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1. Explique o que são impostos extrafiscais.

Resposta: O imposto é uma prestação pecuniária, coativa e unilateral, sem o carácter de sanção exigida
pelo Estado ou por outros entes públicos com vista à realização de fins públicos.
Assim decompondo o conceito pode-se dizer que este pressupõe:
a) uma prestação - uma pessoa faz algo a favor de outra; neste caso, a prestação corresponde à entrega
de dinheiro, que é obrigatória nos termos e nos prazos das diversas normas relativas aos impostos;
assim corresponde, portanto, ao conteúdo de um vínculo obrigacional entre um devedor e um credor –
o devedor tem que prestar ao credor, que normalmente é o Estado, a quantia correspondente ao
imposto (40° LGT);
b) Prestação coativa, ou seja, é imposta por lei (36° LGT) e ao seu incumprimento corresponde uma
sanção ainda que o facto ou situação tributada dependam da vontade do contribuinte – exemplo:
comprar ou não comprar um automóvel, pagando, consequentemente o IVA e o ISV. O fato de se
admitir em certos contextos, a contra atualização de alguns aspetos de obrigação tributária não põe em
causa a sua característica geral de coatividade legal;
c) Prestação unilateral, significando que o seu pagamento não pressupõe uma contraprestação, uma
obrigação recíproca, por parte do Estado. De facto não se pode estabelecer uma ligação direta, um nexo
de correspetiva idade entre o pagamento dos nossos impostos e os benefícios que tínhamos
decorrentes das despesas que o estado realiza, com essas receitas, em hospitais, escolas, estradas…,
pois as receitas provindas dos impostos pagos por cada contribuinte “misturam-se” no orçamento do
Estado não ficando adstritas a nenhuma despesa em especial – Esta é, como veremos, a característica
essencial que permite distinguir imposto de taxa uma vez que neste segundo tipo de tributo é possível o
contribuinte aperceber-se daquilo que recebe em troca do pagamento da taxa -;
d) Sem carácter de sanção; o imposto distingue-se das multas, coimas ou outras sanções pecuniárias, e
essa distinção deve assentar num critério funcional: enquanto o imposto tem como finalidade imediata
e principal arrecadação de receitas, as outras sanções pecuniárias se é verdade que também permitem
arrecadar receitas, têm como objetivo principal sancionar a prática de um ato ilícito; e) Finalidade
essencial: obtenção de receitas públicas – É o que se designa por finalidade fiscal ou financeira do
imposto. Como sabemos, a maior percentagem das receitas para orçamento de Estado advém da
cobrança de impostos, todavia existe algo que designamos por extra fiscalidade.
A extrafiscalidade é uma característica da tributação que põe em relevo o facto de a
aplicação de um tributo levar à produção de comportamentos nos contribuintes e de outros efeitos na
economia. Sabemos, por exemplo, que o aumento da tributação sobre veículos de alta cilindrada
diminuirá a procura destes bens e aumentará a procura de veículos de cilindrada inferior. Se for
concedido um benefício fiscal à aquisição de equipamento energia solar, é natural que aumente a
procura e aplicação destes equipamentos. Se for aplicada uma taxa mais elevada de IMI aos edifícios
degradados é normal que os seus proprietários procurem repará-los para não ter que pagar essa taxa
mais elevada. Quando o legislador cria impostos ou modifica as características de um, ou ainda quando
intervém em matéria de benefícios fiscais, deve ter sempre em conta esses efeitos extra que os tributos
têm, para além da finalidade de obtenção de receitas que é a sua finalidade principal. Há, contudo
impostos que têm como finalidade principal afinal, não há arrecadação de receita, mas uma outra
finalidade social ou económica – são os chamados impostos extrafiscais.
Assim a extrafiscalidade é uma característica de todos os impostos embora a cobrança de
receitas seja a sua finalidade principal, já com o que designamos por impostos extrafiscais são aqueles
em que a finalidade extrafiscal é a principal, sendo a cobrança de receitas apenas um “pretexto”.
Exemplos: Impostos aduaneiros que visam proteger os produtores nacionais de entrada no
mercado de produtos idênticos mais baratos; Impostos com taxas mais elevadas sobre produtos de luxo
que visam desencorajar o seu consumo; ou a tributação do proprietário de terras aráveis que as não
cultive para o forçar a cultivá-las ao vendê-las a quem o faça; ou ainda o agravamento da taxa de IMI
sobre os prédios degradados.
Com este conceito de extrafiscalidade temos que ter em mente, que na verdade, todos os tributos têm
uma função extra fiscal – A par da função imediata que é de captação de receitas – depois a articulação
de cada imposto e do sistema fiscal no seu todo tem sempre alguns objetivos económicos e sociais:
incrementar o investimento, redistribuir a riqueza, fomentar a poupança ou o consumo.
É a própria CRP que reconhece a extrafiscalidade no seu artigo 103° n°1, o 81°-b) ainda
determina como incumbência prioritária do Estado, a promoção de igualdade e da justiça social. Na LGT,
no seu art. 5°, cuja epígrafe é “Fins da Tributação”, diz que a tributação não tem como finalidade apenas
satisfazer as necessidades financeiras do Estado, mas também muitas outras finalidades sociais. Os
impostos têm uma finalidade fiscal, financeira, que é a recolha de receitas para a satisfação das
necessidades financeiras do Estado, e têm várias finalidades extrafiscais, ou extra financeiras, entre as
quais aparece como principal, a repartição justa do rendimento e da riqueza.
Para alguns atores – aqueles em que a finalidade extrafiscal é mais importante do que a
finalidade fiscal – Não se deveria aplicar o regime jurídico ou constitucional fiscal aos impostos
extrafiscais (conjunto de regras que a Constituição da República exige que se cumpram quando se
produzem normas fiscais: qual o órgão competente para o fazer, a que regras devem obedecer esse
processo), mas sim o regime jurídico da “constituição económica” com um principio da legalidade mais
flexível e assente no princípio da proporcionalidade. Isto significa que, na prática, o governo devia poder
instituir esses impostos extra fiscais sem autorização da Assembleia da República. Contudo isso não é
possível, pelo princípio da legalidade em sentido restrito – reserva da lei em sentido formal. Significa
que a forma jurídica válida de intervenção na disciplina dos impostos é a Lei da Assembleia da República
(artigo 165.º n.º 1, al. i) 1ª parte). Mas como não se trata competência legislativa absoluta da
Assembleia da República, mas sim de competência legislativa relativa, a Assembleia da República pode
através de lei, autorizar o governo a produzir legislação em matéria de impostos.
Ainda irei referir os benefícios fiscais que são os instrumentos fiscais de maior utilidade extra fiscal.
A definição de benefícios fiscais está presente no artigo 2° n° 1 do Estatuto dos Benefícios Fiscais que refere
que são “medidas de carácter excecional instituídas para tutela de interesses públicos extrafiscais relevantes e
que sejam superiores aos da própria tributação que impedem”. Podem revestir-se de benefícios fiscais: as
isenções, as reduções de taxas, as deduções à matéria coletável, as deduções à coleta, as amortizações e as
reintegrações aceleradas, bem como outras medidas fiscais que caibam na definição. Assim resulta deste
conceito que a sua criação é determinada por razões de natureza extrafiscal, ou seja, por preocupações do
legislador com outros fatores que não a mera recolha de receitas. Podem visar fins de natureza económica ou
sociais. Os benefícios fiscais representam uma derrogação do princípio da igualdade: significam um tratamento
excecional de certas situações, rendimentos, negócios. Por isso, para serem conformes com a Constituição da
República, tem que representar o acolhimento de interesses públicos relevantes que se sobreponham ao
interesse que é tutelado pela tributação. É também este carácter excecional que justifica que os benefícios
fiscais sejam sempre temporários (3° EBF). Devem ser criados com base numa clara definição dos seus
objetivos e da prévia quantificação da despesa fiscal – conceito que designa a receita previsível que deixa de se
recolher para o OE em consequência da instituição de cada benefício fiscal.
2. Qual a natureza jurídica do ato de liquidação?
Resposta: A liquidação é o procedimento principal da atividade da administração tributária e aquilo que
mais contente com a esfera jurídica do cidadão enquanto contribuinte na medida em que é um
procedimento que culmina com a emissão de um ato tributário designado ato de liquidação (59° e ss.
CPPT).
Este procedimento pode dividir-se em várias fases: a) fase de iniciativa virgula desencadeada
pelo contribuinte ou pelo fisco com base em informações prestadas por aquele obtidas por este; b) fase
de instrução (71°-76° LGT)n o qual são admitidos todos os meios de prova; c) fase de decisão em que se
produz o ato administrativo definitivo designado por liquidação o qual não é mais do que a aplicação de
uma taxa uma matéria coletável apurada previamente (77°-80° LGT, 60° CPPT).
É cada vez maior a participação dos sujeitos passivos no procedimento, traduzida na
crescente importância da declaração para a determinação da matéria coletável. A intervenção da
administração tributária e por isso, cada vez mais uma intervenção a posteriori com o objetivo de
controlar as atuações dos particulares. A declaração é o ato pelo qual o contribuinte leva ao
conhecimento da administração tributária existência da matéria tributável que integra o facto tributário.
A liquidação pode ser uma liquidação primária ou adicional decorrente de ações de inspeção
ou da correção pelo contribuinte da declaração inicial (59° n°3 CPPT). A instalação do procedimento
tributário de liquidação e oficiosa quando A Entidade competente se tome conhecimento de factos
tributários não declarados pelo sujeito passivo e do suporte probatório necessário (59° n°7 CPPT). As
operações de liquidação compreendem: a determinação do sujeito passivo da obrigação fiscal; o
lançamento do objetivo que consiste na fixação da matéria de impostos; Liquidação stricto senso,
traduzida na aplicação de uma taxa matéria coletável daí resultante da coleta pronto e, 8deduções à
coleta; obtenção do valor a pagar.
Como sabemos liquidação é designação dada ao procedimento administrativo que termina
com ato administrativo denominado de ato de liquidação. A questão que aqui se coloca é de saber se a
liquidação tem natureza constitutiva ou meramente declarativa, ou seja se o ato administrativo de
liquidação cria uma nova situação jurídica ou é apenas o reconhecimento de uma situação que lhe é
preexistente. O artigo 36 da lgt ao dispor que a relação tributária se constitui com a verificação do facto
tributário aponta no sentido da natureza meramente declarativa do ato administrativo de liquidação, e
é neste sentido que vai a doutrina dominante. A obrigação de imposto sendo uma obrigação de fonte
legal, reporta-se ao momento da verificação dos seus pressupostos que é também um momento
relevante para determinar a lei aplicável aos elementos essenciais de obrigação; a liquidação é apenas a
declaração de existência de obrigação preexistente, tornando-a líquida, certa e exigível.
Por outro lado, coloca-se a questão da natureza jurídica do ato de auto liquidação levada a
cabo pelo contribuinte ou da liquidação por terceiro substituto. Estes casos incluem-se na substituição
tributária que ocorre quando, “por imposição da lei, a prestação tributária for exigida a pessoa difere te
do contribuinte, ou seja, a pessoa diferente daquela em relação à qual se verificou o fato tributário” –
20° LGT. Em qualquer destes casos parece não haver intervenção dos serviços da administração fiscal, se
assim é como é que é possível que se possa afirmar que se trata de um ato administrativo? Trata-se de
um ato tributário relativamente ao qual se verifica uma homologação implícita pela administração
tributária; essa homologação resulta da aceitação do pagamento do imposto. Nesse sentido aponta o
facto de o CPPT (131°) prever a sua impugnação judicial.
3. A personalidade jurídica é um requisito essencial para o conceito de sujeito passivo de obrigações
tributárias?
Resposta: A relação jurídica o vínculo intersubjetivo concretizado pela ocorrência de um fato cujos
efeitos são vinculados pela lei, denominado fato jurídico.
A estrutura de obrigação tributária é complexa na medida em que tomada pelo em sentido
amplo, nela se pode incluir além da obrigação principal, que é obrigação de pagar o tributo, diversas
obrigações acessórias de natureza formal: obrigações declarativas, contabilísticas, outro tipo de
obrigações acessórias. Esta complexidade resulta também de ser possível identificar vários tipos de
posições ativas e vários tipos de posições passiva: assim por um lado pode identificar-se vários tipos de
poderes – direito ao crédito do imposto, ou poder administrativo de proceder à liquidação e cobrança
do imposto e que pertence, em regra à Administração Tributária, mas que se encontra hoje delegado,
em muitas situações, no próprio contribuinte; por outro lado, encontramos várias posições passivas:
contribuinte, substituto fiscal, retentor, responsáveis fiscais, sucessores, os portadores económicos do
imposto e os sujeitos passivos das múltiplas obrigações acessórias.
A relação jurídica fiscal é uma relação obrigacional, e significa que tal como prevê o artigo
397 do código civil, é um vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à
realização de uma prestação. Obrigação fiscal principal ou típica é constituída pelo dever de pagar o
imposto por parte do sujeito passivo e o crédito ao recebimento desse imposto por parte do sujeito
ativo.
Os sujeitos jurídicos são as entidades que podem ser titulares de direitos e obrigações
jurídicas, ou seja de se envolverem relações jurídicas. A personalidade jurídica (66° CCivil) traduz-se
precisamente na suscetibilidade de ser titular de direitos e se estar adstrito a obrigações; Assim a
personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica (67° CCivil), e fala-se desta para exprimir a
aptidão para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições de relações jurídicas, ou seja, a
capacidade jurídica é a possibilidade de se ser sujeito de direitos e obrigações. A capacidade jurídica
divide-se em capacidade de gozo direitos, que é a possibilidade de ser titular de direitos e deveres, e a
capacidade de exercício de direitos, que consiste na possibilidade de exercer por si só, pessoal e
livremente, um conjunto de direitos e deveres de que se é titular ponto enquanto a capacidade de gozo
decorre automaticamente a personalidade jurídica, ou seja quem tem personalidade jurídica tem
capacidade de gozo; a capacidade de exercício é a possibilidade concreta de certa pessoa poder exercer
efetivamente os direitos ou cumprir as obrigações que lhe cabem enquanto sujeito, assim uma pessoa
pode ter capacidade de gozo em relação a um determinado direito mas não ter capacidade de exercício
desse direito. Se uma pessoa tem incapacidade de exercício de direitos, não pode exercer os seus
direitos pessoalmente; No entanto já é possível que outra pessoa venha a exercer esses direitos em
conjunto com incapaz, em substituição este.
Para o direito português adquire-se personalidade jurídica quando a vida,
independentemente do tempo que se está vivo, ou seja, à luz do artigo 66 número 1 do código civil
adquire-se personalidade jurídica ou seja ser se uma pessoa, no momento do Nascimento completo e
com vida. Esta personalidade cessa com a morte nos termos do artigo 68° n° 1 do código civil.
Por último, o 15° LGT, refere que “a personalidade jurídica consiste na suscetibilidade de se
ser sujeito de relações jurídicas tributárias”.
Assim precisamos ir ao artigo 18° n° 3 LGT que determina que o sujeito passivo é pessoa
singular ou coletiva, o património organização de fato ou de direito que nos termos da lei, está
vinculada ao cumprimento da prestação tributária, seja como contribuinte, seja como substituto ou
responsável. Disto resulta a necessidade de esclarecer os seguintes conceitos que podem ser
coincidentes mas que muitas das vezes se reportam realidades diferentes: o sujeito passivo inclui toda a
pessoa a quem a lei impõe a realização de uma qualquer obrigação tributária, seja a prestação de
imposto seja uma prestação correspondente a uma obrigação acessória; o devedor de imposto é aquele
que tem que pagar o imposto, mas no sentido amplo abrange os devedores indiretos, derivados ou
acessórios, aos quais o fisco pode excecionalmente exigir o imposto; o contribuinte visa referir aquela
pessoa em relação à qual se produz o facto tributário, aquela cuja capacidade contributiva a lei pretende
atingir e que portanto, é aquela cujo património efetivamente atingido pela obrigação de pagar o
imposto. Este último é um devedor direto, originário e principal.
Contudo neste mesmo artigo, mas no seu nº 4, diz que uma pessoa pode sofrer a afetação
do imposto indiretamente, através da repercussão legal sem ser considerado sujeito passivo, pois aqui
não é possível determinar o contribuinte de facto: o devedor de imposto e o contribuinte são a mesma
pessoa embora em termos económicos saibamos que é um terceiro, consumidor final, que paga
efetivamente o imposto. À luz do artigo 37° do CIVA, sabemos que este fenómeno de repercussão legal
é imposto por lei, por quanto a mecânica do IVA só funcionará adequadamente se os sujeitos passivos
repercutirem a carga fiscal no consumidor final e, é por isso que o IVA só é dedutível se for mencionado
na fatura e é por isso que, no final de cada período de tributação, os contribuintes só são devedores da
diferença entre o imposto que onerou os bens de produção que adquiriam o imposto que onerou os
bens que vender. Trata-se de, em termos económicos, da transferência de peso económico de um
tributo para uma pessoa diferente do sujeito passivo, através da integração desse peso no preço de um
bem.
Neste número 4 alínea b Diz Que Não é sujeito passivo quem tenha certas obrigações acessórias sobre
assuntos tributários de terceiros, designadamente os representantes.
Assim, a noção de sujeito passivo inclui todas as pessoas e todos os tipos de obrigação
tributária seja principal ou acessória.
Em conclusão, e respondendo sucintamente à pergunta, a personalidade jurídica é essencial
para o conceito de sujeito passivo por força do 15° LGT.
4. Os direitos e deveres decorrentes da obrigação fiscal são indisponíveis e irrenunciáveis.
Concorda?
Resposta: A obrigação tributária principal é a obrigação de pagar o tributo sendo por isso uma obrigação
legal: isto significa que ela nasce da verificação do fato tipificado na norma legal, ou seja, não resulta de
um acordo de vontade entre as 2 partes envolvidas. A sua fonte é a lei.
O artigo 36 da LGT diz que a relação jurídica tributária se constitui com o facto tributário, e
no seu número 2, diz que os elementos essenciais da relação jurídica tributária não podem ser alterados
por vontade das partes. Acrescenta o art. 30° n°1-c, a propósito objeto da relação jurídica que este
inclui, além da obrigação principal e das obrigações acessórias também o direito a dedução, reembolso e
a restituição do imposto. esta última expressão designada devolução do imposto indevidamente
cobrado.
O fato de obrigação ser de origem legal não exclui a possibilidade de contratos fiscais, mas
também nesses casos, tais acordos de vontades são previstos e regulados por lei. Diz por outro lado, que
é uma obrigação pública no sentido de ser a sua disciplina regida pelo direito Público, pois sabemos que
o direito fiscal é um ramo do direito Público. Nas relações jurídicas fiscais a vírgula de forma patente, a
manifestação da pública potestas que caracteriza a intervenção dos entes públicos nas relações jurídicas
de direito Público.
A obrigação fiscal, justamente porque é pública, é uma obrigação imediatamente a
executiva: quer isto dizer que a obrigação do pagamento do imposto, seja do pagamento voluntário
seja, se este não for efetuado, então o pagamento coercivo através do processo de execução fiscal,
resultam da própria afirmação de existência da dívida feita pela administração tributária na nota de
cobrança. Se o contribuinte não pagar no prazo de pagamento que lhe for dado as finanças podem logo
iniciar um processo de execução com base num título executivo emitido pela própria administração
tributária, sem necessidade de recorrer a uma ação declarativa, ou seja, sem necessitar de recorrer a
tribunal para obter uma sentença que reconheça a existência do seu direito.
Como os títulos executivos próprios das finanças são as certidões de dívida extraídas pelos
próprios serviços a partir das notas de cobrança (188° CPPT) diz que é obrigação fiscal e auto titulado.
porém o processo de execução fiscal só em parte decorre nos tribunais, desenvolvendo-se inicialmente
no seio da própria administração tributária (149°-151° CPPT). Por esta razão se diz que obrigação fiscal é
tendencialmente executória ou seja para executar o ato de liquidação, quer dizer, para obter
coercivamente o pagamento, os serviços do Ministério das finanças não têm que recorrer ao Tribunal e
apenas no caso dos contribuintes devedores suscitarem certas questões jurídicas e que o processo
transita para o tribunal fiscal competente; por isso, tendência este processo decorrer nos serviços de
execução das finanças: só excecionalmente vai para tribunal.
Os direitos e deveres decorrentes da obrigação fiscal são indisponíveis e irrenunciáveis: o
credor, ou seja, a administração tributária, não pode conceder moratórias no seu pagamento ou
conceder perdões de dívida (30° n°2, 36° LGT, 85° n°3 CPPT). Todavia, essa indisponibilidade é relativa,
na medida em que a lei admite que o fisco pratica alguns atos de disposição do crédito nomeadamente
quando permite que contribuinte requeira o pagamento em prestações, ou quando cria mecanismos de
renegociação da dívida fiscal ou de perdão de juros. Além disso a obrigação fiscal tem garantias
especiais que colocam o credor tributário numa posição vantajosa face aos restantes credores do
contribuinte devedor (50° e ss. LGT).
5. Quais as várias aceções do princípio constitucional da igualdade em matéria fiscal?
Resposta: O princípio da igualdade fiscal tem a sua base no princípio geral da igualdade consagrado na
Constituição da República portuguesa, no artigo 13°. Há que transportá-lo para o domínio do direito
fiscal. Assim costumamos referir-nos é este princípio em 3 sentidos:
1 - Igualdade perante a lei fiscal, que significa a proibição de privilégios de classes ou grupos,
existindo um dever universal de pagar os impostos. Neste sentido a igualdade é resultante da
característica da generalidade do imposto (12° n°1 e 13° CRP), ou seja, as normas relativas a impostos
assentam na ideia de que todos os seus destinatários devem ser tratados de igual forma; Têm todos os
mesmos direitos, mas também os mesmos deveres perante a lei.
2 - Igualdade através da lei fiscal, em que a política fiscal tem como objetivo de justiça social
a correção de desigualdades (103° n°1 e 104° n°1,3 e 4 CRP). Precisamos de referir outra vez
extrafiscalidade, como característica implícita em todos os impostos pela forma como prevê sujeição a
imposto dos vários tipos de manifestações de capacidade contributiva, o legislador prossegue certas
finalidades sociais e económicas, ou seja, através das normas relativas aos vários impostos o estado
procura tornar a situação financeira de todos mais igual. A justiça social e a igualdade, ou seja, correção
de desigualdades, são finalidades que se procuram alcançar através dos impostos: a diversificação das
taxas de imposto, previsão de determinadas isenções, certos benefícios.
3 - Igualdade na lei fiscal, com o sentido de que a aplicação concreta dos impostos deve ser
uniforme, aplicável a todos de forma idêntica, mas com respeito pela capacidade contributiva de cada
um. O princípio da igualdade impõe que na aplicação da lei a administração fiscal tenha, mais possível,
atenção à situação concreta de cada contribuinte, ou seja, atributo cada sujeito tendo em conta o seu
rendimento real, dito de outra forma, a sua efetiva capacidade para contribuir. Por isso se admitem
várias taxas consoante o potencial contributivo do contribuinte e se prevê a progressividade das taxas
como fator de equalização. Exemplo: a taxa de IRS não é igual para todos os contribuintes, ou seja, um
contribuinte que tenha um rendimento menor tem uma taxa de IRS menor do que aquele contribuinte
que o seu rendimento é maior.
O princípio da capacidade contributiva funciona como parâmetro da aplicação do princípio
da igualdade: imposto igual para quem tenha igual capacidade contributiva; Imposto diferente para
quem tem a diferente capacidade contributiva. Este princípio obriga o legislador a assentar os impostos
e manifestações objetivas da capacidade contributiva (73° LGT); Para além disso pressupõe também os
princípios da tributação do rendimento líquido (a cada categoria de rendimento devem ser deduzidas as
despesas em que se incorreu para a sua obtenção) e do rendimento disponível (permite que à soma dos
rendimentos líquidos sejam abatidas as despesas privadas imprescindíveis à existência do contribuinte).
Também teremos que relacionar o princípio da igualdade com os benefícios fiscais e a
extrafiscalidade que lhes está subjacente e ponderar se o tratamento violador da igualdade que lhe está
subjacente é proporcional e, portanto, aceitável, ao benefício social que dele decorre. Esta é uma das
considerações mais importantes a propósito do princípio da igualdade, e que os benefícios fiscais são
soluções excecionais, são casos de tratamento favorável de certos contribuintes em comparação com o
regime geral ao qual ficam sujeitos de todos os outros.
Já sabemos que à luz do artigo 2° n° 1 do estatuto dos benefícios fiscais, consideramos
benefícios fiscais as “medidas de carácter excecional instituídas para tutela de interesses públicos
extrafiscais relevantes que sejam superiores aos da própria tributação que impedem”. A sua criação é
determinada por razões de natureza extrafiscal, ou seja, por preocupações do legislador com outros
fatores que não a mera recolha de receitas podendo visar fins de natureza económica ou social. Os
benefícios fiscais representam uma derrogação do princípio da igualdade, ou seja, significa um
tratamento excepcional de certas situações, rendimentos, negócios. Por isso, para serem conformes
com a Constituição da República, tem que representar o acolhimento dos interesses públicos relevantes
que se sobreponha aos interesses que é tutelado pela tributação. E é também este carácter excecional
que justifica que os benefícios fiscais sejam sempre temporários. Os benefícios fiscais devem ser criados
com base numa clara definição dos seus objetivos e da prévia quantificação da despesa fiscal que é o
conceito que designa a receita previsível que deixa de se recolher para o orçamento de Estado em
consequência da instituição de cada benefício fiscal.
Contudo não podemos confundir benefícios fiscais com situações de não sujeição, pois
estas últimas são as situações daqueles que, em nome do princípio da capacidade contributiva nem
sequer têm que pagar imposto pois os seus rendimentos estão no limite do que o legislador considera o
mínimo de existência.
As não sujeições tributárias não são consideradas benefícios fiscais, assim consideram-se
genericamente não sujeições tributárias as medidas fiscais estruturais de caráter normativo que
estabeleçam delimitações negativas expressas da incidência. Por outras palavras, quando é o próprio
legislador que na definição do âmbito de incidência do imposto determina que até um certo valor do
rendimento líquido uma pessoa não fica sujeita a imposto, trata-se de um não sujeição. Um benefício
fiscal apenas existe como uma exceção à regra, ou seja, quando o legislador admite que um
determinado sujeito a uma determinada situação, por causa das suas características, especialidades,
circunstâncias, não fica sujeito ao regime regra mas sim um regime especial, sabendo que este regime é
criado pelo legislador de propósito para beneficiar certos contribuintes que por razões sociais
económicas culturais, mereçam ao justifiquem ter esse tratamento especial. Muitas vezes o legislador
fiscal cria esses regimes especiais para seduzir os sujeitos fiscais adotarem certas condutas, optarem
pelo consumo de certos produtos, fazerem certos investimentos, pois tais decisões económicas
individuais têm efeitos positivos diretos ou indiretos na economia.
Os benefícios fiscais são automáticos ou dependentes de reconhecimento: os primeiros
resultam direta e imediatamente da lei vira 2 segundos pressupõe um ou mais atos posteriores de
reconhecimento após um pedido nesse sentido por parte do interessado. O reconhecimento dos
benefícios fiscais pode ter lugar por ato administrativo ou por acordo entre a administração e os
interessados tendo, em ambos os casos, efeito meramente declarativo, salvo quando a lei dispuser em
contrário. É proibido por lei que os benefícios fiscais configurem o que em direito da União Europeia e se
designa por auxílios de Estado (107° n°2 e 3, 108° e 109° TFUE). Ou seja, são considerados equivalentes
auxílios diretos às empresas nacionais, o que configura uma violação do direito da concorrência e da
proibição dos Estados membros protegerem as empresas nacionais em detrimento das empresas de
outros Estados Membros.
Por isso, só nas condições excecionais previstas nesses artigos é que se pode considerar
que os benefícios fiscais não violam o direito da União Europeia. São admissíveis por exemplo, os
auxílios de natureza social atribuídos a consumidores individuais com a condição de serem concedidos
sem qualquer discriminação relacionada com a origem dos produtos.
6. A obrigação tributária é transmissível? Explique fundamentadamente.
Resposta: A relação jurídica o vínculo intersubjetivo concretizado pela ocorrência de um fato cujos
efeitos são vinculados pela lei, denominado fato jurídico.
A estrutura de obrigação tributária é complexa na medida em que tomada pelo em sentido
amplo, nela se pode incluir além da obrigação principal, que é obrigação de pagar o tributo, diversas
obrigações acessórias de natureza formal: obrigações declarativas, contabilísticas, outro tipo de
obrigações acessórias. Esta complexidade resulta também de ser possível identificar vários tipos de
posições ativas e vários tipos de posições passiva: assim por um lado pode identificar-se vários tipos de
poderes – direito ao crédito do imposto, ou poder administrativo de proceder à liquidação e cobrança
do imposto e que pertence, em regra à Administração Tributária, mas que se encontra hoje delegado,
em muitas situações, no próprio contribuinte; por outro lado, encontramos várias posições passivas:
contribuinte, substituto fiscal, retentor, responsáveis fiscais, sucessores, os portadores económicos do
imposto e os sujeitos passivos das múltiplas obrigações acessórias.
A relação jurídica fiscal é uma relação obrigacional, e significa que tal como prevê o artigo
397 do código civil, é um vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à
realização de uma prestação. A obrigação fiscal principal ou típica é constituída pelo dever de pagar o
imposto por parte do sujeito passivo e o crédito ao recebimento desse imposto por parte do sujeito
ativo.
A obrigação tributária principal é a obrigação de pagar o tributo sendo por isso uma
obrigação legal: isto significa que ela nasce da verificação do fato tipificado na norma legal, ou seja, não
resulta de um acordo de vontade entre as 2 partes envolvidas. A sua fonte é a lei.
O artigo 36 da LGT diz que a relação jurídica tributária se constitui com o facto tributário, e
no seu número 2, diz que os elementos essenciais da relação jurídica tributária não podem ser alterados
por vontade das partes. Acrescenta o art. 30° n°1-c, a propósito objeto da relação jurídica que este
inclui, além da obrigação principal e das obrigações acessórias também o direito a dedução, reembolso e
a restituição do imposto. esta última expressão designada devolução do imposto indevidamente
cobrado.
O fato de obrigação ser de origem legal não exclui a possibilidade de contratos fiscais, mas
também nesses casos, tais acordos de vontades são previstos e regulados por lei. Diz por outro lado, que
é uma obrigação pública no sentido de ser a sua disciplina regida pelo direito Público, pois sabemos que
o direito fiscal é um ramo do direito Público. Nas relações jurídicas fiscais a vírgula de forma patente, a
manifestação da pública potestas que caracteriza a intervenção dos entes públicos nas relações jurídicas
de direito Público.
A obrigação fiscal, justamente porque é pública, é uma obrigação imediatamente a
executiva: quer isto dizer que a obrigação do pagamento do imposto, seja do pagamento voluntário
seja, se este não for efetuado, então o pagamento coercivo através do processo de execução fiscal,
resultam da própria afirmação de existência da dívida feita pela administração tributária na nota de
cobrança. Se o contribuinte não pagar no prazo de pagamento que lhe for dado as finanças podem logo
iniciar um processo de execução com base num título executivo emitido pela própria administração
tributária, sem necessidade de recorrer a uma ação declarativa, ou seja, sem necessitar de recorrer a
tribunal para obter uma sentença que reconheça a existência do seu direito. Como os títulos executivos
próprios das finanças são as certidões de dívida extraídas pelos próprios serviços a partir das notas de
cobrança (188° CPPT) diz que é obrigação fiscal e auto titulado. porém o processo de execução fiscal só
em parte decorre nos tribunais, desenvolvendo-se inicialmente no seio da própria administração
tributária (149°-151° CPPT). Por esta razão se diz que obrigação fiscal é tendencialmente executória ou
seja para executar o ato de liquidação, quer dizer, para obter coercivamente o pagamento, os serviços
do Ministério das finanças não têm que recorrer ao Tribunal e apenas no caso dos contribuintes
devedores suscitarem certas questões jurídicas e que o processo transita para o tribunal fiscal
competente; por isso, tendência este processo decorrer nos serviços de execução das finanças: só
excecionalmente vai para tribunal.
Os direitos e deveres decorrentes da obrigação fiscal são indisponíveis e irrenunciáveis: o
credor, ou seja, a administração tributária, não pode conceder moratórias no seu pagamento ou
conceder perdões de dívida (30° n°2, 36° LGT, 85° n°3 CPPT). Todavia, essa indisponibilidade é relativa,
na medida em que a lei admite que o fisco pratica alguns atos de disposição do crédito nomeadamente
quando permite que contribuinte requeira o pagamento em prestações, ou quando cria mecanismos de
renegociação da dívida fiscal ou de perdão de juros. Além disso a obrigação fiscal tem garantias
especiais que colocam o credor tributário numa posição vantajosa face aos restantes credores do
contribuinte devedor (50° e ss. LGT).
Em regra, nem os créditos fiscais nem os débitos fiscais são transmissíveis, o que bem se
compreende por ser obrigação fiscal uma obrigação legal indisponível (29° n°1 e 3 LGT). Ora, uma das
situações admitidas por lei é que consta do número 2 do artigo 29 da LGT: a sucessão legal. Em caso de
cessão universal por morte as obrigações tributárias originárias e subsidiárias podem ser transmitidas
aos senhores. A responsabilidade dos sucessores está limitada aos valores da herança ou do legado, ou
seja, só pagam impostos em dívida pelo falecido até o montante daquilo que receberam. Segundo o
artigo 155 do CPPT deve distinguir-se as situações em que já houve partilha, sendo citado Carneiro para
pagar a sua parte, daquelas em que não houve tal partilha, sendo citado o cabeça de casal ou qualquer
dos herdeiros, sob pena de cominação de penhora de qualquer bem de herança. Há também diferença
consoante a herança tenha sido aceite simplesmente ao benefício de inventário: no primeiro caso cabe
o herdeiro ou legatário provar que na herança não existem bens suficientes para cumprir os encargos
das dívidas tributárias; já no segundo caso é à administração tributária que cabe provar a existência de
outros bens para além dos inventários (2027° CCivil).
Outra situação vem tratada no artigo 41 da LGT: sub-rogação nos direitos da Fazenda
Pública. Ou seja, as finanças podem e determinadas condições, ceder o seu direito à um terceiro se
cumulativamente: a) tiver decorrido o prazo de pagamento voluntário do imposto; b) o terceiro tiver
requerido às finanças a sub-rogação de; c) tiver obtido autorização do devedor ao tiver aprovado
interesse legítimo ponto consagra-se uma exceção à regra geral de que os créditos tributários não são
suscetíveis de cessão a terceiros, consubstanciada na possibilidade de ser efetuada a Transmissão um
terceiro de um crédito decorrente de liquidação de imposto, mediante autorização expressa do sujeito
passivo, partida em requerimento dirigido à administração tributária.
O crédito do terceiro fica com as mesmas garantias pessoais e reais que tinha quando
pertencia à fazenda pública e tem ainda à disposição mesmo processo de cobrança coerciva que a lei
coloca ao dispor daquela (92° CPPT).
7. Caracterize, explicando detalhadamente, os dois momentos da vida do imposto.
Resposta: A análise do tributo numa perspetiva dinâmica implica o reconhecimento de 2 momentos
jurídicos essenciais na vida de um tributo.
O primeiro momento refere-se ao estabelecimento, criação, instituição ou incidência do
tributo. Pode designar-se como momento normativo uma vez que se prende com a elaboração das
normas jurídicas que criam um tributo, bem como a introdução de alterações nessas normas.
O segundo momento é o momento da sua aplicação, efetivação, administração ou gestão.
Este refere-se ao conjunto de atos que devem ser praticados com vista à liquidação e ao pagamento do
tributo. Este conjunto de atos inclui, por um lado, atos da administração tributária e, por outro lado,
atos do sujeito passivo do tributo, que é aquela entidade, singular ou coletiva, que tem que cumprir a
obrigação tributária.
É importante determinar o primeiro momento porque trata-se de um momento normativo
qualificado, já que a sua disciplina se encontra subordinada às exigências do princípio da legalidade
fiscal: este princípio tem na sua base a ideia da autoimposição, de auto tributação ou consentimento
dos impostos, ou seja, isto quer dizer que os impostos sendo uma afetação a limitação da liberdade e da
propriedade individuais, tem que pressupor o consentimento dos próprios contribuintes. Ou seja,
consoante o tipo de tributo em causa assim é competente uma entidade diferente – a AR tem o poder
de “criar” impostos, e o Governo, ou um município, ou qualquer outra entidade da administração
pública, podem criar “taxas”.
No primeiro momento, define se o se e o quanto do imposto, o que engloba a definição
normativa: 1 - do facto situação ou atividade que dá origem ao imposto (fato tributário); 2 - dos sujeitos
ativos e passivos e da obrigação de pagar o imposto; 3 - do montante do imposto, montante tem regra
definida através do valor sobre o que recai, mediante a percentagem desse valor ou a quantidade por
unidade a exigir do contribuinte e, eventualmente, das sessões a fazer ao valor assim apurado; e 4 - dos
benefícios fiscais, na medida em que decidem que não há lugar ao imposto ou a lugar a menos imposto
Na verdade, a criação de qualquer tributo deve ter por enquadramento o disposto para os
impostos no artigo 103° n°2 da CRP no qual se prevê quais se devem considerar os elementos essenciais
do tributo: a incidência, a taxa, e todo o domínio dos benefícios fiscais. É também exigido que a previsão
normativa de qualquer tributo seja acompanhada da previsão de garantias dos contribuintes: engloba o
conjunto de direitos de reação do sujeito passivo da obrigação tributária para salvaguarda dos seus
direitos e trata-se dos direitos de acesso à informação, de reclamação, de interposição de recursos
hierárquico, impugnação judicial, de ação judicial administrativa e de todo com um conjunto de meios
processuais e administrativos e judiciais previstos na lei fiscais, mas também nas leis administrativas.
No segundo momento temos o chamado procedimento tributário: a sequência funcional
dados conducentes à identificação do sujeito passivo e a determinação do montante do tributo a pagar.
Neste momento procede-se à sua aplicação, efetivação, administração ou gestão. Na prática, traduz-se
nas operações de lançamento, liquidação e cobrança do tributo. Neste caso estamos perante um
momento administrativo dos tributos, pelo que a sua disciplina jurídica não está subordinada ao
exigente princípio constitucional da legalidade fiscal, bastante se com o respeito pelo princípio geral da
legalidade da administração (266° n°2 CRP) –“os órgãos administrativos e agentes administrativos estão
subordinados à Constituição e à lei e devem atuar no exercício das suas funções com respeito pelos
princípios da igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa-fé” – art. 8° LGT.
As operações administrativas típicas são: a) o lançamento em que se identificam os
contribuintes e determina-se a matéria coletável e a taxa a aplicar: é o que se designa por lançamento
objetivo; b) a liquidação em que se determina a coleta aplicando a taxa matéria coletável, coleta essa
que vem a coincidir com o imposto a pagar, a menos que haja lugar a deduções à coleta, casa em que a
liquidação da minha barca essa última operação; c) cobrança, ou seja, o imposto vai dar entrada nos
cofres de Estado, seja através da cobrança voluntária (pagamento espontâneo pelo sujeito passivo do
imposto liquidado), seja através da cobrança coerciva (apreensão dos bens necessários à solvência do
débito fiscal do devedor, através de um processo de execução fiscal).
Esta fase da administração do tributo não cabe exclusivamente à administração fiscal, cada
vez é mais frequente a administração, total ou parcial, de alguns impostos pelos próprios particulares,
principalmente pelas empresas, seja na qualidade de contribuintes seja na qualidade de terceiros.
8. Que tipo de taxas conhece? Explique vem e dê exemplos.
Resposta: Uma taxa é uma relação entre duas grandezas. Trata-se de um coeficiente que exprime a
relação existente entre uma quantidade e a frequência de um fenómeno.
Nas taxas existe uma relação de correspetiva idade, um nexo sinalagmático, entre o seu
pagamento e uma prestação correspondente da entidade que a cobra. Este tributo comunga da maior
parte das características do imposto e é por isso também uma prestação coativa e pecuniária. Por isso
dizemos que os impostos são tributos unilaterais e as taxas são tributos bilaterais.
Ao pagarmos os nossos impostos, não podemos afirmar que em troca recebemos uma
específica prestação do Estado, pois essas receitas integram o orçamento de Estado irão satisfazer,
indiscriminadamente, as despesas que o estado venha a fazer no respetivo exercício orçamental. Já
quando pagamos uma taxa é possível determinar o que, específica e individualmente, entidade pública
faz a nosso favor, ou por nossa casa: taxas de justiça para propormos uma ação em tribunal; Taxa por
requerermos a emissão do passaporte ou bilhete de identidade; autorização/licença para desenvolver
uma atividade económica. Por isso, em termos financeiros, diz que o imposto é o modo de
financiamento dos serviços indivisíveis, ou seja, que satisfazem necessidades não individualizáveis, e a
taxa serve para financiar serviços divisíveis – os que proporcionam vantagens individualizáveis.
Globalmente podem classificar-se as taxas em várias espécies consoante o tipo de prestação
que o ente público recebe o valor da taxa efetuem retribuição do valor da taxa que o interessado paga.
Assim, a taxa pode ser paga: a) por um serviço ou entidade pública; b) pela utilização de bens do
domínio Público; c) pela remoção de um limite jurídico à atividade dos particulares.
Agora iremos referir as diversas espécies de taxas que existem.
A primeira espécie de taxas, cobrada pela prestação de um serviço ou atividade pública
geralmente designada por taxas administrativas, inclui vários tipos de encargos: aqueles que são
cobrados pelos atos de registo ou notariado ou pelos serviços do registo nacional de pessoas coletivas
para obtenção do cartão de pessoa coletiva e do registo do nome ou firma; taxas devidas por serviços
consulares, escolares como as propinas, aeroportuários. Nestas taxas incluem-se também as
respeitantes à administração da justiça que são as chamadas taxas de justiça.
As taxas por utilização do domínio Público implicam, antes de mais, que se defina domínio
Público e que se têm menta distinção entre uso comum e uso privativo do domínio Público. O uso
comum do domínio Público é o que todos nós fazemos quando andamos pela rua, passeamos nas
praias, visitamos monumentos, pois estamos a usar os bens que pertencem ao domínio Público; Este
uso é, geralmente, gratuito, ou seja não se paga qualquer taxa. Pode, porém, excecionalmente, ser
oneroso como quando se pagam portagens por circulação em autoestradas – pagamento de uma taxa
pelo uso comum. Já uso privativo, que significa a possibilidade de utilização em regime de exclusividade,
e para proveito próprio do bem Público, implica sempre o pagamento de taxas: ocupação da via pública
para instalação de uma bomba de gasolina ou para a instalação de carris elétricos ou de cabos para TV
cabo; exploração de Minas.
Note-se que o facto de as taxas assentarem na prestação de serviços públicos ou na
utilização de bens públicos não implica que tal prestação ou utilização tenha de ser presente, ou
imediata; Na verdade pode ser deferida como por exemplo as propinas são pagas no início do ano letivo
o, as portagens são pagas à entrada das autoestradas. Alguns autores como Sérgio vascas, alertam para
que a utilização do mecanismo das taxas pelas entidades da administração indireta do Estado está esteja
diretamente relacionada com a necessidade de assegurar a autonomia financeira, qual só está
assegurada essa despesa orçamentada for suportada em 2/3 por receitas próprias.
Os titulares das receitas obtidas com as taxas não têm muita das vezes capacidades de as
cobrar e apoiam se noutras entidades, que as integram NOS preços dos seus serviços. Assim se passa
quanto às taxas municipais de saneamento e recolha de resíduos sólidos que são arrecadados pelas
empresas distribuição da água, o cobrado pela empresa de fornecimento de gás, ou ainda cobrada pela
empresa de comunicações.
Também no domínio das taxas existe extrafiscalidade ou seja, também o lançamento de
taxas pode ter uma funcionalização ou seja um objetivo que não seja da reciprocidade do serviço a
utilização do bem Público: veja se as taxas moderadoras na saúde, que têm o objetivo de dissuadir o
recurso aos serviços de saúde centrados NOS hospitais, ou as taxas sobre a entrada de automóveis nas
cidades, para dissuadirem o uso desse tipo de transporte em meio citadino. Também aqui, semelhança
do que se passa nos impostos, há que verificar se os agravamentos ou desagravamentos são
necessários, adequados e proporcionados à concretização dos objetivos extrafiscais em causa, sob pena
de se violar o princípio da igualdade.
Por último, as taxas podem ser devidas pela remoção de obstáculos jurídicos, em que tem o
nome de licenças. A licença é o ato administrativo autorizativo da prática de um ato ou do exercício de
uma atividade que é normalmente proibida, mas normalmente a expressão é usada para designar a
quantia que se paga como taxa para obtenção dessa licença. Exemplos: licença dos e porte de arma;
visto para permanecer no país, licença de pesca, licença de detenção de cães perigosos. Há casos,
porém, em que o obstáculo jurídico levantado não tem qualquer justificação que não seja permitir ao
ente Público pela licença, arrecadar receitas, estes designam se por licenças fiscais – taxas cobradas
pelas autarquias: licenças pela afixação de painéis publicitários em veículos de transporte coletivo
particulares; taxa exigida pela licença de afixação de anúncios luminosos em prédios.
Neste último tipo de taxas deverá verificar-se se a proibição de atividade instituída pela
norma que se as cria tem um fundamento válido, ou seja, se se justifica que a administração pública a
nível central ou local, sujeito o exercício de uma determinada atividade a obtenção prévia de uma
licença. Se concluir que o fundamento é apenas o de angariar receitas então deve concluir-se que não
existe qualquer fundamento de reciprocidade, qualquer contrapartida. Se assim é, então não pode ser
considerada uma taxa, mas sim um imposto.
Porém se estivermos perante um tributo que apesar de ser designado taxa se verifica que
afinal o imposto, então só pode ser criado por lei da Assembleia da República, ou por decreto-lei do
governo autorizado pela Assembleia da República. Se assim não for, e tiver sido criado por decreto-lei
do governo, ou por deliberação da Assembleia municipal sem lei de autorização da Assembleia da
República, ou por regulamento será inconstitucional.
9. O que é a autoliquidação do imposto?
Resposta: A liquidação é o procedimento principal da atividade da administração tributária e
aquilo que mais contente com a esfera jurídica do cidadão enquanto contribuinte na medida
em que é um procedimento que culmina com a emissão de um ato tributário designado ato de
liquidação (59° e ss. CPPT).
Este procedimento pode dividir-se em várias fases: a) fase de iniciativa virgula
desencadeada pelo contribuinte ou pelo fisco com base em informações prestadas por aquele
obtidas por este; b) fase de instrução (71°-76° LGT)n o qual são admitidos todos os meios de
prova; c) fase de decisão em que se produz o ato administrativo definitivo designado por
liquidação o qual não é mais do que a aplicação de uma taxa uma matéria coletável apurada
previamente (77°-80° LGT, 60° CPPT).
É cada vez maior a participação dos sujeitos passivos no procedimento, traduzida na
crescente importância da declaração para a determinação da matéria coletável que conduz a
uma liquidação de carácter automático e na própria liquidação não administrativa feita pelo
contribuinte o terceiro.
Em ambos os casos parece não haver intervenção dos serviços da administração
fiscal; Tratando-se assim de um ato tributário relativamente ao qual se verifica uma
homologação implícita pela administração tributária, sendo essa homologação resultado da
aceitação do pagamento do imposto.
10. Um contribuinte pode fazer um acordo com a Administração Fiscal sobre quanto terá de
pagar de imposto num determinado ano?
Resposta: Normalmente a obrigação fiscal extingue-se pelo cumprimento voluntário, dentro
do prazo em moeda corrente ou cheque débito em conta, transferência vos tal outros meios.
Atualmente é também possível o pagamento eletrónico em máquinas ATM.
O contribuinte pode requerer o pagamento em prestações se e na medida em que as
leis tributárias o admitam, como é o caso do IRS e do IRC (42º LGT).
Para além disso, o art. 40º LGT prevê que a dação em cumprimento seja admitida em
matéria tributaria, nos casos previstos por lei.
Esta forma de extinção da obrigação significa o cumprimento da obrigação através da
prestação de coisa diversa da que for devida, dando o credor assentimento a isso (837º CCivil).
O requerimento da dação pode ser apresentada pelo credor a partir do início do
prazo do pagamento voluntário e é dirigido ao ministro ou órgão executivo de que dependa a
administração tributária (40º nº2 LGT).
11. Explique o procedimento de determinação da matéria coletável com recurso a métodos indiretos.
Resposta: Este procedimento de determinação da matéria coletável com recurso a métodos indiretos
insere-se dentro do procedimento de liquidação, que é o procedimento principal da atividade da
administração tributária é aquele que mais contente com a esfera jurídica do cidadão enquanto
contribuinte na medida em que é um procedimento que culmina com a emissão de um ato tributário
designado ato de liquidação (69°-80° LGT).
A matéria tributável é determinada por cálculo ou por avaliação ponto por cálculo e
determinação da matéria tributável com base exclusivamente, em elementos objetivos; Se for por
avaliação e determinação com a utilização de métodos que envolvem uma margem de subjetividade.
A avaliação pode ser feita por 2 maneiras: a) direta que é aquela que visa a determinação do
valor real de rendimentos ou bens; b) indireta que é aquela em que a determinação do valor de
rendimentos ou bens através de indícios presunções ou outros elementos de cada ministração tributária
disponha (83° LGT).
Merece referência especial pela sua complexidade e por ser fonte habitual de litígio entre os
contribuintes e o fisco, a avaliação com recurso a métodos indiretos de avaliação da matéria coletável
(87°-90° LGT). A avaliação indireta tem carácter excecional pelo que só pode efetuar se em algumas
situações previstas na lei
Só numa situação se prevê algo que pode qualificar-se com propriedade como avaliação
indireta. Nos outros casos termina de, logo à partida, um rendimento diferente do que pudesse ser
revelado pela contabilidade como é o caso do regime simplificado de tributação; ou inverte o ónus da
prova através da imposição de presunções.
A decisão de utilização deste método indireto é da exclusiva competência do diretor-geral
dos impostos sendo que, desta decisão cabe recurso urgente para o tribunal tributário, com efeito
suspensivo não sendo aplicável o disposto no artigo 91° e seguintes, mas sim o artigo 146°-B CPPT, de
acordo com os números 7 e 8 do artigo 91° CPPT.
Os art. 91° e ss preveem um pedido de revisão da matéria coletável fixada por métodos
indiretos aplicável aos casos previstos no art. 87° LGT – com exceção do regime simplificado de
tributação.
Contudo a revisão da matéria coletável aqui referida é algo diferente do procedimento de revisão do ato
tributário referido no artigo 78° LGT. Na primeira situação está em causa a determinação da matéria
coletável, que é um passo essencial no procedimento de liquidação que termina com o ato de
liquidação, esse, por sua vez, passível de revisão NOS termos do artigo 78° LGT.
O que, compreensivelmente, suscita confusão entre as 2 revisões, da matéria coletável e a do
ato tributário, é precisamente o facto do próprio artigo 78° abordar no seu número 4, revisão da
matéria coletável, a qual pode excecionalmente ser autorizada pelo dirigente máximo do serviço, até 3
anos após a notificação do ato tributário, para além pois virgula dos casos de revisão da matéria
coletável fixada por métodos indiretos previstos no artigo 91° LGT.
12. Em que se traduz a discricionariedade da administração fiscal? Tal é compatível com o princípio
da legalidade?
Resposta: O princípio da tipicidade aplicada em todo o seu rigor conduz a um desfasamento grande
entre o legislador e a administração fiscal, pois é esta que tem que enfrentar os problemas colocados
pela aplicação prática das normas fiscais no dia a dia, e necessita muitas vezes que lhe seja reconhecida
uma certa margem de manobra.
Trata-se de um problema que se coloca de forma genérica em toda a atividade da
administração pública e não apenas no domínio tributário. Na verdade, na maior parte dos domínios do
direito tributário atividade administrativa é estritamente vinculada, ou seja, os órgãos da administração
pública têm de decidir exatamente nos termos fixados na lei: o chamado ato tributário, isto é, o ato pelo
qual a administração fiscal faz a liquidação dos impostos diretos e declara ao contribuinte qual o
montante que ele tem de pagar, título de um determinado imposto. Contudo mesmo no domínio da
atividade da administração fiscal é um grande domínio de discricionariedade, ou seja, a liberdade de
decisão quanto à oportunidade de decidir ou não e quanto ao conteúdo o que decidir, nas relações
entre a administração pública e os cidadãos. Trata-se mesmo de uma necessidade para a administração
pública possa funcionar porque o legislador não consegue prever todas as situações.
No que toca ao direito fiscal o reconhecimento desse espaço de liberdade de administração
fiscal tem que ter faz por várias formas:
1 - só lhe reconhecidos poderes de qualificação de factos e atividades: a realidade tributável e a quem
administração fiscal disser que é.
2 - a própria lei deixa espaço de discricionariedade à atividade da administração fiscal: a
discricionariedade como vimos é a liberdade de escolha da administração pública quanto a partes do
conteúdo, do objeto, das formalidades e da forma de atos da administração unilaterais que tenham de
praticar, como é o caso da liquidação e cobrança de impostos. O artigo 24º nº 4 do CIRC permite à
autoridade tributária e aduaneira corrigir o valor de mercado dos bens atribuídos pelo empresário
individual aquando da sua afetação à empresa, ao quando haja divergência de valores declarada e real
na extremamente ações sujeitas à tributação de mais-valias.
3 - a legislação fiscal utiliza conceitos indeterminados. Trata-se de conceitos que integram a estrutura da
norma jurídica fiscal cujo conteúdo carece de determinação concreta em cada caso em que a norma é
aplicada; São instrumentos normativos utilizados habitualmente pelo legislador em geral e também pelo
legislador fiscal no sentido de permitir que a aplicação da norma seja feita de forma adequada à
realidade histórica, social e económica do momento dessa aplicação. O preenchimento do conteúdo
desses conceitos é feito na aplicação caso a caso o que como bem se compreende, oferece um espaço
de maleabilidade sobre a norma fiscal que a administração fiscal pode usar.
Portanto no espaço de discricionariedade como na interpretação e aplicação de conceitos
indeterminados se deixa administração espaço de apreciação que os tribunais apenas superficialmente
podem controlar, na medida em que é o próprio legislador que atribui essa liberdade à administração.
Trata-se do que se chama discricionariedade técnica, significando que só os órgãos da administração e
não os tribunais nem o legislador tem conhecimentos técnicos para intervir nessas matérias; Por isso a
utilização deste poder discricionário nas suas várias formas, é efetivamente um poder da administração
fiscal, necessário e por isso consentido pelo legislador para que a administração fiscal consegue uma
aplicação eficaz das normas fiscais.
Se o legislador e o juiz pudesse intrometer-se no exercício desse poder tal significaria última
instância uma violação do princípio da divisão de poderes.
13. Explique o conteúdo do art. 115° n°4-b) CRP.
Resposta: Este artigo refere-se ao referendo que se inclui na reserva de lei da Assembleia da República.
O referendo consiste numa forma de manifestação democrática direta, ou seja, os cidadãos
eleitores recenseados pronunciam se de forma vinculativa, sobre questões de relevante interesse
nacional que devam ser decididas pela Assembleia da República ou pelo governo através da aprovação
de Convenção Internacional ou de ato legislativo. Todavia, estão excluídas do âmbito do referendo de
certas matérias, presentes no número 4 do artigo 115°, entre as quais pontuam as questões e atos de
conteúdo orçamental, tributário ao financeiro (alínea b)). Justifica-se esta exclusão pelo reconhecido
carácter extremamente técnico da legislação financeira e fiscal e também pelo melindre que
representaria colocar o funcionamento regular do próprio estado dependente da vontade pouco
ilustrada do Homem da rua.
Certos autores, contudo, entendem que a proibição do referendo em matéria fiscal é
consequência do entendimento “partidocrático” da democracia representativa, em que os partidos
políticos procuram justificar a sua existência pela conservação, na competência exclusiva da AR, de
assuntos importantes como é o caso dos impostos, mas defendem que, em termos materiais, nada
haveria a opor a que se use o referendo em matéria financeira e fiscal. Todavia desta exclusão expressa
das matérias fiscais do âmbito do referente não pode deixar de se concluir que o princípio da reserva de
lei formal assume um sentido de grande relevo na estrutura orgânica de competências desenhada pela
Constituição.
14. Porque se diz que a obrigação fiscal é complexa?
Resposta: A relação jurídica é o vínculo intersubjetivo concretizado pela ocorrência de um fato, cujos
efeitos são vinculados pela lei – fato jurídico.
A estrutura da obrigação tributária é complexa na medida em que, para além da obrigação
principal que é a obrigação de pagar impostos (tributo), incluem-se diversas obrigações acessórias de
natureza formal, como por exemplo as obrigações acessórias (31º LGT) que “visam possibilitar o
apuramento da obrigação de imposto, nomeadamente a apresentação de declarações, a exibição de
documentos fiscalmente relevantes, incluindo a contabilidade ou escrita, e a prestação de informações”.
Estas obrigações são deveres formais e procedimentais e podem classificar-se como: a) obrigações
declarativas; b) obrigações contabilísticas; c) outro tipo de obrigações acessórias.
Esta complexidade resulta do fato de ser possível identificar vários tipos de direitos (posições
ativas) e vários deveres (posições passivas).
Relativamente aos poderes, não se refere o poder tributário (poder de criar tributos) pois
consiste no poder de criar impostos, poder que pertence à CRP, AR e Governo, e no poder de criar taxas
e adaptar os impostos nacionais às realidades locais e regionais, poder que pertence às RA e às
autarquias locais. Refere-se sim a capacidade tributária ativa – direito ao crédito do imposto –, poderes
inerentes ao exercício da competência tributária como o poder administrativo de proceder à liquidação
e cobrança do imposto e que pertence, em regra, à Administração Tributária, mas que hoje, em muitas
situações se delega ao próprio contribuinte que pratica, ele próprio esses atos e entrega o
correspondente imposto apurado. Podemos ainda falar do titular da receita tributária como entidade
diferente, e que muitas vezes é a entidade que recebe o imposto, não é quem fica com o dinheiro
correspondente; ou seja, cobra o imposto, mas depois entrega-o aos titulares dessa receita fiscal.
No outro lado, temos os diversos deveres, ou posições passivas: contribuinte, substituto
fiscal, retentor, responsáveis fiscais, sucessores, suportadores económicos do imposto e sujeitos
passivos das múltiplas obrigações acessórias (123º CIRS).
Em certos tipos de relações tributárias, a Administração Tributária não toma parte direta –
exemplos: retenção de imposto, exercício do direito do sub-rogado da Fazenda Pública, direito de
regresso dos responsáveis tributários.
15. Porque se diz que a obrigação fiscal é autotitulada?
Resposta: A relação jurídica é o vínculo intersubjetivo concretizado pela ocorrência de um fato cujos
efeitos são vinculados pela lei – fato jurídico.
A estrutura da obrigação tributária é complexa na medida em que além da obrigação
principal – obrigação de pagar o tributo –, incluem-se diversas obrigações acessórias de natureza formal.
Relativamente à obrigação tributária principal, caracteriza-se por ser legal, ou seja, a
obrigação nasce da verificação do fato tipificado na normal legal, não resultando assim de um acordo de
vontade entre as duas partes envolvidas. A sua fonte é a lei.
O objeto da relação jurídica inclui, para além da obrigação principal e das obrigações
acessórias, o direito a dedução, reembolso e restituição do imposto (30º nº1-c) LGT). Esta última
expressão designa a devolução de imposto indevidamente cobrado.
O fato de a obrigação ser de origem legal não exclui a possibilidade de contratos fiscais (37º
LGT), mas também, tais acordos de vontades são previstos e regulados por lei.
É uma obrigação pública, pois a sua disciplina é regida pelo direito público – direito fiscal é
um ramo de direito público. Nas relações jurídicas fiscais há, de forma patente, a manifestação da
publico potestas que caracteriza a intervenção dos entes públicos nas relações jurídicas de direito
público.
Justamente por ser pública, a obrigação fiscal é imediatamente executiva, ou seja, a
obrigação do pagamento do imposto, seja do pagamento voluntário, seja, se este não for efetuado,
resultam da própria afirmação da existência da dívida feita pela Administração Tributária na nota de
cobrança. Se o contribuinte não pagar no prazo de pagamento que lhe for dado, as Finanças podem logo
iniciar um processo de execução com base num título executivo emitido pela própria Administração
Tributária, sem necessidade de recorrer a uma ação declarativa, ou seja, sem necessitar de recorrer a
tribunal para obter uma sentença que reconheça a existência do seu direito. Os títulos executivos
próprios das Finanças são as certidões de dívida extraídas pelos próprios serviços a partir das notas de
cobrança (188º CPPT). É por esta razão que se diz que a obrigação fiscal é autotitulada – este privilégio
de emitir os seus títulos comprovativos de certeza, liquidez e exigibilidade da dívida.
16. Se, no decurso do procedimento de liquidação, a Administração Fiscal se aperceber de que o
contribuinte destruiu documentos contabilísticos importantes para esse procedimento, o que
pode acontecer? Explique desenvolvidamente, com as referências normativas pertinentes.
Resposta: A Administração Fiscal tem diversas garantias de cumprimento da obrigação fiscal de que
pode recorrer.
Já se sabe que a obrigação tributária é complexa, pois para além da obrigação principal de
pagar o tributo, inclui diversas obrigações acessórias de natureza formal (31º LGT), como as obrigações
declarativas; contabilísticas, e outros tipos de obrigações acessórias como os deveres de cooperação e
obrigações de comunicação (127º e ss. CIRC).
Mas sobre as garantias? São dois tipos: garantia real e garantias especiais – sendo que esta
última se subdivide 4 garantias: a) privilégios creditórios; b) penhor e hipoteca; c) direito de retenção; d)
prestação de caução.
A garantia real do cumprimento de qualquer obrigação é o próprio património do devedor
(50º LGT, 601º e 817º CCivil); ou seja, se o devedor não cumprir com a sua obrigação de pagar o tributo,
a Administração Fiscal tem como garantia de não cumprimento o património do devedor.
Agora sobre as garantias especiais.
A primeira são os privilégios creditórios (50º LGT com remissão para o 735º CCivil). Este art.
do CCivil diz que os privilégios creditórios podem ser mobiliários e imobiliários: se forem mobiliários são
gerais se abrangem o valor de todos os bens moveis existentes no património do devedor à data da
penhora (736º CCivil); são especiais quando compreende apenas o valor de determinados bens (738º
nº2 CCivil)– os imobiliários são sempre especiais.
Não aplico o art. 111º CIRS aos privilégios mobiliários gerais porque o TC declarou-o
inconstitucional quando interpretado no sentido da preferência do privilégio creditório imobiliário sobre
a sua hipoteca, esta passou a gozar de preferência sobre aquele; o mesmo vale por aplicação analógica
daquele acórdão, para os casos dos privilégios creditórios previstos no 116º CIRC.
A segunda garantia especial é a penhora e hipoteca. À luz do 50º nº2-b) e 3 LGT), pode ser
penhor ou hipoteca legal, constituídos nos termos em que a lei o preveja, quando essas garantias se
revelem necessárias à cobrança efetiva da dívida ou quando o imposto incida sobre a propriedade dos
bens. É o órgão da execução fiscal que constituirá penhor ou hipoteca legal (195º CPPT).
Por outro lado, pode ser penhor ou hipoteca voluntários se apresentados como garantia
idónea para que a impugnação judicial tenha efeito suspensivo (103º nº3 CPPT), com a concordância da
Administração Tributária.
De seguida temos o direito de retenção, que consiste na possibilidade de o devedor que
disponha de um crédito contra o seu credor reter a coisa objeto da prestação a que esteja obrigado até
satisfação desse crédito (754º CCivil). O 50º nº2-c) LGT remete para situações em que a lei
especialmente preveja esta possibilidade no caso das obrigações fiscais, o que pode acontecer em caso
de dívida de impostos aduaneiros em relação à retenção pela Administração Tributária de mercadorias
sujeitas à ação fiscal.
Por último temos a prestação de caução. Quando o contribuinte pretende exercer
determinados direitos obtendo a suspensão do procedimento ou execução fiscal, o 199º CPPT prevê que
aquele preste garantia bancária, caução, seguro-caução ou qualquer outro meio suscetível de assegurar
o pagamento do imposto em dívida.
Complemento, com o disposto no 51º LGT, em que o legislador diz que a Administração
Fiscal pode “tomar providências cautelares para garantia dos créditos tributários em caso de fundado
receio de frustração da sua cobrança ou de destruição ou extravio de documentos ou outros elementos
necessários ao apuramento da situação tributária dos sujeitos passivos e demais obrigados tributários”.
Estas providências consistem na apreensão de bens (nº3).
17. Explique, desenvolvidamente, o princípio constitucional da legalidade dos impostos.
Resposta: Este princípio tem na sua base a ideia de auto-imposição, de auto-tributação ou
consentimento dos impostos. Ou seja, os impostos têm de pressupor o consentimento dos próprios
contribuintes. Este consentimento dá-se pela via do mecanismo da democracia representativa: a Lei é o
produto de órgãos legitimamente eleitos; logo, sendo os impostos criados e disciplinados nos seus
elementos essenciais através da lei, garante-se aqueles princípios e tornam-se aceitáveis no sentido de
politicamente legitimados.
Este princípio tem duas valências – princípio da legalidade fiscal em sentido estrito; princípio
da legalidade orçamental.
Relativamente ao primeiro, devemos começar por referir a chamada reserva de lei em
sentido formal – significa que a forma jurídica válida de intervenção na disciplina dos impostos, é a Lei
da Assembleia da República. Assim, isto significa que a produção de normas jurídicas em matéria de
impostos pertence à competência da Assembleia da República; mas trata-se, todavia, de matéria
incluída na competência legislativa relativa (165º CRP) e não na competência legislativa absoluta (164º
CRP) da AR; ou seja, a AR pode, através de Lei, autorizar o Governo a produzir legislação em matéria de
impostos. Tendo em atenção que esta exigência formal apenas se aplica aos impostos, não às taxas ou
às contribuições.
Na verdade, relativamente a estes últimos tipos de tributos, o que está reservado à AR é
apenas a definição do seu regime geral; já a concretização deste tipo de tributos pode ser levada a cabo
pelas entidades com competência para tal de acordo com a sua competência normativa em matéria
tributável: Governo (198º nº1-a) CRP); regiões autónomas (227º nº1-i) CRP); autarquias locais (238º nº4
CRP); entidades independentes (267º nº3 CRP); entidades públicas de cariz associativo (267º nº4 CRP).
As Assembleias Regionais da Madeira e dos Açores, e as autarquias locais podem exercer poder
tributário próprio, nos limites pré-fixados por Lei na Assembleia da República. Resumindo, isto quer
dizer, que em matéria de imposto tem que ter na sua base uma lei da AR, ou diretamente, ou sob forma
de uma lei de autorização ou de uma lei-quadro.
Já sobre sentido material que se designa por princípio da tipicidade. Isto significa que a Lei da
AR que institui ou modifica normas jurídicas em matéria de impostos deve ser densa, regulando com
profundidade cada aspeto que é da sua competência, definindo com exatidão o tipo legal do imposto,
ou seja, a incidência, a taxa, e todo o domínio dos benefícios fiscais bem como das garantias dos
contribuintes (103º nº2 CRP).
Esta reserva impõe-se mesmo que se esteja perante uma diminuição de taxa ou redução do
âmbito de incidência de impostos, ou seja, mesmo quando as alterações ou inovações são vantajosas
para o contribuinte. Apenas no que toca às garantias dos contribuintes se tem entendido que o Governo
pode intervir sem autorização do Parlamento quando estas forem objeto de alargamento ou ampliação
sem que se verifique inconstitucionalidade orgânica.
Estão ainda sujeitas a reserva da lei da AR, as matérias respeitantes ao regime das infrações
fiscais e do contencioso fiscal (165º nº1-c) e d) CRP). Toda a restante atividade da Administração Fiscal
tem que ser definida por diploma legislativo (112º CRP) – os termos em que se faz a liquidação, a
cobrança e a fiscalização têm que ser objeto de Lei ou Decreto-Lei, embora aqui, porque se trata de
matéria concorrente entre a AR e o Governo, os decretos-lei não tenham que ser autorizados.
Existe quem entende que estas matérias também deveriam estar sujeitas ao princípio da
legalidade no sentido de reserva de lei formal, invocando por isso o art. 8º LGT. Contudo, a opinião
dominante entende que este mesmo artigo acolhe duas amplitudes do princípio da legalidade: por um
lado, esta norma recebe o princípio da legalidade no sentido de reserva de lei formal e material da AR,
ou seja, o 8º nº1 é a reprodução dos 103º nº2 e 165º nº1-c) e d) CRP – alguns autores dizem que este
número como visa repetir o alcance do princípio da legalidade no sentido consagrado na Constituição,
não tem utilidade –; por outro lado, o nº2 do mesmo art. tem um sentido diferente, pois trata-se de um
conjunto de matérias em que a constituição não atribui um exclusivo à Assembleia da República, pelo
que o sentido da palavra “legalidade” quanto a estas matérias seria o de reconhecer aqui o princípio de
necessária precedência de ato legislativo, ou seja, trata-se da exigência de que tais matérias sejam
sempre reguladas por Lei da Assembleia da República ou DL, uma vez que a CRP não atribui à AR o
exclusivo destas matérias.
Debrucemo-nos, agora, sobre o art. 103º nº3 CRP: “ninguém pode ser obrigado a pagar
impostos… cuja liquidação e cobrança se não façam nos termos da lei”. Aqui alguns autores entendem
que tal significa necessária precedência de “norma jurídica” e não de “ato legislativo”. Contudo, o nosso
curso segue a linha da não concordância, pois considera que, embora não seja necessária lei da AR, é
necessário que seja ato legislativo, ou seja, Lei da AR ou DL ou DL Regional, e não mera norma jurídica,
que poderia então, ser uma norma emitida no exercício da função administrativa. Isto reporta-se às
normas que enquadram a atividade ou atuação dos órgãos da administração fiscal e não já àquele
primeiro momento normativo do direito tributário que se refere à instituição de normas fiscais, ou seja,
as normas que criam ou alteram impostos.
A reserva de lei da AR reforça-se ainda pela constatação de que as matérias fiscais estão
excluídas do âmbito do referendo (115º nº4 e 5). O referendo consiste numa forma de manifestação
democrática direta, em que os cidadãos eleitores recenseados pronunciam-se, de forma vinculativa,
sobre questões de relevante interesse nacional que devam ser decididas pela AR ou pelo Governo
através da aprovação de convenção internacional ou de ato legislativo. Excluem-se, contudo, algumas
matérias como as “questões e atos de conteúdo orçamental, tributário ou financeiro” (art. 115º nº4-b)).
Com esta exclusão não se pode deixar de concluir que o princípio da reserva de lei formal assume um
sentido de grande relevo na estrutura orgânica de competências desenhada pela constituição.
Por fim, existe outro sentido do princípio da legalidade – orçamental ou da autorização anual
para a cobrança de impostos. Este sentido decorre do 105º nº1-a) CRP bem como do 165º nº5 CRP. O
orçamento tem que conter relatórios sobre vários aspetos incluindo um sobre os benefícios fiscais e
estimativa da receita cessante por causa destes (106º nº3-g) CRP). Por outro lado, o orçamento contém
várias autorizações legislativas ao Governo destinadas a concretizarem as opções parlamentares em
matéria tributária. Isto não deve caducar se o Governo, for substituído, devendo manter-se durante o
ano económico para que as reformas fiscais adotadas pela lei do Orçamento possam ser executadas
plenamente e com coerência. O nº5 do 165º CRP pôs termo à querela doutrinal e jurisprudencial sobre
se tais autorizações caducariam ou não com a queda do Governo. Diz-se, todavia, que essas
autorizações constituem um tipo de autorização especial, pois não são uma mera permissão de
intervenção legislativa em matéria reservada, mas representam antes uma incumbência do Governo pôr
em prática a política fiscal definida pela AR, sob pena de a execução orçamental em matéria fiscal se
afastar das linhas traçadas por esta.
Uma última nota: impor a lei do OE ao Governo, certas autorizações se não forem
executadas a tempo, o Governo estará a cobrar impostos de acordo com um panorama legal que o
Parlamento quis afastar ou modificar, pelo que estará a ser violado o princípio da legalidade no sentido
do nº3 do 103º - “ninguém pode ser obrigado a pagar impostos cuja liquidação e cobrança se não façam
nos termos da lei” –, pois que os termos da lei, por vontade do órgão legislador mais soberano e
representativo, deveriam ser outros.
18. Os descontos para a segurança social são impostos ou taxas? Explique desenvolvidamente.
Resposta: O sistema de segurança social é imposto pela CRP no seu art. 63º e dá cumprimento às
determinações de redistribuição da riqueza que impendem sobre o sistema fiscal nos termos do art.
103º CRP. Este sistema é concorrente do sistema fiscal. Na verdade, se ao sistema da segurança social se
imputa o dever de conferir prestações de assistência, muitas delas substitutivas do rendimento do
trabalho, não se compreende que se onerem posteriormente prestações concedidas a quem necessita
com impostos.
Com entrada em vigor da Lei nº 53-B/2006, de 29/12, o IAS – Indexante de Apoios Sociais –
substituiu a retribuição mínima mensal garantida enquanto referencial para cálculo dos apoios sociais; e
é com base no IAS que a SS determina se um indivíduo ou agregado familiar, têm ou não direito às
prestações e apoios sociais. E é também com base nele que se determina a base de incidência de
trabalhadores independentes para os correspondentes pagamentos das contribuições à SS. É necessário
que haja coerência entre o que são remunerações para efeitos de tributação fiscal (IRS), e o que são
remunerações para efeitos de cálculo dos descontos para a SS. A base de cálculo deve ser a mesma,
mas, na verdade não o é.
Para responder à pergunta, precisamos observar o conceito de imposto, taxas e
contribuições. O imposto é uma prestação pecuniária, coativa e unilateral, sem o carácter de sanção,
exigida pelo Estado ou por outros entes públicos com vista à realização de fins públicos. Na taxa existe
uma relação de correspetividade, um nexo sinalagmático entre o seu pagamento e uma prestação
correspondente da entidade que a cobra. Este tributo comunga da maior parte das características do
imposto, e é por isso, uma prestação coativa e pecuniária.
Por último, as compensações dividem-se em contribuições especiais e contribuições
financeiras a favor de entidades públicas. As contribuições especiais “assentam na obtenção pelo sujeito
passivo de benefícios ou aumentos de valor dos seus bens em resultado de obras públicas ou da criação
ou ampliação de serviços públicos ou no especial desgaste de bens públicos ocasionados pelo exercício
de uma atividade” (4º nº3 LGT) e por isso são considerados impostos.
Já relativamente às contribuições financeiras a favor de entidades públicas são mencionadas
no art. 3º LGT e 165º CRP e tem como finalidade garantir o financiamento de entidades públicas; mas
nada na lei nos diz sobre serem impostos ou taxas. Contudo, o 165º nº1-i) CRP determina-lhes um
regime de legalidade diferente do regime dos impostos e igual ao das taxas, afirmando, tal como o faz
em relação às taxas, que basta que o seu regime geral seja criado através de Lei da AR, podendo depois,
cada contribuição financeira em particular ser criada diretamente pelo Governo através de DL; ou seja,
estas contribuições estão sujeitas, tal como os impostos, a reserva de lei parlamentar, mas apenas no
que respeita à definição do seu regime geral. Uma vez que esse regime geral não existe atualmente, até
à definição desse regime, e porque comungam com os impostos, o fato de serem unilaterais, ou seja,
não pressuporem a atribuição de uma contrapartida individualizada ao pagador, a sua edição está
reservada à AR.
Do ponto de vista financeiro, ou seja, no que respeita à titularidade da receita obtida com o
seu lançamento, estas contribuições são os designados tributos parafiscais, os quais são devidos a
pessoas coletivas públicas não territoriais por certas pessoas que com estas entidades se relacionam,
sendo esta receita afetada a funções especificas dessas entidades. Estes tributos assumem a feição de
contribuições aplicando-se apenas às pessoas singulares ou coletivas que se relacionem com a entidade
em causa, mas fazendo-o numa base qualitativa e não individualmente, ou seja, aplicando-se a todas as
pessoas que revistam uma determinada qualidade. Assim, estas contribuições destinam-se a sustentar
os custos da regulação independente nos setores económicos, onde se optou pela instituição de
autoridades reguladoras independentes e cujo critério material há de ser a repartição dos custos de
funcionamento da regulação pelos seus beneficiários como garantia de independência dessas entidades.
Relativamente às contribuições (descontos) para a Segurança Social, o TC considerou que as
quotizações das entidades empregadoras para a SS são verdadeiros impostos, porquanto se não verifica
nesses casos a bilateralidade característica das taxas. Mas quanto à parte das contribuições dos
trabalhadores, devem ser integradas na noção de taxa, uma vez que os trabalhadores irão, mais tarde,
beneficiar de algo em troca e por isso essas contribuições têm a natureza de taxas porque há
reciprocidade.
19. Porque se diz que Portugal é um Estado Fiscal?
Resposta: O Estado fiscal é aquele que tem como suporte financeiro principal os impostos, sabendo que
as receitas orçamentais dos Estados Fiscais também podem ter outras origens: rendimentos da
propriedade do Estado ou da sua atividade empresarial. Mas fica claro, que a grande maioria provêm
dos impostos. Esta natureza predominantemente fiscal baseia-se no reconhecimento de que os cidadãos
devem beneficiar de liberdade económica, ou seja, ao Estado não cumpre cortar nem orientar a
atividade económica, e por isso, o seu suporte financeiro não pode resultar diretamente dessa atividade
económica pública e centralizada, mas sim da tributação da atividade económica levada a cabo, num
mercado livre, pelas pessoas. Sendo assim, um Estado Fiscal baseia-se no pressuposto da liberdade fiscal
do contribuinte.
Aqui tem que se admitir o planeamento fiscal dos indivíduos e das empresas: os sujeitos
tributários fazem opções legitimas, escolhas, estratégias que podem ter em conta a solução que o leve a
pagar menos imposto possível para uma determinada atividade ou para um determinado negócio – isto
é legítimo.
Mas será que o Estado Português é um Estado Fiscal? Sim, tendo em conta o 103º, 104º,
165º nº1-i), 227º nº1-i) e j), 238º nº4 e 254º CRP – estes artigos ilustram a importância dos impostos no
financiamento do OE. No quadro constitucional o 238º nº3 e o 165º nº1-i) CRP, fazem alusão expressa a
outro tipo de imposto – taxas –, que são apresentadas como forma de financiamento dos serviços das
autarquias locais; mas também é verdade que não são um tributo exclusivo, ou sequer predominante,
das autarquias locais. O único regime geral adotado em cumprimento com o disposto no 165º CRP é o
regime geral das taxas das autarquias locais.
Para ser um Estado justo do ponto de vista tributário, ele têm de basear a tributação
essencialmente na capacidade contributiva de cada cidadão; o que isto significa? O Estado deve exigir de
cada cidadão um volume de tributo proporcional à riqueza de cada um. A questão é que apenas uma
figura jurídica do imposto permite esta variação de acordo com a capacidade contributiva, e não são as
taxas porque estas assentam numa reciprocidade entre o valor da taxa e a prestação que o pagador
recebe da Administração, sendo que o valor a pagar não pode variar de acordo com a riqueza, ou seja,
com a capacidade contributiva do contribuinte.
Este conceito de Estado Fiscal está diretamente ligado ao de Estado Social – as múltiplas
tarefas que têm vindo a ser cometidas ao Estado, mesmo a nível constitucional e que têm uma
finalidade social de promoção das condições de vida e de cidadania das pessoas, são financiadas por via
do OE o qual tem, como principal fonte de receita, os impostos. Assim, quanto mais prestações o Estado
confere aos seus cidadãos, mais receitas tem que ter no seu Orçamento, e assim, mais impostos tem
que cobrar.
Para além disto, existe mais uma coisa que caracteriza um Estado Fiscal: a sua intervenção
económica e social pela vida da criação de impostos com finalidade extrafiscal e a utilização do
mecanismo dos benefícios fiscais – soluções excecionais de tratamento favorável de certos contribuintes
em comparação com o regime geral ao qual ficam sujeitos todos os outros (14º LGT). As preocupações
do Estado em orientar os seus cidadãos para atividades consideradas “melhores” do ponto de vista
económico e social refletem-se em dois momentos: a) realização de despesas de índole social e
económica financiadas pelos impostos cobrados; b) orientação da atividade dos agentes económicos
através do instrumento dos impostos extrafiscais e dos benefícios fiscais.
Mas a verdade, é que o Estado tem dificuldade em recolher impostos para financiar as
prestações sociais a que se propôs e isso resulta de fenómenos como a mundialização ou a globalização
da economia com a consequente circulação transnacional dos fatores de produção, em especial do fato
capital, na procura de regimes fiscais mais favoráveis. Isto faz com que o Estado, ao lançar impostos,
acabe por onerar mais o fato trabalho, acabando por produzir desigualdades pela via fiscal, quando o
objetivo é precisamente esbater essas desigualdades. Para além disto tudo, existem diversos princípios
constitucionais da tributação que constituem este Estado Fiscal: a) princípio constitucional da legalidade
fiscal (pressupõe o consentimento dos próprios contribuintes); b) legalidade e discricionariedade da
Administração (espaço de liberdade da Administração Fiscal); c) princípio da legalidade e a autonomia
regional e local; d) princípio da segurança jurídica; e) princípio da igualdade fiscal; f) consideração fiscal
da família; g) e por último o respeito pelos direitos, liberdades e garantias fundamentais.
20. Distinga sujeito passivo de obrigação tributária de contribuinte.
Resposta: A relação jurídica o vínculo intersubjetivo concretizado pela ocorrência de um fato cujos
efeitos são vinculados pela lei, denominado fato jurídico.
A estrutura de obrigação tributária é complexa na medida em que tomada pelo em sentido
amplo, nela se pode incluir além da obrigação principal, que é obrigação de pagar o tributo, diversas
obrigações acessórias de natureza formal: obrigações declarativas, contabilísticas, outro tipo de
obrigações acessórias. Esta complexidade resulta também de ser possível identificar vários tipos de
posições ativas e vários tipos de posições passiva: assim por um lado pode identificar-se vários tipos de
poderes – direito ao crédito do imposto, ou poder administrativo de proceder à liquidação e cobrança
do imposto e que pertence, em regra à Administração Tributária, mas que se encontra hoje delegado,
em muitas situações, no próprio contribuinte; por outro lado, encontramos várias posições passivas:
contribuinte, substituto fiscal, retentor, responsáveis fiscais, sucessores, os portadores económicos do
imposto e os sujeitos passivos das múltiplas obrigações acessórias.
A relação jurídica fiscal é uma relação obrigacional, e significa que tal como prevê o artigo
397 do código civil, é um vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à
realização de uma prestação. Obrigação fiscal principal ou típica é constituída pelo dever de pagar o
imposto por parte do sujeito passivo e o crédito ao recebimento desse imposto por parte do sujeito
ativo.
Os sujeitos jurídicos são as entidades que podem ser titulares de direitos e obrigações
jurídicas, ou seja de se envolverem relações jurídicas.
Existem dois tipos de sujeitos jurídicos: a) sujeito ativo (18º nº1 LGT); b) sujeito passivo.
O sujeito passivo, à luz do 18º nº3 LGT “é a pessoa singular ou coletiva, o património ou a
organização de fato ou de direito que, nos termos da lei, está vinculado ao cumprimento da prestação
tributária, seja como contribuinte, seja como substituto ou responsável”.
Deste conceito, retiramos dois conceitos: a) sujeito passivo em sentido lato; d) contribuinte.
O primeiro conceito – sujeito passivo em sentido lato –, inclui toda a pessoa a quem a lei
imponha a realização de uma qualquer obrigação tributária, seja a prestação de imposto seja uma
prestação correspondente a uma obrigação acessória.
Assim, normalmente o devedor de imposto é o próprio contribuinte, mas, num sentido
amplo, abrange os devedores indiretos, derivados ou acessórios, aos quais o Fisco pode
excecionalmente exigir o imposto.
O contribuinte visa referir aquela pessoa em relação à qual se produz um fato tributário,
aquela cuja capacidade contributiva a lei pretende atingir, ou seja, é aquela cujo património é
efetivamente atingido pela obrigação de pagar o imposto. Este é um devedor direto, originário e
principal.
21. Quais são as formas de extinção da obrigação tributária que conhece?
Resposta: Normalmente a obrigação fiscal extingue-se pelo cumprimento voluntário, dentro do prazo
em moeda corrente ou cheque, débito em conta, transferência, vale postal ou outros meios.
O contribuinte pode requerer o pagamento em prestações (42º LGT) se e na medida em que
as leis tributárias admitam, como é o caso do IRS e do IRC (29º-37º RCR). pode ainda efetuar
pagamentos por conta de dívidas por tributos constantes de notas de cobrança (86º nº4 CPPT). Caso
não haja cumprimento voluntário então extrai certidão de dívida pelos serviços competentes inicia-se o
processo de execução (88º CPPT).
Assim, a dívida integra os juros (22º LGT) de mora, devido pelo atraso no pagamento; Os
juros compensatórios devidos, quando por fato imputável ao contribuinte houve atraso na liquidação de
parte ou da totalidade do imposto entrega de imposto a pagar antecipadamente ou retido ou a reter no
âmbito da substituição tributária, ou quando o sujeito passivo por facto a si imputável tenha recebido
reembolso superior ao devido sendo calculados a uma taxa equivalente à de juros legais. No entanto
também existem juros a favor de contribuinte: os juros indemnizatórios (43º LGT) e os juros de mora
que recaem sobre o fisco (102º LGT).
No que diz respeito a outros modos de extinção da obrigação fiscal, podemos referir em
primeiro lugar a caducidade do poder para liquidar os impostos (45º-47º LGT). o poder de liquidar os
impostos deve ser exercido no prazo de 4 anos desde o termo do ano em que se verificou o facto
tributário, nos impostos periódicos, e desde a data em que se verificou o facto tributário e nos impostos
de obrigação única. se assim não acontecer está o poder caduca. O prazo de velocidade pode ser
interrompido ou suspenso em virtude de verificação de certos fatos (46º LGT). Existem prazos especiais
de atividade previstos no artigo 35º IMT, 113º IMI e 39º IS (8 anos).
Temos também, como forma de extinção da obrigação tributária a prescrição da dívida
tributária (48º e 49º LGT). a dívida tributária que escreve no prazo de 8 anos contados, nos impostos
periódicos a partir do termo do ano em que se verificou o facto tributário exemplo e nos impostos de
obrigação única desde a data em que se verificou o facto de tributário. O prazo de prescrição pode ser
interrompido ou suspenso em virtude da verificação de certos fatos (49º LGT).
Relativamente à dação em cumprimento e compensação, o artigo 40º nº2 LGT prevê que
estas formas de extinção das obrigações sejam admitidas em matéria tributária, embora só nos casos
previstos na lei.
Quanto à dação em incumprimento, que significa o cumprimento da obrigação através de
prestação de coisa diversa da que for devida, dando o credor assentimento a isso (837º CCivil) há alguns
artigos que preveem essa possibilidade em matéria fiscal como o 87º e 201º CPPT em que se permite,
em termos gerais, quer antes quer durante a execução fiscal.
Quanto à compensação que significa que, quando as pessoas sejam reciprocamente credor e
devedor qualquer delas pode livrar-se da sua obrigação por meio de compensação com a obrigação do
seu credor (847º CCivil). O CPPT configura como um modo geral de extinção da obrigação fiscal, quer
por iniciativa da administração tributária (89º CPPT), quero por iniciativa do contribuinte (90º CPPT).
Outra forma de extinção da obrigação tributária é confusão. Definida no artigo 868º CCivil
como sendo a forma de extinção de crédito e dívida obrigacionais quando na mesma pessoa entidade se
reúnam as qualidades de credor e devedor da mesma obrigação. Tal pode ocorrer na obrigação fiscal no
caso de sucessão legal do Estado ao contribuinte ou quando sucede a terceiro sub-rogado (2033º CCivil).
Porém para certos autores, uma vez que a herança jacente (872º CCivil) é sujeito passivo, nesta situação
o estado não sucede ao contribuinte.
22. Em que consiste, efetivamente, o poder tributário das autarquias locais.
Resposta: O princípio da legalidade em direito fiscal tem na sua base a ideia de autoimposição, auto
tributação ao consentimento dos impostos. Quer isto dizer, que os impostos sendo uma afetação
limitação da liberdade e da propriedade individuais, tem que pressupor o consentimento dos próprios
contribuintes.
Mas este princípio sofre algumas compressões quando confrontado com a necessidade de
respeitar outros 2 princípios com a consagração constitucional: a) princípio da autonomia regional; b)
princípio da autonomia das autarquias locais.
O art. 227º nº1-i) CRP dispõe que as RA podem, nos termos definidos nos seus estatutos
“exercer poder tributário próprio, nos termos da lei, bem como adaptar o sistema fiscal nacional às
especificidades regionais, nos termos da lei-quadro da Assembleia da República”.
Mas e especificamente sobre as autarquias locais, à luz do art. 238º nº4 CRP, “as autarquias
podem dispor de poderes tributários, nos casos e nos termos previstos na lei”.
assim, tem cobertura constitucional a outorga aos municípios de poderes para lançamento de derramas
sobre o IRS - imposto acessório, sem regime próprio de incidência, taxa ou benefícios, que incide sobre o
lucro tributável sujeito e não isento de imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC),
correspondendo à proporção do rendimento gerado na área geográfica de cada município porque
sujeitos passivos residentes em território português que exerçam, a título principal veículo uma
atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola e não residentes com estabelecimento estável
nesse território.
O art. 238º CRP refere que, é da competência dos municípios criar taxas ou outras
contribuições que não sejam impostos.
Todavia mesmo nos casos em que assistimos à incidência de regulamentos camarários em
matéria fiscal propriamente dita, ou seja, em matéria de impostos, devemos sempre recordar que os
municípios são autarquias democraticamente eleitas pelo que sempre se encontra aqui uma das
componentes do princípio da legalidade que é a ideia de auto tributação. É no art. 15º da Lei ao
financiamento das autarquias locais que se encontram detalhados os poderes tributários das autarquias
locais.
23. Faça uma exposição sobre os sujeitos da obrigação tributária, referindo-se, entre outros aspetos,
às diferenças que existem em relação aos sujeitos das obrigações civis.
Resposta: A relação jurídica o vínculo intersubjetivo concretizado pela ocorrência de um fato cujos
efeitos são vinculados pela lei, denominado fato jurídico.
A estrutura de obrigação tributária é complexa na medida em que tomada pelo em sentido
amplo, nela se pode incluir além da obrigação principal, que é obrigação de pagar o tributo, diversas
obrigações acessórias de natureza formal: obrigações declarativas, contabilísticas, outro tipo de
obrigações acessórias. Esta complexidade resulta também de ser possível identificar vários tipos de
posições ativas e vários tipos de posições passiva: assim por um lado pode identificar-se vários tipos de
poderes – direito ao crédito do imposto, ou poder administrativo de proceder à liquidação e cobrança
do imposto e que pertence, em regra à Administração Tributária, mas que se encontra hoje delegado,
em muitas situações, no próprio contribuinte; por outro lado, encontramos várias posições passivas:
contribuinte, substituto fiscal, retentor, responsáveis fiscais, sucessores, os portadores económicos do
imposto e os sujeitos passivos das múltiplas obrigações acessórias.
A relação jurídica fiscal é uma relação obrigacional, e significa que tal como prevê o artigo
397 do código civil, é um vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à
realização de uma prestação. Obrigação fiscal principal ou típica é constituída pelo dever de pagar o
imposto por parte do sujeito passivo e o crédito ao recebimento desse imposto por parte do sujeito
ativo.
Os sujeitos jurídicos são as entidades que podem ser titulares de direitos e obrigações
jurídicas, ou seja de se envolverem relações jurídicas.
Existem dois tipos de sujeito jurídico: a) sujeito ativo; b) sujeito passivo que se divide em
sujeito passivo em sentido lato, e contribuinte.
O sujeito ativo “é a entidade de direito público titular do direito de exigir o cumprimento das
obrigações tributárias, quer diretamente quer através de representante”. A capacidade tributária ativa é
o atributo da entidade pública que é titular do crédito do tributo, ou seja, quem tem direito a receber o
pagamento.
A complexidade que rodeia a obrigação fiscal resulta de se poder determinar, do lado ativo
da relação fiscal, realidades jurídicas que se distinguem da noção da capacidade tributária ativa:
referimos a competência administrativa tributária que é o poder de proceder à administração dos
impostos (lançamento, liquidação e cobrança); contudo, hoje os contribuintes são chamados a colaborar
nesta tarefa por via das obrigações acessórias, mas é essencialmente uma competência administrativa
que cabe à estrutura orgânica do Ministério das Finanças, em especial as direções de finanças e os
serviços de finanças.
Ainda referiremos a titularidade da receita dos impostos, quando a lei ou a constituição
consigna as receitas de certos impostos a determinados entes públicos. Na verdade, trata-se aqui de
uma relação de direito financeiro entre a entidade que procede à gestão e cobrança de um determinado
imposto e o titular constitucional ou legal dessas receitas (254º CRP).
O sujeito passivo, à luz do 18º nº3 LGT “é a pessoa singular ou coletiva, o património ou a
organização de fato ou de direito que, nos termos da lei, está vinculado ao cumprimento da prestação
tributária, seja como contribuinte, seja como substituto ou responsável”.
Deste conceito, retiramos dois conceitos: a) sujeito passivo em sentido lato; d) contribuinte.
O primeiro conceito – sujeito passivo em sentido lato –, inclui toda a pessoa a quem a lei
imponha a realização de uma qualquer obrigação tributária, seja a prestação de imposto seja uma
prestação correspondente a uma obrigação acessória.
Assim, normalmente o devedor de imposto é o próprio contribuinte, mas, num sentido
amplo, abrange os devedores indiretos, derivados ou acessórios, aos quais o Fisco pode
excecionalmente exigir o imposto.
O contribuinte visa referir aquela pessoa em relação à qual se produz um fato tributário,
aquela cuja capacidade contributiva a lei pretende atingir, ou seja, é aquela cujo património é
efetivamente atingido pela obrigação de pagar o imposto. Este é um devedor direto, originário e
principal.
Existe uma coincidência, em regra, entre a noção de personalidade jurídica, e capacidade de
gozo e de exercício do direito civil (67º CCivil), e a de personalidade e capacidade tributária (15º e 16º
nº2 LGT). Contudo, existem casos em que a lei fiscal considera sujeitos tributários entes desprovidos de
personalidade jurídica (18º nº3 LGT): exemplo – entidades sem personalidade jurídica, com sede ou
direção efetiva em território português, cujos rendimentos não sejam tributáveis em IRS ou IRC na
titularidade de pessoas singulares ou coletivas (2º nº1-b) CIRC); heranças jacentes; pessoas coletivas que
tenham sido declaradas invalidas; associações e sociedades civis sem personalidade jurídica; sociedades
comerciais ou civis antes do registo definitivo.
Por outro lado, existem situações em que a lei tributária não considera sujeitos tributários
passivos entidades com personalidade jurídica: a) sociedades sujeitas ao regime de transparência fiscal
(6º-12º CIRC); b) sociedades integrantes de grupos autorizados a uma tributação pelo lucro consolidado
(63º CIRC).
Já no caso da família, não se está perante um sujeito passivo, mas apenas uma unidade fiscal
para efeitos de tributação conjunta de rendimentos de IRS – qualquer cônjuge pode praticar os atos
relativos à situação tributária do agregado familiar (15º nº5 e 6 LGT).
24. Refira-se às várias dimensões do princípio da segurança jurídica no direito fiscal, explicando
desenvolvidamente as suas opiniões.
Resposta: Em termos gerais, entende-se que o princípio da segurança jurídica decorre diretamente do
princípio do Estado de direito democrático consagrado no art. 3º CRP. significa que juridicamente os
cidadãos deverão poder “saber com que contam”, no sentido de conhecer integralmente o conteúdo e o
sentido dos direitos e deveres que compõem a sua esfera jurídica.
Este princípio limita o legislador em 2 sentidos: a) proibição da edição de normas retroativas
desfavoráveis; b) alteração e LIVRE revogação de leis favoráveis.
O primeiro sentido decorre hoje diretamente da proibição constitucional expressa da
retroatividade dos impostos prevista no art. 103º nº3 CRP –“Ninguém pode ser obrigado a pagar
impostos que não hajam sido criados nos termos da Constituição, que tenham natureza retroativa ou
cuja liquidação e cobrança se não façam nos termos da lei”.
No entanto, há posições que admitem retroatividade por certas razões de justiça social, mas
terão sempre dificuldade em ultrapassar os nº1 2 e do 12º LGT onde até a questão da aplicação da lei é
fato lutar informação sucessiva cujo início a ocorrência tenha sido anterior ao início de vigência da nova
lei, se encontra prevista: as normas tributárias aplicam-se aos fatos posteriores à sua entrada em vigor,
não podendo ser criados quaisquer impostos retroativos, e se o facto tributário for de formação
sucessiva, a lei nova só se aplica ao período decorrido a partir da sua entrada em vigor.
Por via de algumas consagrações expressas, princípio da segurança jurídica também
entendido como princípio da proteção da confiança, perdeu alguma da sua utilidade imediata, mantém-
na, porém, nos casos em que a administração fiscal o legislador visam impor retroativamente uma nova
interpretação de uma lei fiscal já em vigor, uma vez que, a administração fiscal tem um prazo de
caducidade de 4 anos (45º LGT) para exercer o poder de liquidar os impostos, podendo vir a fazê-lo com
base no entendimento da lei que não é o mesmo que perfilhava na altura da verificação dos factos que
dão azo à cobrança do imposto.
Este princípio tem ainda, hoje, utilidade nos casos em que haja direitos adquiridos e certos
benefícios fiscais que o legislador queira revogar. A questão pode assumir foros de grande complexidade
chegando a falar de um conflito entre um direito à continuidade da ordem jurídica adquirida impressivos
de interesse Público, nomeadamente nos casos de benefícios fiscais permanentes.

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