 3 – Investimentos de capital e 6 – Gastos e perdas.

 4.4.3.3.3 – Operações especiais – esta subconta destina-se a registar o IVA


liquidado nas restantes transmissões de bens e serviços conforme definidas no

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parágrafo 3 do artigo 3 do CIVA, diferentes da anterior e movimentam-se da


mesma forma que a anterior.

A Conta 4.4.3.4 – IVA Regularizações, regista correcções de imposto a favor do sujeito


passivo ou a favor do Estado, nos termos do CIVA, como as devoluções de bens,
concessão de descontos ou abatimentos fora da factura ou ainda de invalidade, rescisão
ou redução do contrato, anulação e incobrabilidade de contas a receber, entre outras
situações. Esta conta desdobra-se como se segue:

 4.4.3.4.1 – Mensais a favor do sujeito passivo – se as regularizações forem


motivadas por erros ou omissões no apuramento do imposto, devoluções de
clientes, reduções, rescisões e anulações de contratos por parte dos clientes,
descontos e abatimentos, créditos incobráveis, entre outros, pode haver lugar a
impostos a favor do sujeito passivo. Assim, esta conta movimenta-se a débito por
erros no apuramento do imposto, devoluções de clientes, deduções, rescisões e
anulações de contratos por parte de clientes, créditos incobráveis, entre outras,
por contrapartida das contas que originaram a rectificação; a crédito pela
transferência do saldo relativo ao período de tributação, por contrapartida da conta
4.4.3.5 – IVA apuramento.

 4.4.3.4.2 – Mensais a favor do Estado – esta conta será registada se as


regularizações forem motivadas por erros na determinação do imposto, ou pela
ocorrência das operações contrárias referidas na subconta anterior. Esta
movimenta-se a débito pela transferência do saldo relativo ao período de
tributação, por contrapartida da conta 4.4.3.5 – IVA apuramento; e a crédito por
erros no apuramento do imposto, devoluções a fornecedores, reduções, rescisões
e anulações de contratos por parte de fornecedores, entre outras situações, por
contrapartida das contas que originaram a rectificação.

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 4.4.3.4.3 – Anuais por cálculo do pro rata definido – utiliza-se esta conta para as
regularizações motivadas pela determinação de um pro rata definido superior ou
inferior ao que provisoriamente foi utilizado durante o ano, por contrapartida das
contas onde foram contabilizadas as aquisições, cujo imposto dedutível é objecto
de rectificação. O pro rata é calculado, no início do ano, com base no valor das
operações registadas no ano anterior, sendo aplicado provisoriamente durante o
exercício. no final do ano é objecto de correcção com base nos valores reais
apurados. Esta conta é poucas vezes usada (BRITO E FERREIRA, 2014).

A Conta 4.4.3.5 – IVA apuramento destina-se a centralizar as operações registadas nas


contas 4.4.3.2, 4.4.3.3, 4.4.3.4 e 4.4.3.8, para que o seu saldo reflicta o montante de
imposto a pagar ou a recuperar, para cada período de imposto. A seguir apresenta-se o
esquema de apuramento do IVA:

Fonte: Adaptado de BRITO E FERREIRA, 2014

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Legenda do Esquema:

1. Transferência do saldo devedor da conta IVA dedutível para a conta IVA


apuramento.

2. Transferência do saldo credor da conta IVA liquidado para conta IVA apuramento.

3. Transferência do saldo devedor da conta IVA regularizações para conta IVA


apuramento, nas circunstâncias em que as regularizações a favor do sujeito
passivo tenham sido superiores as regularizações a favor do Estado.

4. Transferência do saldo credor da conta IVA regularizações para conta IVA


apuramento, nos casos em que as regularizações a favor do Estado tenham sido
maiores que as regularizações a favor do sujeito passivo.

5. Transferência do saldo credor da conta IVA apuramento para a conta IVA a pagar,
nas circunstâncias em que as liquidações sejam maiores do que as deduções (IVA
liquidado/das vendas maior que o IVA dedutível/das compras).

6. Transferência do saldo devedor da conta IVA apuramento para a conta IVA a


recuperar, nos casos em que as deduções sejam maiores que as liquidações (IVA
dedutível/das compras maior que o IVA liquidado/das vendas).

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Aspectos de síntese a salutar:

1. O apuramento e pagamento do IVA não estão condicionados aos recebimentos


das facturas que comprovam o facto gerador do imposto.

2. O apuramento do IVA é feito em Moçambique atendendo uma periodicidade


mensal, salvo se o sujeito passivo submeter aos órgãos de tutela um pedido de
alteração da periodicidade, indicando razões plausíveis para o efeito e dai obter
resposta positiva.

3. O apuramento do IVA exige que as facturas em causa sejam legalmente aceites


como previsto no CIVA.

4. Os sujeitos passivos de IVA pagam e “deduzem” 13 o IVA das importações, mas


não podem liquidar o IVA nas exportações.

5. A Conta 4.4.3.7 IVA a pagar debita-se por contrapartida das contas de


disponibilidades pelo pagamento do Imposto.

6. A Conta 4.4.3.8 IVA a recuperar credita-se por contrapartida da conta 4.4.3.5 IVA
apuramento pelo uso do imposto devido pelo Estado como dedução no período
seguinte a aquele em que o tal IVA a recuperar terá sido apurado.

7. A Conta 4.4.3.9 – IVA reembolsos pedidos revela o montante dos créditos sobre
o Estado relativamente aos quais tiver sido apresentado um pedido de reembolso.
Debita-se por contrapartida da conta 4.4.3.8 – IVA a recuperar ou directamente na
conta 4.4.3.5 – IVA apuramento, pelo pedido de reembolso de imposto e credita-

13
Se os bens ou serviços adquiridos conferirem direito a dedução.

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se por contrapartida de 1.2 – Bancos, pelo recebimento da empresa respeitante


aos reembolsos pedidos ao Estado.

8. Na regularização do IVA tanto a favor do sujeito passivo, assim como a favor do


Estado, é muito importante conhecer detalhadamente as diferenças entre
descontos financeiros e descontos comerciais. O desconto financeiro não tem
comummente seu valor mencionado na factura, pois ele é oriundo de
“recebimento”, normalmente no prazo ou em data antecipada, o que faz gerar
contabilisticamente um gasto financeiro para empresa concedente. Ou seja, é
condicionado ao pagamento antecipado e pode algumas vezes ser mencionado
na factura. Já o desconto incondicional, também conhecido como desconto
comercial, é aquele que não depende de qualquer condição futura, sendo
concedido por mera liberalidade do vendedor ao comprador e incide directamente
ao preço das mercadorias ou produtos vendidos e/ou nos serviços prestados, por
isso mesmo, nesta espécie o desconto é comummente mencionado na factura de
venda e/ou de prestação de serviço, podendo em alguns casos não constar da
factura e ser atribuído à posterior. Contudo, tanto o desconto comercial assim
como o desconto financeiro podem originar regularizações do IVA desde que
estes estejam fora da factura. O facto de apenas regularizar-se o IVA dos
descontos (comerciais ou financeiros) fora da factura, fundamenta-se no facto de
tal desconto ocorrer à posterior à emissão da factura e assim através de uma nota
de crédito14 ser suportada uma alteração da factura que implica uma regularização
do IVA liquidado ou dedutível reconhecido na mesma.

14
Nota de crédito – documento que altera o valor da factura a favor do comprador.

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9. A Conta 4.4.3.6 – IVA Liquidações oficiosas destina-se ao registo da quantia do


imposto liquidado pela Administração fiscal, nos termos dos art. 31 e 32 do
Regulamento do Código do IVA, ou seja, por falta de entrega da declaração
periódica e por omissões ou inexactidões. Debita-se por contrapartida da conta
4.4.3.7 – IVA a pagar, pela notificação recebida e credita-se por contrapartida da
conta 4.4.3.7 IVA a pagar, pela anulação da liquidação oficiosa.

Aspectos complementares à saber:

1. Conhecer as disposições mais relevantes do CIVA;


2. Compreender o preenchimento da declaração periódica do IVA.

Bibliografia

 CHAVES, F. C. Planejamento Tributário na Prática. 1a ed. São Paulo: Atlas, 2008;


 httpwww.speed-program.comwp-contentuploads2012072015-SPEED-Note-003-
Introdu%C3%A7%C3%A3o-ao-IVA-PT.pdf. acessado em 07/12/2015;
 Lei no 32/2007 de 31 de Dezembro – Aprova o Código do IVA;
 PGC-NIRF. Plano Geral de Contabilidade para o sector empresarial em
Moçambique, 2009;
 QUADRO LEGAL PARA IMPOSTOS EM MOÇAMBIQUE. Manual do IVA. 2a ed.
2011.
 http://direito-fiscal.blogspot.com/2005/09/noo-de-imposto.html
Acessado em 25/08/2019.

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